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História Ainda É Cedo (Um Romance Lésbico, LGBT) - Assim complica


Escrita por: Mari4i20

Notas do Autor


Volteeeeei meus bbs, eae? Como vão as coisas? Tudo certo?

Trouxe um cap que bem... Acho que ficou daora e espero muito (muito mesmo) que vocês também achem legal. Sem muito papo, vamos ao cap, nos falamos no final.

Capítulo 7 - Assim complica


Quando Viviane saiu do banho eu já estava com outras roupas, sentada no sofá com meus óculos escuros, olhando fixa para um quatro com um cigarro queimando entre meus lábios e os braços cruzados. Acho que ela ficou um minuto parada do meu lado para então eu perceber sua presença. Estava com a cabeça tão fora do ar que ainda tomei um susto ao vê-la. Fazer o que, não dava para esquecer que eu a poucas horas estava em uma boate e minha cabeça não teria voltado cem por cento ao normal sem ao menos umas cinco horas de sono.

Meus olhos começaram a percorrer pelo corpo de Vivi e caralho... Como ela era gostosa! Estava com os cabelos loiros molhados, uma calcinha e vestia apenas uma das minhas regatas que sem dúvidas, tinha ficado melhor nela. “cacete Ema... Dessa vez você mandou bem” pude ouvir minha consciência falando.

— Vem cá — disse dando um sorriso um tanto travado, batendo com a mão no assento ao meu lado.

Vivi retribuiu meu sorriso e veio desfilando até mim. Ela parecia ter um dom natural de sedução tipo, dava para ver que era o jeito dela mesmo, não encenação, mas... Que merda eu estava pensando? Desviei daqueles pensamentos. Viviane sentou ao meu lado e então eu acendi novamente o baseado, passando dessa vez para ela fumar. A ideia que rondava minha mente fantasiosa era: dispensar Viviane, descobrir as informações sobre o voo de Lucy, comprar um buquê de rosas para ela e aparecer de surpresa quando ela chegasse no aeroporto. O que poderia dar errado? Aquele era um plano brilhante.

Nós fumamos e então fui levar a garota até em casa. Vivi parecia ter gostado bastante de mim, acredito que se fosse por ela, teria ficado em minha casa até o final do dia, porém, eu tinha meus planos. Inventei uma desculpa qualquer de que teria compromisso e a levei embora. Eu não iria conseguir me concentrar com ela ali.

Até que as tarefas do meu planejamento foram fáceis de cumprir. A única parte mais complicada foi descobrir os horário dos voos de Lucy, mas pela primeira vez, as redes sociais me serviram para alguma coisa. Passei meu domingo praticamente inteiro em função da loira e agora encerrava meu dia comendo um miojo, sentada que nem um indiozinho na cama. Eu assistia a um episódio de Largados e pelados já que não estava passando Trato Feito, quando ouvi meu celular apitar do outro lado da cama. Só pelo som de guitarra que ele fez eu sabia que era uma mensagem de Alex. Mais uma, até porque ele já havia me mandado umas vinte durante a tarde. Coloquei a tigela vazia ao lado da cama, apaguei a televisão e dei uma última checada no despertador do meu celular antes de deitar com a cabeça no travesseiro, ignorando totalmente as mensagens do rapaz. Eu sabia que ele devia estar me xingando por não ter ido lá no estúdio e para dizer a verdade, não estava com paciência para ler... amanhã se eu aparecesse lá com um dos meus megabecks bolados ele esqueceria tudo na hora e já ficaríamos de boa de novo. Fechei os olhos pensando em tudo que eu havia feito e tudo que ainda iria fazer no dia seguinte e acabei adormecendo com a imagem de Lucy na minha mente.

Acordei seis e meia da manhã com a música B.Y.O.B – SOAD tocando e bem... Não da pra ficar na cama por muito tempo com aquela música a toda altura do outro lado do quarto. Quem já usou System Of A Down como despertador vai entender o que quero dizer...

