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História À prova de som - E tudo era música


Escrita por: MomoByul

Notas do Autor


Annyeong~

Esse é o último capítulo T.T como eu havia dito é uma short-fic

Desculpa se demorei pra atualizar, mas eu queria q essa cap ficasse realmente bom e digno de um final bem feito!

Deu trabalho pra escrever (não tanto quanto o 3º) e espero q vcs gostem s2

BoA leitura e desculpem qualquer erro

Capítulo 4 - E tudo era música


Idade, 16 - alguns meses depois

Alguns meses se passaram depois do pequeno encontro entre elas e Dahyun, e apesar de serem vizinhas, as duas mal conseguiram se ver depois daquilo. Mina estava envolvida com seu clube de ballet que conseguiu arrecadar membros o suficiente para competir. Chaeyoung, por sua vez, tinha se inscrito em um programa extracurricular para ajudar colegas com dificuldade em LIBRAS e também estava fazendo aulas extras de artes. Tudo em prol de um bom currículo. Ela queria entrar em uma boa faculdade, de preferência em Seul, aonde sabia que sua melhor amiga estaria.

Os poucos momentos que compartilharam, porém, foram tão bons como sempre eram. A familiaridade que uma encontrava na outra era tranquilizadora em tempos caóticos e elas gostavam de simplesmente conversar, ou balançar nos balanços do pequeno parque próximo as casas delas e até mesmo dar voltas pelo shopping (sem Dahyun). Chaeyoung só mencionou sua amiga uma vez, brevemente para dizer que ela tinha sérios problemas para lembrar a ordem das letras quando escrevia. 

Mas agora já faziam três semanas que elas realmente não conversavam e Mina estava louca de saudades (não só ela). Ela chegou em casa no final da terça-feira, particularmente cansada dos ensaios, e tocou a campainha dos Son, sendo atendida por Chaeyoung, que misteriosamente havia "ouvido" tocar. Atrás dela estava Nari com as unhas recém feitas, o que solucionava o mistério. Ela sorriu e abraçou a pequena, sem se deixar entrar, sabendo que se entrasse não conseguiria sair, e ela realmente tinha muitas coisas para fazer.

- Mina, querida... você não vai entrar?

- Hoje não, Nari... só passei pra dar um oi.

- Muitas coisas no colégio? Chae me contou sobre o clube de dança...

- Sim, vamos nos apresentar essa quinta. - ela falou, traduzindo para Chaeyoung.

- Oh... tenho certeza que você será ótima! - ela exclamou, antes de desaparecer dentro do casarão, deixando as meninas sozinhas. 

Já? - perguntou Chaeyoung. Ela sabia que sua amiga ia se apresentar, mas não imaginava que fosse tão cedo, muito menos que seria em um dia de semana. Seus olhos percorreram o rosto da japonesa - Nervosa?

Mina mordeu o lábio e concordou com a cabeça.

Não fique... - ela começou a sinalizar, mas a maior segurou suas mãos.

Eu sei que você tem as aulas de artes nas quintas de tarde, mas eu queria muito que me visse dançar. - Chaeyoung olhava dentro de seus olhos, mas Mina sabia que ela também prestava atenção em suas mão - Também vai ter canto junto com as danças... conta mais ponto para o grupo. Minha amiga Jihyo vai cantar pra gente, a voz dela é linda... e vai ter um coral de surdos concorrendo com a gente.

- CheongShim? 

Daegu tinha duas escolas para surdos, uma particular, onde a coreana estudava, e uma pública, CheongShim. 

Essa mesma.

- Bom, é óbvio que vocês vão ganhar... teriam que ser muito ruins para ganharem menos pontos do que um coral de surdos.

Chaeyoung! - Mina exclamou, batendo de leve em seu ombro, não conseguindo conter a risada - Não seja má! - exclamou, enquanto sinalizava.

Mas é verdade!

***

Quinta-feira - Seletivas

"Horas de ensaio, por nada" Pensou Mina, amassando as partituras das músicas que apresentariam e jogando-as violentamente em uma lixeira, bufando quando a bolinha falhou em cair dentro da cesta. As músicas que eles haviam ensaiado com tanto cuidado e dedicação foram exatamente as mesmas que os grupos anteriores acabaram de apresentar... coincidência? Talvez não.

- Ok, Jihyo... você tem alguma ideia do que fazer? - ela perguntou, tentando manter a calma.

- Não... - Jihyo respondeu de seu lugar no sofá - O combinado era eu cantar aquela.

- Sim, mas isso obviamente está fora de questão e...

