História A Seleção Sem Fim - Filme

Da sacada do meu quarto eu podia ver o vento balançando as copas das árvores, a grama se retorcendo e escondendo os milhares de pequenos animais vivendo sob sua sombra. O Sol brilhando e beijando minha pele deixando a melhor das sensações em mim. O almoço em meu estômago, o gosto da sobremesa em minha boca. Esse era para ser um domingo maravilhoso, se não fosse o nó em minha garganta.

                Adrian ainda não tinha falado comigo e eu me perguntava se ele realmente tinha gostado da surpresa que eu havia preparado. E se ele tivesse pensado melhor e chegado à conclusão que me detestava? E se seus pais o tivessem proibido de me ver?

                Eu estava tentando não ficar tão trancada em meu quarto. Não me atrasava mais para as refeições e permanecia o máximo de tempo possível no Salão das Mulheres, disposta a dar uma chance para ele me encontrar. Mas um dia inteiro sem nem um aceno de cabeça já estava sendo o suficiente para me enlouquecer, quanto mais o tempo passava mais eu me convencia de que ele jamais voltaria a falar comigo.

                Meu coração quase saiu pela boca quando uma batia na porta me tirou de meus devaneios. Corri, sem saber direito o que esperar, mas quando abri a porta e vi que era Clarkson tive certeza que não era ele quem eu queria ver.

                - Olá, cunhada! – ele sorriu para mim.

                Dei uma risadinha, mas sua piada só havia me deixado pior.

                - Acho que não.

                - Claro que sim! – ele se jogou na minha cama, como se fosse o dono do quarto. – Um beijo daqueles não pode significar menos do que namoro.

                - Acho que pode se o seu irmão passar a me ignorar depois disso. – suspirei.

                - Ele não está te ignorando! – ele se sentou. – Agora coloque um sorriso nessa cara e vamos dar uma volta, tenho uma novidade que vai te alegrar!

                Dei de ombros e o segui para fora do quarto.

                Clarkson se manteve calado até passarmos pelas portas principais e sairmos para o jardim. Seus pensamentos pareciam estar em qualquer outro lugar, menos ali.

                - Clarkson? – chamei pela terceira vez, ele finalmente me olhou. – O que você queria me falar?

                - Lembra sua amiga louca? Que vivia me perseguindo pelo palácio?

                - Lena? – perguntei rindo e me lembrando de quanto tempo não fazia que eu não falava com ela.

                - Isso. Lembra que me pediu para conseguir um emprego para Dannyl como guarda no palácio? – concordei com a cabeça. – Sei que demorei, mas finalmente consegui, seu treinamento começa ainda essa semana.

                - Isso é maravilhoso.

                Abracei Clarkson sem o menor constrangimento e sem me importar de estarmos no meio do jardim. Demonstrações de afeto como essa já haviam me trazido vários problemas, mas eu não me importava com isso. Adrian seria louco se achasse que para me casar com ele eu pararia de falar com seu irmão.

                - Sério Clarkson, você é o melhor.

                - Claro, agora me conte uma novidade. – Ele disse quando o soltei.

                Fechei a cara.

                - Não estrague o momento.

                - Ah o momento já vai ser estragado se alguma Selecionada fofoqueira nos vir e ir correndo contar para o meu irmão. – recomeçamos a andar.

                Soltei uma risada, era tão bom passar um tempo com Clarkson novamente.

                - Eu parto a cara dela! – brinquei.

                - Duvido! – ele me olhou com superioridade.

                - Você está desmerecendo as minhas habilidades de quebrar a cara de quem eu não gosto?

                - Parece que estou. Pare de se achar a Rainha da Cocada Preta, por favor!

                - Mas o que posso fazer se eu sou? – mostrei a língua para ele.

                - Claro, falou a garota que não sabe nem ralar um coco.

                Revirei meus olhos.

                - Disse o príncipe que nunca nem colocou água no próprio copo.

                Clarkson abriu um sorriso perfeito para mim.

                - Já disse que te odeio?

                - Te odeio mais! – dei um soco em seu ombro, certa de que ele mal sentiria, e sai correndo.

                Passamos o resto da tarde assim, insultando um ao outro e sem conseguir parar de rir por um instante. Um pouco antes do jantar Clarkson disse que precisava me mostrar algo então voltamos para dentro do palácio. Parei diante da escadaria que dava para o terceiro andar, meio insegura.

                - Será que posso mesmo ir aí? Seus pais não vão se importar?

