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História Absinthe - Capítulo 12


Escrita por: writtenforbts

Notas do Autor


Olá, fadinhas 💚
Antes de começar tudo, eu queria dizer algumas coisinhas. Primeiramente, desejo um feliz ano novo para todos vocês. Sei que 2022 não foi fácil para muitos de nós (eu, inclusive), então espero que 2023 seja um ano de esperança para todo mundo. Desejo que vocês tenham uma ceia incrível, que estejam com as pessoas que vocês amam e são importantes para vocês. Decidi postar hoje com a esperança de um ano mais produtivo para mim, que Absinthe continue me dando tanto prazer quanto me dá hoje e que minha escrita possa ser um lugar bom para alguém.
Segundamente, durante esse capítulo, o Yoongi usará pronomes femininos para se referir ao Jimin. Por isso, se você não gosta desse tipo de coisa, eu recomendo que nem continue a ler Absinthe sldkjfskld A outra coisa é que o Jimin explica um pouco da biologia das fadas aqui. Tentei deixar o mais claro possível, mas por ser uma explicação superficial, talvez vocês fiquem com dúvidas (ou mesmo curioses). De qualquer forma, esse assunto ainda vai ser falado mais para frente.
Para quem quiser interagir no twitter, tenho a #FadaVerdeYM e vocês podem me marcar (writtenforbts) lá também!!
P.S.: Sugiro que escutem a playlist de Absinthe também! Deixei o link caso queiram 💚
Espero que gostem do capítulo💚

Capítulo 13 - Capítulo 12


Fanfic / Fanfiction Absinthe - Capítulo 12

Yoongi gostava de pensar que era um bom observador. E era, realmente, em certas ocasiões. Ele costumava notar detalhes que a maioria das pessoas demoravam a ver nos livros que lia, ou em pessoas próximas, como mudanças sutis de humor ou na aparência.

Agora, vendo os detalhes tão familiares que passaram despercebidos na pessoa a sua frente, Yoongi se sentia idiota. Apesar das diferenças óbvias — o busto avantajado e os traços do rosto e corpo mais suaves —, Jimin ainda parecia... Jimin. A fada tinha o mesmo sorriso nos lábios carnudos, o mesmo jeito carregado de confiança, as mesmas íris verdes que sugavam e transportavam Yoongi para outro mundo.

Era engraçado que o escritor não tivesse notado antes. Jimin tinha uma beleza andrógina, apesar da sua aparência masculina. À primeira vista, era fácil dizer que ele era um jovem rapaz, pelo seu corpo, sua voz, seu rosto. Mas, ao mesmo tempo, também havia algo em Jimin que tornava a sua masculinidade mais suave, menos agressiva. Talvez Yoongi estivesse divagando demais, mas sua mente parecia ter travado ao ver uma outra versão da fada.

Seus olhos desceram pelo vestido verde que Jimin usava. Era a primeira vez que o escritor via a fada usando uma roupa similar à dos humanos, ainda que possuíssem suas diferenças. As mulheres da cidade costumavam usar vestidos pomposos, com saias enormes, cheios de babados e costuras complicadas, mas o que Jimin vestia era muito mais simples — e, honestamente, muito mais bonito do que qualquer outro que Yoongi tenha visto.

O tecido verde ressaltava o tom de pele da fada, o dourado charmoso que o atraía tanto, e combinava bem com as íris de Jimin. Yoongi não pôde deixar de admirar — por mais de tempo do que deveria — também as clavículas e os ombros expostos pelo decote e mangas caídas. Além disso, para piorar — ou melhorar — mais ainda a situação dele, a cintura delgada de Jimin estava delicadamente circulada por um maldito corset de couro.

Ele não admitiria em voz alta, mas sentiu sua boca secar e a ponta de seus dedos coçarem. Tudo porque Jimin era simplesmente a pessoa mais atraente que Yoongi já teve o prazer de conhecer. Não só pela beleza da fada, mas todo o conjunto — sua personalidade, sua essência — fazia com que o escritor não conseguisse pensar em outra coisa.

— Puta merda.

— Olá para você também, Yoongi.

— Jimin, é você mesmo?

— Claro que sou eu! — As asas da fada tremularam o suficiente para que o escritor pudesse vê-las. Porra, eu não estou alucinando. — Você ainda não está pronto?

— Quase. É só... Me dá um minuto — Yoongi disse, atrapalhado. Ele não sabia se dava espaço para a fada entrar ou se simplesmente entrava em combustão ali mesmo. Acabou decidindo pelo óbvio e deu dois passos para trás, abrindo mais a porta. — Entra. Eu vou... pegar meu sapato.

Jimin riu baixinho, parecendo se divertir com o jeito que Yoongi estava visivelmente afetado por si. Assim que viu a fada do lado de dentro, o escritor dedicou-se a procurar seus sapatos e meias. Não era daquela forma que ele tinha pensado que encontraria Jimin — ele, na verdade, imaginou um momento totalmente diferente em que a fada estaria impressionada, não o contrário.

— Por que você tem uma casa tão grande, Yoongi? — Jimin perguntou, explorando o cômodo que ainda não tinha conhecido.

— Acha que isso é grande?

A fada olhou para ele com uma sobrancelha erguida.

— Você vive sozinho.

— Bem, sim. Essa é uma casa relativamente pequena, para os padrões humanos — Yoongi respondeu, continuando na procura dos seus sapatos. Ele havia os escolhido antecipadamente, mas sequer lembrava onde os viu pela última vez. — Tem tudo o que eu preciso, então estou satisfeito.

— Estou acostumado com algo mais simples — a fada disse, dando de ombros. Jimin se sentou numa poltrona da sala de estar, sorrindo ao praticamente afundar no móvel. — Ao menos, você tem umas coisas bem confortáveis.

Yoongi deu um pequeno sorriso, mas não respondeu à fada porque encontrou o par de sapatos que procurava. Ele os calçou o mais rápido que pôde e foi até onde Jimin estava — dessa vez, a fada estava bisbilhotando os livros e quadros que decoravam o cômodo. Era engraçado observar Jimin ao redor de coisas tão banais, mas que pareciam tão exóticas para ele.

— Você já foi para esse lugar, Yoongi? — a fada perguntou, olhando uma das pinturas na parede.