Levantei da cama em um pulo, liguei o som na minha playlist “Acordando com gosto” e fui direto para o banho. Deixei a água escorrer pelo meu corpo por um bom tempo enquanto pensava que talvez tudo que tinha planejado não tivesse sido uma ideia tão brilhante assim. Sai do box com um pouco menos da confiança que estava na noite passada. Vesti uma bermuda cinza até o joelho, uma camiseta polo preta e meu adorado Adidas branco nos pés. Penteei meu cabelo num estilo “Joãozinho arrumado”, coloquei minhas correntes de prata (pra combinar com os piercings), meu boné e por último... Passei meu perfume favorito, o que só usava em eventos especiais.

Respirei fundo ao me ver no espelho. Comigo não tinha essa de um dia hominho e outro lady, meu estilo era o que eu estivesse afim de usar e eu não dava nome a ele justamente para poder usar todos os que eu quisesse. Ajeitei a gola da camisa enquanto reparava na tatuagem feita no dia anterior, tinha ficado perfeita e como todas as outras que eu já havia feito, ela não estava dando nenhum sinal de rejeição do corpo. Apliquei uma pomada e cobri novamente com plástico filme. Peguei meu capacete e chaves da moto, mas antes de sair me veio uma dúvida, será que eu dava uma bola no beck ou ia de cara? Afinal, aquele era um momento onde eu precisava de foco e confiança em mim mesma, talvez fumar fosse me deixar insegura. Dane-se eu fumaria mais tarde. Lucy iria gostar de saber que eu estava dando um tempo (de umas três horas...) por causa dela. 

Cheguei no estacionamento e fui caminhando a passos largos até minha moto, mas antes de subir tive que dar uma analisada na garota... Até porque porra! Ela era muito linda! Não tinha como olha-la e não se apaixonar. Era uma Kawazaki Z750 branca que eu havia comprado com ajuda do meu pai... A imagem dele veio na minha cabeça e me lembrei do compromisso de passar na empresa antes do anoitecer para assinar logo o que tivesse para mim e poder ir para casa sossegada. Soltei um suspiro, por mais que fosse bom “trabalhar” na empresa do meu pai ou melhor... receber na empresa do meu pai, eu meio que nem sentia aquilo como um serviço e sim como um método do meu pai de me dar dinheiro sem precisar dizer que estava me dando, propriamente.

Desviei daqueles pensamentos. Agora meu foco tinha um nome: Lucy. Dei partida na moto e sai a caminho da minha última parada antes do aeroporto. Uma das melhores floriculturas de São José. Eu havia encomendado com uma atendente de voz sensual, um buquê de rosas laranjas, iguais as que eu tinha visto na foto de Lucy, aquelas eram as favoritas dela. Procurei por entre os corredores enormes de plantas e flores a tal atendente. Eu não lembro exatamente o nome dela mas se ouvisse a voz, com certeza reconheceria... Vocês já ouviram falar em tele sexo? Então, ela deveria trabalhar com isso e não em uma floricultura.

— ...e essas são as Camélias amarela, minhas favoritas só para constar — ouvi a frase seguida de um riso e logo reconheci a voz de quem estava falando.

 Era a tele sexo.

Andei até o corredor onde ela estava e bem, sabe quando a pessoa não tem nada a ver com a voz que tem. Então... Já da pra imaginar o tribufu que apareceu. Uma mulher bem baixinha com os cabelos platinados e um nariz que me lembrava um pouco um tucano pôs seus olhos sobre os meus e eu quase dei um pulo. Ela até tinha um corpinho legal, mas de resto... Estava escrito Sueli no crachá de seu avental e automaticamente meu cérebro lembrou do nome.

— Bom, eu vou dar mais uma olhada e te chamo quando escolher — o homem que ela estava atendendo disse antes de seguir caminhando para outro corredor.

A tele sexo Sueli se aproximou de mim com um meio sorriso, ajeitando o decote da blusa a baixo do avental. Retribui seu sorriso por educação desviando os olhos de onde ela queria que eu provavelmente olhasse.

— Bom dia em que posso ajuda-lo? — ela perguntou pensando que eu era um homem... (risos) sempre que isso acontecia eu não sabia se deixava a pessoa continuar pensando ou falava a verdade. Tudo bem que eu não tinha peitos, mas porra...! Qual seria o nome que eu inventaria dessa vez?

Deveria ter sido por isso que ela veio toda se querendo até mim.

— Então tele... Sueli! — pus a mão na cabeça percebendo a merda que quase saiu da minha boca, eu precisava perder essa mania de apelidar todo mundo mentalmente. 

