Os olhos de Bryan brilharam, um sorriso tomou conta de seu rosto e eu podia até ver sua mente pensando em como seria bom ter aqueles documentos em mãos.
- E eu suponho que teria um preço para você nos levar até esses... documentos?
- Isso, meu querido, é obvio! – eu sorri também, feliz que tudo estava dando certo.
- E qual seria o seu preço?
Comecei a pensar... Ele poderia até me libertar, mas jamais Clarkson e o resto da família real...
- Eu não sei... ainda! Eu... preciso pensar – sorri , eu não estava preparada para negociar. Mas ainda assim estava com medo de que ele duvidasse de mim caso eu não dissesse o que eu queria logo.
- Eu vou deixar que você pense por hoje, enquanto falo com... algumas pessoas. E amanhã você me fala seu preço certo?
- E eu suponho que você vai nos manter como prisioneiros nos calabouços enquanto isso, não é? – perguntei já sabendo a resposta.
-Tendo em vista que eu ainda não confio em você. Com certeza que sim.
***
O calabouço não era tão ruim assim... era péssimo! As paredes de pedra eram frias, as grades enferrujadas lançavam sombras assustadoras nas paredes, qualquer barulhinho mínimo era ampliado dezenas de vezes e eu podia ver insetos e outros animais asquerosos passeando por todo o lugar.
Eu e Clarkson estávamos em celas separadas, mas uma era ao lado da outra e tudo o que nos separava era uma grade.
- Lugar bonito, einh? – falei, sarcasticamente.
Ele olhou para o teto, como se pensando no castelo que estava acima de nossas cabeças.
- Foi construído antes das prisões existirem, quando não tinha outra opção para onde os... malfeitores irem.
Suspirei, minha ideia de plano não era passar a noite com os ratos.
- Qual é o plano? – Clarkson perguntou.
- O que? – eu disse, me aproximando mais da grade que nos separava.
- Aquilo que aconteceu lá em cima... Era parte de um plano, não era?
- Na verdade era todo o plano – fiz uma careta – acho que você vai ter que pensar na outra parte.
Ele colocou as mãos no rosto e quando voltou a olhar para mim seus olhos estavam lacrimosos e o medo era explicito em sua feição.
- Você estava louca? Quando Bryan descobrir que você o enganou vai matar você!
- Eu sei, mas... – parei, ouvi passos se aproximando, provavelmente o guarda que passava a cada quinze minutos, sussurrei: – vamos simular uma discussão.
Me afastei da grade e comecei a pensar.
- Eu não estou nem ai pra Illéa ou qualquer coisa assim... Só quero sobreviver, não pode me culpar por isso! – Falei em alto e bom som.
- Eu vou contar pro meu pai sobre a sua traição. – Clarkson apontou o dedo pra mim – Quando eu sair daqui você vai pagar caro por isso.
Agora eu já podia ver o guarda dos rebeldes no corredor.
- Vocês só vão sair daqui para serem executados! Mas esse não vai ser meu destino! Quem sabe eu não consigo um cargo alto na nova realeza? Posso até virar rainha! – soltei uma risadinha.
Clarkson voou para as grades e agarrou-as com força, ele parecia querer me matar. Tive que me segurar para não sorrir, Clarkson era um ótimo ator.
- Esse segredo não foi confiado a você para você sair espalhando por aí.
O guarda bateu as chaves na grade da minha cela para chamar nossa atenção.
- Sem briga!
Ele foi embora, quando estava quase desaparecendo provoquei Clarkson de novo, para parecer que tudo era verdade.
- Que peninha de você, parece que não vai dar tempo de você ter sua própria Seleção!
Fazia mais de uma hora que estávamos ali e nenhum dos dois tinha falado mais nada. Precisávamos bolar um plano logo ou então Bryan descobriria a verdade no dia seguinte e não teríamos mais nenhuma chance.
- Acho que sei como libertar você quando eu tiver que levar Bryan aos tais documentos, mas depois não faço a mínima ideia de como nós dois vamos conseguir encarar um exército de rebeldes! – falei enquanto me deitava no chão frio, já não estava mais ligando para as baratas que passeavam por ali.
- Não posso me arriscar a sair do palácio e não voltar mais. Se eu soubesse onde os guardas reais estão...
- Eu acho que eles estão no abrigo, junto com a sua família e as outras garotas... Se conseguirmos libertar todos...
- Então eu acho que sei o que fazer!
***
Acordei Clarkson assim que comecei a ouvir passos se aproximando. Me deitei no chão, perto da grade de Clarkson enquanto ele fingia estar dormindo. O Rebelde se aproximou rapidamente e abriu a minha cela.
- Rápido! Bryan quer falar com você.
Coloquei a mão na lateral da barriga e soltei um falso gemido de dor.
- Preciso de ajuda - eu disse tentando fazer as lágrimas saírem - O príncipe aqui me bateu.
O homem me olhou desconfiado, mas suspirou e se aproximou para me ajudar. Quando ele agachou ao meu lado Clarkson o atacou na cabeça com o prato em que haviam servido a comida. O Rebelde parecia atordoado, mas ainda acordado, Clarkson bateu novamente em sua cabeça, mais forte dessa vez e ele desmaiou instantaneamente. Peguei as chaves e sai da minha cela, depois abri a de Clarkson.
- Esta dando certo! - Ele disse enquanto começava a arrastar o homem para sua cela, a fim de escondê-lo.
Quando Clarkson voltou para seu lugar, tranquei sua cela, depois entrei na minha e a tranquei também.
- Aqui! - eu disse entregando as chaves a ele. - você tem que ser rápido, e não pode deixar ninguém te reconhecer.
- Sim! - ele disse balançando o molho de chaves - e você tente enrolar o máximo possível. Se você ficar encurralada e o plano não estiver dando certo, você...
- Eu vou dar um jeito! - falei, sem querer pensar na possibilidade de tudo dar errado - Nosso plano vai dar certo. Tem que dar certo.
- É nossa única chance, não é? - ele perguntou, e pude ver em seus olhos a preocupação.
É claro que ele estava preocupado, preocupado com os pais, com o irmão, com o reino e até mesmo comigo. Ele não queria ter uma chance apenas, ainda mais com um plano tão arriscado e vago.
- Sim, a única. - eu queria conforta-lo, dizer que não, que não era nossa única chance e que ele não precisava se preocupar, mas não podia tentar iludi-lo, não quando a verdade era tão obvia.
Voltamos a esperar. A esperar que alguém viesse me levar até Bryan e que nosso plano pudesse começar
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