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História Além da aparência - Além da dor


Escrita por: Annaliju

Notas do Autor


Voltei
risos
sempre atrasada, perdão
gente ESTE CAPÍTULO PODE CONTER GATILHOS A PESSOAS COM TRANSTORNO BIPOLAR, DEPRESSIVAS E COM TENDÊNCIAS SUICIDAS, por favor caso sinta-se DESCONFORTÁVEL pare a leitura.
Boa leitura, mores

Capítulo 3 - Além da dor


Capítulo 3 

Além da dor


Sasuke Uchiha era um covarde. O que era um grande contraste e ironia com sua ex-profissão. O homem que saltava de aviões em movimento, entrava em buracos debaixo da terra, além de atuar em guerras e desarmar minas, estava com medo de atravessar a rua e ir na pequena cafeteria tomar café. 


Nessa última semana que se passou, ele se sentiu como um rato dentro de sua toca.


 E não só bastava essa contestação ser mentira, porque ele não estava com medo da cafeteria, Sasuke estava com medo de uma mulher que ele chamou de baixinha e possuía um senso de moda exatamente duvidoso, além de cabelo cor de rosa. Possuía certeza que de todas as características que ela tinha, ser alguém que amedrontava pessoas não estava nelas. Muito menos um homem feito como ele. 


A questão falava mais sobre si mesmo. Não era uma pessoa de risadas, nem de puxar assunto e fazer perguntas. Sasuke era do tipo que recorria as palavras monossilábicas e muitas vezes isso era uma indireta para a pessoa manter-se calada. O problema foi que ele gostou de ouvir as coisas que ela tinha a dizer e estava sutilmente interessado e curioso nas partes que ela não externava. 


E ele não gostou disso. Sasuke estava fechado desde o dia que saiu de casa, e para todos os tipos de relacionamentos. A questão era bastante simples, se você não gosta de alguém, você não sofre com a perda. Um homem que andou do lado da morte durante muito tempo, sabe que o maior sofrimento é para quem fica. Quantas notícias ele já deu para esposas apaixonadas que seus maridos não iriam voltar? Quantas vezes viu os filhos destes agarrarem a mãe com medo de perdê-la também? A dor da perda é dolorosa e ele não era alguém saudável para senti-la novamente. Mesmo que seu interior se derrotasse com a certeza que em algum momento, ele teria que presenciar mais uma cena de enterro novamente. 


Foram esses os motivos que o fizeram andar dois quarteirões e fazer compras o suficiente para uma semana — apenas besteiras e comidas congeladas e gordurosas —, afinal ele precisava mesmo era ir ao mercado. Entretanto, as dores do membro fantasma começaram a visitá-lo novamente, o fazendo recorrer a anestésicos e o lembrar sutilmente que precisava voltar às consultas. O problema, era que estava sem forças. Dentro de sua alma corrompida e seu âmago escuro, Sasuke Uchiha às vezes sentia a necessidade enorme de não viver. Para ele sua existência nada mais era que uma alma vazia dentro de um corpo marcado. 


Sua mente mergulhava em uma profundidade assustadora de escuridão e ele se sentia incapaz de sair. Era como uma queda livre que nunca acabava. As lembranças do acidente remoía em sua mente, as violências da guerra arrepiavam seu corpo. Não houve sequer um dia que ele não acordou gritando, seja da dor interna ou mental. 


Foi uma semana de recaída e dores. As lembranças lhe atingiam como flechas envenenadas, uma vez que o toque durava horas sobre o efeito, se remoendo, o matando de dentro para fora. Sua tristeza e amargura eram tão profundas que chegava a lhe faltar ar, doía o peito, serpenteava seu corpo. Ele se tornava imóvel, incapaz. Não comia, não bebia, não tomava banho e nem falava. 


E o que fazia ter forças para tomar os remédios e ligar para sua, agora ex, médica, era um motivo tão sórdido e dolorido quanto ele. Sasuke Uchiha vivia pelos mortos, tanto os que ele mesmo matou, quanto aqueles que eram amados por si e foram mortos — também por culpa dele, em sua mente deturpada — na sua frente. 


Ele era alguém quebrado e estar perto, mesmo que por pouco tempo, da vivacidade de Sakura, lhe trazia medo de a contaminar com todas as suas faces tristes e traumatizadas. 


