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História After in Dystopia. - Confissões da madrugada.


Escrita por: CarolMirandaS2

Notas do Autor


Estamos a quatro ou três capítulos do final. ( Não sei ao certo). O capítulo está sem revisão, então deixo por livre e espontânea responsabilidade de vocês. E alerto sobre possíveis erros de português ou coerência.
Boa leitura a todos.❤

Capítulo 6 - Confissões da madrugada.





Era por volta do meio da tarde quando Piper resolveu meditar. O céu ainda estava escuro pela chuva que apenas ameaçou o dia anterior e que parecia estar prestes a cair.

Ela estendeu o seu tapete num canto isolado onde a luz natural entrava, e sentou-se sobre ele com os fones de ouvido se alongando.

Enquanto isso, do outro lado da cidade, alguém também utilizava fones de ouvido. Mas com uma finalidade diferente, que mais tinha a ver com ouvir música e não uma playlist de meditação convencional.

Jasper caminhava balançando a cabeça de vez em quando, perdido na letra com os livros da faculdade embaixo do braço e uma expressão alegre.

Então, parou em frente a uma chamativa vitrine, uma das poucas em Dystopia que permaneciam inteiras. (Talvez por estar no território mais seguro da cidade)  Completamente iluminada. Em torno dela, uma imponente parede de grafites com símbolos de bandas do rock servia como moldura para o que se mostrava através do vidro.

Ente capacetes, luvas e jaquetas de couro, entre outras peças habituais do vestiário de um motoqueiro, estava alí no centro; o seu mais recente sonho de consumo.

Um enorme motor potente, com pequenos pistões prateados, bicilíndrico. Perfeito para motos de competição, ou mesmo de estradas.

Aquilo era o que faltava no seu projeto.

Jasper imediatamente pensou na garagem abandonada a alguns quarteirões dali. Somente Henry sabia o que ele escondia lá, e sentia que quanto menos pessoas soubessem, melhor.

Ele tinha uma moto em perfeito estado, com todos os documentos em dia, na qual tinha trabalhado muito dentro dos seus escassos conhecimentos de mecânica, mas infelizmente a mesma não tinha motor.

Era como ter sapatos de caminhada e morar num lugar íngreme, ou ter luvas cirúrgicas e não ser médico; de nada servia.

Jasper já tinha idade para ter uma habilitação, mas não dispunha de dinheiro para tirar ou fazer uma prova e isso era frustrante.

Só de lembrar que Piper, sendo menor de idade, recebeu uma por engano do departamento de trânsito de Swelview e ninguém fez nada a respeito, sentia uma raiva imensa.

Só ele lembrava quantas regras ela já havia infligido nas rodovias.

E foi pensando nela que colocou como prioridade, assim que chegasse em casa, conversarem o mais rápido possível.

Dessa forma, apertou o passo e se foi a fim de chegar o mais rápido possível na loja de departamentos.


Já era bem tarde quando Piper resolveu tomar um ar puro. Enquanto isso, Charlotte estava na sala mexendo no computador, editando um monte de coisas complicadas. Era parecido com as edições e remixagens de música que um dos seus colegas de faculdade aspirante a DJ costumava fazer, usando aqueles headphones enormes e bregas.

Mas Piper sabia que não se travava de diversão. Provavelmente, Charlotte deveria estar mexendo com uma das provas contra o responsável pelo contrabando de armas.

Contrabandear armas era um negócio. Todo negócio necessita de clientes, do contrário não se vende.

Na cidade , principalmente nas periferias, não faltavam compradores.

E se eles existiam, deveriam ser capturados também.

 Logo, era algo tão grande, que Piper se sentia exausta só em pensar.

Embora não admitisse, uma leve paranóia foi inevitável ao fazer coisas simples como ir à padaria.

No geral, não estava muito agitada. Segundo lhe disseram, em breve Henry estaria de volta pois seus pais estavam bem, curtindo a crise de meia idade com outros adultos quarentões em Swelview.

