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História Ação, Reação e Consequência... - Peleja


Escrita por: ThammiRB

Notas do Autor


Oie meus bolinhos amados
(Faz e egípcia como se não tivesse atrasa dez dias para a atualização)

Então... Me perdoem pela demora em postar.
Foi meu trabalho que fez isso, eu trabalho andando e nos últimos tempos tô percorrendo uma distancia enorme e quando chego em casa to mortinha da silva. Sorry XX.XX

Espero que gostem desse capítulo eu gostei muito de escrever ele.

Capítulo 8 - Peleja


Fanfic / Fanfiction Ação, Reação e Consequência... - Peleja

Infelizmente, as pessoas não sabem dar valor ao que é verdadeiro e sincero.

Mallu Moraes

Peleja

Era inacreditável como a vida gostava de brincar com o destino e inaceitável também.

Sasuke mastigava a própria bochecha, uma mania horrível que causava arrepios de horror em Izuna e que acreditava ter superado na adolescência, mas diante da situação que vivia naquele momento precisava de um escape para digerir o que viria.

Seus pais biológicos estavam na sua frente depois de praticamente doze anos de quase nenhum contado. Não queria aquele encontro, não queria mesmo. Sempre soube que era um aborrecimento que não valeria a pena.

Seu visto para ficar nos Estados Unidos foi renovado três vezes e quando estava prestes a ser prorrogado pela quarta vez, Tobirama entrou em contato com eles e exigiu sua guarda, o Senju não tinha usado meias palavras.

“Ou vocês permitem que nós adotemos ele ou nós vamos brigar feio, eu não vou abrir mão do Sasuke nunca.”

Ainda conseguia lembrar com exatidão cientifica a felicidade que o percorreu ao ouvir aquela declaração. Nunca tinha se sentindo parte de uma família de verdade e o tempo com eles foi bom, mas não podia deixar de pensar que fosse um intruso na vida do quarteto, contudo graças a Tobirama aquele medo caiu por terra. Izuna compartilhava dessa ideologia junto de Madara e Hashirama. Honestamente? Não ficou nem um pouco surpreso pelos pais sequer relutarem em aceitar sua adoção. Não levou muito tempo para toda a burocracia ser resolvida, em seguida eles se mudaram para São Francisco, pois Madara se associou a uma gravadora local que estava expandindo rapidamente e todo contato com o Japão se perdeu, inclusive com o irmão mais velho, antes ele ainda lhe enviava cartas, depois nem isso.

Foi melhor assim.

Conseguiu se convencer com o passar dos anos. Carregava consigo uma magoa e culpa por ter dependido tanto de Itachi quando mais novo, em sua cabeça, isento da sua presença as coisas ficariam mais fáceis para o mais velho e por isso não fez questão nenhuma ne manter o laço entre eles, mesmo que Izuna insistisse para que o fizesse. Afinal, Itachi sempre buscava noticias suas através de redes sociais, foi ele quem correu do irmão em todas as oportunidades.

E por falar em Itachi, podia sentir a raiva dele saindo em ondas da cozinha enquanto fazia um chá. Aquele costume ocidental era um porre, preferia um forte e amargo café, se bem que considerando a situação atual, uma bebida alcoólica seria muito mais bem-vinda. Ou não. Duvidava muito que algo ficasse parado no seu estômago que estava embrulhado com a visão.

Mikoto e Fugaku Uchiha bem na sua frente, na sua casa, na sua sala, sentados no seu sofá, olhando-o com um sentimento que não iria nomear nem que sua vida dependesse disso. Por sorte eles também parecia perdidos em como iniciar aquele dialogo. Bom, precisava de mais algum tempo para se encontrar. Sua surpresa e choque se transformaram rapidamente em frieza e indignação e daquela vez não tinha Boruto para atenuar aquilo. Só anos e anos de rancor latente em estado crescente de ebulição.

Eles não tinham mudado muito e ao mesmo tempo tinham.