- Na verdade, Minari... - Sana a interrompeu, com um olhar de quem sabia exatamente o que fazer - A gente poderia tentar encontrar outras músicas que se encaixem exatamente nas nossas coreografias.

- Mas...

- Qual é, Mina, pode dar certo e você tem um repertório incrível... - cortou Ten, se levantando e parando ao lado dela com os bracos cruzados.

A japonesa mais nova sorriu involuntariamente com o que o tailandês impusera.

- Bem... eu tenho algo em que venho trabalhando desde os 4 anos...

- Ótimo! Já temos a música pro seu solo, agora precisamos de uma que se encaixe na coreografia em grupo. - Hoshi bateu palmas, tentando soar positivo.

- Que tal usarmos a primeira música que dançamos juntos? A voz da Jihyo fica linda nela e a melodia é bem parecida... da pra encaixar. - sugeriu Nayeon.

- Certo... - Tzuyu começou, parando quando viu Shownu se afastar em direção à porta.

- E onde você vai? - Jihyo perguntou arqueando uma sobrancelha.

- Vou pra sala dos jurados pra imprimir as partituras. - deu seu sorriso charmoso, principalmente para Mina - Nós podemos ganhar isso, pessoal! 

***

E eles ganharam.

Mina cantou e dançou como nunca, colocando toda a sua alma na música. Sua performance sem falhas somada a voz de Jihyo com a apresentação final lhes garantiu o primeiro lugar. Eles receberam o troféu e trocaram abraços apertados em cima do palco, sob uma chuva de papeizinhos brilhantes. Era bom ganhar para variar... era quase mágico.

O grupo se dividiu para se trocar depois das apresentações, e ficou determinado que se encontrariam no ônibus em 1 hora.

Mina se vestiu sem pressa, abotoando sua camisa rosa clara e pensando em passar na casa de Chaeyoung para contar as novidades. 

Ela pegou seu casaco preto em um braço e a pequena mala no outro, saindo do camarim para dar de cara com a pessoa que dominava seus pensamentos. 

- Chae! - ela exclamou surpresa. Sua amiga estava escorada na parede em frente à porta dos camarins. Ela estava linda como sempre, com uma camiseta listrada sob uma blusa branca e com os curtos cabelos pouco escondidos por um boné preto - Você veio! Eu não te vi na plateia... - ela sinalizou, deixando-se abraçar por sua melhor amiga.

É claro que eu vim! É seu dia especial e você é especial pra mim. - ela sorriu e Mina a abraçou novamente, sem conseguir se conter. 

Obrigada.

Chaeyoung murmurou seu "Mmmhumm" suavemente.

Na verdade eu só vim pelo coral de surdos. - silalizou com um sorrisinho e Mina lhe mostrou a língua.

Elas caminharam lentamente até as portas de vidro.

Então, o que você achou?

- Bonito. - Chaeyoung começou a caminhar do seu lado para enxergá-la melhor - Você estava linda. Eu só não gostei da escolha de músicas.

Por que?! - Mina perguntou em voz alta enquanto sinalizava. Chaeyoung não respondeu, apenas arqueou uma sobrancelha e a japonesa arregalou os olhos, entendendo a ironia. A baixinha fazia pequenas brincadeiras sobre ser surda o tempo todo e Mina sempre demorava para entender. Era muito difícil reconhecer sarcasmo sem ter uma variação de voz para ajudar. Às vezes ela ainda esquecia que sua amiga não podia ouvir. 

Tem uma coisa que eu quero te perguntar... - Chaeyoung declarou, parecendo um pouco desconcertada. 

Mina respondeu com um olhar curioso.

Aquele cara alto e bem forte qua foi seu par na última dança é sua namorado?

- Shownu? - ela riu baixinho - Não! Mas acho que ele gostaria de ser...

- Você gosta dele? - a japonesa teve a impressão de ter visto uma sombra percorrer os olhos de sua amiga, mas provavelmente era apenas sua imaginação.

Mina parou para pensar. Ela gostava de Shownu, ele era um bom amigo, entre outras coisas. Eles haviam saído juntos duas vezes e Shownu a beijara, como era de se esperar que acontecesse, mas ela não sentira nada do que imaginara que sentiria quando beijasse o amor de sua vida pela primeira vez.

Por algum motivo, ela havia falhado em falar para Chaeyoung sobre tudo isso. Na verdade, ninguém sabia que ela já tinha saído com o coreano.

- Todas as meninas gostam dele. Ele é popular, bonito e gentil também...

