A semana passou depressa, e logo já era quarta-feira. Passava das oito da noite e Seika ainda estava em serviço na casa de Ilias. Percebeu que Regulus estava estranho. Fazia um calor absurdo e ele estava debaixo de duas cobertas. Abriu a porta do quarto, que estava entreaberta.
_Menino Regulus, está passando bem? – se ajoelhou ao lado da cama. Viu uma negativa com a cabeça e tocou a testa do garoto, que estava quente. Parecia febril – Meu Deus! Está com febre! – se prontificou e rapidamente buscou o termômetro com Aracy. Voltou e colocou-o sob a axila do menino, que com muito custo saiu de baixo das cobertas.
_Seika... Minha cabeça está doendo um pouco – disse com a voz embargada.
_Vou buscar um remédio, espere só um pouco! – retirou o termômetro e constatou 38,5 ºC – Está com um pouco de febre, vou trazer o remédio – acariciou os fios loiros e desceu. Retornou trazendo dipirona dissolvida em um copo com um pouco de água – Tome – o viu fazer uma careta enquanto bebia. Riu. Ele se parecia com Seiya para tomar remédio – Pronto... Vou fazer um chocolate quente pra você – voltou a sorrir para o menino e desceu para preparar a bebida. Subiu as escadas com cuidado para não derrubar a bandejinha. Colocou-a sobre o criado-mudo e se sentou ao lado de Regulus, que bebeu tudo.
_Estava muito bom. Obrigado, Seika – estava espantado com esse comportamento. Sempre fora tratado com tanta indiferença. E agora uma estranha cuidava de si com todo o carinho do mundo.
_Que isso, estou aqui para isso... Olha, eu vou ficar aqui com você e esperar seu pai chegar.
_Ele chegar ou não, não vai fazer diferença – sorriu fraco – Pode ir embora, precisa voltar pra casa – sorriu fraco novamente.
_Oh, menino... Então eu vou fazer o seguinte, vou ligar pro meu irmão e avisar que vou ficar aqui essa noite – sorriu para ele, e viu que os olhos dele se alegraram. Telefonou para Seiya e buscou um colchão para estender no chão do quarto.
_Pode deitar aqui comigo... Essa cama é grande...
Seika estava com pena de Regulus. Não trabalhava lá há tanto tempo assim, mas já era o suficiente para saber como ele era um menino triste. Como seu pai o tratava com indiferença. Nunca o vira entrar no quarto do garoto para desejar uma boa-noite. Seu coração apertou e ela se deitou ao lado dele por carinho. Apoiou a cabeça dele em seu peito e acariciou os cabelos dele, vendo-o adormecer aos poucos. Quando viu que ele dormira, se deitou no colchão abaixo e tentou pegar no sono, mas seu instinto não a deixava pregar o olho. Acordava de meia em meia hora para verificar se a febre baixava. Às quatro da manhã se certificou disso. O termômetro marcava 36 ºC. Respirou aliviada e voltou para o quarto da empregada e dormiu até seu despertador tocar.
Estava limpando a cozinha, quando foi interceptada pela governanta, dizendo que o patrão queria vê-la.
_Com licença, Sr. Ilias? – entrou no escritório e se colocou de pé à frente da mesa.
_Sente-se, por favor – apontou a cadeira para a moça – Soube que passou a noite aqui e cuidou de Regulus... Não se preocupe, pagarei pela hora extra – disse cordialmente.
_Não senhor, não precisa. Fiquei por que quis, por que gosto do menino – sorriu – Eu juro que se o senhor me pagar, eu devolvo!
_Mas, Seika... Você pode precisar!
_Se eu precisar, farei horas extras de verdade... Cuidar do Regulus não foi trabalho para mim – sorriu e andou até a porta – Posso me retirar?
_Sim... Claro...- o mais velho permaneceu por lá por algum tempo para tentar entender o que aconteceu. Sua empregada passou a noite cuidando de um filho que não era dela. Sem querer nada em troca. Viu a expressão cansada e mal dormida da moça. Realmente ela era uma mulher diferente. Não se lembrava de a própria mãe de Regs ter feito isso algum dia.
Seika esperou o patrão sair para o trabalho para limpar o escritório. Ele era um homem minucioso. Ouviu a porta se abrir, mas não deu importância, pensando ser Aracy.
