História ABO Originals - Beijos são bem-vindos

Louis estava cansado. Morto, por dentro e por fora. O dia tinha sido longo, e o jeito que sua mente não parava quieta o fazia pensar, repensar e sofrer, tanto por antecipação quanto por tudo que já havia acontecido. E ainda, provavelmente, havia muito o que acontecer. Não de positivo, porque sua vida parecia uma bola de neve que apenas desce descontroladamente uma montanha e fica cada vez maior pelo caminho. Sem possibilidade de pausa. Sem um recomeço. Apenas descendo e descendo, e o fim era inevitavelmente ruim.

Ele sabia que seu chefe, o amável Senhor Collins, estava desapontado. Não era sua culpa, no entanto, Tomlinson era apenas um ômega que trabalhava sozinho em um estabelecimento pouco frequentado. Qualquer um poderia entrar ali e causar uma bagunça se quisesse e ele não conseguiria impedir. Isso só lhe reforçava o sentimento de impotência. De qualquer forma, seu chefe não contestou sua explicação, ficou um pouco chocado e talvez tenha reconsiderado mentalmente a ideia de deixar um ômega tomando conta de seu negócio, mas ele não tocou no assunto demissão.

Ainda seria mais seguro começar a procurar um novo emprego. Louis podia ver nos olhos castanhos do velho que em pouco tempo ele lhe olharia da mesma forma e diria "eu não preciso mais de seus serviços". E aí sim Louis estaria na merda, com a vida toda ferrada e duro, totalmente duro.

E como para ignorar o possível e provável desemprego, Louis fumou. Cinco cigarros seguidos. Seus cotovelos chegaram a ficar avermelhados e doloridos pelo tempo em que foram forçados contra o batente da janela. E como continuação do ritual de ignorar os problemas, o ômega tomou um banho longo e tão quente que ele poderia fazer um chá de si mesmo. Quando saiu da sauna que o pequeno banheiro se tornou estava vermelho por completo.

Se jogou em sua cama ainda enrolado na toalha branca fofinha, com preguiça demais para se agasalhar e com o corpo ainda muito aquecido para queixar-se de frio. Era irresponsabilidade, e até mesmo burrice, arriscar adoecer quando as coisas já estavam tão complicadas. Louis podia sofrer sem ter a garganta arranhando e o nariz escorrendo.

Mas no momento ele nem estava pensando, era apenas seu corpo ali, encolhido sobre a cama como um bichinho indefeso, tentando se manter quentinho e seguro apenas com a toalha.

Sua respiração era o único barulho ouvido ali, e o esforço para esvaziar a mente era grande. Mas um bip do celular lhe tirou da onda de calmaria.

Harry tinha mandado uma mensagem. Ele só estava perguntando se o ômega estava bem e o mesmo fitou a mensagem por bons trinta segundos antes de responder e começar uma conversa leve.

Tomlinson nem percebeu, mas em seu rosto constava um sorriso pequeno e sincero. Ele não tinha tido muito de Harry naquele dia e conversar sobre coisas leves e engraçadas era exatamente o que ele precisava para esquecer da bola de neve em crescimento que sua vida era.

Apenas ignorar e rir. Era o que ele precisava no momento.

E Harry também não tinha tido o suficiente do ômega naquele dia. Na verdade ele achava que a mensagem não daria em nada, apenas uma troca de boa noite sem graça e o sentimento de distância se manteria. Pois o ômega estava distante de manhã e mesmo que Harry saiba que ele precisa de um tempo para si mesmo, o alfa não é bom em se afastar. Seu lado controlador e protetor requer contato direto, o máximo possível. O tempo todo.

E seu dia estava chato com um Louis em modo de auto isolamento. Sem contar que Harry fora obrigado a prestar atenção em outras coisas que não envolvem um garoto lindo de olhos azuis. Des o lembrou na hora do almoço que aquela segunda-feira seria o primeiro dia do filho na empresa. E Anne, como para garantir que o filho não sumiria novamente à noite, propôs um jantar especial em comemoração ao primeiro dia de trabalho do filho caçula.