Em aparência não pareciam ter mais do que quarenta e poucos anos, contudo pelos seus cálculos eles já beiravam aos cinquenta. Algumas alterações se faziam visíveis. Fugaku parecia estar bem menos severo, conservava as linhas de austeridade do rosto que sempre deixavam claro que ele era um homem rígido, porém seus olhos agora demonstravam estar mais suaves e cálidos. Mikoto não era mais aquela sombra melancólica que apenas existia para girar em torno do marido com obediência, sem nenhuma expectativa para si mesma. Visivelmente não havia sinais de depressão nela, ela parecia firme e segura, infinitamente mais bonita do que se lembrava apesar dos anos. Reprimiu o sentimento quente que cresceu no peito com fúria velada.

Itachi trouxe o bule e as xícaras e as dispôs na mesa, mas ninguém moveu um musculo para tocar ou falar. Cansado e irritado, Sasuke suspirou ruidosamente, olhou para o relógio de pulso, estava perto da hora de seu filho chegar e não o queria no meio daquela atmosfera.

- Nós vamos continuar em silencio por muito tempo?

- Desculpe – Mikoto sorriu docentemente. – Eu me perdi te olhando... você ficou muito bonito.

Sasuke a fitou neutro.

- Acho que seu irmão não contou para você que nós nos encontramos a poucos dias – tanto ele quanto o ex-militar olharam para Itachi que permanecia gelado, claramente insatisfeito.

Bom, pensou Sasuke, era ótimo que ele não fosse o único infeliz por ali.

- Ele comentou que almoçaria com vocês, mas não deu os detalhes e eu também não perguntei – alfinetou tranquilo.

Sentiu uma satisfação diabólica em ver os três se escolherem de leve. A doçura no olhar de Mikoto oscilou de leve para tristeza e ele não iria se sentir culpado por isso. Não ia.

- Deve estar se perguntando o que eu e o seu pai estamos fazendo aqui.

- Considerando que nós não nos vimos ou não nos falamos por doze anos, não posso negar que estou intrigado com essa inesperada visita.

Itachi apertou os olhos sentindo a cabeça latejar, o sarcasmo no tom de voz de Sasuke era tão abundante que daria para se afogar nele. Por isso queria deixar aquela reunião de família mais para frente. Queria ter tido a oportunidade de conversar com o mais novo primeiro, antes deles entrarem no tópico “pais”. Por que aqueles dois tinham sido tão impulsivos?

- Estamos aqui para esclarecer algumas coisas para você sobre o passado – Fugaku não se deixou abalar pela agressão fria. Sabia que ela viria. Sabia que eles a mereciam, ele mais do que Mikoto. – Tem algumas coisas que você não sabe sobre nossa família, coisas que não justificam a forma como agimos com você e com o seu irmão, mas que eu espero que te ajudem a entender um pouco o nosso lado.

Tanto Itachi quanto Sasuke arquearam a sobrancelha direita de modo simultâneo, nunca pareceram tão irmãos para seus pais.

- Estamos ouvindo – o mais velho dos irmãos procurou ficar calmo, já bastava Sasuke aborrecido.

- Eu fui compelido a ser militar desde muito novo pelo avô de vocês, ele era um homem muito rígido, meus pais se separam quando eu tinha cinco anos, Madara devia estar com uns oito e Izuna era recém-nascido. Minha mãe conseguiu fugir para os Estamos Unidos com meus irmãos, mas me deixou para trás e por muito tempo eu acreditei que ela tivesse me abandonado – uma emoção enorme brilhou nos olhos do genitor. – Só anos depois que eu descobri que foi Tajima que a proibiu de me ver, ela abriu oito processos de guarda ao longo dos anos, mas do outro lado do mundo e com ele sendo um militar tão influente eles acabaram não dando em nada. Isso me tornou uma pessoa fria e um tanto cruel, especialmente com você – encarou o filho caçula. – Eu fui criado do jeito que criei vocês, queria que fossem fortes, mas fiz tudo do jeito errado, principalmente com você Sasuke e eu sinto muito por isso.

