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História A vida após a morte - HIATUS - O abraço da morte


Escrita por: Anamaria22

Notas do Autor


Olá meu povo!!!
Primeiramente eu quero me desculpar pela demora.. Por favor não fiquem bravos! ç,ç Eu estive realmente atolada de coisas nessas últimas semanas e não conseguia escrever.. inclusive eu nem sei se ficou bom porque eu não ando no auge da minha criatividade. Mas postei mesmo assim pra não deixar vocês esperando mais do que já esperaram né!
Mil perdões!
<3
E mais uma vez eu queria agradecer a todos que leram, favoritaram e comentaram os capítulos anteriores!! 💕💕
Fico muito feliz com cada notificação que recebo!
E muito obrigada a todos os meus amados favoritos *-* por acompanharem e me motivarem a continuar essa história! Espero que continuem gostando! A opinião de vcs é muito importante pra mim!!!


💕 IMPORTANTE: Imagino que todos já tenham percebido, mas não custa ratificar! Os trechos que começam com (* * *) se tratam de passagens do passado, e quando aparecem novamente, indicam que é o fim do flashback. Eu poderia colocar em itálico, mas como vocês viram, tem capítulos que se passam inteiros no passado, e eu teria que colocar tudo em itálico, fica cansativa a leitura. Esse capítulo, por exemplo, começa com (* * *), indicando um trecho do passado, aparece novamente indicando que volta ao presente, e depois indicando outro flashback, do Dei e Sasori! Se ficar confuso, podem me dizer nos comentários que eu pensarei em alguma coisa! Por favor, leiam as notas finais!

Capítulo 6 - O abraço da morte


Fanfic / Fanfiction A vida após a morte - HIATUS - O abraço da morte

 

*   *   *

 

Finalmente! Aquela tortura interminável chegava ao fim. Chegou a pensar que aquele maldito ritual de selamento seria infinito, e que passaria toda a sua longa vida imortal dentro daquela maldita gruta. Será possível que só ele possuía aquela dificuldade extrema em ficar três dias e três noites consecutivas na mesma posição? Ninguém mais estava entediado? Ele poderia jurar que sentia a vida abandonando seu corpo aos poucos, tamanha chatisse que se abateu sobre ele de repente, e olha que ele era imortal. Mas, no fim, por mais incrível que parecesse, ele sobreviveu.

Aguardou as últimas instruções de seu líder, Pain, e desconectou, sendo a primeira consciência a deixar aquela gruta úmida e retornar ao seu corpo físico. Era a primeira vez que participava de um ritual de selamento, e concluiu que selar um biju dentro daquela estátua estranha não era uma atividade qualquer, dada a quantidade de chakra exigida de cada membro daquela organização e o tempo gasto até que o ritual estivesse concluído.

- Até que enfim, velhote! – Praticamente comemorou, se espreguiçando e estalando o pescoço. – Pensei que não fosse terminar nunca! Ah.. Ai! Acho que estou com cãibra!

- Pare de reclamar moleque. Esse foi apenas o segundo biju, ainda restam sete.

- Porra Kakuzu, você só pode estar de brincadeira! Sete bijus! Maldita hora em que fui arrastado pra essa merda de organização..

- Você não presta atenção em nada do que lhe é dito? Devemos capturar e selar todas as nove bestas de caudas para dar prosseguimento aos planos da organização.

- Tá, tá.. já cansei de ouvir sobre esse plano grandioso de dominação mundial e blablabá! Mas até hoje eu não sei que porra de plano é esse! Já que fui forçado a entrar nessa merda, eu acho que tenho o direito de saber né!

- Cale a boca! Você não foi capaz, sequer, de decorar o número de bijus existentes no mundo!

- Vá se foder, velhote! – Deu as costas ao parceiro e começou a caminhar.

- A onde você pensa que vai, Hidan?

- Dar uma volta! Eu fiquei três dias sentado nessa porra dessa pedra. Três dias, Kakuzu! Preciso dar uma relaxada!

- Nós ainda temos uma missão, Hidan! Ou você não ouviu as últimas ordens de Pain?

O albino bufou de raiva. – Ah, quer saber? Foda-se aquele alaranjado de merda! E foda-se essa organização desgraçada! Eu vou dar uma volta, ver stripers e tomar saquê!

