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História Além das Quadras - As coisas vão mudar


Escrita por: MarcelineA

Notas do Autor


OLAAR MEU POVO ♥
Primeiro quero explicar o motivo para a demora: eu decidi que iria postar esse capítulo em comemoração ao aniversário de 18 anos do meu muso, Erick ♥
Siiim! Hoje meu bebêzinho está fazendo 18 anos (na história mesmo ele ainda tem 17 pq ainda estamos em 2016). Achei que essa seria uma data perfeita pra postar um capítulo e para dar por finalizado o primeiro arco da história! Sim, acabamos de concluir uma parte de Além das Quadras e eu estou muito feliz com isso! Agradeço a todos que tornaram isso possível, me apoiando, me mandando reviews e essas coisas. Vocês são uns amorzinhos ♥
Segundo, a história entrará em um hiatus de um mês para que eu possa me preparar e organizar direitinho o segundo arco. Para compensar vocês com isso, devo postar três capítulos no mês seguinte, então não fiquem tristes, okay? Amo vocês ♥
Vocês estão ansiosos para essa nova fase da história? Pq olha... Eu estou muito! Espero mesmo que gostem ♥
Boa leitura
Ghost Kisses
~Marceline

Capítulo 13 - As coisas vão mudar


Fanfic / Fanfiction Além das Quadras - As coisas vão mudar

Dias atuais – Alguns meses para 2017

O final de ano estava passando mais devagar do que Erick queria.

Cada dia parecia um sofrimento maior continuar a viver. Fazer o PreVest estava sendo maravilhoso e sacrificante. Maravilhoso por ficar mais tempo fora de casa e sacrificante por não estar dando conta dos estudos.

Erick nunca foi do tipo que estudava muito. Sempre teve as notas na média e preferia passar a maior parte do tempo lendo ou jogando bola e não estudando. Então ele estava em apuros, pois precisava de vários pontos para passar de ano. Conciliar estudos regulares com cursinho não estava sendo nada bom.

Amanda tentava lhe ajudar nas matérias de humanas da melhor forma possível, enquanto Danilo tentava lhe ajudar com as de exatas e biológicas. Desde que tiveram aquela conversa na praia, a relação deles estava muito melhor e Erick percebeu que poderia confiar mesmo no outro para tudo. Ou quase tudo.

Para completar a desgraça, seu pai tinha sido chamado pela psicopedagoga do Colégio para conversar sobre as notas dele. Por sorte, ele quem atendeu ao telefone quando ligaram para sua casa, então resolveu não falar com nenhum de seus pais. Sua mãe já tinha muitas coisas para se preocupar e as suas notas baixas não era uma delas.

Com isso ele passou a frequentar a psicóloga da escola algumas vezes na semana. Conversar com Cristina era bom, mesmo que ele não falasse nada relacionado ao pai. Não podia falar nada a respeito do abuso que estava sofrendo, pois as chances de seu pai descobrir eram grandes. Ainda mais se a psicóloga resolvesse contar para a Polícia as coisas que vinham acontecendo.

Então ele resolveu não tocar nesse assunto, além do mais a principal preocupação de Cristina era as notas de Erick, saber daquilo a deixaria transtornada. Conseguiu driblar essa situação e o principal assunto que passou a ter com a profissional era Henry. Conversavam sobre a escola, Amanda e Danilo também, mas o que ele mais gostava de falar era sobre o melhor amigo. Estava adorando relembrar os momentos que passara com o outro, sempre era bom falar sobre a amizade deles.

– É muito bonito ver uma amizade dessas – dissera Cristina com um sorriso no rosto. – Vocês ainda têm contato?

Erick subitamente ficara tenso. Queria mentir, dizer que ainda conversavam e que a amizade deles era maravilhosa. Queria dizer que o único problema que lhe incomodava era a distância. Queria dizer que eles tinham dado um jeito de contornar aquela situação.

Mas infelizmente não foi capaz de mentir.

– Eu... – ele começara, em tom baixo – Eu disse algumas coisas ruins para ele quando nos encontramos nos Jogos alguns meses atrás...

– E por que você disse essas coisas ruins?

Erick suspirou, olhando para as mãos, estalando os dedos e mordendo a parte interna da boca, seus sinais claros de nervosismo.

– Eu estava com raiva dele – mentiu Erick. – Nós tínhamos brigado.

– Você se arrepende de ter dito essas coisas para ele?

– Sim... Eu queria muito me desculpar, mas sempre que eu ligo pra ele, simplesmente não consigo dizer nada.

Cristina analisou Erick por alguns segundos antes de continuar.

– Você já pensou por que não consegue falar nada pra ele?

“Já. Porque eu sou fraco. Sou idiota e que nunca deveria ter falado aquelas merdas pra ele”, pensou Erick, mas ao invés de falar isso, ele negou. Mas ele sabia muito bem os motivos daquilo. Tinha deixado coisas que não eram importantes tomarem conta dele. Tinha medo do que pudesse acontecer com ele e com Henry se agisse como se tivesse tudo bem quando não estava.

– Então pense sobre isso, Erick – disse Cristina suavemente. – Por que você não arruma um caminho diferente para tentar remediar as coisas?

Erick pensou sobre o assunto por algum momento, não sabendo se seria capaz de responder àquilo ou não.

– Eu vou tentar – falou Erick.

– Você me disse que se arrepende, certo?

Erick apenas assentiu.

– Então talvez seja a hora de você se perguntar o que é mais pesado para você: todas as coisas que o estão impedindo de se desculpar ou o peso de não pedir desculpas ao seu melhor amigo.

– É, acho que sim... – ele concordou, pensativo

– Problemas todos temos, Erick, e em todos os lugares. Nos desentendemos com as pessoas que amamos com uma frequência maior do que a maioria de nós gostaria, é verdade. Mas o que você precisa se perguntar é se esses desentendimentos devem mesmo ser maiores do que o tanto que você gosta delas. Será que vale a pena, Erick?

O menino ficou pensando naquilo por alguns segundos. Valia a pena perder seu melhor amigo sem ao menos lutar? Ele ia mesmo deixar aquilo acontecer.

Poucos minutos depois, Cristina lhe avisou que a sessão tinha acabado.

Ele foi pra casa pensando sobre aquilo que tinham conversado. E toda vez que pegava em seu celular, ele ia na lista de contatos e via o nome de Henry, como que esperando para ser selecionado e chamado.

Quando finalmente ia tocar no aparelho, a tela mudou e sentiu o celular vibrando, indicando que estava recebendo uma ligação. Ele sentiu certa raiva quando viu quem estava lhe ligando, o nome brilhando na tela, como em todas as outras vezes.

Porém, diferente das outras ocasiões, Erick atendeu a ligação, mas conservava a voz um tanto hostil.

– O que você quer, Emerson?

– Ai, graças a Deus você finalmente me atendeu – disse a voz doce do menino do outro lado da linha, parecendo aliviada.

– E já estou me arrependendo disso – comentou Erick – O que diabos você quer? Achei que tinha desistido de tornar minha vida um inferno.

Emerson vinha ligando para Erick esporadicamente desde aquela merda toda aconteceu. E Erick vinha ignorando o garoto sempre, já que ele era um dos motivos para que a vida dele tivesse se tornado a merda que estava hoje. Já não treinava no mesmo lugar em que se conheceram, então não tinha que encarar o garoto. Okay, foi forçado a sair do time por ordens de seu pai, mas mesmo assim sabia que tinha sido o melhor a ser feito.

– Erick, a culpa não é minha. Eu não espalhei aquelas fotos.

– Você e eu éramos as únicas pessoas naquele local. Eu não sei o que você fez, mas não duvido que tenha colocado uma câmera escondida ou sei lá. Só quero que me deixe em paz!