Isso era culpa de Iago. 

— Ontem de tarde nós conversamos pelo telefone sobre um buquê de rosas laranja.

Ela fez uma cara de confusa e jogou o cabelo para o lado.

— Humm... Vamos dar uma olhada na agenda da loja — confirmei com a cabeça a seguindo até o caixa — Todos nossos pedidos ficam armazenados aqui — ela abriu um diário cheio de anotações a caneta e parou no dia de ontem — em nome de... Ema? — levantou os olhos lentamente até ir de encontro aos meus.

Acho que ela estava tentando flertar comigo.

— Esse mesmo! — confirmei.

— Sua namorada? — ela deu outra jogada no cabelo e comecei a pensar que talvez ela estivesse com torcicolo ou algo do tipo.

— Sim, vamos fazer cinco anos hoje — menti abrindo um sorriso com os olhos fechados — Ema é a mulher dos meus sonhos.

— Ah, sim... — ela abriu um sorrisinho torto — Espera aqui um momentinho enquanto eu busco seu buquê... Hmm... — ela franziu o cenho. — Qual seu nome mesmo?

— Marcos! — disfarcei o riso arrumando meu boné na cabeça.

— Só um momentinho então Marcos — saiu rebolando pelos corredores.

Fiquei lá parada cerca de uns dois minutos até que Sueli voltou segurando um buquê de rosas laranja, enorme nas mãos. Okay, era maior do que eu esperava? Muito! Mas dane-se. Paguei as rosas no cartão e já sai rápido tentando fugir da loja, mas Sueli veio me acompanhando até a porta.

— Até mais... 

Pus o capacete confirmando rapidamente com a cabeça, tentando achar um motivo para parar de responder mas a platinada simplesmente não calava a boca.

— Ei! Só mais uma coisinha — me virei para ela novamente, acho que pela sexta vez — posso te adicionar no Face?

Revirei os olhos por baixo do espelhado do meu capacete. O mulherzinha chata que era essa tal de tele sexo Sueli. Levantei a viseira dando um sorriso para ela que me retribuiu na hora com mais uma das suas jogadas de cabelo. Ela só podia estar com torcicolo. Não tinha outro motivo. 

— Claro! Procura lá, Marcos da Silva! — teria só alguns poucos milhões para ela ficar olhando.

Dei partida na moto e sai carregando aquelas flores dentro de uma sacola. Massa, como não estraga-las indo de moto de São José até o sul da Ilha em Florianópolis? Hmm, eu devia ter pensado nisso antes. Olhei no relógio em meu pulso e eram sete e dois. Pelas contas que eu havia feito e pela foto que Lucy havia postado com as passagens na mão, a troca de voo já devia ter sido feita em São Paulo as seis e meia e agora ela já estaria vindo para cá.

Entretanto, quando estava cruzando a ponte Hercílio Luz para entrar na Ilha, um certo pânico começou a me incomodar. Acho que finalmente caiu a minha fixa de que eu estava prestes a chegar em frente a Lucy depois de dois anos sem termos trocado nem se quer uma mensagem. Sem saber como estava sua vida, se estava namorando, ou nada do gênero. Aqueles pensamentos me acertaram como uma caminhão, transbordando minha mente, me fazendo querer apenas virar a volta da moto e voltar para o meu apartamento, de onde eu nem deveria ter saído, mas não... 

Eu já estava ali, e não iria voltar atrás. A sensação que tive indo até ao aeroporto era de que a cada cem metros que eu percorrida um pensamento ruim me fazia querer voltar, mas continuei, até estar reduzindo a moto para deixá-la no estacionamento do aeroporto. Minha cabeça já estava um turbilhão mas como ainda eram sete e meia e o voo estava previsto para chegar as sete e quarenta, com mais o tempo do desembarque e as coisas todas, talvez eu tivesse alguns minutos extras para comprar um cartão e escrever alguma coisa para Lucy.

Entrei na primeira loja que vi vendendo cartões e escolhi um de dois gatinhos se lambendo. Pensei que talvez ela fosse gostar. Passei cerca de uns dez minutos tentando escrever uma coisa legal, mas eu não sabia nem por onde começar. Escrevi o que veio na minha cabeça na hora, dobrei o cartão e coloquei dentro do buquê. 

