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História A tal Heather - Querido irmãozinho


Escrita por: Koorin

Notas do Autor


estou completamente CHOCADA EXTASIADA com todo o feedback do capítulo anterior, meu deus do ceu
mais de 70 comentários
MAIS DE 70 COMENTÁRIOS
VCS ESTÃO DE BRINCADEIRA CMG????????????????????????
eu faço vcs surtarem e vcs me fazem surtar tb, acho justo
miNHA NOSSAAAAAAAAAAAAAAA
no cap anterior eu tava comemorando os mais de 40 comentários, felizona, aí vcs vem e me provam q podem fazer bem mais, gostei, bem afrontosos, continuem ~aquelasKKKKKK
primeira vez que eu recebo tantos comentários aqui AAAAAAAAAAAAAAA
Gente, sem palavras. Tinha várias coisas que eu queria dizer pra vocês, mas agora não sei como. Muito obrigada por todo o carinho e apoio, os comentários de vocês são meu combustível, vocês não tem IDEIA do quanto eu fico ansiosa e viciada pelos comentários de vocês, obrigada por me alimentarem devidamenteKKKKKK sério, e foi CADA TEXTÃO, MEU DEUS!! SURTEI DEMAAAAAAAAAAAAAIS <3 ainda tô embasbacada com todo o carinho, sério. Estou feliz demais por vocês estarem gostando tanto da fic, eu não imaginava isso ~vários comentários no cap passado dizendo que estavam relendo o cap enquanto esperavam att, mds, vcs relendo aquele cap enorme de 22K várias vezes???? GuerreirosKKK
Sério, muito obrigada, fico muito feliz por conseguir tocar vocês através da minha escrita. Espero que gostem desse novo capítulo!! Tô muito empolgada com essa fic <3
BOA LEITURA
~falei no grupo bakudeku do face que ia postar domingo ou no máximo segunda sem falta, passou da meia-noite ent é terça, mas eu não dormi, ent continua sendo segunda, eh istokkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Capítulo 4 - Querido irmãozinho


Fanfic / Fanfiction A tal Heather - Querido irmãozinho

Eu só me dei conta de que precisava de ar quando a boca de Kirishima se descolou da minha e meu peito se expandiu de imediato, subindo e descendo com força, total e completamente ofegante.

Foi interessante descobrir como beijos também podem funcionar como anestésicos.

Eu me sentia... leve. Tanto que eu quase não sentia mais o chão abaixo de mim, era como se eu levitasse. Leve, bem diferente de todo o peso da angústia que antes me puxava para baixo. Minha mente estava em branco, os pelos dos meus braços e nuca arrepiados e, aos poucos que meu cérebro voltava a ser oxigenado, minha visão embaçada e turva retornava ao normal.

E foi só então que eu percebi que, em algum momento no meio de tudo aquilo, Kirishima havia tirado meus óculos.

- C-cadê meus óc- ah! – Um gemido surpreso rompeu minha garganta quando aquela boca molhada e inchada pelos beijos recentes bateu forte contra meu pescoço, devorando a pele antes intocada. Arregalei os olhos e tampei minha boca para conter os sons que coçavam dentro de mim, ansiosos para sair.

Não sabia que o pescoço é o meu ponto fraco. Merda, como pode ser uma área tão sensível e, de certa forma, até meio erógena...? Mas que droga, eu estava ofegante e duro como se ele estivesse chupando o meu pau, mas era só a porra do meu pescoço!

– E-ei, espera... – Espalmei as mãos em seus ombros para afastá-lo, mas eu não realmente tentei de verdade. - A-aí não... humn...

Sua risadinha diante do meu protesto já dizia tudo: ele não pararia nem se eu implorasse – julgo dizer que isso só o incentivaria a continuar.

Kirishima é afobado, seu beijo é rápido e seus toques são rudes. Tudo nele beira a quase impaciência.

Era gostoso, não posso negar. Era bom ser tocado daquele jeito, com vontade, como se ele precisasse muito me tocar.

- Você é tão sensível aqui... se você geme assim só de ser tocado no pescoço, fico duro só de pensar como você ficaria se eu te tocasse mais embaixo... – Sussurrou contra meu pescoço, me fazendo soltar um gemido vergonhoso ao deixar ali uma mordida especialmente mais forte do que as outras. Corei forte com aquele comentário, virei a cara e tampei a boca com força, mordendo meu lábio inferior. Ele riu. – Não faz isso, eu quero te ouvir. – Tirou minha boca da boca e virou meu rosto para ele novamente, não me dando tempo para pensar antes de esfregar sua língua contra a minha de novo. – Você é tão bonito...

Minhas pálpebras tremeram e eu simplesmente derreti em cima daquela grama.

Por mais que eu sentisse curiosidade sobre sexo e algumas vezes até imaginasse como seria fazê-lo, sempre me considerei alguém tranquilo quanto a isso. Não é que eu seja do tipo de pessoa que tem essa ideia bonitinha de que “ah, minha primeira vez tem que ser muito especial, tem que ser com alguém que eu ame”, mas eu também nunca consegui ser do tipo que sente vontade de fazer sexo só por fazer, com qualquer um. Isso nunca soou interessante para mim. Então, sempre estive bem resolvido quanto a minha virgindade, nunca tive pressa. Eu faria quando sentisse vontade de fazer e ponto.

E, por isso, me surpreendi quando, naquele momento, percebi que não sabia o quanto eu estava necessitado disso até Kirishima me tocar tão despudoradamente. Despertou um lado em mim que eu não conhecia, e definitivamente gostei de conhecer.

No entanto, ao mesmo tempo, havia algo que não encaixava ali. O beijo de Kirishima era bom, seus toques eram satisfatórios e quentes... mas às vezes eu não conseguia acompanhá-lo e ele não parecia se importar. Sua boca e suas mãos realmente funcionavam como entorpecentes em meu corpo, me fazendo esquecer a dor que antes embrulhava meu coração, mas eu me perguntava se tudo estava sendo tão bom porque de fato eu me sentia atraído por ele ou só porque eu estava muito machucado e precisava descontar essa angústia em alguém.

Porém, sinceramente, não sei se quero descobrir a resposta para essa pergunta. Estava bom, eu estava gostando, independente do que havia me levado a querer beijá-lo. Independente se era porque eu me sentia atraído por ele ou não, se era porque eu estava machucado ou não... ou independente se era uma junção das duas coisas. Tudo o que eu sabia era que eu não queria parar.

Eu não quero sentir aquela angústia nunca mais.

Porque, ao mesmo tempo em que Kacchan é tudo o que eu tenho e por mais que eu seja muito grato pela nossa amizade, isso também me sufoca. Me sufoca, porque às vezes sinto que toda a minha vida gira em torno dele. Porque eu dependo dele para tudo. Dependo dele para me defender dos outros na escola, dependo dele para me fazer companhia na sala de artes, para andar comigo pelos corredores e para sair comigo no final de semana. Dependo dele para ser alguém. Sem ele, eu fico sozinho. Sem ele, eu sou sozinho.

E não, não estou sendo melodramático. É apenas a verdade.

Foi aí que eu notei que tudo estava errado desde o início. Tudo estava fadado a nos afastar desde o início, independente da tal Heather.

Porque ele não depende de mim para ser feliz, mas eu dependo dele.

Por mais que nossas incompatibilidades tenham nos juntado no início, serão elas que nos afastarão no fim.

Imagino o quão difícil também deva ser para Kacchan. Sei que ele gosta da minha amizade, senão nem se daria ao luxo de tentar me manter por perto, porém, sei que deve ser um saco se sentir na obrigação de me dar atenção o tempo todo só para que eu não me sinta um inútil solitário. Sim, é claro que ele gostaria que eu saísse com uma garota ou tivesse mais amigos, porque isso tiraria um peso dos ombros dele, eu entendo e não posso culpá-lo por desejar isso. E a Uraraka? Que deve querer desfilar com o namorado por aí, só os dois e mais ninguém, para beijar à vontade e conversar sobre o que quiserem... mas não, ela não pode ter isso, não pode ficar com Katsuki da forma que gostaria de ficar, porque também tem que me aturar.

Ela é uma boa pessoa, Kacchan também é. Eles são legais e pacientes demais para me contar como realmente se sentem.

E eu definitivamente não quero ser o tipo de pessoa que precisa da paciência dos outros.

No fim, eu sou um fardo para todos. Para as pessoas do colégio. Para Uraraka. Para minha mãe, que tem que me criar sozinha. E para Kacchan.

Não encare isso como um discurso vitimista. A culpa é minha. Eu odeio me sentir dependente de Kacchan, mas o que eu estou fazendo para reverter isso? Não busco conhecer novas pessoas ou novos lugares... estou sempre acomodado debaixo das asas dele, assustado demais para levantar as minhas próprias asas.

Todavia, isso definitivamente irá mudar.

Hoje. Hoje isso irá mudar.

Eu vou levantar minhas asas e voar longe.

- Por que não usa lentes de contato? – Kirishima perguntou de repente enquanto distribuía beijos perto da minha clavícula – ele tinha puxado a gola do meu moletom pra baixo -, erguendo o rosto para me encarar. Sua respiração levemente desregulava cruzava com a minha. A pouca saliva que ele deixara no meu pescoço causava uma sensação engraçada pela brisa gélida da noite que batia suavemente contra minha pele.

- Por que diz isso? – Indaguei, confuso com aquelas palavras repentinas. Meu peito subia e descia rápido, eu estava vergonhosamente ofegante. Tateei a grama ao nosso lado, enfim encontrando meus ósculos redondos. Limpei as lentes contra o tecido da minha camisa. – Me acha feio com óculos...?

- Não, claro que não. – Riu. – Os óculos te deixam fofo e sexy. Na verdade, acho que acabei de descobrir que tenho uma pequena tara por garotos de óculos. – Ri do seu comentário bobo. - Mas todas as pessoas que conheço que usavam óculos trocaram eles por lentes de contato. Não sente vontade?

 - Hm... na verdade, nunca parei pra pensar muito nisso. – Coloquei os óculos, ajeitando-os sobre meu nariz. Pisquei os olhos, de repente tudo se tornando muito mais nítido, por mais que, já que Kirishima estava a poucos centímetros de distância do meu rosto, eu já podia enxergá-lo muito bem mesmo sem eles. – Meus óculos nunca me incomodaram. E pesquisei uma vez sobre lentes. É um negócio meio caro, porque eu sempre teria que ficar trocando elas e tal...

- Saquei. Sei lá, acho que cê devia considerar comprar as lentes. Aí tu usa um pouco as lentes, depois os óculos e tal... aí tu vai intercalando, sabe? Não precisa se desfazer dos óculos completamente. – Em silêncio, ele analisou meu rosto por alguns segundos antes de abrir um sorriso simples. – Os óculos escondem um pouco os seus traços. E o verde dos seus olhos fica muito mais vivo sem eles.

Eu sabia que seus olhos eram verdes, mas... não sabia que eram tão verdes assim.

Tal lembrança fez com que minhas bochechas esquentassem.

Ele riu, provavelmente achando graça diante da minha vergonha, mas sem fazer ideia de que isso não aconteceu exatamente por causa dele.

- Não sabia que você era do tipo observador, Kirishima. – Comentei.

- Eu sou, às vezes. – Suas mãos pousaram sobre meus joelhos dobrados, separando mais minhas pernas para se encaixar melhor entre elas, consequentemente se aproximando mais de mim. Parecia que já estávamos naquela pegação há horas e, de tanto suas mãos passearem pelo meu corpo todo o tempo, toques assim já não me envergonhavam tanto.

Voltei a enlaçar seu pescoço com meus braços. Ele aproximou seu rosto do meu e eu imediatamente fechei os olhos e entreabri os lábios, esperando pelo beijo. Seus lábios se encaixaram nos meus, sua respiração quente entrando na minha boca, porém, quando eu estava prestes a tomar a iniciativa de botar a língua primeiro, ele sussurrou e, por mais que eu não pudesse ver, eu sabia que ele sorria:

- Mas só sou observador com quem quero ser.

E ele chupou meu lábio inferior com força antes da sua língua sugar a minha própria para dentro da sua boca, sua mão em minha nuca não me deixando fugir – e não era como se eu quisesse.

Gemi em deleite, meus dedos imediatamente se enroscando entre suas madeixas vermelhas, puxando um pouco e tornando seu rabo de cavalo cada vez mais desarrumado.

- Sabe porque eu gosto de ficar com caras? - O sussurro assoprou quente em meus lábios quando, de repente, ele partiu aquele novo beijo que, na minha cabeça, novamente pareceu ter durado horas, horas e horas, mesmo que não tivesse passado nem cinco minutos.

- Hm...? - Meio grogue, eu murmurei de volta, meus olhos meio abertos enquanto meus braços cumpriam bem a tarefa de prendê-lo bem contra meu corpo.

Não sabia que beijar podia ser tão bom. Agora eu entendia por que todos gostavam tanto disso.

Kirishima abriu um sorriso gigante e, naquele momento, soube que me arrependeria de tê-lo questionado.

- Garotas são muito chatas. Cheias de não toque aqui, não toque ali... - De repente, uma de suas mãos largou minha bunda para agarrar meu pau com força. Um grito de surpresa se embolou no meio da minha garganta, fazendo com que escapasse um som meio esganiçado e estranho da minha boca. Meus olhos se arregalaram em completo choque. - E pegar na buceta delas? Nem pensar... mas os caras não ligam quando eu pego aqui. - E apertou de novo, seu sorriso se alargando diante do meu rosto paralisado.

Minha barriga contraiu diante do frio que se alastrou dentro dela, um nervosismo avassalador imediatamente subindo pelas minhas pernas.

Rapidamente tirei sua mão de lá.

- Eu ligo, ok? Não t-toque aí assim...

Por reflexo, tentei fechar as pernas, mas fui impedido pelo seu corpo entre elas.

Ele riu, mas felizmente fez o que eu pedi, agora suas mãos se apossando dos meus quadris. Suspirei, aliviado. Eu realmente fiquei nervoso quando ele pegou no meu pau daquele jeito, não esperava por isso.

- Então você é tipo uma garota, hm? - Arqueou a sobrancelha.

Revirei os olhos.

Às vezes, eu acho Kirishima incrível.

Em outras vezes, eu só queria tacar um tijolo nele.

- Não me faça perder a vontade de te beijar, ok?

- Me pergunto por que Katsuki não fica com você. Se ele fechar os olhos e ignorar teu pau, é quase como se transasse com uma garota. – Riu alto. - Cê não tem peito e tal, mas tem mó bundão. Tu tá ligado, né?

Fechei a cara imediatamente.

- Isso não tem graça, cara. – Revidei ríspido.

Sei que ele não teve a intenção de ser maldoso, mas às vezes ele é muito sem noção.

Eu já estava farto de ser comparado com garotas, tanto pelas pessoas a minha volta quanto por mim mesmo. E eu também não gostei dele ter mencionado o Kacchan na conversa daquele jeito.

- Ok, ok... foi mal. – Ergueu as mãos em rendição, um sorriso brincalhão ainda enfeitando seu rosto. Eu continuava lhe fitando com tédio. - Foi só uma brincadeira, relaxa.

