História After the Storm - Hurt people.

A manhã havia passado rapidamente. Fui pra casa sozinha, já que Nash havia sumido, de novo.

Eu ainda estava chocada com o fato de que ele ajudou Nate a entrar na nossa casa. Qual era a intenção disso? Por que ele fez isso? Nash sabia da minha relação com o Nate, de todas as fofocas da escola. Então por que o meu irmão ajudaria um estuprador? 

— Cheguei. — falei abrindo a porta de casa. Caminhei até a cozinha e vi mamãe e Nash almoçando na mesa, o que acabei estranhando.

— Oi, querida. Desculpa não termos te esperado, estávamos morrendo de fome. — mamãe falou.

— Sem problemas. — disse e encarei Nash, que estava comendo. Ele não tinha coragem de olhar nos meus olhos.

Fui no banheiro e lavei minhas mãos. Voltei pra cozinha e me sentei no lado de Nash. Coloquei minha comida no prato e comecei a comer.

— Então, como está a escola?  Estão gostando? — mamãe perguntou.

— Está muito legal, não é, Nash? — falei arqueando as sobrancelha e o olhei.

Seus olhos azuis finalmente me encararam. No começo eu senti um pouco de receio, mas logo eu o encarei da mesma forma, sem medo.

— Sim, está legal. — Nash falou e voltou a comer.

— E as amizades? Estão fazendo muitos amigos?

Respirei fundo. Ela não fazia ideia no que havia acontecido nesses últimos dias. É horrível ter uma mãe que não esteja presente no seu dia a dia. Ela vivia ocupada, vivia no trabalho. Mamãe nunca tinha tempo para estar gente, ela nunca sabe como nós estamos nos sentindo.

— Está tudo normal pra mim. E pra você, Nash? — falei.

O clima estava pesado. Mamãe fazia uma cara de que não estava entendendo nada, enquanto Nash me encarava fuzilando com o olhar. 

— Está tudo normal pra mim também. — ele deu de ombros.

— Vocês podem me dizer o que está acontecendo aqui? — ela finalmente perguntou.

— Nash, eu amo você e quero que você siga o caminho certo, mesmo depois de ontem. — falei e ele arregalou os olhos. — Mãe, o Nash está passando por problemas de novo, ele está fumando e...

— Cala a porra da boca! — Nash gritou fazendo mamãe e eu arregalarem os olhos. — Será que você não pode me deixar um dia em paz? Você nasceu pra estragar minha vida, caralho!

Meus olhos estavam marejados. Eu queria muito chorar. Nash estava muito estressado, ele respirava rapidamente por conta do nervosismo.

— Nash... — mamãe gaguejou. — É verdade? Você voltou a se drogar?

Ele permaneceu calado e logo em seguida me encarou. Eu podia sentir a qualquer momento que ele poderia voar no meu pescoço e me enforcar. 

— Camila, sobe para o seu quarto que eu e seu irmão iremos ter uma conversa.

Apenas assenti com a cabeça e me levantei rapidamente, coloquei meu prato na pia e respirei fundo. Olhei mais uma vez para Nash que estava com a cabeça baixa e neguei a mim mesma, decepcionada. Subi as escadas e fui direto pro meu quarto, logo me jogando na cama.

Por que ele acha isso? Que eu só infernizo a vida dele? Será que Nash não vê que eu só quero seu bem? Mesmo ele ajudando Nate a entrar em casa e me deixar com medo?

 Meu celular começou a tocar e eu o peguei rapidamente, logo vendo Lauren na tela. 

— Olá. — ela falou animada.

— Oi, Lauren.

— O que aconteceu?

— Nada, só mais uma briga com meu irmão. — suspirei sem ânimo. — Tem como você vir de noite? É que agora eu vou estudar e está um clima pesado aqui em casa.

— Sem problemas. Chego aí de noite. — ela falou. — Tchau, Camila.

Me despedi e em seguida, encerrei a chamada. Respirei fundo e neguei com a cabeça diversas vezes. Peguei minha mochila e retirei o material de Química, peguei meu estojo e comecei a estudar.

(...)

