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História A redenção de Severo Snape - Detenção


Escrita por: anigel

Notas do Autor


A dança da Emily na torre, é inspirada nesse vídeo:

https://youtu.be/Q9b6PtfZk3Q

Capítulo 3 - Detenção


Fanfic / Fanfiction A redenção de Severo Snape - Detenção

Finalmente ao término de uma aula entediante da história da magia, sua paciência se esgotou.  

— Não vai puxar o saco de nenhum professor hoje, bailarininha? — perguntou Milla debochando da garota. 

Emily que já estava na porta, teve que contar até três para não voltar e socar aquela menina.  

— Ahh vai correr para chorar no cantinho? — continuou Milla imitando uma vozinha esganiçada. 

 Emily deu meia volta lentamente, caminhou para perto da menina e disse baixo seu ouvido para que somente ela pudesse escutar. 

— Sabe... O que eu mais odeio é gente como você. Inferioriza outras pessoas, por estar infeliz por dentro e precisa descontar nos outros. Estou cansada dos seus insultos, nunca te fiz nada. A próxima vez que você me incomodar, vou quebrar esse seu narizinho mal feito. Ok? Estou te avisando, para você não chorar depois.  

Realmente a ameaça funcionou por um tempo, Milla já não estava mais importunando Emily. Tinha passado uma semana muito boa em comparação com a anterior, e o final de semana também tinha sido por igual prazeroso. Mas, alguma coisa em seu íntimo, dizia que era apenas a calmaria antes da tempestade, não queria estar tão certa disso. 

 Segunda-feira de manhã seu tormento começou novamente, encontrou seu uniforme rasgado no chão, escrito vadia com uma tinta vermelha que imitava sangue. Jogou a roupa em cima da cama e rapidamente pegou outro de dentro do malão. Por causa do ocorrido, chegou atrasada novamente, justo na aula de Snape; realmente era muito azar. Estava pensando o que deveria fazer. Não podia deixar barato, ninguém brincava com ela desse jeito; a diferença é que agora estava sozinha e não tinha um grupinho para defendê-la. 

Sentou-se à mesa em frente ao professor como de costume, a aula estava correndo bem. Snape passou uma poção para fazerem em 1:30, faltando meia hora para acabar a aula, Emily já havia terminado a sua. Apoiou o queixo nas duas mãos e começou a assistir o professor atentamente. Ele encarava os alunos e fazia algumas caretas conforme observava coisas erradas nas poções. Estava na casa dos trinta e poucos, era alto e magro. Seus cabelos eram tão pretos e lisos que pareciam sempre oleosos, nunca sorria, e seu semblante era carregado. Mesmo assim, Emily enxergava beleza nele, via seu sofrimento e o compreendia. O professor baixou os olhos para ela e seus olhares se encontraram. 

— Já cuidou de sua poção, senhorita Lobo? 

— Já. — deu um sorrisinho acordando de seu devaneio — Está pronta.  

O professor olhou para o caldeirão, porém, não disse mais nada. 

Foi a meia hora mais longa de sua vida, ficou ali esperando, às vezes ainda observava o professor com um pouco mais de cautela. Para sua alegria, finalmente o sinal tocou, e o que aconteceu em seguida, foi tão rápido que alguns alunos ficaram sem entender. 

Emily levantou-se apressadamente de sua cadeira, e caminhou para a saída. Passou ao lado da mesa de Milla, que usou um feitiço fazendo a mochila da menina rasgar espalhando seu material pelo chão da sala. Emily reagiu por instinto, deu uma cotovelada no nariz de da garota, e o sangue jorrou instantaneamente. Ela colocou a mão no nariz e o líquido vermelho-escuro insistiu em escorrer por entre seus dedos, sua outra mão apertava a varinha com tanta força que a garota pensou que ela se partiria.  

— FURU... — berrou Milla 

Antes que pudesse completar o feitiço, Snape já tinha lançado o seu. 

— Expelliarmus. 

A varinha de Milla voou de sua mão a deixando mais furiosa ainda; se jogou em cima da garota fazendo-as caírem no chão empurrando algumas mesas a volta delas. Começaram uma série de chutes, socos e puxões de cabelo. Snape se aproximou rapidamente e agarrou as duas pela parte de trás do colarinho da roupa, levantando-as do chão ainda segurando o cabelo uma da outra. 