O moreno das cicatrizes apenas observou o jovem e inconsequente jashinista se afastar a passos largos daquela clareira em meio à floresta. Não tentou impedi-lo, apenas o acompanhou com os olhos até que desaparecesse de seu campo visual. Se quisesse ser justo, teria de admitir que o maldito tinha certa razão. Ambos estavam exaustos e mereciam uma pausa. E tinha de concordar, também, que aquele ritual era insuportável até para ele, que dirá para um jovem hiperativo e imediatista como Hidan! Nem parecia que teria a eternidade toda pela frente. Apenas suspirou pesadamente em irritação, levantou-se e seguiu pela direção onde viu desaparecer o parceiro; ele estava, sem dúvidas, retornando à vila dos pomares.

Entretanto, embora concordasse que eles mereciam uma pausa, o mercenário não se daria esse prazer. Afinal, tempo é dinheiro. Mas ele sabia que, com aqueles ânimos, o jashinista mais o prejudicaria que faria algo de útil. Sem sombra de dúvidas, reclamaria e praguejaria durante todo o percurso, o levando à beira da loucura como sempre, para, no final, criticá-lo por trocar uma alma por dinheiro e dizer com todas as letras que ele irá para o inferno. Como se acreditasse nessas coisas! Isso se não inventasse de realizar um daqueles rituais estúpidos e intermináveis oferecendo a alma da recompensa ao seu deus Jashin. Perguntava-se vez ou outra o porquê de ainda não tê-lo mandado dessa para melhor, lembrando-se, então, de que simplesmente não podia, por mais que tentasse.

Rosnou com os últimos pensamentos, já reprimindo o desejo de arrancar a cabeça do jashinista maldito logo que o encontrasse, e se dirigindo à hospedaria barata que ele sabia que o outro procuraria. Chegou a tempo de vê-lo negociando um quarto, jogou a sacola com seus pertences em cima do outro e deu as costas em seguida.

- Ei! Que merda é essa Kakuzu? Sou seu empregado agora?

- Se não quer cumprir com suas obrigações ao menos faça algo de útil.  – Rosnou o moreno mal humorado. - Não vou andar por aí com essa quantia de dinheiro.

- E aonde você vai, velhote?

- Não é da sua conta, retornarei pela manhã. – E, com essas palavras, o colecionador de corações desapareceu noite adentro, deixando para trás um albino sorridente pela noite de folga.

Sorriu travesso ao abrir a sacola com os pertences do parceiro e pagar a diária do melhor quarto que aquela hospedaria de quinta categoria poderia oferecer. Contente com sua ousadia, ele se dirigiu às suas acomodações, livres de roedores dessa vez, tomou um banho demorado e se vestiu. Estava decidido a ver garotas dançando sobre um palco e mergulhar com tudo numa garrafa de saquê. Olhou para a sacola de dinheiro sobre a cama arrumada e pensou que a Akatsuki bem que poderia financiar a sua noite de prazeres. Mas imediatamente desistiu de tais pensamentos ao se imaginar decapitado pelo resto da eternidade com Kakuzu praguejando em seus ouvidos. Guardou a sacola em um armário com chaves e saiu.

Com os braços atrás da cabeça, ele caminhava pelas ruas movimentadas daquela vila, quebrando esquinas que o levava a ruas cada vez menos movimentadas, até que visualizou as paredes que guardavam tudo o que procurava naquela noite: música, bebidas e moças de família!

[...]

- Desce mais uma por favor, gracinha! – Esboçou o seu mais pervertido sorriso para a morena que encheu o seu copo pela enésima vez naquela noite.

Girava o amuleto que levava ao peito pelos dedos, enquanto observava a performance perfeita da garota sobre o palco e virava mais uma dose de saquê. – Era a isso que eu me referia, velhote de merda!

Mal concluiu a frase que balbuciou para si mesmo, e seus olhos violetas pairaram sobre aquela conhecida silhueta, que irrompia as portas com ferocidade e carregava dois corpos sobre os ombros. – Mas não é possível..

Os irritadiços olhos bicolores cruzaram com os seus por frações de segundos, antes de desviarem suas atenções novamente à porta de madeira, situada após os banheiros, para onde o moreno caminhava levando as encomendas. Hidan observou quando o parceiro desferiu dois murros violentos na porta de madeira, que resistiu bravamente, e foi atendido por um homem tão bem encarado quanto todos os que frequentavam aquele local.

