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História A Sacerdotisa e o Espadachim - A mestra


Escrita por: Baruhpardes

Capítulo 4 - A mestra


Fanfic / Fanfiction A Sacerdotisa e o Espadachim - A mestra

Prezados, à medida que a história evolui, vamos encontrando as maiores complicações. Como manter o ritmo da narrativa? Manter a tensão? Se fizemos um trabalho razoável, como não sermos excessivamente chatos nos próximos capítulos? Não conheço fórmulas mágicas, apenas podemos seguir tentando. Peço paciência e me acompanhem. Vamos aprender juntos. Espero que gostem, e continuem votando. Todos os comentários, mesmo os mais simples, são preciosos. Abraços a todos

[Chegamos ao vilarejo na manhã seguinte]

Chegamos ao vilarejo na manhã seguinte. Não havia nada de especial. Era um amontoado de casebres esquecidos no sopé de uma montanha. Os aldeões andavam vagarosamente. Não via crianças em lugar algum. Ainda que fosse um lugar tranquilo, parecia terrivelmente morto. Não imaginava que encontraria algo tão próximo de um cemitério. Eu deveria estar acostumada, exatamente por não passar de aglomerado de poeira e ossos. O ar estava terrivelmente pesado. Eu podia sentir que uma energia maligna estava prestes a desabar sobre aquelas pessoas. Tentei vasculhar essa perturbação, para saber se havia sinal de meu inimigo. Mas não encontrei nada. Um pressentimento aterrador, e indefinido. Poderia ser apenas homens sedentos por sangue e poder planejando qualquer maldade. De qualquer maneira, o mal era iminente.

Quanto Minamoto, não podia esperar outro comportamento de uma homem vulgar. Ele se aproximou de alguma mulheres que carregavam baldes de roupa. Mulheres vulgares. Ele conversava com elas e as fazia rir. Elas riam de volta, porque ele era um homem bonito. Se ele continuasse assim, criaria problema com outros homens. E não importava o quão bom espadachim fosse, ele cairia se fosse pego de surpresa.

Eu o deixei com seu passatempo, e já começaria e observar as redondezas. Eu sentia que encontraria algo ali. O meu coração palpitava, e meu corpo já se desfazia. No começo eu pensava que minha rival não tinha sido capaz de curar todo o veneno que se espalhava pelo meu corpo. Imaginei que ela fosse fraca. Depois pensei que ela o tivesse feito de propósito, ainda que de forma inconsciente. A verdade, no entanto, mesmo tendo que admitir contra a minha própria vontade, era de que meu corpo estava se desfazendo porque meu coração fora contaminado por um mal maior que a peçonha de nosso maior inimigo. Meu coração estava infestado e doente pelo ódio. E o pior de todos. O ódio de amar.

Andei por vários lugares procurando uma forma de me curar, de pelo menos prolongar a minha existência enquanto minha missão ainda não tinha terminado. Andei por pântanos e vales. Procurei dentro de cavernas e abismos. E meu destino me guiava até aquele lugar abandonado, prestes a sofrer qualquer desgraça. Não poderia ajudar qualquer uma daquelas almas. Talvez até mesmo meu companheiro obsceno ficasse pelo caminho.

Eu já seguiria minha trilha, quando Minamoto me chamou.

— Kagome? — como eu senti ódio. Imagino se meu amado a chamava com tanta alegria. Nunca ouvira o meu nome dessa forma. E tinha que me contentar em ouvir o de uma mulher que eu odiava.

— O que gostaria, senhor Monge?

— Conheça minhas amigas. Não liguem pra ela? Minha irmã é sacerdotisa. Ela não tem muito senso de humor.

— Nós percebemos. — Disse uma.

— Ela é muito séria. — Disse a outra. As duas riam, colocando uma das mãos sobre a boca.

— Perdoem minha irmãzinha. Mas ela é uma curandeira de mão cheia. Levem ela para os jovens que estão doentes.

— Obrigado Senhor Monge. O Senhor é muito gentil. Vamos levar uma refeição para o senhor.

— Lembrem de minha irmã, também, embora ela coma como um passarinho.

— Sim, senhor monge. Lembraremos sim. Onde encontramos o senhor?

— Na casa do Velha Tomoe.

— Nossa, senhor monge. O senhor vai pra casa daquela velha bruxa.

— Ora, ora! Como vocês são maldosas. As Senhoritas terão que ser castigadas, severamente.

— Não senhor, monge. Somos inocentes.

— Nossa! Eu acredito. Em cada palavra.

— Senhor monge! Eu disse.

— Me chame de Onii-chan! — Ele respondeu. Era definitivamente um pervertido.