— Detenção de uma semana! E menos 30 pontos para a Sonserina! — Snape vociferou furioso. — Estão todos dispensados, acabou o show! — disse enquanto os alunos terminavam de recolher o material e saíam rapidamente da sala comentando aos cochichos o ocorrido pelos corredores. 

— Senhorita Mintumble, vá para a ala hospitalar ver madame Pomfray imediatamente. — disse soltando o colarinho dela enquanto ainda segurava o de Emily.  

Todos saíram, ficando para trás somente Snape e Emily na sala. Ele finalmente a soltou e encarou-a muito irritado. 

— Não é assim que resolvemos as coisas por aqui! 

— Mas foi ela quem começou. O senhor não entende o que é aguentar essa menina todo o dia. 

— Não sei? — disse ainda mais irritado. — Não quero saber quem começou, sua detenção começa amanhã. Venha depois da sua aula pontualmente.  

Emily tentou argumentar, mas o professor não estava disposto a escutar. 

— Agora, sente-se que passarei um unguento no arranhão que você tem no rosto. — disse ainda enfurecido. 

Emily sentou-se obedientemente, enquanto o professor pegava um frasco de costas para ela. Quando se virou, não ficou muito contente de encontrá-la em cima da mesa e não sentada na cadeira. Tinha as mãos escondidas debaixo das coxas e balançava os pés. Snape se aproximou e seus rostos ficaram em paralelo. Ele despejou o líquido transparente em um algodão e sem delicadeza alguma, passou no rosto da menina que fez uma careta. O ferimento se fechou quase que instantaneamente. 

— Desculpe professor, devia ter escolhido a aula de outra pessoa. Espero não ter causado problemas a você.  

— Brigar desse jeito? Isso é intolerável, não importa a aula quem seja. 

— Eu sei. Mas, o senhor não sabe o que é conviver com isso todo o dia. 

Snape odiava problemas de adolescente, se compadecia da menina, passou as mesmas coisas em uma época, mas realmente não queria se envolver. 

— Não brigue mais e não ande sozinha por aí. 

Em pouco tempo toda escola sabia da briga, inclusive os professores, que faziam questão de manter as alunas afastadas durante as aulas. O que mais se comentava era que Milla tinha merecido, que a menina brasileira era bruta e principalmente o quanto deram azar com a detenção. Milla cumpriria com Filch, o zelador, e Emily, com o próprio Snape. Os alunos não sabiam quem era mais azarada. 

As meninas não estavam se falando, mas já havia rumores que Milla se vingaria e pela fama dela, não seria coisa boa.   

Emily, assim que acabou a aula no dia seguinte, rumou para a torre do professor que já a esperava na sala.  

— A poção que madame Pomfray usa para os alunos dormirem sem sonhos acabou, e precisamos fazer mais. Aqui está a receita, preciso sair para ver Dumbledore, pode já começar sem mim. Os ingredientes estão todos ali no estoque, e nem tente pegar algo mais porque eu saberei.  

Saiu deixando Emily sozinha na torre. 

— Aff, Porque tenho que fazer o trabalho dele?  

Emily pegou todos os ingredientes da poção e começou a enfileirá-los na mesa, gostava de ter tudo organizado antes de começar. Seguiu item por item da lista, e depois de um tempo, uma fumaça se desprendeu do caldeirão enquanto a mistura borbulhava vivamente, em uma cor não muito apetitosa. De alguma forma, se sentia um pouco sonolenta, mas continuou mexendo a poção.  

Snape voltou um tempo depois e viu uma fumaça exagerada sair pela porta. Correu para dentro a tempo de segurar Emily que caía desacordada. Com um giro na varinha fez a fumaça desaparecer, e depois encostou na testa da menina fazendo-a acordar no mesmo instante. Ela abriu os grandes olhos, e conseguiu se equilibrar em seus pés, encarou o professor sem entender o que tinha acontecido. 

— A fumaça da poção também causa efeito. Muito bem, isso quer dizer que ela está bem feita, você acabou dormindo. 

Estava muito constrangida, deu um passo para trás e se afastou dos braços do professor. 

— Desculpe, eu não sabia. 

— Então, você está fazendo meu trabalho? 

— O senhor escutou? 

Emily mordeu os lábios e um rubor subiu em sua face. Snape se divertia com o constrangimento dela, adorava ver um aluno sofrendo. Mas seu rosto se manteve inalterado.  

— Estou dispensada por hoje? — perguntou mudando de assunto, sua vontade era de enfiar a cabeça no primeiro buraco que encontrasse. 

