História A Treinadora Argentina. - O medo de perde-la.

POV ANNA

-Ai Anna, cuidado mano!- Neymar resmungou quando acidentalmente chutei seu leito hospitalar e tudo tremeu.

-Desculpa- falei me sentando num banquinho ao seu lado- Como você está?

-Bolado- ele se limitou a dizer com o olhar baixo.

      Estávamos esperando o helicóptero que o levaria pra sua casa e Ney parecia inconsolável pela sua saía precoce da copa. Não o culpo. Ele era muito jovem, muito cheio de sonhos para sair desse jeito em uma entrada criminosa.

      O país todo estava em choque, chegava a ser ridículo, parecia que haviam perdido um presidente importante, não apenas um jogador. Parecia um “luto eterno”, era bizarro e totalmente sem noção todo esse drama.

-Haverá outras copas Ney- tentei consola-lo, mas parecia que havia piorado.

-Não fale isso Anna- ele disse se esforçando pra não ficar bravo comigo- Uma copa no Brasil, o meu país, com os meus amigos, eu sendo a principal estrela, um evento que acontece de quatro em quatro anos, e eu to perto da garota que eu gosto, e agora vou ter que deixar tudo isso e praticamente jogando a minha seleção no escuro.

    Tudo isso era verdade, o Brasil realmente dependia do Neymar, havia outros jogadores e tals, mas o Neymar era a arma secreta do Brasil. E havia uma coisa me encucando agora.

 -Você está certo, desculpa- admiti- Quer dizer que você está admitindo que gosta da Martina?

-Lógico que eu gosto- ele disse- Faz muito tempo, sei que não aproveitei a chance que eu tinha de ficar aqui com ela, com ela tão perto de mim, mas eu morro de medo do clima ficar ainda mais tenso com ela.

-Neymar, você sabe que a Tina é complicada, e você sabe que ela não o quer.

-Eu sei sim, só não gosto de saber disso- ele disse- Eu sempre tento desistir dela, mas aquele sorriso aberto, aquele jeito de menina fofa e desastrada, o jeito como ela olha pra todo mundo, tudo aquilo me faz voltar a gostar dela. Talvez seja melhor desistir dela de vez.

-Sinceramente, eu também acho. Tina tem problemas Ney, muito complicado de se lidar, eu não consigo, eu não consigo nem entende-la.

-E você acha que eu não conseguiria? Não conseguiria entende-la?

      Eu tenho certeza que ele não entenderia, nenhum entenderia. Tina merecia muito mais do que um jogador famoso, mulherengo e sem compreensão. Ela merecia alguém que se importasse mesmo com ela, e fora que Neymar nunca havia visto a verdadeira Tina, a Tina albina, a que ela fazia questão de esconder.

-Tina precisa de alguém pra entrar na vida dela e não sair, ela não conhecer pessoas que a façam se apaixonar, mas depois saiam fora. Você não conhece nem 20% da Tina verdadeira Ney, e acho que assim que você descobrisse, não ficaria mais.

    Neymar me olhou com mais dor nos olhos e abaixou a cabeça concordando comigo:

-Tudo bem.

-Sei que você vai conhecer alguém, alguém de que goste mais.

     Me despedi dele e sai do quarto.

POV DAVID

     Os mais críticos e pessimistas pegavam horrores no pé da seleção brasileira. Sei que passamos raspando nas oitavas de finais contra o Chile e que perdemos o Neymar nas quartas, mas de repente veio uma enxurrada de criticas, diziam que não conseguiríamos passar das semi-finais agora e que sofríamos emocionalmente.

    Talvez seja difícil, quase impossível, mas acredito que passaríamos, eu realmente acredito.

    O nosso país parecia que estava de luto pela perda de Neymar, era até meio maluco o que estava acontecendo. Era lógico que estávamos tristes, o clima aqui estava até mais pesado e infeliz, nos sentíamos como ovelhas indo ao matadouro, mas não precisava de tudo aquilo. Fala sério, filmar o Neymar indo embora da Granja?

     Tivemos uma baita reunião super motivadora e critica. Pegaram pesado na defesa, muito pesado mesmo. Thiago havia ganhado seu segundo cartão amarelo e não jogaria o próximo jogo com a gente, eu meio que me sentia sozinho agora.

    Nessa reunião, também descobrimos que nosso próximo jogo seria com uma pedreira, a temida Alemanha, que conseguiu eliminar a França no finalzinho do jogo.

    Anna também estava com problemas. Seu jogo de quartas de final seria com a Bélgica, mas a defesa da Argentina, embora tenha levado apenas três gols, ainda parecia fraca, Messi também levava suas criticas e quem mais pegava pesado com eles era justo o Maradona.

