Matteo Balsano
Acordo com o sol adentrando a janela do quarto. Olho o visor do celular e me sinto aliviado em ver que ainda é cedo. Emília dorme profundamente ao meu lado. Depois de mais uma noite juntos, só confirmo o que já imaginava: Já não a amo como antes. Na verdade acho que nunca a amei de fato.
Crescemos juntos e começamos a namorar ainda adolescentes. Tínhamos várias coisas em comum além do fato de ela ser sobrinha da minha madrasta. Acho que o motivo de nos envolvermos foi mero status e comodismo. Hoje sei que pra namorar, casar... enfim pra construir uma vida ao lado de alguém é preciso amor. E amor é algo que definitivamente não sinto por Emília. Talvez uma atração, carinho,sei lá. Mas eu queria sentir o famoso frio na barriga e ainda não conheci ninguém que cause essa sensação.
Só não tenho coragem de terminar. Acho que esses oito anos de namoro fizeram com que eu me acostumasse a situação.
Ela é linda, não posso negar, mas beleza não é o suficiente. Fora que suas crises de ciúme e seu gênio difícil fazem nossa relação esfriar cada dia mais.
Ontem ela fez um escândalo simplesmente por que uma fã que assistiu meu show de lançamento o mês passado, me reconheceu, pediu uma selfie e puxou conversa comigo durante um desfile que Emília participava. A moça estava sentada ao meu lado. Assim que o desfile acabou, Emília veio tirar satisfação e tratou a garota super mal. Brigamos feio durante o coquetel e alguns paparazzis presenciaram a cena. Como estava tarde, eu a trouxe pra a minha casa e depois de discutirmos enquanto estacionávamos o carro, por fim nos entendemos e acabamos na cama.
- Bom dia, meu amor - A voz sonolenta da minha namorada me tira dos meus pensamentos.
- Bom dia, amor - Respondo forçando um sorriso.
Emília olha o visor de seu celular.
- Ainda é cedo - Diz aliviada - Acho que podemos namorar mais um pouquinho - Sorri maliciosamente.
- Melhor não, Emília. As crianças já devem ter acordado e eles sempre entram no meu quarto sem bater. Vamos nos vestir - Digo já me levantando e procurando minhas roupas.
- Se você sabe que eles sempre entram sem bater, por que não tranca a porta? - Diz indignada - Incrível como você deixa esses pirralhos te dominarem. Eles não são seus filhos.
- Mas são meus irmãos e seus primos - Digo sério.
Emília levanta os ombros com descaso antes de dizer:
- Ok, vamos nos vestir.
Ao chegarmos na sala de jantar, meus pais e vovô já estão tomando café.
- Bom dia pai, bom dia mãe, bom dia vovô - Digo dando um beijo em cada um - E os gêmeos? - Pergunto olhando para os lados.
- Passei nos quartos deles agora mesmo. Estão terminando de se arrumar - Minha mãe explica - Emília! - Diz ao notá-la - Não sabia que tinha dormido aqui.
Emília cumprimenta meus pais e vovô com um beijo antes de responder:
- Dormi sim, tia. O Matteo me acompanhou no meu desfile ontem e estava tarde pra ele me deixar em casa - Explica - Tudo bem né?
- Sim, querida - Meu pai diz - Só não esqueça de avisar a Sharon pra que não fique preocupada.
- Eu avisei sim, tio. Mas ela nem liga para o que eu faço - Abaixa os olhos - Minha mãe só quer saber das coisas dela - Levanta os ombros.
- Não diga isso, princesa. Sua mãe pode ter aquele jeito frio de ser mas te ama e se preocupa com você - Vovô diz sorrindo.
Antes que Emília responda, escutamos risadas na escada e sorrio ao ver meus irmãos descendo.
- Bom dia meus amores - Minha mãe diz sorrindo.
- Bom dia - Eles respondem em coro enquanto cumprimentam nossos pais e o vovô com abraços e beijos.
- Bom dia filhos - Meu pai diz orgulhoso.
- Bom dia, pequenos - Vovô sorri ternamente.
- E o irmão mais gato do mundo não ganha beijo? - Faço bico.
Meus irmãos pulam no meu colo me abraçando e beijando. Sorrio. Eu amo esses pirralhos.
- Papai - Federico diz virando-se para o meu pai - Eu e a Estela estávamos pensando... - Ele olha a irmã gêmea esperando que a mesma prossiga.