— Por hoje sim. Amanhã, te encontro as 4 da manhã no hall de entrada. 

— às 4:00? — ela perguntou espantada com o horário. 

— Sim, as 4:00... Pontualmente. 

Emily, não conseguiu dormir direito, estava ansiosa e apreensiva para saber o que iam fazer logo tão cedo.  

Ao acordar um pouco antes do horário combinado, vestiu seu uniforme habitual composto por uma camisa branca, a gravata da sonserina, colete preto, uma saia de prega e uma meia-calça por baixo. Jogou por cima a capa, também parte do uniforme. O tempo começava a esfriar, mas ainda se encontrava agradável. 

Subiu as escadas rapidamente e o professor já a esperava no hall de entrada, olhou para o seu relógio de pulso para ter a certeza que não estava atrasada. Saíram do castelo e seguiram pela madrugada em direção a floresta proibida, o ar do lado de fora estava gélido e tudo estava em silêncio. Quanto mais se afastavam do castelo, mais as luzes se tornavam escassas. Snape usou o feitiço Lumus para iluminar o caminho enquanto adentravam cada vez mais. Emily que estava atrás do professor começava a ficar com medo. 

— Estamos quase chegando. Vamos colher umas flores, elas só se abrem as 4:30 da manhã, só temos 15 minutos antes que elas se fechem novamente. 

Andaram mais alguns passos e o professor fez menção para ela parar. Estavam em uma área aberta no meio da floresta, como se as árvores naquele trecho tivessem sido arrancadas de propósito, dando espaço somente para o verde do chão. Snape guardou a varinha fazendo com que os dois ficassem envoltos na total escuridão, nem a lua estava visível naquela noite. Emily segurou as vestes do professor para ter a certeza que ele ainda estava ao lado dela. 

— O que está fazendo? — Snape perguntou com a voz um pouco irritada puxando a capa para que ela o soltasse. 

— Me desculpe...  

— Está com medo? —  perguntou com frieza. 

Emily reparou nos pontinhos de luzes azuis que começaram a iluminar o chão, pareciam pequenos vagalumes aqui e ali. Em menos de uma fração de segundos, o brilho se espalhou por toda volta deles, estavam cobertos pelas luzes incandescentes. Era a coisa mais linda que Emily já tinha visto na vida, tudo estava iluminado pelas pequenas luzinhas azuis. Olhou para o seu braço e para suas mãos que também refletiam o brilho. Seu medo passou no mesmo instante, estava extasiada pela visão, começou a imaginar uma música tocando em sua cabeça, e sentiu como se pudesse dançar ali mesmo. 

— Temos 15 minutos, colha quantas conseguir. — O professor ordenou já se abaixando para colher. 

Emily acordou de seu devaneio e começou a pegar as flores delicadamente guardando-as seguras no colete dobrado.  

Quando elas começaram a se fechar novamente, diminuindo as luzes em sua volta, notou que se afastou muito do professor que havia acendido a varinha novamente. As luzes agora perdiam o brilho e logo se encontraria na escuridão total novamente. Apenas as flores que se encontravam em seu colete, ainda possuíam um brilho vivo. 

— Groopee! — ela escutou uma voz esganiçada saindo da escuridão a sua frente, mas não conseguiu ver o que era.  

Sabia que estava vindo em sua direção, escutava galhos se partindo e jurava que conseguia sentir o chão a sua volta tremer. Procurou a varinha no bolso da saia, porém, não a encontrou. Tinha deixado cair no chão enquanto abaixava para recolher as flores. Deu um passo para trás ainda olhando no rumo da coisa e a voz falou novamente. 

— Grooopeeee!  

Emily olhou para trás, ainda podia ver a luz da varinha do professor. Sabia que a criatura agora estava apenas há alguns passos de distância dela, suas pernas bambearam e não conseguiu se mexer. 

Snape ergueu a varinha iluminando a sua frente, mas tampouco conseguia ver alguma coisa a sua volta. 

— Lobo? — ele a chamou. 

A voz do professor que ecoou na clareira, havia atiçado a criatura que agora corria na direção de Emily. Ela começou a correr em direção ao professor, guiada pela luz da varinha. 

Snape ficou parado por uns instantes tentando entender os barulhos a sua frente, escutou alguma coisa correndo vindo diretamente para ele, na verdade, distinguiu duas coisas vindo rapidamente. Uma corria velozmente fazendo as flores farfalharem no chão, era algo muito pequeno, enquanto a outra vinha desajeitada batendo em tudo a sua frente causando muito barulho. 