O moreno se remexeu no lugar que estava incomodado e não respondeu, incapaz de manter os olhos no rosto do pai. Em partes conhecia aquela história através do que Izuna e Madara lhe contaram, mas eles mesmos não sabiam de tudo o que tinha acontecido por baixo dos panos. Sua avó preferiu guardar segredo sobre aquela guerra judicial intercontinental dos filhos, mas não conseguia esconder o sofrimento que sentia por ter perdido Fugaku. Ela morreu sem vê-lo de novo.

-... Com o seu irmão eu fui duro também e injusto, impondo minhas vontades sobre ele, hoje eu me orgulho muito de você Itachi – sorriu pequeno para o primogênito. – Você foi capaz de fazer o que eu não fui, seguir os próprios sonhos.

O editor engoliu a seco surpreso com o elogio, mal sabiam eles que ele teve muita ajuda para ser forte de ir contra as vontades do pai. Sempre soube que a história de seus avós não foi bonita, mas também não esperava aquele nível de crueldade e aquela também era a primeira vez que ouvia algo do tipo em muito tempo, sua relação com Fugaku tinha ficado seriamente abalada pela escolha de sua profissão.

- Obrigado pai.

- Nosso casamento foi arranjado – apertou a mão de Mikoto que bebia os filhos. – Mas eu acabei me apaixonando pela mãe de vocês, mesmo não sabendo demostrar isso como ela merecia e isso a tornou infeliz por muitos anos.

Os rapazes olharam de canto para mãe que apesar do tema pesado parecia bastante tranquila.

- Eu também amei seu pai assim que o vi com aquela farda, lindo, tudo o que eu conseguia pensar era que o meu príncipe encantado tinha chego.

Os três homens Uchiha ficaram constrangidos pela sua escolha de palavras, Mikoto não conseguiu repreender o ar de riso. Tão estupidamente parecidos e tão distantes um dos outros. Pigarreou para disfarçar o sorriso.

- Mas meu conto de fadas durou pouco. O pai de vocês era distante e frio, reflexo da criação cruel que ele teve e eu também não conseguia me impor como deveria e deixei a personalidade dele me subjugar a ponto de quase me destruir, foi quando eu tomei coragem para deixa-lo, nós já tínhamos Itachi, mas aí...

- Aí você acidentalmente engravidou de mim – completou Sasuke de maneira ocre.

- Sim – concordou tristemente. – Com apenas um filho eu podia tomar conta de tudo e Itachi sempre foi autossuficiente, eu tinha certeza de que ficaríamos bem, mas com um bebê não tinha como.

- Então você ficou – Itachi concluiu temeroso do que aquela revelação poderia desencadear em Sasuke.

O mais novo prendeu os olhos no rosto da mãe que manteve a conexão com uma firmeza inesperada.

- Eu não tive escolha, eu fiquei tão triste por isso, tão angustiada e quando você nasceu desenvolvi depressão pós-parto que se perdurou por anos a fio, não cuidei de você como deveria – duas lágrimas escorreram pelo rosto elegante. – Eu fui uma porcaria de mãe e sei disso, mas meu amor, não foi de propósito, eu sempre te amei tanto, eu só não conseguia exteriorizar isso.

Sasuke estava em agonia, repreendia a vontade de levantar daquele sofá e sair correndo sem rumo. Não queria ouvir aquelas palavras, nem aquelas explicações. Subconscientemente Mikoto o responsabilizou por não ter conseguido escapar daquele casamento tóxico.

- Ótimo, chegamos a uma concessão então... Acho que isso encerra a nossa conversa.

- Sasuke – Mikoto lamentou em tom ferido.

O rapaz levantou do sofá e deu a volta no móvel, não estava mais aguentando ficar parado, espalmou as mãos no estofado e apertou o couro sintético.

