1. Spirit Fanfics >
  2. Além das Quadras >
  3. Querer?

História Além das Quadras - Querer?


Escrita por: MarcelineA

Notas do Autor


GENTE, ME PERDOEM A DEMORA E NÃO DESISTAM DE MIM
Não tenho motivos para dar, apenas que me enrolei e ainda estou enrolada, mas vida que segue e aqui está o capítulo
Esse capítulo é tipo: AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
EU TO RESPONDENDO OS REVIEWS, NÃO ME MATEM, VOU RESPONDER TODOS
BEIJOS
TCHAU

Capítulo 9 - Querer?


Fanfic / Fanfiction Além das Quadras - Querer?

Fevereiro de 2014

Erick tinha acabado de desligar o Skype com Henry quando seu celular tocou.

Era de manhã quando recebeu uma chamada pelo celular do melhor amigo. Tinham conversado animadamente até àquela hora e Erick estava morrendo de fome, pois já tinha passado do meio-dia.

Mesmo assim, atendeu o celular, vendo que era Emerson quem estava ligando.

Você se esqueceu – a voz doce e fofa de Emerson soou do outro lado da linha.

Erick franziu o cenho.

Esqueci do quê?

A gente tinha combinado de ir no shopping hoje de manhã pra eu comprar uma joelheira nova. – Erick conseguiu identificar um pouco de raiva na voz do amigo.

Puta que pariu”, ele pensou, batendo na testa a mão que não segurava o celular.

Porra, cara… Me desculpa – ele falou, passando a mão nos cabelos cacheados – Henry me ligou e eu acabei me empolgando…

Erick ouviu o suspiro de Emerson. O outro garoto sabia da existência de Henry. Como não saberia? Erick basicamente só conseguia falar sobre Henry e vôlei, dificilmente tinham uma conversa fora daqueles dois assuntos. Erick sabia que às vezes podia ser bem chato falando do melhor amigo, mas era inevitável. Sempre foi inevitável falar sobre Henry.

Eu entendo que vocês estejam separados, mas poxa… Você tinha prometido ir comigo, Erick – disse Emerson, a voz triste.

Erick sentiu-se culpado. Não era de quebrar promessas. Ele tinha que fazer algo para reparar aquele erro.

Eu sinto muito, cara – falou Erick, levantando-se da cama e começando a andar pelo quarto. – O que eu posso fazer pra tu me desculpar? Podemos ir agora depois do almoço.

Eu já fui com meus pais, não precisa se preocupar – comentou Emerson.

O silêncio caiu sobre eles por alguns segundos. Erick não sabia o que falar. Não sabia o que poderia fazer para Emerson lhe desculpar.

Você… – começou Erick, coçando a nuca – Quer ir pra praça? Podemos tomar sorvete ou o que você quiser.

Tipo um encontro? – perguntou Emerson parecendo mais animado.

Erick franziu um pouco as sobrancelhas com a pergunta. Bom, se eles iriam se encontrar, podia dizer que era um encontro, não é mesmo? Eram amigos e amigos se encontravam de vez em quando.

Sim, sim

Okay! – a voz de Emerson exalava excitação contida – Que horas você vem me buscar?

Hm… às 16?

Emerson parou alguns segundos para depois responder.

Eu vou ver se não tenho nada mais importante pra fazer e depois te digo.

Mas você… – começou Erick, mas Emerson desligou na sua cara.

Ele tirou o celular da orelha e olhou para a tela de maneira curiosa. Não era ele que queria companhia? Achou ligeiramente estranho, mas logo aquilo saiu de sua cabeça quando sua mãe lhe chamou para almoçar.

Guardou o celular no bolso dos shorts e seguiu pelo corredor até a cozinha, vendo seus pais e irmã já sentados à mesa e comendo o macarrão que Nathália havia feito. Serviu-se e sentou-se ao lado da irmã, começando a comer em silêncio.

Estava falando com o Chuchu? – perguntou Nathy, olhando para Erick. Ele sempre achou aquele apelidinho bem engraçado, então foi inevitável o sorriso.

