História A República - Domingo animado

Isa e Saga permaneceram juntos pelo resto da noite e só se separaram quando era hora de dormir.

 O domingo clareou e os estudantes foram tomar o café-da-manhã na cantina. Isa viu Milo de longe, olhou-o com desprezo e recebeu o mesmo olhar vindo dele. Estavam juntos na mesa afastada, Saga e Isa, que não se desgrudavam um segundo sequer, Mel, que não largava o celular e Aldebaran, que comia um generoso prato de salada de frutas.

_A dona Melissa não larga esse celular hoje... O que deu em você, abelhinha? – o maior perguntou sorrido.

_Ela não te contou? O gato dela está de volta! – Isa sorriu, dando um morango na boca do namorado. Como estava feliz por poder dizer essa palavra sem culpa.

_Ué, Mel, eu sou igual marido traído mesmo, sempre o último a saber! – todos riram e Mel mostrou a língua para o amigo, pegando um pedaço de maçã em sua salada.

_Ah, e por falar em “marido”, Debas, quando vamos conhecer a sua senhora? – Isa questionou o amigo.

_Bem, acho que só nas férias – ele coçou a cabeleira negra – Ela se mudou por que a faculdade que ela passou não era aqui, e como o pai dela não poderia arcar com mais um ano de curso, ela teve de ir... Mas se deus quiser, nas férias ela estará de volta! – uniu as mãos num agradecimento, sorrindo para os amigos. Tomou o celular das mãos da ruivinha – Vem cá, Mel, vai me ajudar com a comida ou não?

_Tá, eu vou, mas me devolve meu celular! – ele a entregou o aparelho e cedeu uma colher para ela – Gente eu estou super sem palavras – fazia a expressão mais abobada que conhecia – Eu estou amando – apoiou o rosto sobre a mão direita e sentiu uma mão em seus cabelos.

_Pode deixar que isso tem cura, graças a Zeus! – Kanon, como sempre chegara atrasado e pegou o assunto pela metade, se sentou ao lado do gêmeo – E aí, como estão as coisas?

_Pra mim estão ótimas – dizia Mel sorridente.

_Por que? Transou? – perguntou no tom mais calmo possível, como se fosse algo simples, recebendo um olhar reprovador de todos, além do rubor na face da ruiva – O que foi, gente? Eu hein... – revirou os olhos e comeu uma colherada do seu iogurte – As pessoas transam! Pelo menos eu transo – sorriu de canto.

_Ninguém precisa saber! – o irmão atirou uma bolinha de papel nele, o repeendendo.

_Ainda não, Kanon, ainda não – a outra o respondeu sorrindo. Estava se sentindo tão feliz que uma brincadeira era o de menos. Acordara com uma mensagem de Hakurei a convidando para um jantar. Estava mais segura. Um jantar era uma oportunidade para caprichar melhor, tanto no visual quanto na maneira de se portar. Definitivamente ele sabia que ela amava comer. Sorriu.

_Eitaaa! Tá que tá, hein abelha! O Isadora, toma conta da sua amiga aí, hein! – as duas deram língua para ele e voltaram a comer.

_____xx____

Degel e Kardia apareceram na cantina pela manhã de mãos dadas. O escorpiano o havia pedido em namoro, pedido este que foi aceito. Estavam muito felizes um com o outro, não fosse os surtos de ciúmes que Kardia tivera durante o primeiro dia de relacionamento. Se sentaram à mesa junto com os amigos, mas notaram uma presença a mais. Régulus estava junto deles, mais precisamente, ao lado de Aspros. Pelo que conheciam do jovem, ele tinha conseguido o que queria. De fato, o gêmeo estava infinitamente mais feliz que na época em que estivera com Asmita.

_Mas eu já me dei ao trabalho de contar os podres de todo mundo! – Manigold sorria como uma criança. Conseguira marcar sua entrevista com Sage para a segunda-feira. Estava ansioso, com medo de falar alguma de suas típicas bobagens. Tentava se distrair na presença dos amigos – Dohko, você estava IMPAGÁVEL! Até bonde do tigrão você dançou!