- Izuna nunca escondeu que você teve depressão pós-parto e fez questão que eu tivesse acompanhamento por muito tempo para lidar melhor com isso... eu entendo – afirmou com falsa tranquilidade. – Não culpo você por nada, o que foi só foi, mas... – Busco uma forma suave de dizer aquilo e percebeu que não tinha. – Eu não tenho amor nenhum por vocês ou consideração. Meus pais são Tobirama Senju e Izuna Uchiha – afirmou claro e não abrindo ganchos para contra-argumentos. – Foram eles que me amaram, que me criaram, que me tornaram o homem que eu sou hoje.

Mikoto sucumbiu as lágrimas e Fugaku deixou a expressão cair em uma derrota inédita na vida. A culpa era inteiramente dele. Se não tivesse sido um marido tão ruim a ponto de deixar a própria mulher doente nada daquilo teria acontecido. E ainda tinha que ser grato aos irmãos por terem cuidado tão bem de Sasuke.

- Seus sentimentos... ou melhor a falta deles é completamente compreensível, mas agora que está aqui não existe uma forma de você aceitar a nossa aproximação? – Insistiu sentindo o coração encher de desespero pelo olhar inabalado do caçula.

- Fugaku, foram doze anos!, não foram doze dias  nem doze semanas, foram anos... e vocês nunca me procuraram antes. Por que agora? – O moreno mais novo estava começando a ficar exasperado.

- Concordamos em nos manter afastados de você porque chegamos a conclusão que te fazíamos mais mal do que bem – Mikoto secou o rosto sem se importar com a maquiagem borrada. – Você foi mais feliz com seus tios do que teria sido conosco.

E não era apenas isso.

Itachi voltou a apertar os olhos angustiado. A crise do casamento dos pais chegou ao ápice depois que Sasuke foi para o exterior. Sua mãe com a ajuda de Kushina Uzumaki finalmente tomou coragem e buscou a ajuda de um profissional. Com o tratamento junto de um psiquiatra ela conseguiu aos poucos deixar para trás aquele estado emocionalmente destruído. Foi uma mudança e tanto, uma nova mulher tinha nascido, uma forte e segura. Ela começou a enfrentar o marido de um jeito que nunca tinha se atrevido, mas mesmo assim, ainda teve algumas recaídas, por isso manteve Sasuke afastado.

Eles só não contavam que Tobirama Senju, que exercia a função de promotor no estado da Califórnia, exigisse a guarda do seu irmão. Em meio a uma possibilidade de separação, como eles podiam trazer o mais novo de volta, quando ele estava começando a desabrochar e ser feliz de verdade, de volta para aquele inferno sentimental? Dê mãos atadas tomaram a melhor decisão, ou a decisão que eles acharam ser a melhor no passado.

- Eles são os meus pais, meus tios, minha família e nada no mundo vai mudar isso – ditou sério. – Se não queriam me perder não deviam ter aberto mão de mim com tanta facilidade ou ter demorado tanto para vir me contar essas coisas.

- Nós queríamos ir até você, tentamos várias vezes, mas você não queria saber de nós – a matriarca defendeu-se.

Quantas ligações suas Sasuke tinha rejeitado através dos anos, quantas cartas não foram respondidas e ignoradas? Tinha perdido a conta.

- E você pode me culpar?! Vocês praticamente me jogaram fora! – Inconsciente seu olhar caiu para Itachi. – Eu não era só o estorvo na vida de vocês?

A testa do mais velho se franziu com a acusação velada nos olhos negros.

- O que você-

- E quanto ao Daisuke? – Fugaku indagou de repente, interrompendo a interrogação de Itachi e pegando Sasuke de surpresa. – Nós erramos muito com você, admitimos isso. Mas queremos uma oportunidade de conhecer nosso neto... Se você permitir isso, claro.

O caçula piscou algumas vezes, claramente sem resposta e considerou os pais biológicos por vários segundos.