Sasuke queria viver. Entretanto, não conseguia lidar com suas próprias escolhas e atitudes, porque não importa como, todas elas fizeram alguém que ele gosta — ou até ama — sofrer. 


A verdade é que essa montanha russa de emoções era comum para ele, após tudo que passou, tinha desenvolvido transtorno de bipolaridade. Haviam dias ruins, como esta semana, que nem

mesmo conseguia comer, e dias bons, onde parecia uma pessoa minimamente normal. 


Levantou-se da cama e se sentiu tonto, com o corpo fraco e pesado. Andou até a cozinha e enfiou uma única torrada e um pouco de geleia na boca a contra gosto, não possuía fome nenhuma. 


Rumou até o banheiro para fazer suas higienes e tomar banho. Colocou a camisa de manga e a calça e o tênis e saiu do apartamento. Diferente dos outros dias, o sol estava forte e o clima era consideravelmente quente. Por alguns instantes se sentiu tonto e consideravelmente enjoado, seu estômago revirou e um arrepio percorreu seu corpo. Ele ignorou. Hoje iria ao supermercado sem falta, precisava comer uma comida saudável e voltar a ter uma rotina, ou não iria durar tanto.


Começou a caminhar de forma tranquila, se lembrava mais ou menos onde tinha um bom supermercado ali perto, pesquisou tudo antes de se mudar e antes disso morou nessa cidade por dezoito anos. 


Quanto mais longe de casa ficava, mais se arrependia. Seu corpo parecia letárgico e ele estava arrepiado dos pés a cabeça, tendo calafrios. Seu estômago resmungava como um senhor de idade e sua visão parecia estar ficando embaçada. 


Foi atravessar a rua e no mesmo momento se sentiu tonto, incapaz de mover mais um músculo. Sasuke conseguiu escutar a buzina e o cheiro de borracha sendo arrastado. Entretanto apenas conseguia concentrar-se na sua bile que parecia estar no lugar errado. 


— Sasuke! — Um toque e chamado o tirou de seu estupor. Ele abriu os olhos. — Meu Deus, você tá bem? Tá pálido! Não, praticamente está verde! — O Uchiha apenas encarava a mulher baixinha à sua frente com confusão. Como deu de cara com a única pessoa que não queria encontrar? — Você precisa ir para o hospital.


— Não. — Sua voz soou com dificuldade e áspera, ela recuou fazendo uma careta. 


— Como não? Você está da cor do Mike Wazowski. — Franziu o rosto, quem? — Vem comigo. — Ela passou seu braço pelo ombro. 


O ajudando a atravessar a rua, ele apenas conseguiu ver a sacada de um prédio rosa, e entrar em um elevador, que o deixou mais enjoado. A garota abriu uma porta de madeira e nem esperou mais nada, apenas o direcionou até o banheiro. Sasuke jamais imaginou que teria novamente alguém segurando partes do seu cabelo enquanto ele vomitava, seu corpo expeliu cada remédio que tomou de barriga vazia e torrada com geleia. Sentia-se envergonhado por aquela mulher vê-lo numa situação como essa. 


Ele nem sabe como ela teve força para ajudá-lo a chegar no sofá, sua barriga doía de tanta força que tinha feito anteriormente, sua boca tinha um gosto péssimo e seu corpo parecia melado de suor. Sakura estava sentada ao seu lado, e o olhava curiosa e preocupada. Ficaram um bom tempo em silêncio, até que os olhos negros começaram a observar o apartamento. Era uma mistura de verde, cinza e rosa, todo o tipo de tons de rosa. Haviam várias fotos bonitas, tanto de lugares quanto de pessoas penduradas nas paredes e diversos itens de viagem no hack da sala. 


— Hum. Desculpe pelo incômodo, eu já estou bem… — Ia se levantar mas a mulher pegou sua mão e o puxou para o sofá.


— Nem pensar. Você só sai daqui depois de comer e beber água, cara, que susto que eu tomei! — Sakura se levantou e ele crispou os lábios, sem ter uma resposta. — Inclusive, você deu muita sorte que eu fiz um jantar ontem. Cozinhar não é minha praia, então talvez piore seu estado. — Ela brincou, mas Sasuke nem ligou. 