Seja o que Jah quiser.

Comecei a andar para o desembarque e os olhares das pessoas sobre mim de certa forma estavam me incomodando. Qual foi? Ele nunca viram alguém se declarar antes não. Bando de mal amados. Sentei em uma cadeira não tão perto e nem tão longe do corredor que Lucy chegaria. E fiquei lá esperando com as mãos apoiadas nas pernas e os pés batendo freneticamente no chão. 

Como se meu nervosismo já não fosse o suficiente, ouvi algumas vozes familiares se aproximando e ao me virar dei de cara com os pais de Lucy e... Sua prima?! Uma onda de raiva me atingiu deixando todo aquele nervosismo de lado. Virei o rosto rapidamente escondendo abaixo do boné. 

O que a vadia da Amanda estava fazendo aqui?!

Uma das poucas vezes que briguei na minha vida, foi por causa de Lucy, com aquela ruiva sem noção. Ela me irritava e sempre tentava achar um jeito de fazer eu parecer a ruim e ela a boazinha, as vezes ela ainda tirava proveito por eu ser apenas a “amiga” de Lucy, enquanto ela era a prima e quando eu caia em suas armadilhas e respondia, a loira ainda ficava brava comigo. Eu não sei dizer se era coisa da minha cabeça mas sempre senti que ela tinha uma queda pela Lucy, era o único motivo pra ter uma cisma tão forte comigo.

Acompanhei com o olhar os passos dos três, eles pararam em pé ao lado contrário ao meu. Sérgio e Anna nem olhavam na minha direção, prestavam atenção apenas no mesmo corredor que antes eu estava focada, o único problema se chamava Amanda, e ela parecia já ter me notado pois toda hora dava nem que fosse uma olhadinha pro meu lado. Eu só não sabia se ela já tinha percebido que era eu, se ela tinha me achado bonita, ou se estava olhando apenas por conta do buquê gigante e chamativo que eu carregava. Ainda tinha mais uma, ela poderia ter me achado um homem atraente que nem a tele sexo Sueli... Entretanto, todos meus pensamentos se dissiparam quando percebi as expressões sorridentes dos pais de Lucy e me virei para a direção que eles olhavam. Foi como se meu coração parasse de bater por alguns segundos e as falas e frases que eu havia tanto praticado mentalmente, se foram no mesmo carro que meus pensamentos.

Lucy estava simplesmente... Maravilhosa...! Não era mais aquela adolescente duvidosa que eu conhecia, pelo menos, não parecia... Com os cabelos presos em um rabo de cavalo alto, uma camiseta social rosa claro, uma calça branca e um par de coturnos bege, a garota levantou os óculos escuros — que ainda eram os mesmos que eu havia escolhido com ela no último verão que passamos juntas, o que me deixou surpresa. E sorriu indo em direção aos seus pais. Ela não tinha me visto mas eu com certeza não havia tirado os olhos dela dês do momento em que a vi vindo cheia de malas por aquele corredor. Um mar de sensações nostálgicas me atingiu, me fazendo lembrar de cada um dos momentos que passamos juntas, até chegarmos no hoje, para ser mais exata, no agora.

Depois de vários abraços, até alguns que eu achei um pouco desnecessários com sua prima — que estava mais melosa do que o normal, finalmente a batalha interna da minha mente teve um vencedor e eu decidi agir. Engoli em seco e me levantei da cadeira, até porque eu não vim aqui para ficar olhando ela se reencontrar com os pais dela, vim para eu me encontrar com ela.

Tirei meu boné e ajeitei a gola da minha camiseta tudo para tentar ficar o mais apresentável possível para ela e seus pais, então fui caminhando, nervosa e um pouco... envergonhada, não sei bem como dizer. Era como se eu andasse mais não saísse do lugar, tudo parecia estar em câmera lenta. Ela estava de costas para mim com Amanda abraçada... Seu pai estava pegando suas malas e Anna que foi a primeira a me ver. Abri um sorriso para ela, que me retribuiu aparentemente surpresa e falou algo para Lucy que só consegui entender o “Ema” nos seus lábios. Meu coração bateu acelerado quando a loira começou a virar lentamente como se não tivesse acreditado no que acabará de ouvir. Abri mais ainda meu sorriso querendo demonstrar toda a felicidade que eu sentia por vê-la entretanto, antes que ela se virasse completamente pra mim Amanda a puxou de volta, grudando um beijo nela, bem na minha frente.