_Euuu? Eu não fiz isso! – o ruivo cruzava os braços e mantinha o bico emburrado em sua expressão.

_Eu tenho as provas do crime! – Mani mostrou a filmagem para ele em seu celular. Todos ainda riam bastante com as cenas da sexta-feira – E quase que faz o Shion terminar com a gata dele! Puta merda, você estava terrível, man!

_Era um favor que eu ia fazer pra ele, isso sim! – revirou os olhos – Fala sério, garota chata da porra – comeu um pedaço do sanduíche – Tudo ela reclama, cruz credo.

_Estou captando ondas de ciúmes – Defteros brincou com o amigo, que lhe mostrou o dedo do meio – Fala sério, ela é uma gostosa, isso sim! – recebeu mais uma revirada de olhos vinda do ruivo.

_Fala, casal bonito! – Hasgard cumprimentou os dois que chegaram. Se sentaram e continuaram as fofocas sobre a saída de sexta.

_____xx_____

Yuzu permanecia emburrada em seu quarto. Passara o sábado inteiro lá dentro e a manhã de domingo. Ouviu batidas em sua porta.

_Quem é? – perguntou em tom de desdém.

_Seu pai – a loira se levantou de sua cama e destrancou a porta.

_Oi pai – o viu com uma linda bandeja em mãos – É pra mim? – apontou para a bandeja.

_Sim – disse ele, depositando-a sobre o criado-mudo branco ao lado da cama. Se sentou ao lado da filha na cama – Vim ver você.... Está com essa cara desde ontem – a filha o abraçou e se deitou em seu colo – O que houve?

_Ah, pai... São muitas coisas... Shion e eu nos desentendemos na sexta e ele não moveu uma palha para me pedir desculpas!

_Mas ele estava errado? – a viu dar de ombros -  Filha, você tem de aprender a controlar esse seu gênio forte... – passou a mão pelos cabelos loiros. Viu-a se levantar bruscamente.

_Mas pai! Pelo amor de Deus, você tinha que ver o jeito que aquele Dohko se esfregava nele! Ficava fazendo gracinha e mandando indireta pra mim! Ai que ódio dele!

_Calma, minha filha! Se irritar com essas besteiras só vai fazer Shion se afastar... Tente entender uma coisa, as pessoas tem seus amigos, tem suas vidas, e isso é algo importante. É importante num relacionamento, que se respeite o espaço do outro... Você confia no Shion? – olhou nos olhos azuis.

_Confio, mas...

_Então não há um “mas”... Se está com ele, é por que acredita que ele não vai te trair sem mais nem menos... Não dê motivos para seu relacionamento acabar, Yuzu...

_Mas pai, eu não vou abaixar a cabeça para tudo! Por favor, né! – cruzou os braços.

_E eu disse isso? Disse que não deve se abater por besteiras! Sabe que isto é uma besteira, é uma brincadeira... Deixe isso de lado e releve. Converse com o Shion mais tarde – deu um beijo na testa da menina e se levantou, mas ela o puxou de volta – O que foi?

_Tem mais uma coisa! O que aquela garota queria com você na sexta?

_Minha filha, eu tive uma conversa complicada em relação à isso com Mu e terei a mesma conversa com você... Estou interessado na Melissa, nós nos conheceremos melhor...

_O QUE? – cruzou os braços novamente – Pai, você não vai fazer isso! Não pode!

_Yuzuriha, não confunda as coisas! Eu estava sendo aberto com você, lhe dando mais satisfações que deveria... O fato é que não estou pedindo a autorização de ninguém. Estou apenas te comunicando – respondeu calmamente e viu a face da filha se revoltar – Era só isso?

_”Só”? Acho que isso é pouco? Primeiro, você se esqueceu da mamãe? E segundo, sabe que Mu estava gostando dela, não sabe? O que ela pensa que é para brincar assim com os dois?