Chaeyoung estava começando a sinalizar mais alguma pergunta, porque Mina realmente não havia esclarecido nada com sua resposta, quando o assunto da conversa literalmente as interrompeu. 

- Hey Minari! Achei que você já estivesse no ônibus!

- Ainda não... essa é minha amiga, Chaeyoung. - ela apresentou e Shownu se virou para a baixinha, percebendo-a pela primeira vez e lhe oferecendo um sorriso que considerava charmoso antes de se voltar para Mina. 

- Escuta, eu estava pensando, aquele dia em que fomos no boliche foi muito legal e sabe... você não que ir jogar de novo hoje à noite? - ele perguntou sorrindo de lado, do jeito que fazia todas as meninas dizerem sim.

A japonesa analisou seu rosto antes de lançar um olhar para sua amiga, que encarava a nuca de Shownu com uma expressão de ódio mortal.

- Desculpa, Shownu, mas eu já tenho planos com a Chae hoje à noite. - ela mentiu sem saber bem o porque. Ela nunca parecia encontrar os porquês quando se tratava da baixinha. Ela estava feliz que sua amiga tivesse ido assistí-la, e realmente gostaria de fazer algo com ela, mas nada estava planejado. 

- Ah... - os ombros dele caíram e ele coçou a própria nuca - Quem sabe outro dia então, talvez?

- Tavez, Shownu... - ela sorriu e o outro respondeu ao sorriso tristemente antes de ir embora.

Chaeyoung o seguiu com os olhos.

- Abobado... - ela oralizou baixinho, pegando Mina de surpresa e fazendo-a gargalhar com o comentário. A menor também riu da reação da japonesa e Mina suspirou contente. Ela amava aquela risada. 

Elas voltaram a andar.

Então, o que ele queria?

- Me chamar pra sair. - ela suspirou.

A coreana piscou algumas vezes e olhou para baixo.

Desculpa se atrapalhei. 

- Não atrapalhou. Eu não queria sair com ele.

Ahh... - o som escapou pelos lábios da menor que não conseguiu evitar sorrir. Ela não havia gostado nem um pouco desse tal Shownu.

- Myoui... - Tzuyu cumprimentou com a cabeça quando elas estavam saindo do teatro - Quem é a baixinha?

- Tzuyu, essa é Chaeyoung.

A mais alta das três arqueou as sobrancelhas.

- Ela é mesmo real... isso é novidade.

Mina revirou os olhos, acostumada com aquele tipo de comentário vindo da taiwanesa. Chaeyoung a cutucou no ombro levemente. 

O que ela disse?

Mina traduziu rapidamente e a coreana laçou para Tzuyu o mesmo olhar que havia direcionado para Shownu segundos atrás.

- Espera, ela é surda? - Tzuyu riu desdenhosamente - Isso explica porque ela é sua amiga. Só uma pessoa surda pra aturar você o tempo todo.

A japonesa fechou a cara para sua colega e traduziu para Chaeyoung o que havia acabado de ouvir.

A menor olhou novamente para a taiwanesa, dessa vez de cima a baixo e com tanta frieza que um arrepio chegou a percorrer a espinha de Tzuyu.

Ela só tem inveja porque você dança bem melhor que ela. - Chaeyoung sinalizou - Mesmo se ela treinar por anos, nunca vai sequer chegar aos seus pés.

Mina não conseguiu conter uma risada e se inclinou, beijando o rosto de Chaeyoung em agradecimento.  

 - Por que vocês tá rindo? O que ela disse?

- Não interessa, Chou! - a japonesa respondeu, acenando brevemente antes de pegar a mão de Chaeyoung e puxá-la em direção ao estacionamento - Como foi que você veio até aqui? - Mina perguntou ao perceber que os pais de Chaeyoung não estavam por lá.

A coreana apontou para sua Yamaha V-Max preta, presente de 16 anos de seus pais, estacionada a alguns metros de onde elas se encontravam. 

E você?

- Ônibus.

A menor mordeu o lábio, afastando alguns fios que caíram em seus olhos.

Quer ser minha companhia na volta?

- Eu adoraria. - Mina respondeu sem pensar duas vezes. 

- E aí, Minari, quem é sua amiga?

Ela olhou por cima do próprio ombro para encontrar Momo andando ao lado de Jihyo, que se encontrava com fones mexendo no celular.

- Oi, Momo... - ela sorriu. Mina gostava muito dela - Essa é Chaeyoung. - ela a apresentou para a coreana brevemente.

- Ela é gostosa...