– Se escuta, Erick! Isso não faz nem sentido! Por que eu iria fazer uma coisa dessas contigo? – argumentou Emerson.

Erick bufou.

– Eu não sei! Mas pra começar, você que me beijou! – exclamou Erick.

Então ele foi transportado para aquele dia fatídico. Aquele dia que tinha desencadeado o início de sua ruína.

– Que eu me lembre bem, você queria aquilo. Eu só tomei a iniciativa quando vi que você não faria nada!

– Eu não vou discutir isso contigo por celular, Emerson. – Erick tentou desviar do assunto. – Eu não quero mais saber de você na minha vida.

– Pelo menos me deixe explicar! Vamos conversar. Tem coisas que eu quero muito dizer pra você. Só me dê um chance de falar e depois você pode me deletar completamente da sua vida que eu não vou mais te perturbar.

Erick parou para pensar um pouco e logo o que Cristina acabara de dizer veio em sua mente. “Dê uma chance”. Por mais que acreditasse que não fosse capaz de perdoar Emerson, podia dar uma chance a ele de se explicar, de dizer seu ponto de vista. Queria que as coisas mudassem em sua vida e poderia muito bem começar por onde tudo começou a dar errado.

– Tudo bem, Emerson. Você tem uma chance de se explicar.

O garoto pareceu animado com a aceitação de Erick.

– Muito obrigado. Você pode me encontrar na Starbucks amanhã? Eu posso pagar um café pra ti. Sei que gosta.

Emerson sabia jogar baixo.

– Vou pensar num outro dia – Erick disse seco. Não estava preparado para fazer aquilo tão depressa.

– Okay... Podemos ir no Shopping Tijuca depois das suas aulas o dia que você quiser. Me liga quando decidir qual melhor dia.

– Vou mandar mensagem.

Emerson soltou um suspiro do outro lado da linha.

– Okay, manda mensagem quando decidir. – repetiu.

– Tá.

– Beleza. Até mais, Erick. E, por favor, não fuja de mim dessa vez.

– Até.

Erick desligou o celular antes que Emerson pudesse dizer mais alguma coisa e sem responder a segunda parte.

Não estava muito otimista com aquela história, mas se ele quisesse ter uma vida pelo menos um pouco menos pior do que estava, seria uma boa seguir os conselhos de Cristina. Talvez com isso, ele fosse capaz de conversar com Henry em outra oportunidade.

Esperava que as coisas saíssem como ele queria.

[…]

Erick estava lendo um livro naquela noite de sexta quando sua mãe entrou no quarto, a expressão meio apreensiva no rosto moreno da mulher.

De início ele não deu confiança para a mãe, achando que iria apenas pegar ou deixar alguma coisa em seu quarto, mas desviou os olhos do livro imediatamente quando sentiu que ela sentou ao seu lado na cama. Os olhos castanhos claros de ambos se encontraram, Erick franzindo o cenho para a mãe.

Logo ele largou o livro e sentou-se na cama.

– Tá tudo bem, mãe? – ele perguntou.

– Tá sim, meu amor – Adriana disse com um sorriso triste.

Ela respirou fundo e levou a mão ao rosto de Erick, acariciando a pele branca do filho. Então, sem dar nenhum indício, lágrimas brotaram dos olhos de Adriana e Erick arregalou os seus ao ver a mãe chorando. Odiava vê-la triste e ficava desesperado quando a via chorar.

– Meu Deus, mãe! O que houve? – ele perguntou tomando a mulher nos braços e a abraçando forte. – Tá tudo bem... Por favor, não chora.

– Me desculpa, Erick – ela disse meio ofegante por conta do choro – Eu não sabia que tinha mais! Não sabia desses horrores com você e a sua irmã... Por favor, me perdoa. Eu não deveria ter sido tão negligente.

– O que você tá falando, mãe? Você não fez nada! Por favor, não chora – ele falou desesperado e apertou a mulher ainda mais forte.

Adriana chorava compulsivamente, soluçando e tentando respirar enquanto Erick a abraçava sem saber o que fazer. Seu coração estava acelerado e a impotência naquele momento estava lhe matando.

Passaram-se alguns minutos, Adriana ia se acalmando. Depois ela se separou de Erick, limpando as lágrimas dos olhos e olhando para o filho com os olhos vermelhos.

– Nathália me contou tudo – ela disse finalmente e aquilo deixou Erick pálido.

Algo em seu estômago se embrulhou e ele achou que fosse vomitar ali mesmo. Um calafrio atravessou sua coluna. Sua mãe sabia. Ele se esforçou tanto para esconder aquelas coisas dela que não sabia como reagir àquilo. A última coisa que queria era preocupá-la com aquele tipo de coisa.

– Deixa eu ver – ela disse, a voz um pouco embargada pelo choro.

– Não, mãe... Isso não... Droga! – ele levantou-se da cama, passando a mão pelos cabelos curtos. Não sabia o que dizer. Tudo pelo o que trabalhou estava caindo por terra.

– Erick, isso é sério! – ela exclamou levantando-se também. – Isso tudo é culpa minha e eu não...

– Não é culpa sua, está bem? – ele disse em tom alto e um pouco rude. – A culpa não é sua. – repetiu em um tom mais baixo, segurando a mãe pelos ombros.

– Eu deixei que isso acontecesse! Se eu tivesse feito alguma coisa, tudo isso não teria acontecido, Erick!

– Você não poderia! Ele ia te matar... Matar a Nathy... – ele suspirou – Foi melhor assim. Está tudo bem, as coisas estão melhores, não estão?

– Não depois de tudo o que ela me contou – as lágrimas voltaram para os olhos de Adriana. – Meu Deus... Como ele pode...

Erick voltou a abraçá-la, o coração ainda acelerado e os pensamentos a mil.

– Me deixa ver suas costas.

– Não é nada dem...

– Erick, estou mandando. – ela mandou, o tom autoritário que usava quando ele era pequeno.

Ele respirou fundo, fechando os olhos e soltou o ar ao abri-los. Erick tirou a camisa que usava lentamente e virou as costas para a mãe.

– Meu Deus! – a exclamação da mãe lhe quebrou o coração. – Por que você não me disse? Por que não... Meu Deus, Erick... Eu achava que ele só te batia quando você impedia que ele me machuc...

– Está tudo bem, mãe, okay? Elas já cicatrizaram, está tudo bem. – Erick interrompeu, não querendo ouvir aquilo de sua mãe.

– Não tá, Erick! Eu deveria ter percebido! Deveria ter conversado mais com você... Meu Deus.

Erick ficou em silêncio, deixando a mãe absorver o que acabara de ver. Ela passava as mãos nos cabeços curtos, andando de um lado para o outro do quarto como se tivesse pensando em uma solução para todos aqueles problemas.

Então Adriana parou subitamente, virando-se para Erick.

– Você vai sair com a Amanda amanhã, não vai? – ela perguntou, o assunto mudando completamente.

– Sim, ela quer ir numa boate na Lapa – ele respondeu, estranhando o assunto repentino.

Adriana balançou a cabeça rapidamente.

– Isso. Saia com ela e divirta-se, não quero você pensando nesse assunto tudo bem?

– Mãe, o que você pretende fazer?

– Só me prometa que vai sair com ela amanhã, Erick. – ela disse tomando as mãos do filho nas suas, o olhar penetrante de súplica, mas ao mesmo tempo autoritário.

Erick estava com os olhos levemente arregalados, olhando para a mãe, que mantinha um olhar autoritário, mas ao mesmo tempo determinado. Ele viu que não tinha saída senão concordar.

– Tudo bem, mãe. Eu prometo.

