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História A Troca - A Caixa


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Olá meus lindinhos!

Estou passando um pouquinho mais cedo porque sexta eu estarei viajando, então não vou ter como postar o capítulo! Espero que vocês fiquem felizes com esse adiantamento :D

Agora vamos à história ;)

Capítulo 6 - A Caixa


— Fico feliz em exceder as suas expectativas, Weasley.

O homem sorriu com o meu rebatimento. Ele definitivamente era o irmão da Ginny.

     Como aquilo estava acontecendo?

Eu não fazia a mínima ideia. Era uma coincidência grande demais para ser verdade.

Ronald se aproximou mais um pouco. Antes que o ele fizesse alguma coisa, alguém em uma das bancadas mais a frente deixou cair um tubo de ensaio no chão. Isso atraiu a atenção de quase todo mundo, menos a de Harry.

Ele se virou na nossa direção.

— Eu já iria apresentar vocês dois, mas parece que vocês já se adiantaram.

Harry nos olhava de maneira divertida. O Weasley e eu nos afastamos. Eu segui para o lado oposto e puxei a cadeira mais próxima para me sentar. Ronald fez a mesma coisa com a cadeira a sua frente.

Alguns instantes se passaram até que a agitação na sala se dispersasse. O professor Snape acabou o seu sermão com os desastrados e voltou para frente da sala. Ele começou a falar sobre um trabalho que eu não fazia a mínima ideia do que se tratava.

Eu olhei desesperada pra o lado e encontrei Harry e o Ronald a fazer cara de entediados.

Suspirei, a tarde seria longa.

— Eu espero que vocês já tenham começado a preparar, porque eu não darei nem um dia mais para a entrega.

Snape estava me a me deixar cada vez mais desesperada.

 – Agora levantem e me sigam até o outro laboratório. Tem uma quantidade maior de materiais por lá.

Todos nós levantamos e o seguimos. Os inúteis da minha bancada permaneciam calados. Cansada de esperar alguma atitude dos dois, eu adiantei os meus passos até ficar lado a lado com Harry.

O cutuquei, a chamar sua atenção.

— De qual trabalho o Snape está falando? – perguntei, com a voz baixa.

— Do trabalho em dupla da unidade. – Harry me respondeu. – Que ele passou no primeiro dia de aula.

— Você vai fazer com quem?

— Com o Ron.

— É o que?!

Eu estava perplexa. Harry havia me deixado de lado e isso não era cabível. Pelo menos não para mim.

Ronald, logo atrás, prestava atenção interessado na conversa. Ele riu quando ouviu o tom da minha indagação.

— Relaxa, Granger. – ele nos interrompeu. – Você também faz parte da dupla.

Completamente irritada, eu atrasei um pouco os meus passos. Harry entrou no laboratório e eu me virei para responder ao ruivo intrometido.

— Não sei qual foi o tipo de matemática você aprendeu no lugar aí de onde você veio, mas dupla são duas pessoas, não três. – falei desdenhosa.

Eu estava tão empenhada em replicá-lo que quase passei direto da sala que deveria entrar. O Weasley me puxou firme pela cintura com uma mão, e me apertou contra lateral dele, antes de transpor a porta do laboratório junto comigo.

Eu não consegui esboçar nenhum tipo de reação. O cheiro da colônia impregnada na sua camisa era tão bom que eu me perdi por ali por alguns segundos, anestesiada.

Mais a diante, Ronald me soltou como se nada tivesse acontecido. Porém, não antes de sussurrar ao meu ouvido outra vez.

— Ok, Granger. Já que três não formam uma dupla, acho que nós dois vamos ter que aprender como sermos um só.

Ronald seguiu para a bancada onde Harry estava e eu fiquei lá, parada. Com o coração acelerado.

 

...

 

— Antes de qualquer coisa sentem-se logo em duplas. Eu não vou repetir a explicação para nenhum desavisado.

Snape ordenou assim que entrou na sala. Eu acordei do transe no qual eu tinha sido deixada um pouco antes e me dirigi à mesa onde a minha dupla estava.