Senti como se tivesse acabado de tomar um soco na cara. Meu sorriso se desfez e meu corpo ficou pesado, como se minhas pernas não conseguissem mais sustenta-lo. Tudo se encaixou na minha cabeça e eu me vi a pessoa mais imbecil do planeta. Elas deviam estar juntas... Era óbvio! Lucy nunca deveria ter parado de falar com Amanda e era por isso que elas estavam tão íntimas, se abraçando e cheias de sorrisinhos uma para a outra. Como eu fui burra! PUTA QUE PARIU! Parei de andar no mesmo instante e virei a volta antes que Lucy tivesse coragem de me olhar nos olhos. Que patético... E eu ainda comprei flores para ela...!

Enfiei aquele buquê ridículo e gigante com cartão e tudo dentro da primeira lata de lixo que avistei no aeroporto e sai logo daquele lugar escroto. Os olhares em cima de mim apenas esfregavam na minha cara a humilhação que eu havia acabado de passar. Minha vontade era de mandar todos aqueles arrumadinhos para a puta que pariu, mas me contive e apenas coloquei meu capacete. Subi na minha moto e acelerei querendo deixar tudo aquilo para trás. Eu precisava tomar um rumo da minha vida.


.° Lucy °.


Voltar de uma viagem longa ou de um intercâmbio é praticamente a mesma coisa... a mesma sensação eu quero dizer. Você meio que dá um stop na sua vida, passa a viver outra realidade, depois simplesmente da tchau, volta e da o play de novo, continuando tudo que havia parado. Se você acha que seus problemas são esquecidos... sinto lhe dizer que não. Eles voltam no momento em que você sobe no avião para ir embora. E comigo, também não teria porque ser diferente. Eu simplesmente não sabia o que fazer quando chegasse em casa. Fui viajar fugindo de uma situação e agora voltar pra ela... é complicado.

Certo, preciso organizar meus pensamentos. O que eu fazia antigamente? Bom... Eu ficava a maior parte do tempo com a... meus amigos. Legal... Para ser bem franca, minha amiga. O problema é, não sei se ela iria querer falar comigo. Ema sempre foi... Apertei meus olhos desviando daqueles pensamentos. Que coisa, eu deveria estar pensando nos meus pais e na minha prima também, que estarão me esperando no aeroporto e não em Ema. Se eu a conheço bem, sei que nesse meio tempo ela deve ter aproveitado para pegar todas as garotas e até garotos que ela tivesse achado no mínimo interessantes e... Droga, já estou eu de novo pensando nessa garota... Argh.

Me ajeitei na cadeira do avião tentando não chamar a atenção do cara ao meu lado. O mano simplesmente não calou a boca dês do momento em que entramos no avião e acho que teria continuando falando se eu não tivesse inventado a desculpa de ir ao banheiro. Tudo que eu não precisava agora era que nos últimos cinco minutos de viagem ele voltasse a me incomodar. Ninguém merece ficar ouvindo cantadas atoa. Tirei meus fones e comecei a guardar minhas coisas dentro da bolça silenciosamente. Não sei porque mais eu estava com um pressentimento estranho sobre esse reencontro, sendo que eu devia era estar muito feliz... O homem do meu lado se espreguiçou me fazendo desviar os pensamentos. Legal. O rapaz de aparentemente uns vinte e cinco anos abriu os olhos e já os mirou em mim. Fechei os olhos por um instante. Se acalme Lucy.

— Já estamos em Floripa?

Respirei fundo, a aeromoça havia avisado a uns dois minutos que iríamos pousar, até parece que ele não ouviu.

— Já vamos pousar! — disse brevemente desviando o olhar dele mas o cara era insistente.

Tudo bem... ele não era feio, mas mano... Eu sou lésbica carai, não tem coisa pior do que esses sem noção que acham que só porque tem um rostinho bonito conseguem ficar com todas as mulheres do mundo. Ta louco!

