História Adjö - Capítulo Único

Caro D,

Se você está lendo isso, peço para que não entre em desespero, estou aqui apenas para te fazer lembrar de algumas das melhores coisas que aconteceram em toda a minha vida. Vou contar nossa trajetória e o que nos levou até aqui. Me lembro até hoje dos seus olhos castanhos escuros, quase pretos que me olharam quando estava no chão, literalmente.

Era o primeiro dia de aula naquela escola, e como sempre acontecia com os novatos, os caras mais velhos me pegaram pela cintura e me jogaram ao chão, rindo. Mas você estava lá. Olhou-me no fundo dos olhos, estendeu a mão e sorriu. Depois que me ajudou a levantar, começamos a conversar. Você, diferente de mim, não é aquilo que as pessoas queriam que você fosse, você é o que você é e ninguém consegue mudar isso.

Depois de uns dias e longas conversas, começamos a entrar em assuntos mais pessoais sobre o passado, o futuro. Eu realmente estava com medo de te contar meu passado, que você iria sair correndo, ou falasse que nunca mais queria falar comigo, mas você sempre esteve lá comigo. Segurando a minha mão e sorrindo. Se passaram alguns meses e nossa amizade foi firmando.

Até que um dia chuvoso de Outubro, você me ligou no meio da tarde falando que precisava falar sério comigo. Ainda sinto aquele frio na barriga e o choque na minha espinha ao ouvir aquilo. Depois de exatos 5 minutos a campainha tocou e você estava lá. Lindo. De camiseta preta, calça jeans e um vans vermelho. Sua expressão era preocupada e ansiosa.

"Evan, eu preciso falar uma coisa muito importante para você" você me disse olhando nos olhos, como sempre fazia.

"Tudo bem. Pode entrar" eu respondi e dei um passo para trás abrindo passagem para você entrar e fomos para o quarto.

Chegando lá, eu fechei a porta sentei-me na cama e logo você falou.

"Eu sei que é estranho falar isso, e peço para que você não pare de falar comigo independentemente do que falar"

"Fala logo! Está me assustando"

"Eu te amo, Evan." você me olhava de um jeito que nunca me olhou antes, sua feição estava suave e sua fala estava sincera "Eu te amo e não consigo ficar mais nenhum segundo sem ficar perto de você e não tocar na sua mão, ou te abraçar. Eu te amo desde o dia que eu te vi jogado no chão, mas não tinha percebido, ou tinha e não queria admitir para mim mesmo. Eu te amo e ninguém vai mudar isso. Me desculpa eu te amar, mas isso que estou sentindo é muito grande para esconder de ti."

Eu não tinha o que falar, apenas não estava ligando para o que os outros pensavam ou achavam, queria me jogar de cabeça nesse mar que era você e seu amor. Sorri e puxei sua camiseta, selando nossos lábios. Quando o beijo acabou, você sorriu, segurou minha mão, e se deitou comigo na cama afagando meu cabelo até dormir.

O tempo foi passando e meu amor por você ia aumentando cada dia mais. Tudo estava perfeito. Pena que a vida é traiçoeira e te faz acreditar que está tudo bem, para você abaixar a guarda e ficar fraco, desprevenido, para atacar e fazer você cair. E não foi diferente comigo.

Um dia, você faltou na escola e, os meninos que me jogaram no chão, me bateram. No dia seguinte, disse que eu cai da escada e me machuquei para você não precisar se preocupar. Como não temos as mesmas aulas, eles perceberam que você não ia poder me defender nelas, então eles começaram a me xingar, me bater e as piores coisas que você poderia imaginar, e, como sempre, eu escondi de você mentindo, pois não queria arrumar encrenca para você.

Me desculpe. Eu não sabia que iriamos terminar assim. Depois disso, eu comecei a procurar um sentido na vida e percebi que não existia. A vida é só uma desculpa para dizer que você vai morrer. Você e as pessoas só tem que entender que eu sou tímido. A única parte da timidez que as pessoas acham ruim é que você fica sozinho, mas eu não ligo... Fico melhor sozinho do que com outras pessoas.

Não sei quando isso realmente aconteceu, quando eu quis viver a minha vida sozinho com apenas, no máximo, quatro amigos a quem posso realmente e extremamente confiar. Eu estou bem com a solidão. Posso estar com depressão, mas não ligo. Não me importo mais com nada, apenas em passar despercebido pela multidão. Minha madrasta falava que eu nunca senti vergonha na vida e que tudo isso é por causa da internet, mas não é por isso. Também não sei exatamente quando meus pais se desligaram da minha vida e pararam de perceber em mim, acho que foi na mesma época em que tudo isso aconteceu. Eu comecei a ficar mais sozinho e na minha cabeça, comecei a pensar nas minhas atitudes e nas atitudes das outras pessoas, comecei a chorar de noite baixinho para ninguém ouvir. Falar que estou bem já é costume, sou tão profissional em dar um sorriso falso que todos acreditam, mas não é verdade. Na verdade, por dentro, estou clamando por socorro, implorando para alguém que me salve, me salve de mim mesmo, mas não tenho ninguém. Nascemos sozinhos na vida, e é assim que vamos morrer. Estou apenas me preparando para a morte.

Foi isso o que eu pensava. Eu não aguento mais o peso da sociedade em cima de mim e querendo que eu seja perfeito. Eu só quero te dizer, Dylan, que você foi a melhor e a mais importante pessoa que já entrou na minha vida, que me viu no meu auge e depois, agora, ficar sabendo que entrei na escuridão. E que agora, sentado nessa mesa, escrevendo essa carta, eu estou lembrando do seu sorriso que sempre fez meu dia nublado ficar ensolarado.

Isso não é uma carta de término, é uma carta de adeus.

06 de abril de 2015

MORRE ADOLESCENTE POR SUICÍDIO

O adolescente Evan Peters, 17, morre hoje de suicídio. Segundo a perícia, ele morreu após ingerir muitas gramas de remédios e cortar os próprios punhos na vertical. Em seu pulso, havia um bilhete escrito "Eu era apenas só mais um que se sentiu pressionado com a sociedade tentando não ser quem não somos".