Já estava anoitecendo. Mamãe foi para o trabalho e Nash, como sempre, fugiu de casa. Eu tentava não me importar, mas era impossível. Ele não quer ajuda mas eu não quero que ele acabe com a vida dele. Ele pode ter mil defeitos, pode ter errado demais, porém Nash era meu irmão. Eu nunca deixaria nada acontecer com ele.

Me despertei do transe com a batida na porta. Caminhei até a mesma e encarei Lauren, que estava segurando uma garrafa de vodka na mão enquanto sorria.

— Pra que isso? — perguntei.

— Eu trouxe essa garrafa para nós bebermos. Você anda com muitos problemas ultimamente, vamos beber e esquecer tudo. — ela deu de ombros e entrou em casa.

— Você sabe que eu não bebo, certo? — falei rindo nasalado e fechei a porta de casa.

— Qual é, nunca bebeu nenhum golinho? — neguei com a cabeça. Ela arqueiou as sobrancelhas, surpresa. — Ok, então não vamos beber. Não irei te forçar.

Nós sentamos no sofá e ficamos nos encarando uma a outra. Eu não sei o que estava na cabeça quando a convidei de vir pra minha casa. Eu só queria saber porque ela odiava tanto Jack assim, mas claro que não perguntaria agora, ela se sentiria usada. Então... por que não começar a beber? 

— Mudei de ideia. — falei e ela uniu as sobrancelhas. Peguei a garrafa que estava em cima da mesa e me virei para Lauren, logo sorrindo. — Vamos beber.

Ela arregalou os olhos e soltou uma risada contagiante. 

— Camila bebendo? Essa eu quero ver. — ela disse e tirou a tampa da garrafa. 

Peguei dois copos e ela colocou bebida para nós duas. Lauren ficou me encarando esperando ver minha reação e sem nem pensar duas vezes, virei o copo todo, logo começando a engasgar. O líquido quente passou pela minha garganta queimando, eu quase vomitei. Isso era horrível. 

Lauren virou tudo também. Ok, meu plano era embebedá-la e fazer algumas perguntas. Eu sei que é errado fazer isso, eu estava me sentindo péssima. Mas eu precisava de respostas. 

Lauren ficou enchendo nossos copos. Eu fingia que bebia, ora jogava nas plantas quando ela estava distraída, ora eu trocava os copos. Ela realmente estava ficando bêbada.

— Vamos jogar? — perguntei e ela assentiu com a cabeça, animada. — Verdade ou desafio.

— Eu amo esse jogo! — ela disse e eu sorri. — Eu faço a pergunta primeiro. — assenti. — É verdade que... você tem uma queda pelo Jack Gilinsky? — Lauren perguntou com uma cara maliciosa.

— O que? Não. — falei caindo na gargalhada. Ela me encarou com o mesmo olhar de antes. — Eu juro, eu não gosto dele. Ele não faz o meu tipo. — dei de ombros tentando fingir que não me importava. — Minha vez. — mudei de assunto. — É verdade que você já transou com algum garoto da escola?

— Já, com o Johnson. — Lauren fez careta e eu gargalhei. — Não ria de mim, nós estávamos bêbados. — ela revirou os olhos e riu. — Agora eu vou te desafiar. — ela sorriu maliciosamente. — Eu te desafio a tirar o sutiã.

Arregalei os olhos. 

Ela estava mesmo falando sério? Céus, a Lauren bêbada era maluca. No que eu fui me meter?

— Por debaixo da blusa, é claro. — ela completou e eu suspirei aliviada, logo esboçando um sorriso forçado.

Tirei o sutiã e fiquei apenas com minha blusa, que mesmo assim, era transparente. Dava pra ver nitidamente meus seios, sorte que Lauren não se lembraria dessa noite. Assim eu espero.

— Eu te desafio a tirar a blusa. — falei.

Ela apenas deu de ombros e tirou a blusa naturalmente. Arregalei os olhos, com a sua rapidez e comecei a rir, ela fez o mesmo. Estávamos tão próximas, e Lauren estava tão bêbada. Eu só tomei um gole, e mesmo assim, não estava me sentindo muito bem. 

— Camila... — ela disse se aproximando e eu uni as sobrancelhas. Quando fui me dar conta, nós estávamos nos beijando.