Harry já havia separado alguns materiais no canto da bancada e agora limpava os óculos, distraído. Ronald conferia algumas anotações no caderno. Eu me peguei analisando a forma como ele lia, os olhos azuis concentrados no texto. Vários fios de cabelo vermelho caindo no rosto enquanto ele franzia a testa, a tentar compreender melhor o que estava escrito.

Levei tempo demais a observar. Antes que eu desviasse o olhar, o Weasley levantou os olhos e me pegou no flagra. Ele abriu um sorrisinho convencido e piscou um dos olhos pra mim. Automaticamente eu senti minhas bochechas esquentarem.

Virei-me para o Harry e o cutuquei. Ele se assustou com o meu toque.

— Você pode, por favor, me explicar o que está acontecendo? – sussurrei, para não atrapalhar a aula. – Quem é minha dupla?

— Eu. – Harry respondeu como se fosse óbvio.

— Mas e ele? – apontei para o ruivo. – Ele vai ficar sozinho?

— Somos um trio, Hermione. – Harry riu baixinho. – Você voltou do Grand Canyon lerda ou é impressão minha?

Fiz cara feia.

— O Snape nunca iria permitir que alguém passasse por cima da ordem dele. – me defendi. – Se ele mandou que fizéssemos duplas, ele não aceitaria trios.

Na verdade eu estava lerda mesmo. E o culpado por isso estava sentado ao meu lado, a fingir que lia as anotações da aula passada.

Harry rolou os olhos.

— Snape formou as duplas com os presentes na aula, semana retrasada. Como Ron entrou na turma por último e não conhecia ninguém além de mim, ele me perguntou se ele poderia fazer dupla comigo. – meu amigo explicou. – Entretanto, a turma está com número ímpar de pessoas, e, como você foi a única aluna que faltou, acabou sobrando na divisão das duplas. Só que você entregou um atestado na coordenação justificando a sua falta, então Snape foi obrigado a formar um trio pra você e é evidente que eu não te deixaria sozinha.

Harry terminou o esclarecimento tomando fôlego. Eu sorri e acariciei o seu braço, em um agradecimento mudo por ele não ter me deixado sozinha. O fato de ele ter se lembrado de mim e não ter me abandonado foi muito importante para o meu psicológico no momento.

Snape continuou o seu monólogo por mais ou menos meia hora, basicamente a desenvolver as fórmulas necessárias para o nosso trabalho e explicar como ele queria que cada passo do processo fosse minunciosamente justificado. Eu prestava atenção em tudo que ele falava, enquanto Harry jogava no celular e Ronald dormia por cima do caderno que estava lendo antes.

Snape sentou-se a mesa.

— Sendo assim, como vocês já definiram a área na qual vão trabalhar, comecem agora a dissolução fracionada do composto chave específico ao tema de vocês, que eu pedi que trouxessem nessa aula. – ordenou. – E, por favor, façam silêncio. Quaisquer dúvidas sinalizem com a mão e eu vou até a bancada de vocês.

Olhei para Harry, mas antes que eu pudesse perguntar alguma coisa ele levantou uma das mãos para mim, a pedir silenciosamente para eu esperar. Pelo o que eu já conhecia do meu amigo, ele só voltaria a se manifestar quando terminasse o seu jogo.

Irritada e sem opções, voltei-me para o Weasley, que acabava de despertar do seu cochilo inapropriado.

— Você por acaso sabe do que ele está falando? – perguntei, tentando me manter cordial.

Ele apenas balançou a cabeça em confirmação, enquanto bocejava. Ele passou a  mão pelos cabelos ruivos, penteando-os para trás.

— Pode, por favor, me dizer? – continuei, impaciente.

Ronald não me respondeu de imediato. No momento que eu iria insistir na pergunta, ele retirou de dentro da mochila uma caixa média com diversas substâncias dentro. Cada frasco de vidro estava separado por nicho. Admito que fiquei surpresa com o nível da arrumação do material dele.

O ruivo balançou um mini-tubo de ensaio na minha frente. Um composto pastoso e marrom se agitou.

— Escolhemos isso aqui como tema.

Me apoiei na bancada e umidifiquei os lábios.

— Vocês não me esperaram para escolher?

