– Maxon? – perguntei, não acreditando no que eu via.
Ele riu e levantou, ajeitando o paletó. Andou ate mim lentamente. Eu não conseguia me mover, seu olhar me congelou. Aquele olhar que eu conhecia tão bem. Não sei o que estou sentindo no momento. É felicidade por ele estar de volta ou raiva por ele ter se escondido?
Maxon parou a minha frente, com os lábios entreabertos e não sorria mais. Estava com cara de mais velho com aquela roupa e a barba por fazer. Ele não disse nada, apenas se inclinou para me beijar. Antes de eu perceber, minha mão estava acertando o rosto dele com um tapa estalado. O pegou totalmente de surpresa, fazendo ele virar o rosto. Ele olhou para mim com o cenho franzido, boquiaberto, passando a mão na bochecha vermelha.
– Que merda.. – ele disse.
É o Maxon. Meu Maxon! Ele voltou. Segurei seu rosto e o puxei para mim, o beijando intensamente e interrompendo sua frase. Ele demorou para retribuir o beijo, mas logo estava me envolvendo pela cintura. Não! Eu estou com raiva. Ele foi embora e não me falou que voltou. Terminei o beijo, dando outro tapa nele.
– Qual o seu problema? – ele gritou, passando a mão no rosto.
– Você voltou e não me falou! – eu gritei de volta.
– Eu quis te fazer uma surpresa!
– Não te ocorreu que eu poderia estar morrendo de saudade?
Ele ergueu as sobrancelhas. Alisei a roupa, passei a mão no lábio, tirando possíveis marcas de batom e sai andando.
– America!
Ignorei seu chamado e apertei o botão do elevador. Ele foi atrás de mim, e entrou no meu caminho quando a porta se abriu.
– Me de licença? – pedi, educadamente.
– Não. Eu quero conversar.
– Eu não quero. Agora me deixe ir.
– Nós não tratamos o preço da escultura – ele disse, abrindo um sorriso sedutor.
– Fique com ela. Como presente de boas vindas.
Maxon deixou a mão cair ao lado do corpo. Pedi licença outra vez, mas dessa vez ele cedeu e chegou para o lado. Entrei no elevador, o encarando ate a porta se fechar. Relaxei o corpo, encostando-me na parede. Fui para casa andando. Não era tão longe, mas caminhei por vinte minutos. Quando entrei em casa, estava levemente descabelada, segurando os saltos e cansada. Todos estavam em casa, vendo televisão. Quando olharam para trás, se assustaram.
– Meri, esta tudo bem? – Kriss perguntou.
– Como foi lá? O presidente gostou? – Marlee perguntou.
Todos agora me cercavam enquanto eu andava ate o quarto.
– Porque você esta assim? – Aspen perguntou.
– Meri, estamos ficando preocupados – Carter disse.
Parei com a mão na maçaneta, meus amigos amontoados no corredor. Respirei fundo e olhei para eles.
– Era o Maxon. O presidente da empresa é o Maxon. Ele voltou e não me falou. Agora eu vou dormir.
– Meri.. – Marlee disse, mas fechei a porta.
Soltei os salto e caminhei ate minha cama, me jogando nela. Acho que eu dormi de cara, porque quando abri os olhos, já estava escuro. Olhei a hora, três da manha? Nossa! Sai do quarto, indo direto para o banheiro, levando meu roupão. Quando me olhei no espelho, me assustei. Minha maquiagem estava toda borrada e minha cara estava péssima.
Entrei no banho, tirando os resquícios do meu dia. Maxon voltou. Porque estou com tanta raiva? Ele voltou e me procurou. Demorou, mas procurou. Será que exagerei? Sai do banho e fui para a varanda. Morávamos no oitavo andar, o que me dava uma boa vista da cidade. Sentei em uma das espreguiçadeiras e fiquei olhando para o céu.
– Meri? – Kriss disse, chegando à varanda com Marlee.
– Oi – eu disse.
Elas se aproximaram e me entregaram um copo de leite. Aceitei e elas sentaram na cadeira ao lado, viradas para mim.
– Você não esta feliz por vê-lo? – Marlee perguntou.
– Eu fiquei. Mas a raiva falou mais alto na hora. Eu não acreditei. A empresa esta na cidade há uns cinco meses, sei lá. E ele não me procurou. Disse que queria fazer uma surpresa.
– Bom, ele conseguiu – Kriss disse.
