História Adsme 01 - Roubando Ishtar - Khaleel, o thigeriano

Em AlbaPQ3, os calouros foram direcionados a um grande salão onde ficariam no aguardo de liberação para as cabines com leito. Olavo estava tranquilamente ao lado de Leo, enquanto este lia alguma mensagem em seu holotablet. Os olhos de Olavo passeavam com curiosidade pela multidão das mais variadas espécies de raça humanóide. É claro que havia imigrantes espaciais na Terra, mas ele nunca havia se encontrado com tal variedade de espécies antes.

 E foi nesse momento que ele viu a figura mais linda do universo, pelo menos na opinião dele. Imediatamente sentiu um frio na barriga e sentiu seu membro pulsar levemente. Isso realmente o impressionou, pois nunca se sentiu assim antes por nenhuma mulher. Por causa da popularidade de seus primos, Olavo se aproveitou e teve sua cota de encontros, chegou a se apaixonar por muitas garotas, algumas até mesmo chegou a namorar. Mas nenhuma delas deixou tal impressão imediata nele, ou sequer causou esse arrepio gostoso por sua coluna.

A pele dela era clara e tão delicada quanto cristal, um olho tão verde quanto jade e o outro tão azul quanto o céu de verão, lábios que pareciam muito beijáveis, longos cabelos da cor prata que pareciam tão macios... “Mas, aquilo são orelhas de gato?” pensou ele. A bela criatura vestia um manto comprido da cor azul que realçava mais ainda sua beleza etérea. Linda. Definitivamente linda. Percebendo a profunda concentração no amigo, Leo procurou o foco de sua atenção e ao encontrar aquela beleza impar suspirou impressionado.

– Uau! Como é linda! – murmurou Leo.

– É mesmo uma beleza. – Olavo falou distraído.

– Tem razão, mas na realidade é homem. – respondeu uma voz profunda atrás dos dois.

Assustados, imediatamente voltaram-se para a voz. O dono dela era um ser com aparência de um felino humanoide, possuía um rosto meio humano, suas orelhas levemente pontudas e para ajudar sua aparência exótica, tinha uma comprida cauda negra. De 2,10 metros de altura, e forte, com a musculatura definida, parecia realmente intimidador. Seus cabelos eram cumpridos e negros como o espaço, e seus olhos lembravam o de uma pantera. Seu sorriso mostrava um belo par de presas marfim.

– Sou Khaleel Katzo, do planeta Thigerius. É um prazer conhecê-los.

– Sou Leonardo Ramos, me chame de Leo. Você nos deu um susto.

– Foi mal. – disse rindo, suas presas a mostra.

– Sou Olavo Medeiros. – e virando-se na direção da bela criatura, perguntou: - Tem certeza de que é um homem? É tão delicada...

– Oh, tenho sim! Ele é um jahani, do planeta Jahan. Vizinho de sistema do meu. Lá você tem três tipos de homens, e dois de mulheres.

– Como assim tipos?!

– Tipos genéticos. Os dois tipos mais comuns são chamados de normal e guerreiro, e existem tanto entre homens como entre as mulheres; o mais raro é chamado de portador, e é exclusivamente formado de homens.

– Nossa! Como sabemos quem é que tipo? – perguntou Leo.

– Os guerreiros possuem uma marca de nascença. É em forma de corte de três garras. Já os portadores, bom, eles são os únicos que possuem a cor dos olhos dispares.

– Uau! Que intrigante... – falou Leo.

– Sabe, no geral, jahanis não costumam socializar e nem deixar seus jovens saírem do planeta, mas há alguns anos eles resolveram mudar algumas coisas. Desde então, eles deixaram alguns, como os irmãos Ameya, estudarem na ADSME.

– Espera. Você disse irmãos?

– Seriam aqueles com quem ele está conversando? – Perguntou Leo.

– Isso mesmo. A coisinha linda se chama Ishtar, tem dezenove anos. O de cabelo curto e claro, meio azulado, é Nahan de vinte e um. O rapaz com cara de mau, cabelos curtos e vermelhos é o Adaoh, de vinte e três.

– Você sabe muito sobre eles não? – perguntou Leo desconfiado.

– Eles são filhos de um diplomata muito popular, não tem como não saber essas coisas básicas.

Enquanto conversavam, Olavo percebeu que próximos aos irmãos Ameya havia um grupo de homens mais velhos, todos vestidos com túnicas negras. Eram muito altos, fortes, e todos eles possuíam o lábio inferior pintado com uma faixa vermelha vertical. Repentinamente, juntou se a eles um homem um pouco mais velho, vestido com uma túnica azul e com a mesma marca vermelha no lábio.