Mina traduziu e Chaeyoung franzio o nariz.

Ela é estranha! Quem diz isso pra alguém que acabou de conhecer?

A maior limpou a garganta. Ela não ia dizer aquilo para Moguri.

- Ela agradeceu... de verdade.

- Você tem meu número, né Minari?

- Sim, por que?

- Diz pra sua amiga me ligar um dia desses... - ela piscou para Chaeyoung e Mina suspirou ao traduzir.

A baixinha fez uma careta, chacoalhando a cabeça sem entender.

Por que eu faria isso?

Mina mordeu o lábio com força para não sorrir. 

- Ela disse que te manda uma mensagem...

Valeu...

- Momoring, você pode avisar a Srta. Kwon que vou voltar pra casa com a Chae?

- O que eu ganho com isso?

- Eu já vou dar seu número pra ela. O que mais você quer? - ela perguntou, não se sentindo nem um pouco mal por mentir para a outra. Nunca, nem em um milhão de anos, ela daria o número de Momo para sua melhor amiga, e era reconfortante saber que mesmo se desse, Chaeyoung jamais ligaria.

- Humm, justo... - ela concordou com a cabeça, acenando para elas antes de continuar a atravessar o estacionamento, puxando uma Jihyo alienada consigo. 

Mina entrelaçou seus dedos aos de Chaeyoung, alegremente.

Vamos?

***

A viagem até Daegu foi tranquila. Mina gostava de andar de moto, por se sentir livre com o vento batendo contra seu rosto enquanto agarrava a cintura da menor. Os passeios sempre eram melhor quando Chaeyoung estava junto. 

Elas voltaram a conversar na casa dos Son, sentadas lado a lado no grande sofá da sala.

- Como você se sentiu quando estava se apresentando?

- Não sei explicar... eu senti como se nada mais existisse. Só eu e a música e o calor das luzes do palco. Como se de repente, eu não fosse mais de carne e osso, só som...

Chaeyoung adorava ver Mina falar sobre música, ela sentia que, por um momento, pudesse entender e compartilhar os sentimentos que a música evocava em quem realmente podia ouvir.

Você cantou aquela música do filme que gosta né?

Mina arqueou as sobrancelhas.

Como você sabe?

- Eu ouvi... - Chaeyoung piscou para ela com um sorrisinho - É sua música favorita, eu já te vi cantar e dançar mil vezes... e você sempre tem as mesmas expressões. - explicou a coreana.

Mina sorriu para ela.

Você pode traduzir a outra pra mim?

A japonesa assentiu e começou a sinalizar silenciosamente, quando fora interrompida pela menor.

Canta pra mim, também? - Chaeyoung sinalizou, chegando um pouco mais perto de sua amiga e hesitando por um momento antes de colocar uma mão em seu rosto, como sempre fazia quando queria sentir as vibrações de sua voz.

Mina sorriu e começou a cantar suavemente enquanto sinalizava a letra para Chaeyoung.

***

A coreana tinha um sorriso diferente no rosto, mais expressivo do que o normal, ainda que Mina não soubesse dizer exatamente o que ele expressava. Os olhos grandes encaravam os seus intensamente e a japonesa tinha certeza que se parasse de sinalizar, Chaeyoung nem ao menos perceberia. 

E foi isso que ela fez, suas mãos pararam de se mover no meio do refrão e sua voz tremeu, cessando logo em seguida. Ela piscou alguns vezes e umideceu os lábios, sentindo sua boca secar de repente. Então, sem nem ao menos perceber o que fazia, ela se inclinou um pouquinho para frente. Uma faísca percorreu os olhos de sua amiga, que moveu o polegar contra sua bochecha, se inclinando também e fechando o espaço entre elas em um beijo suave em seus lábios.

Mina não correspondeu a princípio, chocada demais para comandar seus próprio corpo. Os lábios de Chaeyoung eram tão gentis e suaves e ela se viu sem ação, até que sua amiga começou a se afastar e a japonesa levou uma mão até sua nuca, tirando seu boné para poder sentir a maciez dos cabelos escuros em seus dedos e aprofundando o beijo, sentindo sua amiga sorrir contra sua boca. As duas se afastaram um pouco para respirar depois de alguns minutos e Chaeyoung descansou a têmpora contra a da maior.

- Mina... - ela murmurou, fazendo o coração da outra parar. Ela nunca havia ouvido Chaeyoung oralizar seu nome antes. Ela sabia que sua amiga tinha voz, mas também sabia o quanto ela odiava usar, uma vez que tinha dificuldade em controlar volume e intensidade. De qualquer forma, a voz de Chaeyoung nunca soara tão linda quanto naquele momento. 