Aquela era uma das poucas que ele mantinha e o motivo era a bela — e de tirar o fôlego — paisagem retratada. Yoongi a comprou num jantar beneficente que Hyunki insistiu em levá-lo, alguns anos antes. No começo, não pretendia levar nenhum quadro, mas ao ver a silhueta solitária de uma pessoa de cabelos ruivos caminhando por uma praia cercada por altos precipícios, com nuvens de tons púrpura e rosa, ele não conseguiu resistir.

Havia algo naquela cena, naquele lugar que fazia o coração de Yoongi se encher de um sentimento que ele não sabia bem identificar. Talvez fosse solidão, como aquela pessoa na pintura, ou ainda, nostalgia. Do quê, Yoongi não sabia dizer.

Ele suspirou, indo até uma pequena caixa de onde tirou um saco com o dinheiro que usaria durante o dia.

— Não. Na verdade, eu nem sei se esse lugar existe — Yoongi explicou, contando as moedas. — Para ser honesto, nunca estive numa praia.

— Nem eu. Nunca estive fora da cidade — a fada disse, voltando a olhar o quadro.

Yoongi franziu a testa. Ele sabia que Jimin não saía do refúgio para a cidade muito, mas pensou que a fada poderia ter viajado para outros lugares onde não fosse perigoso, com outras criaturas divinas. Ele quis perguntar sobre, mas as palavras morreram em sua boca e deram lugar a sorriso quando a atenção da fada se voltou para as moedas que o escritor segurava.

— Isso é dinheiro?

— Sim. Vamos precisar durante o festival.

— Ah! Então é por isso que o Tae me deu isso — do bolso do vestido, Jimin retirou um pequeno saco decorado com flores bordadas.

Quando a fada abriu o objeto, Yoongi arregalou os olhos.

— Puta merda, Jimin. Onde você conseguiu tudo isso?

— Gnomos são ótimos com rochas especiais, e sabemos que humanos gostam dessas coisas, então vendemos algumas. É assim que a maioria se mantém entre vocês.

Havia tanto dinheiro naquela bolsa que Yoongi se sentiu constrangido. Apesar de todo o sucesso que fez com seus livros, ele nunca ficou rico — nem perto disso. Ele tinha uma boa vida, era verdade, mas nunca sequer conseguiu tocar numa moeda de ouro como aquelas. E Jimin tinha facilmente mais de dez.

— Certo — Yoongi limpou a garganta, enfiando o próprio dinheiro no bolso do terno. — Podemos ir, então?

— Vamos! Eu vi algumas coisas no meu caminho para cá e quero muito que me diga o que são.

Yoongi sorriu, assentindo.

Lanternas de papel e buquês de flores decoravam as ruas e casas de Malger. O cheiro que vinha das plantas era como uma nuvem densa que cobria as ruas da cidade, mas não de uma forma que incomodava Yoongi — muito menos a fada, que apenas suspirou profundamente antes de sorrir. Tendas e barracas foram montadas e espalhadas pela cidade, oferecendo especiarias, objetos e acessórios exóticos.

Os olhos de Jimin brilhavam de curiosidade. A fada caminhava na frente de Yoongi, sempre voltando para o seu lado quando queria entender o que era ou para que servia algo que havia chamado sua atenção. Yoongi, obviamente, não se incomodou em momento algum e achava até um ótimo exercício explicar coisas que eram tão ordinárias e de senso comum para Jimin.

Era como ver o mundo sob outra perspectiva.

Além disso, ele estava um pouco mais acostumado com a nova aparência da fada e se aproveitava para admirá-la enquanto isso. Os fios dourados de Jimin estavam mais longos, ultrapassando a cintura — lugar este que os olhos do escritor voltavam para, vez ou outra, como se estivesse num transe — e presos numa trança decorada por contas coloridas. As asas translúcidas, praticamente escondidas pelo cabelo, tremulavam sempre que a fada parecia se interessar em algo.

— Yoongi, acho que nunca vi tantos humanos num só lugar.

— Pessoas de outras cidades e vilas vêm para Malger para celebrar a primavera, por isso está mais cheio que o normal.

— O que exatamente acontece nesses festivais?

— Hum... Isso depende? Há pessoas que festejam a primavera por motivos espirituais, e o jeito de comemorar é um; há outras que vêm apenas pela festa, e fazem coisas diferentes.

Duas estações eram extremamente importantes: a primavera e o outono. Havia muito significado em ambas as estações — espiritualmente, representavam os Deuses Irmãos; realisticamente, o início e o fim da colheita. Para alguns, os festivais eram a forma pela qual agradeceriam aos Deuses, com oferendas e desejando proteção e bênçãos; para outros, era apenas uma forma de descansar e aproveitar após um longo período de trabalho intenso.

— E você? Pelo que celebra? — Jimin perguntou, inclinando a cabeça.

— Eu? — Yoongi deu de ombros. — Faz algum tempo que não celebro.

— Não acredita nos Deuses?

— Difícil não acreditar Neles quando você está bem aqui, Jimin — a fada riu. — Não sei, eu gosto de ler sobre os Deuses. Tudo isso sempre me fascinou quando eu era um garoto, mas não sei o quanto acredito. Acho que nunca parei para pensar nisso.

Mitos e lendas sobre os Deuses, sobre criaturas e energia divina sempre foram algo que traziam um certo conforto para Yoongi. Ele não sabia bem explicar o porquê, mas, dentro todos os tipos de histórias que lia, aquelas eram as que ele mais se sentia bem.

Agora, sabendo o que sabia, talvez pudesse entender de onde vinha aquele sentimento.

— Deve ser difícil. Sabe, para mim é mais fácil. Eu sinto os Deuses, a energia deles corre dentro de mim, está no meu corpo. Nunca vi um, mas sei que Eles existem — Jimin confessou, deixando um longo suspiro escapar. — Me pergunto como os humanos conseguem viver sem uma certeza sobre Eles.

— Alguns de nós têm fé. Outros vivem um dia após o outro. Acho que saber sobre a existência dos Deuses pode ser uma bênção, mas também pode ser uma maldição.