Um vulto preto saltou em seu colo. Agarrou a coisa com a mão livre sem pensar, enquanto a outra ainda empunhava a varinha erguida. Não teve tempo de ver o que agarrou. A sua frente estava um gigante de uns 5 metros de altura. 

— Gropee! — a criatura resmungou novamente, tropeçou no chão esmagando todas as flores debaixo de si. Caindo a cinco centímetros dos pés de Snape. 

O professor notou que o gigante estava amarrado e que tropeçara porque chegou no limite da corda que o prendia. Com isso, teve tempo suficiente de olhar rapidamente o que tinha em seus braços. Uma raposa, seu pelo era macio e cinza, segurava em sua boca uma dúzia de flores amassadas que já não brilhavam mais. Ainda a segurando nos braços, saiu da floresta apressadamente, até chegarem na orla. 

A raposa pulou do colo do professor e se transformou em Emily. Que cuspia as flores da boca. 

— Isso foi o que eu consegui salvar... — disse para Snape que ainda a olhava incrédulo. — Minha varinha ficou na floresta. — completou sem jeito. 

O homem tirou uma varinha do bolso e entregou para ela, enquanto manteve a dele na mão. Deu as costas e começou a fazer o caminho de volta para o castelo extremamente irritado. Ele ainda não estava acreditando que Hagrid teve a coragem de trazer um gigante para a escola e o escondeu tão perto da vista de todos. 

— Professor... — ela disse sem jeito a suas costas. 

— O que foi? — Snape perguntou rispidamente. 

— Nada... — disse sem jeito mudando de ideia. 

Ao chegar no hall de entrada, Emily se dirigiu imediatamente para o dormitório sem olhar para trás. Estava muito constrangida, não sabia se era porque o professor conhecia sua natureza de Animago ou se era porque ela pulou no colo dele e tinha gostado da sensação de ser protegida daquele jeito. Alguma coisa dentro dela não ficava normal perto desse professor. 

 Ele por sua vez a deixou ir sem falar nada. Não gostava de animagos,  não teve experiências agradáveis com eles. Porém, ter Emily em seus braços daquele jeito tinha sido diferente, e ficou pensando o porquê a tinha segurado? Como no fundo sabia que era ela e não qualquer animal?  Esse pensamento o estava incomodando, não compreendia o que significava.  

Não encontrou o professor nos próximos dias que deveria ser detenção. Ele não a chamou e ela não foi atrás também. Seguia com muitos trabalhos nas aulas, e precisava se esforçar, algumas matérias tinha dificuldade, por não ter no Brasil. Também estava tomando cuidado em não ficar no caminho de Milla. Ela andava muito quieta ultimamente, estava sempre sussurrando com seus amigos. Quando a via sempre lançava um olhar com muita raiva.  

Naquela quinta-feira de manhã enquanto tomava o café recebeu uma coruja. O que achou muito estranho, não conhecia ninguém que poderia ter mandado. Abriu o pergaminho e em uma letra muito refinada, leu: 

Detenção hoje, me encontre na quinta torre as 17:00. 

— Prof. Snape 

Emily deu um suspiro, sabia que em alguma hora precisaria encarar o professor e terminar logo essa detenção que não acabava nunca.  Foi dispensada um pouco mais cedo da aula e decidiu ir direto para torre sabendo que ainda faltava um tempo para a detenção. 

Chegou sem dificuldades, a essa altura já estava adaptada aos caminhos do castelo, não sabia o que tinha lá, a torre estava estranhamente deserta. Havia um corredor amplo e aberto, se inclinou no parapeito de pedra, e observou o começo do pôr do sol que tinha um tom alaranjado misturado com um cor-de-rosa. Uma leve brisa gelada bateu em seu rosto, fazendo seus cabelos voarem, lhe causando cócegas no nariz. Olhou novamente a sua volta e não encontrou ninguém. Colocou a mochila no chão, tirando de dentro uma caixinha de música da JBL, ligou deixando tocar Dance Monkey da banda Tones and I 

Respirou profundamente enquanto se espreguiçava com os braços para cima e começou a dançar, estava com saudades daquilo e era a primeira vez que dançava desde a fratura no joelho.  