Quando eu estava prestes a dizer mais alguma coisa, subitamente lembrei das mensagens de mais cedo. Perdi a noção do tempo enquanto estava com Kirishima e, vendo o relógio que se acendeu na tela de bloqueio quando saquei o celular rapidamente do meu bolso, arregalei os olhos ao notar que já tinham se passado duas horas desde que deixei Kacchan dançando com a Uraraka lá na festa.

E meus olhos se arregalaram ainda mais com o tanto de mensagens que ele deixou.

Enquanto meu dedo deslizava pela barra do chat e meus olhos corriam pela tela brilhante, a mão de Kirishima voltara ao meu pescoço, acariciando gentilmente para chamar minha atenção.

- Ei, Izuku... deixa ele pra lá... – Murmurou, propositalmente deixando sua respiração resvalar no meu pescoço, voltando a tomar a minha pele com chupões e mordidas leves. Dessa vez, ele fazia devagar e com carinho. - Ele tá lá se divertindo com a mina dele...

Eu ignorava seus comentários, apesar de tê-lo deixado continuar com as carícias em meu pescoço. Eu estava muito ocupado rolando o dedo pelo chat de Kacchan, meus olhos atentos no aparelho em minhas mãos levemente trêmulas.

 

[Kacchan]: vc voltou p casa???

 

3 chamadas perdidas de Kacchan

 

[Kacchan]: porra kd vc caralho

[Kacchan]: ja te procurei por ess porra de lugar inteiro

[Kacchan]: liguei pra sua mae e ela disse q tu n chegou em casa

[Kacchan]: merda

 

11 chamadas perdidas de Kacchan

 

[Kacchan]: MAS QUE CARALHO SEU FILHO DA PUTA

[Kacchan]: KD VC PORRA

[Kacchan]: ATENDE ESSA CARALHA

[Kacchan]: INFERNO

 

8 chamadas perdidas de Kacchan

 

[Kacchan]: seu arROMBADO DO CARALH

[Kacchan]: EU VO TE QUEBRAR NO MEIO QND TE ACHAR

[Kacchan]: SEU FODIDO DE MERDA

[Kacchan]: PORRA

 

- Ai, meu Deus! – Me levantei em um salto, fazendo Kirishima praguejar xingamentos. Meu coração batia forte. – Kacchan tá desesperado atrás de mim, eu perdi a noção do tempo completamente!

- Manda ele ir comer o rabo da mina dele e deixar a gente em paz, Izuku, pelo amor de Deus. – Revirou os olhos e segurou minha mão, tentando me puxar de volta. – Vem, senta aqui. Deixa isso pra lá. Sério que tu vai dar corda pra ele? Ele não parecia muito preocupado quando a bochechuda tava esfregando a xota nele lá...

- Mas isso é diferente, eu sumi faz duas horas sem avisar nada. Ele até ligou pra minha mãe. – Digitei um tô indo rápido antes de guardar o celular no meu bolso. – Vamos, Kirishima.

Ele me olhou por mais algum tempo como se não acreditasse no que eu tava dizendo. Por fim, vendo que eu estava convicto em minha decisão, suspirou pesado e apoiou as mãos nos joelhos para se erguer.

Ok, eu sei que eu poderia apenas responder ao Katsuki que eu estou bem e que ele não precisa se preocupar, no entanto, já fazia tanto tempo que eu não dava as caras, ele devia estar realmente preocupado – porque, me conhecendo e conhecendo o pessoal do colégio, é mais fácil dele pensar que eu tinha sido trancado num armário do que ido me pegar com alguém num canto - e até ligou pra minha mãe, provavelmente ela também estava preocupada agora... então acho que eu deveria, no mínimo, me encontrar com ele para acalmar os ânimos. Eu queria ser o tipo de pessoa despreocupada o suficiente para responder com um relaxa aí, tá tudo bem e voltar a enfiar a língua na boca de Kirishima, todavia, eu me conheço bem o suficiente para saber que eu não conseguiria aproveitar sabendo que as pessoas que gosto estão preocupadas e irritadas comigo. Sei que o Kacchan não anda merecendo muito a minha consideração, mas eu também não gostaria que ele simplesmente sumisse no meio de uma festa sem me falar nada. Agora nem estava mais tanto no clima para continuar beijando o Kirishima, de qualquer forma.

E também eu meio que ainda estava contando com ele para me dar uma carona pra casa.

- Opa, adivinha quem me ligou também? – Disse o ruivo, sorrindo ao me mostrar a tela do seu celular. Seis ligações perdidas de Bakubro. – Fala sério, mó empata foda...

- Vamos logo. - Quando dei as costas para voltar à festa, sua mão agarrou a minha e me puxou de volta, me roubando mais um ou dois beijos antes de eu repreendê-lo. Ele riu e eu me soltei, tomando novamente meu rumo em direção à festa, dessa vez sem mais protestos por parte de Kirishima, que me seguia com um sorriso sarcástico no rosto.

Quando cheguei à área da piscina, parecia que nada havia mudado. Eu diria até que havia mais gente, todos muito mais bêbados do que antes.

Não precisei andar muito para encontrá-lo. Kacchan estava sentado numa mesa de madeira redonda no meio do gramado, junto com Uraraka, as amigas dela e mais algumas pessoas.

Ele não parecia muito feliz, entretanto.

Estava sentado com as pernas meio abertas, seu corpo jogado para frente com os cotovelos firmes sobre os joelhos. Sua cabeça estava abaixada, os olhos focados no celular que tinha entre as mãos, o pé batendo sem parar.

Qualquer pessoa, mesmo de longe, poderia dizer com certeza que ele estava ansioso, tenso e irritado.

Uraraka conversava animadamente com todos na mesa e parecia empenhada em puxá-lo pro assunto também, mas ele nem tentava esconder seu desinteresse.

Engoli em seco, me sentindo nervoso, mas sem desacelerar o passo.

E, só quando já estava diante de Kacchan e ele erguera a cabeça para me encarar, que eu percebi que eu não tinha sequer parado pra pensar sobre que desculpa eu ia dar pra ter sumido duas horas e depois ter aparecido do nada com o Kirishima no meu encalço.

Ele intercalou o olhar entre nós dois rapidamente antes se levantar de supetão.

- Que porra é essa? Celular virou vibrador agora pra vocês enfiarem essa merda no cu?! – A veia da sua testa saltava. O falatório entre o grupo na mesa logo cessou, a atenção de todos recaindo sobre nós três. A tensão no ar era palpável. Apertei os lábios e abaixei um pouco a cabeça. – Sabe quantas vezes eu liguei pra porra do teu celular, Deku?! Onde tu tava nessa porra desse caralho, seu merda?!

- Eu... e-eu... – Merda, não sabia o que falar. Mordi o lábio inferior, nervoso. Eu não conseguia encará-lo nos olhos.

- Kat, calma. – Uraraka se levantou também, pondo a mão sobre o ombro dele. – Tá tudo bem, ele já voltou, sim? Se acalma, você está exagerando um pouco, não acha? – Então, ela se virou para mim com um sorriso singelo. – O que aconteceu, Deku? Ficamos preocupados, você não é de fazer isso...

- Na verdade, o Izuku passou um pouco mal, mas tá tudo de boa, não foi nada demais. – Kirishima tomou a frente, passando o braço sobre meus ombros. Engoli em seco, escondendo minhas mãos trêmulas nos bolsos do meu moletom do All Might. Ainda que eu não tivesse coragem para levantar a cabeça, eu ainda sentia o olhar irritado de Kacchan sobre mim, me fazendo temer que ele não engolisse aquele papo do Kirishima. – Eu o levei pra um dos quartos pra descansar, ele dormiu, fiquei cuidando dele e acabou que me bateu um sono e eu tirei um cochilo também... enfim, tamo numa festa, Bakubro, relaxa aí. Achou que rolou o quê? Que ele foi sequestrado e levado pra Turquia? – Riu.

- Engraçado que eu revirei essa casa do avesso, entrei em cada porra de quarto e não vi a fuça escrota de vocês em nenhum deles. – Kacchan cruzou os braços, o tique nervoso em seu olho deixando-o com uma face ainda mais assustadora.

Tremi, no entanto, antes que eu pudesse entrar em desespero e acabar falando alguma merda, Kirishima foi rápido em responder com um sorriso debochado:

- Essa casa é enorme, mano. Tu não deve ter olhado direito.

Agora, os olhos irritados de Katsuki focavam só em Kirishima.

- Tá achando que eu sou esquizofrênico, porra? Claro que eu olhei, seu verme.

- Então você só não teve sorte. Sei lá, provavelmente eu tava no banheiro com o Izuku quando você entrou no quarto...

- Banheiro? Você disse que estavam dormindo.

Meu olhar nervoso intercalava entre os dois.

- Sim, mas antes disso ele foi vomitar no banheiro. Que foi, porra? Acha que eu tô mentindo? – Kirishima estava sendo tão convincente que até eu estava cogitando se aquilo realmente aconteceu. – Você só deu o azar de não encontrar com a gente e é isso.

- O Deku VOMITOU e tu não me chamou?!

- Eu tava ocupado demais ajudando ele pra pensar em te ligar, cara!

- Em nenhuma porra de momento passou pela caralha da tua cabeça que eu deveria saber do que tava acontecendo, porra?!

- Achei que você tinha coisas mais interessantes pra fazer. – Respondeu ao olhar para Uraraka, sorrindo largo para ela, que só retribuiu com um sorriso amarelo, aparentemente tão sem graça quanto eu pela discussão dos dois. Não imaginei que Kacchan estaria tão preocupado assim, até me senti mal. – Mas, pelo jeito, você realmente não sabe curtir uma festa... não é à toa que nunca aparece em uma.

- Cala a porra da boca, animal. – Revirou os olhos para o ruivo e, de repente, ele se aproximou de mim, a expressão irritada sendo substituída por uma de preocupação. – Cê tá bem, Deku? – Arregalei os olhos quando ele encostou a mão na minha testa, sua voz agora surpreendentemente calma, diferente de poucos segundos atrás. – Tá um pouco quente...

- E-eu tô bem. – Forcei um sorriso. Eu ainda estava tenso com a ideia de que Kirishima e eu quase fomos pegos. Só torcia para que Katsuki não me fizesse perguntas sobre eu ter “passado mal”, pois eu definitivamente não saberia como responder. - Sério, tudo bem... desculpa por ter sumido assim, não quis causar problemas. Minha mãe tá preocupada?

- Não sou burro pra fazer tua mãe ficar desesperada no meio da madrugada. Só joguei um verde pra saber se tu tinha voltado pra casa e ela caiu, não falei que tu sumiu nem nada.

- Ah, que bom. Obrigado por isso. – Abri um sorriso sem mostrar os dentes.

O silêncio caiu entre nós e, de repente, o olhar de Kacchan se voltou para o braço de Kirishima que ainda descansava em meu ombro. Por fim, encarou o ruivo diretamente. Seu olhar sério, ainda que não fosse para mim, me fez tremer.

Kirishima, porém, só alargou o sorriso.

- Agora que já tá tudo esclarecido... Kat, tô cansada. – Uraraka disse, chamando a atenção dele. – Pode me dar uma carona pra casa?

- Ah... – Ele coçou a nuca com a mão, encarando-a. – Não vai dar, foi mal. Vim de moto.

- Por mim, tudo bem! Sempre quis andar de moto. – Disse entre os risos, empolgada.

- Não, você não entendeu. – Soltou uma risada nasal. – Eu tenho que deixar o Deku em casa. Você veio com as suas amigas, né? Então tudo bem se você voltar com elas?

O sorriso no rosto da garota falhou drasticamente, mas ela se esforçou para mantê-lo.

- Ah, entendi... claro, sem problemas.

- Katsuki, pode deixar a garota em casa, eu acompanho o Izuku. – Sugeriu Kirishima tranquilamente.

Notei que Kacchan estranhou aquela fala.

- Você não tem carro.

- E daí? Posso pedir um Uber.

Kacchan estreitou os olhos para o ruivo.

- Qual é a tua, porra?

- Hein? – A expressão confusa dele foi tão fingida que, se eu não estivesse tão nervoso, eu certamente teria rido. – Não entendi. Falei algo errado?

- Vocês do nada viraram grandes amigos, é isso? – Soltou um riso debochado, cruzando os braços. – Cê mal fala com o Deku na escola e agora tá aí se oferecendo pra pagar Uber e os caralhos.

- Pois é, mas a gente acabou de se conhecer melhor. – Ele me apertou num abraço de lado. Engoli em seco, enroscando meus dedos no tecido branco do meu moletom. – Tu devia me agradecer, mano, tô salvando a tua noite. – Lançou um sorriso malicioso breve para Uraraka antes de voltar a fitar o loiro, que ainda tinha uma expressão estranha no rosto.

- Viu, Kat? Tudo certo, então! – A garota sorriu largo, toda animada de novo. Foi se despedir das amigas e logo voltou, rapidamente agarrando um dos braços de Katsuki num abraço apertado. – Podemos ir?

Ele, de novo, revezou o olhar entre Kirishima e eu.

- Olha, não tô gostando disso. – Sua resposta me surpreendeu, eu não achei que ele fosse negar assim.

Mas não precisei nem de cinco segundos para compreender que aquela resposta veio do que ele achava que seria o certo a ser feito – afinal, ele se sentia responsável por mim -, e não do que ele queria de verdade.

– Eu vim com o Deku, então eu volto com o Deku. – Voltou a fitar a menina. - Uraraka, eu vou pagar um Uber pra você e pras meninas e-

- Tá tudo bem, Kacchan. – Interrompi-o, sorrindo gentilmente. Ele me encarou com uma sobrancelha arqueada. – Eu volto com o Kirishima, tudo bem.

Eu estava, sim, contando com Kacchan para me dar uma carona para casa, afinal, eu não conhecia aquele bairro e também tava sem dinheiro. Porém, a ideia de ter Kirishima me acompanhando não me desagradava de forma alguma. Eu não queria atrapalhar a noite de Katsuki mais do que já atrapalhei, nem que ele cuidasse de mim por obrigação.

Como eu disse, não posso mais depender só dele.

Kacchan continuou me olhando em silêncio por algum tempo até dizer:

- É o que você quer? – Perguntou seriamente.

- Sim, não tem problema.

Uraraka sorriu largo para mim.

Já Kacchan, continuou me encarando, sério. Então, lançou um olhar breve a Kirishima antes de voltar a me encarar.

- Tá, cê que sabe, então. – Deu de ombros. - Me avisa quando chegar em casa.

- Você é o pai dele, por acaso? – Kirishima riu, arrancando uma risada de Uraraka – que tampou a boca para tentar contê-la -, mas não houve qualquer alteração no rosto sério do loiro. – Não vou levar o garoto pra um motel, tá? Relaxa aí.

- Só cala a porra da boca, Kirishima. – Katsuki estalou a língua no céu da boca, envolvendo os ombros estreitos da menina com seu braço. - Tá, vamos. – Disse para a Ochako, mas me olhou por uma última vez. Havia algo estranho em seu olhar. Talvez ele não se sentisse confortável em botar tal responsabilidade sobre Kirishima, mas por quê? Eles são amigos, não é como se eu estivesse indo pra casa com um estranho. Kirishima tem razão, Kacchan às vezes realmente me trata como se fosse meu pai ou um irmão mais velho e isso me irrita demais. Eu pareço tão frágil e inofensivo assim? – E não esquece de avisar quando chegar, Deku.