Tentei esconder a minha contrariedade na pergunta. Em vão. Nunca fui muito boa para encenar.

— Esperar você terminar o seu passeio estava fora de cogitação, Granger. – Ronald respondeu. – Alguém precisava começar a trabalhar.

     Meu passeio?!

Ele nem me conhecia e estava insinuando que eu havia viajado por diversão. Agora eu estava revoltada.

— O que você disse? – perguntei, confrontando-o.

— Isso mesmo que você ouviu. – ele confirmou impassível.

— E quem é você pra falar dos meus projetos, Ronald? Só porque você veio de fora não significa que você seja melhor do que ninguém aqui!

A expressão do Weasley mudou. Quando ele me encarou eu pude ver os olhos dele pegando fogo. Era o mesmo olhar que eu já tivera recebido na farmácia, duas semanas atrás.

     Ponto pra você, Hermione.

Eu havia conseguido irritá-lo novamente. O pior de tudo é que eu gostei de ter feito isso.

Antes de Ronald me responder, Harry interferiu rapidamente.

— Vocês podem parar de brigar por um segundo, por favor?

O ruivo abaixou a cabeça. Eu não. Harry suspirou.

 – Hermione, sem condições de a gente te esperar voltar pra decidir nada. – falou. – Até porque o Snape pediu o nome do tema de cada um na semana passada.

Eu olhei para Harry visivelmente discordante.

— Você poderia ter me contatado! – direcionei minha revolta para o Harry. – Não era uma coisa muito difícil de fazer!

— Eu tentei falar com você, mas seu celular só dava número indisponível! – Harry se defendeu.

— Isso não vem ao caso, Harry! – rebati insatisfeita. – Nós somos um trio! As decisões tem que ser conversadas entre os três!

— A decisão foi da maioria, Granger. Aprenda a conviver com isso. – interferiu o ruivo, outra vez. – Nem sempre o que você quer que aconteça é o que realmente vai acontecer.

A esse ponto da discussão algumas pessoas da turma já prestavam atenção no que nós estávamos a discutir, inclusive o professor.

Snape nos interferiu bem no momento que eu ia dar uma resposta desaforada.

— Era de se esperar que essa ideia de trio fosse realmente algo estúpido da sua parte, Potter. – ele falou com desdém – Não sei onde eu estava com a cabeça quando eu concordei com isso.

Eu enrijeci rapidamente. Pude sentir Harry se agitar no banco ao meu lado. Ronald olhava para Snape com cara de quem não estava a entender nada.

— Ainda mais quando a Granger é um dos integrantes do suposto trio... – Snape continuou – Vocês dois não tem nem 10% não tem maturidade suficiente para resolver nada sem provocar algum tipo de furdunço.

Harry apertou as mãos na bancada com força. Eu segurei um dos pulsos dele, levemente, como uma forma de tentar mantê-lo o mais calmo o possível. Ronald, no entanto, continuava a encarar Snape. Ele parecia não estar acreditando no que o professor estava falando.

Eu resolvi me manifestar.

— Nós só estávamos resolvendo o trabalho, professor, e aí que acab...

Fui interrompida por Snape.

— E aí que eu não quero saber, Srta. Granger. Eu pedi para vocês trabalharem calados e é isso que deveria ter acontecido aqui. Mas vocês como sempre dão um jeito de passar por cima da minha palavra.

Olhei para Harry sem saber o que fazer. Percebi que ele se movimentou novamente na cadeira, dessa vez de forma menos sutil. Ele iria se levantar e eu não conseguiria segurá-lo. Harry era mais alto e mais forte que eu. 

 Contudo, para a minha surpresa, foi o Ronald que se manifestou primeiro.

— Qual o real motivo da reclamação, professor Snape? – o ruivo questionou, a enfatizar a palavra “real”.

Snape estreitou os olhos. Ele não gostava nem um pouco de ser contestado.

— O motivo, Sr. Weasley, é que eu pedi silêncio, mas o senhor e esses dois baderneiros não entenderam muito bem o significado disto.

 – Eu acho que o barulho não é exatamente o problema que está incomodando o senhor, professor. – Ronald rebateu. – Porque vários grupos estavam conversando antes de nós e, no entanto, o senhor só reclamou com a nossa bancada.