- Como vocês sabem do meu – encarou Itachi com fúria latente. Ele não tinha feito isso. Ele não tinha o direito de meter seu garotinho nisso, nenhum deles tinha! – Saiam, por favor, saiam da minha casa agora.

Mikoto ameaçou protestar, porem foi impedida pelo marido. Como um bom ex combatente, Fugaku reconhecia quando era o momento de recuar. Eles já tinham sido muito imprudentes invadido o espaço do filho daquele jeito. Segurou o braço da esposa e ajudou ela se levantar.

- Estaremos esperando notícias de vocês três.

Sasuke virou de costas e não respondeu, tomava respirações profundas e não queria ver mais o rosto de nenhum deles.

Itachi guiou o casal até a porta mantendo o voto de silencio junto do irmão. Observou os pais irem sem dizerem mais nenhuma palavra. Estava se sentindo exausto. Quando tempo aquilo tinha durado? Provavelmente não mais do que meia hora, contudo do jeito que seu corpo estava dolorido parecia que estavam naquela sala a dias.

Voltou para cômodo com ansiedade subindo em cada gota do seu sangue e não se surpreendeu em ser recepcionado pelo rosto furioso de Sasuke.

- Como que direito – Sasuke mal conseguia formular as palavras. – Com que direito você disse a eles sobre o Daisuke?

- Me desculpe, eu não quis passar por cima de você, eles insistiram em te ver a todo custo e intui que não teria a melhor das reações – explicou calmo transparecendo seu arrependimento. – Achei que se soubessem dele... seriam mais cautelosos na hora de se aproximar de você.

Os olhos no mais novo estavam praticamente rubros tamanha era sua ira.

- Bem – grunhiu trêmulo. – Não adiantou muito, não foi?

Itachi deixou as pálpebras caírem e concordou com cabeça sem resposta. Sasuke estava exalando energia violenta, assumidamente querendo uma briga e ele... Não, não era uma briga que queria ter com o irmão mais novo. 

- Otouto...

- Não me chame assim – gritou raivoso. – Você nunca mais me chame assim – repetiu baixo, mas não menos intenso.

Aquilo irritou o mais velho. Não importava então? Ele teria ressentimento de um jeito ou de outro? Já que era assim, melhor entender de uma vez por todos o que infernos tinha acontecido á doze anos atrás e porque de repente passou a ser odiado e evitado como se tivesse comido algum crime hediondo ou estivesse contaminado com uma doença.

- Está bem, eu vou respeitar a sua vontade – contradisse com uma pitada de sarcasmo. – Mas saiba que independente de honoríficos nada nesse mundo muda o fato de que eu sou seu irmão mais velho, nada Sasuke.

- Nós não somos irmãos! Você não sabe nada sobre mim e eu não sei absolutamente nada sobre você! Eu não confio em você e a verdade que temos que encarar é que você também não confia em mim... – Riu anasalado. – Como poderíamos? Nós somos completos estranhos um para o outro e eu particularmente não tenho o menor interesse ou intenção de mudar isso.

O Uchiha de cabelos longos deu a volta no sofá para ficar de frente com o outro sem que nenhum objeto se entrepusesse entre eles. Sasuke não pretendia recuar? Ótimo, porque ele também não tinha esse intento.

- Então me explica que eu estou muito curioso... O que aconteceu á doze anos para você fugir de mim daquele jeito? O que houve Sasuke?

- Ah – o rosto parecido com o de Mikoto se enchei de escarnio. – Você não lembra, não é? Não se lembra de um final de semana muito especial em que você e seus malditos amigos estavam tão bêbados e drogados que mal conseguiam lembrar do próprio nome, quanto mais que tinha uma criança ali que pode ouvir cada palavra cruel e injusta dita ao seu respeito sem o mínimo de consideração.

O tom de voz começou furioso, porém a cada nova palavra entoada a magoa foi ganhando força e no final os olhos de Sasuke lacrimejaram, pegando Itachi de surpresa. Não era só raiva brilhando nas íris escuros, era uma dor profunda que em parte parecia ser sua responsabilidade.