[…]

Erick não tinha conseguido dormir depois que tinha descoberto que a mãe sabia de tudo. Ficou rolando na cama a noite inteira e nem o livro que estava lendo naquele dia mais cedo conseguiu tirá-lo dos pensamentos ruins que lhe vinham à mente. Ele já não gostava muito de dormir por medo dos pesadelos com o pai e, agora que sua mãe sabia de tudo, isso o deixava mais apreensivo.

O dia passou bem rápido e Erick notou o quanto a mãe parecia bem estranha durante todo o dia. Não sabia dizer o porquê de ela está assim, mas sabia que tinha alguma coisa errada, muito provavelmente algo a ver com a saída dele com Amanda naquela noite.

Suspeitando que a mãe faria alguma coisa, Erick desmarcou com a amiga, mas insistindo para que ela fosse com as amigas dela. Por um momento, Amanda insistiu para que Erick fosse, mas quando ele disse que sentia que algo de errado ia acontecer, ela cedeu e disse que falaria com ele no dia seguinte.

Com isso, ele fingiu que iria sair. Tomou banho, arrumou-se rapidamente e saiu de casa, não sem antes dar um beijo estalado na bochecha da mãe. Então ele ficou ali, pra fora de casa com a orelha espremida na porta para ouvir o que se passava dentro do local.

Por alguns segundos dava para ouvir apenas a televisão da sala ligada, o pai estava assistindo a algum jogo de futebol quando ele saiu. Mas então ouviu a voz da mãe chamando pelo nome do pai e imediatamente ele ficou tenso.

– Anderson, precisamos conversar – ela disse, a voz estava calma, mas Erick não tinha tanta certeza se ela estava mesmo calma.

– Você não tá vendo que eu to vendo a merda do jogo? – a voz grave e rouca do pai soou. Aquela mesma voz que assombrava os pesadelos de Erick.

– Mas o assunto é sério.

– Então fala logo, porra.

Uns segundo de silêncio, então Erick gelou ao ouvir as próximas palavras.

– Eu quero divórcio.

Mais alguns segundos de silêncio.

– Como é que é, Adriana? – Anderson disse e Erick sentiu um calafrio na espinha ao detectar a raiva na voz do homem. – Repete se tiver coragem.

– Eu quero a merda do divórcio, tá bom? Nathália me contou tudo o que você fez com ela e com Erick. Eu vi as cicatrizes nas costas dele! Como você teve a coragem de...

Erick escutou o estalo familiar de um tapa na cara. Ele ficou em choque.

– Você vai acreditar naquela vadiazinha? É claro que ela inventou tudo pra destruir nosso casamento. E você é uma puta desgraçada por acreditar nela.

Então Erick ouviu outro tapa.

– Você é um monstro! – Adriana conseguiu falar, mas logo se calou quando Erick ouviu o estalar do cinto na sua pele.

Ele não aguentou aquilo. Com as mãos trêmulas e ouvindo os sons de espancamento e xingamentos, ele pegou a chave do bolso da bermuda. Ele suava e tremia, a chave não entrando na fechadura de jeito nenhum.

Seu coração estava acelerado, vários pensamentos lhe passavam pela mente e ele não conseguia de jeito nenhum abrir a porcaria da porta. Conseguia ouvir perfeitamente a mãe tentando ser forte, tentando não gritar ou chorar de dor diante nas cintadas que recebia do marido.

– Aquela putinha amou enquanto eu metia nela – o pai dizia enquanto batia na mãe. – E aquele viadinho de merda do Erick mereceu o que eu fiz com ele. A culpa é toda sua por ele querer dar a bunda, então você merece isso tanto quanto ele.

Erick era uma mistura de sentimentos naquele momento. Ao mesmo tempo em que sentia ódio, raiva e angustia, sentia o medo penetrante, a tristeza e o receio. Mas, como sempre, a raiva e ódio sempre era maiores quando se tratava do pai.

Ele finalmente conseguiu entrar em casa, vendo sua mãe jogada no chão enquanto seu pai estava em cima dela, esmurrando-a no rosto com o punho fechado. Rapidamente, Erick jogou-se em cima do homem, derrubando-o no chão e tentando lhe segurar as mãos.

– Ora, ora, se não é o viadinho salvador da pátria – disse o pai com escárnio tentando se soltar de Erick, que mantinha toda sua concentração e força em manter os braços do pai presos.

– Mãe, corre!

Erick não disse mais nada e por mais que tivesse ficado bem mais forte com o passar dos anos, ainda não conseguia superar o pai. Pelo menos deu tempo da mãe levantar e desaparecer dentro do apartamento enquanto Erick segurava Anderson. Logo ele foi jogado pro lado pelo pai, que colocou um joelho em cima da barriga de Erick e começou a socá-lo na cara, repetidas e repetidas vezes.

Erick tentava não ser acertado pelos punhos cerrados de Anderson, mas era quase impossível. Ele já sentia o sangue escorrendo pelo rosto, principalmente pelo nariz e boca. Anderson pegou Erick pelo pescoço, apertando a pele do filho enquanto o fazia olhar nos olhos verdes brilhantes.

– Preferia que você estivesse morto a ser um gayzinho de merda – dizia Anderson, um sorriso sádico se formava no rosto do homem enquanto Erick tentava se desvencilhar do aperto no pescoço. – A culpa é toda sua por ela querer de divorciar de mim! Sua e daquele seu amigo filho da puta que te transformou nessa aberração.

Erick já engasgava e chorava. A dor que sentia era enorme, tanto física quanto emocional. E naquele momento, ele desejou que o pai acabasse logo com sua vida miserável. Desejou que o enforcasse ali mesmo, sem dó nem piedade, simplesmente para acabar com toda aquela dor e não precisar mais ouvir aquelas coisas horríveis.

Porém, alguma coisa em seu interior fazia com que ele quisesse lutar. Lutar por sua vida, lutar por uma melhora, lutar pelas coisas pelas quais acreditava e precisava. Então ele se debateu, tentando acertar qualquer parte do corpo do pai para que fosse solto e pudesse fazer alguma coisa.

– Você é uma escória da sociedade, Erick – dizia o pai, apertando mais o pescoço dele – Depois de tudo o que eu fiz por você... Você ainda continua gay?

Erick ficou calado, encarando o pai com um ódio palpável enquanto tentava sair do aperto.

– Responde, seu bosta! – Anderson gritou.

O que aconteceu a seguir foi muito rápido para Erick processar. Num momento estava de cara a cara com o pai, uma pressão enorme no pescoço. No momento seguinte, Erick ouviu um barulho alto e foi parar no chão, tossindo e com as mãos ao redor do pescoço enquanto olhava para o piso escuro.

– Você está bem? – Adriana se jogou ao lado de Erick, levantando o rosto do filho, chorando. – Vamos, não temos muito tempo.

Ele não entendeu muito bem o que estava acontecendo, mas ficou de pé quando sua mãe lhe puxou. Então ele viu o pai desmaiado no chão e a mãe com uma frigideira na mão. Erick respirava ofegante, ainda sentindo a dor ao redor do pescoço e no rosto, mas conseguiu sentir orgulho da mãe por ter conseguido apagar o pai com aquela panela.

– Nós temos que fugir – ela disse alto largando a panela em qualquer lugar. – Ele pode acordar a qualquer momento.

Ela pegou duas mochilas, entregando uma a Erick e colocando a outra nas próprias costas. Adriana o puxou até a saída do apartamento, empurrando Erick e tentando ligar para alguém no celular, as mãos trêmulas não deixavam que ela digitasse direito.

Eles saíram correndo do apartamento, descendo pelas escadas mesmo, Erick já um pouco mais recomposto da agressão que sofrera.