     Um dia depois de Neymar ter ido embora, encontrei Anna saindo do refeitório com pressa, ela praticamente me atropelou dizendo que estava de reunião o dia todo e que falava comigo a noite.

    Achei isso uma bela merda, mas como também estava meio ocupado, a entendi.

     Durante o treino, o Parreira encheu muito o meu saco. Sei que ele estava sofrendo pressão junto com o Felipão e tal, mas ele podia distribuir a pressão dele com outros jogadores, não só comigo. Ta certo que ele odeia a Anna, e odeia o meu namoro também, mas o meu namoro nunca atrapalhou em nada.

     Parreira não calava a boca, não parava de reclamar de tudo o que eu fazia e isso me irritava muito. Ele sempre me ameaçava, queria me tirar do jogo, mas eu e Thiago éramos os melhores zagueiros e ele sabia disso.

    Tudo piorou quando de repente, enquanto eu tentava não surtar diante as acusaçoes de Parreira, enquanto o ouvir gritar em meu ouvido, vi o vulto de cabelos ruivos diante uma janela no hotel e fixei o olhar lá.

    Era Anna, ela parecia estar gargalhando de um jeito que eu nunca vi ou pensei que ela gargalhasse.  De repente, Pastore apareceu gargalhando também e o meu peito ficou mais pesado, o que estavam fazendo juntos? Só pra piorar a situação, Pastore ficou perigosamente mais perto e abraçou, e demorou muito para solta-la.

    Aquilo me encheu de raiva, aquilo me deixou possesso, já estava quase indo tirar satisfação e socar a cara daquele argentino miserável quando Parreira berrou no meu ouvido:

-Agiliza David Luiz! Ta olhando o que?

    Sem nem pensar direito, berrei de volta:

-Da um tempo!

     Todo mundo me encarou assustado, eu nunca havia gritado assim. Respirei fundo, me acalmei e voltei a fazer o exercício com muita mais força.

    Só de pensar na merda que eu havia visto, ficava com mais raiva, ela disse pra mim que ficaria ocupada o dia todo, que estava nervosa pela pressão que estava sentindo, mas tempo pra brincar com o Pastore ela tem. E que direito ela acha que tem pra abraçar um cara que não seja eu?

     Eu me sentia muito culpado por não poder dar a ela, aquilo que ela queria e sentia falta, sexo, mas eu não podia me entregar assim pra alguém que não me amava, que talvez nem seja a pessoa certa pra mim, só que não era motivo pra Anna ir procurar aquilo em outros homens, ela não tinha esse direito, ela não podia me trair assim.

    Passei o resto do dia estressado, de mau-humor encucado com aquilo. Meus amigos mal chegavam perto de mim que eu já os repelia com o olhar. Sentia-me culpado, meu namoro estava afetando o futebol e minhas amizades e também me sentia culpado pela Anna se aproximar do ex dela. Eu não era suficiente?

POV ANNA

     A cara de raiva que o David emitia e áurea negra em volta dele era algo em que dava até medo de chegar perto. Mas fazer o que se eu sou a namorada dele e é meu dever ficar perto dele mesmo com uma carinha de buldogue raivoso que ele fazia?

-Oi- falei assim que cheguei ao refeitório para o jantar, já me preparando parar sentar ao seu lado.

      Mas em vez dele pelo menos me olhar ou puxar a cadeira pra mim, ele soltou um suspiro irritado, empurrou a mesa ainda mais irritado e saiu do refeitório parecendo bem zangado.

-Ele ta um porre hoje Anna- Thiago me disse enquanto eu observava David sair fora.

 -Por quê?- finalmente fixei o olhar em Thiago. 

 -Ele não falou nada, até gritou com o treinador hoje, deve ser a pressão para o próximo jogo.

Flash back Anna on

      Apertei meu rabo de cavalo com mais força ao entrar no refeitório do Boca e logo sorri ao ouvir a gargalhada do namorado mais maravilhoso do mundo, que eu amo mais que tudo.

      Assim que Mario me viu, em pé ao lado dele, inacreditavelmente seu sorriso desapareceu e não era a primeira vez que isso acontecia e me intrigava.

     Há uma semana e meia atrás, Mario me disse que ele teria que voltar para Alemanha em alguns meses e desde então, ele anda agindo estranho, chegando tarde ao treino e saindo muito a noite, fora todas as vezes em que ele me evitou, evitou minha conversa.