Sim, ele me ligou agora de manhã – ele respondeu – Ah, talvez eu vá sair com o Emerson, tudo bem?

Não – disse seu pai convicto.

Por quê? – indagou Erick, indignado.

Porque eu disse não – respondeu Anderson com uma cara séria.

Eu quero saber o motivo, po!

Porque eu não quero.

Mas pai!

Não, Erick!

Mãe! – exclamou virando-se para Adriana com um semblante de súplica.

Desde que começara uma amizade com Emerson, seu pai parecia que fazia de tudo para eles não terem contato. Erick achava aquilo estranho, pois o garoto nunca tinha feito nada para ser tratado daquela forma. Já tinha perdido várias saídas com ele por causa de seu pai. Sua mãe tentava convencê-lo a deixar, mas nem sempre funcionava. Anderson tinha um temperamento imprevisível.

Anderson, deixe o menino sair – ela disse, acariciando a mão do marido. – Ele quase não fez amigos, exceto por esse menino. Não tem nada demais eles saírem.

Anderson olhou para Adriana com uma expressão que Erick não conseguiu decifrar, mas ficou atento para a conversa de olhares entre os pais. Eles fizeram algumas expressões e por fim, Anderson revirou os olhos e deixou os ombros caírem, olhando para Erick.

Tudo bem, mas quero você em casa às 19h e sem insistência para ficar mais.

Erick preferiu não contrariar. Seu pai estava um porre nos últimos dias, então ficou feliz por ele ter o deixado sair com Emerson. Ele ficou toda hora olhando o celular, esperando o outro garoto ligar. Henry tinha saído, então não podia lhe mandar mensagens naquela hora. Erick sentiu-se frustrado por não ter ninguém para conversar.

Terminou de comer, tendo que lavar a louça depois de todos acabarem, e assim que finalizou a tarefa, foi para o seu quarto. Como Emerson não tinha ligado até aquele momento, Erick resolveu ler, já que não tinha mais nada melhor para fazer.

Quando eram quase 15 horas, Erick resolver ligar para Emerson para saber se ele iria querer mesmo ir à praça com ele. O garoto demorou tanto para atender que Erick estava quase desligando quando a voz do outro soou do outro lado da linha.

Alô, Thiago?

Erick franziu o cenho.

Não, é o Erick – respondeu, achando a atitude do amigo estranha – Quem é Thiago?

Ah, é você – disse Emerson, parecendo meio entediado – Ninguém em especial, só um carinha aí.

Erick estava mesmo perdido.

Tá, né... Então você vai poder sair comigo?

Ah, é mesmo. Esqueci disso – falou – Espera um pouco.

Ok...

Então Emerson saiu da linha e Erick ficou esperando. E esperando. E esperando.

Erick não entendia aquilo. Emerson estava brincando com sua cara ou algo do tipo? Mesmo assim esperou o outro voltar, pois ainda estava se sentindo culpado por não ter saído com ele de manhã. Apesar de Emerson não estar colaborando, Erick foi paciente.

Sim, podemos ir – Erick nem soube quanto tempo passou e acabou se assustando com a voz do outro. – Me pega às 16h30.

E desligou na cara de Erick mais uma vez.

Emerson nunca tinha lhe tratado daquela maneira e Erick estava realmente curioso para saber o motivo daquilo tudo. Iria perguntar quando fossem sair.

Voltou a ler seu livro até às 16h, quando foi começar a se arrumar. Tomou um banho rápido e escolheu uma bermuda preta e uma regata banca, já que estava fazendo um calor dos infernos. Calçou seus All Star pretos, pegou sua carteira e celular e foi para a sala.

Mãe, eu estou indo, okay? – disse pegando as chaves do chaveiro que ficava próximo à porta.

Tudo bem – ela respondeu, olhando para o filho – Não esqueça o horário e fique com o celular ligado. Cuidado por aí, viu?

Erick apenas assentiu e saiu do apartamento.