Jimin não respondeu, apenas suspirou e continuou andando. Yoongi não sabia se havia sido ofensivo de alguma forma — não seria a primeira vez que ele dizia algo inocentemente e insultava alguém sem nem perceber —, mas, apesar de gostar de conhecer mais sobre esse mundo, seu mundo, ele sabia que nem todos conseguiriam lidar do mesmo jeito.

Às vezes, a ignorância era libertadora.

Yoongi se sentiu um pouco culpado pelo silêncio que se instalou entre eles. Ele não queria estragar o momento, mas às vezes as palavras escapavam da boca dele antes que pudesse impedi-las.

Enquanto caminhava, o escritor viu uma barraca com algumas de suas comidas favoritas. Ele segurou o pulso de Jimin, atraindo a atenção da fada. Yoongi se forçou a não pensar demais em como a pele ali era macia e suave, e em como o instinto de alisar todo o resto cresceu como um monstro no peito dele.

— O que acha de provar a culinária humana? — Yoongi perguntou, desviando toda sua atenção para o rosto da fada. As irís dela brilharam ainda mais com a menção de uma nova experiência e Jimin assentiu, sorrindo. — Vem.

Assim que a vendedora notou que eles caminhavam em sua direção, ela acenou animadamente. Yoongi quase gemeu de satisfação ao sentir o cheiro dos espetinhos de carne e os pães de grãos e frutas. Ele não comia nada como aquilo havia algum tempo...

— Olá — o escritor cumprimentou a mulher, dando uma boa olhada nas comidas. Ele se virou para Jimin, que também observava, parecendo um pouco confuso. — Há algo que você queira experimentar, Jimin?

— Eu não sei... O que é tudo isso?

— Ah, querida, nunca provou dos meus espetinhos, não é? — a vendedora interviu, com um sorriso presunçoso no rosto. — Tenho de carne de boi e frango. E também bolinhos de peixe!

Jimin olhou para Yoongi, pressionando os lábios uns contra os outros. Ele parecia um pouco desconfortável.

— Há algo errado? Você não gosta disso?

— É que... eu não como nada feito de animal.

Oh. Claro.

Yoongi, seu imbecil, conseguiu estragar as coisas mais uma vez! Parabéns.

— Tudo bem, há outras coisas aqui sem carne. Você pode comer cereais e frutas, não pode? — a fada assentiu. Yoongi tirou uma moeda do bolso e se voltou para a vendedora. — Ótimo! Moça, por favor, dois pães com frutas e grãos.

A mulher não demorou em entregá-los, e logo os dois estavam caminhando novamente. Yoongi dobrou o papel que embrulhava o pão e o deu para Jimin, que não se deteve antes de dar uma bela mordida na massa. O escritor riu quando a fada suspirou, comendo mais um pedaço.

— Gostoso?

— Uhum. Muito!

— Fico feliz — Yoongi disse, sorrindo. Ele olhou para o pão em sua mão e suspirou. — Jimin, sinto muito por ter te oferecido os espetinhos. Eu não sabia que você não come carne. É uma coisa das fadas em geral ou é... algo só seu?

— Hum... — a fada engoliu o pão antes de responder: — Todas as fadas do refúgio não comem carne.

— É proibido? Algo que os Deuses impuseram?

Jimin negou.

— Podemos comer carne, não é um pecado. Mas parece errado consumir a carne de outra criatura quando não precisamos dela para sobreviver, quando uma maçã é tudo o que precisamos para nos sentir saciados.

— Então comer carne é mais um tabu do que um crime — Yoongi murmurou. — Existem fadas que comem carne?

— Talvez. Provavelmente as que vivem entre os humanos — a fada deu de ombros. — Yoongi, isso aqui é muito bom.

— Bem, espero que você tenha espaço para todas as coisas que vamos experimentar hoje.

— Estou mais do que pronta!

A fala não passou despercebida pelo escritor, que a tomou como uma deixa para perguntar algo que queria desde que viu Jimin na sua porta.

— Jimin.

— Sim?

— Eu deveria mudar o jeito que me refiro a você? — a fada franziu a testa. — Você é... uma mulher agora? Então fiquei em dúvida se deveria...

— Yoongi, você não precisa se preocupar com isso. Eu não me importo com isso, na verdade. Se você quiser ainda me tratar como "ele", não tem problema. Mas eu queria te lembrar uma coisa: eu não sou uma mulher, nem um homem. Eu sou uma fada, e o que você vê é apenas uma das minhas aparências.

— Eu não sabia que você podia... mudar de aparência.

— É uma coisa de fada. Quando nascemos, não existe uma distinção entre "homem" ou "mulher". Somos intersexo até a Primeira Mudança.

— Intersexo? Primeira Mudança?

— Fadas nascem com um pênis e uma vagina, e parecemos... Qual é a palavra mesmo? Andrógino? — Yoongi assentiu. — Temos uma aparência andrógina até nossa quarta estação. A partir daí, podemos mudar nosso corpo, ser mais feminino, mais masculino ou continuar andrógino.

— Essa mudança, por acaso, é como você apareceu com o cabelo loiro?

— Exatamente! Posso mudar a cor do meu cabelo, da minha pele, assim como o comprimento do meu cabelo. As únicas coisas que não conseguimos mudar são nossas asas e olhos. É algo permanente.

— Isso é... muito interessante. Você acha que como mestiço eu posso fazer algo assim?

— Talvez, mas não no nível que eu consigo. Seu corpo, apesar do sangue divino, é mortal. Mudanças físicas tão grandes quanto as nossas devem ser impossíveis, mas algo mais simples, talvez. Podemos tentar em algum momento.

Agora Yoongi tinha mais um motivo para esperar ansiosamente pelos próximos treinos com a fada.

— É uma pena que eu não possa mudar como você. Tenho certeza que eu seria uma mulher muito bonita.

— Disso, eu não tenho dúvidas — Jimin disse com um sorriso ladino. — Fico até em dúvida qual versão sua eu preferiria...

— Você gosta de me provocar, não gosta, Jimin?

A fada inclinou a cabeça, seu sorriso aumentando.

— Eu amo.

— Filho da puta.