– Ele tentou me beijar, mas eu dei um tapa nele.
– Você o que? – Kriss perguntou, não acreditando.
– Depois eu fiquei feliz de vê-lo, e o beijei.
– Bom.. – Marlee começou.
– Mas ai eu bati nele de novo.
– Porque Meri? – Marlee perguntou.
– Não sei. Eu fiquei com raiva. Dai gritamos um com o outro e eu fui embora.
– Acho que ele ficou surpreso com a surpresa dele – Kriss disse, com humor na voz.
Nos três rimos, sem humor.
– Eu não sei o que fazer. Ele deve estar confuso. E eu não sei o numero dele. Não o daqui.
– Volte lá segunda – Kriss disse calmamente – esfrie a cabeça. Vocês precisam conversar.
– Eu sei. Farei isso.
– Não esta com sono, não é? – Marlee perguntou.
– Nem um pouco. Dormi quase doze horas.
– Nos vimos. Mas eu estou morta. Tente dormir Meri – ela disse.
– Amanha vamos fazer algo. Ir ao parque, não sei – Kriss disse, levantando.
– Não sei se estou no clima meninas.
– Mas vai estar – Marlee disse, entrando.
Achei graça, e voltei a olhar as estrelas. Fui ate meu quarto e peguei meu violão. Fiquei tocando por horas, distraída e vi o sol nascer. Acabei cochilando por algumas horas, sendo acordada por Marlee.
– Ainda aqui? – ela disse, quando abri os olhos – Aspen e Carter estão vindo. Vamos ao parque.
– Tenho opção? – perguntei.
– Não. Levante e se arrume.
Dei de ombros e fui, colocando um short jeans escuro e uma regata preta por baixo da minha blusa de flanela xadrez vermelha. Marlee vestia um short jeans claro e uma blusa verde de babados. Kriss também estava de short jeans claro, mas estava de regata branca e uma blusinha de botão azul.
Aspen e Carter entraram, beijaram suas namoradas e pegaram a cesta que Kriss terminava de arrumar. Fomos andando ate o parque e Marlee estendeu uma grande toalha cinza no chão. Todos nos acomodamos sobre ela e Aspen colocou a cesta de comidas no centro.
Carter tinha levado uma bola e logo chamou Aspen para jogar. Marlee me arrastou para o jogo e Kriss se recusou. Quando deu a hora do almoço, sentamos na toalha e comemos. O dia passou surpreendentemente rápido. Logo já estava escurecendo e nos voltamos para casa.
Para variar um pouco, fomos para a casa de Carter e Aspen. Lá ficamos jogando vídeo game. Olhei em volta depois de um tempo, e não vi Marlee e Carter.
– Aqueles safados – eu disse, voltando a atenção ao jogo.
– Quem? – Aspen perguntou, sem tirar os olhos da televisão.
– Sentindo falta de alguém? – perguntei.
Ele olhou em volta com relutância e riu. O jogo acabou, comigo perdendo obvio. Me sentia no lugar errado. Sabendo que Marlee estava com Carter no meu apartamento e Aspen e Kriss trocavam olhares no que eu estava, resolvi sair para dar uma volta.
Fui andando ate a loja que eu costumo comprar meus materiais de trabalho, já que é uma das poucas que ficam abertas ate tarde. Perdi a noção de hora, como sempre.
– America? – um dos funcionários me chamou.
– Oi.
– Vamos fechar em dez minutos.
– Já?
– São nove e quarenta.
– Eu perco toda a noção da hora aqui dentro. Bom, vou pagar então.
– Eu te ajudo.
Fui para casa, direto para o ateliê. Nada melhor do que trabalhar para passar o tempo. Eu comprei telas e tintas. Comecei a pintar, sem saber o que estava fazendo. Talvez um abstrato. Quando me afastei para olhar o que estava fazendo, pode parecer loucura, mas era um abstrato de America e Maxon.
– Esse homem esta mais na minha cabeça do que eu imaginava.
Me joguei no sofá e fiquei olhando o quadro ate cair no sono. Acordei com alguém tocando meu ombro.
– Kriss! Que susto! – exclamei, passando a mão no rosto.
– Acho melhor que você veja isso – ela disse.
A segui ate a sala, onde todos olhavam para a televisão. Passava uma matéria a respeito da STC. Ontem à tarde, foi concedida uma entrevista coletiva. Não era mais um mistério. Maxon estava ali. Eu não ouvi nem metade do que foi dito, ficava apenas olhando, com os braços cruzados.
