História A Seleção Sem Fim - Máscaras que caem

P.O.V Nick

Mais do que nunca eu estava afastada das outras Selecionadas, não as julgava por manterem certa distância de mim diante de minha aproximação com Adrian. A aversão que elas sentiam a mim era visível e eu percebia o quão ressentida algumas estavam, não que elas gostassem de mim antigamente.

            Com Mia fora da Seleção e Chloe ocupada fazendo sabe se lá o que fui procurar Lunna para conversar. Gostava muito de minhas criadas, mas as vezes precisava mudar de ambiente.

            Segui pelo corredor e não me surpreendi ao ver a porta aberta. Entrei no cômodo sem me preocupar em pedir licença, já éramos intimas o suficiente para abandonar essas formalidades.

            O quarto estava uma bagunça: folhas de papel se esparramavam pela cama e pelo chão, uma garrafa de vinho aberta repousava em uma mesinha, mas a taça estava caída e o líquido escuro escorria pela madeira, havia pelo menos dois vestidos jogados no tapete e mais uma porção em cima de uma cadeira. Onde estavam as criadas de Lunna?

            Ouvi a voz de minha amiga do banheiro, ela estava cantando, provavelmente no banho. Decidi abrir um espaço na cama e me sentar para espera-la sair, sabia que ela não se incomodaria com minha presença ali.

            Eu não queria ser enxerida e muito menos ler coisas que não me diziam respeito, mas não pude ignorar quando vi meu nome em uma das cartas. Eu não havia sido mencionada em uma delas, muito pelo contrário, meu nome era uma assinatura no documento. Me surpreendi ao ver que a letra era idêntica a minha também. Mas eu nunca havia escrito aquelas coisas. O que faziam no quarto de Lunna?

            A maioria delas estava endereçada à minha mãe e basicamente todas diziam que eu não suportava Adrian, que me casaria com ele só por dinheiro e que jamais o amara. Um ódio incontrolável cresceu dentro de mim, porque Lunna tinha todas essas cartas, ela mesma que havia escrito? Como isso era possível?

            Então lembrei de algo que ela havia me dito um tempo atrás.

            “- Tenho várias qualidades, sou engraçada e sei imitar a caligrafia dos outros. Acho que se eu me esforçar bastante e pintar o cabelo de loiro posso ganhar!”

            Era ela. O tempo todo era Lunna, ela tinha se passado por minha amiga, mas estava muito longe disso.

            A porta se abriu e ela saiu do banho, enrolada apenas em uma toalha branca. Sorriu ao me ver.

            - O que faz aqui, Nick?

            - Eu vim conversar com você, mas parece que você sabe o suficiente sobre mim para escrever uma carta em meu nome! – Ergui uma das folhas amassadas.

            Ela soltou uma risada.

            - Ah eu devia ser mais organizada. Facilitei muito as coisas para você!

            - Você quer me dizer o que significa isso? – Perguntei, apesar de não aguentar mais ouvir sua voz.

            - Você é tão burra assim que eu preciso mesmo explicar? – Lunna abriu um sorriso sarcástico. – É simples: Não, eu não sou sua amiga. Nunca suportei você e nenhuma das outras garotas. Todas as coisas que aconteceram no palácio? Joias roubadas, cabelos cortados, avisos para Adrian sobre você e Clarkson? Adivinhe, Mel nunca teve nada a ver com isso, eu fiz tudo.

            Passei a mão pelo rosto para limpar qualquer lágrima que ameaçasse cair, eu não iria chorar na frente dela. Eu sentia como se uma parte de mim estivesse sendo arrancada enquanto eu perdia minha amiga. Como eu não tinha percebido isso antes?

            - Por quê?

            - Por quê? Pelo mesmo motivo que todas agimos como agimos aqui: eu quero a Coroa, quero ganhar a Seleção. E agora eu estou quase lá. Te deixei ficar muito tempo aqui, mas uma Seis como você não vai me impedir de casar com Adrian. Nesse momento uma dessas cartas está nas mãos de Adrian e eu aposto que ele não vai acreditar em você depois de ler isso, você leu os rascunhos, sabe o que está escrito.