Apesar do xingamento, Jimin apenas riu e voltou a caminhar, deixando Yoongi para trás. Ele sentia a pele da nuca queimando e tinha quase certeza que a ponta de suas orelhas estavam avermelhadas, mas ele não ligava. Tudo o que Yoongi queria era conseguir retribuir todas aquelas provocações.

Quando sentiu que não corria o risco de soltar mais palavrões do que o necessário, Yoongi seguiu Jimin e a encontrou mais à frente. Ela estava inclinada, olhando alguns acessórios expostos numa barraca, e isso fez com que sua trança deslizasse, revelando algo que Yoongi ainda não tinha notado.

O vestido que Jimin usava deixava suas costas quase completamente nuas, permitindo-o ver como elas eram definidas, cada pequeno músculo marcado sob uma pele suave, com pintinhas espalhadas por toda a extensão. Além disso, e acima de tudo, era a primeira vez que Yoongi podia ver a base das asas de Jimin, como elas rasgavam e eram abraçadas pela pele que as contornava.

A mente dele estava dividida entre o tesão por perceber — mais uma vez — o quanto a fada o atraía e a curiosidade sobre como o corpo delas funcionavam. Yoongi decidiu não falar nada, receoso que, ao abrir a boca, algo que não deveria escapasse. Ele se aproximou de Jimin, enfiando as mãos nos bolsos da calça quando sentiu-as formigar.

— Ah, minha jovem, então esse é o seu acompanhante? — o vendedor perguntou, dando um risinho. — Ele é muito charmoso.

— De fato — Jimin respondeu ao dar uma rápida olhada no escritor.

Yoongi limpou a garganta e se concentrou nas jóias e acessórios vendidos ali. Havia muita coisa bonita, colares, anéis, pulseiras, braceletes e brincos de estilos diferentes. Provavelmente o vendedor era de outra cidade, ou até mesmo de outro reino.

— Que tal presentear a bela dama ao seu lado, meu jovem? Tenho certeza que ela apreciará sua afeição. Não é, querida?

— Ah, com certeza.

Jimin se virou, erguendo uma sobrancelha para Yoongi e tentou conter um sorriso, falhando completamente. Ela estava ainda mais linda daquele jeito, as bochechas levemente coradas pela caminhada e os olhos pequenos pelo grande sorriso em seus lábios.

Porra, Jimin consegue ficar mais bonita a cada segundo mais. Isso é possível?

Yoongi balançou a cabeça, voltando o olhar para as jóias. A maioria parecia pesada, luxuosa demais, nada que combinasse com a fada. Mas, quase escondida entre outros colares, uma corrente fina de prata com um pingente simples.

Uma libélula.

— Eu quero esse.

O vendedor franziu a testa, provavelmente não muito satisfeito pela escolha simples, mas entregou o colar sem demora. Yoongi tomou algum tempo apreciando o pingente, os detalhes nas asas, a textura do metal em suas mãos e, quando se sentiu satisfeito, ergueu o presente para Jimin.

— Posso colocar em você?

A fada o olhou intensamente antes de se virar e tirar a trança do caminho, dando acesso ao próprio pescoço para ele. Yoongi engoliu em seco antes de dar mais um passo, praticamente colando seu corpo ao da fada. Cuidadosamente ele pôs o colar em Jimin, se demorando um pouco mais enquanto arrumava o fecho do acessório, a ponta dos dedos raspando na nuca dela.

Ele sorriu ao ver os pelinhos de Jimin se arrepiarem, mas ainda deu um passo para trás, contendo o impulso de tocá-la mais. A fada se voltou para ele segundos depois, acariciando o pingente sobre seu peito.

— É lindo. Obrigada.

— Parece que foi feito para você.

— Está tentando me seduzir, Yoongi?

— Estou conseguindo?

Jimin se inclinou, ficando tão próxima quanto estavam instantes antes e Yoongi notou que um cheiro quase afrodisíaco de flores e ervas vinha dela. Caralho, aquilo era divino.

— Vai ter que se esforçar um pouco mais — ela disse, inclinando levemente a cabeça para olhar nos olhos do escritor. — Mas está no caminho certo.

Antes que pudesse responder, Yoongi sentiu os lábios de Jimin encostarem na sua bochecha e foi naquele momento que ele sentiu a própria sanidade desaparecer. A pressão em sua pele foi tão suave que ele quase pensou que toda a situação havia sido parte da sua imaginação, mas o perfume vindo de Jimin e o hálito dela contra seu rosto provaram que tudo foi real.

[ ⁠✿✿✿ ]

Quando eles chegaram à rua principal, Yoongi se deparou com algo que havia esquecido completamente: o desfile das flores. Era um momento que chegava a ser o ponto mais importante de todo o festival.

Os mais diversos e exóticos tipos de flores eram organizados em arranjos enormes que passeavam por toda a cidade, seguidos por uma multidão de pessoas curiosas para ver a atração principal. Naquele ano, as flores não estavam somente em buquês e arranjos, mas nos cabelos, vestidos e até nos chapéus das mulheres que desfilavam.

Jimin parecia encantado com a visão, e soltou um guincho mal contido.

— Uau! Que lindo... — Ela segurou o braço de Yoongi, animada.

— Eu me esqueci disso completamente.

— Yoongi, há tantas flores! E algumas que eu nunca vi antes.

— Muitas delas são de reinos e países estrangeiros, talvez por isso nunca as tenha visto antes — ele explicou, sorrindo.

— Você já esteve nesses lugares? Eles falavam línguas diferentes?

— Sim, alguns. Fui convidado algumas vezes para bailes ou eventos beneficentes, onde eu lia para pessoas nobres.

— Você sabe falar outras línguas?

— Não muitas. Duas ou três.

— E o que acontecia quando você não sabia o idioma? Alguém lia por você?

— Não, eu lia na minha língua nativa.

— Isso não faz sentido.

Yoongi riu.

— A maioria dos nobres falam o nosso idioma. Além disso, acho que a leitura em si não era o objetivo do convite. Hyunki-hyung me disse que tem haver com os sentimentos que expresso enquanto leio, não exatamente o que estou falando.

— Humanos são confusos.

— Preciso concordar com você.