Elas compartilharam mais um beijo, um pouco mais intenso e terno, e Mina sentiu um nó se formando em sua garganta, percebendo o quanto queria ter sentido aquilo durante toda a sua vida. Ela nunca havia notado o quanto realmente amava Chaeyoung até aquele instante e tudo o que queria fazer era beijá-la e abraçá-la e nunca mais solta.

Mas então, ela ouviu o som da porta de entrada se abrindo e quebrou o beijo abruptamente. Seu coração partiu com o olhar de dor que passou pelos olhos da menor quando se afastaram. 

- Seus pais chegaram. - ela se apressou em explicar, sentando um pouco mais para trás no sofá.

Chaeyoung deu de ombros, como se dissesse "e dai?"

Eles iam ver a gente se beijando.

Mais uma vez, a menor deu de ombros. Ela realmente não se importava que seus pais vissem, principalmente porque pretendia beijar Mina muitas outras vezes, agora que o primeiro beijo havia acontecido.

Mina por outro lado, não tinha certeza de como reagir.

Lembra como seu pai ficou bravo quando tínhamos oito anos e ele viu Jeong beijando alguém depois da formatura?

- É diferente, eles gostam de você...

- Eu não acho que eles gostariam se vissem o que a gente tava fazendo...

Mina! - a voz de Taeyang veio de trás dela e ela se viurou lentamente, tentando não demonstrar a culpa que sentia - Achamos que Chae estivesse sozinha...

- Oi, senhor Son... precisa de ajuda com as compras?

- Não, querida... pode deixar. - Nari passou por ele, pendurando a chave do carro no ganchinho acima do telefone e tirando uma sacola de suas mãos. Durante todo esse tempo, Mina podia sentir o olhar de Chaeyoung em seu rosto.

Assim que eles entraram na cozinha, os dedos da menor envolveram seu queixo, forçando-a a olhar em sua direção.

Por que você acha que eles deixariam de gostar de você?

- Você é católica, não é óbvio?

Mais uma vez a baixinha deu de ombros.

Nunca prestei atenção na igreja.

- Bom, sua religião diz que ser gay é pecado. - Mina se sentiu muito hipocrita no momento em que percebeu o que avia acabado de dizer.

Elas se olharam por longos minutos. Os olhos de Chaeyoung eram suaves.

Você está com medo?

Mina suspirou e a coreana prendeu uma mecha de cabelos vermelhos atrás de sua orelha gentilmente. Nari saiu da cozinha naquele momento e a japonesa puxou seu braço para baixo antes de concordar, seus olhos estavam cheios de lágrimas. 

Por favor, não tenha medo... eu gosto tanto de você.

- Eu também gosto de você - ela respondeu, sentido uma onda de desespero repentino - Eu não quero te perder.

Você vai ficar para o jantar, Mina, querida? 

Ela levantou a cabeça para encontrar os olhos de Taeyang em sua direção.

- Hoje não, eu tenho... coisas. - Mina mordeu o lábio e ficou em pé, pegando sua bolsa.

Chaeyoung também se levantou.

- Mina... Não! - ela falou em voz alta, ganhando um olhar surpreso de seus pais. A japonesa a abraçou, beijando sua bochecha rapidamente e sinalizando "depois" longe dos olhos dos Son antes de ir embora.

***

Nari abriu a porta do quarto de sua filha cautelosamente. Faziam 40 minutos que ela e Taeyang haviam visto Mina ir embora e Chaeyoung correr para o andar de cima. Ela sentou na cama ao lado da menor, que deitava de barriga para baixo com a cabeça enterrada no travesseiro.

Taeyang apareceu alguns segundos depois para encontrar sua esposa acariciando as costas de sua filha mais nova, tentando fazê-la virar para cima. Chaeyoung sempre fazia isso quando algo a incomodava, desde que era criança. Ela fechava os olhos e literalmente se desligava do mundo.

Ele começou a puxar seu pé de maneira irritante até que ela se virou, com os olhos avermelhados carregando um olhar homicida.

O que aconteceu? - ele perguntou, cruzando os braços e sentando ao pé da cama.

Você e a Mina brigaram? - Nari perguntou, passando uma mão pelos cabelos curtos desnorteados de Chaeyoung.

O lábio inferior da mais nova tremeram e seus olhos se tornaram impossivelmente tristes. Nari a abraçou com força e permitiu que ela chorasse antes de perguntar mais uma vez o que havia acontecido.