     Eu achava até normal, já que iríamos nos separar em breve e ele queria se afastar. Mas não era preciso e nem justo me tratar com tanta indiferença. Precisamos nos unir ainda mais, nos fortalecer, aproveitar nossos últimos momentos juntos.

    Na noite anterior, eu e Mario fizemos amor. Da nossa maneira, com todo o nosso carinho um pelo outro e ele sussurrou um “eu te amo muito” em meu ouvido varias e varias vezes.

    Achei que tudo ficaria melhor depois disso. Mas por que ele me olhava com o olhar gelado agora? Por que ele ainda não se levantou para me dar aquele abraço apertado que eu tanto amava? Por que ainda não me beijou ou sussurrou que me amava?

-Oi Anna- ele disse com a voz firme se levantando da mesa, apertando minha bochecha e saindo do refeitório, me deixando lá, quase que desolada.

Flash back Anna off

-Anna, você está bem?- Thiago perguntou apertando meu pulso- parece pálida.

-Eu to bem- murmurei totalmente abalada.

-Calma ok? O David só deve estar estressado pela pressão e descontando em qualquer um- foi a vez de Bernard dizer.

      Como eles ousam pensar que eu pelo menos me importo com essas crises de David? Se ele quer se afastar de mim, o problema é todo dele, ele que terá que arcar com as consequências depois.

     Em algum momento, a Anna verdadeira, a Anna que odiava brasileiros, que era ignorante e que metia o foda-se pra opinião e todo mundo, essa Anna se perdeu e deu ligar pra uma Anna que ta deixando um brasileiro pegar em seu pulso e que ta a fim de ir atrás de um namorado bravinho por que quer simplesmente se resolver antes de viajar pro jogo amanhã.

     Eu mesma estou me dando nojo.

-Vou falar com ele- falei me soltando do aperto de Thiago.

-Tem certeza?- ele perguntou.

-Eu tentei falar com ele e ele me bateu- Bernard falou.

      Fiz força para não rir e fui atrás de David.

      Eu não conseguia parar de pensar que era possível que David agisse como Mario agiu ao saber que nos separaríamos. Querendo ou não, eu me separaria de David, ele ia pra França, eu pra Argentina, e isso era a qualquer hora. Ele faria tudo aquilo que Mario fez? Ele teria a coragem?

       Bati na porta do quarto de David e esperei que ele abrisse antes que alguém da comissão técnica aparecesse e me visse ali.

     Quando David finalmente apareceu, também tive vontade de lançar o mesmo olhar raivoso que ele me lançava ou pelo menos dar um soco em seu braço ou na cara mesmo. Mas ao invés disso, apenas perguntei se podíamos conversar em outro lugar.

-Eu não vou a ligar algum com você- ele disse em um tom de voz frio.

     Ótimo, ele esta zangado comigo.

     Fiz um esforço mental para saber o que eu tinha feito de errado nas ultimas 24 horas para David ficar bravinho comigo, mas nada me veio a mente, então tive que perguntar:

-O que eu fiz pra você?

-Ah, vai dizer que vai se fazer de idiota Anna?- ele disse totalmente grosso e em um tom irônico que me deu nojo, muito nojo de David.

-Escuta só- puxei a camisa dele e falei mortalmente serio e bem ameaçadora, não iria deixar ele falar assim comigo- Se for pra agir assim, a gente acaba tudo agora mesmo e se esquece. Não suporto abusos e grosserias, especialmente quando não fiz nada.

      David respirou fundo, cruzou os braços e encostou no mural da porta já começando a abrir a boca sem desviar os olhos de mim. Basicamente ele estava dando a louca por que havia visto eu e o Pastore parecendo um belo par de “amigos”, e que achava que era muito fácil eu trair ele com o Pastore já que David não fazia o “papel de homem” em um relacionamento.

-Foi isso?- eu perguntei quase chamando David de idiota imbecil- Quantas vezes eu vou ter que dizer que ele é apenas um amigo?

-Olha Anna...-ele ousou me interromper.

-Cala a boca- mandei- Você nem para pra pensar em tudo o que eu já fiz por você? As criticas por eu namorar um brasileiro na mesma concentração em plena copa do mundo? Eu finalmente ter aceitado namorar logo um brasileiro, coisas que eu nem aceitei de Pastore? Tina, Lavezzi e Fábio estavam lá com a gente, Lavezzi tinha caído quando foi se sentar na cama e eu tive um ataque de risos. Quando pastore me abraçou pra ele poder ir embora, minha pulseira prendeu no cabelo dele e foi difícil de tirar, pode perguntar a qualquer um. Pastore não é um cara mal, ele sabe que muitas atitudes dele podem refletir no PSG. E se eu fosse terminar com você David, já teria feito isso. Não sou uma pessoa que se contenta só com beijos e andar de mãos dadas, eu preciso de mais, você não me da esse mais, mas ainda estou aqui contigo não estou?