Recordou do dia da cafeteria, ele ficou muito tempo a escutando naquele dia, tanto que em algum momento ela encarou o telefone chocada com as horas e teve que correr em direção ao trabalho, claro que não sem antes depositar um beijo na bochecha dele. Sakura parecia ter uma facilidade imensa para derrubar suas barreiras e ultrapassar todo o seu espaço pessoal, e por dentro ele sabia que ela nem tentava fazer isso. 


Sasuke se sentia constrangido com tudo, envergonhado. Queria sumir. Estava fraco e impotente, além de tudo.


— Você gosta de suco de laranja? — Escutou a voz melodiosa da cozinha.


— Sim. — Sua fala saiu baixa. 


— Que bom, porque só tem suco de laranja e água para beber. — A mulher riu sozinha. O silêncio voltou ao cômodo e se pendurou por um longo tempo, ficou encarando a televisão desligada. — Consegue se levantar sozinho?


— Hum. 


Sim. Estava fraco mas não tonto e nem sentia dores. Havia aprendido uma boa lição naquele dia. No canto da cozinha, onde tinha uma enorme janela, ele viu uma mesa redonda com quatro lugares, era onde estava o prato e o suco de laranja. Andou até lá em silêncio, pelo canto dos olhos a viu digitando algo no telefone e sentada na mesa. Assim que Sasuke arrastou a cadeira, ela abriu um sorriso.


— Olha, você dá trabalho, viu? — O orgulho dele estava esmagado naquele momento. — Está me devendo uma. Pode ter certeza que quando eu estiver querendo vomitar vou direto para sua casa sujar seu banheiro. — Sasuke ergueu um lábio. Os olhos verdes lhe encaravam fixamente, em um misto de curiosidade. 


— O que foi? — perguntou ele. 


— Quero ver sua reação a provar minha comida. 


O Uchiha encarou o prato com atenção, havia um bolo que ele chutou ser de frango e uma salada que estava até bonita. Pegou um pouco com o talher e enfiou na boca, se fosse ruim, ele comeria do mesmo jeito, só pela preocupação e gentileza. Mas, apesar da aparência duvidosa, estava muito gostoso. 


— Está uma delícia. — Parecia que ele tinha feito uma jura de amor eterno. Ela soltou um grito fino e abriu um sorriso imenso, pulando na cadeira. O fazendo se assustar e quase se engasgar. — Obrigado. — Agradeceu entre os tossidos.


— Bom, por nada. Mas saiba que eu sou muito mesquinha e agora você me deve além de um vale-passar-mal, um vale-pago-seu-almoço. — Um canto de seus lábios se ergueram. — Afinal, você não tem cara de quem cozinha.


— Bom, eu cozinho. — Quase ficou ofendido. Quase. Ela arregalou os olhos.


— Sério? Bom, então é um vale-pago-seu-almoço mais um vale-faço-seu-almoço. — Sasuke riu


— Isso é roubo, não? — retrucou ele. 


— Roubo? Isso é negociar, meu amigo. — O homem bufou arrancando um sorriso da mulher, o que era mais fácil do que roubar doce de criança. — Você precisa fazer compras? — Ele franziu as sobrancelhas, que pergunta estranha. 


— O que isso tem a ver?


— Quarta de tarde tem feira, você faz compras e depois o meu almoço. — Ela cruzou os braços e fechou um olho. — Já vou avisando que sou muito crítica com comida, não aceito qualquer coisa. 


A postura não durou menos de cinco segundos, a mulher abriu um sorriso lindo e desandou a falar sobre o dia que seu pai resolveu fazer abobrinha recheada e ficou muito ruim. Sasuke comia em silêncio, rindo sem mostrar os dentes. Ele não se sentia mais mal e a vergonha parecia ter ido embora. Sakura fazia tudo ser tão natural e cômodo que o assustava, a verdade é que aquela situação estava além do seu controle. Às vezes as coisas simplesmente acontecem. 


— Sasuke — chamou. 


— Hum — murmurou em resposta. 


— Lembra que eu falei que aquele último sanduíche na verdade era para minha chefe? — Ele acenou positivamente. — Eu menti. Assim que virei a esquina enfiei tudo na boca e quase morri engasgada, além de uma possível queda de cara no chão. 


Ele tentou. Entretanto seu peito se expandiu e um sorriso aberto, uma risada rouca e gostosa escapou de seus lábios. E Sakura Haruno achou aquele som o mais bonito do mundo. 


Notas Finais


é triste viu?
opiniões?


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