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História A sombra dos lobos - 2. Dislexia


Escrita por: MarlonC

Capítulo 2 - 2. Dislexia


2. Dislexia

Na quinta série não tem como não ser esquisito, afinal a pré-adolescência por si só é devastadora, mas quando você é diagnosticado com dislexia tudo pode se tornar pior.

 

Eae batatão!

Disseram alguns garotos que passavam, enquanto riam e olhavam com cara de desdém.

 

Na escola a coisa que mais desejamos é que a aula acabe, convenhamos, o ensino público é ridículo, ineficiente, e você fica totalmente vulnerável a esses trogloditas, que não respeitam professores, supervisores, ou qualquer autoridade interna, eles te batem, te humilham e depois negam e te retalham caso você os denuncie. Dessa forma só me restou criar medidas para autodefesa:

.Não beber água

(Dessa forma eu não precisava ir ao banheiro e ficar sozinho, de costa para uma porta que não trancava).

.Não ir ao banheiro

.Não falar

 

Seguindo essas regras, coisas ruins ainda aconteciam, mas ocorriam com uma frequência mais moderada. O problema era o Vitor, o babaca era o tal, o super fodão, mas cismava com a  minha cara, não bastava a vida que em todas suas instâncias não foram das mais generosas comigo, sejamos franco, um cara pardo com dificuldade de fala, dentes tortos e olhos saltados, é a piada pronta. O desgraçado tinha que me expor mais ao ridículo? Das piores maneiras possíveis? E para o maior número de pessoas? Ele variava no repertório, que continha; tortura, humilhação, agressão e, porque não abuso? Afinal, nada impede um delinquente que conta com a proteção de uma ONG de recuperação de jovens infratores.

Aos 13 anos eu fui estuprado no banheiro da escola, a luz do dia, o Vitor pediu que seus comparsas me segurassem as mãos, e enquanto eu me debatia um deles me golpeou a boca do estomago, eu já sem ar e sem forças, uma vez que nenhum dos meus gritos foram ouvidos, me cansei e rezei para que aquilo acabasse, mas não acabou, afinal essa é a beleza do trauma, algo que te acompanha para a vida toda.

Humilhado caminhei lentamente com o olhar baixo, enquanto ouvia os risos daqueles que se divertiam com o pior dia da minha vida, quando cheguei na sala, notei que não havia professor, a senhora Cláudia sentira fortes dores de cabeça e não poderia comparecer, sem alguém que pudesse substitui-la ficamos com aquela aula vaga, foram os piores quarenta minutos da minha vida, eu sentia dor, náuseas, mas permanecia sentado. Qualquer ser humano em sã consciência teria fugido dali, só que entenda, eu era uma batata como diziam.  Um professor chegou e após longos minutos notou que algo não estava normal, ele perguntou de onde estava o que ocorria, eu não respondi, pois, tinha muita dificuldade de comunicação, e se agravava conforme me estressava, ele permanecia enfrente a sala me indagando, eu não pude conter as lágrimas e comecei a chorar enquanto todos riam, só assim ele pediu que se calassem e me retirou do local, onde eu envolto pela vergonha não consegui explicar o que havia ocorrido, só peguei no bolso inferior do lado esquerdo da minha bolsa um pedaço de papel embolado, eu tremia muito, mas consegui entregar  para o instrutor, continha o telefone da minha mãe que veio o mais rápido possível me buscar. Assim aquele dia acabou, e quando digo acabou, me refiro a mim, aquele dia acabou comigo.

Minha mãe na tentativa de me oferecer uma melhor qualidade de vida, arrumou um segundo emprego em um salão, e me colocou em uma escola para deficientes mentais, onde eu convivia com o mais variado tipo de pessoas. Sinceramente me assustava, tendo em vista que minha dificuldade para comunicar, escrever e gesticular, não era nem de perto como a de alguém que ouvia vozes.

Eu fui submetido a testes físicos, mentais, raciocínio e diversos outros. Certa vez eu estava meditando e um dos alunos pulou em cima de mim e começou a me enforcar, por sorte outro aluno o impediu de me matar.

‘’As vozes te salvaram’’

Ele me disse.

O cômico por trás do absurdo é adaptação, sim, nos adaptamos a sermos infelizes, infelizmente. Fora dois anos difíceis até retornar à escola convencional, aos problemas convencionais. O jovem acaba sendo otimista, eu ansiava pela fase adulta, pensando que ali sim minha vida deslancharia, eu realizaria meus sonhos, e pensar que atualmente todos os meus sonhos morrem no bipe do despertador, todos os dias.



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