Eu gosto da Mina. Muito. - ela falou, ainda chorando, mas um pouco mais calma.

O que ela faz pra te deixar assim? - Taeyang perguntou, genuinamente preocupado.

A única vez que havia visto sua filha chorar daquela forma, foi quando ela caiu do balanço aos 5 anos e se assustou com a quantidade de sangue que saiu do corte em seu lábio.

Ela disse que vocês não iam mais gostar dela se vissem a gente.

Os dois Son mais velhos trocaram um olhar confuso, sem saber o que aquilo significava. 

Eu acho que ela gosta de mim também, mas ela tem medo que vocês fiquem bravos. - Chaeyoung fungou, secando as lágrimas com as costas da mão - Ela disse que vocês acham que é pecado.

- O que é pecado, Chaeyoung? - Nari já imaginava a resposta, mas se forçou a perguntar mesmo assim.

Ser gay.

Nari e Taeyang trocaram mais um olhar, em parte chocado, em parte perdido. Chaeyoung nunca havia dado sinais de que poderia se interessar por outras meninas. Se bem que também nunca tinha demonstrado interesse em garotos. Apenas Mina. Sempre Mina.

Você tem certeza disso? - Taeyang se abaixou um pouco, tentando encontrar os olhos de sua filha. 

Chaeyoung respirou tremulamente, mas sua resposta foi firme.

Sim.

- Certeza que o que você sente pela Mina não é só amizade? - ele continuou questionando, querendo esclarecer bem a situação antes de intervir de forma exagerada.

Eu sinto amizade. E amor também. - ela secou os olhos mais uma vez - Eu sinto ciúmes quando ela tá perto de outras garotas ou garotos, como aquele tal de Shownu que dançou com ela hoje e... eu senti meu coração doer quando nos beijamos, mas foi uma dor boa.

Oh, céus... - Nari murmurou, sem saber o que falar naquela situação.

Você acha isso errado? - Chaeyoung olhou diretamente para seu pai ao perguntar, sentindo que a opinião dele seria muito mais importante que a de sua mãe. Ele sempre conseguia influenciar Nari, de uma forma ou de outra. 

Taeyang respirou fundo, sentindo milhões de coisas contraditórias ao mesmo tempo. Parte dele queria dizer que sim, que era errado, que não era normal... mas ao mesmo tempo, como podia ser errado? Mina tinha dois pais, e Akira e Hideki eram um dos casais mais estáveis que ele conhecia. E Chaeyoung...

Ele simplesmente não conseguia ver toda aquela dor dentro dos olhos de sua filha.

- Não, não é errado. - ele falou em voz alta, segurando as mãos dela nas suas e vendo-a acompanhar o movimento de seus lábios.

A coreana mais nova o abraçou antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa.

Nari ainda hesitou por um segundo, tentando engolir a notícia que havia acabado de receber. Ela passou uma mão pelos ombros de Chaeyoung, fazendo-a soltar de Taeyang e olhar em sua direção.

Eu nunca poderia ficar brava com você por amar alguém... - ela sinalizou, puxando sua filha para um abraço também, trocado um sorriso trêmulo com seu marido antes de beijar os cabelos curtos suavemente.

***

- Você está muito estranha. Ela não está estranha, querido? - Hideki perguntou, apontando com o gengibre em seus hashis na direção de sua filha, que sentava em frente deles, brincando com a comida em seu prato.

- Sim... acho que nunca vi ela tão quieta assim... - respondeu Akira, franzindo o cenho.

- Você acha que pode ser o choque de ganhar as seletivas mesmo depois de terem sido sabotados?

- É uma possibilidade. - ele concordou com a cabeça - Mas ela parecia animada quando ligou para avisar.

Mina levantou o rosto, sentindo-se cansada, transtornada e irritada com seus pais.

- Eu estou sentada bem aqui! - ela exclamou, empurrando o prato para frente e cruzando os braços sobre a mesa.

- Então por favor, esclareça o motivo do mau humor. - Akira solicitou, começando a se preocupar. A menina a sua frente parecia uma Mina completamente diferente da que ele conhecia... "Ela cresceu tão rápido..." ele pensou, apoiando o queixo em seu punho cerrado.

Mina amassou e desamassou seu guardanapo em uma espécie de tique nervoso. Ela queria falar com seus pais sobre o que havia acontecido com Chaeyoung e sobre como se sentia, mas tinha medo que eles ficassem desapontados com ela por ter se apaixonado por outra menina, por sua melhor amiga.