- Qual a probabilidade de faltarmos a escola pra ir ao aeroporto com vocês? - Estela diz com o olhar pidão.
- Nenhuma - Meu pai diz sério.
- Por favor, papai - Os dois pedem juntando as mãos em súplica.
- O papai tem razão, crianças - Digo - Não é bom que vocês faltem as aulas. E depois, quando chegarem, a nossa irmã já vai estar em casa.
Âmbar retorna hoje da Rússia. Eu estou muito feliz pois apesar de amar a Estela e o Federico, sinto falta dela também. A Âmbar sempre foi mais do que uma irmã. Ela é minha amiga e confidente. Apesar de ser dois anos mais nova, sempre me dá conselhos.O único problema é que ela nunca se deu bem com Emília. Como as duas iniciaram a carreira de modelo na mesma agência, viviam competindo entre si. Âmbar costumava me apresentar à outras garotas pra provocar Emília. Isso causava inúmeras brigas entre minha namorada e eu. Apesar disso, senti muito quando minha irmã foi embora do país logo após terminar o colégio. Mas tentei me conformar pois ela sempre sonhou em estudar fora e na Rússia, enriqueceu seu currículo além de aprender novas culturas e descobrir sua vocação na dança.
Sim! Apesar de ter crescido vendo nossa mãe Juliana comandar o estúdio e o papai no Vídea posteriormente seguido por mim, Âmbar teve muita dificuldade em decidir que profissão seguir.
Ela até se arriscou na carreira de modelo a qual obteve grande êxito, pois além de linda, Âmbar é carismática e talentosa. Porém minha irmã é extremamente indecisa. Esse é o seu maior defeito desde pequena. Âmbar não conseguia nem mesmo mesmo se decidir entre o sabor de um sorvete quando passeávamos juntos.
Acredito que a experiência na Rússia a ajudou a se decidir pela dança, pois sempre que conversávamos por chamadas de vídeo, ela me contava maravilhada sobre os espetáculos que assistia quando ia ao teatro. Minha irmã me dá orgulho e eu estou muito feliz por tê-la novamente ao meu lado.
- Tudo bem, papai - Federico diz de cabeça baixa.
- Vocês estão tão empolgados com a volta da Âmbar que nem cumprimentaram a Emília - Digo divertido.
Estela olha e dá um sorriso falso antes de dizer:
- Oi Emília. Nem te vi.
Emília retribui o sorriso antes de responder:
- Oi princesinha - Olha para Federico - Oi Fê.
Meu irmão apenas acena com a cabeça. Os gêmeos claramente não vão com a cara dela.
-Amor, você quer ir ao aeroporto conosco? - Pergunto à Emília.
- Eu adoraria, mas tenho uma sessão de fotos pra fazer e depois vou à grife, mas dêem um beijo na Âmbs por mim - Sorri.
Terminamos de tomar café e enquanto levo Emília em casa pra se arrumar para o trabalho, meus pais e vovô levam os gêmeos ao colégio.
Chegamos ao aeroporto juntos. A expectativa é grande em rever a minha irmã. Sorrio ao avistá-la saindo do portão de desembarque. Âmbar ajeita os cabelos loiros atrás da orelha e sorri ao nos localizar. Seus lindos olhos azuis brilham de felicidade. Ela corre até nós e começa a sessão de abraços pelo vovô, em seguida abraça nossos pais de uma só vez e sorri abrindo os braços pra mim:
- Matt, que saudade maninho!
Abraço minha irmã erguendo-a e gargalhando antes de dizer:
- Oh, minha irmãzinha! Que saudade! Como foi a viagem?
Âmbar faz uma careta antes de dizer:
- Tirando o fato de não ter dormido nada naquele avião, foi ótima - Ri - Cadê os gêmeos? - Olha para os lados.
- No colégio, princesa - Minha mãe responde - Eles estavam loucos pra vir te receber,mas seu pai não os deixou perder o dia de aula.
- Tadinhos, papai. Eu estou louca pra apertar aqueles dois - Todos rimos - E então? Vocês ainda trabalham hoje? - Pergunta.
- Seu pai e seu irmão sim, querida - Minha mãe responde - Mas eu e o seu avô, resolvemos tirar o dia de folga pra te fazer companhia e entrevistar o candidato a assistente pessoal. A sua tia Tamara vai cuidar de tudo no estúdio hoje e amanhã vamos juntos pra lá para que eu te repasse tudo sobre a sua função.