Emerson morava a algumas quadras dali, então Erick foi caminhando até lá, os fones de ouvido conectados ao celular tocando um rap qualquer. Estava sempre atento para qualquer coisa, afinal, as ruas do Rio de Janeiro não eram tão seguras quanto as de Belo Horizonte.

Depois de 15 minutos de caminhada, Erick finalmente chegou à fachada branca do prédio de Emerson. Após passar pelo porteiro se identificando, foi até o elevador. Chegou ao quinto andar rapidamente e logo se dirigiu para o apartamento 503, tocando a campainha e pausando a música do celular.

Ele ficou apreciando viajadamente o batente da porta, pois o amigo demorou mais que o necessário para abrir a porta.

Oi! – disse Emerson, o sorriso branco com aparelho estampado no rosto. Ele parecia bem animado agora.

Ei – respondeu Erick, sorrindo também, as mãos nos bolsos da bermuda. – Vamos?

Emerson acenou afirmativamente e fechou a porta do apartamento. Caminharam em silêncio até o elevador, que para a sorte deles ainda estava lá. Entraram e apertaram o botão do térreo.

Pra onde você vai me levar? – Emerson perguntou depois de alguns segundos em um silêncio meio constrangedor.

Pensei na praça, mas você quem sabe – Erick deu de ombros e voltou seu olhar pra o de Emerson. – Por que desligou o celular na minha cara?

Os olhos castanhos escuros do garoto vacilaram diante do olhar de Erick. Ele desviou o olhar e passou a mão nos cabelos pretos cheios de gel. O garoto estalou a língua no céu da boca e abaixou a mão, passando-a nos shorts jeans.

Desliguei? – ele perguntou sem graça.

Desligou. Pode me dizer por quê? – Erick mediu o outro com os olhos, vendo que ele não estava agindo normalmente.

Passaram-se alguns segundos até Emerson responder.

Minha mãe me chamou. Desculpe por isso.

Erick semicerrou os olhos duvidando do motivo, mas preferiu deixar por isso mesmo.

Okay, vamos então.

Chegaram ao térreo e saíram do elevador, Erick entrando em outro assunto, para o alívio de Emerson. Começaram a conversar sobre Supernatural, uma série de TV que ambos gostavam muito.

Durante o percurso, Erick não deixou de reparar o modo esquisito que Emerson lhe olhava. Ele não sabia muito bem o que significava aquele olhar, então resolveu perguntar.

Por que está me olhando desse jeito? – interrompeu o discurso de Emerson sobre Castiel, um personagem da série.

Erick viu o outro franzindo o cenho e as bochechas corando levemente. Ele desviou o olhar do de Erick e enfiou as mãos no short.

To te olhando normalmente – respondeu Emerson.

Não minta pra mim – Erick disse cutucando a bochecha do outro com o indicador.

Para com isso, Erick – riu Emerson afastando a mão de Erick, mas segurando-a por alguns longos segundos antes de soltá-la. – Não to te olhando diferente.

Erick franziu os lábios e preferiu deixar por aquilo mesmo. Se Emerson não queria dizer por que estava estranho, ele não iria insistir. Então começou a falar sobre vôlei, recebendo respostas meio desanimadas por parte do outro.

Subitamente, teve vontade de tomar café.

Ei, vamos numa cafeteria? – perguntou Erick. – Fiquei com vontade.

Me diz quando você não tem vontade de tomar café – riu Emerson – Podemos ir lá, mas ainda quero sorvete.

Beleza.

Então foram até uma cafeteria que tinha ali perto do praça e da casa de Emerson. Erick fez o seu pedido e esperou conversando com o outro. Quando pegou seu café, forte e quente, saíram do estabelecimento e foram até a sorveteria do outro lado da praça.

Entraram no estabelecimento e Emerson escolheu um picolé, Erick estranhando o pedido.

Você não queria sorvete?

Deu vontade de chupar picolé agora – ele respondeu dando de ombros.

Erick assentiu, tomando mais um gole de seu café, o líquido quente e amargo descendo pela sua garganta era bom. Emerson logo se juntou a ele, lambendo o picolé de cima a baixo.

Você quer? – perguntou Emerson oferecendo o picolé.