O albino sabia que aquela se tratava de uma casa de câmbio, onde se trocava cadáveres de procurados, entre outras coisas, por dinheiro. E, justamente por isso, havia mulheres e bebida barata, já que era frequentada por ninjas mercenários de todos os lugares e das piores espécies. Mas não imaginava encontrar o parceiro mal humorado tão cedo, esperava estar livre, ao menos, até o amanhecer, quando o infeliz disse que retornaria!

Passados alguns instantes, o mercenário deixa a sala mal iluminada, onde provavelmente havia deixado os corpos em troca da maleta de dinheiro que agora levava nas mãos. Passou ao lado da mesa em que o albino se sentava, não se dando o trabalho de olhá-lo, o que não lhe causou qualquer surpresa. Estava acostumado com o gênio insuportável do outro, e, além do mais, precisava mesmo de um pouco de espaço. Voltou novamente as atenções à loira sobre o palco e pediu mais uma rodada.

 

Passadas algumas horas, garrafas de tequila e conversas fiadas, o religioso decide que é hora de ir embora, embora ainda não tivesse dado por encerrada a sua noite. Muito pelo contrário!

 

*   *   *

 

De fato, uma revelação e tanto, Hidan estava certo. A brisa ainda soprava, passeava suavemente por aquela vastidão de nada, atiçando as chamas dançantes da fogueira que aquecia os corpos daqueles que trocavam confidências. Aquele manto negro que se abatia dos céus, já cobria tudo ao redor até onde suas vistas podiam alcançar, mergulhando tudo na mais tenra e silenciosa escuridão. Como esperado, a dupla de artistas se tornou o assunto favorito de todos os presentes, para o desgosto de um jovem e constrangido shinobi da pedra.

O Hoshigaki, apesar de surpreso com as recentes confissões, olhou admirado para o mestre de marionetes. Sempre reconheceu a grande capacidade analítica do shinobi da areia, e a forma madura e sensata com que sempre lidava com as mais diversas situações. Mas, mesmo tratando-se de um assunto tão delicado.. Como pode não perder a calma? Um outro questionamento veio-lhe à mente, e dessa vez ele não pôde deixar de perguntar.

- Sabe, Sasori san.. As circunstâncias de sua morte sempre nos pareceram um tanto obscuras. Zetsu participou da investigação, assim como Itachi e eu e, no entanto, conhecendo-o há tantos anos, nunca conseguimos esclarecer como aquilo se passou. – Kisame pareceu pegar de surpresa a dupla imortal com a insinuação, entretanto, o jovem loiro de pele bronzeada não pareceu impressionado. Pelo contrário, enrijeceu suavemente as feições, como se desaprovasse o que viria a seguir.

O ruivo pareceu refletir antes de se posicionar, embora não alterasse ainda que minimamente as suas feições. - A minha aversão a tudo o que é passageiro fez com que eu dedicasse a minha vida às minhas criações. E, naturalmente, a vaidade e a profunda admiração pelas minhas próprias obras fez com que eu desejasse a vida eterna, como a de minhas marionetes. – Repousou a cabeça na rocha atrás de si e contemplou a escuridão daquele céu sem estrelas. - Fiz de mim mesmo o que eu considerava a minha obra suprema, me tornei eterno me livrando de cada traço que me fazia humano.. Eu realmente acreditava ter me livrado de qualquer emoção há muitos anos, bem antes de desertar de Sunagakure.

Perdido em seus pensamentos, Sasori se recordou de quando toda aquela amargura causada pela solidão e pela falta de amor começou a dar lugar àquela fria e inóspita escuridão. Lembrou-se da primeira vez em que sentiu a maldade e a perversidade corromperem a sua essência, de quando as trevas começaram a invadir o seu interior. Lembrou-se do início de tudo, de quando deixou de se importar e cometeu o seu primeiro grande erro, que viria a mergulhá-lo na mais completa desonra e a transformá-lo em tudo aquilo o que viria a ser. Sádico, frio, cruel.