Revirei os olhos, mas concordei com a cabeça.

- Vejo vocês na escola! – Uraraka sorriu, acenando animadamente enquanto se distanciavam. Katsuki nem olhou pra trás. Ainda parecia um pouco irritado.

- Até amanhã! – Kirishima retribuiu o gesto, e eu só fiz um aceno leve com a cabeça e abri um sorriso pequeno para ela. Quando eles desapareceram do nosso campo de visão, o ruivo, ainda com o braço em meus ombros, se permitiu rir. – Tu viu como ele tava bravo? Achei que ia descolar a minha cabeça do pescoço, cara.

- É... mas eu não tiro a razão dele. Eu também teria ficado preocupado no lugar dele.

Algumas pessoas olhavam estranho para Kirishima e para mim, provavelmente confusas pela repentina intimidade que estávamos apresentando, mas eu não ligava. Como já disse, estou acostumado com olhares tortos.

- Porra, e bota preocupado nisso... – Soltou uma risada. – Ele parecia ser o teu irmão mais velho, mano, e olha que já falei com vários irmãos mais velhos de peguetes meus e nem eles me encararam assim.

- Ele... – Abaixei a cabeça. – Hoje ele me falou que me vê como um irmão. Acho que é por isso que ele tem esse lado meio superprotetor, sei lá...

- Nossa, eu posso sentir a tua alma deixando seu corpo enquanto cê fala isso. – Riu. – Sério que ele disse isso? Cê deve ter se sentido um merda.

Suspirei, desviando o olhar.

Kirishima, de fato, não tem cuidado com as palavras.

- Bem, agora tá explicado. Sempre estranhei toda essa proteção dele com você, chegando até a bater nos outros. – Soltou uma risada, balançando a cabeça. - Então você é tipo um irmãozinho pra ele, ownt. – Apoiou a mão sobre minha cabeça, afagando meus cabelos como se me consolasse, mas fazia isso de um jeito totalmente debochado. Fitei-o com tédio. – Me pergunto qual seria a cara dele se eu tivesse dito que tava quase te engolindo lá atrás. Ah, eu gostaria de ter visto isso...

Dei-lhe um soco fraco no peito e ele riu.

- Se você tivesse feito isso, eu acabava com você.

- Sei. E por quanto tempo mais tu pretende pagar de hétero, hm?

- Eu não pago de hétero, ele que simplesmente tirou de algum lugar da cabeça dele que eu sou. – Revirei os olhos, suspirando.

- É, mas você também não negou, né?

Bufei.

- Tô cansado dessa merda... – Murmurei para mais para mim mesmo do que para ele.

- O cara tem as melhores estratégias na quadra e as melhores notas na sala... às vezes não entendo como alguém tão inteligente consegue ser tão lerdo. – Fez uma pausa. – Eu nem convivo contigo e já saquei tudo. – Disse com um ar orgulhoso, abrindo seu famoso sorriso de tubarão.

Nada respondi, pois eu também me perguntava a mesma coisa. Entendo, então, que se o Katsuki não percebe algo que parece tão óbvio para todo mundo, talvez deva ser porque ele não presta a mínima atenção em mim de verdade. Ou simplesmente não quer tentar prestar atenção, porque talvez acreditar que eu sou hétero seja mais confortável do que pensar no contrário.

Suspirei.

Começamos a caminhar para longe da festa e, em vez de entrarmos na casa para sair pela porta de frente, optamos por dar a volta pelo quintal, o que eu agradeci internamente.

- Você sabe que vai ter que mandar a real pra ele, né? – Kirishima comentou enquanto pedia o Uber no celular, após me perguntar o meu endereço. – Tipo, uma hora ele vai me ver com a língua na tua boca, então é melhor tu falar de uma vez.

Como assim?

Então...

Tipo, o Kirishima meio que...

Quer continuar ficando comigo?

Comigo?

Hã?

Digo, eu sei que a gente ficou e tal... mas achei que seria só coisa de momento para ele. Não estava contando com algo a mais.

Corei.

Optei por esconder meu choque diante da sua fala e apenas dizer:

- Sim... sim, eu sei. – Assenti com a cabeça. - Eu vou falar.

Quando eu dei aquela resposta, eu não tinha de fato processado as minhas palavras.

E, no caminho até minha casa, enquanto eu fitava a paisagem urbana e sem graça através da janela do carro, com Kirishima vez ou outra comentando algumas coisas idiotas ao meu lado, o peso da minha resposta finalmente caiu sobre mim.

Eu realmente vou falar pro Kacchan que sou gay?

 

~*~

 

Os ponteiros do relógio em cima da lousa definitivamente estavam demorando mais do que o normal para passar.

Hoje, eu acordei ansioso. Tomei banho ansioso. Tomei meu café da manhã ansioso. Fui pra escola ansioso. Assisti toda a aula ansioso. E, a cada minuto, ficava cada vez mais ansioso.

O nervosismo me corroía, mas não me sentia nervoso por medo da reação dele – por mais que não soubesse exatamente qual seria -, mas porque eu finalmente tiraria aquele peso dos meus ombros. Não parecia real. Ao mesmo em que eu estava ansioso para que eu pudesse lhe dizer aquelas palavras de uma vez, eu também não queria que esse momento chegasse. Não por medo, mas porque eu vivi tanto tempo conformado e acomodado nessa realidade que, agora, é estranho imaginá-la finalmente chegando ao fim. Talvez com um certo receio de quebrar a bolha em que eu vivia, no entanto, mais do que tudo, me sentia muito mais ansioso para estourar essa bolha de uma vez.

O que me fez nunca me abrir por completo com Kacchan foi o medo da rejeição. Não o medo da rejeição completa, mas, sim, a rejeição vedada. O medo de perder as pequenas coisas. Por mais sutil que essa rejeição fosse, eu tinha medo. Não queria que ele me tratasse como trata seus colegas de time. Queria que ele me abraçasse pelos ombros e andasse comigo pelos corredores da escola com orgulho, como ele sempre fez, independente se pensa que sou hétero ou não.

Contar algo assim a ele, ainda que pareça ser um tanto insignificante, faz parte de quem eu sou. Não é como saber que tipo de música eu gosto ou que tipo de filme eu assisto, é uma parte essencial de mim. A parte que ele precisa saber para me conhecer de verdade. Como podemos dizer que somos melhores amigos se ele nem ao menos sabe quem eu sou de verdade? Como se ele falasse que gosta de praia, mas só tivesse pisado na beira da água e nunca tivesse de fato mergulhado no oceano. Como se ele falasse que gosta de cinema, mas sempre só assistisse os comerciais antes do filme começar e dormisse pelo resto da sessão, até as luzes se acenderem.

Ele precisa saber. Ele precisa saber, porque, só assim, poderemos ser amigos de verdade.

E, sim, eu quero a amizade dele. Ele é uma pessoa especial que eu quero na minha vida, ainda que não seja da forma ideal que eu desejaria. Apesar da dor de vê-lo com alguém e de saber plenamente que permanecer perto disso me machucará, eu sei que, um dia, eu irei superar. Ou talvez eu sempre sinta meu coração palpitando um pouco mais rápido por ele, mesmo que eu namore alguém. Eu só sei que, independente dos meus sentimentos por ele, sua amizade continua sendo uma luz na minha vida, e isso eu não quero perder.

Sei que não poderemos ter a mesma amizade de antes, mas tudo bem. Eu posso me conformar com isso. Se eu posso me conformar com o fato de nunca poder sequer provar do seu beijo uma única vez, eu posso me conformar com o fato de que há mais pessoas importantes na sua vida além de mim, pessoas que irão ocupar uma posição muito mais importante que eu. E tudo bem, eu posso aceitar isso, contanto que ele também não seja um dos únicos ocupando uma posição importante na minha vida.

E a ideia de contar para ele sobre quem eu sou não me aterroriza. Não mais. Não como eu provavelmente estaria se fosse há apenas poucas semanas atrás, antes dele conhecer a Uraraka. Se antes eu tinha medo de que ele deixasse de colocar o braço em meus ombros ou de me emprestar sua jaqueta porque sou gay, agora esse medo não existe mais.

Porque eu já perdi tudo isso.

Já perdi essas pequenas coisas.

Agora, é Uraraka quem as têm.

Não faz mais sentido guardar esse segredo para mim, quando não tenho mais nada a perder.

O que eu tinha medo de perder, já perdi.

Eu mordia a ponta do meu dedão em pura ansiedade, meu pé chacoalhando abaixo da minha carteira.

Meu estômago embrulhava a cada centímetro que o ponteiro do relógio se aproximava do número doze.

E, quando o sinal do fim do dia ecoou, eu continuei paralisado na cadeira, observando todos saindo da sala.

Fugi de Katsuki durante o intervalo, pois eu passei o dia todo tão pilhado para lhe contar a verdade que eu sabia que, se eu o visse, eu estaria tão nervoso para lhe contar tudo logo que, na primeira pergunta que ele provavelmente me faria ao notar minha ansiedade suspeita, eu não conseguiria disfarçar e ficaria com a língua coçando para falar tudo logo, e não queria fazer isso correndo o risco de ter Uraraka e mais várias pessoas por perto. Preferi, então, dar uma caminhada por aí para acalmar os ânimos. Decidi esperar pelo final das aulas.

 

[Kiri]: vamos sair dps do meu treino ok?

 

Abri um sorriso singelo ao ler aquela mensagem. Kirishima e eu havíamos trocado nossos números quando o Uber parou na minha casa antes de levá-lo a dele. Quando nos despedimos e eu abri a porta do carro, ele me puxou pelo braço e me roubou um selinho, gargalhando ao me ver corar e ficar sem reação.

Quando entrei na minha casa, imediatamente recebi uma mensagem dele e começamos a conversar. Só lembrei de avisar ao Kacchan que cheguei em casa quando ele mesmo me enviou mensagem perguntando. Respondi um sim seco e ele perguntou como eu estava, se eu tinha sentido mais algum enjôo...

Não consegui mentir, então apenas não respondi. E ele não insistiu.

Apesar dos pesares, estou feliz, na medida do possível. Jamais imaginaria que, do dia pra noite, tudo mudaria. Ontem eu estava tão mal e, de alguma forma, esse ontem parece que foi há muito tempo atrás. Não que de repente esteja tudo bem, aquela angústia ainda habita em mim, mas, pelo menos, não está mais insuportável. Eu gosto do Kirishima, ele é legal e divertido, por mais que fale umas merdas de vez em quando. Não que eu projete nele uma imagem de possível namorado, até porque eu não sei se conseguiria vê-lo dessa forma, mas eu gosto da ideia de ficar com ele. Eu realmente estou ansioso para sair com ele e me distrair um pouco, que nem eu me distraí ontem.

Foi como se, milagrosamente, ele tivesse caído do céu para me salvar.

 

[Izuku]: Vamos sim

 

[Kiri]: aaaaa ótimo

[Kiri]: to ansioso p te ver gatinho

 

Ri, jogando minha mochila nas costas e saindo da sala.

É bom se sentir desejado. Nunca recebi mensagens assim e, independente  de quem me envia essas mensagens, meu peito aquece, só porque é bom sentir que alguém quer estar com você e beijar com você, ainda que de forma casual. Nunca vivi algo assim e definitivamente estava gostando da sensação.

 

[Kiri]: ent acho melhor contar pro bakugo logo

[Kiri]: ontem eu livrei a tua barra, mas n costumo ter papas na língua ;)

 

[Izuku]: Eu vou contar

 

De certa forma, eu estava agradecido. Se não fosse pelo Kirishima, não sei por quanto tempo mais eu continuaria prolongando isso. Provavelmente, eu chegaria num ponto de exaustão que, quando Kacchan tentasse me empurrar para alguma menina, eu acabaria virando um pote de purpurina na cara dele enquanto gritaria um EU SOU VIADO, MEU AMOOOOOOR!

 

[Kiri]: so cuidado p n falar demais e acabar soltando q ce ta todo xonadinho  nele ne

[Kiri]: se bem q eu gostaria de ver o circo pegando fogo :D

 

[Izuku]: KKKKKKKKKKKK

[Izuku]: Ridículo

 

Fui para a sala de artes. Eu só queria encontrar com Kacchan se fosse para botar as cartas na mesa logo – motivo pelo qual fugi dele durante o intervalo também. Eu não queria falar com ele antes do treino por N motivos, preferia que conversássemos depois, com calma, e eu não queria ficar lá assistindo o treino deles enquanto batia o pé de ansiedade, não queria jogar conversa fora e fingir que nada estava acontecendo até o treino terminar. Portanto, preferi passar o tempo na sala de artes e só depois iria lá.

 

[Kacchan]: deku

[Kacchan]: tamo de boa ne?

[Kacchan]: fui te procurar na sala de artes no intervalo hj e n te achei

[Kacchan]: tu n veio p escola??

 

Li as mensagens dele enquanto organizava meus materiais diante do cavalete, cumprimentando um ou outro que já estavam pintando ali. Uraraka, como sempre, não vinha mais à sala de artes. Agora, ela só ia assistir aos treinos de Kacchan. Início de relação e tudo, entendo a empolgação dela, principalmente considerando os sentimentos de anos que ela nutre por ela... no entanto, não posso evitar de me irritar. Ela parece um chiclete grudado no sapato dele, fala sério!

 

[Kacchan]: vc me deixou no vácuo ontem

 

Ele se referia às mensagens dele me perguntando se eu estava melhor – já que Kirishima inventou que eu passei mal durante a festa – e eu preferi ignorar. Afinal, o que eu responderia? Eu não passei mal, não queria ficar sustentando tal mentira. E eu esclareceria tudo hoje, quando fosse conversar com ele pessoalmente.

 

[Kacchan]: vc ficou bolado por eu n ter te dado carona????

[Kacchan]: eu insisti pra te levar mas vc n quis, achei q ia pegar mal se eu ficasse pressionando

 

Quando eu pensava na resposta para uma mensagem, ele já vinha mandando várias seguidas.

 

[Kacchan]: kirishima n tentou nada, né?

 

E aquela mensagem, em específico, me fez arquear a sobrancelha.

Como assim? O que ele quis dizer com tentar?

Será que Kirishima contou algo sobre nós dois...?

 

[Izuku]: Kacchan, dsclp pelo vácuo e pelo sumiço hj

[Izuku]: É que eu queria falar ctg pessoalmente, ent achei melhor esperar

 

[Kacchan]: porra eh essa deku

[Kacchan]: q papo estranho eh esse cara?????

[Kacchan]: kirishima fez alguma coisa com vc?

 

Arregalei os olhos. Por que ele estava perguntando isso?

 

[Kacchan]: responde caralho

[Kacchan]: pq vc quer conversar pessoalmente??? pq n pode falar por aq logo?

[Kacchan]: oq aconteceu?

[Kacchan]: vc ta em casa?????

[Kacchan]: to indo p ai

 

Ai, meu Deus. Talvez eu não devesse ter dito nada, agora ele vai ficar todo ansioso e pensando um monte de coisa! Bem, eu achei que fosse melhor dar algum sinal de vida para ele não ficar com a consciência pesada achando que eu estava chateado ou algo do tipo. Porém, não há chances de eu simplesmente mandar uma mensagem dizendo: eu sou gay, ok? G-A-Y. Eu gosto de pinto. P-I-N-T-O. Inclusive enfiei a língua na boca do teu amigo ontem.