Snape levantou da cadeira num salto e avançou rapidamente em direção ao nosso trio, com o dedo em riste. Ele permaneceu a menos de dois metros da nossa bancada.

— Você não ouse me ensinar a dar aula, Weasley! – vociferou. – Eu sei muito bem com quem eu devo reclamar nesta sala ou não!

— Ah, o senhor sabe? – Ronald soltou uma risada sarcástica. – Pois, o que me parece é que o senhor deixa sua implicância pessoal interferir nos seus assuntos de trabalho.

A sala inteira acompanhava a discussão dos dois, assustada. Ninguém nunca tinha ousado desafiar Snape naquele nível, nem mesmo Harry. Mesmo com a aproximação de Snape, Ronald não havia abaixado a cabeça e permanecia olhando fixamente para o professor, claramente desafiando-o.

Snape, contudo, praticamente cuspiu as palavras.

— Quem você acha que é para falar comigo desse jeito, Weasley?! As coisas aqui são diferentes da universidadezinha que você veio!  – sibilou. – Se você quer ficar por aqui vai ter que aprender a deixar as coisas do jeito que você encontrou! E a respeitar os seus superiores!

Ronald ficou vermelho com o comentário. Eu pude ver uma veia saltando no seu pescoço. Ele estava com raiva. Era a segunda vez que alguém tocava na questão dele ter voltado.

Eu me senti culpada pela crítica que eu fizera antes. Nem eu mesma tive coragem de defender o Harry da forma que ele estava a defender.

O ruivo encarou o professor.

— Você não é meu superior, Snape. Você é só um professor impotente tentando amenizar suas frustrações descontando elas nos seus alunos! – Ronald se apoiou na mesa. – Você não tem um pingo de mérito pra contestar quem eu sou e o que eu vim fazer aqui!

Snape retesou-se completamente ao ouvir o que Ronald dissera. A frase havia o atingido em cheio.

— Fora da minha sala, Weasley! – ele ordenou, firme.

Ronald não retrucou. Colocou o caderno na mochila de qualquer forma e levantou do banco. Antes de se afastar ele se virou em nossa direção.

Ele apontou para a caixa que descansava sobre a mesa.

— Depois vocês me entregam, pode ser? – perguntou rapidamente, enquanto jogava a mochila nas costas.

Tanto eu, quanto Harry, balançamos a cabeça em concordância. Antes de nos dar as costas, Ronald sorriu de canto, como se nos pedisse desculpas. Uma vontade repentina de correr atrás dele me acometeu quando eu o vi atravessar a porta.

 

...

 

— Hermione? Mione? – Harry me chamava. – Você escutou o que eu disse?

— Me perdoe, Harry. – eu falei. – Eu me distraí.

— É, eu sei...

Ele suspirou. Havíamos voltado a analisar a amostra.

— Porra, eu estou mal para caralho agora. O Ron foi expulso da sala e eu sinto como se a culpa fosse minha.

Harry me passou um becker e nós despejamos parte do conteúdo da amostra dentro.

 – A culpa não foi sua. Foi minha. Eu que comecei a discussão à toa. – eu falei, enquanto colocava as luvas descartáveis. – Por falar nisso, qual foi o tema que vocês escolheram?

— Análise do Jabuticaba. – Harry respondeu. – Retiramos algumas amostras do solo da margem, da água e de alguns componentes do local para o estudo.

Fiquei surpresa com a escolha do tema. Trabalhar com o Rio Jabuticaba seria muito bom por ser uma opção óbvia e prática. A facilidade de acesso ao local ajudaria muito na coleta de novas amostras, além de que era sempre interessante relacionar os nossos projetos acadêmicos com os elementos da nossa própria cidade.

      Você se precipitou, Hermione.

Como eu queria enfiar minha cara em um buraco.

— Foi uma ótima escolha, Harry. – admiti com sinceridade – Eu gostei de verdade.

— Agradeça ao Ron. – Harry respondeu, enquanto pingava uma solução transparente na amostra. – A ideia inicial fora dele.

     Ponto para o Weasley. 