They say oh my god I see the way you shine 
Take your hand, my dear, and place them both in mine 
You know you stopped me dead while I was passing by 
And now I beg to see you dance just one more time 

Deixou seus sentimentos levarem a coreografia, era uma dança sexy, seus cabelos voavam lindamente conforme movia a cabeça e rodopiava. Mexia as mãos e os quadris com graciosidade. Fazia daquele corredor seu palco, e realmente era como se todo aquele espaço lhe pertencesse. Sabia que ela podia sair da dança, mas a dança nunca sairia dela. Quando a música terminou, não tinha reparado que Snape se encontrava ali parado encostado na parede, de braços cruzados olhando para ela.  

— Faz tempo que o senhor está aí? — perguntou ofegante. 

— Tempo suficiente. 

— O que achou? — perguntou confiante na performance. 

— Indecente. — mentiu 

Emily guardou a caixinha na mochila. Estava um pouco aborrecida, concordava que não seria o tipo de dança que mostraria para qualquer pessoa, mas acreditava na beleza da arte e ele claramente não entendeu a sua. 

— O que faremos aqui? — perguntou ela tentando mostrar tédio em sua voz. 

— Hoje você pode falar que está fazendo o meu trabalho. — Snape sorriu maldosamente vendo o constrangimento em seus olhos. — Aqui é o curujal do diretor Dumbledore, ele me pediu para enviar uma carta e aproveitar para cuidar de suas corujas. Então enquanto escrevo, você cuida delas. — disse dando muita ênfase no “você”. 

Emily fez um bico com careta as costas do professor, enquanto entravam no corujal. As aves eram diferentes das que os alunos podiam usar, essas eram grandes e bonitas. A menina trocou a água, afastou a palha suja para um canto e jogou mais palha limpas no chão. Terminou o serviço rapidamente e começou a acariciar o bico de uma das corujas, que recebeu o afago de bom grado. 

— Sabe por que parei de dançar? — perguntou distraída para o professor olhando pela janela. 

Snape parou de escrever e a encarou, o pôr do sol batia no rosto da menina, e seu perfil era lindo, um nariz levemente arrebitado e seus olhos sob a luz ficavam ainda mais verdes. 

— Não sei. E não quero saber. — disse voltando a atenção novamente para a carta.  

— Mas vou contar de qualquer jeito. — disse para aborrecê-lo. 

— Imaginei. — retrucou terminando a carta e amarrando na perna da coruja que obedeceu. 

A ave abriu as grandes asas e levantou voo saindo da torre em direção ao norte. 

— Sabe... Eu sempre fui uma dessas crianças pródigas que conseguia fazer as coisas sem muito esforço. — disse suspirando. 

—  Na escola era assim também, lia um texto e aquilo já ficava guardado na minha memória. Então desde cedo aprendi a esconder essa... dádiva, ou seja lá como chamam isso. Se eu ia bem em alguma coisa falava que fiquei a noite toda estudando ou praticando, ninguém gosta de gente sabe tudo. 

—  Mas por mais que eu tivesse amigos e fingia que estava tudo bem, eu sentia algo muito forte dentro de mim, uma raiva que nunca ia embora. Como se tudo estivesse fora do lugar o tempo todo, algo incontrolável, e às vezes realmente eu não conseguia me controlar.  

—  Até que, minha mãe resolveu me colocar em uma escola de dança. Ela foi uma dançarina excepcional, e queria que eu tivesse a mesma experiência que ela tinha dançando. Deu certo, descobri que dançar era minha vida, me acalmava e acalmava essa raiva que sentia dentro de mim. Treinei com muito afinco, dançava mais de 12 horas todos os dias. às vezes eu chegava a exaustão, mas não fazia isso para aprender a coreografia ou para melhorar, fazia por que era minha forma de fugir da realidade, para não sentir as coisas que sentia enquanto não estava dançando. 

O professor a observava prestando atenção em cada palavra que ela dizia e se identificava com o que ela dizia. 

— Com 13 anos, entrei em uma grande companhia, nas férias viajava o mundo inteiro apresentando minha própria coreografia, e isso para uma dançarina tão jovem como eu era, significava muito. Até que um dia meu diretor me chamou e disse que tinha uma oportunidade única para mim, de fazer parte de uma companhia russa de grande prestígio. 

A menina parou de falar por uns instantes, lembrando-se dos acontecimentos daquela época e seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela as ignorou e continuou o relato. Snape aproveitou para acender os candelabros dispostos na torre. 

— E eu na minha inocência, disse que faria qualquer coisa para entrar e continuar dançando. Então ele me olhou nos olhos, com um sorriso estranho e disse que o diretor estava lá e queria me conhecer. Era só eu entrar na sala e fazer tudo que ele pedisse. — Emily abaixou os olhos para encarar o chão.  