 

[Izuku]: Kacchan, tá tudo bem, juro!!

[Izuku]: Oq eu preciso falar não é nada grave ou sério, só q é importante

[Izuku]: Quero dizer, nem sei se chega a ser importante assim....... mas enfim, n quero falar por mensagem

 

[Kacchan]: tem a ver com a uraraka??

 

Nossa, que vontade de mandar tomar no cu.

 

[Izuku]: Não... é sobre mim.

[Izuku]: Não tem a ver com ninguém, só comigo

 

Bem, o fato de eu ter pegado o Kirishima é uma informação bônus, mas, de fato, isso só tem a ver comigo mesmo.

 

[Izuku]: Não se preocupe

 

[Kacchan]: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

[Kacchan]: faz o maior suspense e ainda diz p eu n me preocupar vtmnc

[Kacchan]: fdp

 

[Izuku]: Fica calmo ok?? E eu n tô em casa, eu tô na sala de artes

[Izuku]: Faz o seu treino, ok? Eu vou aparecer aí quando terminar

 

O “digitando” abaixo do contato de Kacchan parecia eterno. Ele digitava, parava, digitava e parava. Achei que sairia um textão dali, mas o que recebi foi:

 

[Kacchan]: ok

[Kacchan]: apareça

 

Por mais que mensagens não tenham entonação, eu podia sentir o tom de ordem ali. E podia facilmente imaginá-lo com o cenho franzido e maxilar trincado antes de bloquear a tela do celular, voltando-se aos colegas de time para iniciar a partida.

Mordi o lábio inferior, a ansiedade que senti o dia inteiro voltando com força.

Ao sentar diante do meu cavalete, fiquei encarando minha tela inacabada com o pincel estático em minha mão, meu rosto paralisado e minhas pálpebras mal mexiam.

Eu realmente iria contar ao Kacchan que eu sou gay...?

Por mais que eu tenha plena consciência de que ele não é um babaca que vai me escorraçar, ainda assim, o nervosismo é inevitável.

É como se você tivesse estudado muito para uma prova, mas, mesmo assim, sentisse o corpo gelado segundos antes de entrar na sala para fazê-la. Você sabe que estudou, sabe que vai se sair bem, mas então por que se sente tão nervoso...?

Era como eu me sentia.

Eu não sabia pelo que esperar. O que ele diria...? Será que acharia engraçado? Ele arregalaria os olhos, chocado? Ou ele reagiria comigo tal como reagiu quando Kirishima saiu do armário? Ele simplesmente ligaria o foda-se...?

Suspirei, deixando a cabeça cair para frente.

Tudo bem, Izuku. Tudo bem.

Você sabe que não tem mais nada a perder.

 

~*~

 

Eu não sei quantas vezes tive que respirar fundo até a quadra. Minhas pernas vacilavam, às vezes eu achava que elas adormeceram e só seguiam os comandos automáticos do meu cérebro.

Levei o dobro do tempo para chegar lá, tudo porque andei por todo o caminho em passos de formiga.

Quando a construção da imensa quadra de basquete se ergueu diante dos meus olhos, lá estava Kacchan, sozinho, no meio daquele espaço enorme, quicando a bola despretensiosamente e tentando fazer algumas cestas, aparentemente só para passar o tempo. Nunca tinha visto a quadra daquele jeito, totalmente solitária. Ela parecia ainda maior agora, mas não menos intimidadora.

Meu peito apertou quando o vi lá sozinho. Já tinha bolado mil cenários diferentes na minha cabeça do que eu diria quando chegasse e ele estivesse rodeado de gente, então senti certo alívio por essa barreira já ter sido ultrapassada. No entanto, não me senti aliviado o suficiente para estabilizar minhas pernas ou os batimentos do meu coração. O nervosismo permanecia igual.

Respirei fundo e, ao enfim pisar naquele chão tão bem polido, ergui a cabeça para encará-lo com um sorriso amarelo, tentando passar normalidade. Deixei minha mochila encostada perto da estrutura que segura o aro.

- É d-diferente... – Pigarreei quando a fala saiu meio arranhada da minha garganta. Ele me fitou, mas não deixou de quicar a boca no chão, continuando a arremessá-la em direção a cesta – não sendo uma surpresa ao acertar quase todas as vezes. – É diferente estar nessa quadra assim, vazia... – Olhei em volta por um segundo. Minha voz ecoava dentro daquele lugar, por mais que eu estivesse falando baixo. – É legal. Nunca vim aqui assim.

- É porque você demorou. Todos estão no vestiário. – Respondeu ao se virar em minha direção. – Pensa rápido. – Ele fez menção de tacar a bola para mim e eu me desesperei, me protegendo rapidamente com ambos os braços. Logo, a risada dele ecoou pelo lugar e eu bufei, me sentindo patético.

- Você é tão hilário e original quanto um menino da quinta série. – Disse ao me desarmar, voltando à posição normal. Encarando-o se contorcendo de rir daquele jeito, não pude evitar, acabei rindo também, o que, de certa forma, me ajudou a ficar menos tenso. – Idiota. Você podia ter ido tomar banho com os outros, sabe? Não precisava ter ficado me esperando aí...

- Tudo bem, eu gosto. – Ele se exibiu ao girar a bola num único dedo, equilibrando-a. Sempre quis fazer isso, mas nunca consegui. Ele, por outro lado, faz como se fosse tão fácil como pular amarelinha.

- Cadê a Uraraka? Você falou ontem que vocês iam sair hoje, depois da aula.

- Nós vamos. Ela quis ir no banheiro trocar de roupa, e foi com as amigas. Então, sabe como é, ela vai demorar. – Rimos juntos.

O silêncio se instalou entre nós, só sendo quebrado pelo som límpido e alto da bola pesada quicando no chão. E, devido a toda quietude do ambiente, o som ecoava alto como se estivesse sendo amplificado por um microfone. Engoli em seco, escondendo as mãos dentro dos bolsos do meu casaco preto – com alguns detalhes em azul, verde, vermelho e branco.

Merda.

Como eu ia entrar no assunto?

Abaixei a cabeça, mordendo o lábio inferior.

Meus dedos se contorciam dentro dos bolsos, fora do alcance da visão dele.

Eu não sei ser forte o suficiente para soltar um “ei, cara, o dia tá bonito, né? Eu sou gay”.

Ai, Kirishima. Às vezes eu admiro a sua cara de pau.

- A gente devia aproveitar que a quadra tá vazia pra eu te ensinar a fazer umas cestas. – Kacchan disse de repente, e eu estava tão tenso pensando no que dizer que acabei me sobressaltando um pouco com sua fala repentina. Ele, felizmente, não notou, pois estava focado na bola no momento. - Você nunca quer por causa do time, mas o time não tá aqui agora. Na real, a gente sempre pode ficar um pouco depois do horário, se tu quiser.

Ah, claro. Como se você tivesse tempo para mim.

Ele passou a se aproximar, andando normalmente até mim enquanto quicava a bola. Abri um sorriso mínimo e levantei as mãos, indicando para ele jogá-la para mim, todavia, quando ele já estava relativamente próximo e fez menção de me entregar, Kacchan parou. 

– Mas antes você tem uma coisa pra me falar, não é?

Arregalei levemente os olhos, um riso forçado e nervoso escapando da minha boca.

Cocei a nuca com a mão.

Merda, é agora.

E eu já tinha avisado pra ele que eu tinha algo importante pra dizer, ou seja, não podia mais andar pra trás.

- Então... hm... – Eu ria em puro nervosismo e ansiedade, meu Deus. O que eu faço, o que eu faço? Nunca me senti assim antes.

Parecia que eu estava contra a parede, como se estivesse sendo interrogado agressivamente por um policial, quando, na verdade, tudo estava até que bem tranquilo. Só dentro de mim que não estava.

- Kacchan... hm, eu-

- Tem a ver com o Kirishima, né?

Arregalei os olhos.

Ele me encarava, sério.

- Vocês sumiram na festa ontem. De primeira, eu até me deixei levar por aquele teatro tosco de Izuku passou mal e eu quis ajudar, mas, depois que eu deixei a Uraraka em casa e fui pra minha, fiquei encarando a porra do nada pensando nessa merda e simplesmente percebi que isso não tinha caralho de sentido nenhum. – Tremi dos pés à cabeça. Porra. Porra. Porra. Porra. Porra, porra, porra, porra! - Eu conheço o merdinha do Kirishima, ele não é do tipo que paga de bom moço. Ele tava mais sorridente do que o normal hoje e, por algum motivo, fiquei com muita vontade de socar a cara dele. – Largou a bola, por fim, cruzando os braços.

O som da bola quicando sozinha aos poucos se tornando distante até cessar por completo.

Ele avançou um passo e, por mais que não estivesse tão perto, eu me sentia intimidado como se o nariz dele estivesse batendo na minha testa.

– Eu sei que ele tem interesse em você e não é de hoje, ele já deixou isso claro pra mim algumas vezes. – Arregalei os olhos, surpreso com aquela informação. Kirishima já tinha falado isso pro Kacchan...? Como? Quando? Por que Kacchan não me contou? - Então, me fala. Ele te tocou? – Diante do meu silêncio, seu olhar sério tomou um brilho sombrio. Engoli em seco, enroscando meus dedos no tecido do casaco. Seu maxilar trincou e seus músculos tensionaram. – Vou reformular a pergunta. Ele abusou de você?

Arregalei os olhos.

Por que ele estava dizendo todas essas coisas...?

- N-não! Não, Kacchan. Claro que não. – Respondi imediatamente, abandonando as mãos exasperadamente em negação. - Eu te disse que não tem nada a ver com ninguém, é um assunto meu. – Eu estava chocado com aquelas perguntas. Por que ele acharia algo assim? Por que ele pensaria que Kirishima abusou de mim? – Como pode dizer isso? Você não confia ele? Vocês são amigos.

- É, somos amigos. Aquele bosta serve pra ser amigo. Mas só isso. – Meus olhos se tornaram ainda maiores. – Ele é escroto pra caralho com as pessoas que ele fica, mas cê sabe disso, eu já te contei. – Sim, Kacchan já comentou sobre isso algumas vezes enquanto jogávamos conversa fora, mas não realmente se aprofundou em muitos detalhes. Eu sei da fama do Kirishima de pegador supremo, que ele é meio insensível e tudo mais, mas isso não me incomoda de fato, afinal, não é como se eu pretendesse ter algo sério com ele. - Ele sabe o que fazer e como fazer, fala o que sabe que vai agradar. Mas, na real, ele só quer comer e vazar. – Bocejou, desfazendo a pose tensa ao botar as mãos na cintura. – Ele pode ser bem podre às vezes. Já vi ele agarrando uma mina a força uma vez, em uma festa. Ele disse que ela queria, porque ela não tava relutando... mas, porra, qualquer um podia ver que a guria tava bêbada pra um caralho. – Riu em escárnio, revirando os olhos ao se lembrar. - Eu quase saí na porrada com ele naquele dia. A gente brigou feio. Gosto do Kirishima e tal, mas... é, não confio nele. – De repente, voltou seu olhar sério para mim. Engoli em seco, me sentindo ainda mais nervoso do que antes. - Enfim... não sei por que eu tô te dizendo tudo isso, não é como se você fosse ficar com ele. Você é hétero. – Soltou uma risada, cruzando os braços de novo. Retribuí com um riso forçado, sentindo o suor descendo frio pela minha têmpora. – Tá, se ele não tentou nada contigo, então o que aconteceu? Porque aquele papinho escroto que ele tentou jogar pra cima de mim não colou e-

- A gente ficou. – Disparei de uma vez.

E, à medida que os segundos passavam e meus olhos se esbugalhavam, eu me dava conta do que tinha escapado da minha boca.

Foi mais forte do que eu, foi automático, eu não tive controle algum sobre. Como se, em pânico, meu próprio cérebro tivesse me obrigado a dizer de uma vez, antes que o nervosismo me consumisse a ponto de perder a coragem e inventar outra coisa para escapar daquela situação.

Meus olhos só não estavam tão arregalados quanto os de Kacchan.

Ele me olhava como se eu fosse um fantasma. Eu também sou um fantasma para o restante do colégio, ninguém me enxerga. Kacchan, por outro lado, estava me enxergando. Me enxergando totalmente, sem piscar, com os olhos totalmente em choque, quase saltando das órbitas para tornarem-se duas bolas quicando pelo chão da quadra. Suas pálpebras estavam congeladas, tal como todos os músculos do seu corpo. Eu diria até que seu rosto perdera a cor. Como se eu fosse, de fato, um fantasma.

O fantasma que todos decidiram ignorar, enquanto ele via pela primeira vez.

Engoli em seco e quase cedi a vontade de abaixar a cabeça por um segundo.

Porra, porra, caralho, caralho!

Eu tremia tanto que temia perder a força nas pernas e desabar no chão.

- A gente... a-a gente ficou. Eu e o Kirishima. Nós ficamos. – Repeti, porque ele me olhava como se estivesse esperando que eu dissesse que era uma brincadeira. Mordi o lábio inferior e, nervoso, mas sem desviar do contato visual, abracei meu próprio corpo. – Porque eu sou gay, Kacchan. – Pronto. Já foi. Agora não tem mais volta. - Eu também nunca fiquei com uma menina, só tinha te dito aquilo porque não queria que você suspeitasse, então... é isso. É isso o que eu queria te falar. Na verdade, essa é a primeira vez que eu conto isso a alguém. – Não aguentei mais sustentar seu olhar pesado. Tive que abaixar a cabeça, fitando meus próprios pés. Minhas pernas ainda tremiam, assim como cada pedaço do meu corpo.

Pisquei meus olhos repetidas vezes, como se para tentar me puxar para a realidade. A realidade que me dizia: sim, Izuku. Você realmente está fazendo isso. Você está, finalmente, contando ao Kacchan sobre quem você é de verdade.

Por que tinha que ser tão difícil? Por que os héteros não tem que chegar nas pessoas para contar que são héteros? Por que eu me sentia como se estivesse revelando que cometi um crime...?

Que merda. Que merda do caralho.

- Desculpa... eu sei que você não deve estar entendendo nada. Deve estar se perguntando por que simplesmente não te contei antes. – Continuei, entrando em desesperado diante do seu silêncio cortante, ainda encarando meu par de tênis azul surrado e desgastado. – Eu sei que eu devia ter contado antes, mas... não consegui. Sei lá, eu... eu t-tive medo. – Mordi o lábio e, com receio, porém curioso, levantei a cabeça para fitá-lo novamente. Seu rosto, agora, não tinha qualquer expressão. Ele não estava chocado como antes, irritado e muito menos achando graça... estava apenas ali, me encarando sério. – Fala alguma coisa, por favor. – Troquei o peso de um pé para o outro enquanto passava a mão pela minha nuca, um sorriso amarelo tremendo em meus lábios.

- Medo de quê? De que você teve medo, Deku? – Katsuki franziu o cenho, um sorriso desacreditado no rosto. – O que você achou que eu ia fazer? Que eu ia ficar puto? Que eu ia explodir e apontar o dedo na tua cara, gritando pra cê parar de ser bichola?! – Arregalei os olhos. – Que eu ia te bater ou colar um papel com chute esse viadinho nas tuas costas, porra? Era o que tu achou que eu ia fazer?!