Ele havia tirado o dia para me surpreender.

— Vou agradecer. – respondi, com um sorriso.

     Não nem sei porquê.

Harry virou o rosto para mim e levantou uma das sobrancelhas. Eu desfiz meu sorriso rapidamente e peguei outro Becker. Repeti o mesmo processo que ele já tinha feito, mas com um solvente diferente.

Harry sentou-se na cadeira novamente.

— Eu odeio tanto essa aula. – disse um tempo depois.

Eu ri enquanto fazia algumas anotações sobre a reação.

— Você não odeia a aula. – eu comentei ao mesmo tempo em que anotava algumas coisas no caderno. – Você odeia quem ministra elas.

— Não tem um semestre sequer que eu consiga passar sem ter que pegar uma matéria com ele sendo meu professor.

— Eu não entendo o motivo da implicância de vocês.

— Não tem muito o que entender. Ele é insuportável e só.

 – Só que, tipo, vocês são parentes e tal... Eu não vejo motivo para tudo isso. – argumentei. – Se bem que ele também não gosta de mim, né?

— Snape não gosta de você porque você é minha amiga. – Harry enfatizou.

Eu ri da constatação.

— Me passa a baqueta, por favor? – pedi.

Harry me entregou o objeto, no automático. Dei continuidade ao assunto de antes.

— Para mim, continua não fazendo muito sentido todo esse ódio. Ele é seu tio.

— Algumas coisas não precisam ser explicadas, Mione.

A frase fora dita com tanto pesar, que, ela por si só, já era pra mim uma explicação. Eu sabia que ele e Snape tinham problemas particulares entre si e que, embora ele nunca falasse sobre isso, não parecia ser algo que pudesse ser resolvido da noite para o dia.

Olhei para Harry por cima dos óculos de proteção e percebi que assim como eu, ele também esperava o resultado final da dissociação. Porém, em seu rosto, eu também pude ver que ele em nada estava focado na atividade a sua frente. Harry estava perdido em algo dentro da própria cabeça.

Resolvi mudar o foco do assunto.

— E a Ginny? – perguntei. – Como vocês estão?

— Como sempre. – ele sorriu. – Uma merda.

— Harry!

Ralhei, apesar de também achar graça.

— Não fale assim de vocês dois.

Harry deu de ombros.

—Eu fiz merda e ela não quer me perdoar. Talvez seja melhor que fique assim do jeito que está.

— Ela só queria participar mais da sua vida. – comentei.

     Assim como todos nós.

 Harry não disse nada de imediato. Pedir para ele aquecer a solução enquanto eu conferia umas anotações. Ele pegou o becker que eu entreguei e despejou o conteúdo em outra vidraria.

Continuei o observando, de soslaio. Ele percebeu.

— Ok, Mione. Eu sei, eu vacilei. Não nego. –falou, enquanto ligava o aquecedor. – Só que a Ginny também não entende.

Harry pôs a amostra no tripé. Esperei a reação.

— Fica difícil a gente chegar a algum lugar desse jeito.

— Você sabe o que a Ginny quer. – salientei. – Não seja egoísta.

— Eu estou tentando não ser. – ele se defendeu.

A cor da reação aquecida prendeu a minha atenção.

— Tem alguma coisa errada – eu disse.

— Tem muita coisa errada, Mione. Acho que nós dois nunca vamos conseguir nos acertar de vez.

 – Não, Harry. Eu não estou falando de vocês. Embora vocês estejam errados também – o interrompi, com um sorriso. – Só que... olha, veja isso aqui...

Mostrei meu caderno para ele. Harry leu rapidamente. Seus olhos se fixaram no  conteúdo do balão de fundo chato antes de retornarem ao caderno.

Ele repetiu esse processo três vezes até se manifestar.

— Tem alguma coisa estranha. – Harry coçou a cabeça.

— Jura? – rebati, irônica.

— O que fizemos de errado então?

— Nada

— Como nada, Mione? – ele me olhava sem entender o que eu estava falando. – Claro que fizemos alguma coisa errada. A análise não tá batendo com a teoria.

Pus minhas mãos na bancada.