Forçou sua memória em meio ao caos que estava sua mente, buscando a conexão da cena que foi descrita. A única que vez que esteve na presença dos amigos junto do irmão foi no seu aniversário de vinte e um anos, evento anterior a ida dele para o exterior, mas o que tinha acontecido de tão grave naquele dia?

- Sasuke...

- O meu erro foi sempre achar que eu precisava de você para ser feliz e quando eu finalmente me dei conta de que não precisava... tudo ficou melhor para mim – atacou indiferente do que isso faria ao mais velho. – Eu nunca mais vou ser um empecilho para você, não quero sua preocupação e não preciso mais da pena de Naruto, vocês dois deixaram bem claro como se sentiam naquele dia e confie em mim... não estou convivendo com vocês por almejar isso.

O tilintar de chaves fez ambos quebrarem a atmosfera irada e olharem ao mesmo tempo para o corredor. Naruto encarava os dois com os olhos arregalados. Boruto agarrava suas pernas e possuía uma expressão muito semelhante ao do pai, claramente sentindo a violência do ar e reagindo a ela imediatamente. Daisuke estava na cadeirinha que foi desacoplada do carro, seu rostinho sonolento estava se contorcendo de leve, indicando que naquele ritmo começaria a chorar em breve.

Para a mortificação dos Uchiha, eles não tinham ideia de a quando tempo o loiro estava ouvindo aquela briga. E só se deram conta de que não estavam mais sozinhos porque Naruto deixou as chaves cair no chão.

Os olhos azuis estavam esbugalhados e fitavam de um irmão ao outro com confusão. Limpou a garganta procurando algo que podia dizer, mas não conseguiu encontrar nenhuma sentença que aliviasse aquele clima pesado.

Foi Itachi que fez o primeiro movimento e rumou em direção ao Uzumaki, passando direto por ele e desaparecendo no corredor em questão de segundos. Sasuke se encolheu de leve ao ouvir a porta da frente ser batida com mais força que o necessário. Boruto correu em sua direção e o abraçou pelas pernas. 

 

- Sasuke... O que aconteceu? - Naruto se aproximou soltando Daisuke do cinto da cadeirinha e o pegando no colo com cuidado a fim de evitar que o bebê chorasse.  

 

- Eu voltei para esse maldito país! Foi isso que aconteceu - crocitou irritado indo para a varanda, claramente perturbado.

 

Naruto segurou o braço de Boruto que fez menção de seguir o moreno. Era melhor não, o Uchiha precisava de um tempo sozinho. Ele estava tão fora de si que mal tinha olhado para as crianças, o que por si só já era um mal sinal. Ninou Daisuke com cuidado recém descoberto, ele tinha sido alimentado e trocado enquanto estava na creche e dormiu como um anjinho no carro e a julgar pelo jeito que os olhinhos negros estavam cada vez menores isso não demoraria a acontecer de novo.

 

Ótimo, papai Sasuke não parecia estar muito bem.

Mas em tinha algo martelando na sua cabeça.

 

Como, onde e por qual razão Sasuke achava que tinha pena dele?

~*~

A sociedade precisava entender que no momento em que se escolhia ser professor de artes márcias, estaria abdicando de funções matemáticas como por exemplo, a contabilidade, exceto é claro quando se tinha a própria academia e como negócio próprio precisava ser cuidadoso com relação as finanças.

 

Kakashi conferia os números do livro sem um pingo de entusiasmo, contas a pagar e a receber não era sua tarefa favorita com certeza. Sua escola era o orgulho da sua vida, mas odiava a burocracia que envolvia administra-la. Precisava contratar um contador ou algo do tipo o mais depressa possível.

