História Acaso - Quatro.

Jimin agora murmurava palavras desconexas depois de ter levado um soco.

Ele era inacreditavelmente chato e inconveniente.

"Eu só tava brincando seu idiota." falou enquanto se levantava e ia até a cozinha.

Revirei os olhos e o segui, pronto pra tirar uma dúvida que havia acabado de surgir.

"Por qual motivo você passou na frente do bar ontem? Você disse que estava cansado por conta das provas Jimin."

E ele parou de encher o copo de água enquanto me ouvia falar, virou me mostrando o seu melhor sorriso e deu de ombros.

"Estava indo para casa."

"Você mora do lado contrário do bar, não se esqueça que eu te conheço à anos." falei parando na sua frente, pronto pra arrancar a verdade a qualquer custo.

"T-Tudo bem Hoseok, você iria saber alguma hora."

Sentei de frente para Jimin enquanto o mesmo apertava os dedos em puro nervosismo. 

"Fala" disse sério, encarando o mesmo do sofá.

"Eu conheci uma pessoa. E eu gosto muito dela." 

"Isso é ótimo Jimin! Finalmente vai ter uma namorada pra levar nos seus jogos."  sorri, internamente comemorando o fato de não ter mais que acompanha-lo.

"Mas ele é um cara."

A sala ficou em um silêncio repentino, eu me via novamente na noite anterior, com Yoongi me falando sobre sua sexualidade e me deixando atormentado. Eu não conseguia abrir a boca e falar algo para o meu melhor amigo e não conseguia tirar um cara baixinho dos meus pensamentos.

Encarei Jimin e o mesmo mantinha as mãos juntas, olhava para baixo e tinha um semblante preocupado. Me lembrava exatamente à Yoongi.

"Você não precisa ter medo de mim ou de qualquer outra coisa, Park. Eu sempre vou te apoiar." falei ficando agachado na sua frente "Como é o nome dele?"

Jimin mordeu o canto dos lábios e baixinho, como um se fosse um enorme segredo, me confessou.

"Jeon Jeongguk"

*

Mais uma semana se iniciava e eu estava animado. Nessa semana eu teria mais tatuagens para fazer e de alguma forma eu me sentia muito bem nessa manhã.

Estacionei meu carro e pelo retrovisor percebi que Yoongi estava sentado em uma cadeirinha novamente, focado em mais algum joguinho naquele video-game engraçado dele.
Passei, encarando o mesmo e percebi que ele evitava levantar o olhar e achei estranho. 

"Yoongi?" chamei.

"Sim Hoseok?" falou, sem sequer tirar os olhos do aparelho, dessa vez lilás.

Resmunguei algo sobre ter educação e olhar para a pessoa quando resolver responde-la e quando me aproximei mais, tomei um susto.

Yoongi tinha o olho direito totalmente roxo, alguns arranhões na bochecha e próximo a boca.

"O que aconteceu? Quem fez isso com você?" comecei, desesperado.

"Não é nada, não precisa se preocupar." Yoongi dizia fazendo um sinal de indiferença com as mãos.

"Yoongi, quem fez isso com você?" ignorei tudo o que ele disse, eu tentava controlar a minha voz para não gritar.

Ele apenas me encarou e voltou a se concentrar em seu joguinho. Bufei enquanto tentava inutilmente me acalmar.

Entrei no estúdio com um sentimento de ódio crescendo no meu corpo, e eu não conseguia entender por qual razão eu fiquei dessa forma. Yoongi não era nada pra mim, nada mais que um vizinho, nada mais que um carinha que trabalha na floricultura do lado. Yoongi era só mais um cara que eu conheci e eu não devia me importar tanto.

Mas era Yoongi. Era o menino baixinho que aparentava ser um adolescente mas na verdade, era um hyung. Era Yoongi. O menino que sempre usava roupas em cores pastéis, que deixam ele mais lindo ainda. Era Yoongi. Que tinha uns video-games estranhos e coloridinhos demais, como de uma criança. Eu me importava porque era o Yoongi.

Passei a mão pelo meu cabelo com raiva, enquanto eu puxava alguns fios. Como alguém poderia ter batido no Yoongi? 

Então comecei a pensar em todas as possibilidades, pensei em assalto, em briga com alguem em alguma boate, se ele mesmo não havia se machucado, ou se talvez ele tivesse alguma dívida e não tinha como pagar e então eu me lembrei do dia anterior, lembrei de quando seu pai apareceu gritando, nervoso, e automaticamente lembrei do que ele havia me falado no bar.

O cara tinha surtado por descobrir que Yoongi era gay, mandou o mesmo trancar a faculdade mas ele nunca bateria nele, ele era o filho dele. Ele não chegaria a fazer isso, não é? Chutei as cadeiras na minha frente buscando descontar a minha raiva. Ele chegaria. Chegou.

Peguei a minha chave e fechei o estúdio, encarei Yoongi na mesma posição, mas agora o mesmo me encarava. Sem falar qualquer coisa, puxei o mesmo e o enfiei dentro do meu carro, ele me fazia inúmeras perguntas e eu ainda não conseguia abrir a boca pra falar algo que não fosse relacionado a pai dele ser um lixo.

Então eu apenas dirigi, enquanto ele se acalmava do meu lado.

"Eu vou perguntar uma vez só, quem fez isso com você?"

Ele continou em silêncio, um silêncio que incomodava de uma forma absurda.

"Foi o seu pai Yoongi?"

Novamente o silêncio, mas dessa vez ele respirava um pouco mais pesado, e mexia as mãos de uma forma desesperada. E eu senti o ódio voltando novamente, aquele silêncio e esses pequenos detalhes respodiam tudo.

Parei de dirigir quando tinha chegado em frente ao meu apartamento, desci e ele fez o mesmo. O elevador estava em total silêncio, e eu não queria força-lo a falar algo, mas antes de entrar no meu apartamento ele puxou a minha mão e ficou segurando a mesma.

"Desculpa" falou quando percebeu que eu o encarava, e ele já tava pronto pra soltar a minha mão quando eu apertei a dele e entrelacei os nossos dedos.

Segurei o seu rosto com a mão livre e fiz um carinho leve em seu rosto, e aqueles olhos de felino estavam cheio de lágrimas, ele estava vermelho por tentar conte-las e aquela visão me deixava muito incomodado. Eu não gostava daquela feição dele.

Ele tentou dizer algo mas o soluço veio primeiro, logo todas as lágrimas que ele tentou segurar começaram a cair e eu apenas o puxei para um abraço, ali no corredor.

Ele dava soquinhos leves nas minhas costas enquanto eu tentava o máximo confortar ele, enquanto eu o abraçava e afagava seu cabelo.

E eu senti meu coração bater mais devagar, eu sentia vontade de cuidar dele, sentia vontade de vê-lo sorrir sempre, sentia vontade de beija-lo.

E foi isso que eu fiz.