_Então você é a fulaninha? – Sasha estava parada com os braços cruzados olhando para Seika.
_Meu nome é Seika...
_Não interessa, garota! Cadê o Ilias? – dizia, prepotente.
_O Sr. Ilias saiu há algum tempo. Só o Sr. Regulus está... O que deseja?
_O que eu desejo? – riu irônica – Eu desejava ver o MEU homem... Mas como ele não está...- fechou a porta. Queria novamente se divertir um pouco com alguém que julgava inferior – Eu só quero te dar um aviso, empregada: não se aproxime do Ilias. Ele tem DONA. E essa dona sou eu, Sasha Kido.
_Perfeitamente – a ignorou e voltou ao seu serviço, despertando fúria na patricinha.
_Quantos anos tem, Seika? – se sentou sobre a mesa de trabalho de Ilias.
_Vinte e cinco...
_Nossa, não parece! – fez uma falsa expressão de surpresa – Eu diria que tem uns quarenta... No MÍNIMO do mínimo! – riu – Mas também, como esperar mais de uma pobre coitada como você.
_Pode fazer o favor de se levantar? Preciso limpar a mesa...- permaneceu tentando ignorar aquela criatura insuportável.
_Quer tanto assim agradar seu patrão? Saiba de uma coisa, ô pobre coitada: a vida não é como as novelas ridículas que você assiste, onde o patrão se apaixona pela empregada coitadinha – fez um beicinho.
_Está com tanto medo assim de perder o Sr. Ilias para mim?
_Como ousa?! Se você tentar algo com ele, eu juro que meto a mão na sua cara de pobre!
_MAS NÃO METE MESMO! – Regulus entrou no escritório e se colocou entre as duas – Se você encostar na Seika eu faço o mesmo com você!
_Ora ora ora... Então você não conseguiu com o pai e partiu para o filho? – gargalhou – Então você deixou de transar com a bunda, Regs? – viu o menino olhá-la com indiferença.
_Ela não é baixa como você, que precisa dar pro irmão do ex só pra se sentir importante – riu – E se quer saber, essa missão foi frustrada, pois o Sísifo está cagando pra você, garota... E tem mais! O Ilias também! Sabe, você foi só uma menina que ele comeu por que achou FÁCIL!
_Garoto, cala essa boca!
_Cala você! Não tem moral nenhuma pra falar de ninguém... No dia que você for um centésimo da mulher que a Seika é, você pode abrir essa sua boca suja, agora sai da minha casa...
_Regulus... Seu pai vai saber disso!
_Foda-se! Agora sai! – puxou-a pelo braço e a levou até a porta. Sasha estava irada. Todos eles ainda iam pagar caro por encostarem a mão em Sasha Kido. Esperassem só até seu pai voltar para o Brasil!
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Finalmente o sábado chegou. Os meninos passaram quase a sexta-feira inteira organizando a área da piscina para que coubessem as várias pessoas que iriam.
As meninas estavam prontas. Como combinado, foram fantasiadas de vilãs e anti-heroínas de quadrinhos. Isa estava vestida de mulher-gato, Mel de Hera Venenosa, Ana de gata negra, Aninha era Feiticeira Escarlate, Marin a Viúva Negra, June era Arlequina, Shina era Víbora, Geisty a Safira Estrela e Thetis era Elektra. Desceram para encontrar a turma, e viram que alguns dos meninos quase caíram para trás ao ver que as fantasias eram tão sensuais quanto as roupas das personagens. Os namorados temiam mais ainda o que estava por baixo, afinal a festa era na piscina.
_Que trajes são esses, dona Isadora? – dizia Saga, que estava vestido de Batman, brincando com a menina.
_Ué, amor, são os meus trajes – riu e enlaçou o pescoço do namorado, e o beijou.
_Nossa, vocês estão pra matar mesmo, hein! – disse o gêmeo, trajando o uniforme de Asa Noturna – Pena que algumas são comprometidas... Outras não – levantou a sobrancelha na direção de Ana e de Thetis – Por que querem – piscou o olho direito.
_Por que não quero VOCÊ! Babaca! – Ana revirou os olhos e foi até o balcão buscar um drink.
_Você só toma naquele lugar, Kanon! – disse Oros, que se aproximou a tempo de ver o fora que a menina deu nele. Estava vestido de Flash – E aí, gatas? Tudo em cima?