Talvez a chantagem houvesse sido um blefe, ou uma jogada para desviar a atenção do seu irmão de algo maior.

Piper não sabia, mas estava louca para que aquilo terminasse de uma vez e pudesse retomar a rotina de antes. Aqueles minutos no terraço, eram uma escapada rápida antes do horário de dormir.

A brisa gelada da noite bagunçou seu cabelo longo jogando-o em todas as direções. Resultado da chuva que tinha desaguado durante a tarde.

Restou apenas a friagem e as ruas molhadas, o céu, no entanto, estava sem uma única nuvem. Cheio de estrelas.

" Aqueles pontinhos brilhantes e inúteis".

Foi, olhando para elas que se distraiu e não percebeu a pequena porta de ferro ser aberta, e alguém vir subindo com facilidade os pequenos degraus.

_ Oi, tudo bem? Será que a gente pode conversar?

Piper olhou para trás, enfiando as mãos no bolso do agasalho.

Jasper provavelmente deveria ter acabado de voltar do trabalho. Ela e Charlotte haviam jantado sem ele.

E olhando-o como olhava agora, só conseguia pensar que o emprego de vendedor de colchões era a cara dele.

Até mesmo o uniforme. Uma camisa branca, uma  gravata azul escura cujo o crachá seguia pendurado. Com a liberdade de poder usar calça jeans e tênis. Para Piper, muito ligada em moda e coisas do tipo, aquela roupa passava a idéia de algo que havia sido escolhido pela mãe de alguém.

Para completar, ele estava usando gel novamente como um engomadinho. Não era de todo mal, mas pior, apenas aquelas antigas camisas havaianas que eram o cúmulo.

Por que não estava surpresa? Aquilo era tão... Jasper!

Ela balançou a cabeça e se forçou a respondê-lo:

_ Claro. 

Assim, os dois foram se sentar no pequeno banquinho próximo a saída de ar dos aquecedores.

Jasper respirou fundo olhando a vista que se tinha dali e tomando coragem para começar a falar. As luzes urbanas de Dystopia eram um cenário e tanto.

Assim, vista de cima, sem a percepção dos crimes que aconteciam na surdina aquela hora em algum lugar, ela parecia uma cidade como todas as outras.

Quem sabe até, bonita.

Piper já não parecia mais tão a vontade do seu lado pela forma como batia os pés ansiosos então resolveu ser breve.      

_ Olhe, eu queria me desculpar. Pela forma como falei com você aquele dia, eu não queria ter sido grosseiro. E nem ter dito todas aquelas coisas.

Diante do silêncio, ele se calou também, crendo que tinha falado o suficiente. Talvez agora Piper o mandasse se ferrar, mas estaria com a consciência limpa e era tudo o que importava.

No entanto, ela parecia inexpressiva novamente. Piper suspirou e começou a encarar o horizonte.

_ Não se desculpe. Está tudo bem, eu sei que você não se arrepende de verdade.

Jasper já estava pronto para discordar da frase, só que não houve espaço pois ela continuou:

_ Você só disse tudo o que tinha para falar para mim a muito tempo. E você tinha razão. Minha vida é bem vazia, eu sou mimada, fútil, ignorante, arrogante, prepotente e cruel. Eu só quero que saiba que eu não estou zangada.

Jasper franziu a testa, embora aliviado por ter se saído bem melhor do que imaginava, foi uma surpresa ver Piper se vestindo de todos aqueles pejorativos ruins. E de alguma forma, algo dentro dele não gostou nem um pouco daquilo.

_ Piper, não me leve a sério, você não é…

_ Sim, eu sou. 

Ela deu um sorriso triste. Ele não soube muito como reagir pois havia certeza ali, então a garota se arrastou sobre o banco, ficando mais próxima.  E pediu:

_ Eu sei que você é bem sincero Jasper.  Seja sincero comigo agora, você não sente nem um pouco de raiva de mim por tudo que eu já te fiz desde que éramos crianças?

