Lauren havia passado o dia agitada, não havia conseguido pintar nenhum quadro, conseguiu dar aula mas estava um pouco dispersa. Quando chegou em casa foi direto para o banho, é onde conseguia relaxar, deixou a banheira enchendo enquanto foi pegar uma taça e uma garrafa de vinho, fazia tempo que ela não chapava um pouco com a erva, mas estava tão dispersa que precisava fumar um pra tentar aquietar seus demônios internos, fazia isso às vezes mesmo sabendo que isso era errado, não ia aliviar seu vazio.
Pegou o cigarro de maconha com o vinho e levou até o banheiro, entrou na banheira de água quentinha e suspirou. Tomou do vinho pérgula, estava bom, acendeu o cigarro e sugou logo soltando a fumaça suavemente. Essa solidão era a parte ruim de sua vida, ela não tinha amigos além de Normani, Dinah e Ally, mas cada uma estava ocupada demais com seus deveres, não vinham muito a sua casa, ela ficava quase sempre sozinha, não sentia vontade de sair pra pegar alguém na balada, e pior ainda no frio que estava fazendo em NY, só queria ter alguém para abraçar em dias frios como esse.
"Eu venho esperando muito tempo
Sim, eu sei que você mudou
Você tem um rosto diferente para mim. Eu acho que eu estava errada, eu sou a única culpada. E isso é uma vergonha, você vê"
Terminou o cigarro e jogou dentro da lata de lixo, colocou mais vinho na taça e virou, precisava se sentir anestesiada de alguma forma, ela sabia que estava sendo difícil pra Camila, mas pra ela também estava sendo, não houve um só dia que não se sentiu culpada, não houve um só dia que ela não sentiu a falta de Camila, o país que ela havia ido era grande, não podia simplesmente ir atrás dela como as pessoas fazem em filmes, na vida real as coisas são diferentes, ela errou, teve que lidar com seu erro, mas se arrependeu e ter Camila de volta em sua vida foi um impacto muito grande.
Tomou mais duas taças de vinho quando sentiu o cheiro de fumaça.
— oh que merda
Levantou da banheira rapidamente e jogou água dentro da lixeira, o cigarro fez pegar fogo. Quando viu que o fogo apagou ela foi caminhar e se sentiu tonta, acabou deslizando no piso da cerâmica molhada e caiu, bateu a lateral da testa na pia e sentiu a pancada em sua coxa. Ela gemeu sem conseguir se mexer, sua cabeça doía e sentiu alto molhado escorregar no seu rosto, era sangue. Se arrastou pra pegar o celular em cima do vaso sanitário, a primeira pessoa que pensou em querer ligar foi Camila, mas não tinha seu número. Discou pra Dinah.
— hey branquela
— Dinah... eu preciso que venha aqui
— que voz é essa? Tá chapada?
— fumei só um e bebi pouco, eu acabei caindo e me machuquei, preciso que venha aqui porque não vou conseguir dirigir
— fica calma eu já estou indo
Desligou. Lauren levantou devagar e se olhou no espelho.
— que droga
A ponta de seus dedos estavam úmidos de sangue, mas o corte não havia sido profundo, apenas uma raladura perto da testa, porém sangrava, sua perna estava latejando. Colocou uma toalha envolta do corpo e caminhou para a sala, logo ouviu a campainha e foi abrir.
— você pensa em ir pro hospital pelada? vai se vestir, como foi isso?
— escorreguei no piso molhado
— você nunca mais tinha fumado, o que deu em você?
— ela voltou
— ela quem?
— Camila
— aquela Camila que você falava? sua ex namorada, o amor de sua vida?
— ela mesmo, e tem uma filha linda, nos encontramos na cafeteria e desde então não sei o que fazer
— começa tirando essa toalha e vestindo roupas secas pra ir ao hospital, depois você pensa sobre o restante
— me ajuda
Foi com ela até o quarto, colocou uma camiseta, um casaco grosso por cima e calça, colocou também uma bota.
— não quero luvas
— ta parecendo uma geladeira lá fora, mas ok, vamos!