Quero

Emerson estendeu o picolé na direção da boca de Erick, que segurou a mão do garoto para dar mais firmeza e deu uma mordida, sentindo o gosto de chocolate com amendoim. Voltaram a caminhar pela praça.

Você acredita que Henry não gosta de chocolate com amendoim? Ele é louco. Melhor combinação impossível – comentou Erick após largar a mão de Emerson.

Ah é? – disse o outro distraidamente e com um ar desinteressado.

É! – exclamou Erick, não percebendo a cara levemente emburrada do outro – Ele prefere chocolate com avelã. Sempre que eu via esse Talento vendendo, eu comprava pra ele. Henry tem uns gostos peculiares às vezes... Acredita que ele me fez comer brigadeiro com mozzarella? Por incrível que pareça...

Ei, Erick – disse Emerson, parando de andar e se botando na frente do outro. – Dá pra parar de falar desse cara pelo menos um segundo?

O que tem eu falar dele?

Às vezes enche o saco... – respondeu Emerson em um tom baixo.

Erick inclinou a cabeça para o lado, as sobrancelhas loiras franzidas em curiosidade. Ele olhava para baixo, já que Emerson era uns bons 15 centímetros menor que ele.

Subitamente, Emerson pegou na mão livre de Erick e a apertou com força.

Na verdade... – ele disse baixo, o olhar no chão. – É que eu... Eu não gosto que você fique falando toda hora dele por que... Bem, eu gos...

Emerson foi brutalmente interrompido quando algo grande e amarelo se jogou em cima de Erick, fazendo com que o outro cambaleasse e quase caísse no chão. Seu café não teve a mesma sorte.

Demorou um pouco para Erick perceber que um cachorro Golden Retrivier estava tentando acasalar com ele.

MEU DEUS! LARGA ELE, MAGNUS! COMO PODE SER TÃO TARADO? MEU DEUS! MAGNUS! – a voz de uma garota soou nos ouvidos de Erick e ele tentou ver de onde vinha.

O cachorro foi tirado de cima dele e Erick pode ficar ereto novamente. Então observou a garota brigando com o cachorro e colocando-o na coleira novamente. Ela tinha cabelos castanhos claros e cacheados, fazendo com que eles ficassem bem cheios e meio bagunçados. Seus olhos eram castanhos escuros e sua pele morena contrastava com o vestido branco que usava.

Eu sinto muito por isso – ela disse se dirigindo a Erick, a coleira do cachorro firme em mãos. – Ele faz isso com frequência. Cachorro malvado.

Erick riu.

Deve ser pelo o nome – ele disse sorrindo para a garota.

O quê? – ela pareceu realmente confusa.

Magnus – repetiu Erick – O Alto Feiticeiro do Brooklyn, um dos personagens mais tarados que eu conheço.

Os olhos da garota pareceram brilhar.

Meu Deus, você já leu os livros da Cassandra Clare? – ela perguntou, verdadeiramente fascinada. Erick apenas riu e concordou.

Com certeza uma das minhas autoras favoritas – ele disse, animado também. Era raro achar alguém que gostasse de ler, ainda mais os mesmos livros que ele.

Sim! Ela é fabulosa mesmo! Mal posso esperar para ler os próximos projetos dela.

Erick sorriu concordando.

Sou Erick – disse ele estendendo a mão para a garota.

Amanda.

[…]

Erick já tinha passado por aquilo antes, então nem se deu o trabalho de ficar preocupado. Mas tinha que dizer que era um saco ter que fazer novas amizades em um colégio novo.

Como já estudava no CMBH, ele foi simplesmente transferido para o CMRJ, então não teve que passar pela semana de adaptação de novo. Pelo menos isso.

Para seu digníssimo azar, Henry estava sem crédito e não poderia conversar com ele. Então Erick estava torcendo para as pessoas serem no mínimo simpáticas com ele.

Com o uniforme já no corpo, ele jogou a mochila no ombro, pegou seu celular e fone de ouvidos e foi para a sala esperar seu pai para irem. Para sua sorte, ou não, seu pai estava trabalhando no Colégio, então ele pegava carona todo dia. O único lado ruim era que teria que voltar de ônibus, mas dava para conviver com isso.