E a empresa era uma loucura disfarçada, Harry teve que se dividir entre prestar atenção em tudo que seu superior lhe ensinava e ignorar os colegas de trabalho curiosos quanto ao filho do presidente começando a trabalhar com a "ralé". Harry teria que conhecer cada parte da empresa e suas principais funções. A parte social também era importante e até um café o alfa ganhou, reparando só depois que o beta bonito da área contábil tinha escrito seu número no copo. E mesmo que o garoto fosse bonito, ele não era Louis Tomlinson e Harry não era mais o mesmo alfa flertador de Nova York.

O jantar tinha sido normal e sua mãe fez algumas perguntas apenas para que pudesse reclamar do quanto Harry já está se enfiando na casa de Louis, esse o qual ele nem apresentou ainda à família. Ficou subentendido que o filho deveria dormir em casa naquela noite, até porque três noites seguidas dormindo fora era demais. Para sua mãe. Para Harry uma vida inteira dormindo e acordando com o ômega ainda seria pouco. De qualquer maneira, o alfa não a questionou nem desobedeceu. Louis queria distância e não tinha o convidado, ele não queria parecer insistente e intrometido, então se conteve apenas em trocar mensagens e usá-las para matar um pouco da vontade de estar perto.

Louis tinha gostado de trocar mensagens com o alfa. Falar sobre assuntos aleatórios e rir das tentativas de piadas de Harry tinha sido o ponto alto de seu dia. Mas eles não podiam amanhecer conversando e Harry lhe desejou boa noite e ofereceu uma carona para o dia seguinte, só uma desculpa para se verem logo cedo, Louis sorriu, aceitou e desejou-lhe bons sonhos. E Harry com certeza dormiria bem, ele sempre dormia. E seus sonhos sempre eram bons, principalmente os que envolviam o ômega.

Já Louis ficou um tempo sorrindo olhando pro teto. Até a felicidade momentânea passar e ele olhar ao redor. No fim, ele estava sozinho. Ele não tinha parado para pensar na velocidade em que as coisas entre ele e o alfa original estava indo, mas Harry já tinha lhe visto em seu pior estado e sabia da coisa mais suja que já lhe aconteceu. E mesmo assim ele dormiu dois dias seguidos com o ômega e o tratou bem. Mesmo quando foi expulso do apartamento, ele ficou e não ligou para o jeito que Louis agiu. Não o julgou e continua conversando como se nada tivesse acontecido, como se o ômega fosse válido todo o esforço. Como se ele genuinamente gostasse de Louis. E talvez, só talvez, Louis começasse a admitir para si mesmo que o sentimento era recíproco.

E mesmo que ele não quisesse passar a noite sozinho, porque dormir sozinho só o fazia se sentir mais solitário ainda, no fundo algo lhe dizia que se ele mandasse uma simples mensagem, apenas um "queria que você estivesse aqui", então Harry em poucos minutos realmente estaria. E logo ele sorriu, porque ele não estava realmente sozinho. Não mais.

E ele continuou rolando na cama e pensando na vida. Ele estava sendo ingrato, ele também tinha, além de Harry, seus amigos que sempre estiveram ali por ele. Niall e Zayn já dormiram diversas vezes com o ômega apenas porque ele não queria ficar só. E bem, ele poderia ligar para o loiro, mas não o faria sair de casa sozinho tarde da noite apenas para ter uma companhia. E também tinha Zayn, com o qual ele tinha brigado e já estava morrendo de saudades. E de raiva. Porque ele realmente odiou o que o beta fez, mas tentava entender, ainda que fosse confuso para si. E acreditava que se fosse uma emergência com certeza Zayn viria correndo. Porque é isso que verdadeiros amigos fazem, mesmo que estejam temporariamente se odiando.

E ele tinha decidido que mesmo sem entender o que tinha sido aquela briga entre ele e o beta, Louis faria as pazes. Ter seu amigo de volta era mais importante do que ter razão. Mas ele daria seu jeitinho de deixar claro que não gostou da situação e que aquilo não poderia se repetir. Louis não dá detalhes do seu passado porque não quer, e Zayn não tem o direito de contar ou pressioná-lo a falar tudo para Harry.

Ele não tinha falado tudo nem para o beta.

O cansaço o venceu e por incrível que pareça, ele teve bons sonhos.

E a realidade daquele dia também era boa. Ele pôde perceber assim que Harry o recebeu com um beijo. Não um simples selinho e atenção logo totalmente voltada para a direção do veículo, mas um beijo demorado e molhado.