Os dois permaneceram ali, observando até que o desfile fosse para outra parte da cidade. Em algum momento, Jimin havia ganhado flores — que agora estavam presas em seu cabelo — de uma mulher, estrangeira, pelos traços físicos. Yoongi riu quando a mulher ofereceu as plantas, passando os olhos descaradamente pelo corpo da fada antes de se juntar ao grupo que estava. Ele não a julgava, Jimin era uma pessoa extremamente atraente, não importava qual versão.

Enquanto caminhavam, Jimin perguntando sobre as coisas que não conhecia e Yoongi respondendo pacientemente, uma chuva forte desabou sobre eles. A julgar pelas nuvens do céu, aquilo era passageiro. A primeira chuva da estação.

E isso fez o escritor perceber que eles estavam caminhando há horas, o entardecer chegaria logo, logo.

— Estive tão distraída que nem percebi que o clima estava prestes a mudar — Jimin disse, rindo baixo. Ela passou a mão sobre os braços, enxugando a água em sua pele. — Mas não deve demorar muito para a chuva passar.

— Consegue sentir essas mudanças?

— Sim, mas não precisamente. Depende muito da intensidade do que vem por aí — a fada se encostou na parede do beco, juntando as mãos em frente ao corpo. — Teria notado mais rápido se fosse uma tempestade intensa, por exemplo. A energia que se acumula no ar é quase selvagem.

Cercado com o barulho das gordas gotas de chuva contra o telhado que cobria o beco que eles estavam abrigados, Yoongi se viu imerso na presença de Jimin, seus olhos não deixaram ela por um segundo sequer. Ela estava olhando para a rua, um sorriso suave decorando os lábios cheios e rosados — aqueles que atormentavam a mente de Yoongi cada dia mais —, os cabelos dourados, agora adornados com flores e contas coloridas, contornavam o rosto dela, um pouco bagunçados por causa da agitação e molhados nas pontas pela chuva. O colar, presente de Yoongi, repousava sobre a pele dela, subindo e descendo de acordo com a sua respiração.

Jimin tinha uma beleza digna de uma obra de arte. Em qualquer uma delas, para ser honesto. Ela podia se tornar uma música, com uma melodia capaz de dobrar até o mais duro homem em seus joelhos. Podia ser uma escultura, tão bem moldada que seu criado se veria apaixonado pelo que fez, definhando em frente a ela. Também seria um livro, um do qual Yoongi nunca seria capaz de esquecer, aquele em que ele se demoraria lendo cada palavra, cada letra.

Ele queria poder admirá-la por mais tempo, de outras formas, com a ponta de seus dedos.

Ele queria tanto...

— Se você vai continuar me olhando assim, você deveria apenas fazer alguma coisa.

Yoongi piscou algumas vezes antes de perceber que foi pego no flagra. Jimin o olhava intensamente, e em algum momento ela parecia ter se aproximado do escritor, deixando muito pouco espaço entre eles. O cheiro intenso que vinha da fada inundou os sentidos de Yoongi, e ele pensou que suas pernas cederiam, mas, por um milagre, continuou de pé.

A fada deu mais um passo, entrando no espaço do escritor, seu hálito batendo contra a bochecha dele. A respiração de Yoongi falhou, ele não sabia o que esperar.

— É tão fácil assim te deixar sem palavras?

Jimin estava sorrindo — um sorriso que entregava que tudo aquilo não passava de uma provocação —, dando um passo para trás.

— É fácil quando é você.

As palavras escaparam dele, mas não é como se ele pudesse negar. Poucas pessoas tinham aquele efeito sobre Yoongi, deixá-lo sem palavras, mexer tanto com a mente e corpo dele. Era algo que a fada conseguia sem nem mesmo tentar.

Jimin balançou a cabeça, rindo baixinho. O barulho das gotas caindo havia diminuído, as pessoas voltavam a andar nas ruas e Yoongi desviou o olhar, respirando fundo. As provocações entre eles — mais por parte de Jimin do que Yoongi — pareciam cada vez mais frequentes e com uma intensidade que o escritor não sabia lidar.

O silêncio se instalou entre eles e Yoongi quis desesperadamente fazer ou falar algo. Ele não queria estragar o momento, mais uma vez, e sua chance apareceu quando notou uma carruagem colorida algumas ruas abaixo.

— Jimin, você já viu o fogo dançar?

Em frente a uma das praças da cidade, três carroças coloridas estavam paradas formando uma meia-lua. Muitas pessoas se encontravam no local e Yoongi precisou se espremer com Jimin entre a multidão para conseguir um bom lugar. A fada parecia curiosa, observando os arredores e segurando a mão de Yoongi firmemente — o escritor não sabia em que momento eles ficaram daquele jeito, mas a sensação não o incomodava nem um pouco.

No centro da praça, tochas foram acesas e espalhadas, criando um ambiente misterioso já que o céu começava a escurecer. Alguns pyoryus caminhavam de um lado para o outro, carregando instrumentos e objetos que Yoongi não sabia bem para que serviam. Ele não conhecia muito sobre o povo nômade, havia poucos livros que falavam sobre eles e o senso comum era bastante limitado, dividido entre preconceitos e exotismos — nenhum pouco confiáveis.

— Yoongi, por que eles parecem diferentes dos humanos que costumo ver aqui? — Jimin perguntou, olhando para um rapaz que carregava um grande tambor. Ele usava apenas uma calça extremamente folgada, deixando as tatuagens impressionantes à mostra. — E como eles conseguiram aquelas marcas?

— Eles são pyoryus, Jimin. São nômades.

— Nômades?

— Significa que eles não têm uma casa fixa. Eles estão sempre se mudando, ficam por pouco tempo nos lugares.

— Hum... E sobre as marcas? Eles fazem isso neles mesmos?

— São tatuagens. É algo cultural, até onde eu sei — Yoongi respondeu, franzindo a testa, tentando lembrar mais sobre o assunto. — Dizem que eles usam agulhas para fazer isso.

Jimin assentiu, voltando a olhar para os pyoryus. Algumas pessoas apareceram, tomando um lugar mais ao canto, onde alguns instrumentos haviam sido deixados. Eles sentaram, exceto uma mulher de cabelos raspados. O rosto dela estava pintado com símbolos que cobriam seus olhos e linhas que guiavam até sua boca.