- Ai não vejo a hora - Sorri empolgada.
Meu pai olha o relógio antes de dizer a minha mãe:
- Meu amor, eu vou para o Vídea no carro do Matteo. Vocês podem ir pra casa com o meu - Olha para Âmbar - Princesa,nos vemos no almoço.
Âmbar assente sorrindo e se despede do nosso pai e eu antes de nos dirigirmos cada um para seu destino.
Luna Valente
Quando chegamos em Buenos Aires, confiro as horas: 09:00.
O aeroporto está movimentado e barulhento. Pessoas caminham de um lado para o outro. Meus pais me seguem puxando as malas e observando tudo assim como eu enquanto Simón fala ao celular puxando sua mala.
Na entrada do aeroporto, pedimos um táxi e ao chegarmos em um bairro nobre da cidade, olho tudo maravilhada. Árvores, jardins cheios de vida e casas lindas fazem parte da composição.
Estacionamos em frente a um prédio simples, porém bonito. Guiados por Simón, entramos em um dos apartamentos que parece ser ainda maior e mais bonito do que a casa onde morávamos.
- Bom, gente. Esse é o nosso novo lar - Simón diz - O Senhor Gary disse que se não gostarmos de algo podemos mudar.
- É maravilhoso! - Minha mãe diz.
- Eu não mudaria nada - Meu pai completa.
- E você,Luna? Ainda não disse nada - Meu irmão pergunta.
- Esse apartamento é nosso mesmo? - Pergunto incrédula.
Simón ri antes de responder:
- Sim maninha. A escritura está no nome dos nossos pais. Está tudo certo - Se vira para eles - Daqui a pouco a transportadora vai trazer o resto das coisas, eu já falei com eles por telefone.
- Obrigado, filho. - Meu pai diz - Onde é nosso quarto?
- No corredor. É o quarto do meio,pai - Simón indica.
- Bom, vamos guardar nossas coisas, amor? - Meu pai diz à minha mãe que assente e o acompanha.
Guiada por Simón, faço um tour pelo apartamento maravilhada com tudo.A esposa do Senhor Gary realmente tem muito bom gosto. A sala tem uma decoração clean e aconchegante. A cozinha e a lavanderia são pequenas, mas lindas e bem organizadas. Assim como a suíte dos meus pais e o banheiro. O quarto do Simón é incrível: Cores neutras na parede e piso, o enxoval da cama azul-marinho com detalhes em branco e cinza e por fim, uma escrivaninha com computador. Até o violão e a guitarra dele compõem o ambiente. Certeza que meu irmão é que decorou o próprio quarto. Isso aqui está a cara dele e é exatamente igual a decoração do de Cancún apesar de um pouco mais sofisticado. Quando chego ao meu quarto, fico sem palavras. O ambiente é todo decorado em rosa claro e branco com alguns desenhos de bailarina nas roupas de cama e um quadro com o mesmo tema na parede.
Simón me observa sorrindo enquanto digo:
- É lindo!
- Eu sabia que você iria gostar.
- Foi você que decorou?
- Não, não - Simón ri - A senhora Ana me procurou e perguntou sobre você. De acordo com a minha descrição, ela realizou a decoração com a ajuda da filha.
- Ela tem uma filha? - Pergunto.
- Sim. A Nina tem a sua idade e é uma menina tímida, mas muito legal. Ela está ansiosa pra te conhecer.
- Que amor... - Sorrio ternamente - Eu amei o meu quarto! Depois vou agradecê-las.
Simón me abraça sorrindo antes de dizer:
- Bom Luna, eu vou tomar um banho e desfazer minha mala. Descanse um pouco também que depois quero te levar pra conhecer a cidade - Ele me dá um beijo no topo da cabeça e se retira.
Desfaço as malas organizando meus pertences no quarto e penduro meu painel de fotos em uma parte da parede vazia. O Simón deve ter falado com a senhora Ana sobre o meu cantinho das fotografias e por isso ela deixou esse espaço para que eu possa anexá-lo.
Depois de uma hora organizando tudo,envio uma mensagem para a madre avisando que cheguei bem, tomo um banho e logo minha mãe chama pra almoçar.
Durante a refeição, ela e papai comunicam que amanhã iniciarão suas atividades na mansão do Senhor Gary. Quando terminamos de comer, conforme prometido, Simón me leva pra conhecer a cidade. Algo me diz que vou gostar daqui.
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