Quase tão molhado quanto o sonho do alfa na noite passada.

Harry estava radiante, como sempre, e Louis se alegrava junto porque era maldade cortar um sorriso tão bonito quanto aquele.

"Bom dia, Lou!" Foi o que ele disse quando o ômega entrou no carro estacionado em frente ao prédio. E ele corou pelo jeito que o outro estava lhe encarando e nem percebeu que o alfa tinha se livrado do próprio cinto de segurança, não até ele se inclinar para beijá-lo.

Ele correspondeu sem hesitação, mas quando achou que o alfa fosse se afastar e dirigir, sentiu a mão dele em sua nuca, puxando-o para mais perto e as bocas se entreabriram de imediato. O gosto era claramente de menta. E Tomlinson não sabia o que fazer com as próprias mãos, correspondendo o beijo ainda um pouco atordoado com a abordagem atrevida do alfa. Ele demorou um pouquinho para entrar no mesmo ritmo de Harry e seu coração acelerava, quando percebeu já tinha o alfa gemendo contra sua boca por conta de um puxão nada discreto que o ômega tinha dado em seus cachos. E os dois se beijaram até ofegar, desencostando os lábios, mas ainda mantendo os rostos próximos. Os olhos azuis se abriram devagar e ainda era um pouco constrangedor para si ter aqueles olhos verdes tão intensos lhe encarando tão de perto. E Louis abriu a boca para responder Harry, porém não passou do "Bom..." ao que o alfa o beijou novamente.

Foi tudo tão rápido e inesperado que a mente do ômega processava tudo lentamente, mas seu corpo correspondia na mesma intensidade com a qual era beijado. Louis estava sendo pressionado contra o banco do passageiro e a única coisa que sua mente conseguia focar era em quão gostoso era ter a língua de Harry pressionada a sua. Os lábios macios se tocando quase que agressivamente e a sensação quente e molhada que o beijo tinha. Seu coração acelerava e parecia tão forte que ele tinha vergonha que o alfa com a audição aguçada pudesse ouvir, mas na realidade Styles estava tão concentrado quanto o menor. Talvez até mais já que ele comandava os movimentos e a velocidade. E quando parecia que suas bocas iam se separar ele continuava o beijo.

Louis até esqueceu de onde estavam, se agarrando na frente de seu prédio logo de manhã. E consequentemente se atrasando para a aula.

Separaram-se lentamente, Harry distribuindo um milhão de selinhos, e as vezes puxando o lábio inferior do menor, tudo que apenas fazia a vontade de continuar se beijando aumentar. E quando finalmente abriram os olhos, o ômega corou. Sentia sua bochecha esquentar. Era tão mais fácil se deixar levar enquanto os olhos fechados parecem protegê-lo de qualquer tipo de julgamento. Os olhos verdes do alfa o encaravam tão de perto e o sorriso bobo estampava o rosto do cacheado. Louis queria enfiar sua cabeça num buraco, ele nunca tinha se sentido tão envergonhado quanto agora, o jeito que Harry o fez perder a noção de onde estavam e simplesmente se deixar levar era perigoso demais.

Instintivamente levou suas mãos aos seus olhos azuis, como se tampando-os a vergonha pudesse ser escondida. E Harry riu. Louis não era normalmente assim, todo encabulado, fofo e com o rosto queimando de vergonha. Pegou delicadamente as mãos do ômega e descobriu o rosto bonito.

"O que foi? Por que está se escondendo?" O riso era presente em cada palavra sua. A admiração transbordava de seus olhos.

Louis era tão tão tão lindo.

"O que foi isso?" O ômega questionou de volta, tentando segurar o riso, que era na verdade uma risada nervosa de vergonha.

"Meu bom dia para você." Styles falou lentamente, e sua boca ainda estava tão próxima da boca do ômega que era possível sentir sua respiração quente. A fala tinha sido mais lenta do que o comum, e o mais velho chutava que aquilo era uma tentativa de sedução.

"Ótimo dia." Louis atreveu-se a responder. O rosto ainda estava vermelho e ele ainda estava um pouco envergonhado, mas queria deixar claro que ele também pode flertar.