A pyoryu começou a cantar, uma melodia suave, acompanhada apenas por um instrumento de cordas que uma das pessoas atrás dela segurava. Yoongi não conseguia entender o que a canção falava, aquele definitivamente não era seu idioma, soava muito diferente, mas havia algo no jeito que as palavras eram pronunciadas que causavam um tremor de antecipação em seu peito.

Durante uma frase em particular, duas mulheres e um homem segurando bastões caminharam em direção ao centro do espaço. Eles usavam calças brancas extremamente folgadas e camisas sem mangas, onde a silhueta de um cervo havia sido bordada acima do peito deles com linha dourada. Seus rostos, diferente da mulher que cantava, possuíam apenas um símbolo pintado bem no meio de suas testas.

O trio se posicionou bem na frente da multidão. A música parou. Todos seguraram a respiração.

— Ninguém pode controlar o fogo. — Os olhos de Yoongi voltaram para a mulher que cantava anteriormente. Ela tinha um sotaque carregado, típico dos pyoryus. — Ele devora tudo em seu caminho, se assim decidir. Mas, também, ele é terno, permite nossa existência. E assim são os sentimentos.

Ao final da frase, os três pyoryus à frente da multidão acenderam as pontas de seus bastões. Yoongi ouviu algumas arfadas e gritinhos mal controlados ao seu redor, mas seus olhos não abandonavam o espetáculo por nada — nada era um exagero, já que ele também estava concentrado em observar a expressão de Jimin, que estava particularmente encantada.

A música voltou a soar pela praça, dessa vez, num ritmo diferente. Os corpos dos pyoryus cujas pontas dos bastões estavam em chamas reagiram à melodia, girando os objetos com uma fluidez que ainda impressionava Yoongi. Ele já havia presenciado várias performances como aquela, mas elas nunca falharam em deixá-lo sem palavras.

— Eles parecem estar lutando — Jimin disse baixinho, sem parecer direcionar o comentário para alguém específico.

E ela estava certa. Os movimentos, ainda que não fossem familiares ao escritor, pareciam muito com uma luta. Era mais ordenado, mais bonito e poético, mas havia a selvageria de um confronto nos giros e investidas dos bastões.

Yoongi notou, também, que os pyoryus não usavam nenhum tipo de calçado, seus pés marcados com um mesmo símbolo. Ele se perguntou se eles não se sentiam incomodados pela areia e pedras no chão.

Os movimentos mais afiados foram dando lugar a movimentos mais suaves, agora, os pyoryus não pareciam lutar, mas dançar com as chamas de seus bastões. O arfar maravilhado que Yoongi deixou escapar quando um dos pyoryus começou a girar o objeto entre o pescoço e o ombro, o fogo deixando rastros no ar, chamou a atenção de Jimin, que riu e apertou a mão do escritor. Ela parecia estar aproveitando, e era tudo o que Yoongi queria.

Mais pyoryus surgiram, todos vestidos com o mesmo traje que os outros e com objetos em chamas — pêndulos, correntes, bastões e até mesmo espadas — com os quais eles faziam todo tipo de coisa, arrancando suspiros surpresos da multidão. A fluidez com a qual os objetos corriam pelos corpos dos pyoryus era de tirar o fôlego, era como se os dispositivos tivessem vida própria.

Uma cortina de faíscas cobriu o grupo em um certo momento e entre ela, um único rapaz saiu. Ele tinha uma pele escura como ébano, olhos pequenos e afiados, íris carameladas — ao menos, era o que Yoongi achava já que o sol já estava se pondo e a pouca iluminação que tinha vinha dos objetos flamejantes — e, assim como os outros, o rapaz usava roupas brancas, decoradas com o mesmo bordado de cervo dourado acima do peito. O bastão que ele usava, no entanto, era maior, assim como a área consumida pelo fogo, sobrando menos espaço para que ele pudesse manusear sem se queimar.

— Yoongi — a voz de Jimin soou ofegante, e pela forma que ela apertou a mão do escritor, devia estar mesmo impressionada com atração. — Como eles fazem isso sem se queimar?

— Não faço ideia — ele respondeu, se aproximando da fada. — Ninguém entende muito bem.

Jimin parecia fascinada por toda a apresentação, era visível em seus olhos, no jeito que sons surpresos escapavam por seus lábios entreabertos.

Sob a penumbra, as íris verdes dos olhos da fada pareciam ganhar um brilho diferente e Yoongi sentia-se afogado na beleza de Jimin.

Ele queria tocá-la.

Tocá-la com seus dedos, com a palma de sua mão, com seus lábios.

Yoongi pigarreou e desviou o olhar, percebendo que caminho seus pensamentos estão o levando. Ele voltou seu foco para os pyoryus, onde uma nova pessoa parecia ter chegado, vestida com trajes escuros e detalhes violeta. Seu rosto estava coberto por uma máscara dourada, cravejada por cristais arroxeados, e Yoongi se perguntou se aquilo deveria representar um demônio, um espírito sombrio.

A pessoa mascarada e o rapaz de pele de ébano se envolveram numa dança em que eles dividiam o mesmo bastão, passando de um corpo para o outro. Yoongi não sabia bem como descrever, mas havia uma intensidade na forma como eles se olhavam, se tocavam e como as chamas os rodeavam, perto o suficiente para queimá-los, mas nunca de fato o fazendo.

Aquela não era uma simples performance de malabares com fogo, era a encenação sobre uma história que Yoongi nunca ouviu ou leu — ou talvez ele não a reconhecesse da forma que estava sendo contada —, mas que conseguia ser contada mesmo sem uma palavra sequer ser dita.

— Amor. — Jimin sussurrou. — Eles estão falando sobre amor.

Yoongi olhou para os dedos entrelaçados dos pyoryus, o bastão passeando sobre seus braços enquanto eles continuavam dançando, olhos nos olhos. Ele precisava concordar, qualquer que fosse aquela história, ela falava sobre amor.

E Yoongi se perguntou se um dia viveria um amor tão ardente quanto as chamas que os rodeavam.

[ ⁠✿✿✿ ]

Assim que o Sol se pôs, com apenas lanternas de papel e tochas iluminando as ruas, Yoongi achou que era hora de eles descansarem um pouco. Ele guiou Jimin até um pequeno banco e comprou algo para ela comer, sorrindo ao ver os olhos da fada se arregalando ao provar chocolate pela primeira vez.