_Ei! Parou! Eu odeio o fato de ter de dizer isso, mas a sua mãe morreu há mais de dez anos.... Não há nada que eu possa fazer além de seguir a minha vida! E em segundo lugar, foi exatamente o contrário disso tudo, a Melissa não fez nada contra o seu irmão, foi ele quem se confundiu, confundiu os sentimentos dela, o que é normal! Eu fiz o que pude, mas ela tomou a decisão que achou certa, o que foi nobre da parte dela.

_Nobre? Pai, nobre? Essa menina dever é ser uma interesseira, isso sim! – se deitou e cruzou os braços.

_Não fale o que não sabe... – ameaçou sair do quarto – Mais uma coisa... Eu não tenho a sua idade, eu sei me cuidar – fechou a porta. A loira estava cuspindo fogo. Não é possível que se livrou de Sasha mas há outra no caminho novamente. Inferno!

_____xx_____

O café-da-manhã correu tranquilo, até a chegada de Sasha e Saori, que acompanhou a irmã pois tinha um plano em sua cabeça. As duas se juntaram à mesa onde os garotos estavam, recebendo algumas torcidas de nariz em sua direção.

_Bom-dia, boys! – mandou beijinhos no ar para eles, que responderam com um sorriso amarelo. Deu um selinho no namorado, que não estava exatamente animado com sua presença. A noite de sexta foi incrível como há tempos não tinha. Seus amigos, suas bagunças, risos e brincadeiras. Ela o privava disso sempre que podia – Nossa, já não basta sair sem mim, ainda faz essa cara de bunda quando chego? Querido, eu acordei cedo pra vir te ver e você fica com essa gracinha? – viu os meninos se retirarem da mesa aos poucos, já prevendo uma confusão daquelas. Sísifo não era de se irritar, mas quando acontecia, quem estivesse debaixo, que saísse.

_Sasha, na boa, pra que esse estardalhaço todo? Primeiro, eu te convidei e você não foi por que não QUIS! Segundo, não estou fazendo cara de bunda, é você que cisma com isso do nada e quer me encher a paciência! – viu a namorada massagear as têmporas e sorrir com ironia.

_Amorzinho, amorzinho... A sua SORTE é que estou muito bem-humorada, por que senão, eu já tinha brigado feio com você!

_Está MUITO bem humorada... Posso saber por quê? – cruzou os braços e a mirou fixamente.

_Isso eu posso responder, Sísifo! – Saori se pronunciou pela primeira vez, levando um cutucão da irmã – É que ela fez uma coisa muito engraçada nessa semana, sabe!

_Saori, quieta!

_Quieta? Na hora de ser dissimulada e mentirosa você sabe, não é, irmãzinha? – Saori se sentou ao lado do cunhado – A Sasha fez uma pessoa que PRECISA do emprego que tinha, ser demitida! Só por diversão! – olhou com ódio para a irmã, que estava com a respiração pesada.

_Você o quê? – o rapaz olhou para a namorada com desgosto e incrédulo.

_Ai Sísifo, não foi nada! Foi uma brincadeira! – revirou os olhos.

_Brincadeira? É engraçado pra você ferrar a vida de alguém que precisa só pra se divertir? Pra rir? – se levantou da mesa e deu um soco na mesma – QUAL O SEU PROBLEMA, GAROTA?

_Gente, que tempestade num copo d’água é essa? – fez expressão de inocência – Ele era um pobre, já está acostumado a ser pobre... Vocês falam tanto, mas também não queriam ter uma vida de POBRE!

Os dois sacudiam a cabeça numa negativa. Viu o loiro retirar a aliança e coloca-la sobre a mesa.

_Olha, eu não sei qual é a sua doença, mas com você eu não fico mais!

_Sísifo, para de palhaçada! – mirou as unhas com indirefença – Foi só uma brincadeira, eu já disse!

_Está vendo, Sísifo? Ela não é doente, ela é ruim mesmo! – Saori ainda estava inconformada com a maldade gratuita que sua irmã fizera com seu amado – A melhor coisa que você faz é largar essa BISCA! – saiu batendo os pés na direção dos portões da república, recebendo um olhar fulminante da Kido mais velha. Sísifo também andou na direção oposta e se encontrou seus amigos. Não parecia minimamente magoado. Sempre soubera que Sasha era fútil, mas daí a cometer uma maldade dessa com alguém que precisa de um emprego? A troco de nada? Sim, por que Saori jamais delataria a irmã com tanto ódio se não fosse verdade. Se juntou com os demais e não quis dar explicações.