— Harry, nós já repetimos esse processo químico por cinco semestres. Não tem como nós termos errado.

— Então o que houve?

Tirei uma das luvas e apoiei minha mão na cintura. Comecei a me movimentar, a andar de um lado para o outro da bancada. Na minha mente, repeti todo o processo, a buscar possíveis erros que talvez nós tivéssemos cometido. Não encontrei nenhum.

Harry me olhava ansioso. Só havia uma resposta.

— O composto está alterado. – sussurrei.

Harry me olhou como se eu estivesse louca.

— Como assim alterado? – ele franziu a testa. – Eu e Ron tomamos o máximo de cuidado na hora de extrair as amostras.

— Talvez ele não tenha sido alterado por vocês. – comentei, reflexiva.

A ruga na testa de Harry aumentou com a minha observação. Antes que eu pudesse terminar minha linha de raciocínio, Snape avisou que a aula chegara ao fim

 

...

 

Fui a última a sair do laboratório, bem depois do fim da aula. Há muito Harry já tinha ido embora. Ele me pedira para entregar a Ron a caixa com os compostos. Parei um instante no pé da escada, ainda sem saber por onde começar a busca. Na falta de muitas opções, resolvi andar em direção ao pátio.

Antes de chegar à área externa eu avistei Viktor. Dessa vez ele estava sozinho. Pensei em seguir pelo lado oposto, mas antes mesmo que eu retornasse, ele me viu.

Viktor correu na minha direção.

— Mione! – chamou, animado.

Como se não bastasse ele esfregar a “amiga” dele na minha cara mais cedo, eu precisava mesmo encontra-lo novamente?

      Isso já deveria ser castigo.

— Oi, Viktor. – respondi sem muita cerimônia.

Ele sorriu gentilmente. Era golpe baixo Viktor sorrir para mim daquele jeito.

— Você não me respondeu como foi a viagem – comentou.

— Foi boa. Nada de especial.

— Sempre tem alguma coisa especial nas suas histórias, Mione.

Viktor acariciou a minha bochecha.

     Porque ele fazia isso?

— Você está com pressa? – perguntou.

     Sim.

— Não.

— Então vamos fazer assim... – ele propôs. – Você lancha agora comigo e me conta tudo o que aconteceu lá. Pode ser?

Quando eu percebi Viktor já havia me arrastado para a cantina. Nós nos sentamos em uma das mesas mais afastadas. Falamos um pouco sobre a viagem e um bom tempo depois, Viktor sentiu o estômago apertar. Ele fez sinal chamando o atendente.

Em poucos minutos Greg veio até nós e perguntou se iríamos querer o de sempre. Viktor confirmou. Eu só pedi uma água.

— Não está com fome?

— Não muita – respondi com sinceridade. – Minha aula só é daqui à uma hora, prefiro comer mais tarde.

— Uma atitude inteligente. Não esperava menos de você.

     Por que diabos você está me falando essas coisas?!

Eu sorri. Viktor estava me deixando sem jeito.

— Exagero seu. – desviei o assunto. – E então, como está sendo esse início de semestre?

— Péssimo. – ele respondeu. – Estou tendo que engolir simulações de processos uma por cima da outra, praticamente.

— Ah, nem deve ser tão ruim assim. – rebati, divertida.

— Claro, porque não é você que anda para cima e pra baixo com aquela porra daqueles classificadores pesados na mochila.

Não consegui me controlar e soltei uma gargalhada com a observação do Viktor. Quando eu me recompus, percebi que ele me analisava.

— O que foi? – indaguei.

— Nada, só estou te olhando.

Greg apareceu com a minha água e o hambúrguer de Viktor, o que me salvou de ter que responder qualquer coisa. Beberiquei o líquido aos poucos enquanto Viktor dava as primeiras mordidas na sua comida.

Ele limpou a boca com um guardanapo e se direcionou a mim.

— Mas e você? – perguntou. – Muito trabalho acumulado nessas duas semanas?

— Até que não. – respondi, enquanto brincava com a tampa da garrafa. – Tem um projeto aí do Snape, mas ainda está no início.

A pergunta dele fez eu me lembrar da caixa que estava no meu colo.