Não tinha certeza da razão de suportar aquela situação. Os comentários maldosos. Os risinhos. Os olhares maliciosos trocados entre duas moças vulgares. Tudo aquilo deveria ser extremamente desagradável. Mas de certa forma, também me era indiferente. Enquanto viva, minha vida privada fora muito restrita. Esta era uma face do cotidiano ao qual nunca fui habituada. Todos os atos da minha existência eram solenes. Minha vida era um ritual, desde o amanhecer, até o cair da noite. Talvez por esse motivo esse meu apreço estranho pelo meu estado atual, apesar de seu gosto amargo.

A morte não alterou minha visão dessas coisas. O cotidiano passou a ter ainda menos importância. Havia, no entanto, certa graça em observar os humanos perdendo tempo com assuntos tão inúteis. Gestos sem sentido, de vidas sem importância. Mesmo assim, não era capaz de atentar contra qualquer daqueles aldeões. Quando morressem, suas almas viriam até mim.

Fiz uma reverência forçada e lancei um olhar fulminante contra meu monge de araque.

— Não seria adequado, senhor monge! — No fim, éramos dois mentirosos. Nada disso tinha mais qualquer importância pra mim. Em outros tempos, eu poderia corar diante de tais comportamentos. Até onde a morte e ódio poderiam me levar? — Mas verei as crianças com prazer. — Essa parte, pelo menos, era verdade. Dificilmente a alma de crianças vinham até mim. Outra criatura qualquer as recolhia antes de eu passar. Elas nunca ficavam perdidas.

Me afastei do grupo. O som das risadas foram se distanciando aos poucos. Uma senhora idosa veio me levar até onde os doentes estavam. Ela não dizia muita coisa. Parecia ouvir com dificuldade. Eu podia jurar que estava completamente senil. As feições da mulher davam a entender que ela tinha a cabeça completamente oca.

Fui levada até um casebre a certa distância das demais casas. O casebre afastado estava com as janelas e as portas abertas. Imaginei que fosse para ventilar o local. Imaginava encontrar todas as crianças que não vi andando pelas ruas. Fiquei surpresa quando entrei, me deparei com uma única criança deitada sobre uma esteira de palha. Eu peguei nela. Não havia febre, nem sinais de infecção. Parecia simplesmente dormir, um sono profundo.

A senhora ficou em pé atrás de mim. Não me virei para vê-la, mas sabia que estava chorando.

— Ela é nossa última criança. — Eu me virei para a senhora. Estava aos prantos.

— Ela é sua neta?

— Não. Meus netos morreram há muito tempo. Não temos qualquer pessoa com menos de dez anos neste lugar funesto. Quando eu morrer, tenho certeza que irei pra o inferno. — E seus prantos passaram a ser cada vez mais ruidosos, até virarem um choro descontrolado e histérico.

Se aquela mulher morresse naquele momento, sua alma vagaria perdida pelos campos. Seria uma alma feia que chegaria a mim.

Sei que são raras as almas de crianças perdidas. Mas não encontrar qualquer uma, mesmo diante de um vilarejo com tantas mortes, era algo incomum.

— Do que essas crianças estão morrendo?

— Ninguém sabe. É uma doença misteriosa. Elas começam a dormir muito. Até que um dia elas deixam de acordar. E algum tempo depois, percebemos que simplesmente não respiram mais. — Realmente a respiração dela parecia mais e mais fraca.

Algo mais, no entanto, chamou minha atenção. Eu conhecia aquele cheiro. Me aproximei de sua boca entreaberta e então percebi claramente. Sua alma estava sendo sugada. Olhei assustada para os lados, como se fosse capaz de ver o responsável por aquilo. Não havia ninguém ali com a criança, além de mim e da senhora em prantos, com os olhos miúdos imperceptíveis sob as dobras de pele.

— as portas e as janelas? Porque estão escancaradas?

— Nós fechamos. Mas não importa o que se faça. O vento sempre as escancara. Ficamos com medo de machucar a criança, então deixamos tudo aberto. — Não havia dúvida de que havia a influência de alguma entidade maligna. E cabia a mim lidar com ela. Como podia o mal lidar com o mal? Qual o sentido de salvar almas se eu as devorava? Não fazia sentido. Algumas das crianças que eu salvei cinquenta anos atrás já deviam estar mortas. Aquela era uma realidade muito distante, de certo modo esquecida. E mesmo assim, eu não podia permitir que aquela criança morresse. Talvez no passado eu não fosse capaz de perceber a origem da doença daquele inocente. A minha ingenuidade vendava meus olhos. Mas neste momento, o próprio mal que represento me habilita a ser sua salvadora. E uma sacerdotisa, ainda que amaldiçoada, não poderia ter tão pouco amor pela vida.