Embora as noites de primavera fossem normalmente frias, Yoongi não sentia frio — nem Jimin, que sequer estremeceu com a brisa fresca. Eles continuaram conversando de vez em quando, principalmente a fada fazendo perguntas ou comentários sobre algo que ela notou que os humanos estavam fazendo.

Foi bom estar lado a lado com ela. Yoongi gostava da companhia de Jimin.

Depois de um tempo, Yoongi viu algumas pessoas caminhando rapidamente em direção ao lado oeste da cidade, e logo em seguida, gritos de alegria e música chegaram aos seus ouvidos. Ele, então, lembrou que provavelmente estavam perto da grande fogueira.

— Yoongi — o escritor voltou sua atenção para a fada, aparentemente curiosa. — Isso é música?

— Ah, sim. Hum... Tem uma fogueira por aqui, e as pessoas vão lá para dançar.

— Sério? Eu adoraria ver isso! — Jimin se levantou energicamente. — Vamos!

Yoongi hesitou, mas não conseguia negar nada à fada. A ideia de mostrar o mundo humano para Jimin foi ideia dele, afinal.

— Vamos.

Com os braços entrelaçados, Yoongi levou Jimin para onde a maioria das pessoas da cidade estava reunida. Ao redor da enorme fogueira construída no meio da praça, alguns casais dançavam distraídos, rodeados pela música animada. A atmosfera era calorosa e acolhedora, Yoongi poderia até dizer familiar, mas estar cercado por tantas pessoas era um pouco sufocante.

Ele não disse nada, obviamente. Não era uma situação horrível, nada que ele não pudesse lidar. Ele já passou por situações piores — como um escritor um tanto bem-sucedido, ele era frequentemente convidado para bailes e festas, e isso significava não apenas lidar com muitas pessoas, mas lidar com muitos nobres ricos e estúpidos.

— Isso é incrível...

— Fico feliz que você esteja gostando.

— Eles estão dançando a mesma coisa?

— Sim.

— Isso é engraçado. Esta não é uma música de ritual, certo? Por que dançar a mesma coisa?

— Esta é uma boa pergunta. É uma pena que eu não tenha a resposta.

— Você não sabe muito por que fazem as coisas, não é?

— E você sabe?

— Hum... Posso dizer que sim.

— Sério?

Jimin riu e estava prestes a responder quando uma mulher alta veio até eles. Ela era muito bonita com sua pele de ébano, seus cabelos escuros trançados, olhos brilhantes e um sorriso encantador. Yoongi levantou uma sobrancelha quando notou o quão interessada ela estava olhando para Jimin.

— Com licença, senhorita — a mulher disse, chamando a atenção da fada —, você poderia me dar a honra de dançar com você?

Foi a vez de Jimin erguer uma sobrancelha, dessa vez, olhando para Yoongi. Ela estava sorrindo, mas parecia surpresa. Yoongi não estava, Jimin era linda pra caralho, qualquer um com olhos gostaria de dançar com ela.

— Se a sua companhia não se importar, é claro. — A mulher acrescentou, colocando Yoongi no centro das atenções.

— Eu não sou um grande dançarino, de qualquer maneira.

Isso fez Jimin rir antes de aceitar a mão da mulher. A fada olhou para Yoongi mais uma vez antes de se levantar.

— Eu voltarei.

— Eu sei.

Eu vou estar observando você.

Jimin e a mulher tiveram que esperar um pouco para uma nova dança começar, e enquanto esperavam, elas continuaram conversando. Yoongi achava engraçado como Jimin era bom com as pessoas, ela conseguia se misturar facilmente até entre os humanos. Ela simplesmente tinha essa... aura que continua atraindo as pessoas para ela, tornando tão prazeroso estar perto dela.

Yoongi não fazia ideia de como funcionava, tinha certeza que não era coisa de fada. Talvez fosse apenas o efeito de Jimin sobre outras pessoas, humanos ou outras criaturas divinas.

Quando a dança começou, Yoongi não conseguia tirar os olhos de Jimin. Ela não conhecia os passos, então era um pouco mais lenta, mas a mulher com ela não parecia se importar e mantinha um sorriso no rosto o tempo todo. Jimin também parecia estar gostando, o sorriso nunca deixava seus lábios e olhos.

Embora a música tenha um começo lento, ela logo se tornou mais rápida e intensa. Nesse ponto, Jimin parecia pegar o jeito, já que eram passos repetitivos — ela definitivamente era uma ótima observadora, aprendia rápido também — e a dança veio naturalmente para ela. Ela fechou os olhos em alguma parte entre a música, sentindo-a, ficando completamente imersa nela; Yoongi podia perceber isso pela maneira como suas asas tremiam, pela facilidade com que ela enroscava o braço na mulher, pela fluidez de suas curvas.

Yoongi não sabia se eram as palmas, o bater dos sapatos no chão, a batida intensa dos tambores ou o quão divina Jimin parecia apenas sentindo a música e a dança, que fez seu coração bater um pouco mais rápido do que o normal.

Quando a música terminou, Yoongi observou como as mãos da mulher — cujo nome ele não sabia — estavam nas costas e na cintura de Jimin. Elas estavam próximas, Jimin ria abertamente e a luz das chamas tornava aquele momento muito mais bonito, digno de virar uma pintura.

— Foi tão divertido! — Jimin disse enquanto voltava para Yoongi. Sua pele brilhava com gotas de suor e milagrosamente todas as flores ainda estavam em seu cabelo, como se ela não estivesse dançando há pouco tempo.

Yoongi olhou para a mulher que havia dançado com Jimin, esperando vê-la vindo na direção deles, mas ela estava ocupada conversando com outras mulheres.

— Eu pensei que ela faria companhia para você depois da dança.

— Oh, ela queria, mas eu recusei.

— Por quê? — Yoongi franziu a testa.

— Estou mais interessada em dançar com você.

— Comigo? Oh, não, acredite em mim, não sou um bom dançarino.

— Vou ter que ver com meus próprios olhos.

— Jimin, não.