– Eu pensei que somente os calouros ficassem nesse salão. – disse ele, indicando com um movimento o grupo estranho.

– Eles são exceção Olavo, porque pela lei deles diz que, quando os jahanis jovens estão em viagem no espaço, eles têm de ser acompanhados por alguns guarda-costas e um guardião.

– Perguntinha besta: aquilo são realmente orelhas? – perguntou Olavo envergonhado.

– Sim. Eles têm cauda também, assim como eu.

“Que coisa bizarra,” pensou Olavo, “mas esse Ishtar é mesmo uma gracinha. É uma pena que seja um homem...”. Olavo ficou assustado com seus próprios pensamentos. Ele, que nunca foi atraído por um homem, sentindo essa louca atração por aquela coisinha doce e... “Melhor mudar de assunto”, pensou ele.

– Que curso você irá freqüentar, Khaleel?

– Engenharia Espacial. E vocês?

– Sistemas Táticos de Navegação Espacial.

– E eu Medicina Básica Espacial.

– Ótimos cursos...

– Atenção, atenção! – soou uma voz feminina pelo recinto. - Viajantes localizados no saguão vermelho, com destino a Colônia VGTO57. Todos devem dirigir-se ao portão O-98 para embarque. Repetindo, viajantes localizados no saguão vermelho, com destino a Colônia VGTO57, devem dirigir-se ao portão O-98 para embarque.

– Nosso vôo. Vamos juntos?

– Claro Khaleel.

– Estou logo atrás de vocês. – respondeu Olavo.

Os três seguiram ao portão informado, e lá encontraram um monitor que os informou para qual cabine foram encaminhados. Por coincidência, os três acabaram por dividirem o mesmo espaço. Sua cabine tinha duas salas: uma era a sala de estar, e possuía poltronas macias e uma holotv; a outra sala era um quarto simples com três camas muito convidativas. Apesar de irem se deitar, o trio continuou a conversar por horas até que o sono os vencesse.

Khaleel

Sendo o filho caçula e o único a sobreviver de uma ninhada de quatro, Khaleel Katzo, um dos muitos príncipes do planeta Thigerius estava cansado de ser sufocado pelo zelo extremo de sua família. Isso e o fato de estar cansado de viver a sombra de seus irmãos mais velhos, nascidos em ninhadas anteriores, fez com que optasse por se afastar e abrir um pouco suas asas. Queria curtir a vida enquanto ainda era jovem, conhecer duas ou três pessoas para partilhar um bom tempo antes de ser acasalado a alguém.

Assim, lá estava ele em meio ao salão de espera aguardando a nave que o levaria a ADSME. Observava atentamente a sua volta, procurando alguém amigável para conversar. Não conhecia ninguém e estava ansioso para formar novas amizades. Foi quando percebeu os filhos do diplomata Ameya do planeta Jahan. Ele já havia trocado algumas palavras com eles, e realmente os rapazes eram gentis, mas Khaleel queria esquecer suas origens nobres. Coisa que os jovens Ameya não deixariam de lembrar.

Virando-se, o jovem príncipe percebeu um rapaz a olhar maravilhado para os jahanis. Captou um leve cheiro de excitação, e isso o fez sorrir. O garoto tinha desejo de morte para querer engraçar-se com um dos Ameya. Foi quando o companheiro do moreno levantou seu rosto que Khaleel se interessou na dupla. A aparência estranha contradizia e muito a aparência delicada do rapaz. E as jóias só o tornavam mais exótico e intrigante.

– Uau! Como é linda! – murmurou o interessante rapaz.

Ouvir isso inexplicavelmente o fez se sentir incomodado. Nunca, nunca mesmo, sentiu-se incomodado com alguém admirando outra pessoa em sua presença. Foi essa estranha sensação que o impulsionou a conversar com a dupla.

– É mesmo uma beleza. – falou o moreno.

– Tem razão, mas na realidade é homem.

Ambos os rapazes se viram para vê-lo e pareciam assustados com a presença maciça dele, o que fez Khaleel sorrir contente. Definitivamente isso era divertido. Agora que tinha atenção dele, queria conhecê-lo um pouco. Até o amigo dele parecia ser um cara legal de se conhecer.

– Sou Khaleel Katzo, do planeta Thigerius. – falou, sorrindo de uma forma encantadora. - É um prazer conhecê-los.

– Sou Leonardo Ramos, me chame de Leo. Você nos deu um susto.

– Foi mal. – disse rindo.

A partir deste momento que ele conseguiu dois novos amigos. Amigos que lhe faziam feliz por serem amigos do jovem thigeriano e não do príncipe. E, mesmo depois de muito conversar, Leo ainda lhe intrigava muito. Khaleel desejava ardentemente que mantivessem contato por um longo tempo.