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História Açúcar mascavo - E Hurt, um cover do Johnny Cash


Escrita por: esportista

Capítulo 1 - E Hurt, um cover do Johnny Cash


Apesar do erro refrativo do globo ocular, Sorn observava a caneca redonda, gorda, com metade do seu interior recheado por um café acompanhado do açúcar mascavo comprado por acidente. Outro alguém gostaria de fazer um bolo específico, porém o que restou para os grãos fora um café pouco forte. Quente.

E o ar gélido debatia-se dentro do recipiente junto ao café, dedos com unhas tortas, falhadas pela falta de nutrientes e pelo mau uso da acetona. Era confortável observar as prateleiras de esmaltes, de algodões e removedores, no entanto, mantinha-se com as pupilas grudadas na garrafinha que a fazia mal.

O café em seu colo também a machucava. A temperatura elevada pressionada em suas coxas, o açúcar mascavo em seu paladar — a sua mãe havia dito que a diferença entre o cristal e o mascavo não existia, todavia, o sentimento que rodeava os seus ombros não era o mesmo.

E aquele era um círculo vicioso calmante. Há alguns meses havia parado de beber café, o centro de seu peito doía, seu corpo arranhava as paredes de seu coração em busca de um momento sem dor. Aquela era a segunda vez que destruía a sua própria meta, um mal que engolia e misturava açúcar mascavo. Outro gole de café, um vento gélido em suas pernas descobertas, um grupo de três gatos correndo pelo quintal e um sentimento diferente que corria por seus braços. Provavelmente frio, pensou, mas a série de fatores que a fariam tremer não era ligada àquele ponto.

Johnny Cash murmurava hurt com calma. Era quase um legado que a ditava como a música mais triste do mundo, e seu corpo mediano engolia muito mais que o café. Apesar de não enxergar bem, míope com mais de cinco graus em seus olhos castanhos, Sorn observava a si mesma.

Sua obsessão com números, o medo de cachorros, meias largas demais para seus pés tamanho trinta e quatro, vontade de conhecer o mundo e com vergonha o suficiente para esconder-se dentro de uma caixa pelo resto de sua vida. Machucada, com os dedos cobertos de band-aids, a menina se imaginava cuidando de alguns cactos, porém a realidade era dolorosa: não havia flores ao seu redor, apenas concreto, que a cobria dos pés a cabeça, e não a fazia se sentir confortável o bastante para respirar, puxar o ar com calma naquele local poluído pelo ser humano e suas composições tortas.

O penúltimo gole de café estava frio, gélido como suas pernas e bochechas. Hurt ainda tocava com certa cautela, no entanto, em um tom doloroso junto com a tentativa de lembrar-se da versão original. Era uma das músicas mais tristes do mundo, havia visto em algum vídeo, e, dependendo do momento, uma das músicas mais reconfortantes.

A caneca com café pela metade era um sinônimo de tristeza, o açúcar mascavo de acidente, quem sabe um alívio momentâneo, a acetona a falta do amor próprio. Essas coisas eram o que a Sorn era, e o que ainda é, mesmo que machucasse.


Notas Finais


escrevi quinhentas palavras sem interrupções igual antigamente, me sinto adorável :)

⠀ ⌕ ˒ capa: @ellkie.
atualização: 10/julho.


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