Em poucos minutos, seu pai apareceu vestindo o uniforme camuflado, chamando Erick para que pudessem descer. Fizeram o percurso até o carro em silêncio, que persistiu até chegarem ao Colégio.

Erick estava com um pouco de raiva de seu pai. Tinham discutido muito sobre a mudança do nome de guerra de Erick e, por puro suborno, seu pai tinha ganhado a discussão. Com isso, seu nome de guerra passou a ser “Schneider”. Nunca foi muito fã do sobrenome por parte de pai, este que tinha muito orgulho da descendência alemã.

Chegaram ao Colégio após alguns minutos, Erick se despedindo do pai e caminhando um pouco sem rumo. Sabia que as coisas era um pouco diferentes, então ficou meio sem saber para onde ir.

O CMRJ era maior do que o CMBH se fosse comparar por área construída, o do Rio de Janeiro tendo várias construções antigas e coloridas, muito próximas. Algumas árvores eram vistas aqui e ali, mas não era uma área bem verde como no CMBH.

Andava meio alheio aos seres humanos ao seu redor, tirando fotos de todos os lugares pelos quais passava para mandar para Henry mais tarde. Estava bem distraído, tanto que não notou quando tropeçou em um paralelepípedo saliente e quase caiu no chão, sendo segurado pelo braço por uma mão.

Ei, cuidado! – exclamou uma voz feminina vagamente familiar. Erick se endireitou e virou-se para agradecer – Você é o menino da praça!

Erick pareceu verdadeiramente espantado com aquilo. Nunca pensou que encontraria Amanda de novo.

Você é a menina do cachorro – ele disse sorrindo – Amanda, certo?

A garota assentiu com a cabeça.

Me desculpe, eu esqueci o seu nome. Sou boa com fisionomia e péssima com nomes – ela disse torcendo os lábios. Erick soltou uma risada.

Erick.

Amanda assentiu e abaixou o olhar, mirando a plaqueta vermelha com o nome de guerra de Erick no peito.

Sobrenome? – ela perguntou apontando para o objeto de identificação.

Erick bufou e concordou.

Eu não queria mudar, mas meio que fui obrigado.

Aí é complicado.

Seu nome é Amanda Cristina? Que fofo – comentou Erick olhando a plaqueta da menina.

Amanda revirou os olhos, mas sorriu.

É, eu gosto do Cristina.

Combina com você.

Obrigada. – ela disse – Schneider também é um nome legal. Descendência alemã?

Não gosto muito e sim.

Entendi...

Ficaram por alguns segundos em silêncio até Amanda voltar a puxar assunto.

Você já escolheu alguma arma?

Erick franziu o cenho pensativo.

Não sei, lá em Belo Horizonte a gente não tinha muito esse lance de arma.

Sei – ela disse – Mas aqui tem que escolher... É tudo separado e tudo o mais. Mas como você é transferido, provavelmente vai ser mandado pra Comunicações.

Você é de qual?

Comunicações – ela sorriu, dando de ombros – Ia ser legal sermos colegas de sala. Estou precisando de gente menos babaca.

O povo aqui não é muito legal?

Ah, eu não gosto muito – Amanda deu de ombros. – O povo de Cavalaria e Infantaria vivem em pé de guerra e a galera das duas armas são bem chatas. Infelizmente temos que conviver em certos momentos.

Então ficaram conversando e andando, Erick não fazendo ideia de para onde estava sendo levado pela menina. Porém, estava feliz por ter pelo menos alguém para conversar no seu primeiro dia.

Mal podia esperar para contar tudo o que tinha acontecido para Henry.

* * *

Atualmente – Ao longo de agosto de 2016

Erick nunca desejou tanto voltar às aulas quanto desejava naquela última semana de férias.

Ele fazia de tudo para não ficar em casa, sempre inventando um motivo para sair, mesmo que fosse apenas para ficar andando na orla da praia ou lendo algum livro em uma cafeteria qualquer.