Era tarde demais. Jimin já havia cruzado os braços e estava levando Yoongi para mais perto da fogueira, onde mais uma dança iria começar. O escritor suspirou, vendo a multidão que estava ao seu redor.

Não é realmente o que ele pensava de confortável.

— Você parece miserável. A dança é tão ruim assim?

— Eu não odeio isso. Eu simplesmente não sou bom nisso.

— Vamos ver então.

Jimin se aproximou dele, colocando as mãos sobre os ombros de Yoongi. Devido à proximidade inesperada, ele congelou. Yoongi não estava acostumado a ficar tão perto da fada; desde que eles se conheceram, ele podia contar na mão quantas vezes eles se aproximaram o suficiente para deixá-lo tenso daquele jeito.

Havia um cheiro forte de flores e ervas vindo de Jimin, algo que deixou a mente de Yoongi nublada. Ele não tinha certeza se havia sentido aquele cheiro antes, mas estava muito forte agora — talvez por causa da proximidade, ele não sabia.

— Então? Você está com tanto medo de me tocar assim, Yoongi? — A fada estava o provocando, sem dúvidas. Por seu sorriso, sua sobrancelha erguida e até mesmo pela maneira como suas unhas curtas arranhavam levemente sua nuca, ele sabia que era uma provocação.

Yoongi não ia deixar Jimin vencer desta vez. Se a fada queria que ele reagisse, então ele o faria.

Sem hesitar, o escritor passou o braço em volta da cintura dela, aproximando-os ainda mais. O sorriso de Jimin se alargou com o gesto.

— Ótimo, você não está com medo, então.

— Definitivamente não.

Logo eles estavam dançando e Yoongi pensou que poderia morrer. Porra, ele estava segurando Jimin em seus braços, dançando tão perto que seus narizes poderiam se tocar facilmente. A música não era lenta, mas não tão rápida quanto a anterior, e Yoongi tinha certeza que eles não estavam fazendo direito, mas quem se importa? Em algum momento, ele se sentiu mais relaxado e, mesmo quando errava um passo, ria.

Ele estava se divertindo.

— Você é boa nisso, Jimin. Se eu não a conhecesse melhor, diria que você é humana.

— E eu diria que você nunca esteve entre humanos antes.

Quando a música parou, Yoongi estava ofegante, descansando a cabeça no ombro de Jimin.

— Você já está cansado?

— Cale-se.

Jimin riu, batendo em suas costas.

— Vamos fazer uma pausa, fracote.

— Obrigado.

A fada os guiou para um lugar longe o suficiente da multidão e a fogueira abafou os sons, mas perto o suficiente eles ainda podiam vê-lo. Como não havia banco por perto, sentaram-se na mureta dos jardins de uma casa qualquer.

Yoongi tirou a jaqueta, sentindo-se um pouco abafado e quente, e foi recebido pela brisa fresca da primavera.

— Você não é um dançarino ruim como você disse que era.

— Claro. — Yoongi zombou.

— Estou falando sério! Você só é muito... rígido.

— Sua bondade é admirável.

— Seja mais otimista! Você não pisou em mim.

— Milagres são realmente possíveis. — Ambos riram.

Yoongi olhou para Jimin e não se sentiu muito surpreso por ela estar olhando para ele. Sua franja dourada caía sobre suas íris esmeraldas e Yoongi não pôde deixar de colocá-la atrás das orelhas de Jimin, para que pudesse ver mais claramente aquelas joias que ela carregava em seus olhos.

— Você tem os olhos mais lindos que eu já vi.

— Você acha?

— Eu sei que sim. Tudo em você é...

— O quê? Tentador?

— Não tenho a menor dúvida sobre isso.

— Então por que você ainda não fez nada, Yoongi? — Sua voz não passava de um sussurro. Mesmo assim, ele podia ouvir muito bem. — Embora eu seja muito paciente, é muito óbvio como você está ansioso para me tocar.

Yoongi sabia que Jimin não era estúpida, que ele não estava fazendo um bom trabalho em esconder esses impulsos — ele realmente não tentou, para ser honesto — mas tê-lo esfregado em seu rosto não era exatamente o que ele esperava que acontecesse. Mesmo assim, Yoongi não se esquivou.

A mão dele, a mesma que ele usou para afastar a franja da fada, deslizou para as bochechas dela, sentindo a textura macia da pele. Parecia, por um momento, difícil de acreditar que Yoongi estava realmente tocando Jimin.

Eles não compartilharam toques íntimos antes, dificilmente ficavam tão próximos um do outro como naquele momento.

O forte cheiro de ervas o atingiu novamente e Yoongi sentiu-se tonto, deixando seu desejo correr livremente enquanto silenciava seus pensamentos. Tudo o que ele podia sentir era Jimin.

Eles estavam tão perto agora. A respiração quente de Jimin acariciando sua pele gentilmente, a mão de Yoongi segurando seu rosto, arrastando para sua nuca.

Yoongi fechou quando sentiu os lábios de Jimin roçando os dele, tão docemente...

Ao abrir os lábios para aprofundar o toque, Yoongi sentiu algo formigando sob sua pele. Era uma sensação estranha, parecida com a que ele sentia perto da energia divina, mas diferente. Yoongi abriu os olhos e percebeu que não era o único que sentia isso.

Os olhos da fada também estavam bem abertos e carregavam um sentimento tão intenso. Mas não algo que Yoongi já tivesse visto. Era uma sensação ardente e destrutiva.

— Jimin?

Mas ela não estava olhando para ele. Seus olhos estavam fixos em algum lugar atrás de Yoongi.

Havia um grupo de pessoas não muito longe de onde eles estavam. Vestidos com roupas leves, segurando cestas cheias de flores e outras coisas que Yoongi não conseguia identificar, aquelas pessoas não pareciam diferentes das outras pessoas da cidade, mas...

Uma energia estranha vinha deles, algo forte, com uma pulsação tão intensa quanto a energia divina, mas seu ritmo era diferente. Ondulantes, instáveis, o oposto das fadas.

Bruxas. Foi a primeira coisa que veio à mente de Yoongi.

Ele se virou para Jimin, querendo perguntar se ele estava certo e como ele sabia disso, mas o lugar ao lado dele estava vazio, sem nenhuma pista de que alguém esteve lá antes.

Jimin se foi.



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