E houve um breve momento onde ambos sorriam bobamente, até os olhares irem dos olhos que se encaravam para as bocas próximas e um outro beijo acontecer. Dessa vez de forma lenta e romântica. Sem lingua envolvida. Apenas os lábios macios se tocando suavemente, e a mão grande de Harry bem posicionada na cabeça de Louis, o segurando a todo instante. E o jeito que Harry o segurava era irresistível.

Quando realmente a sessão de beijos terminou Styles voltou ao seu lugar é recolocou o cinto de segurança. Sorrindo grande para Louis, que ainda parecia desnorteado, e dando a partida no carro.

"Pode escolher uma música se quiser." Disse com a intenção de deixar o outro mais confortável. E em dois segundos Louis já estava dominando a rádio, forçando a si mesmo a não bancar o ômega envergonhado e tentando fortemente não ficar imaginando o quão bom seria beijar todo o maxilar bonito e bem definido que o alfa tem.

E não reparar no quão grande seu corpo era, e como de acordo com as roupas que ele usava, seu bíceps se destacava.

Harry era tão tão tão lindo.

E Tomlinson tinha essa mania de reparar em certas coisas as vezes e parar para pensar em quão rápido o tempo passa e como as coisas mudam em um piscar de olhos.

Justo ele, que nunca imaginou deixar de livre e espontânea vontade um alfa tocá-lo novamente, agora tinha acabado de trocar vários beijos com um original. E tudo com o alfa parecia bom e certo. Era tão estranho como Harry o fez reconsiderar tanto em tão pouco tempo. Ele estava aos poucos se infiltrando na vida de Louis, de forma perigosamente permanente.

E Tomlinson estava apenas se deixando levar, sem pensar realmente no quão sério isso pode ser. Afinal, ele não estava pensando nem no que ele quer. Ele sabe que não quer se sentir usado, não quer que Harry seja só mais um que o usou e foi embora, e dessa vez seria realmente um sentimento de descarte desde que ele estava se envolvendo emocionalmente. Porém, ele não parou para pensar no que significa ter um Harry apaixonado por si, um alfa original determinado a não ir embora e que até mesmo pensa em casamento e crianças.

A única certeza que ele tinha era de que não queria ser decepcionado. Mas decepção era algo que ele já estava familiarizado. Ele tinha dito à Niall que não sabia se conseguiria se reerguer caso Harry o quebrasse, ele nunca se envolveu emocionalmente com um alfa e o medo e a péssima impressão que ele tem da classe de modo geral não o ajuda a ter confiança. Mas ele não tinha pensado até então como seria se isso não ocorresse, se Harry, como vem se mostrando, realmente gostasse dele, e realmente quisesse algo sólido. Talvez quem tivesse mais chances ali de ser decepcionado fosse Harry, porque o que o alfa quer, talvez Louis não pudesse dar.

Alma gêmeas e todo aquele blablabla de ligação de alfas com ômegas sempre lhe pareceu a maior bobagem do mundo. Mas agora quase experimentando isso ele sentia como se toda suas convicções tivessem virado pó.

O que ele sabia sobre gostar de alguém? Nada.

Mordeu o lábio inferior e desviou o olhar. Harry cantarolava a música que Louis tinha escolhido e o mesmo apenas apreciava sua voz. Era lindamente rouca e ele cantava tão bem que poderia ser um cantor mundialmente famoso.

Louis se esforçava para não se auto depreciar, entretanto, comparando ele e Harry, sentiu-se como a tal maçã podre que estraga as boas se ficar muito tempo perto.

Ele não queria envolver Harry em sua vida fodida, e não queria foder com nenhum sentimento bom que o alfa pudesse sentir por ele. Louis não queria mais decepcionar pessoas com a qual se importa, e agora o alfa era um.

Era apenas mais pressão para cima dele. Mas já era. Harry já estava envolvido e Louis teria que lidar com isso, se esforçar para manter as coisas indo bem entre eles, mesmo com sua vida desmoronando.

O alfa percebeu o quão quietinho e pensativo o ômega estava, e resolveu puxar assunto, receoso que os beijos tivesse tido uma reação negativa. Colocou uma de suas mãos sobre a coxa do ômega, tirando-o dos devaneios.

"Hey, como foi ontem com seu chefe?" Ele questionou apenas por lembrar se de como o ômega foi até embora mais cedo para resolver alguma pendência, sem contar a suposta dor de cabeça, que talvez tivesse sido no sentido figurado.

