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História Adormecido - O beijo


Escrita por: fairydwich

Capítulo 8 - O beijo


Segurou aquele caderno com força correndo de volta ao quarto. Ouvia trovões ao longe que pareciam quebrar o céu e só queria chegar ao cômodo onde Theodor dormia. Só queria vê-lo, precisava depois do que descobriu.

...Esses reinos sempre entraram em conflitos e muitas vezes decisões difíceis foram necessárias. Eu não queria casar sendo ainda uma criança, eu não entendia o por quê, como presumiam poder me forçar àquilo. Porém podiam e por meio do meu casamento uma guerra foi amenizada até ter seu fim. Com o tempo eu entendi e aceitei, mesmo que sempre foi desejo meu apaixonar-me como os poetas descreviam amores sublimes, como meu amigo enamorou-se. Eu fingi que aquela decepção não me atingia e tratei mal minha futura esposa, que terrivelmente veio a falecer. Logo, diário, meu casamento fora substituído para a segunda filha, a qual não tinha mais que seus doze anos.

Eu tentei me acalmar... Por um tempo. Aceitei esse também e nunca irei me perdoar pelo fraco que me tornei.

Esses últimos meses foram assustadores. Só estou contando isso agora por que antes não conseguia sequer me expressar, estava chocado, confuso, com medo. Um dia fui levado a torre na floresta, nunca havia a conhecido antes daquele dia e não entendia o que estava acontecendo. Os guardas não me explicaram, somente quando entrei é que vi minha mãe, ela chorava e me chamou para ter comigo. Eu estava apavorado. Então ela contou-me o por que daquilo tudo, da preocupação exagerada, de me manterem sempre trancado e proibirem aventuras, dos meus aniversários isolados em meu quarto com guardas na porta.

Meus pais estavam com medo.

Ela contou-me da maldição. Como eu poderia acreditar? Por que eles fariam aquilo? Eu queria desaparecer no mesmo momento!

O reino estava em guerra quando eu nasci e para a paz voltar meu pai pediu ajuda à maior feiticeira, porém ele a traiu depois de conseguir paz e em vingança ela ameaçou destruir todo o reino. Ele tentou um acordo, ela propôs: Queria o príncipe, filho único do rei. Não havia outro jeito. Mas outras feiticeiras de passagem no reino não permitiram, imploraram por piedade e me encantaram com magias e proteções.

Eu não saberia dizer qual seria o certo. Fui colocado no meio daquilo tudo e em fúria a feiticeira amaldiçoou-me, a mim e este reino. Eu nunca passaria do meu décimo oitavo aniversário, por uma única gota do meu sangue eu dormiria para sempre levando todo o castelo junto, o reino se perderia, prosperidade alguma proveria dali e felicidade alguma sobraria em mim. Em todos os meus aniversários até os dezoito ela prometeu vagar ao redor do castelo como uma afronta e desafio enquanto destruía a terra e na minha maioridade eu apenas... Eu apenas dormiria.

Em volta de mim estavam as feiticeiras que ajudaram-me, eu as conhecia da minha infância. Já vi elas fazendo coisas no mínimo incríveis, porém elas não me deram nenhuma notícia boa. Não tinha como reverter o feitiço.

Talvez eu sempre soube, mas me permiti chorar com minha mãe aquela última vez. Meu aniversário estava próximo. O que eu poderia fazer?

Suas mãos foram a porta a empurrando entrando naquele quarto de uma vez. Curvou o corpo respirando ofegante.

- Eu... Eu sinto muito... Theo, eu realmente! - Aproximou-se da cama, os joelhos indo ao chão. Sua mão subiu ao peito agarrando sua blusa, pois seu peito apertava.

O príncipe ainda brilhava pelas poucas luzes do final do dia. O intruso abaixou a cabeça, o corpo ainda tremendo.

- Por quê?

Sua voz foi trêmula, apertou os olhos.

O que tanto desejava dentro de si? Queria ajudar, queria que Theodor tivesse uma chance.

Por que?

Por que se importava tanto?

Acabou de saber, não tinha jeito! Era irreversível. Não podia ter esperanças!

Uma maldição irreversível.

Se lembrava bem o que seu pai tinha o dito a alguns dias:

Você não está preparado para a dor do mundo, muito menos para a maldade das pessoas!

Talvez estivesse certo. Por que tudo que desejava naquele momento era ajudar alguém que nem sequer conhecia, que nem de seu tempo era.

- Droga!

Sentou no chão, a cabeça escondida entre as mãos.

- Eu não posso mais! - Exclamou transtornado - Não posso!

Era uma decisão. O quarto escureceu, era começo de noite e estava frio. Sem olhar para Theodor pegou sua mochila voltando algumas coisas para dentro. Mordendo o lábio inferior andando pelo quarto escuro indo à janela. Não seria sensato sair a noite... Suspirou. Suas mãos foram aos cabelos negros tentando pensar e ficou assim por um tempo.