Lembrou-se do alegre garoto, de cabelos castanhos e personalidade extravagante, que não lhe dava um segundo de sossego. Ele era o seu único amigo. Komushi... Eu sei que você não pertence a esse lugar, mas eu gostaria de ter a oportunidade de pedir perdão a você um dia. E te agradecer por ter sido meu amigo até o seu último dia de vida.

- E estava errado, suponho. – O azulado o despertou de seus devaneios. - A julgar pelas recentes confissões, creio que não as havia abandonado afinal, e imagino que deva ter se arrependido da decisão que havia tomado muitos anos atrás, quando abandonou sua humanidade.

- Me arrependi pela primeira vez dessa decisão na primeira vez em eu encarei esses olhos azuis, tão cheios vida. – Continuou, imerso em suas reflexões. – A sua paixão pela arte, pela vida, pelos seus ideais, transbordava por aqueles olhos adolescentes. Era como se guardassem uma promessa para o futuro, como se transmitissem a ingenuidade e a esperança de uma geração inteira. Era um brilho que, eu sabia, nunca enxergaria ao me olhar no espelho. - Sorriu minimamente com os lábios e se voltou em direção ao loiro, contemplando os calorosos olhos azuis, que pareciam sorrir para si.

Um silêncio reflexivo se instalou entorno daquela fonte de luz e calor. A dupla imortal ouvia atentamente as palavras do ruivo, mas ninguém ousou interrompê-lo. Ainda parecia totalmente antinatural ouvir aquelas palavras sendo proferidas pelo sádico e impiedoso shinobi da areia. Ele era um sociopata desgraçado, dono do senso de humor mais ácido de toda aquela organização, sem qualquer apresso ou consideração pela vida humana, e todos sabiam disso.

Deidara, por sua vez, sentia-se feliz apesar de constrangido, e orgulhoso pela forma com que seu mestre assumira e lidara com tudo aquilo. Ele era forte e irreverente, características que o jovem sempre admirou e aspirou para si.

O ruivo, embora não expressasse coisa alguma, ainda passeava com os olhos por aquelas feições que adorava. - Naquela época eu não imaginava o que se passaria no futuro. Essa sensação não durou tanto tempo assim, e eu continuei por muito tempo com as minhas convicções e o meu desprezo pelas causas humanas. Até que o convívio do dia a dia foi fazendo com que eu fosse me transformando, lenta e progressivamente, quase como quando se cai no sono sem perceber.

- Falando assim até parece que foi simples. Quase morri uma dúzia de vezes no processo, hn! – Cruzou os braços numa falsa indignação.

- Ah, não faz drama vai, Dei-chan! Bem que eu sempre achei estranha essa veneração toda que você demonstrava pelo seu “Danna”. – Concluiu, fazendo sinal de aspas com os dedos. O escárnio escorria pelas palavras do albino, que apenas contemplava o rolar dos olhos azuis em total descrença pela sua babaquice.

Sem se importar com qualquer julgamento, Sasori acariciou ternamente a face daquele anjo loiro que havia dado um propósito à sua existência, ignorando totalmente o deboche do imortal antes de continuar. - Quando dei por mim, eu já nutria fortes sentimentos pelo meu parceiro irritante e desejei, de uma forma que vocês nem imaginam, nunca ter aberto mão da minha humanidade. – Suspirou, distraindo-se com aquela textura macia de que fora privado por tanto tempo. – Eu sabia que nunca daria a ele o que ele desejava e precisava, embora fosse esse o meu maior sonho... Eu era não mais que uma marionete, fria e vazia.

- Eu te entendo, Sasori. – O moreno das cicatrizes encarou o companheiro por alguns instantes antes de continuar. - E, ironicamente, se afeiçoou a alguém que sempre apreciou as coisas momentâneas.

- O que ninguém se dá conta é que, para o eterno, o exatamente quer dizer "momentâneo"? Como mensurar o que é momentâneo e o que é duradouro? Para algo que viverá pela eternidade, o momentâneo pode se resumir a toda uma existência humana, correto? – Ponderou, encarando os olhos bicolores.

- Sim, uma vida inteira pode, de fato, ser considerada efêmera quando comparada à eternidade. Vi gerações inteiras perecerem e se renovarem diante dos meus olhos, mas eu não tinha ninguém a quem temer a morte.