— Ei. — me virei com o pique da mulher do exorcista, mas ele ainda assim abriu um sorrisinho pra mim. — Eu te achei tão interessante... — franzi o cenho, me achou interessante? Sendo que eu não falei absolutamente nada sobre mim. Hmm. — ... E acho que a gente devia sair agora, ou você me passar seu telefone. — Ele botou a mão na minha coxa e eu não me aguentei.

Minha política de não falar palavrões teria uma pausa de cinco minutos.

— Que merda você ta fazendo garoto?! — o homem me encarou assustado... vou fazer o que? Não mandei ele por a mão na minha perna. — Tira a mão da minha perna! Você ta ficando louco? —

— Qual foi garota eu só queria te convidar pra sair! — ele tirou a mão usando um tom de voz que só me deixou mais estressada.

— Convidar pra sair o caralho! Primeiro que eu sou lésbica! — ele arregalou os olhos para mim e mais umas duas pessoas na nossa fileira também. — É isso mesmo, lés-bi-ca gosto do que? De bo-ce-ta o mesmo que você... legal né. — dei um sorriso cínico para ele e olhei nos olhos das outras pessoas que logo já de desviaram o olhar.

— Ah... foi mal... eu... desculpa é que você não tem cara de lésbica!

Senti meu cérebro virar um nó dentro da cabeça. Em que século aquele cara estava?

— Teoria legal essa, você também não tem cara de imbecil e olha que surpresa...!

Ele fechou a cara e virou de novo para o lado. Finalmente... Melhor jeito de voltar para o Brasil? Impossível.

O avião pousou e só me faltou sair correndo daqueles assentos. Uma das coisas que eu iria sentir falta do Canadá, com certeza era a educação do povo.

Pus meus óculos escuros antes de sair do avião e confesso que pisar no chão do estado onde moramos depois de todo esse tempo é uma sensação estranha mas daora. Um ventinho atingiu meu rosto mas o sol estava tão forte que mal deu pra sentir o frescor dele. Segui para a área do desembarque, ainda precisava pegar minhas malas.

É difícil descrever exatamente o que eu sentia, mas digamos que era uma mistura de pavor, ansiedade e alegria. Tudo misturado além do pressentimento que algo daria errado. Avistei minhas malas vindo na esteira e corri para pega-las. Fiz o checkin e finalmente fui “liberada” para poder ver meus pais. Pelo que eu já havia conversado com minha mãe, ela meu pai e Amanda estariam me esperando no corredor do desembarque. Respirei fundo enquanto caminhava naquela direção. Eu queria tanto vê-los. Depois de dois anos apenas trocando beijos via chamada de vídeo, nada melhor do que dar um abraço bem apertado. De longe avistei uma mulher de cabelos curtos sorrindo e a reconheci na hora. Minha mãe era com certeza a mulher mais querida do planeta. Eu estava com saudades daquele sorriso reconfortante dela. Larguei minhas malas quando já estava mais próxima deles e corri para abraçá-la.

— Lucy você está tão linda! — minha mãe estendeu os braços esperando meu abraço.

— A senhora que está mãe, parece até que ficou mais jovem depois desses dois anos. — ela riu para mim, negando com a cabeça.

— Luuucy! — Amanda deu um beijo em minha bochecha e um abraço.

Retribui seu abraço e fui logo cumprimentar meu pai , estava com saudades do seu sotaque enquanto me dava sermões.

— Minha pequetitinha, cresceu. — ele me deu um abraço que praticamente me cobriu por inteiro.

— Pois é... — sorri para ele ainda o abraçando.

— Deixa eu pegar suas malas pra gente ir logo para casa. — ele se desvencilhou de mim.

Apontei para onde elas estavam.

— Obrigado pai, eu tô ansiosa para ir.

Voltei a atenção para minha mãe enquanto ele buscava minhas coisas.

— É muito louco voltar para cá depois desses anos. — disse olhando minha mãe que parecia estar mais bonita do que nunca.

— É muito bom ter você de volta filha! — ela passou a mão nos meus cabelos.

— Você não sabe como foi corrido para a gente chegar aqui na hora Lucy. — Amanda passou os braços em torno do meu pescoço. — Seu pai quase bateu o carro. — ela soltou uma risada nasal.