– Esta no jornal também – Carter disse, estendendo um jornal para mim.
Peguei o jornal e li a reportagem a respeito da empresa. Schreave Technology and Communication. Claro! Schreave! Como não percebi? Nem sei o que pensar a respeito. Devolvi o jornal e fui para a cozinha preparar meu café. Sentei a mesa e comi meu cereal, ignorando o som da televisão, que agora falava a respeito do surpreendente presidente de uma grande empresa, tendo apenas vinte e cinco anos.
– Tudo bem Meri? – Marlee perguntou, sentando a minha frente.
– Porque não estaria?
– Você ainda vai lá amanha, não é? – Kriss perguntou, sentando ao meu lado.
– Não sei.
– Você precisa ir. Vocês precisam conversar.
– A Kriss esta certa.
– Ele deve estar ocupado – eu disse, levantando e indo lavar a louça.
– Tente. Passe lá. Se estiver ocupado, deixe recado – Kriss disse.
– Meri. Você saiu correndo. Tudo bem que o que ele fez não foi das melhores coisas. Mas ele tinha boas intenções.
– Tudo bem. Eu vou. Depois do almoço. De manha eu tenho uma entrevista na livraria. Eles estão contratando.
– Livraria? Você devia trabalhar com arte Meri - Marlee disse, secando a louça enquanto Kriss guardava.
– Não vou parar, só preciso de algo. Não posso ficar em casa parada, sendo sustentada por vocês duas.
– Só se você prometer que vai continuar a pintar, eu amo seus quadros – Kriss disse.
– Prometo.
– Então vamos fazer alguma coisa.
No dia seguinte, acordei cedo. Coloquei um vestido bonito e comportado azul marinho, um casaquinho por cima e meu scarpan preto. Primeiro a livraria. Cheguei com dez minutos de antecedência e logo fui fazer minha entrevista.
Senhorita Singer. Por aqui por favor – Disse uma funcionaria de lá.
Fui conduzida ate uma sala, onde tinha uma mulher muito elegante sentada à frente de um computador.
– Bom dia, meu nome é Luana – a mulher disse, estendendo a mão para mim – fique a vontade.
– Bom dia – respondi, apertando sua mão e sentado a sua frente.
– Eu vi aqui que você é formada em belas artes. Porque quer trabalhar em uma livraria?
– Pela mobilidade que eu teria. Ainda daria para seguir minha carreira de artista e trabalhar com livros, que eu tanto amo.
– Sim. Aqui você trabalharia quatro vezes na semana, de seis as seis.
– Eu soube. Mas quais os dias da semana? É escala?
– Então, nós fazemos por agenda. Quem trabalha final de semana, ganha mais. Mas você poderia escolher trabalhar final de semana sim e outro não. Ou não trabalhar final de semana. Você ganharia menos que os que trabalham final de semana.
– Entendo.
– Estamos mesmo precisando de funcionários. E mais precisamente, alguns para trabalhar nos dias de semana. Para trabalhar como consultores.
– É o que mais me interessa.
– Precisa saber bastante sobre os livros. Ter lido bastante. Por isso, nós damos quarenta por cento de desconto para os funcionários. Em qualquer compra.
– Excelente.
– Muito bem. Eu ligo para você assim que tiver uma resposta.
– Ótimo. Obrigada.
Levantei e sai. Nossa que entrevista curta! Será que devo me preocupar? Agora é esperar e ir para meu outro afazer do dia. Maxon. Quando cheguei à porta da empresa, fui cercada por fotógrafos. Porque estão tirando fotos minhas? Eu hein. Entrei correndo.
A morena bonita estava lá, olhando para o computador. Quando ela me viu, franziu o cenho.
– Senhorita America? Você tem hora marcada? – ela perguntou.
– Hmm.. Não.
– Não posso deixa-la subir.
– Só avise ao Maxon que estou aqui?
– Um minuto.
Ela pegou o telefone e ligou para Érica, a atendente lá de cima. Alguns segundos de conversa e ela olhou para mim solidariamente e me entregou o telefone. Peguei e coloquei no ouvido.
– Hmm. Alô?
– Oi senhorita America, é a Érica. Olha, eu lamento. Mas o senhor Schreave esta em reunião. E não sei informar que horas acabar.
– Não, tudo bem. Apenas avise que eu passei aqui?