 

Por sorte tinha aquele dia livre, aqueles números já deviam ter sido fechados a dias, mas ele como sempre ficou postergando, postergando e agora tinha que correr contra o tempo caso contrário não encerraria aquilo naquela noite e não teria tempo para faze-lo durante o final de semana e nem na outra semana. Estava atolado de aulas.

 

Franziu a testa ao ouvir sons de passos ecoando pela cerâmica no primeiro andar e olhou para os monitores que mostravam o sistema interno de câmeras, franziu a testa não muito surpreso pelo visitante.

 

Encarou sua pilha de papéis e suspirou cansado, mais uma vez eles teriam que ser adiados, pelo menos agora seria por uma boa causa. Caminhou devagar pelos corredores até chegar a sala onde acontecia a aula e Kendô e encarou seu aluno veterano com preocupação.

 

- Se eu não estiver errado, você está com uma expressão de quem perdeu Itachi – provocou apenas para tirar o editor do estado inerte que ele parecia ter entrado enquanto pegava os equipamentos necessários.

 

O moreno apenas maneou a cabeça. De fato. Era como estava se sentindo, a porcaria de um perdedor. Tinha corrido do apartamento de Sasuke porque não estava aguentando ver aquela magoa toda no rosto do irmão. A confusão de não entender o porquê de ela existir também não estava ajudando muito. Seu plano inicial era ir para a casa de Kisame, o biólogo, apesar da aparência abrutalhada era um grande amigo e sempre o ouvia e ele também conhecia com detalhes seu drama pessoal envolvendo Sasuke.

 

Porém quando começou a dirigir seu subconsciente o trouxe para o bairro que morava quando era criança e só se deu conta disso quando viu a academia que frequentava com o irmão na infância. Era a melhor opção, até porque, para onde mais iria? Para a casa dos pais? Só se fosse para esganar os dois pela precipitação.

 

- Desculpe invadir assim.

 

- Sem problemas – Sentou no tatame e fez o rapaz fazer o mesmo. - O que te traz aqui? Finalmente brigou com o seu irmão?

 

O moreno ergueu o rosto surpreso causando risos no grisalho.

 

- Como você...

 

- Confesso que esperava que isso fosse acontecer nos primeiros dias, até que demorou – cruzou as penas plácido e encarou o outro. – Itachi, você pode até ser calmo, mas Sasuke é um vulcão em constante atividade, juro que pensei que ele fosse explodir na primeira semana de convivência, mas parece que ele criou um controle excepcional sobre as próprias emoções.

 

O Uchiha concordou de leve, nisso Kakashi estava certo. Quando criança o mais novo era uma coisinha tempestiva, emocional e cheio de vontades. Parte da culpa sua por sempre fazer as vontades dele. Claro que aquilo foi se atenuando com o tempo principalmente por causa do tratamento ártico recebido pelos pais. Sorriu melancólico, pensando bem, tinha sentindo falta das carinhas emburradas dele.

 

- Acho que foi a paternidade que fez isso com ele.

 

- É verdade, Daisuke é o mundo dele – cocou a ponta do nariz. – Quer falar sobre o que houve?

 

- Meus pais descobriram que ele está aqui no Japão e fizeram uma pequena visita – olhou de canto para o professor com acusação silenciosa.

 

O grisalho limpou a garganta sem graça, compreendendo o tom inciso do moreno. Sem querer acabou comentando com Fugaku sobre Sasuke e uma coisa tinha levado a outra, só não esperava que o casal fosse procurar o filho mais novo tão rápido.

 

- Acho que posso ter alguma culpa nisso – sorriu amarelo. – Me desculpe.

 

Itachi bufou e deixou a cabeça pender para trás apoiando-a na parede.

 

- Não importa agora, isso aconteceria mais cedo ou mais tarde de qualquer jeito. – Mordeu o interior da bochechas. – Kakashi...

 

- Uh?

 

- Sasuke – hesitou por um segundo. – Sasuke me acusou de algumas coisas que não entendi muito bem. Você por uma acaso lembra de como ele estava antes de ir para os Estados Unidos?