Envergonhado, abaixei a cabeça, enroscando meus dedos uns nos outros.

Você não entende, Kacchan.

E nem vai entender.

Porque eu não posso te falar que a razão de tudo isso, a razão de todo o meu medo...

Era só única e exclusivamente porque eu gosto pra caralho de você.

- Tu realmente acha que eu sou minimamente parecido com os vermes que vivem nessa porra de escola, Deku?! É o que tu pensa de mim?! – Não, não, não! Meu Deus, ele está interpretando de uma forma totalmente errada! - Dias atrás cê me perguntou se somos melhores amigos e eu te devolvo essa mesma pergunta agora. Somos melhores amigos ou não, caralho? Alguma vez eu te dei motivo pra tu pensar que eu sou um homofóbico de merda, porra?!

Felizmente, a quadra é grande e o vestiário não é tão perto. Graças a isso, não corria o risco de sermos escutados. No entanto, eu nem estava me preocupando com isso no momento.

A única coisa que eu queria era que ele me escutasse, e me entendesse.

Não o culpo, afinal, ele não sabe os meus motivos, não sabe o que se passa pela minha cabeça. Eu posso imaginar como ele se sente. Somos amigos por tanto tempo e, se eu estivesse no lugar dele, provavelmente também ficaria chocado e, talvez, assim como ele, também me sentiria ofendido com o pensamento de que meu melhor amigo não confia em mim.

No entanto, assim como eu o entendo, eu também preciso que ele me entenda.

Porque eu, mais do que qualquer coisa, só preciso do apoio dele agora.

Só preciso sair dessa quadra com a confirmação de que tudo está bem entre nós.

- Kacchan, pelo amor de Deus, não! Não tem nada a ver com isso! – Avancei até ele, segurando ambos os seus braços com as minhas mãos fortemente. Ele teve que abaixar um pouco a cabeça para me encarar, seus lábios apertados em uma linha reta. Meus olhos corriam desesperados pelo seu rosto, perdidos, à procura de algo para me segurar. – Eu só... porra, nunca duvidei da pessoa incrível que você é.

Eu tentei, juro que tentei. Repeti mil vezes para mim mesmo que não iria chorar. Porém, naquele momento, meus olhos começaram a arder e eu tive que respirar fundo.

– Mas você tem que entender... que eu não sou você. Minha vida não é como a sua. As pessoas não me respeitam como respeitam a você. – E as lágrimas, silenciosas, enfim fugiram. – Eu ando por aí com o medo constante de que alguém pode me puxar pelo braço e simplesmente me bater dentro de um armário de limpeza. E eu tenho certeza que isso só não acontece por sua causa, porque eu tenho você. E você não sabe como eu odeio a sensação de não ser ninguém sem você por perto. – Minhas unhas, inconscientemente, se afundaram na pele dos seus braços.

Meus lábios tremiam e eu não sabia mais se eram os meus óculos que estavam ficando embaçados ou se simplesmente eram as lágrimas. Seus olhos corriam pelo meu rosto, suas sobrancelhas tremiam levemente. Sim, eu reconhecia aquele olhar.

O olhar de pena.

Apertei os lábios, meu maxilar oscilando sem parar.

– Então, sim, eu tive medo. Tive medo que, de alguma forma, você pudesse mudar comigo, mesmo que sem querer. Me desculpa por ter demorado tanto tempo pra te contar isso, sei que você deve estar se sentindo traído, mas, por favor, você tem que entend-

De repente, seu corpo seu chocou contra o meu em um baque alto. Seus braços fortes quase quebraram minhas costelas ao envolverem meu corpo pequeno naquele abraço predatório de urso, me apertando contra si com toda a força, tanta que quase me vi sem ar - mas não era ruim, de forma alguma.

É raro quando nos abraçamos. Digo, abraços de verdade.

Um abraço como aquele, que ele me dava naquele exato momento, porém...

Era a primeira vez.

Eu me agarrei desesperadamente às suas costas, minhas mãos apertando o tecido fino da sua regata suada com tanta força que eu poderia facilmente rasgá-la, mas isso não era importante para nenhum de nós.

Afundei o rosto em seu ombro largo ao mesmo tempo em que ele mergulhava o seu na curvatura do meu pescoço. Estávamos presos tão forte um ao outro, tão... tão juntos. Eu podia sentir a força daquele abraço desde a ponta dos seus dedos em minhas costas até seu nariz que pressionava minha pele bem fundo.

- Eu sei, eu sei, Deku... eu sei, eu te entendo... eu entendo, eu entendo tudo... – Ele murmurava sem parar, acho que quase como um mantra sagrado para me acalmar. – Porra, me desculpa por ter surtado daquele jeito... é que... sei lá, me senti um idiota, mas não por sua causa... me senti um burro do caralho por não ter percebido antes. E acabei descontando minha raiva de mim mesmo em você. - Meus olhos ainda estavam cheios de água, mas eu engoli todo o bolo angustiante que se formara na minha garganta, porque eu não queria desabar na frente dele. – Você tem todos os motivos pra sentir medo. Eu nem consigo imaginar o quanto deve ter sido difícil pra você vir e contar isso pra mim, então... obrigado. – Apertei meus olhos com força, tentando conter as lágrimas. Eu tremia tanto, tanto e, a cada vez que um soluçar escapava de mim, por mais mínimo que fosse, Kacchan me apertava mais forte...

Aquele momento era quase um sonho. Não, na verdade, era como se eu tivesse morrido e ido para o paraíso.

Estávamos naquela quadra, sozinhos. Sem ninguém para nos olhar ou cochichar sobre nós. Sem Uraraka para nos atrapalhar. Sem o mundo para nos ver.

Éramos só Kacchan e eu ali, nos abraçando como se dependêssemos disso para viver – ao menos, era como eu me sentia. Como se fôssemos as únicas pessoas no mundo, como se ninguém mais pudesse entrar naquela quadra. Como se o mundo fora daqueles paredes não pudesse nos alcançar.

Agora, com meu peito leve, depois de falar aquilo que sempre esteve tão entalado dentro de mim, enraizado no meu âmago e me devorando aos poucos, sem que eu percebesse.

Era inacreditável.

Inacreditavelmente bom.

Inacreditavelmente libertador.

Eu me sentia vivo, como se até então eu estivesse dentro de um casulo e não sabia.

Era engraçado, porque não era como se eu tivesse pegado um megafone e gritado pro universo inteiro me ouvir. Eu só tinha dito pra Kacchan, e já parecia ser o suficiente.

Se eu soubesse que me sentiria tão livre assim, eu não teria adiado tanto esse momento.

Se eu soubesse que ele me abraçaria tão forte, eu teria contado no primeiro segundo que nos conhecêssemos.

Ah, eu só queria que ficássemos ali, nos abraçando, só ele e eu, para todo o sempre.

- E desculpa por te fazer sentir toda essa pressão... essa pressão escrota, como se você fosse obrigado a me contar isso... não deveria ser assim. – Sua voz rouca saía completamente abafada contra o meu pescoço, fazendo minha pele formigar e arrepiar por sentir cada mínimo movimento que seus lábios faziam ao se mover sobre ela, sua respiração causando pequenas cócegas em mim. E, por ele estar quase sussurrando, sua voz se tornava mais rouca do que o habitual, soando quase como uma canção bonita e tranquila. Fechei os olhos, suspirando baixinho, só desejando curtir aquele momento. Eu não precisava das desculpas dele, não precisava de nada... só queria ele. - Porra, agora tô sentindo uma vontade do caralho de me socar pelas vezes que tentei empurrar uma mina pra você... – Soltei uma risadinha divertida e, ainda com o rosto colado em seu ombro e meus braços o mantendo firme contra mim, tirei meus óculos por um momento, limpando as lentes embaçadas rapidamente no tecido da sua camisa antes de encaixar no rosto novamente. – Eu senti isso aí, hein.

Ri do seu comentário bobo, enxugando uma última lágrima com meu dedo indicador.

Tudo bem. Está tudo bem agora.

Sua amizade vale mais para mim do que qualquer coisa, Kacchan.

Minha vontade de te beijar não se iguala a vontade que eu tenho de só te ter por perto, sendo como um amigo ou não. Eu só quero que estejamos juntos, independente de qual forma seja.

Porque eu te amo. Como um amigo, como homem e como ser humano.

Ele deixou escapar uma risada também e, eu achando que não dava pro abraço ficar mais esmagador do que aquilo, ele vai e me prova que, de fato, seus músculos não existem para ficar de enfeite. Dessa vez, eu realmente pude escutar o som dos meus ossos estalando. Soltei um riso meio falho devido à dificuldade de respirar.

- K-Kacchan... tá, tudo bem, não tô chorando mais...! – Minha voz saía fraca e falhada. – Pode me s-soltar...

E foi o que ele fez, e só percebi que meus pés não tocavam completamente o chão quando ele me soltou e eu quase desequilibrei, enfim sentindo meus calcanhares batendo no piso.

Ele riu, provavelmente achando graça do quão pequeno e estabanado eu sou. E isso se confirmou quando ele afagou meus cabelos num carinho sutil, porém breve, como se eu fosse algum tipo de boneco de porcelana.

Corei, mas tentei disfarçar isso ao fitá-lo com uma expressão de tédio, dando um tapa brincalhão na sua mão. Ele riu.

- Você... você realmente nunca desconfiou? – Perguntei, realmente curioso, ainda que também quisesse quebrar um pouco com o constrangimento daquele momento.

- Na real, sim. – Quê? – Na sua casa, daquela vez que eu te perguntei se tu já tinha pegado uma garota, se tu queria que eu te apresentasse a uma... na verdade, eu só tava tentando te testar. – Hã? Um teste? Eu não tinha ideia. – Meio que não deu muito certo...

 

- Ei, eu conheço uma menina... – Ah, não. Não, não. Por favor, não comece com isso. – Acho que ela faz teu estilo. É fofa, baixinha, curte uns animes. Acho que ela tá no clube de xadrez e tal...

 

Ele riu, coçando a nuca com a mão, parecendo meio sem graça. Eu nunca me cansaria de ver Bakugou Katsuki envergonhado, porque esses são momentos tão raros e lindos! Eu queria apertar suas bochechas, mas ele certamente me xingaria.

- Ai, meu Deus. Sério? – Revirei os olhos, mas não pude conter um riso, balançando a cabeça negativamente. – Você é um idiota.

- Pois é. Eu devia ter só perguntado se tu curte homem, mas fiquei com medo de você me achar um babaca por duvidar da sua heterossexualidade só porque cê é tímido e não pega ninguém. – Rimos juntos. – Aí eu me convenci de que você é hétero mesmo e é isso aí.

- Entendi.

E o silêncio caiu sobre nós.

Desviei o olhar e, depois de cinco segundos, voltei a olhar para ele. Desviamos o olhar ao mesmo tempo e rimos juntos. Escondi as mãos atrás do meu corpo, entrelaçando meus dedos. Comecei a fazer círculos no chão com meu pé, tentando dispersar minha vergonha de algum momento. Mordi o lábio inferior ao tentar conter um sorriso que ameaçou surgir.

Eu não sabia o que fazer, como agir e o que falar, era simplesmente muito estranho estar na frente dele assim, agora que tudo estava esclarecido – ou quase tudo, mas ele definitivamente não precisa saber de tudo. Era estranho, mas não deixava de ser muito bom.

- Deku. – Meu nome saiu forte da sua boca. Ergui a cabeça para encará-lo, ainda meio encabulado e sem jeito. Me surpreendi, porém, quando o flagrei sério. Não esperava por aquele olhar em seu rosto, quando há segundos atrás estávamos num momento tão leve. – Você... então, você ficou com o Kirishima. – Esperei um pouco e, meio incerto, assenti lentamente com a cabeça, sem saber para onde ele levaria aquela conversa. Kacchan apertou os lábios. Tal notícia não parecia deixá-lo nem mesmo um pouquinho feliz, e isso me causava certo frio no estômago, principalmente de tudo o que ele falou antes sobre Kirishima. – E você ter decidido me contar que é gay tem alguma coisa a ver com ele? – Fiquei em silêncio, sem saber como interpretar aquela pergunta.

- Bem... eu-

- Você não tá pensando em ter qualquer tipo de coisa com ele, né?

Engoli em seco diante do seu olhar tão incisivo.

Por que repentinamente ele estava tão sério?

Abaixei a cabeça.

Eu sei que Kirishima não é nenhum príncipe e nem pretendo ter qualquer relação mais séria com ele, afinal, eu não sinto nada por ele além de uma atração qualquer. Porém, sim, já que Kirishima mostrou interesse em continuar ficando comigo... eu não vejo por que não. Não ligo se eu não for o único com quem ele esteja ficando, eu só quero me divertir também e conhecer outras pessoas.

Então, começamos a ouvir o barulho dos garotos aos poucos saindo do vestiário. Mas, como eu falei, a quadra é grande e longe dos vestiários. Eles só conseguiriam nos ver ali, mas não nos escutar.

- Olha, Kacchan... eu entendo o que você quer dizer, eu sei que o Kirishima é-

- Se você sabe, então não fique com ele.

Me surpreendi com o tom tão duro de sua voz. Como se fosse quase uma ordem.

Franzi o cenho.

Não estava gostando do rumo daquela conversa.

- Escuta, não é como se eu fosse namorar com ele, ok? Eu não gosto dele dessa forma, eu só-

- Não quero saber se você só quer dar uns beijinhos nele, transar ou o caralho que for, eu tô te dizendo pra não fazer nada com ele e ponto. – Mas hein?! Quem ele pensa que é?! – Ele não serve pra você. Ele vai te machucar, mesmo que vocês não cheguem a ter nada sério. Ele é especialista em fazer merda, sério.

Soltei um riso nasalado.

- Kacchan, eu sei que o Kirishima tem os defeitos dele e obrigado por deixar isso claro mais uma vez. Eu aprecio a sua preocupação, de verdade. – Ele cruzou os braços, como se soubesse que eu falaria algo que ele não ia gostar. – Mas eu não sou criança. Não tenho fantasias de me casar, ter dois filhos e um cachorro com ele, eu só quero me divertir, como você mesmo tem feito até então. – Falei, firme.

Ele riu alto.

- Não se compare comigo, Deku. A diferença entre nós é gritante.

Ok, agora ele definitivamente me irritou.

E pensar que estávamos num clima tão bom não fazia nem cinco minutos...

- O que quer dizer com isso? – Botei as mãos na cintura, bem diferente da postura acanhada e frágil de antes. – Explique.

- Não se faz de burro, você sabe muito bem do que eu tô falando, porra. Eu sei me cuidar, diferente de você.

A risada de puro deboche que se desprendeu de mim foi incontrolável. Fiquei totalmente incrédulo com aquele discursinho ridículo dele.