– Nós temos pra onde ir? – ele perguntou com um pouco de dificuldade.

– Não, mas qualquer lugar é melhor do que lá – ela respondeu.

– Vou ligar pra Amanda.

Adriana assentiu, ainda tremia de medo quando saíram pra rua. Ela tinha guardado o celular, não conseguiria ligar pra ninguém naquele estado. Erick estava quase totalmente recuperado, estava em alerta enquanto guiava a mãe para a outra rua perto de sua casa, onde ficava o ponto de ônibus para ir pra casa de Amanda.

Ele tentou milhares de vezes, mas a amiga não atendia.

– Droga – ele resmungou, desistindo.

Então ele lembrou-se de que ela tinha saído.

– Tsc – ele estalou a língua no céu da boca.

Então ligou para a única pessoa que poderia ajudá-los naquele momento. Não demorou muito para que Erick fosse atendido.

– Alô? – soou a voz de Danilo do outro lado da linha. – Erick, tá tudo bem?

– Danilo – disse Erick ofegante. – Eu preciso de ajuda.

– O que aconteceu? – a voz de Danilo estava totalmente alarmada. – Erick, responde.

Antes mesmo que Erick pudesse responder, ele ouviu seu nome sendo gritado no final da rua praticamente vazia.

Seu pai tinha acordado. Agora ele estava trás deles. E provavelmente iria matá-los se fossem pegos.

Erick não precisou de muito para saber o que tinha que fazer, entrando em desespero ao pegar a mão da mãe e sair correndo.

Ele tentou manter-se calmo enquanto corria e ouvia o pai gritando para que os dois voltassem. Erick colocou o celular na orelha novamente.

– Meu pai enlouqueceu, eu preciso ir de um lugar... – ele quase gritou ao celular, as lágrimas voltando a escorrer pela face.

Erick olhou para trás e viu o pai correndo na direção deles. Antes ele estava apenas gritando para que voltassem e andando, mas agora Erick precisava a corrida, então puxou ainda mais a mãe para que ela não se separasse dele e ambos não pudessem ser alcançados.

– Pelo amor de Deus, você sabe como vir? Pode vir e...

A ligação caiu, o celular de Erick tinha descarregado.

– EU VOU ACABAR COM VOCÊS – o pai dele gritou, agora mais perto.

Erick colocou o celular no bolso e correu puxando a mãe o mais rápido que podiam novamente, tentando ignorar a dor que estava sentindo em seu rosto. Então ele virou a rua, saindo em uma mais escura e completamente vazia. Precisaria ir mais rápido e virar mais algumas para que pudessem chegar à avenida movimentada.

– Ele vai nos matar, Erick! – a mãe disse, também chorando.

– Não, não vai – ele respondeu, correndo mais rápido. – Faltam poucas ruas.

Não parecia haver mais ninguém nas ruas, provavelmente por ser um dia de sábado a noite, em que as pessoas geralmente saíam, além de que o bairro de Erick tinha muitos universitários, então sempre ficava relativamente vazio nos finais de semana. O coração de Erick martelava dentro de seu peito. Algumas lágrimas ainda corriam por seu rosto, mas ele tentava se manter firme. Ele sentia perfeitamente o formato da mão de Anderson em seu pescoço formigando.

Erick ouviu um som estranho, não sabendo se tinha sido de tiro ou de fogos, que era muito comum haver ambos onde morava. Mas aquilo foi o suficiente para fazê-lo entrar em desespero e se desconcentrar, tropeçando e caindo no chão levando a mãe junto. Adriana fez menção de gritar por ajuda, mas Erick impediu. Ninguém iria ajudar, ainda mais agora que havia sinais de tiroteio. O máximo que fariam era chamar a polícia e, até lá, Anderson já teria alcançado os dois e dado sumiço em ambos.

Seu pé tinha virado com a queda, fazendo com que Erick sentisse dor. Porém, mesmo com os joelhos e braços ralados e o pé direito torcido, Erick se levantou e ajudou a mãe a fazer o mesmo. Ficou completamente alarmado quando viu que não faltavam nem 10 metros para serem alcançados por Anderson. E o pai era rápido, tinha uma preparação física muito boa.

Além do seu tornozelo dolorido, havia o problema que sua mãe sempre teve nos joelhos, e que provavelmente já devia estar lhe provocando muitas dores por conta da corrida, ainda mais agora que ela também havia caído. Tudo isso estava contra eles.

– Tá doendo muito, Erick – ela reclamou, mas apoiou-se no filho e ambos tentaram correr da melhor forma que podiam.

Com a adrenalina correndo pelas veias, Erick sentia apenas pontadas no pé enquanto corriam. Então decidiu por pegar a mãe no colo e correr até onde suas pernas lhe permitiram, mas aquilo não foi nem um pouco suficiente. Quando viram, os dois já estavam no chão novamente. Erick sentiu sua mochila ser puxada para trás, fazendo com que se desequilibrasse e caísse de costas com a mãe em cima de si.

Anderson sussurrou algo que Erick não entendeu direito por ter batido a cabeça no chão e ficado zonzo. Não demorou muito para sentir o peso da mãe ser tirado de cima de si e depois sentir seu rosto sendo socado várias e várias vezes, enquanto a mãe gritava para que o pai parasse. Nos dois primeiros socos, sua cabeça bateu no asfalto, quicando no chão duro para ser acertado mais uma vez. Sentiu o gosto metálico de seu sangue se espalhar pela boca, aquilo o agoniando completamente.

– Cala a boca! – Anderson falou para Adriana e lhe deu um tapa que a jogou no chão.

Então ele voltou a espancar Erick, dizendo coisas que já não faziam sentido para o garoto. Erick tentava sair da mira do pai, mas não conseguia, estava fraco demais. O que mais lhe agoniava era não poder ver a mãe, ver se ela estava bem.

Mas ele ouviu perfeitamente quando ela gritou:

– ME AJUDEM! POR FAVOR!

– Eu mandei você calar a boca, porra!

Anderson saiu de cima de Erick e partiu para agredir Adriana. Erick apenas ouviu os gemidos da mãe, estava difícil de se mover. Mas ele tentou e, unindo todas as suas forças, ele conseguiu levantar-se, meio cambaleando. A dor era muita, mas a vontade de salvar a mãe foi maior, a adrenalina em suas veias ajudando Erick.

Ele não soube onde conseguiu juntar energias, mas desferiu um soco certeiro no queixo do pai, que se desvincilhou da mãe e caiu de lado. Erick se antecipou e deu um chute no estômago dele com o pé bom, fazendo-o encolher, o pé machucado doendo pelo apoio sobre si. Gritou para que a mãe levantasse.

Por mais que seu pai tivesse lhe feito passar coisas horríveis, ainda pesava na consciência de Erick machucá-lo, afinal, Anderson ainda era seu progenitor. Mas a necessidade de salvar a mãe era maior e ele faria qualquer coisa para salvá-la. Precisava fazer qualquer coisa pra salvá-la.

Adriana levantou-se e, mancando em direção a Erick, puxou-o para afastá-lo do marido, dizendo que não valia a pena, que precisavam fugir. Não precisou de muito mais para Erick apoiar a mãe em seu corpo e ambos correrem o máximo que conseguiram até chegar à uma rua movimentada.

As luzes estavam fortes demais, mas ele precisava continuar. Sentia o sangue quente correndo pelo rosto enquanto tentava avançar mais rápido, mas ele precisava continuar. Ele já não conseguia distinguir direito as palavras da mãe, sua mente focada apenas na necessidade de continuar.

Ele precisava continuar. Precisava salvar a mãe.