Saí do casebre e fui até o centro do vilarejo. A senhora idosa ficou para trás, chorando sobre a menina como se velasse pelo corpo. Eu avisei que era uma doença estranha, e que achava que poderia fazer pouco por ela. Indiquei algumas ervas, para banho e incensos. Esse material deveria retardar o processo que se instalou, e me daria um pouco mais de tempo. Com todos os defeitos, eu teria que contar com ajuda de meu monge de araque. Ele seria mais útil se a sua força espiritual fosse maior. Mas alguém estava roubando a alma das crianças, e em breve não sobraria nenhuma criança ali. E então, o Yokai disfarçado deveria seguir para outra cidade, e continuaria sua matança.

De qualquer maneira, aquela cidade já estava morta. Ainda que o Bakemono fosse embora, depois de ceifar a vida de todos as crianças da cidade, o ânimo dos moradores estaria completamente destruído. Nunca mais aquele povoado se ergueria. O mais provável seria que virasse uma cidade fantasma habitada por monstros. Naquele casebre residia a última esperança daquelas pessoas.

O mais estranho, porém, era que eu não conseguia distinguir onde este Youkai estaria. Havia uma névoa qualquer sobre a cidade. Imaginei que o monstro deveria estar ali a tanto tempo, que sua energia se dissipou e infestou o vilarejo inteiro.

No centro do povoado, um senhor idoso veio falar comigo.

— Boa tarde, senhorita. A senhorita é a sacerdotisa que todos estão falando. Viu nossa criança? Há chances pra ela?

— Fiz o melhor que pude. Mas creio que os horizontes são sinistros.

— É lamentável. Gostaria que a senhorita me acompanhasse. Seria possível?

— Sem dúvida.

— Não há muitas esperanças pra mim nesta cidade. Eu nasci aqui. E não farei muito além de esperar a morte. — eu ouvia atentamente. Esperava que encontrasse alguma pista do que estava acontecendo. — Muitos dos moradores já foram embora. Acredito que eu e a cidade morreremos juntos. Acredito que seja o homem mais velho daqui, com exceção da Senhora Tomoe.

foi então que me lembrei.

— Senhor, vim acompanhada de um monge. Ele me disse que ia a casa desta senhora. O senhor poderia me indicar o caminho?

— Claro. Mas Minamoto não é bem um monge.

— Isso eu já percebi.

— Perdoe alguma de suas falhas. Ele tem um fraco por mulheres bonitas, iguais assim a senhorita. Mas ele tem um bom coração.

— Tenho certeza que sim. Então o senhor o conhece?

— Faz tempo que ele não vem aqui, mas o conheço sim, a certo tempo. Desculpe por importuná-la com as lamúrias de um simples idoso. Eu mostro o caminho. É por aqui. Continuando — dizia enquanto andávamos — Precisamos muito de ajuda. Se esta criança morrer, tenho impressão que minha vida não terá feito sentido. Certamente, morrerei em seguida. Gostaria de pedir que a senhorita permaneça na cidade, caso a criança não se salve, pelo menos para celebrar nossas cerimônias fúnebres. — Certamente ele não sabia com quem estava falando.

— Estou de passagem, prezado ancião. Mas farei o possível.

— Fico muito agradecido. Chegamos. Não estávamos longe. Alí em frente, aquela casa. Pode entrar. A senhorita encontrará a velha Tomoe e o jovem Minamoto. Eles devem estar tendo uma conversa amena. Entre pela porta principal. Não dê a volta pelas portas dos fundos.

A casa possuía colunas grossas, que estavam cheias de marcas de espadas. No chão várias tábuas estavam soltas. Ouvia o som de pessoas falando alto. Quando entrei, Minamoto estava prostrado diante de uma senhora vestida com um quimono espalhafatoso mas puído.

— Seu inútil! A senhora gritava. Como se atreve a vir aqui diante de mim depois de tanto tempo. Era melhor que tivesse morrido.

— Não tornarei a cometer esse erro mestra.

— Não me chame de mestra. Há muito tempo que eu o reneguei como discípulo. Morrerei sem passar a minha arte da espada. Morrerei cheira de rancor e me transformarei num demônio depois de minha morte.

— Acredito que a senhora não precise esperar tanto. Acho que já cumpriu seu objetivo.

A mulher se levantou e lançou Minamoto para longe com um soco. Mantendo a outra mão sobre a bainha de uma espada que trazia na cintura. Ele caiu a uma certa distância com o rosto muito vermelho, a cara retorcida de dor.