Quem ele pensa que é para decidir com quem eu fico ou deixo de ficar? Quem ele pensa que é para me encarar com aquele olhar altivo e me dar ordens? Eu, por acaso, já me meti alguma vez na vida amorosa dele? Já opinei sobre as garotas com quem ele fica? Já o atrapalhei de alguma forma? Eu nunca sequer flertei com alguém antes de Kirishima, e ele acha que é justo simplesmente me bloquear assim? Que direito ele acha que tem para fazer isso? Logo eu, que estive todo esse tempo me contorcendo de ciúmes da Uraraka, não deixei isso subir a cabeça nem sequer uma vez, por mais que quisesse! E, agora, sem mais nem menos, ele simplesmente diz que eu não posso ficar com o Kirishima, só porque ele tem defeitos como qualquer outra pessoa? É isso?

– Você pensa que é quem? Meu pai? – Bati o pé, encarando-o desafiadoramente. - Eu fico com quem eu quiser.

Ele cruzou os braços em uma postura de superioridade tão forte que me fez desejar chutar as bolas dele.

- Para de querer bancar o fodão, Deku. Eu tô falando isso pro seu bem, porra. Tu pode falar o que quiser, mas eu te conheço. Você é inocente, você pode encher a boca pra falar que só quer se divertir e blá, blá, blá, mas eu sei bem que você é muito sensível e não é do tipo que fica só por ficar. Você vai se apegar a ele e ele vai te machucar, caralho! Por que é tão difícil de entender essa porra?! Você é um burro de merda?!

- Então que ele me machuque, foda-se!! – Merda, eu estava quase gritando ali. Ainda podia ouvir o falatório e os passos dos garotos perto do vestiário.Você quer me manter num pote selado sob sua santíssima proteção? Acha que eu sou uma criança que necessita de cuidados? Acha que eu sou seu irmãozinho? – Perguntei com um deboche tão gritante que, se eu não estivesse tão possesso de ódio, eu nem teria me reconhecido. Percebi que, naquele momento, eu consegui irritá-lo de verdade. – Eu faço o que eu quiser com a merda da minha vida!

Ele avançou em passos rápidos e parou a pouquíssimos centímetros de distância de mim. Tive que erguer a cabeça para devolver seu olhar irritado. Ele quase espumava pela boca e soltava fumaça pelas orelhas, aparentemente tão possesso quanto eu. Ele nunca agiu desse jeito comigo antes, muito menos me peitou assim.

- Eu dou uma semana... não, três dias pra ele te comer e jogar fora. – Arregalei os olhos com os absurdos que ele teve a audácia de me falar. Como ele pôde...? – E olha que ainda tô sendo legal.

- Meu Deus, cala a boca! Você escutou o que acabou de dizer?! – Empurrei-o forte. – Não pense que pode tudo só porque você é meu único amigo, Kacchan. Você acha que eu não tenho escolha a não ser aceitar tudo o que você diz, é isso? Eu não vou abaixar a cabeça que nem um soldado recebendo ordens do seu comandante só pra gente ficar de boa. – As palavras dele só comprovavam o que eu já sabia. Ele também me acha um inútil, também acha que eu dependo dele. E, por mais que isso não fosse de fato uma mentira, me incomodava que ele estivesse se aproveitando disso para simplesmente mandar em mim. Se ele queria me tirar do sério, conseguiu com êxito. – Na verdade, tudo o que você falou agora só me deu mais vontade ainda de dar pra ele.

Puta que pariu, eu realmente não estava em sã consciência. Eu nunca diria algo assim se estivesse pensando direito, mas eu estava tão, tão puto!

Me assustei quando, de repente, ele segurou meus braços com força, não o suficiente para me machucar, mas para me manter estático no lugar. Arregalei os olhos.

- Você não vai ficar com ele, Deku! NÃO VAI! – Berrou na minha cara, a voz rouca e rasgada parecendo mais grave do que nunca ao ecoar eternamente por todo o lugar e, naquele momento, a julgar pelo silêncio absoluto do ambiente, eu soube que todo o time, ainda que distante de nós, o escutou.

E todos ficaram em silêncio. Por mais que eu não pudesse vê-los, soube que nos encaravam.

Mas Kacchan não pareceu se importar. Ele não moveu um único músculo, não fez menção de se afastar. Apenas continuou apertando seus dedos em meus braços e me fitando com seus olhos vermelhos flamejando de ódio.

Eu conheço o lado explosivo do Kacchan, mas ele nunca o mostrou para mim.

Até agora.

- Me solta. – Murmurei, sério, sem desviar meu olhar do seu. Mas ele não fraquejou. – Agora.

E, alguns segundos depois de um contato visual mortal entre nós dois, suas mãos me soltaram.

Continuamos nos encarando em um silêncio mórbido.

Eu estava irritado, mas, mais do que tudo, decepcionado por ele, de fato, ter uma visão tão frágil sobre mim.

Até você pensa que eu sou inútil, Kacchan?

Quero dizer, eu sei que eu sou.

Porém, não esperava que você também pensasse isso de mim. Digo, esperar, eu esperava... só torcia para que não fosse o caso.

Eu vou provar que todos estão errados. Incluindo você, Kacchan. E incluindo a mim mesmo.

- Kat! – Subitamente, a voz meiguinha e fofinha cortou o ar. Nesse momento, todo o falatório dos meninos do time retornou, mas começou a se tornar distante, o que indicava que eles finalmente estavam indo embora. Eu estava tão furioso com Kacchan que nem me dava ao trabalho de ficar constrangido por eles terem presenciado aquela cena esquisita.

Podíamos ouvir os passos rápidos e animados da garota cada vez mais próximos, porém, Katsuki não desviou a atenção de mim, muito menos demonstrou qualquer intenção de ir até ela.

Abri um sorriso largo e completamente forçado.

- Sua garota tá te chamando, Kat. – Ele franziu o cenho com força. – Acho que é dela que você deve tomar conta, certo?

E ele continuou me encarando mortalmente mesmo quando a figura radiante dela brotou do nosso lado, ofegante.

- Nossa, tô muito sedentária mesmo! Corri um pouquinho e já fiquei assim. – Disse entre os risos, a respiração meio falha. – Desculpa a demora, Kat, as meninas quiseram ficar se maquiando no banheiro, batendo papo e tal... sabe como é, né? – Riu, afastando a maldita mecha castanha do rosto e escondendo atrás da orelha. Mania maldita dos infernos, qualquer coisa eu corto essa mecha com uma tesoura quando ela estiver distraída. – Perdi alguma coisa? – Intercalou o olhar entre nós dois, rindo.

Desviei a atenção dele para fitá-la com um sorriso.

- Ah, nada, não. Kacchan só estava aqui me contando como tá ansioso pra sair com você hoje... ele tem altos planos em mente. – E voltei a olhá-lo, exibindo meus dentes num sorriso debochado. Ajeitei meus óculos sobre o nariz. – Não é mesmo, Kacchan?

Seu olhar sobre mim era tão frio e cortante que me senti estremecer, mas não deixei isso transparecer.

Ele permaneceu me fitando como se quisesse agarrar meu pescoço entre seus dedos e o torcer. Sua raiva era nítida, ao menos para mim. Eu não diria que ele estava chocado, paralisado ou sem saber como agir, estava mais para um vou ficar parado aqui te encarando até você desistir dessa merda de ficar com a porra do Kirishima, seu merdinha do caralho.

No entanto, ele obviamente sabia que não poderia continuar fazendo aquele joguinho para sempre.

A julgar pela expressão no rosto dela, assim como qualquer outra pessoa que chegasse naquele momento, Uraraka também notou o clima estranho e tenso perdurando no ar, apesar de não ter feito quaisquer perguntas.

- Vamos. – Katsuki disse para a garota, por mais que toda sua atenção ainda estivesse sobre mim. Ele não quis nem tentar fingir que estava tudo bem, ele simplesmente passou por mim e fez questão de trombar seu ombro com o meu, como um desses valentões que esbarram nos nerds pelos corredores para derrubar os livros deles. – Não venha chorando pra cima de mim depois. – Ele murmurou para mim, não se importando se a Ochako ouviria. E foi embora, caminhando – ou melhor, marchando – em direção ao vestiário masculino.

Pode ter certeza que a última coisa que eu vou fazer é clamar pela sua proteção, Kacchan.

E, pasmem, ele não virou para olhar Uraraka sequer uma vez.

Acho que isso foi o que mais me chocou.

Ele estava tão puto comigo assim que nem se preocupou em dedicar qualquer atenção a ela?

A garota, perplexa ao meu lado, assistia Katsuki se distanciar, boquiaberta. Eu bufei, afundando fundo as mãos dentro dos bolsos do meu casaco, praguejando baixinho coisas que nem mesmo eu entendia.

Ela me encarou com os olhos arregalados.

- O que foi aquilo, Deku? – Indagou.

- Não sei, você vai ter que perguntar pra ele.

- Vocês brigaram?

Fiquei fitando o nada, sem vontade realmente de dar uma resposta a ela, mas eu sabia que não poderia simplesmente deixá-la no vácuo.

Quando eu abri a boca para dizer qualquer coisa, braços fortes me rodearam por trás e, com o impacto, meu corpo foi jogado levemente para frente.

Arregalei os olhos, logo escutando uma gargalhada ecoar.

- Camarão que dorme a onda leva. – Kirishima disse em meio às risadas escandalosas.

Eu só não ri daquele comentário idiota porque ainda estava puto demais tentando digerir minha conversa com Katsuki.

Por que nada pode dar certo? Eu vou lá, finalmente me abro, saio do armário, ele reage bem, temos um momento bom, nos abraçamos forte... e depois tudo simplesmente desanda. Como isso foi acontecer?

Fechei os olhos, bufando, totalmente desligado das pessoas ao meu redor.

Meu Deus, por que é tão errado ficar com o Kirishima? Kacchan o acha tão má influência assim? Ou isso é só um complexo imaginário de irmão mais velho idiota? Caramba, mas que saco! Ele tá lá curtindo com a Uraraka e, agora que finalmente tenho alguém interessado em mim, ele simplesmente vai fechar a cara e me virar as costas? É isso?

Fechei os punhos.

Que seja, então.

Eu que não vou ceder a essa birra ridícula dele.

E, se ele quiser me evitar ou o que for, que faça. Eu já estava sozinho antes enquanto ele estava lá aos beijos com sua namorada no refeitório. Eu já estava sozinho enquanto andava pelos corredores e ele estava ocupado fazendo sabe-se lá o que com ela.

Ele que se foda.

Engraçado como, minutos atrás, eu estava aqui, me derretendo de amor e dizendo sobre o quanto a amizade dele vale para mim...

Porém, eu definitivamente não vou ficar que nem um palhaço aturando um comportamento desses, independente do quão importante ele seja para mim.

- Que bicho te mordeu, hm? – A voz de Kirishima me trouxe de volta à razão. – Eu acabei de ver o Bakugou, ele parecia bem puto. Fui fazer um high five e ele nem olhou na minha cara. – Riu. – Você contou pra ele?

- Contou, o quê? – Uraraka ainda estava aqui?

- Nosso Izuku aqui... – Kirishima se pôs ao meu lado, cobrindo meus ombros com seu braço. Eu ainda estava meio aéreo, ainda que prestasse atenção na conversa deles. – É viado. – E foi o que ele respondeu, assim, simplesmente, sorrindo largo para a garota. – Tão másculo, hm?

Virei rápido a cabeça para encarar o ruivo com os olhos arregalados, minhas bochechas imediatamente assumindo uma temperatura tão elevada quanto o deserto do Saara. Não que eu ligue agora, a essa altura do campeonato, que a Ochako ou todo mundo saiba, afinal, quem tinha que saber, já sabe. No entanto, eu só fiquei envergonhado e surpreso pelo Kirishima ter simplesmente jogado isso no ventilador assim, na cara dura.

A julgar pela expressão dela, parecia que Uraraka tinha acabado de receber a notícia de que matamos alguém, pois os olhos dela intercalavam entre nós como se ela fosse ser a próxima vítima.

- Oh... i-isso... isso é-

- Tá surpresa, fofa? – Kirishima a cortou, gargalhando em puro escárnio, enquanto eu só queria enterrar minha cara em algum buraco. – Vocês são realmente cegos, ownt.

- Na verdade, não estou surpresa por isso. – Ela disse, seu rosto ainda demonstrando certa confusão. – Tô só surpresa por esse ser o motivo do Kat ter reagido daquela forma...

- Ele não tá bravo por causa disso. – Prontamente retruquei, com firmeza, chamando a atenção dos dois. Não queria causar mal-entendidos. – É por outra coisa... – Dediquei um olhar breve ao Kirishima antes de voltar a fitar a garota. Ele não disse nada, mas eu sabia que tinha entendido. – Enfim, é besteira... mas o Kacchan pode ser bem infantil às vezes.

- Ah. – A garota assentiu com a cabeça como se compreendesse, e voltou a intercalar o olhar entre nós. – E vocês... – Apontou o dedo indicador pra gente. – Estão ficando?

Kirishima e eu viramos a cabeça um para o outro ao mesmo tempo.

Ficamos nos encarando, sem saber o que dizer.

Bem, ao menos eu não sabia.

Até que ele deu de ombros e abriu um sorriso enorme, voltando a encará-la.

- É, é meio que isso aí. – Respondeu tranquilamente.

Corei, abaixando um pouco a cabeça.

E Uraraka aparentemente gostou muito da notícia.

- Oh, mas que ótimo! Fico feliz por você, Deku! – Abriu um sorriso gigante, batendo palminhas como se Kirishima tivesse anunciado que estamos namorando. Seus olhos até brilhavam. Fala sério, pra que uma reação tão exagerada? Por que ela só parabenizou diretamente a mim?! Eu realmente passo uma sensação tão forte de encalhado solitário? Tá, sei que ela não estava fazendo nada demais, talvez eu só estivesse descontando minha raiva do Kacchan nela... mas puta que pariu, que vontade de revirar os olhos. – Agora o Kat pode ficar comigo sem culpa. – Tombou a cabeça pro lado, rindo como se tivesse dito uma brincadeirinha boba, seus olhos se tornando meias-luas diante do sorriso que se alargara ainda mais em seu rosto.

Meu queixo foi ao chão.

Ela realmente disse isso?!

ESSA FILHA DA PUTA REALMENTE TEVE A AUDÁCIA DE FALAR ISSO PRA MIM?!

- Falando nele, tenho que ir! Ele já deve ter terminado o banho. Até mais! – E foi embora, saltitando como um coelho feliz com sua cenoura enfiada no cu.

Ok, eu não sei o que pensar. Será que ela teve intenção de me alfinetar ou foi só um comentário sem noção mesmo?

Conhecendo a Uraraka, sei que ela não seria capaz de ferir uma mosca sequer...

Mas será que...?

Não, não.

Foi sem querer. Tenho certeza.

- Você vai deixar essa puta sair assim? – Só percebi que eu estava cabisbaixo quando Kirishima chamou minha atenção e eu automaticamente levantei a cabeça. – Porra, ela tá se achando a última bolacha do pacote. Ela acabou de cagar na tua cara e tu não vai nem dar um puxão de cabelo nela?

- Ela... não fez por mal. – Murmurei, mas ainda me sentindo um merda.

Mesmo que, na cabeça dela, aquele comentário tenha sido só uma brincadeira, sem intenção de me ferir, ainda assim... eu estava triste, pois sabia que havia um fundo de verdade ali. Se ela disse aquilo, é porque, de certa forma, ela realmente pensa assim, mesmo que inconscientemente.