Então com mais alguns passos, ambos quase se arrastando, eles entraram no primeiro táxi que passou, Erick vendo o pai quase na metade da rua, se levantando, de dentro do automóvel quando este finalmente partiu.

Tinha se livrado de algo pior.

Por enquanto.

[…]

O coração de Danilo estava acelerado dentro do peito.

Após a ligação ter caído, Danilo tinha até perdido a conta de quantas vezes tinha tentado ligar de volta para Erick. Ligou para Amanda quando o celular do garoto caíra na caixa postal e também não obteve respostas. Não tinha o número da mãe de Erick para tentar ligar, estava simplesmente perdido.

Mil coisas se passavam na mente de Danilo naquele momento, mas ele não conseguia tirar o tom de desespero vindo da voz de Erick de seus pensamentos. Ele estava seriamente preocupado, pois não sabia mesmo que o pai de Erick era capaz de fazer contra a própria família. Depois dos horrores que o garoto havia escutado, não podia duvidar de mais nada vindo daquele homem.

Danilo andou de um lado para o outro do quarto, batendo o celular na mão freneticamente tentando arrumar uma solução. Era difícil pensar com clareza diante de uma situação daquela, mas ele tinha que fazê-lo, tinha que ajudar Erick.

– O carro – ele disse em voz alta ao parar de andar.

Seus pais tinham saído para comemorar aniversário de casamento. Tinham saído com o carro do pai, o da mãe ficando na garagem. Eles não voltariam para casa, Danilo tinha certeza. Não iam notar se ele pegasse o carro e fosse pelo menos até algum ponto do ônibus que geralmente pegava. Era arriscado, uma vez que ainda não tinha tirado a carteira, mas era uma situação de emergência. Iria correr o risco.

Decidido, Danilo vestiu uma roupa qualquer e correu até a porta. Pegou as chaves do carro da mãe e saiu, torcendo para que não tenha acontecido nada grave.

[...]

Conforme a adrenalina ia abaixando, Erick sentia cada vez mais a dor da surra e do pé torcido.

Já tinha sonhado com aquilo e até já sonhara coisas piores. Inúmeras e inúmeras vezes. Cada vez de um modo diferente, doloroso e cruel. Pelo menos a realidade não tinha sido tão aterrorizante quanto em seus sonhos.

O taxista pareceu bastante alarmado quando o viu sangrando, insistindo para que fossem à um hospital. Porém, sua mãe lhe convenceu a não fazê-lo, dizendo para que fossem levados para algum lugar em que pudesse pegar um ônibus para São Gonçalo. Não fazia diferença para onde iriam, só precisava tirar a mãe de perto daquele homem que dizia ser seu pai. Ele sentia o sacolejar do automóvel, mas sua mente estava em outro lugar.

Sentia a dor e viu a mãe trabalhando arduamente para estancar o sangue de seu nariz, que estava sangrando muito e possivelmente quebrado. Seguiu as instruções dela de respirar pela boca e inclinar-se para a frente. Ouvia de vez em quando ela falando para ele permanecer com ela, mas o sono era grande, o cansaço e estresse chegando com mais intensidade a cada minuto. A sensação de moleza abateu o corpo de Erick junto com a dor que sentia. Tinha que lutar contra aquilo, tinha que permanecer acordado.

Ele tentou. Arduamente. Mas ele não foi forte o suficiente. A dor era intensa demais. Estava completamente tonto e uma vertigem absurda lhe abateu, além de sentir a fraqueza e náuseas. Sentiu os olhos pesando. Sentiu os braços da mãe lhe acolhendo no peito. Sentiu o coração dela batendo rápido no peito. Sentiu quando chegou a um estado de semiconsciência, mas não sem antes ouvir as doces palavras de Adriana ao seu ouvido.

– Nós conseguimos, querido. Nós conseguimos.

Então a escuridão lhe abateu.

[…]

O cansaço ainda estava presente quando Erick acordou.

Não sabia muito bem o que tinha acontecido. Lembrava-se de algumas coisas, alguns flashes de eles dentro do trem e luzes fortes. Seu rosto já não sangrava mais e teve a sensação de que estava limpo. Também vestia um casaco com capuz, que não fazia ideia de onde tinha arranjado.

Ainda estava em movimento e por alguns segundos não conseguiu distinguir onde estava. Então um desespero lhe bateu e ele balançou a cabeça para os lados rapidamente, ficando completamente tonto, porém tendo forças pra gritar.

– Mãe???

– Estou aqui, querido – a voz cansada de Adriana atingiu seus ouvidos e ele relaxou inconscientemente.

Respirou fundo algumas vezes e então percebeu que estava dentro de um carro grande. Ele estava sentado no banco de trás, seu corpo inclinado para frente e sendo segurado por alguém. Erick demorou alguns segundos para identificar Danilo ali do seu lado.

– Ei, cara – o garoto disse, os olhos claros o encarando.

Erick sentiu o alívio ao ouvir a voz de Danilo. Isso significava que estavam em segurança mesmo sem ter ideia de como haviam chegado até ali naquele momento. A iluminação ofuscante, o barulho de trilhos e das poucas pessoas pelas quais passavam invadiam sua mente esporadicamente. Não lembrou de ninguém ter oferecido ajuda ao ver uma mulher praticamente arrastando um adolescente sangrando e cheio de hematomas. Talvez estivesse com o casaco justamente para cobrir essas evidências.

De qualquer forma, a humanidade estava condenada.

– Obrigado – Erick sussurrou e quando fez menção de se deitar ou jogar a cabeça para trás, Danilo o impediu.

– Você tem que ficar inclinado pra frente – disse Danilo – Seu nariz pode voltar a sangrar. Ordens da sua mãe.

Erick não disse nada, apenas assentiu e colocou o braço no banco da frente, apoiando a testa no antebraço logo em seguida. O carro ficou em silêncio e Erick fingiu que estava dormindo, porém ficou atento com os barulhos a sua volta, mesmo que fosse apenas o som de carros passando por eles. Danilo de vez em quando dava instruções para Adriana de como chegar a sua casa e em alguns minutos, finalmente tinham chegado à residência do outro.

– Erick, chegamos – disse Danilo suavemente.

Erick apenas levantou o rosto com um pouco de dificuldade, Danilo prestando atenção em cada movimento seu. Eles se encararam por alguns segundos, um combinado silencioso de que iriam conversar sobre o que estava acontecendo em algum momento.

Danilo abriu a porta e saiu rapidamente para poder ajudar Erick a sair também. Colocou o tronco para dentro, dando o braço para Erick se apoiar e conseguir sair do carro. Seu rosto estava destruído à luz da garagem e ainda mancava por conta do pé. Erick aceitou a ajuda prontamente, apoiando-se no outro apenas para se estabilizar.

– Ajude minha mãe, ela está com os joelhos machucados – disse Erick se desvincilhando de Danilo, porém o outro não o soltou completamente, ainda segurando Erick pela cintura.

Quando tentou apoiar o pé torcido no chão, Erick pensou que fosse desabar de dor.

– Quer que eu te carregue? – perguntou Danilo.

– Estou machucado, não aleijado – Erick respondeu. Danilo apenas soltou uma risada. – Aliás, não sou uma donzela em perigo.

– Mesmo quase morrendo você continua um poço de fofura, hein? – disse Danilo brincando.

– Ajude minha mãe.

– Estou bem, meu amor. Você precisa mais. – Adriana respondeu. – Pode ajudar ele, Danilo. Erick, é melhor você não forçar tanto, pode piorar a torção.

Erick franziu os lábios e revirou os olhos antes de ceder, percebendo que aquilo lhe daria mais dor de cabeça se negasse. Apoiou um braço nos ombros de um Danilo um pouco abaixado, então foi erguido pelo outro, um dos braços atrás de seus joelhos e o outro apoiando suas costas.