Trancaram a casa e Lauren entrou no carro de Dinah.
— acho melhor não dizer ao médico que bebeu e fumou maconha, bom, seu cheiro não dá tanto pra disfarçar mas vai que ele acredita né? você tá com uma cara de como se tivesse tomado um rivotril
— só dirige por favor, preciso de um remédio pra dor, a pancada foi toda na minha perna esquerda
— ta bom
Por sorte tinha um hospital ali perto, ela tinha plano de saúde então foi atendida rápido, o médico pediu uma tomografia e teve certeza de que não quebrou nenhum osso, ela apenas teria um hematoma na coxa esquerda e preciso de um curativo na lateral da testa, tomou duas injeções pra dor e foi liberada.
— vou te levar pra casa e você vai descansar
— não, me leva pra cafeteria
— o que? não, o médico disse pra descansar, está machucada
— vou esperar Camila
— marcou com ela?
— falei que os esperar no final da tatde
— ela disse que ia?
— não
— então você vai pra casa
— Dinah, não! agradeço muito por ter me trazido ao hospital mas me deixe lá, eu pego um táxi de volta pra casa
— tem certeza?
— tenho
— tudo bem, mas como sua amiga eu preferia que fosse pra casa
— vou ficar bem
Dinah então atendeu ao pedido dela, Lauren entrou devagar por causa das dores e pediu o café de sempre. Dessa vez ela esperou mais do que deveria, quando olhou pro relógio faltava apenas meia hora para fecharem.
— a conta
Colocou o dinheiro na mesa e caminhou até a saída dando de cara com Camila.
— você veio
— desculpe te decepcionar mas eu vim faltando pouco tempo pra fechar porque achei que não estaria mais aqui... o que foi isso no seu rosto?
— um acidente, ah e se suas palavras tiveram a intenção de me magoar, muito bem, conseguiu, mas tudo bem, talvez eu mereça, mas você me julga tanto quando a culpa não foi só minha, você também não deixou de viver a sua vida para voltar e vir atrás de mim, seguimos... e precisamos nos perdoar, 10 anos depois ainda restou amor aqui dentro, meu coração ainda é seu
— não diga essas coisas, não fale mentiras
— nunca falei algo tão verdadeiro em toda a minha vida
"Quando eu te deixar
Vou levar papel em branco
Espalhar por cada canto um barco de papel. Sei que o amor é fácil de afogar, e se você tem um barco
Maior chance de se salvar"
Uma música começou a soar na cafeteria, Camila sentia seus olhos arder, não sabia se era de raiva ou porque por muito tempo quis ouvir aquilo, durante esses anos separadas desejou ouvir a voz dela, ouvir essas palavras senso sussuradas para si como ela sempre fazia.
"Mas, ora
Você partiu antes de mim
Nem me deixou barco frágil
Pr'eu me salvar do naufrágio
Que foi te dar meu coração..."
— eu não sou perfeita, ninguém é
— você bagunçou tudo
— acha que você também não? eu bebi, eu acabei fazendo o que não fazia a meses... fumei maconha, eu fiquei zonza e não parava de pensar em você, então eu quase toquei fogo no meio banheiro e poderia ter ocorrido algo grave quando sofri uma queda, mas só fiquei com um grande hematoma e esse curativo na testa, não acha que já estou sendo punida o suficiente? ter que te olhar e não poder te abraçar com consentimento, não poder te tocar, essa é a punição mais severa de todas, seguimos nossos sonhos e eu sinto muito por nossos caminhos terem sido diferentes, mas estamos aqui agora, o destino nos trouxe uma para a vida da outra novamente
"Não sinto tua falta
Não sinto a falta do teu cheiro
De perfume importado
Que exportou de mim
Não sinto falta do teu erre puxado
Nem do teu beijo com gosto de dente
Que morde coração envenenado
Não sinto tua falta
Não sinto, nem lembro de você
Nem da tua respiração ofegante
Não sinto falta, eu sinto ânsia
Distância
Do teu signo-preto
Do teu silêncio, o grito
Sinto ânsia
E a provoco
Enfio os meus dez dedos na garganta
Pra ver se vomito teu ser
Da minha alma"
— eu tentei me convencer todos os dias de que não sentia a sua falta e que estava tudo bem, mas por dentro eu era consumida por dor, por saudade, te olhar me faz sentir dor Lauren, porque há muita mágoa
— não seja tão severa e tão difícil de perdoar, me deixe te fazer sentir algo que não seja dor
— eu tenho que ir
— não fuja
— aprendi com você
— não fugi, e não estou fugindo agora, estou encarando isso de frente. Ai!