"Hm, é... Foi ok." Louis não soube direito o que responder, já que foi surpreendido pela ação repentina do alfa. "Só uma conversa... Para arrumar uns livros, nada demais." Forçou um sorriso ao que mentiu. Harry não precisava saber do alfas pestinhas que colocaram em risco seu emprego, muito menos de como Louis desconfia que Senhor Collins vai demiti-lo em breve. Esses são problemas de Louis com os quais o alfa não deve se preocupar, até porque a preocupação dele não vai mudar os fatos.

"Ah..." Harry arqueou a sobrancelha e concordou brevemente. "Ok."

Sua mão deixou a coxa de Louis ao que pararam em um cruzamento e o alfa voltou a mão para o câmbio.

A mentira branca de Louis parecia ter cortado o assunto então ele se sentiu na obrigação de puxar assunto para descontrair.

"A gente podia sair hoje à noite... Ou pedir uma pizza e assistir filme..." Sugeriu dando de ombros como se não fosse grande coisa. Como se a última vez que marcaram de assistir filme não tivesse virado uma sessão de amassos no sofá.

Harry sorriu, desviou brevemente o olhar do trânsito para fitar Louis. "Acho uma excelente ideia."

*

Os dois chegaram de mãos dadas na Universidade. Harry roubou um beijo ou três pelo caminho, e eles nem repararam nas pessoas ao redor. Os outros estudantes já os consideravam um casal. Mesmo que a fama de Louis fosse suspeita e Harry fosse um alfa original, a maioria achava que os dois eram fofos juntos. E se Harry estava ou não saindo com um beta, ninguém se atreveria a falar nada para o alfa original.

"Você não está falando com seu amigo?" Perrie questionou ao que Zayn encarou de forma estranha o casal até entrarem no prédio, e nem tentou cumprimentá-los. Não tinha sido a primeira vez que ela reparava naquilo.

"Ele tá ocupado. E sempre acompanhado." Zayn reclamou ao que voltou a atenção à loira sentada em sua frente.

"Oh! Você não gosta do cara que ele tá saindo! Ou é apenas ciúmes?" Ergueu a sobrancelha bem desenhada e mudou o tom de voz na última palavra. A loira sabia da relação de amizade colorida dos dois. Assim como sabia o que aconteceu entre Zayn e Liam. E Zayn, Liam e Niall.

Às vezes seu relacionamento com o moreno parecia mais amizade. Era tudo muito aberto e desapegado. Eles se gostavam, sim, ambos eram pessoas legais. Mas como todos os betas, já tinham lidado com briguinhas envolvendo alfas/ômegas. E sabiam que a principal razão para se envolverem era a sociedade enchendo o saco dizendo que betas devem ficar com betas.

A química e a paixão avassaladora não os atingiam, seu relacionamento era na base da conversa e da amizade, atração física e ideais sobre o mundo e a classificação em que viviam.

Perrie não se importava com os sentimentos mal resolvidos entre Zayn e outro alfa ou ômega. E Zayn também entendia que Perrie podia ter seus rolos mal resolvidos com pessoas de status não correspondentes.

"Eu não vou muito com a cara dele, nem ele com a minha." Bufou ou lembrar de Harry mandando-o se afastar de Louis. E da vez em que disse em sua cara que não gosta do beta. "Não é ciúmes. Não desse tipo. É só que... Louis é meu melhor amigo. E ele tem uma vida complicada, e eu tenho medo que Harry a complique mais. E então, como eu sou um amigo excelente acabei entrando numa briga sem sentido apenas porque eu estou preocupado demais." Lamentou-se.

A beta loira riu levemente da cara de cachorrinho machucando que Malik estava fazendo. A frustração era evidente em seu rosto e ela admirava a amizade que o beta tinha com Louis.

"Tá... Já entendi que você não quer dar detalhes, está falando tudo por cima e eu realmente não sei o que aconteceu, mas espero que vocês voltem a se falar logo. Como você mesmo disse, ele é seu melhor amigo!"

Zayn sorriu e lhe deu um selinho. Perrie parecia um anjinho, e mesmo conhecendo Louis brevemente e sabendo que ele e Zayn já transaram, ela gostava do garoto da mesma forma. A relação deles era boa porque não tinha nenhum ciúmes exagerado e brigas idiotas.