Quando exatamente se perdeu? Era alguém tão racional e agora estava tão nervoso. Olhou cansado para o príncipe por aquela luz cinzenta da lua e engoliu em seco, as mãos nervosas se tocando.

Queria muito, era um desejo tão intenso que parecia impossível estar ali a tão poucos dias, queria conhecer, conversar direito com Theodor. Saber como ele era acordado, falando, se movendo.

- Mas não vai acontecer... – Murmurou caminhando até a escrivaninha se jogando na cadeira. Acendeu uma vela e observou o papel onde Theodor não terminou de escrever: Queridos pai e mãe...

Talvez algum dia acontecesse. Talvez um dia ele acordasse dessa maldição idiota e cruel e pudesse viver novamente, talvez ainda si próprio estivesse vivo e poderiam se ver. Com certeza reconheceria aquele rosto em qualquer lugar.

Pegou outra folha, sorrindo para essa ideia, quase um sonho impossível. Com o resto de tinta que ainda tinha se pós a escrever. Uma carta, uma chance. No final a enrolou e buscou uma rosa que colheu antes de um jarro no corredor pondo por cima.

E desejou que um dia Theodor lesse aquelas palavras.

O rapaz suspirou. Levantou-se e sem parecer haver algo a mais que pudesse chamar sua atenção foi à cama sentando-se no canto. Tornou-se rotina observar o príncipe.

...

A manhã estava cinzenta, a primeira desde que chegou ali. Pegou bolo e bolachas da cozinha os guardando, também enchendo a garrafa de água. O intruso no castelo não fazia ideia de onde iria chegar ou se dormiria debaixo de algum teto aquela noite, mas não se preocupava muito com isso.

Estava com a mochila pronta e até conseguiu tomar outro banho, o que o distraía. Acabou se perdendo também lendo as poesias do diário. Talvez estivesse enrolando, sabia, mas era difícil concretizar a decisão. Quando olhou para a janela percebeu a manhã já alta e nervoso engoliu em seco.

- Olha só, posso fugir de casa, mas você me segura aqui. – Disse irônico olhando o loiro. – Talvez seja esse seu rostinho perfeito. Ah... Sua alteza seria um sucesso na minha vila. Seria irritante. – Sorriu ainda falando pelos cotovelos. Era um defeito acompanhando seu nervosismo. – Mas eu não conseguiria chamá-lo assim. Mesmo que mandasse cortar minha cabeça... Bem, eu tenho que ir embora!

Levantou-se de uma vez e colocou a mochila nas costas. Olhou para o diário logo o pegando e se aproximando da cama.

- Quando acordar... Espero que... Bem, eu deixei na carta... – Passou uma mão em suas roupas lembrando-se que eram do príncipe e sorriu.

Sentou-se ao lado do corpo de Theodor lembrando-se das tentativas de manchar a aparência perfeita do que dormia. Tocou os cabelos cor de ouro os bagunçando um pouco, tão macios quanto seda. Sua garganta secou.

- Eu queria levar... – Ergueu o diário afastando a mão dos cabelos loiros para as mãos dele sobre a barriga e engoliu em seco, o coração aos pulos. Aquele diário havia se tornado importante demais para si, pois era um pedaço do príncipe. – Não tenho nada pelo que trocar.

Sua voz era baixa e trêmula como seu corpo. Segurou com mais força a mão do príncipe enquanto deitou o rosto sobre seu peito.

Como queria gritar, estava tão estranho!

- Theo...

Afastou-se um pouco surpreso com sua voz tão carente, sua mão foi para a cama, a boca secou. Sua mente trabalhou nas imagens de se levantar e sair daquele quarto, mas não foi o que fez. Sua mão já deslizava para o lado do rosto sereno enquanto o seu se aproximou até parar por cima.

- Fique com isso.

Não pensou, nem sequer hesitou, e não poderia porque em algum lugar dentro de si desejava aquilo profundamente e infinitamente. Mesmo significando mais do que alguém entenderia. Encaixou os lábios calmamente entre os dele e seu coração parecia um tornado e suas mãos tremiam. Em um único toque tomando uma pequena parte daquela pessoa, mas que sabia, o acompanharia por toda a vida...

Por que nunca, jamais seria capaz de se esquecer.

De olhos muito apertados afastou os lábios com a respiração ainda presa, o peito inflando e por alguma força maior sentiu-se atraído a abrir os olhos.

Nesse momento íris azuis se acostumavam com a luz podendo identificar o rosto e o corpo acima do seu.

O intruso no castelo agiu por impulso àquilo, ainda mais nervoso recuou da cama e do que antes dormia. Seus olhos arregalados arderam inundados pelas lágrimas.

Theodor observou o rapaz recuar cada vez mais até bater na parede, parecia assustado, e não entendeu as lagrimas nem aquele olhar.

- Espere... – Pôde falar no momento que o jovem que nunca viu antes se virou para a porta saindo correndo do quarto, tão rápido que o loiro só pôde franzir o cenho confuso antes de sair da cama indo atrás.



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