Ele olhou para Piper pensando enquanto prendia a atenção nos seus olhos muito azuis. Ela parecia ansiosa pela verdade fosse qual fosse, então Jasper buscou dentro de si mesmo, procurando ser o mais franco possível. 

Por fim, encolheu os ombros e respondeu com simplicidade:

_ Não. Eu não sinto raiva de você.

E era verdade. Entre a irritação e a raiva existia muita diferença. A irritação é sempre momentânea, já a raiva, é o ódio alimentado por tempos a fio em relação a uma pessoa. E Jasper não sentia nada parecido por ela. No entanto, Piper ainda parecia incrédula:

_ Tem certeza? Eu já te insultei de todas as formas, te chantageei, te obriguei a fazer coisas que não gostava. Quebrei seu nariz com um bastão de selfie, sabotei seu podcast, zombei das coisas que você gostava, te enganei, te extorqui tirei vantagem todas as vezes que acreditou em mim. Ainda tem coragem de dizer que não me odeia nem um pouquinho?

Ele apertou os olhos de leve, com aquela expressão tão típica sua e sorriu de forma serena.

_ Sim. Eu não guardo rancor.

Piper sacudiu a cabeça, sem notar a própria agitação:

_ Não é possível! Eu não fui legal com você nem mesmo quando a sua avó morreu. Nem quando você precisou fazer aquela cirurgia nos pés, nem quando você começou a trabalhar na bugigangas.

Assim, se colocou a listar incontáveis motivos para que Jasper um dia pudesse vir a ter um ódio perpétuo por ela. Ele escutou tudo em silêncio e com paciência, sentindo que Piper precisava muito falar e era a sua vez de ouvir.

_ Como?_ ela disse por fim._ Por que?

Jasper a olhou novamente, notando o quão perto estavam um do outro e se pudesse poderia esticar a mão e encaixar aquela mecha de cabelo loiro atrás da sua orelha com facilidade. " Por que eu te amo. " admitiu para si mesmo. Porém o pensamento morreu a meio caminho entre sua boca e o coração. 

Afinal, que outro motivo teria para ter convivido por tantos anos com alguém tão genioso como ela? Era algo extremamente clichê, talvez ilusório e ridículo dizer que o amor tudo suportava, pois nenhum sentimento jamais foi capaz de  anular a dignidade de ninguém. Mas aquela expressão se aplicava tão bem na sua situação...

E ele se viu desistindo, achando que seria inútil demonstrar algo pelo qual já nem fazia tanta questão de ter retribuição. Ao invés disso, respondeu:

_ Eu nunca acreditei que você fosse uma pessoa ruim de verdade.

Ela recuou e sentou-se sobre o calcanhar encarando as mãos sobre o colo:

_ Bom, você estava errado. E eu descobri isso; eu estou mesmo sozinha. Minhas amigas não me amam, meus pais não confiam em mim, meus propósitos de vida são superficiais e estou começando a acreditar que até o idiota do Billy Bilsky ficou comigo por pena. 

Não era como  se a bondade de um dia para o outro fosse reinar no seu coração. Mas Piper sentia a vontade de saber o que fazer dali para frente.

Sem se dar conta, passou a mão pelo rosto notando que havia começado a chorar, e só conseguiu sentir uma irritação profunda por demonstrar fragilidade. Ao mesmo tempo, permaneceu indiferente, crendo que nada podia ficar pior.

_ Em primeiro lugar, não deveria validar sua opinião sobre si mesma mencionando Billy Bilsky. Eu nunca entendi como conseguiu ficar com aquele fracassado.

