História A Seleção Sem Fim - Gosto de você

- O que você quer? – Adrian perguntou assim que entrei em seu escritório.

                Fiquei calada, por um momento me faltaram palavras.

                - Nickolly?

                - Nick, me chame de Nick. – eu respondi, tentando ignorar o fato de que ele parecia disposto a se afastar de mim de todas as formas possíveis, usar meu nome ao invés do apelido era só uma das formas.  Assim como pedir que eu sentasse na cadeira de frente para sua mesa.

                - Tanto faz. – ele deu de ombros, como se não fizesse diferença, mas fazia tanto para ele quanto para mim.

                Tentei ignorar a formalidade que se abatera sobre o lugar.

                - Olha, sei que fiz muitas coisas erradas desde que entrei no palácio...

                - Hum... – Adrian me encorajava a continuar.

                - Gritei com você, fui ignorante, briguei com sua mãe e, admito, beijei seu irmão. Mas naquele dia, nos jardins, não aconteceu nada entre mim e ele, nada. – eu não podia falar sobre meus sentimentos sem ter certeza que Adrian havia entendido que eu não tinha nada com Clarkson.

                - Sabe que não acredito nisso, mas continue. – Seu tom era frio, mas eu sabia que aquilo era só uma fachada. Tinha que ser.

                Fechei os olhos e respirei fundo duas vezes.

                - Adrian é verdade, eu preciso que acredite em mim.

                - Por que quer tanto que eu acredite em você?

                Seu tom de indiferença me irritou, e de repente eu não me importava mais com o fato de ele estar apenas atuando, aquilo estava me ferindo de verdade. Me levantei e bati as mãos na mesa, com força, fazendo o máximo de barulho que consegui. Gritei ao mesmo tempo que as lágrimas saiam, como se estivessem sendo expulsas de meus olhos.

                - PORQUE EU GOSTO DE VOCÊ, ADRIAN!

                Seu maxilar se contraiu, ele havia ficado nervoso também. Contornou a mesa e ficou de frente para mim.

                - Não brinque com essas coisas!

                - Eu não estou brincando, eu realmente gosto de você. - o encarei da forma mais corajosa que consegui.

                - Não pareceu gostar de mim quando beijou meu irmão. – ele balançou a cabeça e se afastou.

                Joguei a cadeira para o lado e voltei a encara-lo.

                - Será que não pode deixar seu irmão de fora disso uma única vez?

                - Eu preciso deixar ele de fora disso? Você que o incluiu, Nick!

                Apertei minhas mãos, tentando controlar a raiva.

                - Ok. – levantei as mãos. – Você venceu, você está certo. Eu jamais devia ter me aproximado de Clarkson, mas isso aconteceu, não posso mudar o passado. Mas não quer dizer que tenhamos que continuar assim para sempre, não é?

                Ergui minha mão até seu rosto, fazendo com que ele olhasse para mim. Seus olhos estavam marejados e sua expressão era uma confusão de sentimentos.

                - Por que está fazendo isso, Nick?

                - Como? – Não entendi o que ele quis dizer.

                - Eu gosto de você, sabe disso. E cada dia você me recebe com um soco no estômago, você me faz ter vontade de chorar e esmurrar alguém a cada minuto, mas ainda assim eu gosto de você, não é algo que eu possa controlar. Agora eu tinha tomado minha decisão, não ia deixar meus sentimentos me atrapalharem mais, peguei todo o amor que sentia por você e o tranquei no fundo do meu coração. Tinha decidido que de uma forma ou de outra iria parar de ter sentimentos por você. Estava conformado com o fato de você não me amar. E então você aparece e diz que gosta de mim. Sabe como é difícil esquecer uma pessoa? Eu não estava nem um pouco perto disso, mas pelo menos estava convencido de que se meus sentimentos não eram correspondidos eu tinha que fazer algo para mudar isso, e agora? O que eu tenho agora? E então eu te pergunto de novo, por que está fazendo isso, Nick? Por que quer me confundir desse jeito? Por que quer me destruir?

                Me afastei, Adrian achava que tudo o que eu queria era destruí-lo quando na verdade eu me sentia cada vez mais culpada por tudo o que tinha dito a ele. Eu não sabia mais nada sobre o que estava acontecendo em minha vida, tudo tinha virado de cabeça para baixo, de repente eu estava morando num palácio e amava o cara que mais tinha odiado em minha vida e justamente agora ele tinha decidido que não podia mais me amar.

                Um nó se instalou em meu estômago e eu não podia mais respirar. Minha garganta parecia ter fechado e meu peito doía enquanto as lágrimas desciam. Isso era psicológico, eu sabia, mas parecia que ia me matar. Balancei as mãos tentando capturar um pouco de ar e afastei o cabelo do rosto. O que mais eu podia dizer a Adrian?

                - Eu não quero te destruir. E se estou dizendo que gosto de você quero que entenda que essa é a mais pura verdade. Lembra-se quando você disse que gostava de mim e pediu que eu esperasse porque você ia me surpreender? Quando você pediu que eu te desse uma chance? Bem, você sabe que naquele momento eu não o fiz, mas essa é sua chance, não de me surpreender, mas de ser diferente de mim e deixar que eu o surpreenda.

                Adrian pareceu amolecer por dentro e um sorriso escapou de seus lábios, mas logo ele se recompôs.

                - Eu estou determinado a não gostar mais de você, Nick. Eu estava disposto a brigar com meus pais e com toda Illéa se fosse necessário, mas agora já não sei mais se vale a pena.

                Enfiar uma lâmina em meu estômago não teria doido tanto, segurei as lágrimas, não queria que ele pensasse que estava chorando apenas para comovê-lo.

                - Deixe-me te mostrar que vale a pena.

                - Você sabe o quanto me magoou Nick? Acredito que não, não é mesmo? Até a pouco tempo nem acreditava que eu pudesse ter sentimentos.

                Não consegui segurar as lágrimas, mas mantive uma postura firme.

                - Eu estava cega, Adrian. Tão cega pela raiva que quase não percebi o que sentia por você. Foi como se meus sentimentos estivessem enterrados dentro do meu peito, como se algo me impedisse de alcança-los. Mas agora estou certa do que sinto e sei que você sente o mesmo e sabe que fui imatura de mais para admitir meus próprios erros, mas que eu nunca tive a intenção de te magoar.

                Ele pareceu considerar por um tempo, depois olhou para mim com uma expressão indecifrável.

                - Você acha que pode consertar seus erros? Vá em frente. Você ainda está na Seleção, não está? Não é para isso que ela serve? Para dar a vocês a chance de me conquistar? Então, Nick, use essa chance, faça tudo ao seu alcance para me impedir de escolher outra. Faça com que eu me apaixone novamente por você. Não me deixe te esquecer!

                Meu peito se encheu de esperança, para mim parecia obvio que ele ainda gostava de mim, mas que tentava manter outra postura para mostrar que ele era o príncipe e que ele estava no comando. Me aproximei e beijei seu rosto.

                - Não deixarei.