– Claro. Assim que ele sair eu falo.
– Obrigada.
Devolvi o telefone e fui embora. Cheguei em casa, coloquei uma blusa e um short e fui terminar aquele quadro. Agora que estou sozinha em casa, posso ligar minha musica alta. Só parei quando senti fome. Desliguei a musica e fui para a cozinha. Olhei meu celular, e tinha três chamadas não atendidas de um numero estranho. Droga! Será que era da livraria?
A campainha tocou, me fazendo dar um pulo. Guardei o celular no bolso e abri a porta.
– Lá embaixo estava aberto. Posso entrar?
– Maxon? O que faz aqui a essa hora? – perguntei, enquanto ele entrava.
– Apartamento bonito. Kriss e Marlee estão aqui?
– Não agora. Estão trabalhando. O que você faz aqui?
– Soube que você passou lá para me ver. Mas eu estava em reunião – Maxon abriu a geladeira - Te liguei, mas você não atendeu. Então resolvi vir. Não tem nada pronto? Estou faminto!
– Estava fazendo meu almoço agora.
– Ótimo, faça dois.
– Aonde você vai? – perguntei, quando ele começou a se afastar.
– Explorar. Onde é seu quarto? Não me diga! Vou descobrir.
– Não Maxon! Volte.
– Tudo bem. Depois do almoço eu exploro. Hmm, varanda.
Suspirei e comecei a fazer o almoço, enquanto Maxon mexia em algo na varanda.
– Devíamos fazer um churrasco! – ele gritou – Pode ser sexta?
– Não sei.
– Quem mora aqui do lado? Tem uma visão privilegiada para sua varanda! Não gostei disso!
– Carter e Aspen.
Ele voltou sorrindo.
– Vocês moram todos juntos? Que incrível!
– Sim, incrível – eu disse, me esticando para pegar o pote de tempero.
– Aqui – ele disse, me envolvendo pela cintura e pegando o pote para mim.
Maxon colocou o pote na minha frente, com o rosto ao lado do meu. Sua respiração em meu pescoço me causando arrepios familiares. Ele deslizou a mão pela minha barriga enquanto se afastava lentamente. Respirei fundo e voltei a cozinhar. Meia hora depois, estava pronto. Nos servimos e sentamos a mesa para comer. Quando acabamos, levantei para lavar a louça. Maxon continuou sentado, me olhando.
– Precisamos conversar – eu disse, virando para olha-lo.
– Diga – ele respondeu.
– Sobre nós. Nossa situação.
– Para mim nada mudou. É como se estivéssemos juntos novamente.
– Novamente? Então não estávamos juntos?
– Não sei. A gente sempre se via nas férias. Mas você não ficou com outros durante esse tempo?
– Não.
– Hmm..
– Você sim?
– Uma ou duas, sob efeito do álcool durante festas. Mas nada alem de beijos.
Cruzei os braços e olhei para baixo. Que situação desagradável.
– Eu achei que você também faria isso. Afinal, quem não iria querer ficar com uma garota linda como você?
– Eu não deixava ninguém se aproximar.
– Desculpe. Acho que devia ter conversado a respeito contigo. Para não passarmos por isso.
– É.
– Quer que eu vá embora?
– Você quer ir?
– Não.
Dei de ombros e virei para guardar a louça. Ouvi a cadeira arrastando e sabia que ele estava vindo ate mim.
– Meri?
– Estou pensando.
– Claro.
– É estranho Maxon. Eu estava esperando por você. Você foi embora.
– Foi estranho. Quando eu beijava outra, eu pensava em você. E me decepcionava quando abria os olhos. Por isso não passava disso. Eu me sentia mal e com saudade – ele disse, enrolando uma mecha do meu cabelo em seu dedo.
– Não sei o que dizer.
– Diz que ainda me ama.
– Eu nunca deixei de te amar Maxon. E a prova disso, são esses sete anos de espera. A pergunta real aqui é se você ainda me ama.
Maxon me puxou e me abraçou forte, respirando profundamente no meu cabelo. Eu não retribuí o abraço.
– Eu te amo mais do que achei que fosse possível. E isso só aumenta meu arrependimento pelo que fiz. Se você deixar, quero passar o resto de nossas vidas me redimindo por esses sete anos.
– Ah Maxon! – eu disse, com os olhos marejados.
Inclinei-me e o beijei. Não consigo ficar com raiva dele. Ele sempre sabe me quebrar.
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