"Eu quero voltar... Mas acho que vou ter que me desculpar por algo que nem me arrependo realmente." Deu de ombros ao que parecia estar sendo apenas cabeça dura. "Eu só acho que se acontece algo importante, algo que põem sua segurança em risco, então quem tá próximo tem que saber. Como é que a gente vai ajudar alguém que está no escuro? E não dá para saber se Harry é confiável, isso me frusta!" Malik continua contando mesmo que Perrie não esteja entendendo nada. Ele só quer organizar os próprios pensamentos e dizer para si mesmo que agiu certo.

"Ok! Eu realmente não sei do que você está falando. Mas se alguém estiver precisando de ajuda pode me chamar." Edwards responde risonha acariciando os cabelos do moreno.

"Desculpe.... Eu até te contaria o que aconteceu, mas talvez Louis esteja bravo comigo justamente por eu falar demais..." Reflete sobre as próprias palavras.

Errado ou certo. Errando para tentar acertar, se deixando levar pelo ciúmes, ou seja o que for, Zayn queria o amigo de volta. E ele o teria mesmo que precisassem gritar mais um pouco e tivesse que ignorar o alfa original prepotente que não desgrudava mais de seu amigo.

*

O dia foi cheio, Louis e Harry fizeram o esforço de manterem suas mentes focadas nos estudos e apenas passaram o intervalo juntos, e realmente juntos já que Niall estranhamente faltou sem avisar. Louis mandou uma mensagem para o amigo e o loiro respondeu com uma desculpa qualquer. Eram só os dois e o ômega reparou que Harry não parecia ter muitos amigos. Muitas pessoas o olhavam e sabiam claramente quem ele era, mas durante o intervalo apenas Amanda passou perto dos dois e acenou.

Tomlinson era tão focado em si, que se esquecia de que o alfa ao seu lado tinha uma vida inteira que ele não sabia nada sobre.

Ele não sabia se Harry já tinha namorado. Se ele costumava ter parceiros fixos para heats/ruts. Se ele já tinha se apaixonado alguma vez. Se quando estavam longe um do outro, Harry flertava com outras pessoas, ou se só pensava nele. Inteiramente nele. Porque quando estavam juntos era óbvio, ele não olhava pra mais ninguém, nem se importava com as garotas e os garotos bonitos que lhe lançavam olhares.

E foi pensando nesse tanto de questão não respondida que ele aleatoriamente questionou: "Você já namorou?".

A expressão surpresa do alfa o fez se arrepender de imediato pela pergunta. Afinal, ele e Harry nem tinham uma relação estável e Louis já estava lhe perguntando coisas e querendo cobrar coisas que ele mesmo não saberia como responder se fosse o contrário. Perguntar demais era abrir espaço para que Harry perguntasse também. E a pergunta agora parecia extremamente estúpida. Era óbvio que Harry já devia ter namorado, era só olhar o quão lindo ele era, e só porque Louis era totalmente sem experiência na questão amorosa não significava que todo mundo também fosse, e de repente ele nem queria mais ouvir a resposta. Saber em que número da lista ele está, quantas pessoas o alfa já se envolveu. Quantas já tiverem toda sua atenção...

"Esquece!" Ele exclamou enquanto Harry se preparava para responder, terminando de engolir seu lanche. "Puft, que pergunta idiota."

Harry o observou curiosamente, Louis estava corado e parecia nervoso e depreciativo com o que tinha dito. E tinha sido uma pergunta tão boba. Não havia necessidade de se sentir mal sobre.

"Nunca." Respondeu surpreendendo o menor. "E bem, não é uma pergunta idiota. É só curiosidade, certo?" Levantou o rosto de Louis, e encarou docemente os olhos azuis.

"Duvido que nunca tenha namorado." O ômega revirou os olhos e balançou a cabeça em negação.

"Por quê?" Styles riu. "Eu não minto para você." Lhe deu um selinho, apenas porque ter a boca de Louis tão próxima e não beijá-la parecia um crime.

"E em toda sua vida você nunca se apaixonou? E teve alguma espécie de mini namoro com alguém que... Hm, você sabe, passou um tempo junto." O ômega estava corado e mal conseguia controlar sua própria língua, agora que tinha começado queria tirar todas as suas dúvidas. Quando ele falara sobre tempo, queria dizer heat. Queria descobrir sobre os antigos parceiros de Harry, e ao mesmo tempo sentia uma sensação incômoda ao tocar nesse assunto.