    Melhor, me fez lembrar do dono dela.

Eu precisava devolvê-la. Só por isso. Viktor deu outra mordida no hambúrguer.

— Snape é aquele professor problemático? – ele perguntou de boca cheia.

— Sim, esse mesmo. Cada semestre que passa ele só piora.

— Você é muito resistente.

Viktor bebeu um gole de refrigerante antes de continuar.

— Digo, se fosse comigo eu não pegaria mater...

Parei de prestar atenção no que Viktor falava no momento que eu avistei uma montanha de cabelos vermelhos debruçado no balcão da lanchonete, a sorrir. Ronald conversava animadamente com Greg enquanto parecia esperar o seu próprio pedido.

Viktor estalou os dedos na minha frente, a chamar minha atenção.

— Mione? Tá aí?

— Viktor, eu tenho que ir.

Eu me levantei da cadeira na qual eu estava sentada.

— Depois a gente se fala. – disse, rapidamente.

O pedido do ruivo tinha acabado de sair e ele já se afastava do quiosque, com o saco de papel na mão. Ronald seguiu em direção ao estacionamento dos fundos. Mantive meus olhos focados no caminho para não perdê-lo de vista. Viktor olhou para trás, na mesma direção que eu. Ele não demorou a perceber o motivo da minha pressa.

Viktor segurou o meu pulso com firmeza, mantendo-me ali.

— Aonde você vai, Hermione?

Puxei o braço, irritada.

— Pra que você quer saber? – respondi irritada. – Eu não te devo mais satisfações, Viktor! Não era isso que você queria?!

Não fiquei lá para escutar a resposta. Segui com os passos adiantados em direção ao estacionamento sem nem olhar para trás e entrei em disparada no corredor entre os pavilhões.

A noite já havia chegado e minha aula começaria em pouco tempo. Tive certa dificuldade para encontrar Ronald em meio aos automóveis. Já estava quase convencida de que havia ido embora, até que enxerguei alguém em pé, limpando pacientemente o visor do capacete, em uma das últimas vagas do final do estacionamento.

Gritei o seu nome e fui em direção a moto ainda estacionada.

— Weasley!

Ronald virou o rosto o quando ouviu o seu nome. Ao perceber que era eu que o chamava, suas feições se relaxaram.

Eu me aproximei o suficiente, ofegante.

— Você anda muito rápido, Weasley. – reclamei.

O ruivo deu de ombros.

— Minhas pernas são grandes.

Semicerrei os olhos e Ronald sorriu.

— Sua caixa.

Eu estendi a caixa dos compostos na direção dele.

— Você correu esse caminho todo só pra me entregar uma caixa, Granger?

— Como você sabe que eu corri esse caminho todo, Ronald?

O ruivo prendeu o riso e desviou o olhar para o chão.

     Aquilo não era possível!

— Você sabia que eu estava atrás de você e não parou!

Revoltada, eu empurrei revoltada a caixa na direção da sua barriga, obrigando-o a dar alguns passos para trás.

— Você me deixou ficar toda suada só porque era engraçado para você!

Ronald empurrou de volta até minhas costas colarem no carro que estava estacionado atrás de mim. De repente, a caixa de compostos se tornou a única barreira que separava os nossos corpos.

Ele se curvou até ficar com o rosto bem próximo do meu.

— Acredite que se eu quisesse te deixar toda suada, Hermione, te ver correr não seria a minha primeira opção.

O ruivo praticamente sussurrou no meu ouvido e eu não consegui evitar que minha pele se arrepiasse por completo. Ronald percebeu a reação que tinha provocado em mim e deslizou os lábios, devagar, do lóbulo da minha orelha até a minha clavícula. O escutei rir antes de repetir na mesma velocidade o processo no caminho inverso, depois subiu de volta ao lugar inicial.

Eu reprimi, com muita dificuldade, os sons presos na minha garganta. No momento em que eu achei que Ronald fosse avançar, ele se afastou.

O ruivo tomou a caixa da minha mão, como se nada tivesse acontecido.

— Muito obrigado. – ele agradeceu apoiado na moto.

O observei colocar a caixa na mochila cuidadosamente.