Jasper estava sério. Talvez pior do que ver Piper chorar fosse pensar que dentre tantas pessoas no mundo ela conseguisse atrair apenas as erradas. Mesmo sabendo que o relacionamento com o maior valentão do ensino médio era passado, ele não sabia colocar em palavras o quanto teve que se esforçar para esconder a sua decepção na época.

Piper voltou a olhar nos seus olhos, prestando  atenção no que ele dizia:

_ Em segundo lugar, você não está sozinha. Henry pode não se dar muito bem com você, mas ele te ama. Charlotte pode não ser nem um pouco parecida com as suas amigas,  vocês nem conversam todos os dias, mas ela te adora. O senhor e a senhora Hart podem não ter sido pais perfeitos, mas se esforçaram bastante. E você pode até não enxergar isso agora, mas sabe o que eu vejo?

Ela não respondeu. Jasper sorriu e concluiu seu raciocínio:

_ Eu vejo uma garota forte, audaciosa,  maluca, que luta pelas próprias idéias e não aceita nenhum desaforo. Todos os seus defeitos que tornam humana, Piper. Você aprendeu a se virar sozinha muito nova quando seus pais viajavam o tempo todo, Henry sempre recebeu mais atenção e mais crédito por ser o filho mais velho e ficar no comando. Toda família tem a sua ovelha negra e você foi uma. Acredite em mim, eu sei como é isso. 

Ele sabia. Depois de crescer em um lar com adultos indiferentes, e pais que odiavam qualquer manifestação de juventude ou até que tivesse coisas novas como as pessoas da sua idade, Jasper ainda se perguntava como tinha conseguido virar alguém saudável. A família Dunlop era tão estranha que quase tinham conseguido deixá-lo igual a eles.

Mas aquele não era o caso. Ele não era o caso.

_ O que eu quero dizer _ continuou _ É que isso não justifica nenhum dos seus erros, mas explica a origem deles. E você pode escolher se vai continuar deixando isso ditar sua vida ou vai tentar ser alguém melhor.

Piper já havia desistido de tentar não parecer vulnerável. Embora não estivesse chorando mais, as palavras de Jasper tinham lhe acalmado.

Ela ainda não entendia essa influência que o rapaz tinha sobre o seu humor e nem por que levava em consideração tão fácil tudo o que vinha dele.

De repente, dentro do idiota esquisito havia um cara muito sábio e isso a surpreendeu um pouco.

Sem ponderar muito o que fazia, ela o abraçou.

Jasper arregalou os olhos a princípio sem se mexer, mas no fim, a acolheu nos seus  braços de forma desajeitada .

As lágrimas deixaram a sua camisa úmida mas ele não se importou. Piper sentiu que poderia ficar a vida toda escutando o coração dele bater abafado nos seus ouvidos, ou sentir as mãos quentes brincando com o seu cabelo. Parecia tão certo.

_ Eu quero ser alguém melhor. Mas eu não sei por onde começar. _ confessou.

_ Você vai conseguir, eu sei que vai.

_ Acha mesmo?

_ Por que eu mentiria?

Ela se calou, soltando um riso nasal. Por algum motivo, eles não se soltaram e ele brincou:

_ Vamos ficar assim pra sempre?

_ Cale a boca. Eu ainda não vou com a sua cara, você gritou comigo.

_ E você mexeu nas minhas coisas.

A troca de argumentos gerou um silêncio estranho. Então, como se estivessem num piloto automático, começaram a rir sozinhos. Piper se sentou e lhe deu um leve empurrão:

_ Não conte a ninguém sobre essa conversa. Eu ainda tenho uma reputação pra manter.

Jasper balançou a cabeça:

_ Sem problemas madame. Agora, acho que a gente deveria entrar antes que a Charlotte venha atrás de você ou de mim.

_ É, você tem razão.

Assim, ele a ajudou a descer do banco e juntos, voltaram para o apartamento usando as velhas escadas de incêndio.








Notas Finais


Comentem suas opiniões. Até os próximos gente.❤


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