_Tudo, Oros, e você? – disse Isa, segurando o riso, imaginando a cara do “ursinho” quando Hilda chegasse.
_Melhor agora, né – se apoiou no ombro de Kanon e olhou para todas as meninas. Pelo menos uma delas seria sua hoje! Partiu para a eliminação, pois aquelas meninas eram o verdadeiro significado de “tanto faz”. Pensou consigo mesmo. Isa é de Saga, Mel de Hakurei, Aninha de Shura, Thetis de Kanon – provavelmente seria -, Marin de Aioria, Shina de June e June de Shina, Ana de... Ninguém! Era isso! Ou ela ou Geisty seriam dele. Ou, na melhor das hipóteses, as duas. Esfregou as mãos e puxou Kanon pelo braço para cochicharem sobre suas possibilidades.
Oros foi atrás de Ana, mesmo sendo alertado por Kanon sobre o perigo que isso representaria. Se sentou no banco comprido ao lado dela e pediu uma bebida no balcão.
_E aí, Ana... Tudo bem?
_Sim – foi ríspida. Não tinha paciência para essas cantadas baratas.
_Está tomando o que? Talvez eu te acompanhe...
_E quem disse que quero companhia? – revirou os olhos escarlate.
_Poxa, Ana, só quero conversar com você... – tocou no braço alvo e ela se desvencilhou.
_Mano, não encosta em mim! Já disse que não quero conversar!
_Foi mal, gata negra...- sorriu e logo se esqueceu que ela não queria que tocasse e colocou sua mão sobre a dela e recebeu um jato de drink certeiro no rosto, seguido de um tapa estalado que deixou seu rosto inchado e marcado com os cinco dedos da garota, que se levantou do banco.
_Isso é por que eu tô de bom-humor hoje! – terminou de jogar o restinho da bebida que ainda estava no copo sobre a cabeça dele.
_NOOOOOOSSSSAAAAAAAA! – o resto do pessoal estava rindo muito do que viram. Juraram para si mesmos que não deixariam uma treta sequer passar em branco nessa festa – A gente avisa, mas a pessoa não ouve! – Kanon não parava de gargalhar. Podia ter sido ele a levar aquela bofetada!
_Mulher nervosa da porra – Aioros não parava de massagear o local – Espero que essa porra desinche até as outras meninas chegarem.
_Isso é pra vocês aprenderem a não ser idiotas – Saga repreendeu os dois. Estava abraçado com Isa, que também não parou de rir por um segundo sequer.
Conforme o tempo passava, o resto das pessoas chegava, ou descia, como era o caso dos que moravam na República. Os aniversariantes chegaram vestidos de Thor e Capitão América. Yuzuriha estava fantasiada de She Ha, Atla de Shazam. Hakurei estava vestido de Magneto e seu irmão de Professor Xavier. Sabia que num dado momento não ia querer ficar de pé mesmo.
A festa estava rolando há um tempo, a macacada estava conversando na beira da piscina, quando Oros arregalou os olhos numa expressão cômica quando viu quem chegou: Hilda. Só podiam estar de sacanagem com ele! Puxou Kanon para frente e se colocou atrás dele, tentando fugir das vistas da garota. Ela estava armada com suas quatro amigas, que poderiam descobri-lo ali a qualquer momento. As mulheres eram piores que FBI quando queriam!
_Kanon, me ajuda! Pelamordetodososdeuses! Socorro Bátima! – puxou Saga e o encostou no irmão, visando fazer uma parede mais eficaz – Isadora, eu mato você! – falou entre os dentes para a loira, que não conseguia esconder seu sorriso irônico – Foi você, não foi!? – deu um tapa nos cabelos loiros e se deitou atrás dos meninos, conseguindo afundar a cabeça de Isa na água.
_Filho da puta! Eu vou contar pra ela onde você tá! – ameaçou o moreno, que permaneceu se esgueirando atrás dos meninos.
_Aldebaran! Aldebaran! – chamou o grandalhão, que estava do outro lado da piscina e veio nadando até ele.
_Fala! – disse, bebendo um caneco de cerveja.
_Precisa me ajudar! Eu preciso que ande na minha frente até o quarto da Isadora!
_NO MEU QUARTO, AIOROS?