— o que foi?
— nada, eu só... ai! droga, ai
Levou a mão até a cabeça e então tudo ficou escuro. Camila a segurou para que não batesse a cabeça e dois homens correram pra ajudar, levaram ela até um táxi que a garota pediu para parar em frente a sua casa, o motorista levou Lauren desacordada até o sofá.
— quanto devo?
— nada, espero que a moça fique bem
O homem saiu e trancou a porta.
— o que eu tô fazendo? Devia ter levado-a ao hospital e não a minha casa
Foi pegar álcool e um aferidor de pressão. Molhou algodão com álcool e levou até o nariz dela, Lauren se mexeu.
— calma está tudo bem
— o... o que houve?
— você desmaiou
— minha cabeça está doendo
— devido a pancada, vai melhorar, pode sentar reta? quero verificar sua pressão
Ela assentiu.
— 8.5 , está baixa, quando foi a última hora que se alimentou?
— o café
— tô falando de comida mesmo, coisas nutritivas
— acho que... ontem
— não jantou? não está almoçando? está tentando se matar? precisa comer, não vai sobreviver se não se alimentar
— não estava com cabeça pra pensar em comida, não tive fome
— fique ai, vou pedir uma pizza
— parece que está me odiando menos
— não acredite nas aparências
Enquanto ela foi ligar Lauren começou a andar pela casa, viu um quartinho com o nome Elisa na porta e entrou curiosa, tem uma linda decoração e padecia que a pequena amava pelúcias.
— o que faz ai?
— desculpa, só estava olhando
— venha sentar no sofá
As duas sentaram lá e o silêncio dominou, até Lauren falar.
— obrigada por não ter me largado lá
— não faria isso com ninguém
— eu só preciso relaxar, vou ficar bem, você foi a primeira pessoa que passou pela minha cabeça quando eu cai, quis tanto ligar pra você e não pra Dinah, minha amiga
Ela ficou em silêncio.
— fala alguma coisa
(Som da campainha)
— é a pizza
Desviando do assunto ela foi pagar e pegar a pizza.
— sirva-se, está muito pálida, precisa encher seu estômago com algo que não seja cafeína
— ou que não seja vinho
Elas dividiram a pizza, só então Lauren notou que estava mesmo com fome, se sentiu bem melhor depois de comer.
— quanto foi? você pagou o táxi e a pizza, eu quero ajudar
— não foi nada. se sente bem agora?
— sim
— acha que já pode ir?
— quer que eu vá?
— quero
— sou tão tóxica assim?
— estou vulnerável e eu não gosto de me sentir assim
— me diz seu número
Lauren viu um papel e caneta e anotou seu endereço e número.
— anota aqui o seu
Estendeu o braço e Camila escreveu em seu pulso.
— isso não será bom pra gente
— porque não?
— vou embora logo
— me deixe ter esperanças de te fazer ficar em NY
— não acho que isso será possível. Boa noite Lauren, cuide-se
— eu sinto sua falta
— por favor vá
Ela suspirou e caminhou até a porta.
— Boa noite Camz
Disse o apelido que apenas ela a chamava assim, e então saiu fechando a porta em seguida. Camila sentou no chão encostando suas costas na madeira da porta, o que ela não sabia era que do outro lado Lauren fazia o mesmo.
— eu sinto sua falta também, mas não posso admitir em voz alta, porque você não merece
Achou estar sozinha, mas Lauren ouviu, e isso foi um pequeno motivo para continuar insistindo, ainda não havia acabado.
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