Louis sabia, que diferente dele, a maioria dos ômegas e alfas, para não dizer todos, tinham parceiros fixos e por isso acabavam facilmente se envolvendo emocionalmente. Ele não tinha tido aquilo devido o lugar de onde veio, mas Niall, por exemplo, tinham ex-parceiros, apesar de ser um ômega calmo. O usual era que já tendo certa idade já tivesse tido parceiros fixos e se apaixonado. E isso provavelmente já tinha acontecido com Harry, quando morava em Nova York e nem sabia que Louis existia. De qualquer forma o possível passado badalado do alfa o incomodava.

E incomodava também quando ele comparava o alfa consigo. Todas as experiências boas que Harry teve em contrapartida com as péssimas que Louis luta para esquecer.

"Eu me apaixonei." Harry murmurou meio atordoado. Ele não estava esperando por aquela conversa e não sabia o que responder, o que Louis queria ouvir.

Tomlinson se calou por um momento, incomodado com a resposta. E com raiva de si mesmo por ter perguntado. Era óbvio que Styles já tinha gostado de alguém. Ele devia ter um milhão de ex-amores.

"E como foi?" Questionou baixinho, a tortura parecia ser boa ao que ele continuava puxando a língua do alfa. Sofrendo com as respostas e pensando que merda era não saber como aquilo funcionava. Ele só queria ter tido uma vida como qualquer outra pessoa, que se apaixona ainda adolescente e tem vários amores e parceiros legais.

"Como foi o quê?" Harry estava confuso, ele sinceramente não estava entendendo nada. Louis dava uns sinais estranhos de quem está odiando ouvir cada palavra, mas continua questionando. "Se apaixonar?"

"É..." o ômega o encara seriamente.

"Hm, é..." o alfa engole em seco. Louis estava mesmo questionando como era ser apaixonado por ele? Aquilo era uma questão geral ou específica? "É bom, muito bom. Me faz sentir vivo e parece tão... Certo!" Harry corava ao que reunia atrapalhadamente as melhores palavras. Já o ômega queimava de raiva. Quem tinha feito Harry se sentir tão certo? "As pessoas falam que amar é doloroso... Eu não concordo. Eu acho que amar só faz bem. O que nos decepciona é quebrar a cara com expectativas, não ser correspondido ou não ser o suficiente. Não conseguir fazer quem você ama feliz." Trincou os dentes ao que finalizou, tinha aberto sua alma ali praticamente e ele estava realmente confuso sobre aquela conversa aleatória e tão intensa.

"O que aconteceu?" Perguntou com o coração se acelerando. Deus, o olhar de Harry enquanto falava transbordava amor. Harry amava alguém e Louis sentia uma pontada no peito ao constatar isso.

"Como assim?" O maior estava completamente perdido, do que Louis estava falando?

"Você... Você gosta de alguém... Ou gostava, não sei, não parece terminado." Disse ao que sentia o coração afundar. "Não deu certo? Você decepcionou alguém?" Continuou questionando mesmo que doesse em si.

"Quê?" Harry riu e franziu o cenho. "Do que está falando, Lou? Eu respondi de um modo geral." Tirou a franja da frente dos olhos azuis do ômega, acariciando com delicadeza o rosto bonito.

Louis ficou mais vermelho ainda. Por que o alfa estava rindo? "Não precisa disfarçar. Dá para ver nos seus olhos que ainda está apaixonado!"

O ômega parecia um gatinho bravo e Harry ainda ria confusamente.

"É porque eu estou." Respondeu simplesmente. Ele não tinha a mínima vergonha do que sentia, só não tinha deixado mais claro com medo de assustar Louis indo rápido demais. Ter conversado sobre filhos em uma das primeiras vezes em que o encontrou já tinha sido uma bola fora.

O ômega sentia como se seus órgãos tivessem sido todos triturados. Doía tanto. Como Harry podia estar saindo com ele e o tratando com tanto carinho se amava outra pessoa?

"Quem é? Por que não estão juntos?" Rebateu raivosamente, nem se importando se aquelas perguntas eram invasivas ou se ele estava fazendo cena.