Seu pai tinha tirado férias no mesmo período que ele e Erick não aguentava ter o homem por muito tempo perto de si, então deu graças a Deus que viajaria para Campinas para os Jogos da Amizade. Porém, sua “felicidade” durou muito pouco e lá estava ele novamente, tendo que aturar seu pai chegando bêbado em casa e às vezes até mesmo batendo em sua mãe.

Odiava aquilo. Odiava Anderson com todas as suas forças, mas ao mesmo tempo tinha medo e não sabia o que fazer.

Para completar a desgraça, Amanda tinha viajado com a família para Cabo Frio e só voltaria um dia antes das aulas começarem. Então Erick estava meio perdido, precisava da amiga para desabafar e para ajudá-lo.

Afinal, não tinha mais ninguém para lhe ouvir.

Ter apenas Amanda como sua confidente era um problema, pois não era sempre que a garota podia ouvi-lo. E ele não a culpava, afinal, ela tinha a vida dela. Às vezes sentia-se apenas um peso na vida de Amanda, mas ela sempre dizia o contrário, que sem ele a vida dela não seria tão boa.

Então, de maneira lenta de um pouco dolorosa, as aulas começaram e a primeira coisa que Erick fez ao ver Amanda foi abraçá-la o mais apertado que conseguia. Estava segurando as lágrimas, não queria chorar na frente de todo mundo, mas vontade não lhe faltava. A garota não disse nada, apenas retribuiu o abraço, rodeando a cintura de Erick da melhor forma que podia, já que a diferença de altura entre eles era considerável.

– Você pode dormir lá em casa hoje – ela sugeriu acariciando a cintura de Erick. Como ele sentia falta daquilo. – Aparentemente você tem muita coisa entalada.

– Tá tudo uma bosta, Mandy... – ele sussurrou, apertando-a mais contra seu corpo. – Ontem meu pai chegou bêbado de novo... Minha mãe teve que me trancar no quarto pra eu não apanhar no lugar dela e... – ele fez uma pausa, respirando fundo e contando até três – As ofensas, o quanto ela se esforçava pra não gritar... Cara, foi a pior sensação do mundo.

– Eu sei, eu sei – ela apertou ainda mais o corpo de Erick contra o seu – Mas hoje ela tem plantão, não é? Vocês não vão precisar ficar perto daquele monstro.

Erick apenas assentiu e se desvencilhou da garota a contragosto. Ela esboçou um sorriso triste para ele e segurou sua mão.

– Vou pedir para minha mãe fazer uma torta de café pra você – ela disse, tentando fazer com que o melhor amigo se sentisse melhor. – Sei que ela vai adorar te ver.

Erick conseguiu dar um mínimo sorriso. Precisava do clima familiar como nunca precisou na vida.

[…]

Deu graças a Deus que seu pai não estava em casa quando voltou do Colégio. Ele arriscou muito levando Amanda para sua casa, não queria que aquilo acontecesse novamente, ainda mais com sua melhor amiga.

Então, como não sabia que horas ele chegaria, Erick foi tomar banho enquanto Amanda arrumava sua mochila para passar a noite na casa da garota. Ele tinha avisado a mãe que faria isso e Adriana pareceu aliviada ao ouvir que Erick não ficaria em casa sozinho com o pai.

Vestiu uma roupa qualquer quando voltou para o quarto e saíram rapidamente para o ponto de ônibus, conversando sobre coisas banais enquanto não podia conversar mais seriamente.

Era bom estar com a Amanda. Ela conseguia destruir todo o clima tenso e ruim que rondava Erick e ele sentia-se totalmente bem perto da garota. Era como se nada daquelas coisas horríveis tivesse acontecido. Era como se ainda tivesse sua vida normal em Belo Horizonte, Amanda sendo acrescentada àquela vida maravilhosa que tinha.

Chegaram ao apartamento de Amanda alguns minutos depois de terem entrado no ônibus. Atravessaram o condomínio até o bloco que a garota morava, esta tomando a dianteira para abrir a porta do prédio. Subiram até o segundo andar conversando amenidades, Erick soltando uma risada ou outra de algo engraçado que Amanda dizia.