                Ele soltou uma risadinha.

                - Como se você nunca tivesse subido furtivamente para o terceiro andar, vestida de empregada ainda por cima.

                - Foi por um motivo importante!

                - Esse também é, você verá!

                ***

                 Clarkson me abandonou diante de uma porta completamente preta e disse que eu devia abri-la. Eu estava meio perdida, sem a menor ideia do que me aguardava ali atrás, mas sabia que Clarkson jamais faria algo para me prejudicar. Apesar de um pouco nervosa abri a porta.

                No meio da sala, Adrian estava me esperando. Ele me lançou um enorme sorriso.

                - Parece que dessa vez meu irmão não me deixou na mão!

                - O quê? – entrei no cômodo e fechei a porta, como Adrian pediu.

                O lugar estava decorado com pinturas de mim e Adrian, reconheci todas sendo de Sophie. Havia uma mesa no centro de tudo com vários tipos de comida e as janelas estavam abertas deixando uma leve brisa entrar. Tudo era lindo, colorido e brilhante e mesmo assim eu me sentia desconfortável. Era a primeira vez que eu via Adrian depois de minha declaração e eu não fazia a menor ideia de como devia me comportar.

                Ele se sentou e nós comemos nosso jantar em silêncio, eu não conseguia pensar em nada para dizer, apesar de minha mente esta a mil. Adrian se limitava a me encarar entre uma garfada e outra e abrir uns sorrisos de vez em quando.

                Quando terminamos, ele me levou para um canto da sala onde estavam várias almofadas e eu me sentei lá enquanto ele mexia em um projetor e logo na parede contrária a que eu usava como apoio um filme começou a ser exibido. Adrian se sentou ao meu lado, bem próximo a mim.

                - Espero que goste do filme. – Ele disse. – Fiquei com medo de que não encontrássemos nada para dizer um para o outro e não queria que o encontro acabasse rápido de mais.

                Sorri diante dessa fala dele, ele queria passar mais tempo comigo!

                - Desde quando está planejando isso? – perguntei com a voz meio trêmula, estava meio insegura de estar tão perto de assim dele.

                - Desde sempre! – Adrian parecia tão nervoso quanto eu.

                Fiquei observando o filme por um momento e então me virei para Adrian, havia pensando bem em cada palavra, apesar de estar apenas tentando puxar assunto.

                - E então o que achou do que eu fiz no Jornal Oficial?

                Ele se ajeitou um pouco.

                - Foi maravilhoso Nick! Ninguém nunca fez algo parecido para mim antes. Mas tem que prometer não fazer mais nada do tipo.

                - Mas...

                - Eu entendo que deu trabalho fazer tudo isso e você espera que eu a elogie muito por isso. E eu realmente gostei. Mas você tem que entender que foi perigoso, meus pais odiaram isso e queriam te expulsar da Seleção o mais rápido possível alegando má conduta. Você não faz ideia de quantas coisas tive que prometer fazer e quantas mentiras tive que contar para que você permanecesse aqui. Por isso demorei para vir conversar com você novamente.

                Não era minha intenção, eu sabia que Adrian dizia aquilo para o meu bem, mas não consegui não ficar magoada. Me encolhi ainda mais no canto e abracei minhas pernas enquanto meus olhos enchiam de lágrimas.

                - Desculpe.

                - Não fique assim Nick. – ele me fez encara-lo. – Não estou brigando com você, nunca mais quero brigar com você! – ele afastou uma mexa do meu cabelo para trás de minha orelha. – Eu apenas me preocupo com você e quero evitar que alguém possa te machucar. Mas sexta-feira foi o segundo melhor dia de minha vida.

                - O segundo?

                Adrian sorriu.

                - O primeiro foi o dia em que te conheci. – Ele aproximou seu rosto do meu e me beijou.

                Só então percebi o quanto eu queria esse segundo beijo, era como se o primeiro não fosse o suficiente, era quase como uma droga, como se cada vez eu precisasse de mais.

                Me ajeitei, deitando no chão e encostando a cabeça em seu peito.

                - Vamos assistir o filme! – eu disse, encarando as imagens e me dando conta de que já tinha perdido o começo da história.

                - Desse jeito não consigo beija-la direito! – ele brincou.

                Joguei uma almofada verde em seu rosto.

                - Cale a boca e vá conseguir brigadeiro para mim!

                - Sim senhorita. – ele riu enquanto fazia carinho em minha cabeça.