Os olhos castanhos refletiam as chamas dançantes a sua frente, não sendo atingido pelo sorrir de lábios formado naquela face perfeita. – Eu ainda me orgulhava de cada uma das minhas criações, mas passei a odiar a eternidade à qual me aprisionara.

- Realmente esclarecedor, Sasori-san. – O espadachim se pronunciou, desviando seus olhos inexpressivos para a imensidão noturna acima de seus corpos. - Mas ainda assim, por que naquele momento? Eu entendo o fato de você odiar a solidão da eternidade, acredite, mas poderiam ter vivido uma vida inteira juntos.

Era uma perspectiva interessante. No entanto, uma vida inteira sem poder concretizar um amor, poderia se resumir a uma vida inteira sem encontrar a plenitude, uma vida de sofrimento. E essa foi a mais amarga das consequências ocasionadas pela sua imortalidade. Ele pôde sentir aquele amor que fez morada em seu coração, assim como podia sentir o amor fluir por aqueles olhos azuis de encontro aos seus.

Mas ele era incapaz de sentir a maciez daquela pele bronzeada. Não podia sentir o calor daquele corpo, a suavidade daqueles toques afetuosos, ou o perfume emanado daqueles cabelos dourados como o sol. Ele era não mais que uma marionete. No entanto, o reservado mestre de marionetes não compartilharia suas desgraças, atendo-se a responder de forma simplista ao questionamento feito pelo espadachim.

- Eu sempre soube que ele era do tipo que morria jovem. – Provocou, observando com o canto dos olhos o juntar das sobrancelhas douradas em reprovação. - E aquelas marionetes em especial.. ironicamente, ainda que pensasse ter aberto mão de todas as minhas emoções no passado, preferi morrer dentro do último abraço dos meus pais.

Um sorriso melancólico se formou nos lábios do ruivo, atingindo seus olhos como um lamento silencioso. Sentiu, então, o suave repousar da mão que tocava o seu ombro num afago, procurando com os olhos aquele semblante que lhe trazia tanto conforto.

- E você estava certo, afinal.. Morri realmente jovem, hn! - Falou bem humorado, olhando-o com a mesma ternura nos olhos, que refletiam os seus. - E como você está sempre certo, toda uma existência humana pode ser de fato considerada momentânea quando comparada à eternidade.. Eu sempre apreciei o encanto e a intensidade das coisas momentâneas, mas hoje, diante da oportunidade de poder olhá-lo nos olhos, aprendi a dar valor à beleza e a certeza do eterno.

O ruivo o agraciou com o seu mais lindo sorriso, aquele sorriso que era dedicado somente a ele. Tinha certeza absoluta de que todos os seus sentimentos devotados ao loiro eram correspondidos. E isso, sem sombra de dúvidas, estava acima de qualquer julgamento que poderia sofrer por parte dos demais presentes. Ele só queria poder viver aqueles sentimentos que, embora tenha descoberto ainda em vida, nunca pôde se entregar a eles.

- Que bonito isso. - Uma voz rouca e extremamente grave surpreendeu a todos os presentes com a declaração. Surpresa maior foi a constatação de a quem fora atribuída a sentença. Sem dúvidas seria o último palpite de qualquer um que passasse por ali.

- Como é que é, Kakuzu? Você achando alguma coisa bonita, e que não seja de valor? - Todos riram do piadista religioso.

- Vai à merda Hidan. - Rosnou o mal humorado da dupla para o albino, que ainda o encarava como se tivesse duas cabeças, antes de cair na gargalhada.

Alguns minutos se passaram em meio a risadas, resmungos e assimilações. Era como se cada um estivesse encontrando uma forma de processar todas aquelas informações desde o tão inesperado reencontro. 

- Então pessoal, o papo tá muito bom, mas eu acabei de chegar. Fiz uma longa viagem.. – Esticou os braços musculosos espreguiçando-se. - Sabem como é né! Tô morto! - Disse o recém-chegado, novamente arrancando risadas do grupo. Se ajeitou como pôde ali no chão, levou um braço atrás da cabeça e, encostado no tronco, se preparou para dormir.

Os outros seguiram o exemplo, já havia anoitecido e todos estavam cansados. Não admitiriam, mas estavam satisfeitos pelo reencontro. Por mais que não fossem exatamente amigos, estavam felizes por não precisarem amargar uma eternidade sozinhos. 