Tive que rir também, até porque conhecia meu pai quando estava dirigindo com pressa.

— Sabe como é... Sérgio com pressa... É melhor sair da frente. — disse e todas nós rimos até que reparei que minha mãe ficou séria e voltou a sorrir novamente com alguma coisa que ela via atrás de mim.

— Lucy, acho que alguém veio lhe rever também. — ela disse.

— Como assim mãe, quem? — perguntei confusa.

— Ema. — ela respondeu e na hora meu corpo reagiu aquele nome.

Uma descarga elétrica passou pelo meu corpo e na hora tudo na minha volta perdeu o sentido, eu precisava apenas ter certeza se o que minha mãe havia dito era verdade. Mesmo nós tendo passado tudo o que passamos eu estava disposta a esquecer, se ela estivesse também. Afinal, eu nunca esqueci Ema em nenhum minuto que estava no Canadá, eu me envolvi e conheci pessoas diferentes, mulheres diferentes, mas parecia que eu estava sempre procurando Ema dentro de outros corpos. Tanto tempo reprimindo aquele sentimento não adiantou em nada, pois tudo voltou como um bomba no exato momento em que ouvi seu nome saindo da boca da minha mãe. E agora, saber que ela estava ali, de verdade atrás de mim, foi a melhor notícia que poderiam ter me dado.

Me virei para rever aquela garota rebelde e engraçada que eu conhecia e amava tanto, mas antes que eu pudesse olha-la diretamente nos olhos, Amanda me puxou pelo braço e me beijou sem meu consentimento. Tentei me soltar na hora mas ela ainda segurou meus braços me forçando a continuar aquilo. Mas que droga a Amanda estava usando? Me soltei dela e a empurrei para longe.

— O que deu em você garota?! — esbravejei pasma com o ato, mas lembrei do que estava indo fazer e me virei por completo.

— Lucy já faz muito tempo que eu sinto isso... — ela começou a se declarar para mim mas eu simplesmente não ouvi nada do que ela disse a partir do momento em que vi uma morena tatuada andando em direção a saída com um buquê enorme de rosas laranja na mão.

Ela estava com o cabelo curto, mas eu reconheceria aquelas tatuagens e aquele jeito de andar em qualquer lugar. Meu coração se apertou. Conhecendo Ema, eu sabia que ela deveria ter entendido tudo errado.

— ...e é por isso que eu fiz o que fiz. — Amanda terminou de falar sei lá o que ela estivesse falando.

Deixei todos aonde estavam e comecei a correr atrás daquela garota. A quantidade de pessoas que haviam no aeroporto dificutavam minha visão mas mesmo assim tentei encontra-la por entre eles. Que merda...! Eu precisava explicar o que aconteceu, precisava vê-la e toca-la. Por que Amanda tinha que fazer uma cagada daquelas? Que inferno! Sai de dentro do aeroporto onde a última coisa que vi foi uma Kawazaki branca acelerando. Eu até não conseguia reconhece-la pela moto e o capacete espelhado, mas a tatuagem do gato risonho na panturrilha esquerda não me deixou dúvidas de quem era.

Minha fixa caiu do que realmente tinha acabado de acontecer e bem... Não tinha pior jeito de eu retornar pra casa. Minha garganta ficou apertada. Senti uma lágrima descendo pelo meu rosto e me virei para voltar para perto dos meus pais quando senti que as pessoas já estavam me olhando demais. Quando estava indo entrar novamente no aeroporto reparei que aquele buquê de rosas laranja que Ema segurava estava enfiado dentro de uma lata de lixo. Caminhei até ele. Rosas laranjas... Tive que sorrir sozinha. Ela sabia que aquelas eram minhas favoritas. Peguei o enorme ramo de dentro do lixo e um cartão com dois gatinhos se lambendo caiu de dentro dele.

Juntei o pequeno objeto do chão e o abri para ler.

Lucy,

Bom eu... não sei nem por onde começar... decidi te escrever essa carta pois pra mim esse foi o método mais conveniente. Eu posso estar parecendo um pouco seria, mas queria que você visse o quão nervosa eu tô para por no papel essas simples palavras...

A questão é que depois de todo esse tempo, (bem mais do que o necessário) eu finalmente percebi que você é a mulher da minha vida...