_É! O seu quarto sim! Na sua cama! A culpa dessa doida estar aqui é sua! E eu vou ficar lá até você dar um sumiço nela! – dizia, apontando o dedo indicador para ela, que o segurou e deu uma mordida – AI!
_Se você cagar o meu quarto eu mando a Ana ir atrás de você!
_Não! Pelo amor de Deus! – Aldebaran saiu da piscina e se colocou à frente de Aioros, que se pendurou nele como um macaco.
_O Aioros, qual foi? Não quero barbudo pendurado em mim não! – o maior o jogou no chão.
_Oros, o que está havendo? – Aioria, o irmão mais novo de Oros foi até ele, tentando entender o que estava acontecendo.
_Shiiiiuuu! – tapou a boca do irmão e se agachou no chão – Oria, aquela doida que eu peguei no barzinho, ela veio aqui! – estava vermelho de raiva. O mais novo se sentou no chão e começou a rir da situação, e logo percebeu uma sombra os cobrindo.
_Mas onde ele está? Eu quero ver meu ursinho, Isa! – Isa, Ana, Aninha e Mel estavam fazendo uma parede em volta dos meninos para que Hilda não os visse.
_Então Hilda, ele foi ao mercado com o irmão dele ver se conseguia comprar mais gelo – Isa levava cutucões na canela o tempo todo, dando coices de Aioros ao ser provocada.
_Mas quando ele volta? – a menina, fantasiada de Sailor Moon, insistia em ver Aioros. Estava apaixonada pelo beijo daquele moreno – Por favor, Isa, fala pro meu ursinho que ele não precisa ter medo de mim, não!
_Relaxa, Hilda, ele quer muito te ver, sabe... Acho que isso foi só um desencontro, logo logo ele está de volta... Por enquanto você e suas amigas podiam ir lá pro bar, olha quantos gatos lindos lá!
Hilda recebeu uma confirmação das amigas.
_Ok, mas assim que ver meu ursinho, mande ele me procurar!
_Claro que eu mando! – deu um tchauzinho para ela e as viu andando na direção oposta. Seguraram as risadas até onde deu. Até mesmo Ana estava se divertindo com aquela situação.
_Eu juro que mato você! – Oros disse em direção a Isa e saiu correndo na direção do dormitório feminino. Se sentaram para rir quando o viram catar cavaco para subir as escadas dos quartos.
_Gente, eu não tô aguentando! – as meninas estavam com a barriga doendo de tanto rir da fuga de Oros – Coitado, eu vou dar um jeito nela – Isa disse.
_Acho bom, mesmo! – Saga a repreendeu – O cara não pode nem curtir a festa por causa de vocês!
_De mim, não, príncipe! Dele mesmo, que sai pegando tudo quanto é mulher!
_Dessa vez eu admito que tenho culpa no cartório! – Kanon comentou.
_É, realmente, você devia ter vindo vestido de cupido, por que você só prepara o dos outros, mas nunca pega ninguém! – Thetis disse para Kanon, causando risadas nos outros, vendo-o fazer um bico imenso – Imagina que fofura, ele vestido de anjinho! – apertou a bochecha dele como uma tia velha faz com um sobrinho pequeno.
_Ah, vão se fuder, vocês! – saiu fulo da piscina e andou até o balcão.
_E aí, trevosos, o que eu tô perdendo? – disse Giovane, que se aproximou, entrando na piscina, se colocando entre Aninha e Thetis. As demais moças não se fizeram de rogadas em observar a perdição que era aquele garoto. Seu corpo era escultural e coberto por tatuagens. Quase todas elas se relacionavam a filmes de terror. Além das que já viram, havia uma figura do Jason tatuado no antebraço direito, e acima, uma caveira pegando fogo, que de longe parecia ser o motoqueiro fantasma. No braço esquerdo, uma foto de Regan McNeil, a garotinha do filme “O exorcista”, já possuída. No antebraço havia o Pinhead, um personagem do filme Hellraiser esculpido. As duas se interessaram em chamar a atenção dele na mesma hora. Thetis era livre e desimpedida, e Aninha notou que Shura estava ocupado demais com seu amigo babaca para dar-lhe atenção. Sendo assim, ela também não teria tempo para ele.
Ana se distraiu da conversa do pessoal e olhou para o lado. Os outros viram sua expressão fechar na hora.
_EU MATO AQUELA VACA!
Continua
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