— Não brinque comigo, moleque, ou eu revivo os velhos códigos e lavo sua desonra com o seu próprio sangue. Levante-se e vá embora. Nunca mais retorne aqui. Não o quero sequer no meu funeral. Se tiver um pingo de piedade da minha alma, e não quiser que vire um bakemono na outra vida, não apareça. Ou serei possuída por rancor e ressentimentos ainda maior. Se não por respeito a mim, pelo menos pelo hábito de monge que veste, que por sinal, eu não acredito.

— Farei sua vontade.

— Pelo menos essa!

— E Nobunaga?

— No lugar de sempre! Não me faça perguntar idiotas.

Depois que ele saiu, a senhora, que tinha permanecido de pé, sentou. Ela respirou profundamente com a cabeça baixa. assim que terminou, ergueu a cabeça com um sorriso.

— Ora, ora! Que jovem linda! Como posso ajuda-la? É difícil recebermos sacerdotisas andarilhas. A senhorita está em alguma missão?

A senhora me deixava extremamente inquieta. Chegava a ficar sem palavras. Finalmente respondi, após alguns instantes, com reverência. Ela já tinha demonstrado ser uma pessoa orgulhosa.

— Vou visitar minha irmã mais velha. Estou numa jornada. Ela está doente.

— Mas me diga uma coisa. Fiquei curiosa. Quantos anos tem sua irmã? Duzentos anos?

— O quê?

— A senhorita, ou melhor, sua criatura agourenta! Acha mesmo que sou tão idiota quanto aquele Minamoto. Não brinque comigo. Eu sei que foi ele quem a trouxe pra cá. Afaste-se de Minamoto. Não sei quem é, nem de onde veio. Se algum dia já foi uma sacerdotisa, isso foi a muito tempo. Esta mulher está morta. Você não passa de uma alma penada.

A velha tinha plena noção de quem eu era. Permaneci impassível enquanto ela me fitava com um olhar desafiador. Não daria importância as ameaças dela. No entanto, ela pôs a mão sobre a bainha da espada e a desembainhou, não completamente. O suficiente apenas para reparar sua lâmina brilhante. Foi então que eu senti minhas forças se esvaírem. Era imperceptível, mas dentro de mim, a ferida ficara perigosamente profunda. Estremeci e um de meus joelhos tocou o chão. Minha cabeça somente parou de girar depois que a senhora tornou a embainhar totalmente a espada.

— Vá embora. Deixe Minamoto, e siga seu caminho. Não me interessa para onde vai. Somente vá embora.

Eu levantei ainda cambaleante, e saí da frente daquela senhora. Saí pela porta frente, mas continuei tateando as paredes, até que passei por um corredor que dava acesso a área de trás da construção. Cheguei até uma área suja, e cheia de entulho. Eu ainda recuperava as forças, e algo me agarrou pelo pescoço e me erguei do chão.

Me deparei com um homem muito grande e muito gordo. O quimono não conseguia esconder a barriga protuberante, e seu olhar estava cheio de maldade. Eu tentei tirar seus braços imensos de meu pescoço, mas estava completamente sem forças. Nesse instante, ouvi alguém chamar:

— Nobunaga! — Ele me soltou, caí sentada no chão, e ele se virou para quem tinha falado. Reparei que ele devia estar sorrindo.

— Mino?! Uma voz lenta e preguiçosa. Ele se moveu agora com dificuldade, os passos pesados. Ele se sentou diante de Minamoto. Pôs primeiro a mão no rosto, e depois o puxou para lhe dar um abraço sufocante.

— Calma, amigão. Ou você pode quebrar algum osso.

— Mino! Quanto tempo! Saudade!

— Eu sei, cara. Eu vou precisar ir agora. Mas eu juro que vou vontar.

— Não vai! Fica!

— Me desculpe, Nobu. Cuide da casa. Conto com você.

— Deixa comigo.

O homem grande ficou perdido em seus pensamentos, sentado onde Minamoto o deixou. Ele veio até mim e me ajudou a levantar do chão. Saímos devagar para não chamar a atenção do homem sentado. Do lado de fora, Minamoto me perguntou.

— Como você está? Ele te machucou muito?

— Vou sobreviver.

— A senhorita é forte. Outra pessoa ele teria quebrado o pescoço instantaneamente. A senhorita sempre guarda uma surpresa.

— Sua mestra também é uma pessoa estranha.

— Não sou mais discípulo dela.

— Então não vai se incomodar se eu disser que ela é verdadeira megera.

— Calma aí, Kagome. Ela não é mais minha mestra. Mas ela continua sendo minha mãe.

— Como assim?

— Isso mesmo. Tomoe Gozem,minha ex-mestra, é minha mãe. E Nobunaga é meu irmão mais novo. Somos mais estranhos do que parece.

[Somos mais estranhos do que parece]



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