Danilo não falou mais nada, apenas saiu andando com Erick em direção a uma porta que havia ali perto dentro da garagem. Adriana segurou a porta para que os dois passassem e deram graças a Deus que o elevador estava naquele andar. Danilo desceu Erick para descansar os braços e apertou o botão do 11 logo antes de entregar as chaves de casa para Adriana.

– Está tudo bem para os seus pais, Danilo? – perguntou a mulher, o semblante completamente desolado e cansado.

– Sim, tia – ele respondeu suavemente – Na verdade eles não estão em casa, mas tenho certeza que não se importariam.

Adriana assentiu e o silêncio caiu sobre eles novamente, Erick fazendo um esforço danado para manter-se em pé. Estava apoiando com as costas na parede do elevador, mas vez ou outra ele tombava na direção de Danilo, que acabou por chegar mais próximo de Erick para lhe segurar.

Finalmente chegaram ao andar de Danilo, que se abaixou para poder pegar Erick no colo novamente. Danilo foi na frente com Erick, guiando o caminho até o apartamento 1101. Quando pararam, Adriana logo tomou a dianteira.

– É a chave vermelha – disse Danilo.

Adriana assentiu e com as mãos um pouco trêmulas, ela conseguiu abrir a porta.

Erick não teve muito tempo de analisar o apartamento de Danilo, mas pode notar que era bem decorado e grande. Ele não prestou muita atenção nas palavras que ele e a mãe trocaram, só queria que fosse colocado logo no chão. Erick franziu o cenho quando entraram na cozinha e foi posto em cima de mesa por ordens de Adriana.

– Porque tá me colocando aqui?

– Tenho que tratar dos seus ferimentos – disse Adriana segurando a mão de Erick com força – Não quero sujar a casa de Danilo. Precisamos ficar em um local que dê pra limpar se fizermos sujeira.

– Tem certeza disso? Não é melhor levarmos ele a um hospital? – perguntou Danilo receoso. – Quero dizer, o estado dele é meio... Tenso.

– Vai ser o primeiro lugar em que ele vai procurar – disse Adriana – Não podemos correr nenhum risco de ele nos encontrar.

– Mesmo aqui em São Gonçalo?

– Eu não sei o que ele é capaz, prefiro realmente não arriscar – falou Adriana – Já estou morrendo de medo de ele vir até aqui ou na casa da Amanda.

– Meu pai não sabe do Danilo – disse Erick.

Adriana assentiu aliviada.

– Isso é bom – ela comentou e depois suspirou – Vou fazer alguns curativos provisórios... E quanto ao seu nariz... Bem, eu vou tratá-lo por agora. Se estiver mesmo quebrado, nós vamos ter que ir ao hospital. De qualquer forma, teríamos que esperar alguns dias para isso se precisar fazer uma cirurgia, então não se preocupe, querido. Talvez tenhamos problema com seu pé, mas vou imobilizá-lo de qualquer forma.

– Eu confio em você, mãe – Erick apertou a mão de Adriana com um sorriso fraco, mas logo se arrependeu, uma dor forte irradiando por toda a sua face.

– Não force o rosto. Fique sentado, coloque a perna pra cima e relaxe, eu vou preparar as coisas.

Ela deu algumas instruções para Danilo e Erick ficou acompanhando os movimentos do outro enquanto pegava uma bolsa em gel de gelo no congelador. Depois preparou mais outra bolsa, dessa vez com gelo das forminhas mesmo. Danilo voltou e entregou uma delas para Erick colocar sobre o nariz, enquanto a outra era colocada em seu tornozelo inchado.

Danilo arrastou uma cadeira para perto de Erick, preocupado em ficar segurando a compressa de gelo no pé do outro. Mesmo com sua visão um pouco atrapalhada pela bolsa, Erick conseguia ver que Danilo o encarava.

– Quer me contar o que aconteceu? – perguntou Danilo.

“Não, não quero falar sobre isso”, pensou Erick. Porém, o garoto tinha sido tão prestativo e atencioso que ele sentia que devia ao menos uma explicação para Danilo. Ele praticamente tinha salvado sua vida e de sua mãe, o mínimo que poderia fazer era deixá-lo a par dos acontecimentos.

Erick contou, de maneira breve, o que aconteceu, sempre prestando atenção nas reações de Danilo, que aparentemente se continha para não soltar um palavrão ou parecer horrorizado com o que estava escutando.

Quando terminou, eles ficaram em silêncio, Erick dando espaço para Danilo processar os últimos acontecimentos ao mesmo tempo em que ele tentava se recuperar daquilo tudo. Ele limpou as próprias lágrimas e sentiu vontade de limpar as de Danilo uma vez que ele as causara. Mas não o fez. Não queria envolvê-lo naquela situação toda, já se sentia culpado demais por ter envolvido Amanda. Mesmo que ambos tivessem insistido para aquilo, Erick não queria preocupá-los ou fazê-los se sentirem responsáveis de alguma forma.

Após alguns segundos o silêncio foi quebrado por um sussurro de Danilo.

– Ele... – o garoto engoliu em seco e fungou antes de continuar – Ele já apontou uma arma pra você alguma vez?

A pergunta pegou Erick de surpresa. Claro que o outro sabia que tinham armas em casa. Claro que iria supor, depois de todos aqueles horrores, que Anderson já ameaçou o filho com uma arma. Erick poderia ter mentido, mas era melhor falar a verdade, mesmo que ela fosse dolorosa.

– Sim, várias. Mas até hoje não fez nada. Não quero nem pensar se isso um dia acontecer.

Danilo pareceu prender a respiração. Erick via claramente a aflição do outro e aquilo o agoniava de certa forma.

– Tá tudo bem, cara... Eu estou bem. Ninguém se feriu.

– Seu pai te espancou e já apontou uma arma pra você, Erick! – exclamou Danilo, se contendo. – Você não tá vendo o seu rosto agora, mas ele fez um verdadeiro estrago! Tudo isso que você me disse é caso de polícia, ele...

– Não vou envolver a polícia, Danilo – Erick o interrompeu. O pé ainda doía, assim como algumas outras partes de seu corpo que foram machucadas – Já está sendo ruim nós termos fugido. Não sei o que vai acontecer e eu não quero envolver polícia nessa situação, ainda mais que vai ser a Polícia do Exército. Não vou dar mais essa dor de cabeça para minha mãe, eu não posso fazer isso.

– Erick...

– Não, cara. Está tudo bem, não se preocupe comigo.

– Mas Erick...

– Danilo, por favor, não.

O garoto se calou, acatando o pedido de Erick. Ele olhou para as mãos unidas por alguns segundos depois voltou a encarar Erick com um olhar determinado.

– Só quero que saiba – começou – Que você pode contar comigo pra qualquer coisa, okay? Sempre que você precisar ou quiser conversar, pode falar comigo, tudo bem? Ou quando você só precisar de companhia ou sei lá... Pode me ligar. Eu quero que me ligue.

Erick ficou tentado a lançar um sorriso para Danilo, mas apenas assentiu.

– Muito obrigado, cara... Por tudo – ele disse. – Nunca pensei que você se preocupasse tanto comigo.

Danilo mostrou um sorriso solidário e sincero com uma risada rápida.

– Você é o irmãozinho caçula que eu nunca vou ter – Danilo deu de ombros – E por mais que as coisas aconteceram bem estranhas entre a gente, eu gosto de você e quero que seja feliz.