O riso do alfa morreu um pouquinho. Louis parecia bravo de verdade, até mesmo ciumento. E o alfa estava bem confuso. Segurou o rosto do ômega com ambas mãos, focando os olhos verdes nos azuis desafiadores.

"Eu estou com você. Bem aqui." Se aproximou para beijar o ômega, mas o mesmo se afastou.

"Sim, por que? Pra quê ficar comigo se gosta de outra pessoa?" Louis parecia tão machucado e Harry finalmente entendeu a confusão toda. O menor achava que ele estava falando de outra pessoa.

"Eu não gosto de outra pessoa, eu gosto de você." Pegou nas mãos do menor enquanto seus olhos se mantinham conectados.

"Mas você disse-" Tomlinson tentou interromper, o rosto agora não tão triste, mas banhado em confusão.

"Louis Tomlinson! Eu estou apaixonado por você!" Disse seriamente. "Sério que você não vê? Não percebe que eu só olho assim para você? Achei que eu era óbvio demais, que você já sabia que eu gosto de você desde a primeira vez que te vi."

Louis engoliu em seco, ainda não acreditando.

"Mas, eu perguntei se tinha se apaixonado por alguém que passou um tempo junto. Você sabe do que eu estou falando!" Apertou as mãos do alfa, o coração acelerando ao que Harry tinha acabado de se declarar para ele.

Tinha sido a primeira vez em que alguém disse sinceramente que estava apaixonado por ele.

"Bem, nós estamos passando um tempo juntos..." Styles franziu o cenho.

"Oh, por favor!" Louis riu de nervoso e vergonha. "Nós não fizemos esse tipo de coisa." Referiu-se à heats. "E você falou sobre decepção, sobre não fazer quem você gosta feliz. Eu achei que era sobre alguém de Nova York!"

Harry inclinou e o beijou suavemente, mantendo Louis próximo ao que continuou a falar. "Não tem ninguém de antes. Não tem ninguém de Nova York. Só tem você." Respirou fundo e mordeu o lábio inferior. "Eu não sabia onde você queria chegar com essas perguntas, achei que soubesse que eu estava falando sobre você. Sobre nós. Eu gosto de você desde que te vi, e eu falo sério. Eu só não falo isso sempre porque achei que não gostaria de ouvir algo assim." Os olhos azuis estavam concentrados em Harry e em cada palavra que saía de sua boca, e não havia nada parecido com rejeição em seus olhos, o que fez Harry continuar. "Eu falei de modo geral. Sobre o que acho doloroso sobre gostar de alguém. Porque eu queria poder tirar toda sua dor e evitar tudo que aconteceu com você, mas eu não posso. Eu só sinto muito se eu não sou nada do que você esperava e sim, eu tenho medo de não conseguir fazer você feliz."

Louis sentiu o coração falhar uma batida, ou quase isso. Harry estava dizendo que o amava? Não, ele não tinha usado uma palavra tão forte como amor. Era muito cedo. Ele disse que realmente gostava de Louis, o que também era algo grande. E um alfa original tinha acabado de admitir insegurança e medo? Aquilo era mais do que algo grande. Aquilo era o tipo de coisa que faria Louis passar noites em claro pensando sobre.

E o ômega não sabia o que dizer, não conseguia formular nenhuma frase. Apenas impulsionou seu corpo para frente e beijou Harry com todo o carinho que pôde. Suas mãos puxavam Harry pela roupa e pelo cabelo para mais perto, e sua língua já se forçava contra a boca do maior, mal esperando ele reagir. Só querendo beijá-lo o mais rápido possível. Seu estômago estava revirando com as tais borboletas. E sua mente tentava forçá-lo a responder algo.

Ele não tinha coragem para dizer as coisas que Harry disse. Se intitular apaixonado era demais, ele mal entendia o que sentia. Mas Harry, mesmo sem poder mudar seu passado e tirar toda sua dor, continuava o dando suporte e o fazendo feliz.

E Harry não recebeu de volta um eu também estou apaixonado por você, o que se espera normalmente depois de se declarar para alguém.

Porém, o jeito que Louis sussurrou com suas bocas coladas um "eu fico feliz quando tô com você" foi mais do que o suficiente.

Talvez Louis Tomlinson se declarasse de forma diferente.

E todo avanço e beijo era bem-vindo.