Lauren foi se aproximando cada vez mais de mim, enquanto eu deitava na cama, sem desgrudar nossos lábios. Eu não estava pensando muito no que estava fazendo. Várias coisas se passaram pela minha mente, várias sensações e sentimentos. E isso estava indo longe demais. Eu não gostava de mulheres, na verdade, nunca beijei uma. 

— Lauren, para... — falei entre os beijos, mas ela não me escutou.

Me levantei rapidamente. Respirei fundo diversas vezes enquanto ela arregalou os olhos.

— Meu Deus, isso não tinha que acontecer. — ela disse envergonhada e vestiu sua blusa. — Eu preciso ir.

— O que? Lauren, está tudo bem, foi só...

— Um erro. — ela me interrompeu. — Merda, por que isso foi acontecer? — disse para si mesma.

Lauren bateu a porta do meu quarto vagarosamente sem dizer nada. Eu ainda estava confusa no que acabara de acontecer. 

Apenas deitei na cama e desliguei o abajur. Respirei fundo e fechei os olhos, na tentativa de dormir.

(...)

Hoje meu dia não começou sendo uns dos melhores. Acordei atrasada, minha casa estava sem água, uma espinha nasceu no meio do meu rosto e Nash já tinha ido pra escola. Estava tudo dando errado. 

Terminei de pentear meu cabelo, me encarei no espelho vendo o resultado da maquiagem para esconder a maldita espinha e borrifei perfume no pescoço.

Saí de casa rapidamente, cheguei na escola apenas no segundo tempo. Todos estavam me encarando enquanto riam. Eu não estava entendendo o motivo da piada, mas de acordo com o Jack, eu devia me mostrar forte, que não ligava pra opinião de ninguém.

Abri meu armário e guardei meu material ali. Quando fechei o mesmo, dei de cara com Lauren aos prantos com o celular na mão.

— Lauren? O que aconteceu?

— Você é uma pessoa horrível, Camila. — ela disse enquanto soluçava de chorar. Lauren me mostrou uma foto de nossa se beijando de ontem a noite. 

— Lauren, eu... — gaguejei e olhei ao redor. As pessoas cochichavam entre si e riam enquanto nos encaravam. — Eu juro, eu não sei quem tirou essas fotos. Não tinha ninguém em casa.

— Então me explica como isso foi parar aqui? — ela disse arqueando as sobrancelha. Lauren secou suas lágrimas e respirou fundo. — A escola toda está nos zoando, você acha que...

— Eu não ligo para o que os outros vão dizer. — a interrompi. — Lauren, não ouve o que eles dizem. Apenas ignore.

— Não, você não está entendendo, eles estão me chamando de lésbica e se essa foto chegar nos meus pais, eles...

— Não vai. — falei firme. — Eu vou acabar com isso. Eu prometo.

— Eu espero mesmo, porque acabou, Camila. — uni as sobrancelhas. — As pessoas tinham razão. Você é maluca e só arranja problema pra todo mundo. Eu quero distância de você. 

Ela me olhou com nojo, desprezo. E meus olhos estavam arregalados. Não acredito que isso estava acontecendo de novo. Não podia ser.

Lauren saiu e eu fechei meu armário fortemente, atraindo atenção dos demais. Mordi o lábio inferior evitando chorar e respirei fundo. Fui até o banheiro e tudo que eu escutei foram comentários totalmente ridículos. 

Lavei meu rosto e sequei o mesmo. Me encarei no espelho diversas vezes. Tantas pessoas no mundo, por que isso foi acontecer justo comigo? Por que está tudo dando errado? 

Saí do banheiro e avistei de longe Jack pegando seu material no armário. Caminhei até ele, o mesmo me viu e respirou fundo. Jack literalmente fingiu que não me existia e foi andando pra sua aula.

— É sério isso? — falei alto ao ponto dele ter escutado.

Jack virou para mim e me encarou. Ele olhou para os lados, certificando que não havia ninguém mais ali, já que todos foram pra sua aula.

— Você é lésbica? — ele perguntou.