Alguma coisa aqueceu o coração de Erick. Só sentia aquele tipo de coisa quando estava com Amanda ou Nathália. Aquele sentimento de que estava sendo amparado e que poderia contar com aquela pessoa. Era bom sentir aquilo por Danilo, ainda mais depois de tudo o que ele fez por si. Quis abraçar Danilo o mais forte que podia, mas estava verdadeiramente impossibilitado no momento.

– Valeu, cara... É bom saber disso. – disse simplesmente. Sabia que não era o suficiente, mas pelo menos era um começo.

Danilo apenas assentiu, não dizendo mais nada. O silêncio era estranhamente confortável entre os dois e ambos gostavam daquilo, parecia que apenas a presença do outro já era suficiente. Erick agradeceu imensamente. Coisa erradas vinham lhe passando pela cabeça várias e várias vezes, mas não as fazia apenas pela sua mãe, Nathália e Amanda. Então era bom acrescentar Danilo à lista de motivos pelos quais ele não podia tirar sua vida.

– Você... Tem um espelho? – perguntou Erick depois de um tempo. – Quero ver o tamanho do estrago.

Danilo hesitou, mas não falou nada. Deixou o gelo no pé de Erick em uma posição que não caísse e se levantou, sumindo pela porta. Voltou alguns segundos depois segurando um espelho de maquiagem que deveria pertencer a mãe do garoto.

Erick ficou arrependido quando viu o reflexo no espelho.

Por mais que seu rosto estivesse mais limpo, dava pra ver os inúmeros cortes que tinham sido abertos por conta dos socos. Seu nariz estava em um ângulo completamente estranho, além dos olhos estarem vermelhos escuros, tomando um tom arroxeado. Ainda sentia o gosto de sangue na boca, a parte interna deveria estar toda arrebentada, pois seus lábios estavam inchados e cortados.

Erick levou a mão até a parte de trás da cabeça, onde bateu no asfalto umas duas vezes. Não estava sangrando, mas ele sentiu um corte que tinha sido feito ali. Sua orelha também tinha algumas manchas vermelhas e roxas, além de alguns lugares que era possível ver o sangue que não tinha sido limpo.

Então Adriana apareceu na cozinha, carregando algumas coisas e uma listinha na mão.

– Danilo, você pode por favor comprar essas coisas para mim? Não achei tudo o que preciso no seu kit de primeiros socorros nem no banheiro.

– Claro, tia – ele disse pegando a lista e o dinheiro que Adriana havia lhe entregado – Eu volto daqui a pouco.

Ele saiu da cozinha e segundos depois Erick ouviu a porta da frente fechando. Adriana sentou-se na cadeira que Danilo ocupava anteriormente, olhando com ternura para Erick. Ele podia ver as olheiras debaixo dos olhos dela, assim como o semblante totalmente cansado e desolado da mãe.

Mas o que mais lhe doía eram os hematomas que cobriam o rosto da mulher. Ela não estava tão ruim quanto ele, mas apenas um único roxo ou corte em sua mãe já deixava Erick completamente desesperado e com raiva. Havia um hematoma ao redor de seu olho esquerdo, assim como um corte pequeno no supercílio. Fora isso, Adriana estava intacta.

Um sentimento de impotência lhe abateu, já que não podia fazer nada para tirar a mãe daquela situação. Sentiu-se mal por aquilo e quis chorar, mas assim que sentiu as mãos geladas da mulher sobre seu rosto, a vontade imediatamente passou.

– Me perdoe por tudo, meu amor – Adriana começou. Respirou fundo e soltou o ar lentamente – Eu queria poder ter feito alguma coisa mais cedo, mas eu fui fraca demais para isso.

– Você não é fraca, mãe – ele disse firme – Muitas pessoas nunca teriam aguentado o tanto de tempo que você aguentou. Você é a maior guerreira que eu conheço. Eu te amo e você não precisa se desculpar. Foi tudo escolha minha.

– Não, Erick! Tudo o que está acontecendo é culpa minha e eu deixei que você e Nathália sofressem pelos meus erros. Eu jamais deveria ter continuado com esse casamento quando a Nathália tinha uns 2 anos. Eu sabia que isso poderia acontecer eventualmente e mesmo assim continuei com aquele desgraçado.

Erick ficou em silêncio, pois não sabia daquela história. Sabia que o pai era um alcoólatra, mas nunca soube que ele bateu em sua mãe antes de toda aquela merda que ele causou.

– Mas se eu não continuasse com ele, não teria um serzinho maravilhoso que você é. Então não foi tudo jogado fora – ela apertou a mão de Erick com um sorriso.

– Eu te amo, mãe – ele retribuiu o aperto, ainda meio fraco.

– Eu também te amo, meu anjo – Adriana acariciou os cabelos loiros de Erick – E eu prometo que nós vamos sair dessa okay? Vai ficar tudo bem...

Ela fez uma pausa.

– As coisas vão mudar, eu prometo.

[…]

As semanas foram se passando e a vida de Erick tinha sido virada de cabeça para baixo.

Ligaram para Amanda no dia seguinte ao acontecimento, deixando-a completamente preocupada. Tanto que ela fora para São Gonçalo no mesmo instante que ficara sabendo do ocorrido.

Foi bom ter a amiga do seu lado para acalmá-lo, mas detestava deixá-la extremamente preocupada.

Desde aquele incidente infeliz, Erick tinha sido praticamente obrigado por Danilo a ficar na casa dele. Adriana conseguiu ficar na casa de uma amiga no hospital, enquanto Danilo inventou uma desculpa para os pais para que Erick pudesse ficar lá sem maiores problemas até eles resolverem o que iriam fazer.

Obviamente, Virgínia e Edson ficaram curiosos a respeito dos inúmeros roxos que cobriam o rosto de Erick, assim como o tornozelo torcido e o nariz quebrado que precisou de uma cirurgia dez dias depois do acontecimento. Conseguiram inventar uma desculpa de briga na rua e como os pais de Danilo eram notoriamente um pouco negligentes, não foi difícil de eles acreditarem naquela mentira.

Ia com Danilo para o Colégio e conseguiu evitar esbarrar com o pai durante todo esse tempo. Era uma tarefa um pouco difícil, mas Erick não podia correr o risco de ser visto e possivelmente seguido. Além disso, com seu pé machucado não se locomovia para muitos lugares. Danilo e Amanda sempre iam para a sala dele nos intervalos.

Como a torção não tinha sido nada demais, como rompimento dos ligamentos, Erick passou três semanas com o pé imobilizado pela mãe e logo já estava se recuperando, assim como da cirurgia no nariz. Era um alívio ter se recuperado logo, pois os testes para os times de base de algumas equipes de vôlei eram em dezembro.

Apesar de todos os problemas, Erick estava,em parte, quase surtando de animação. Ficar na casa de dois astros do vôlei era simplesmente demais e eles ainda começaram a tratá-lo ainda melhor quando souberam que ele jogava como levantador e que iria fazer os testes paras as categorias de base de alguns times de vôlei prestigiados. Eles pareciam realmente animados com aquilo, como se Erick fizesse parte da família. O pouco tempo que eles passavam em casa e ficavam em contato com Erick era motivo para paparicarem o garoto. Danilo estava animado por ele, mas não parecia muito feliz com a reação dos pais.

– Algum problema com seus pais? – Erick perguntara um dia.

Danilo revirou os olhos.

– Eles estão fazendo a mesma coisa que fizeram quando eu fiz os testes. Prepare-se para uma festança se você passar. – ele fizera uma pausa.

Erick notou que ele estava se segurando para não falar mais alguma coisa, então ficou calado alguns segundos, encarando o amigo. Danilo o encarou de volta e soltou um suspiro.

– Não sei... Isso tá me incomodando... É como eles estivessem substituindo o Diogo... Colocando as esperanças e expectativas que eles não puderam por nele em você... Foi um saco ouvir eles perguntando de você quando não estava aqui.