Sasori procurou se ajeitar melhor contra a rocha às suas costas, não parecendo se incomodar com o parceiro que se aconchegava em seu ombro. Passou um braço em torno do loiro para que ele pudesse se aconchegar em seu peito, afagando os seus cabelos e depositando um beijo nos fios dourados. Estava satisfeito por compartilhar aquela verdade com seus companheiros, e mais satisfeito por não precisar se privar das constantes manifestações de afeto de Deidara, agora que o relacionamento deles já era de domínio público. Ele não queria perder um minuto de felicidade sequer ao lado daquele garoto que o resgatou da escuridão em que vivia.

Kisame desceu do tronco para o chão, apoiando as costas no tronco que havia trazido consigo, cruzou os braços e fechou os olhos, esforçando-se para dormir meio sentado e meio deitado. Aguardava ansiosamente o sono profundo reivindicar sua consciência, quem sabe assim esqueceria por um instante da amarga eternidade que o aguardava. De todo modo, sentia-se grato por ter reencontrado os antigos companheiros, ao menos lhe rendiam boas risadas e o privavam daquela solidão.

O moreno mascarado de quem só se via os olhos bicolores fez o mesmo, embora não adormecesse. Estava pensativo, era muita informação para um só dia. Seu reencontro com o parceiro irritante e sem noção sem dúvidas mexeu com ele. Assim como ter constatado o sofrimento que havia sido a ele infligido durante todo aquele tempo. Rosnou de raiva com o pensamento; queria poder tê-lo resgatado daquilo tudo. O reencontro com os antigos companheiros também havia sido uma surpresa.

E, ainda, as recentes descobertas sobre os sentimentos do companheiro por quem mais sentia admiração e respeito dentro daquela organização. Pareceu tão fácil pra ele admitir tudo aquilo. Sentiu-se tocado pela irreverência e pela sensibilidade do artista, em admitir os seus sentimentos de maneira tão convicta, mas sem deixar de lado o bem estar do parceiro, visivelmente mais inexperiente e frágil. Admiraria-o ainda mais depois daquele dia.

 

*  *  *

 

Vendo o outro fechar a porta ao sair, se dirigiu à sua mesa de trabalho, tinha alguns projetos em mente. Experiente como era, sabia que para um mestre de marionetes a busca pela melhoria e aperfeiçoamento contínuos era a chave para o verdadeiro poder. Ele necessitava estar em constante aperfeiçoamento para não tornar-se obsoleto ou ser ultrapassado pelas futuras gerações. E com esses pensamentos, voltou ao trabalho.

Ou quase.

Embora tivesse o desejo de se dedicar inteiramente às suas marionetes, como sempre fizera, Sasori não conseguia ater os seus pensamentos aos seus propósitos. Insistiam em vagar e divagar por aí, volta e meia indo de encontro àquele loiro, de gênio forte e temperamento explosivo, mas que era dono dos olhos mais expressivos que já tinha visto. Já fazia algum tempo desde que o jovem parceiro rebelde havia conquistado algum espaço em sua mente, para não dizer em seu coração. Ele se pegava pensando naquele ser que transbordava vida e energia, que trazia beleza aos seus dias tristes, e transmitia a ele uma luz que ficava a cada dia mais difícil ignorar.

Não admitiria nunca em voz alta, mas o brilho presente naqueles orbes tão azuis o fazia esquecer-se de todos os problemas, e trazia a ele uma paz que há muito tempo buscava. A alternância presente nas frequentes mudanças de temperamento do jovem já estava levando-o à loucura, é verdade. Mas, embora também preferisse morrer a ter que admitir, gostava da forma como aquele garoto oscilava entre a jovialidade e vigor exacerbados, e a seriedade com que encarava as suas missões, sempre realizadas com a perfeição de um verdadeiro shinobi.

Ele era infantil e muitas vezes inconsequente, sempre testando a sua paciência - ou a sua total falta dela - mas sua competência e genialidade em batalha em muito superavam as suas imperfeições. Aliás, com o passar do tempo, estava até deixando de encarar tais traços de personalidade como imperfeições! Já admitia, só para si mesmo, que o bom humor e até mesmo a ousadia do jovem tornava tudo bem mais leve e fácil de suportar. Era como se o seu universo particular tivesse adquirido novas cores desde que passou a dividi-lo com Deidara. Desejava poder dividi-lo para sempre.