— Você só pode está brincando comigo... — neguei com a cabeça e ri nasalado. — Eu não sou lésbica, Jack, aquilo foi apenas uma foto. Ontem a Lauren foi pra minha casa, ela acabou bebendo e...

— Por que ela foi pra sua casa, Camila? — ele perguntou estressado. 

— Isso é coisa minha, eu não te devo satisfação de nada. — falei. — Eu só quero deixar bem claro que eu não sou lésbica. E eu preciso de você nesse momento mais do que tudo. Então, por favor, não me deixa.

— Deixa eu adivinhar, a Lauren parou de falar com você também e agora você está sozinha e quer consolo? Sempre eu sou segunda opção, né? — ele riu nasalado. — Eu não sou segunda opção de ninguém! — Jack gritou.

Meus olhos se arregalaram. 

— Eu não ligo se você é lésbica, eu estou decepcionado porque você mentiu esse tempo todo pra mim, você...

— Menti sobre o que, Jack? — gritei de volta.

— Sobre nós! — ele gritou e me prendeu contra a parede. — Caralho, eu estou sempre cuidando de você, te defendendo e você simplesmente beija uma garota?

Revirei os olhos. Ele estava com raiva de mim porque eu beijei uma garota, e não ele.

— Jack, por favor, me entenda... — pedi calmamente. Ambos estavam estressados, com a respiração acelerada. — Eu fiz isso pois queria saber porque a Lauren não gosta de você. Então eu simplesmente a embebedei. Eu sei que foi uma atitude errada, ainda mais sobre o beijo, mas...

— Apenas vá embora, Camila. — ele falou. Arregalei os olhos. — Por favor.

Assenti com a cabeça e saí dali o mais rápido possível. Eu não queria que ninguém me visse chorando. Fui pra casa apressadamente, entrei no meu quarto e me joguei na cama, logo deixando todas as lágrimas escaparem.

 (...)

Estava de noite. Como sempre, eu estava sozinha em casa na sala comendo pipoca e assistindo Netflix.

Ouvi uma batida na porta e olhei pra trás automaticamente. Nash havia chego, e dessa vez ele não estava fedendo a maconha. Eu até perguntaria onde ele estava, porém não estávamos nos falando.

Eu precisava tanto de alguém agora para me escutar. Mas eu não tinha ninguém. Eu estava sozinha. 

— Nós precisamos conversar. — ele disse se sentando ao meu lado. Antes que eu pudesse falar uma coisa, Nash me interrompeu. — Fui eu que tirei foto de vocês duas e mandei pra escola ontem. Eu fiz isso pra poder me vingar de você, pra você se tocar a me deixar em paz, entende? — meus olhos estavam marejados. — Eu me arrependi, sim. Mas não consigo mais voltar o tempo. Então eu peço desculpas e vou falar pela última vez: me deixa em paz. Você segue o seu caminho e eu sigo o meu.

Nash finalizou a frase e foi para o seu quarto. Eu estava imóvel. Sabe quando você fica estática mas sua mente fica gritando? Isso era o que estava acontecendo comigo.

 Nash foi capaz de fazer isso comigo. Mais uma vez um vacilo. Eu sabia que se ele viesse pra cá só teria problemas entre nós dois, e isso está acontecendo.

Me levantei e fui para o meu quarto chorando. Acendi a luz e me sentei na cama. Fechei os olhos, tentando tirar tudo isso na minha cabeça, mas era impossível.

Abri os mesmos e vi que a janela de Jack estava aberta e sua luz acessa. Respirei fundo e fiquei o encarando, até ele perceber da minha existência. Nossos olhares se encontraram por míseros segundos, até ele fechar a cortina e apagar a luz.

Neguei com a cabeça, evitando chorar. Me deitei na cama e fiquei pensando sobre tudo o que estava acontecendo. Hailee se mudou, Lauren não fala comigo, Nash e Nate me odeiam. Agora Jack está decepcionado comigo e não quer mais olhar na minha cara.

Hoje o dia foi péssimo. Eu briguei com todo mundo. E assim vai ser o ciclo da minha vida. Brigando até não aguentar mais. Afinal, pessoas machucadas machucam pessoas. Mas nenhuma delas sabem até quando vai essa dor vai durar.