      David olhou pro chão com tanta vergonha que deixou meu coração até um pouco mais leve. Eu não estava com raiva dele, só que doía saber que ele não confiava em mim.

     Ele já ia falar alguma coisa depois de soltar um suspiro e eu nem quis saber o que era, puxei sua cintura, cheguei bem perto dele e sorri, esperando que ele me beijasse. Só que ele não o fez, então tive que faze-lo.

POV DAVID

     Sei muito bem que quando Anna me beija, é por que não sabe arrumar a situação. Percebi isso agora quando ela nem esperou o meu pedido de desculpa.

      Anna deu um passo à frente e eu sabia que ela me beijaria. Antecipação correu em meu corpo, mas não pude esboçar qualquer reação, nem mesmo recuar para dar fim a conversa pois ela segurou meu rosto entre as mãos, inclinou a cabeça e capturou meu lábios, me forçando a abrir. Com movimentos lentos e eróticos, ela explorou o interior da minha boca com a língua, me causando uma reação intoxicante.

     Eu não tinha muita força de vontade para fazê-la parar, então puxei-a para dentro do quarto e fechei a porta.

     Sem nem pensar direito, totalmente entregue a minha ruiva feiticeira, a puxei até minha cama e caímos lá com ela por cima de mim. Eu não percebi como aconteceu, mas minha camisa saiu primeiro para Anna tatear com sua pequena mão sobre meu abdômen enquanto não soltava dos meus lábios. A camisa dela saiu depois e eu não me contive em acaricia-la e beija-la por todo o corpo.

      Anna era tão perfeita, sua pele era macia e tão clarinha, tinha um cheiro próprio que me enfeitiçava de qualquer jeito. Embora eu a quisesse, sabia que não podia.

    Ela guiou minhas mãos até o fecho do sutiã, eu estava tão enlouquecido de desejo por ela que o soltei e o joguei longe, apertando seus seios e a ouvindo gemer como doida.

-Meu amor- murmurei contra seus seios passando a língua sobre eles.

      Mas quando Anna tentou abrir o botão de minha calça, não conseguiu e eu pensei em ajuda-la, percebi que não podia estar fazendo isso. Em um minuto de lucidez, me desgrudei dela a contra gosto.

-Seria legal se você parasse de me beijar e me atacar pra resolver nossos problemas Anna- disse eu me jogando na cama e fazendo-a se deitar em meu peito desnudo.

      Ela riu e respondeu:

-Você é sem graça.   

      Eu devia parar de atiça-la se eu não podia cumprir. Só que a minha ruiva feiticeira tem um poder esmagador sobre mim que faz eu me perder de mim mesmo. Eu a amo muito, eu a adoro e não quero perde-la jamais, nem pro Pastore ou qualquer outro homem, não quero perde-la e mais do que isso, quero consumar nosso amor com ela, quer ser dela e quero que seja minha.

      Tudo isso só podia ser possível, com uma coisa:

-Anna- a chamei para que olhasse pra mim- Você quer casar comigo?

POV ANNA

     As palavras de David, na verdade, o pedido de David soava e ecoava bem engraçado na minha cabeça.

     Não, não era possível. Quer merda é essa?

   -Como é ? – perguntei totalmente seria a ele.

-É- ele disse- temos dinheiro, respeito um pelo outro, a gente sabe se entender, a gente não pensa em outras pessoas, nos damos bem e você não iria precisar viajar o tempo todo pra frança já que morava comigo, fora o sexo. Por que não casar?

     Derrubei todos os argumentos dele em apenas quatro simples palavras:

-Por que não há amor.

POV DAVID

        Esqueci. Esqueci que Anna não me amava. Como pude ser tão burro ou pensar em casar com ela por medo de perde-la para outro homem e por causa de sexo?

        Como pude ser tão idiota?

        Observe-a pular da cama e caminhar até seu sutiã, vesti-lo em tempo recorde e dizer:

-Você é estranho David.

         Ok, foi um erro.

         Pulei da cama outra vez e fui até ela a abraçando:

-Você é complicada Anna, não entendo por que você não consegue me amar, o que eu fiz?

-Eu disse que é complicado- ela replicou.

         Sim, ela disse que seria, disse que não sentia esses sentimentos há tempos e que talvez nunca sentiria, só que eu não desistiria disso tão fácil.

-Vou fazer isso de descomplicar, Anna, eu prometo- respondi a ela.