- Você sabe que pode conversar com a gente, não é mesmo, pinguim. - Hideki alcançou por sua mão em cima da mesa e a japonesa mais nova suspirou.

- Aconteceu uma coisa hoje e... - ela cobriu os olhos com uma mão - Eu não sei o que fazer.

- O que aconteceu? - Akira questionou suavemente ao notar a trilha brilhante de lágrimas que surgira nas bochechas de sua filha. 

- A Chae, ela... a gente... - a campainha escolheu aquele momento para tocar e Mina estremeceu com o barulho. Ela engoliu suas palavras e levantou - Eu atendo. - ela faria qualquer coisa para adiar aquela conversa e não tinha orgulho disso.

Ela engoliu em seco quando abriu a porta. Suas entranhas pareceram derreter e ela se sentiu extremamente nauseada. Taeyang e Nari a encaravam estranhamente e uma Chaeyoung de nariz vermelho mordia o lábio ao lado deles.

Mina abriu a boca para falar, mas nenhum som saiu. Ela passou uma mão pelo rosto percebendo que ainda chorava, quando a voz de Hideki veio do corredor.

- Quem é filha? - Mina olhou para ele, encurralada - Taeyang, Nari? Aconteceu alguma coisa? - ele perguntou, parando em frente a eles.

- Sim. - Nari respondeu em um suspiro. 

- Acho que precisamos ter uma conversa, Mina... - Taeyang falou, olhando diretamente para a japonesa com um olhar que Mina interpretou como intimidador. 

Hideki encarou sua filha e viu culpa estampada nos olhos escuros.

- Mina, o que você fez?

***

Na sala - Sem Chaeyoung

Mina se sentia absurdamente pequena sob o olhar dos Son. Ela estava sentada na poltrona da sala enquanto eles a encaravam do sofá. Ninguém havia falado ainda e ela não tinha certeza se deveria ou não dar o primeiro passo. Sua educação dizia que ela deveria se desculpa, mas seus instintos não concordavam com isso.

Então ela ficou em silêncio, desejando que Chaeyoung não tivesse ido esperar em seu quarto. Ela queria poder ver a pequena naquele momento. Talvez vê-la ajudasse a esclarecer o que se passava em sua cabeça.

- Então, Mina... - Taeyang começou, apertando a mão de sua esposa - Chae nos contou o que aconteceu.

A japonesa sentiu seu rosto esquentar e seus olhos voaram para seus próprios pais, que estavam parados perto do piano, acompanhando a conversa. Ela gostaria que eles estivessem em qualquer outro lugar.

- Sinceramente, não sabemos bem como proceder aqui. - continuou o senhor Son - Ela... nossa filha, ela...

- Ela gosta muito de você Mina. - Nari completou suavemente - Por isso viemos conversar.

Mina olhou de um para o outro, tentando ignorar a expressão de confusão de seus pais. Ela não conseguia definir o que os Son realmente sabiam e muito menos a posição deles a respeito daquilo.

- Não estamos com raiva Mina. - continuou Nari.

- E não vamos deixar de gostar de você, ou de te receber em nossa casa por causa do que aconteceu. - Taeyang completou.

Mina apertou os lábios, expirando pelo nariz pela primeira vez desde que havia atendido a porta.

- Vocês... não? - ela limpou a garganta - Vocês sabem o que aconteceu?

Taeyang assentiu.

- Chae me beijou... - ela esclareceu, um pouco cética, ganhando um murmúrio surpreso de Hideki. Ela desviou os olhos ao continuar - E eu beijei ela de volta.

- Ela nos contou, querida. - Nari confirmou. Seus olhos escuros eram ao mesmo tempo tristes e cheios de aceitação. O que era a última coisa que Mina esperava encontrar neles.

- Mina... - Taeyang chamou, seu tom de voz a fazia querer chorar, ela não sabia o porquê - Nós não estamos aqui para julgar você ou Chaeyoung. Vocês já são praticamente adultas. Não podemos controlar o que vocês fazem e muito menos o que sentem.

Ela passou uma mão pelos cabelos, percebendo que tremia. Um pequeno sorriso chegou aos seus olhos. Aquilo significava que estava tudo bem? Ela queria que estivesse...

- Você a fez tão feliz, desde que ela é criança. - Nari murmurou.

- Ela sempre fica diferente quando você está por perto, melhor, sem deixar de ser a nossa Chae... - o sorriso no rosto de Taeyang fez o seu próprio aumentar milimetricamente - Eu não estou dizendo que você tem que ficar com ela, nem ao menos sei se você gosta dela dessa forma, mas se você gostar, nós só queríamos dizer que... - ele trocou um breve olhar com sua esposa - Bem, você sempre vai ter nossa aprovação, Mina.