Tive que sorrir sentindo minha garganta voltando a ficar apertada, era impossível ler aquilo sem ouvir a voz de Ema narrando. Fechei os olhos por um segundo antes de voltar a ler.

Eu percebi que você é a pessoa mais importante para mim loira... Sabe o que é pensar pelo menos uma vez por dia no seu rosto durante setecentos e trinta dias? Então... Lucy eu me arrependo de não ter te pedido pra ficar, me arrependo de não ter ligado e nem mandado uma mensagem. Mas você sabe como eu sou orgulhosa e até eu precisei reconhecer esse erro.

Me encostei na parede ao lado do lixeiro mesmo, eu estava precisando de um apoio.

Eu sei que pode parecer meio coisa de novela... um pouco romântico demais pra mim, mas é como se você fosse o sol (o meu sol) e eu um simples planeta que precisasse estar na sua órbita para poder sobreviver.

Não consegui segurar o choro. Não tinha nada de romântico de mais... pra mim era indescritível poder finalmente entender os sentimentos que Ema tinha por mim. Ainda mais da forma como ela nos via... Pode até parecer bobagem mas pensar que agora ela nunca mais me falaria nada desse tipo era doloroso.

Eu senti sua falta. Senti falta do seu cheiro, dos seus cabelos e até das suas roupas, haha (não me mate por isso) e bem, para mim não prolongar muito essa carta, queria saber se você aceita sair comigo essa noite? Pra nós finalmente conversarmos. Prometo ser uma Ema um pouquinho mais madura do que eu era antes... você topa?

Abracei a carta. Era claro que eu toparia sair com ela mas agora não importava mais nada disso pois seria muito difícil faze-la esquecer o que viu. Ema era o pior tipo de pessoa para essas coisas, mas eu também não podia simplesmente deixa-la pensar o que quisesse. Eu daria um jeito de provar que não consenti o beijo. E Amanda é quem estará comigo nessa hora. Falando na ruiva. Eu precisava ter uma conversinha bem seria com aquela garota.


Notas Finais


Entãããão hehehe o que vocês acharam? Desculpem a demora gente. Eu sou péssima pra essas coisas, acho que já deu pra perceber... Mas mudando de assunto, a notícia boa (nem tão boa assim pra mim) é que o Espirit excluiu a minha outra fic EEEEH! Só que não. Então só de raiva (brinks, porque tinham mais leitores naquela do que nessa e eles devem ter ficados sem entender nada) eu decidi só reposta-la mais pra frente e agora vou ter foco total na Ainda é cedo. E mais, eu comecei um terceiro projeto, que já escrevi alguns capítulos mas só vou postar mais além também, que até vai se chamar, "Meia Irmã" e aqui vai a sinopse, para quem se interessar.

Beijos para quem não tiver interessado. Até o próximo cap! 😚💕


"Meia irmã"

Você já ouviu dizer que quando alguém quer muito alguma coisa, o universo inteiro conspira ao seu favor...? Pois é, para ser bem franco... eu não levava esse papo muito a sério, eu nunca fui aquele tipo de cara que fica fantasiando as coisas na cabeça e vive num mundo paralelo. Meu pensamento sempre foi racional, de que o mundo é o mundo e se você não entrar de cabeça e mostrar quem realmente é pra ele, terminará seus últimos dias sentado em uma cadeira, velho, pensando em todas as coisas que poderia ter feito e não fez.

A questão é, meu pensamento teria se mantido o mesmo, forte, intacto e aparentemente inabalável, se Corah Diaz não tivesse cruzado meu caminho em apenas mais umas das minhas noites de diversão e insanidade. Tudo não teria passado de uma foda sensacional... se o destino não tivesse misteriosamente decidido que a partir de agora, eu seria obrigado a chama-la de... meia irmã.

Prazer, meu nome é Jason Walker, tenho vinte anos e... se você aceita um conselho meu, cuidado com as coisas que você deseja demais, o universo realmente conspira ao seu favor, só nem sempre é exatamente como queremos.

Gostaram? Eu sei que é bem diferente (totalmente) mas estou adorando escrever sobre o Jason, ele me lembra a Ema em algumas coisas, já em outras... Nada a ver.

Beijos para quem leu também! É noois pinguços! 😎💕😚


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