Assim que a garota abriu a porta, um vulto dourado passou por ela e se jogou em cima de Erick, fazendo com que este quase caísse.

– Magnus estava com saudades – disse Amanda rindo ao ver o Golden em pé, sendo segurado por Erick, e lambendo o rosto do garoto.

– Também estava com saudades de você, garoto – riu Erick. acariciando o pelo macio de Magnus.

– Vamos, Magnus, pra dentro – ordenou Amanda e o cachorro a obedeceu rapidamente abanando o rabo. – Meus pais ainda não chegaram do trabalho.

Erick apenas assentiu. O apartamento de Amanda era de tamanho mediano e decorado de maneira neutra. Ficava um tanto impressionado por terem Magnus naquele local, mas a varanda da sala ajudava bastante. Caminharam até o corredor onde ficavam os quartos. Amanda parou numa porta fechada e bateu antes de abrir.

– Renan – ela chamou pelo irmão mais novo – Erick está aqui.

O garoto de 13 anos levantou o olhar do caderno e sorriu na direção de Erick, levantando-se para cumprimentar o amigo da irmã. A pele de Renan era bem mais escura que a de Amanda, mas isso não impedia que eles fossem parecidos em alguns traços, como nariz, boca e formato e cor dos olhos.

– E aí, cara? – cumprimentou Erick com um sorriso simpático.

– Oi, Erick – Renan disse retribuindo o sorriso – Faz tempo que você não vem aqui.

– Pois é... – deu de ombros – Vários problemas.

Renan assentiu.

– Aparece mais vezes, podemos jogar vôlei na quadra mais tarde. – sugeriu o garoto.

Amanda revirou os olhos.

– Não, ele é meu hoje – ela disse, fazendo careta para o irmão mais novo – Sem vôlei hoje.

– Só porque você é uma sedentária, não significa que eu tenha que ser também.

– Ah, tá. Como se você amasse praticar exercícios.

Erick soltou uma risada.

– Ei! Eu gosto de jogar.

– Só quando Erick vem aqui.

– E o que que tem? Ele gosta também, oras.

– Sua irmã tem razão, Ren – comentou Erick – Hoje eu sou dela.

– Ainda estou esperando o dia do casamento de vocês – brincou Renan.

– Só nos seus sonhos, pirralho – resmungou ela. – Vamos fazer macarrão pro almoço, você quer?

– Você demorou demais, já almocei.

Amanda apenas assentiu e saiu do quarto do irmão. Erick ficou alguns segundos despedindo-se de Renan e depois seguiu a amiga até o quarto dela. O quarto de Amanda era bem familiar para Erick, quase como um local de refúgio. Talvez fosse mesmo. Ele deixou as coisas em cima da cama da garota e se jogou lá, vendo Amanda desabotoando a camisa do uniforme.

– Como foram as férias em Cabo Frio? – ele perguntou.

– Ah, foram entediantes como sempre – ela respondeu, terminando de tirar a blusa.

Erick não soube quando começaram a ter aquele tipo de intimidade. Amanda não se importava em se despir em sua frente e ela era a única que conseguia o mesmo dele. Talvez fosse quando ela acidentalmente viu as costas cheias de cicatrizes de Erick e ele se sentiu na obrigação de contar o que aconteceu à amiga.

De início ele se sentiu a pior pessoa do mundo, mas Amanda foi totalmente compreensiva e ajudou Erick a tentar superar aquilo. Mesmo que não tenha superado por completo, foi de muita ajuda o apoio da melhor amiga.

Ela também foi a única que não se afastou quando tudo começou a acontecer.

– A única coisa legal foi que minha prima me levou pra um luau em uma das praias – comentou Amanda, tirando a saia e ficando apenas com um short de lycra que usava sempre. – Fiquei com um cara superfofo.

– Pelo visto aproveitou bem a praia também – ele disse apontando para a marca de biquíni que era parcialmente coberta pelo sutiã.