Suspirei pesarosamente.

Kirishima riu, debochado.

- Não fez por mal é o que eu digo quando boto a pica toda depois de ter dito que só ia botar a cabecinha. – Fitei-o com tédio. – Fala sério, porra. Essa mina é o pior tipo de gente. Até gosto de gente escrota, mas com os escrotos que não ficam tentando fingir que não são escrotos. Ela fica projetando essa imagem de mina perfeita e isso me irrita pra cacete.

- O que você tá querendo dizer, afinal? – Semicerrei os olhos, não entendendo de onde ele tinha tirado aquelas coisas.

- Não é à toa que cê e o Katsuki se dão tão bem. Dois lerdos. – Riu, revirando os olhos. – Ela claramente tem ciúme de você com o Bakugou.

Arregalei os olhos.

- Hã? Pirou, Kirishima?! – Sério, às vezes eu acho que Kirishima vive em seu próprio mundo imaginário. - Por qual motivo ela teria ciúme de mim? O Kacchan caga rios pra mim quando ela tá por perto.

- E eu que vou saber? Meninas são assim, cara. Possessivas, tá ligado? – Ele gesticulava com as mãos. Revirei os olhos, cruzando os braços. – Elas podem até não ter motivos, mas são desesperadas pra encontrar algum. Isso é meio que um entretenimento particular delas, sabe? Garotas são estranhas, mas são gostosas. Triste.

- Cala a boca, imbecil. – Dei um peteleco forte em seu pescoço, fazendo-o chiar. - Você não conhece a Uraraka, ela é a pessoa mais gentil e doce que você vai conhecer na vida.

- Tão gentil e doce que disse na sua cara que tá feliz que agora ela pode ficar com o namoradinho sem você pra encher o saco, ownt. – Juntou as mãos abaixo do queixo, fazendo uma expressão forçada de fofura. Bufei, desviando dele para ir pegar minha mochila jogada no chão. – Realmente, um amor de menina.

- Ela não fez por mal. – Tornei a dizer, querendo convencer a mim mesmo disso. Encaixei as alças em meus ombros, suspirando. Não queria mais falar um segundo sequer sobre Katsuki e Uraraka. – Enfim, chega desse papo chato. Vamos fazer o quê?

- Minha casa, que tal? – Sorriu largo para mim, se aproximando com os braços abertos. – Assistir um filminho na Netflix e pa...

Fechei a cara.

Todo mundo sabe que filme na Netflix = transar.

- Kirishima, nós não vamos transar. – Já falei na lata.

Ele bufou, revirando os olhos.

- Esqueci que você é tipo uma menina...

- Meu Deus, calado você é um poeta. – Dei as costas, andando pra longe da quadra. Ele riu, acelerando o passo para me alcançar. – Acho que vou ter que acabar te amordaçando pra conseguir te aguentar...

- Vai em frente, com minha boca tampada cê não vai ter escolha a não ser cair de boca no meu- AI, PORRA! Endoidou?! – Gritou de dor depois que, quando ele passou a me acompanhar lado a lado, eu dei um soco em suas bolas. – Filho da puta do caralho.

Lancei-lhe um sorriso debochado.

- Agora que seu pau também tá danificado, não terei escolha a não ser enfiar meu punho no teu cu até o talo.

Ao contrário do que pensei, ele apenas gargalhou alto, chegando até a jogar a cabeça pra trás. Passou o braço por cima dos meus ombros novamente, me puxando pra perto.

- Cê é legal, baixinho. Gosto de você.

 

- Ele sabe o que fazer e como fazer, fala o que sabe que vai agradar. Mas, na real, ele só quer comer e vazar.

 

Engoli em seco, apertando as alças da minha mochila com força.

Mas logo enxotei aquela lembrança idiota pro fundo mais inóspito da minha mente.

 

~*~

 

- Oh, querido! Já voltou? – A voz macia e delicada da minha mãe soou pela casa assim que abri a porta de entrada.

Kirishima me olhou com um olhar que dizia “sua mãe tá em casa?”, entretanto, de repente, ela apareceu saindo da cozinha, secando as mãos num pano de prato. Seu sorriso aumentou de orelha a orelha, um brilho forte dominando seus olhos verdes assim que eles caíram sobre o ruivo ao meu lado. – Quem é esse, Izuku? Seu novo amigo?

- Ah, mamãe, esse é o Kirishima. – Apresentei com um sorriso mínimo. O garoto sorriu largo, lançando-a uma piscadela. – Kirishima, essa é minha mãe, dona Inko.

- Fala, tia! – Ele se aproximou dela com os braços abertos, não a dando tempo para pensar antes de envolvê-la num abraço de urso, tentando levantá-la do chão. Minha mãe, de olhos arregalados, parecia meio surpresa e um pouco sem jeito com todo esse jeitão cheio de intimidade de Kirishima. – Opa, cê é pesadinha, hein, tia? E a dieta, tá em dia?

Bati a mão na testa.

Puta que pariu, cala a boca.

Fiquei com tanta vergonha que nem tive forças para mandá-lo ir à merda.

- Oh... sim, eu como bastante. – Ela disse entre os risos, completamente sem graça. Meu Deus. – Fico feliz do Izuku trazer um novo amigo pra casa. – Sorriu pequeno para mim. – Enfim, vou fazer uns lanches pra voc-

- Não precisa, mãe. Obrigado. – Me aproximei dela – não sem antes empurrar discretamente Kirishima pra longe - e abracei seu pequeno corpo com delicadeza, mas com força. – Não se preocupe, sim? A gente se vira.

- Tudo bem, querido. – Sorriu largo, seus olhos se transformando em apenas dois risquinhos. Tão fofa. – Qualquer coisa, só chamar. – Ela estava voltando à cozinha quando se virou uma última vez para sorrir a Kirishima. – E bem-vindo! Sinta-se em casa, meu bem. – E, enfim, se retirou. Fiquei com o coração apertadinho enquanto a via se distanciar.

- Sua mãe é mó fofinh-

Interrompei sua fala com um puxão forte em seu cabelo vermelho e espetado.

- Ai! Por que fez isso, cara?! – Grunhiu, massageando o couro cabeludo.

- Porque você é um idiota! – Exclamei, bufando e arrastando a mão pela minha cara em frustração. – Já te disse, calado você é um poeta. – Revirei os olhos, logo passando a frente dele para subir as escadas. - Vem, vamos pro meu quarto.

- Opa, nem precisa dizer duas vezes.

Eu não queria ir ao parque com o Kirishima, tomar sorvete ou ir ao cinema como se estivéssemos em um encontro, e sabia plenamente que ele pensava da mesma forma. Só queria trocar uns beijinhos e afins, mas não queria transar. Portanto, não me sentia confortável na sua casa. Na minha casa, por outro lado, eu poderia simplesmente enxotá-lo quando eu bem quisesse caso ele passasse dos limites.

- Adivinha quem me mandou mensagem? – Escutei Kirishima perguntar, rindo, assim que bateu a porta do meu quarto, enquanto eu deixava nossas mochilas jogadas perto da cama, no chão. – Fala sério, você contratou o Katsuki como seu segurança particular ou algo assim?

- Hein? – Assim que virei para ele com o cenho franzido, minha visão foi rapidamente tomada pelo celular de Kirishima esticado em minha direção.

E estava aberto no chat de Kacchan.

 

[Bakubro]: cara

[Bakubro]: eu juro q se vc machucar o deku

[Bakubro]: eu te faço se arrepender de ter entrado nessa merda de colégio

 

Meus olhos se arregalavam a cada palavra que eu lia, ao mesmo tempo em que minhas bochechas tomavam uma coloração avermelhada.

Ele puxou o aparelho para si novamente, rindo ao ler as mensagens mais uma vez antes de guardá-lo no bolso.

- Sério, que maluco chato da porra. O que foi que deu nele, hein? – Kirishima riu, se jogando na minha cama. – Pelo visto, aquele papinho de que ele te vê como um irmão é realmente sério. Eu também tenho irmã e tô cagando pro que ela faz com a buceta dela, na real, eu quero mais é que ela dê até perfurar o estômago. Eu até apresento meus amigos pra ela, porque eles acham ela gostosa. Mas ela não liga. Acho que ela é sapatão.

- Não acho que o Kacchan seja tão superprotetor assim... acho que o problema dele é só com você mesmo. – Comentei, pensativo.

- Hã? – Me encarou com uma sobrancelha arqueada. – Eu nunca empatei a foda dele, por que ele tá empatando a minha agora? Falta de empatia é foda.

- Sei lá. – Suspirei, me sentando ao seu lado. – Enfim, não quero falar sobre isso.

- Nem eu. – Sua mão foi pra cima da minha coxa, apertando-a. – Vem cá.

Eu sinceramente não estava muito no clima de pegação, tudo o que tinha acontecido com Kacchan no colégio ainda estava socando a minha cabeça com força, porém, eu definitivamente não o deixaria estragar meu momento assim.

Ele com certeza está lá se divertindo com a Uraraka, então por que não me deixa em paz e simplesmente continua fazendo o que esteve fazendo até então? Ele se sente bem em me ver sozinho, é isso? Ele quer que eu fique como um cachorro com o rabo entre as pernas esperando só pelo ar da graça dele? Que eu não tenha mais ninguém além dele?

Sei que essa não é a intenção dele, mas, mesmo assim, me irrite que ele queira me impedir de ter experiências e ainda fique de cara amarrada como uma criança.

Ah, vai se foder, Kacchan.

Vou te mostrar que não sou frágil como você pensa.

E, no início, eu realmente não estava muito no clima.

Todavia, conforme o tempo ia passando e as mãos de Kirishima passeavam pelo meu corpo, ainda que coberto pelas roupas, eu comecei a me sentir quente. Bem quente.

De fato, Kirishima calado é um poeta. A cada segundo que passa, o beijo dele fica ainda melhor. E, mesmo que me envergonhe um pouco admitir, eu gosto das besteiras que ele sussurra ao pé do meu ouvido.

É assim que você se sente quando está com ela, Kacchan?

Não, não. Tenho certeza que você se sente muito melhor, porque você está apaixonado por ela. Tenho certeza que o leve resvalar da respiração dela na sua orelha te arrepia inteiro. Que o mínimo gemido, o mínimo toque já te deixa aceso. Que seu pau pulsa dentro das calças a cada vez que ela geme Kat com aquela voz melodiosa que, agora, é só uma voz irritante para mim.

Vocês tinham dito que não transaram ainda, que ela estava com medo porque é virgem...

Mas e agora? Será que já ultrapassaram isso? Será que já fizeram?

Fui resgatado de meus devaneios quando a mão forte de Kirishima pegou no meu pau, porém, eu rapidamente o repreendi. Não estava pronto para isso e, por mais que eu gostasse de ficar com Kirishima, ele não me passava conforto o suficiente para deixá-lo ir adiante.

Ele riu e fez piada, mas respeitou, e continuamos só nos beijos com as mãos bobas.

Quando o mandei embora no início da noite, eu já estava com a cabeça bem mais leve, o que me fez pensar que eu teria me arrependido horrores caso eu tivesse escutado Kacchan e dispensado Kirishima mais cedo.

Pela primeira vez, eu me sinto um adolescente normal, que passa a tarde entre beijos e não só entre livros, filmes e jogos. E a sensação é boa.

No entanto, quando peguei o celular e vi que não tinha mensagem alguma de Kacchan, minha mente fora refrescada com tudo o que ele dissera mais cedo.

Suspirei pesarosamente, afundando meu corpo no colchão.

Minha mãe gritou anunciando o jantar e, antes de descer, decidi tomar um banho rápido para esfriar a cabeça.

E eu tive que bater a punheta para abaixar a ereção que Kirishima tinha deixado em minhas calças.

Mas não foi nele em quem eu pensei enquanto apertava a cabeça inchada do meu pau e gemia arrastado com a testa colada no azulejo do box, observando quase hipnotizado meu sêmen deslizar pela parede até a última gota sumir pelo ralo.

 

~*~

 

Sabe aqueles sonhos em que você, do nada, está no meio da escola, pelado, se sentindo terrivelmente desconfortável e, por mais que todos estejam claramente te vendo pelado, todos agem normalmente como se nada estivesse acontecendo?

Era assim que eu estava me sentindo quando cheguei na escola no dia seguinte.

Todos me encaravam como se eu estivesse pelado, enquanto fingiam que eu não estava.

Era desconfortável, mas nem tanto assim, afinal, não é anormal que eu seja encarado como alguém que não é desse planeta. Acho que o desconforto inicial era mais porque eu não esperava todos aqueles olhares estranhos sobre mim, mas claro que, depois de Kacchan ter berrado no meio da quadra um VOCÊ NÃO VAI FICAR COM ELE, eu já devia ter imaginado que a fofoca espalharia fácil. Eu só estava tão ocupado xingando-o mentalmente que nem parei para pensar sobre os possíveis rumores que rolariam.

Tudo bem, Izuku. Você está pelado, inteiramente nu.

Agora é só agir como se não estivesse, como você sempre fez.

O verdadeiro choque, no entanto, foi chegar no corredor da minha sala e dar de cara com Kacchan escorado ao lado da porta, com uma postura relaxada e de braços cruzados, por mais que não houvesse tranquilidade alguma em seu rosto.

- Kacchan...? – Chamei ao me aproximar, vendo-o erguer a cabeça para me encarar. Eu ainda estava irritado com ele, porém, não calculei quando a minha voz escapou em um tom manso e até doce da minha boca. Eu estive bolando várias frases ríspidas para dizer quando o encontrasse, e eu simplesmente já abaixei a guarda assim? Pensando nisso, pigarreei, rapidamente cruzando os braços. – O que faz aqui?

- Qual é, Deku... – Ele se afastou da parede, vindo até mim. Ele me puxou pelo braço um pouco para o lado, só para não ficarmos tão próximos da porta da minha sala, por onde os alunos estavam entrando e saindo aos montes. – Cê tá tão puto comigo assim?

Soltei um riso desacreditado.

- O que você acha, hm?

Ele suspirou, revirando os olhos.

- Porra... tá, foi mal, talvez eu tenha exagerado na forma que falei contigo, mas... caralho... – Ele olhava pros lados enquanto falava, como se estivesse meio sem jeito para me fitar diretamente, contudo, acabou por pegar no flagra um grupinho de pessoas que, mais ao longe, nos fitavam aos cochichos. Kacchan fechou a cara imediatamente, cruzou os braços e virou de frente para eles, a cabeça erguida em claro desafio. – Ei, cês tão procurando alguma coisa nessa porra aqui? – O grupo logo se assustou, se entreolhando. – O cacete que eu vou descer na fuça de vocês, talvez?

E eles rapidamente fugiram, dobrando o corredor em passadas rápidas.

Kacchan suspirou, tornando a se virar para mim.

- Esses filhos da puta do caralho... não aguento mais esse colégio, ainda bem que a gente vai se formar... – Ele murmurava, aparentemente falando mais consigo mesmo do que comigo.

Suspirei.

- Olha, Kacchan, eu tenho aula, ok?

Só consegui dar um passo antes que ele segurasse meu pulso, me puxando de volta.

Agora, os corredores começavam a ficar vazios.

Katsuki me encarou. Havia certa frustração em seu olhar, ele parecia irritado, mas eu podia ver que ele se esforçava para guardar sua raiva e não estragar tudo de novo.