            Ela estava certa, eu já tinha pisado na bola demais com Adrian. Ele não acreditaria em nada que eu dissesse se lesse aquilo.

            - Como você pode fazer isso? Eu te considerei uma amiga, eu te contei coisas importantes para mim, eu chorei na sua frente. Você sabia o quão importante era pra mim e mesmo assim fez isso. Eu não consigo acreditar, não consigo. Como eu não percebi isso antes?

            Ela se sentou ao meu lado e fez uma falsa expressão de pena.

            - Oh querida. Eu também não sei como, mas não fique triste, ninguém percebeu. Acho que eu sou muito boa no que faço.

            Comecei a tremer, não acreditava no que estava vendo. Como alguém podia ser tão falsa, como ela conseguia? Eu achava que as piores Selecionadas eram Mel e Ruby, mas não sabia que minha verdadeira inimiga estava ao meu lado o tempo todo, fingindo me apoiar nas horas difíceis. Ergui minha mão, estava pronta para dar um tapa em Lunna, mas ela me surpreendeu virando o rosto e apontando para si mesma.

            - Quer me bater? Ótimo, faça isso! Bem aqui! Como se Adrian não tivesse motivos suficientes para te mandar embora do palácio.

            - Na verdade eu não tenho mesmo. – Uma voz grossa surgiu de repente.

            Olhei para a porta, Adrian estava lá. Parado no corredor, nos observando com uma folha de papel nas mãos.

            - O que? – Lunna se levantou.

            - É o seguinte. – Ele começou entrando no quarto. – Eu recebi isso e decidi perguntar para a Nick quem poderia ter forjado essa carta, é óbvio que não foi ela quem escreveu, não seja estúpida! É um truque bem baixo e até razoavelmente bom, mas não o suficiente para me enganar. Não adianta copiar a letra sem conhecer a pessoa. De qualquer forma eu ouvi a discussão de vocês, tudo praticamente. Você falando sobre o que fez para as outras garotas também.

            Adrian sentou ao meu lado.

            - Eu sugiro, que quando for contar para alguém as coisas que faz deixe a porta fechada e fale baixo!

            - É feio escutar a conversa dos outros. – Lunna disse, mas sua voz não tinha mais a confiança de minutos atrás.

            - Você não perde a pose mesmo, não é? – Adrian voltou a se levantar, eu continuei observando a cena sem saber o que fazer. – Se não está claro para você ainda, deixe me dizer: Você está expulsa da Seleção, eu não quero ver sua cara nunca mais! Vou providenciar um voo para você hoje mesmo e eu acho bom que até lá você não chegue nem perto de Nick, porque se você tentar qualquer coisa você sai do palácio direto para a cadeia. Entendeu?

            Lunna abaixou a cabeça.

            - Entendi – Sua voz não era mais que um sussurro.

            Eu me levantei e Adrian passou o braço em volta de meus ombros, saímos do quarto juntos e eu ainda me segurava para não explodir. Observei seu rosto, ele parecia mais nervoso que eu.

            - Obrigada. – Falei, me ajeitando mais em seu braço.         

            - Eu não fiz nada demais, expulsa-la da Seleção era só meu dever.

            - Não por isso. – Sorri e parei de andar. – Estou dizendo por acreditar em mim, seria fácil para qualquer um pensar que eu realmente tinha escrito aquilo.

            - Seria, mas eu sei que você não faria isso. Aquela carta não tinha um só traço seu. Eu só acreditaria que você não me ama se você mesma me dissesse e, talvez, nem assim.

            Eu o beijei, ali mesmo no corredor. Cada vez eu estava mais certa que estava apaixonada por Adrian e que nada nem ninguém poderia mudar isso.