— Aconteceu mais alguma coisa interessante depois que eu fui convidado a me retirar da aula?

Eu preferi levar o jogo dele a diante e ignorar a cena de agora a pouco.

— Não na aula. – respondi, sem me desencostar do carro. – Mas no nosso trabalho sim.

— O que teve? – Ronald se mostrou preocupado.

— O composto está alterado. – respondi.

O ruivo sorriu de canto.

      Ele fica tão lindo fazendo isso.

Concentra Hermione.

— Eu já imaginava.

— Já? – perguntei surpresa. – Como?

Ele não me respondeu, apenas mordeu o lábio inferior e levantou uma das sobrancelhas. Algo em mim despertou. Eu me desencostei do automóvel e andei lentamente ao encontro dele. Os olhos de Ronald se mantiveram presos nos meus, curiosos.

Eu cheguei perto o suficiente para deixá-lo preso entre o meu corpo e a moto.

— Então... Ron... – sorri encantadora. – Você não vai me dizer o que te levou a essa conclusão?

Coloquei os meus dedos sobre as suas costelas e arranhei a região devagar. Ao sentir o meu toque, o ruivo fechou os olhos. Minha provocação fora aceita, mas, ainda sim, ele balançou a cabeça em negação para a minha pergunta.

Eu fiquei nas pontas dos pés e subi minhas mãos até seu pescoço, acariciando-o na nuca.

Ronald se curvou na minha direção, ainda de olhos fechados.

— Não vai mesmo me dizer? – perguntei novamente.

Nossos rostos estavam tão próximos que eu pude sentir a sua respiração. O ruivo se negou novamente.

Suspirei teatralmente.

— Então eu acho que vou te deixar com fome, mais uma vez.

Em um lance rápido eu peguei o saco de papel que estava em cima do assento da moto e corri. Ao perceber o que eu tinha feito, Ronald avançou na minha direção, no entanto, com o impulso da sua movimentação a moto perdeu a estabilidade e ameaçou cair.

Enquanto ele a segurava a motocicleta eu corri mais um pouco até ficar a uma distância segura. Olhei rapidamente dentro da sacola de papel.

— É torta de frango! – gritei. – Eu adoro essa torta de frango!

— Hermione, devolve a minha torta! – ele bradou de volta enquanto tentava estabilizar a moto novamente. – É a segunda vez que você rouba o que eu pretendia comer!

— O mundo é dos espertos, Weasley!

Ergui o saco de papel em sua direção.

— Mas eu te garanto que essa torta vai ser muito bem aproveitada! – provoquei. – Assim como o seu chocolate foi!

— E eu te garanto que você vai me pagar! – ele exclamou irritado. – E em dobro!

O ruivo conseguiu fixar a moto no lugar. Ele se adiantou na minha direção e eu corri mais uma vez.

— Granger, volta aqui!

Ao perceber que era uma batalha perdida, o ruivo diminuiu o ritmo até parar.

— Pode ficar com a torta, Hermione! – gritou.

Ele abriu um amplo sorriso e apontou para mim divertido. Eu parei para fita-lo.

— Você ainda vai implorar para que eu coma, Hermione, mas vai outra coisa!

Eu me senti quente. Muito quente. Completamente vermelha. Por sorte, estávamos suficientemente longe um do outro para que ele não me visse assim.

Eu sorri.

— Boa noite, estranho! – eu gritei de volta, em resposta.

Dei as costas para o ruivo e voltei ao mesmo caminho que eu usei para chegar ali. Um barulho de motor irrompeu ao fundo alguns segundos depois.

 Ron voltava para casa, sem sua torta.

 Eu partia para aula, com um sorriso bobo no rosto.


Notas Finais


Acho que foi um capítulo bem esclarecedor, não?
E Romione já começando a serem fofos no final ^-^

Pra quem quiser acompanhar o outro lado da história, esse capítulo faz ligação com outro lá d'A Escolha. Então:
==> Se vocês desejam saber o motivo da pressa de Harry pra ir embora, só da uma olhada no capítulo 07 - "O visitante".

~~ https://www.spiritfanfiction.com/historia/a-escolha-6710455


Beijos :*


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