- Deku, olha, desculpa, ok? Peguei pesado com você ontem, eu sei disso. – Abaixou a cabeça por um segundo, soltando um suspiro antes de voltar a me fitar, firme. – Mas eu não retiro o que eu disse. Você pode ficar com qualquer pessoa que quiser, por que escolheu justo esse merda?

Soltei uma risada nasalada, debochado.

- Qualquer pessoa que eu quiser, você diz? – A pessoa que eu quero tá bem na minha frente. – Acho que vivemos em mundos diferentes, né? Você sabe muito bem que eu não sou-

- Mas que caralho, já escutou como você fala de você? – Ele franziu o cenho em uma expressão desgostosa. – Puta que pariu, para de se depreciar assim. Você sempre disse que não se importa com as merdas que os outros falam, mas tô vendo que agora cê tá começando a concordar com eles.

- Porque talvez seja verdade mesmo! – Exclamei. Agora, o corredor estava completamente vazio, com exceção de um ou outro aluno ainda perambulando por aí. – Todos dizem que eu não sou ninguém sem você e é verdade mesmo. Sem você, eu não tenho ninguém, e você sabe disso. Agora que eu finalmente tenho alguém que quer ficar comigo, você quer tirar isso de mim? – Ele continuou a me encarar, sério, mas em silêncio, apertando os lábios com força. – Por favor, só fica com a sua namorada e me deixa fazer o que eu quiser, tá bom?

- E se o que você quer fazer é a maior merda de todas, eu tenho que cruzar os braços e ficar assistindo você se foder? É o que tu quer, porra?!

- Então sabe o que você pode fazer? – Abri um sorriso debochado. – Pega uma caneta, um papel e faz uma listinha de todos os pretendentes que você acha dignos de ficarem comigo, tá bom pra você, papai?

Kacchan travou o maxilar, me encarando atentamente. A raiva passeava em cada fibra do seu rosto, se destacando na veia saltada da sua testa.

Continuamos nos encarando por mais alguns segundos e, diante do seu silêncio, me virei e fui para minha sala, pedindo licença pro professor pelo pequeno atraso.

Suspirei profundamente ao desabar sobre minha cadeira, imediatamente abrindo meu livro na pagina 51 enquanto ouvia o professor explicando sobre coisas que em nada me interessavam.

Até que, de repente, meu celular vibrou em meu bolso.

Discretamente o peguei, escondendo-o sob a mesa.

 

[Kiri]: vamos p sua casa dps da aula de novo hj?

 

[Izuku]: Dps da aula vou estudar na biblioteca, a semana de provas tá chegando

 

[Kiri]: putz, sabe q eu to com a maior vontade de estudar tb? ;D

[Kiri]: q coincidência

 

Só Kirishima para me fazer rir depois de ter tido mais uma discussão com Kacchan.

 

[Kiri]: pode ir ver meu treino ent?

[Kiri]: a gente vai na biblioteca dps disso

 

Não pude conter um sorriso, por mais que eu tivesse tentado.

Meu coração esquentou um pouquinho, não sei por quê.

 

[Izuku]: Tá bom

 

[Kiri]: o treino vai ser louco hj

[Kiri]: bakubro ta puto

 

Engoli em seco.

Será que Kacchan estava assim por minha causa? Ou aconteceu alguma coisa com Uraraka ontem?

Guardei o celular com um suspiro, logo passando a escrever no caderno o que o professor escrevia na lousa.

 

~*~

 

Assim que o sinal do intervalo tocou, levantei rápido. Eu estava apertado e queria mijar logo, mas, já que eu estava a caminho da sala de artes, optei por ir no banheiro perto de lá, que é sempre mais vazio.

Quando mal pisei no último degrau da escada, porém, fui puxado rudemente pelo braço. Antes que eu pudesse sequer raciocinar, minha boca foi tomada num beijo forte. De olhos arregalados enquanto meus lábios eram invadidos, reconheci Kirishima por conta dos cabelos vermelhos que vi de relance.

Empurrei seu peitoral, fazendo-o cambalear para trás.

Olhei ao redor rapidamente, dando graças a Deus por estar tudo vazio.

Aquele andar é sempre mais vazio no intervalo por ser o andar dos clubes, mas, mesmo assim, o pensamento breve de ter alguém nos observando me assustou.

Kirishima ria enquanto eu tentava recuperar a respiração.

- Meu Deus, o que foi isso? – Disse ainda meio ofegante, limpando o rastro de saliva que Kirishima deixara perto da minha boca.

- Nossa, minha princesa. – Ele só continuava se matando de rir. Bufei. - Qual o problema?

- Sei lá, você só... me pegou de surpresa. – Acabei soltando uma risada também, após o choque inicial. Não posso mentir, a sensação de ser beijado de surpresa assim não é nenhum pouco desagradável, muito pelo contrário. Gostei de como meu coração acelerou. Nunca pensei que fosse beijar na escola, apesar de não ter durado nem dez segundos. Me sentia como um desses adolescentes de filmes. - Como sabia que eu tava aqui?

- Na real, meu professor de literatura pediu pra eu falar com ele no intervalo, a sala de literatura fica ali. – Apontou para o final do corredor. Segui seu dedo, assentindo com a cabeça. – Aí te vi dando sopa aqui e não resisti. – Abriu um sorriso malandro.

Ri, revirando os olhos.

- O que seu professor quer com você?

- Acho que ele vai me dar uma bronca ou algo assim, enfim, lance de rotina, saca?

- Sei. – Soltei uma risada, ajeitando meus óculos que tinham deslizado um pouco pelo meu nariz quando ele me agarrou daquele jeito. – Você deve levar seus estudos mais a sério, sabe? Vamos estudar de verdade hoje, hein? Nem adianta pensar em outra coisa.

Ele imediatamente murchou, bufando. Ri.

- Nossa, você é tão broxante, sabe?

- Sei, esse é o meu charme. Agora vai lá, que eu também tenho que ir no banheiro. Até mais tarde. – E, quando eu já estava me distanciando, ele se aproximou rápido para roubar um selinho. Ri, revirando os olhos. Ele me acompanhou na risada, lançando uma piscadela divertida para mim antes de dar as costas por completo.

Meu coração acelerou, se refletindo no rubor em minhas bochechas.

Abaixei a cabeça, balançando-a pros lados ao soltar um riso nasal.

Apesar de tudo, eu estou gostando do Kirishima. Não de um jeito romântico, mas tô gostando. Não sei se é carência ou o que for, mas gosto de receber mensagens dele, da companhia dele e até das asneiras que ele fala – não todas, claro.

Tomei meu rumo até o banheiro, o sorriso bobo ainda dançando em meus lábios.

Quando passei pelo banheiro feminino para chegar no masculino, no entanto, escutei uma voz familiar.

- Não sei o que tá dando no Kat, ele ficou muito estranho de ontem pra hoje.

Estanquei no lugar.

A voz meiga e doce era baixa, abafada pelas paredes. Instintivamente, sem conseguir me conter, me aproximei cautelosamente da porta fechada.

- Ai, menina, dá logo pra esse homem. - Era outra voz feminina, certamente de uma das suas amigas. – O que não falta é menina querendo dar pro Bakugou, vai ficar guardando essa xota aí até quando?

- Mas é justamente por isso! – Uraraka voltou a falar. Franzi o cenho e forcei meu ouvido contra a porta, meu coração batendo forte dentro do peito. Nunca fui do tipo enxerido, mas não pude evitar. Por algum motivo, eu me sentia nervoso como se fosse um espião americano em meio aos russos. – Eu sei que tem um monte de garota que transaria com ele na primeira oportunidade... é por isso que fiquei me segurando até agora. Pra deixar ele interessado.

- Você sabe que vai ter que dar uma de inexperiente quando chegar a hora, né? – Uma terceira voz ecoou. – Porque você disse pra ele que é virgem.

E o banheiro explodiu em gargalhadas, sendo acompanhadas também pelos protestos de Uraraka, que pedia para elas pararem de rir.

Meus olhos se arregalaram completamente, meu coração errando uma batida.

Quê?

- Ai, é só uma mentirinha besta! Só transei uma vez e nem foi bom, então nem conta. – A Ochako respondeu, não resistindo a rir junto com as amigas. – Vocês sabem como os homens são, né? Eles adoram uma garota virgem.

- Verdade, virgindade é o fetiche dos homens.

E mais risadas ecoaram.

Meu Deus.

Que porra eu acabei de ouvir...?

Eu estava chocado, paralisado na frente daquele banheiro.

Sem que eu percebesse, minhas mãos começaram a tremer.

- Mas vou transar com ele hoje. De hoje não passa. – Disse Uraraka determinada, arrancando comemorações das amigas. – Ontem ele veio na minha casa... eu disse que queria estudar, sabe como é. – As garotas riram. - Tava planejando provocar ele de várias maneiras, sabe? Mas nem estudar a gente conseguiu direito, porque ele só ficou falando do Izuku, acredita? Ai, ele tava todo estranho, sei lá.

Minhas pálpebras doíam de tanto que meus olhos estavam esbugalhados, a saliva descendo seca pela minha garganta.

- Quê? Aquele amiguinho magrelo dele? O de cabelo verde?

- Ele não é tão magro, para. – Uraraka disse aos risos. – Sim, ele mesmo. O Kat só ficou falando sobre o quanto tava preocupado, porque o Izuku aparentemente saiu do armário e agora tá de rolo com o Kirishima. – As meninas, confusas comentaram algo sobre aquilo ser realmente muito esquisito. – Pois é. Ele falou algo sobre o Kirishima ser uma má influência pra ele ou sei lá, entendi nada. Fala sério, eu tava de pijama curtinho e apertado do lado dele, e ele preocupado com quem o amigo gay beija ou deixa de beijar? – Soltou um riso desacreditado. Suas amigas pareciam perplexas diante do que a garota relatava. – Fiquei muito irritada. Bem, que seja. Hoje, eu vou dar um chá de buceta tão forte nele que eu duvido que ele vai conseguir pensar em outra coisa.

Em passos vacilantes, me afastei da porta.

Levei a mão trêmula até meus lábios.

Abaixei a cabeça, encarando meus próprios tênis, tentando digerir tudo o que ouvi.

Era mesmo a Uraraka?

Não, não é possível...

Não a culpo por querer fazer joquinhos para despertar o interesse de Katsuki, mas... mentir pra ele assim?

Não acho que mentir é um crime, eu também minto, mas... por que ela estava mentindo sobre coisas tão fúteis? Mentir sobre a virgindade...? Então, bem, ela devia estar mentindo sobre precisar de ajuda em matemática também.

Kirishima sempre diz coisas idiotas, mas, dessa vez, acho que ele não estava tão errado assim.

Parece que Uraraka está montando uma imagem diferente dela mesma.

Uma imagem que ela julga como perfeita para atrair Katsuki.

Não sei, será que eu estou sendo muito dramático sobre isso? Talvez, mas meu coração continua batendo forte. Tenho um pressentimento ruim.

Eu deveria contar ao Kacchan?

Não...

Não.

Besteira.

Acho que isso é só meu ciúme falando alto. Não quero parecer o invejoso que está tentando destruir o relacionamento alheio. Não é como se ela estivesse cometendo um crime, sem falar que o Kacchan não deixaria de gostar dela só porque ela mentiu sobre ser ruim em matemática e mais outras coisinhas. Muito provavelmente, quando eles já estiverem em um relacionamento firme, eles vão rir disso tudo no futuro.

Sim...

Sim, eu não posso contar.

Ele está feliz, certo? É o que importa.

Mas por que meu coração ainda bate tão forte?

Meu peito dói.

Fechei os olhos, respirando fundo.

Entrei no banheiro masculino e, com os punhos cerrados sobre a pia, encarei meu próprio reflexo no espelho. Os óculos pretos, grandes e redondos. As sardas que espalhadas pelo meu rosto. O cabelo verde e bagunçado que nem lembro qual foi a última vez que o cortei.

Engoli em seco, deixando a cabeça cair para frente.

Então... eles vão transar hoje.

Fechei os olhos e, de novo, respirei fundo.

Fitei meu reflexo de novo.

Afinal, Izuku, para quem você está guardando sua virgindade?

O que eu estou esperando, afinal? Quero dizer, tem um cara muito gostoso e experiente a fim de mim, qual oportunidade melhor terei para fazer isso? Se minha primeira vez fosse com Kirishima, certamente seria muito bom.

Então... o que estou esperando?

Se Kacchan e Uraraka vão transar hoje, o que eu vou fazer? Chorar na minha cama, enrolado em mil cobertores e ouvindo Heather de Conan Gray?

Não. Definitivamente não.

Fechei os dedos contra a palma de minhas mãos com força, as unhas arranhando minha pele.

Apertei os lábios.

Sim.

Estou decidido.

Hoje, eu vou transar com você, Kirishima.


Notas Finais


AI ESPERO QUE TODA A ESPERA E ANSIEDADE TENHA VALIDO A PENA SKAKSAKSKA
Adorei escrever as DR de Bakudeku <3 ~meu entretenimento particular é fazer os dois se espancando com palavras, quem acompanha Motivos para ser solteiro sabe KKKKKKKKKKK
Não sei se esse cap foi tão bom, mas o PRÓXIMO PROMETE HEIN <3 VAI TER TRETA
HHHHMMMMM E OQ VCS ESTAO ACHANDO HEIN?? QUERO TEORIAS
CES ACHAM Q O KATSUKI TEM RAZÃO NO Q TA DIZENDO??? O KIRISHIMA EH UM CUZÃO????? KATSUKI TÁ SÓ PREOCUPADO MSM OU TEM ALGO A MAIS AI????? E A URARAKA???????????????? HHHMMMMMMMMM
AGORA VOU FICAR AQUI TODA ANSIOSA ROENDO AS UNHAS PELOS COMENTÁRIOS DE VOCÊS SOCORRO
Espero que tenham gostado!!
Eu estava planejando fazer a próxima att ser de Motivos para ser solteiro, mas agora não sei mais K desculpa galera, sei que tem gente querendo att de MPSS tb, mas tudo depende de qual cap vou me sentir mais inspirada para escrever, espero que entendam! Resumindo, não sei se a próxima att vai ser dessa fic ou da outra, vamo ver
BEIJÃO E ATÉ LOGO <3
AGUARDANDO ANSIOSAMENTE PELOS COMENTÁRIOS DE VCS, OBG POR SEREM TÃO MARAVILHOSOS, BEIJÃO

Sinopse da minha outra fic: Nossa, por onde eu começo? Bem, encontrei meu ex-namorado ridículo no corredor do supermercado e, desde então, minha vida virou um inferno. Nosso término foi uma grande catástrofe que até hoje não entendo. E, como se ver a cara idiota dele já não fosse castigo o suficiente, descobri que ele também tá na minha universidade, que minha melhor amiga é a fim dele, que ele é lutador do clube sanguinário onde eu trabalho e agora minha cabeça tá a ponto de explodir!
Se você não quer ter o mesmo triste fim, sugiro que siga religiosamente meus conselhos.
Ser solteiro para sempre é, definitivamente, a melhor opção.
Link: https://www.spiritfanfiction.com/historia/motivos-para-ser-solteiro-14129873

AMO VCS


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