Sasha saiu raivosa do lugar, batendo o portão com força, se dirigindo ao carro onde o motorista a aguardava. Não conseguia encarar Saori. Vaca traidora! “Eles vão me pagar... Os dois!”

_____xx_____

Regulus e Aspros combinaram de lanchar no shopping e assistir a um filme no cinema. Na saída se depararam com Asmita, que parecia abatido. Carregava uma mochila grande, o que indicou que ele passou um bom tempo fora. Não se cumprimentaram. O loiro passou direto pelos dois.

Regulus ignorou a presença do loiro, mas Aspros ficou um pouco encucado. Nunca o vira tão abatido. Talvez na volta perguntasse o que houve. Apesar de tudo, ainda tinha consideração por ele.

Apesar de o motorista que seu pai disponibilizou ter ficado de prontidão, Regulus preferiu ir de carro com Aspros. Em aproximadamente vinte minutos chegaram ao Shopping, se sentaram num restaurante fast-food.

_Só você pra me fazer comer lanche – riu o mais velho – Estou malhando com o Hasgard agora, não devia estar comendo isso!

_AH! Qual é? Virou afrescalhado agora? – fez expressão de tédio – “Mimimi não tomo refrigerante” “Mimimi não como isso e aquilo” Ah puta merda!

_Mas você não para com essa boca suja! – riu, mas ainda assim o repreendendo – Como pode ser assim?

_Eu nasci assim, a treta nasceu junto comigo e eu não posso lutar contra ela! Mas ainda assim eu sou um amorzinho – piscou várias vezes, tentando parecer meigo – Pelo menos eu tento.

_Tenta? Não é isso que eu vejo! – comeu um pedaço do sanduíche – Sempre fica dando patada nas pessoas.

_As pessoas me obrigam a ser assim! Mas pensa bem, com você eu sou um amorzinho mesmo – sorriu.

_Ah é, com certeza! Quem tem alguma intenção sempre dá um jeitinho!

_Ah, mas as minhas intenções são as melhores possíveis! – mordeu o lábio inferior e passou a língua sobre ele – Por falar em boas intenções, você bem que podia ir assistir o resto da trilogia de Star Wars lá em casa! Eu sei fazer pipoca!

_Eu já vi um milhão de vezes a trilogia completa, moleque!

_Mas não na  minha ilustre e adorável presença! - fez pose – Ah, Aspros, na boa, larga de ser seboso! Parece até que tem medo de mim! Eu não mordo, tá!... Só se você pedir – sorriu malicioso e o viu engasgar com o refrigerante.

_Você não existe MESMO! – bagunçou os fios loiros – Eu só vou por que não tenho aula de manhã! – olhou em seu relógio e conferiu meio-dia e meia. A sessão era às duas. Provavelmente terminaria às quatro e meia. Regulus não teria muito tempo para atazanar sua paciência, pensou. 

_Eu sabia que você não ia resistir à mim – mandou um beijo na direção do outro, que apenas sorriu e balançou a cabeça.

_______xx_______

Mel estava à beira de um ataque de nervos. Hakurei a convidara para um jantar hoje à noite.

_Eu não tenho roupa! – uma pilha de vestidos estava jogado sobre sua cama. Estava tão nervosa que nem reparou que o seu preferido estava em meio aquele monte. Isa estava de braços cruzados sobre sua cama.

_Aqui cabrita! – atirou o vestido branco rodadinho sobre a amiga.

_Isso! É esse! Obrigada, cabrita! E sapato? Meu Deus, não tenho sapato! – andava de um lado para o outro. Isa sabia que essa tarde seria beeeeem longa. Mas tinha de ajudar a amiga, custe o que custar. Ela teria de estar linda para ele. Linda!

Continua