Não entendia bem o que se passava em seu interior. Ainda se sentia realizado por ter alcançado a sua tão sonhada perfeição, fazendo de si mesmo a sua mais magnífica obra. Mas algo dentro dele havia mudado, e estava em constante transformação, o que fez com que ele começasse a se questionar sobre as suas decisões do passado.

Ele acreditava ter aberto mão de qualquer sensação humana muito tempo atrás. Acreditava ter abandonado os seus sentimentos, e os seus sonhos mais ingênuos, como o de ser feliz um dia. Ele havia se tornado frio, vazio, mas sabia que de alguma forma, aquele garoto explosivo e tão cheio de vida aquecia o que sobrara de seu coração esquecido.

[...]

Logo que fechou a porta atrás de si permitiu-se respirar novamente com naturalidade. Estava se esforçando ao limite para reprimir qualquer reação exagerada em relação à tamanha surpresa que fora descobrir a verdadeira forma do shinobi da areia. Sentia as borboletas recém despertas se remexerem dentro do seu estômago, provocando uma incômoda e gostosa sensação, que ele ainda desconhecia. Ainda estava com o queixo caído quando percorreu todo o corredor antes de adentrar aos seus aposentos.

Sentou-se na cama ainda tomado pelo deslumbre, lembrando-se de cada detalhe que pôde observar daqueles traços tão perfeitos. Pensou nos olhos castanhos claros que o encaravam de maneira tão serena, na pele alva emoldurada pelos cabelos escarlates, levemente desalinhados, que lhe conferiam um ar jovial como o dele. Realmente adoráveis, ele diria. Corou com os próprios pensamentos, embora ninguém pudesse ouvi-los. Tão lindo quanto os anjos devem ser.. Realmente uma obra de arte, digna de ser eternizada. Pela primeira vez deixaria de lado suas concepções sobre a efemeridade da arte e concordaria com a visão do parceiro de que a arte é algo digno de ser imortalizado. De fato, admiraria aquelas feições por toda a eternidade.

Enfiou a mão no bolso do casaco e pegou o pequeno objeto. Admirou a pequena estatueta por alguns instantes antes de deixá-la cair de qualquer forma pela cama. Uma vez, uma única vez, e que com certeza seria a última vez, o shinobi da areia admirou uma de suas obras. Suas formas, é claro, e não a forma como o jovem a mandou pelos ares instantes após. Teve então a brilhante ideia de presenteá-lo com um trabalho seu, afinal ele sempre o ajudara a treinar e a se tornar mais forte. Deu até mesmo o braço a torcer e confeccionou o artefato com uma argila que não seria capaz de explodir, caso um dia tivesse um acesso de fúria – ou de pirraça – e resolvesse se vingar do mestre.

No entanto, viu toda sua coragem ir de encontro ao ralo quando se deparou com aquele ser encantador. - Encantador, Deidara? Francamente.. Hn! - Realmente o havia achado encantador, mas não admitiria isso em voz alta, jamais! Sentiu novamente aquela sensação gostosa percorrer o seu corpo, como um leve chacoalhar de asas.

Pegou novamente a pequena imagem de um anjo, cujas mãos estendidas cobriam-lhe parcialmente a face, deixando à mostra os olhos cerrados. – Com certeza seria bem mais fácil entregá-lo àquele truculento mal humorado, mesmo acreditando que ele o atiraria na parede fazendo-o em mil pedaços, hn!

 

*   *   *

 

 


Notas Finais


Bem, é isso! Espero que não tenha ficado muito ruim pela pressa, e espero não demorar tanto no próximo!
Muito obrigada, mais uma vez, a todos que leram! Podem deixar suas opiniões, críticas ou sugestões para a história a vontade!

Para quem não se lembra, no capítulo "Entre flores e declarações" aparece um flashback de quando o Dei descobriu a verdadeira forma do Sasori. Esse flashback no final do capítulo, é como se fosse o que aconteceu após o Deidara deixar o quarto de Sasori. Vocês se lembram que ele ficou nervoso quando o Saso perguntou o que ele tinha ido fazer ali? E deu uma desculpa esfarrapada que o Saso não acreditou muito?! Rs..

Até o próximo!
Kissus!


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