— E eu entrei... pensando que ele só queria realmente me conhecer. Era um homem repugnante, a sala cheirava a charuto e tinha dois copos de bebida na mesa. Ele pediu para me sentar, e tomar a bebida com ele... 

— Não precisa continuar. — o professor disse já imaginando o resto da história. 

— Por favor, quero terminar... — disse olhando no fundo dos olhos dele que sentiu uma conexão com ela. — Sentei ao lado dele, e ele começou a me falar em inglês que eu deveria ser uma boa menina e fazer tudo que ele mandasse, se eu quisesse entrar para a companhia dele. E eu mesmo com medo, concordei. Ele agarrou meus braços e se forçou contra mim, me beijando com aquele hálito de álcool e charuto.  

Emily fechou os olhos e ofegou lembrando-se com repulsa. Snape estava muito sério e calado. 

— Eu não tinha forças para lutar contra ele, e eu estava muito nauseada pelo cheiro do charuto, era muito jovem não sabia nada da vida. — disse suspirando. — Porém, uma força tomou conta de mim. Estava com muita raiva por não conseguir lutar, por ser tão fraca. De repente, um flash de luz vermelho saiu de dentro de mim, e o atingiu em cheio no peito. O homem voou e caiu no chão com os braços e pernas estirados. Fiquei ali, sentada naquele sofá, tentando entender o que tinha acontecido. Finalmente, quando me levantei para ver se ele estava bem, ele não se mexeu. Me aproximei dele e seus olhos estavam completamente abertos... Ele não respirava... 

Emily parou de falar e agora as lágrimas desciam pela sua face. 

— Eu matei uma pessoa. — disse olhando o professor no fundo de seus olhos, se sentindo magoada, desesperada e sozinha. Queria que a dor e a raiva fossem embora. 

Snape colocou as duas mãos em seu ombro. 

— Não foi culpa sua. — disse em uma voz serena e confortante que nem ele mesmo sabia que existia. 

Ela o abraçou pela cintura chorando copiosamente. Ele retribuiu o abraço afagando seus cabelos. Ficaram assim por um bom tempo. 

— Disseram que ele morreu de infarto fulminante, escapei de uma acusação de assassinato. Mas, depois disso, toda vez que eu dançava eu lembrava dele, caído no chão e seus olhos abertos mirando o nada. Não queria mais dançar, mas tanto meu pai quanto a companhia que eu trabalhava não queriam nem saber. Por isso que acabei me machucando para poder parar de dançar.  

— Só que a dança era a única coisa que eu tinha, que me controlava. Minha vida desandou depois que minha mãe morreu, fui obrigada a morar com meu pai. Quando matei esse trouxa, ele que já era distante de mim, se tornou ainda mais distante. Acabei conhecendo umas pessoas que me levaram para uns caminhos mais duvidosos. E hoje estou aqui, essa é a forma que meu pai achou para se livrar de mim, do problema que sou para ele. 

— Tenho certeza que seu pai não pensa que você é um problema.  

— O senhor não conhece meu pai. A única preocupação dele é com a escola, o resto... É resto. 

— Sua dança não é indecente. — se desculpou — Não deixe, um homem como esse tirar isso de você. Você não teve culpa. Precisa se perdoar por isso — Snape disse ainda abraçando-a. — Vamos sair daqui, está ficando frio. 

— Amanhã voltarei na floresta para ver o estado das flores e se salvou alguma coisa — disse descendo as escadas em direção ao dormitório. — Considere como o último dia da sua detenção. 

— O senhor ainda quer que eu vá apesar da última vez?  

— Sim, foi uma fatalidade encontrarmos o gigante. Ele já não está tão perto da entrada da floresta. 

  — Tudo bem. Estarei as 4:00 no hall. 

Despediram-se, Emily estava um pouco mais feliz, tinha alguns motivos para isso. Finalmente havia conversado com alguém sobre o que havia acontecido e agora estava certa de que tinha sentimentos verdadeiros pelo professor. O abraço dele apesar da situação, a tinha deixado com o coração aquecido, queria saber mais sobre ele, queria estar com ele e queria pertencer a ele. Não se preocupava com o que as pessoas pensariam, não acreditava em amor à primeira vista, mas o que estava sentindo, nunca sentira por mais ninguém e tampouco conseguia pôr em palavras essas emoções. 



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