 

A pergunta fez a atmosfera ficar pesada, o Hatake considerou o rosto do Uchiha por algum tempo. Ele parecia realmente confuso e chateado.

 

- Eu lembro que ele foi com você e seus amigos para o campo comemorar seu aniversário e que quando voltaram seu irmão já estava sem voz, foi quando Izuna veio e o levou embora. – Considerou se devia ou não continuar aquela conversa. – Ele voltou muito mal naquela viagem e foi a partir dali que não quis mais saber de você... A expressão dele se transformava quando você era mencionado – esperava não estar sendo muito duro.

 

- É, ele mencionou essa viagem hoje – respondeu lutando para ignorar a dor que aquelas palavras causavam. – Eu juro por tudo que é mais sagrado que não tenho ideia do que aconteceu lá para deixa-lo com tanta raiva de mim – lamentou com um pouco de desespero. – Ele tem tanto rancor de mim e do Naruto também, tanto.

 

- Eu já tentei conversar com ele sobre isso, mas ele nunca dá muitas brechas – raciocinou rápido. – A Akatsuki inteira estava na viagem, não estava? Você ainda tem contato com eles, porque não pergunta? Talvez algum deles saiba de alguma coisa.

 

Interrogar os seus amigos sobre algo que aconteceu a tanto tempo? E quando eles eram tão jovens? Duvidava muito que eles fossem ajudar em algo.

Entrar para aquela republica louca foi a melhor coisa que podia ter acontecido na sua vida naquela época. Sair da opressão do pai não foi fácil e só tinha conseguido fazer por causa de uma pessoa que evitava pensar a todo custo. Ficar livre das regras e planos foi como descobrir que tinha um par de asas e finalmente alcançar voo. Seus planos originais incluíam se formar e tirar Sasuke daquela casa assim que possível, mas as coisas foram se atropelando. Fazer faculdade e trabalhar ao mesmo tempo sem nenhum tipo de ajuda familiar era mais difícil do que parecia. Evitava ir para casa porque sempre acabava brigando com Fugaku e exigindo que Mikoto reagissem, sendo que ela mesma precisava desesperadamente de uma ajuda que estava além das suas capacidades. E mesmo sufocando com tudo aquilo ainda tinha que dar suporte ao irmão que sempre ficava em meio ao tiro cruzado do caos que era sua família.

Pelo jeito todo seu esforço tinha ido pelo ralo.

Fugaku e Mikoto podiam ter vindo explicar aquelas coisas antes. Teria evitado muitos conflitos e ressentimento.

- Ele me odeia.

Kakashi piscou surpreso por aquela sentença repentina. Itachi não demonstrava seus sentimentos com facilidade, mas o pesar no rosto dele era tão visível que nem parecia o mesmo rapaz estoico que estava acostumado a lidar.

- Então você vai desistir?

- O que? – Girou o pescoço.

- Você vai desistir do seu irmão? – O moreno arqueou a sobrancelha não entendendo o objeto da questão. – Itachi quer minha opinião sincera? – Não esperou que ele respondesse. – Sasuke não odeia você, ele guarda magoa, com certeza, se tem uma coisa que seu irmão é bom é em guardar rancor, deve ser coisa de família. – Lembrava de como seu melhor amigo Obito, primo de terceiro ou quarto grau dos irmãos descobriu que a garota de que gostava estava afim de outro, foi como declarar guerra ao mundo. – Mas tenho certeza de que ele não te odeia. Izuna uma vez comentou comigo que ele teve pesadelos por muito tempo e era sempre por você que ele chamava quando estava com medo. Não se chama por alguém que odeia quando se tem medo, chama-se pela pessoa que mais amamos. Então... – Levantou em um pulo e estendeu a mão para o moreno que o encarava com atenção. – Vai desistir?


Notas Finais


Sem promessas de postagem dessa vez... Não é como se eu conseguisse manter elas mesmo 
Bjus


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