Erick piscou os olhos.

– Você quer que eu vá embora? Eu posso arranjar outro lugar pra ficar... Amanda disse...

– Não – dissera ele convicto, segurando os ombros de Erick – O problema é com eles, não com você.

– Tem certeza?

– Shiu, não discuta. Tenho certeza sim.

Erick apenas assentiu e lançou um sorriso agradecido para Danilo, que retribuiu com um tapinha no ombro direito.

Lembrar-se daquilo deixava Erick muito agradecido. Ele nem sabia o que poderia fazer para retribuir tudo o que a família de Danilo estava fazendo por ele. Queria arrumar um modo de agradecê-los o mais rápido possível.

Erick estava a mais de um mês na casa de Danilo e, mesmo que se sentisse extremamente agradecido, sentia-se um pouco incomodado por estar dando trabalho. Mesmo que sua mãe mandasse um dinheiro para comida e outras despesas, era uma situação um pouco complicada. Não tinha para onde ir e Danilo disse que não iria tirar os olhos de Erick para que nada de mal lhe acontecesse.

Foi nesse tempo que conheceu a namorada de Danilo, Karine. Ele se sentiu culpado por atrapalhar o namoro dos dois, uma vez que Danilo evitava ficar afastado de Erick por muito tempo. Mesmo assim, a garota tinha sido super compreensiva e era bastante legal, conversando com Erick sobre livros e séries que ambos gostavam.

E assim foi o período de paz que Erick finalmente teve.

Ele e Danilo estavam no quarto, ambos concentrado em suas próprias coisas, deixando um silêncio agradável no cômodo. Danilo mexia em seu notebook, enquanto Erick estava sentado a escrivaninha lendo um livro qualquer que Danilo havia lhe emprestado.

Erick parou por alguns segundos, passando os olhos pelas folhas espalhadas que estavam a sua frente. Uma em especial lhe chamou a atenção e antes de puxá-la, ele deu uma olhada em Danilo, vendo que o outro não estava prestando atenção nele. Tirou-a da pilha, passando os olhos rapidamente por ela e ficando boquiaberto.

– Por que não me contou isso? – Erick virou-se para Danilo, os olhos levemente arregalados,

– O que? – Danilo disse distraído, sem olhar para Erick.

– Isso! – Erick levantou-se e chacoalhou a folha na cara de Danilo.

O garoto parou uns segundos, tomando as páginas da mão de Erick e as deixando de lado logo que viu do que se tratava. Passou as mãos nos cabelos curtos e olhou para Erick.

– Você não deveria mexer nas minhas coisas.

– Quando você ia me contar? – Erick ignorou o amigo.

– Não mexa nas minhas coisas, Erick.

– Isso é demais, cara! – Erick podia ser teimoso de vez em quando. Ou na maioria das vezes – Você vai né? Essa é sua melhor chance de...

– Eu não sei – Danilo o interrompeu com firmeza – Meus pais não sabem dessa convocação e eu não sei se quero mesmo ir.

– Mas Danilo, isso é maravilhoso! Você tem que ir! É Miami e seleção brasileira, isso vai ser demais pra sua carreira e seus pais vão ficar muito orgulhosos de você.

Danilo revirou os olhos. Erick não entendia a relutância de Danilo quanto ao vôlei. Desde sempre ele nunca parecia dedicado ao esporte e muito menos ter um interesse real.

– Por favor, não conte pra eles...

Eles ficaram em silêncio por um tempo.

– Você só joga por causa deles? – Erick perguntou meio receoso depois de um tempo.

– Eu não quero falar sobre isso...

– Você tem medo que seja expulso igual seu irmão? – teimou Erick. – Aposto que seus pais te amam muito e não fariam uma coisa dessas... Até por que você é um dos melhores centrais que eu já vi, pra sua idade, e você mesmo disse que seu irmão sempre foi ruim e...

– Não fale de Diogo, Erick – a voz de Danilo era ameaçadora e completamente na defensiva.

– Mas você precisa...

– Por favor, não insista.

Por mais que Erick quisesse conversar sobre aquilo, ele preferiu respeitar a decisão de Danilo, que não parecia em um pouco confortável com aquela situação. Sabia da história do irmão, mas não sabia que Danilo era tão sensível quando se tratava daquele assunto.

– Tudo bem... – disse Erick depois de alguns segundos.

Danilo assentiu aparentando estar agradecido por Erick não insistir. Então ele voltou para a cadeira da escrivaninha, deixando a folha no topo da pilha. Erick voltou a ler o livro e Danilo voltou a mexer no notebook.

Já era quase de noite quando Danilo chamou Erick com tanto entusiasmo que o outro quase caiu da cadeira, já que estava em uma posição completamente largada.

– Quer me matar ou algo do tipo, criatura? – falou Erick se ajeitando na cadeira antes de olhar para Danilo.

– Vem cá! Rápido! – exclamou com um sorriso no rosto.

Erick levantou-se rapidamente e foi até Danilo, sentando-se ao seu lado e vendo a tela no computador.

– Não...

A tela estava aberta no site oficial do clube que mais queria entrar. Diante dos seus olhos, estava a lista dos novos atletas que integrariam as categorias de base do clube. E Erick podia ver claramente o último nome da lista.

“Erick Moreira Schneider”

– Ai meu Deus... – ele sussurrou e abriu o maior sorriso que já dera depois de tanto tempo. – Eu passei caralho! EU PASSEI, DANILO! PORRA!

A felicidade lhe invadiu de tal maneira que Erick não pode se conter e abraçou Danilo tão forte que o outro teve que lhe dar tapas nas costas para poder ser solto. O sorriso de Erick era tão grande e radiante que Danilo pensou que estava vendo coisas. Nunca tinha visto o outro tão alegre e tão animado como estava naquele momento.

Danilo não conteve o sorriso de alegria pela felicidade do amigo.

Seu coração estava acelerado no peito devido à adrenalina e alegria que sentia. Queria sair gritando para todo o mundo que tinha conseguido passar. Queria que todos soubessem que ele iria ser feliz dali em diante.

Porém, tinha alguém em especial que Erick necessitava contar aquela notícia. E as sessões com Cristina o ajudaram naquele momento, quando pegou o celular e ligou para aquela pessoa que habitava seus pensamentos com mais frequência do que gostaria.

Erick afastou todas aquelas coisas que lhe impediam de falar com Henry. E a euforia era tanta que tinha conseguido aquilo com mais facilidade do que tinha imaginado, principalmente quando ouviu a voz familiar do outro lado da linha depois do segundo toque.

– Alô? Quem é? – perguntou Henry.

Aquela voz acendeu alguma coisa no peito de Erick e antes que ele pudesse sentir qualquer outra coisa, ele finalmente disse o que queria dizer em todas as vezes que ligara para Henry e desistira antes mesmo de qualquer coisa.

– Oi, Henry.


Notas Finais


Então? O que acharam desse capítulo?
Foi um dos capítulos que eu mais gostei de escrever apesar de ter sido bem diferente na primeira vez que escrevi. Espero mesmo que vocês tenham gostado do capítulo e do final desse arco ♥
PARA QUEM NÃO LEU AS NOTAS INICIAIS: HIATUS DURANTE UM MÊS PARA EU ME ORGANIZAR ♥
PREVISÃO PARA O PRÓXIMO CAPÍTULO: 25/05
Nos vemos nos comentários! Ainda estou respondendo os que estão pendentes, mas não deixe de enviar o seu! Vou amar e responder com muito carinho ♥
Espero que entendam o motivo do hiatus e não me odeiem :c
Ghost Kisses
~Marceline


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