A japonesa perdeu o controle sobre seu sorriso, que se expandiu a potência máxima. Algumas lágrimas salgadas entraram em sua boca e ela riu baixinho e nervosamente, sem acreditar no que havia acabado de ouvir.

Ela sentiu uma mão em seu ombro e olhou para cima, encontrando os olhos muito escuros de Akira.

- Você sabe melhor do que ninguém que amor nunca vai ser pecado... pelo menos não na nossa casa.

Hideki concordou com ele, também se aproximando da filha.

- O que você sente pela Chae, pinguim?

- Eu não sei... eu acho que... eu acho que posso ter me apaixonado por ela. - ela respondeu, pensando sobre isso claramente pela primeira vez - Na verdade, eu meio que tenho certeza disso.

Taeyang suspirou audivelmente.

- Então acho que você deveria dizer isso pra ela...

***

No quarto

- Mina... 

O estômago da japonesa se encheu de borboletas e seu coração deu uma cambalhota quando foi recebida em seu próprio quarto pela voz de Chaeyoung. Ela nunca se cansaria de ouvir seu nome naquela voz.

A coreana se levantou da cama e a encarou com uma expressão cautelosa. Seus olhos ainda insistiam em chorar, por mais que ela quisesse que eles parassem. Mas, naquele momento, Chaeyoung nunca parecera tão linda para Mina.

A maior não falou nada, nem gesticulou. Ela havia aprendido o quanto era importante respeitar o silêncio, e também porque palavras não eram necessária. Mina se aproximou davagar e percorreu a trilha brilhante de lágrimas na pele muito branca de sua amiga com o polegar.

Um olhar intenso foi trocado entre elas e a maior se inclinou, unindo seus lábios tentativamente. O beijo não foi desajeitado como havia sido com Shownu, nem superficial como de quando beijou Momo, mas sim delicado. Chaeyoung não tentou enfiar a língua dentro de sua boca, nem nada assim, apenas moveu seus lábios suavemente em uma série de pequenos beijos.

E foi tão intenso, de certa forma, pois ambas se entregaram totalmente ao que sentiam e mesmo que não fosse o mais profundo dos beijos, certamente era o mais perfeito. 

Mina procurou as mãos de Chaeyoung em suas laterais e brincou com seus dedos, fechando e abrindo-os algumas vezes sem quebrar o beijo.

Foi só quando elas se afastaram que Chaeyoung percebeu que Mina tinha os ajeitado para formar um sinal e uma risada úmida brubulhou de seu peito quando ela se deu conta do que aquilo significava. Ela abraçou a cintura de Mina e a beijou mais uma vez, ainda rindo contra seus lábios antes de dobrar os dedos de sua melhor amiga para combinarem com os seus.

Elas olharam para o sinal por um tempo, sabendo que aquilo significava que tudo iria ficar bem... Mina descansou a bochecha na têmpora de Chaeyoung e sorriu suavemente para suas mãos.

O sinal dizia: Eu te amo.

***

Se alguém perguntasse como era amar Mina, Chaeyoung iria dizer que era como música, porque ela não sabia explicar, só sentir. E era tudo tão intenso, e às vezes ela tinha vontade de chorar, de felicidade, ou rir sozinha.

Ela estava tão feliz porque finalmente tinha entendido, de sua própria maneira, o que música significava.

Música era Mina.

Ela amava música.


Notas Finais


O sinal de "eu te amo" é universal, é uma união das letras "I", "L" e "Y" (I Love You). Consiste nos dedos mínimo, indicador e polegar levantados e os outros dois dobrados na palma da mão. Ele tem o mesmo significado em todos os países (a linguagem de sinais muda de acordo com o país, menos esse sinal), o que de certa forma significa que o amor Tbm é universal...

Mas e então? Esse final ficou digno de um final perfeito? Ou decepcionei? (Espero q seja a primeira opção)

Eu fiquei mt feliz com os comentários! Mesmo!! Teve até gente q disse q essa é a fic fav delas e alguém até chamou de hino! Me senti incrivelmente honrada e feliz! Mesmo!

Tô pensando em escreve uma long-fic mas tô indecisa de qual casal (Michaeng ou Satzu) se quiserem me dar uma mãozinha pra escolher eu ficaria muito feliz!

Espero q tenham gostado da fic e até um prox s2 <3

Chu~


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