Teve uma época que Erick tentou sentir-se atraído por Amanda. Ter falhado miseravelmente não foi novidade para ele.

Amanda era linda, ele não podia negar e a maioria dos garotos do CMRJ dizia que Erick tinha sorte por ter uma garota “tão gostosa” como amiga. Isso o deixava puto e por algumas semanas, ele pensou que fosse ciúmes. Porém, descobriu que ficava incomodado com aqueles pronunciamentos da mesma maneira que ficava quando ocorriam com Nathália. Achava aquele tipo de coisa uma puta falta de respeito e teve até uma vez que brigou com um cara do colégio por causa disso.

Amanda não era nada além de uma segunda irmã para Erick.

Talvez esse tenha sido mais um dos motivos por ter duvidado de sua sexualidade. Porém, não conseguia sentir atraído por ninguém, fosse homem, fosse mulher, fosse o que fosse.

Mas talvez tenha descoberto que isso não se aplicava a uma pessoa em especial.

– Ah sim – ela respondeu, sorrindo e indo até o armário – Praia todo santo dia e piscina toda santa tarde, não aguentava mais.

– Você sabe que vamos à praia algum dia, né?

– Você podia ser menos rato de praia – ela bufou. Erick soltou uma risadinha.

– Tu sabe que me acalma.

Lógico que ela sabia. Erick amava praia tanto quanto amava ler ou tomar café. Talvez a culpa disso era de Marge, que levava Henry e ele para uma casa de praia da mãe em Vila Velha.

– Pois é, o que eu não faço pra te agradar, não é mesmo?

Erick sentiu muita falta daquilo.

– Te amo por isso, Mandy – ele respondeu, sorrindo para ela.

– Quem olha pensa que é fofo assim sempre – ela zombou, vestindo um top por cima do sutiã florido. – E não vem dizer que é um poço de fofura porque sei que não é.

Erick ergueu as mãos em rendição e riu.

– Vamos logo, eu estou com fome e você vai cozinhar.

– Sim, senhora.

Estava muito quente, mas mesmo assim Erick continuou com sua camisa de mangas curtas junto com uma bermuda vermelha. Não podia correr o risco de Renan ver as cicatrizes. Caminhou até a cozinha atrás de Amanda e tiraram as coisas da geladeira enquanto conversavam sobre diversos assuntos que não tinham a ver com a viagem de Erick. Ele sabia que ela estava fazendo aquilo para acalmá-lo antes de ele ter que contar, então agradeceu por aquilo, mesmo sabendo que talvez não fosse funcionar tanto.

Estar com Amanda fazia Erick pensar em coisas positivas. Ela era uma pessoa positiva, então não era assombrado por coisas ruins que vagavam em sua mente quando ela estava ausente. A personalidade de Amanda contagiava Erick e ele sabia que podia ser ele mesmo na frente dela.

Quando Amanda disse que fariam macarrão, ela quis dizer que Erick o faria.

– Estava com saudades do seu macarrão, pode começar – ela disse, apoiando-se perto do balcão, bem ao lado de Erick.

– O que eu não faço por você, hein? – ele falou, franzindo o rosto pra ela.

– Que te ensinou a cozinhar, hein? Ingrato!

– Idiota.

– Chato.

– Ridícula.

– Eu vou dar na sua cara, Erick. – ameaçou de brincadeira.

Ele riu e ela revirou os olhos. Então começaram a conversar sobre o Colégio enquanto Erick fazia o macarrão. Não demorou muito para que a comida ficasse pronta e eles se sentassem à mesa para comer. Já eram quase 15h e Erick estava morrendo de fome.

– Meu Deus, eu amo sua comida – suspirou Amanda na primeira garfada.

– Obrigado – riu Erick, provando o macarrão e constatando que estava mesmo bom.

Ele gostava de cozinhar, lhe acalmava na maioria das vezes e gostava de ver a expressão de satisfação das pessoas, principalmente sua mãe, Amanda e Nathália. Por um segundo desejou ver a expressão de satisfação de Henry ao provar sua comida. Despachou o pensamento impróprio rapidamente.

– Te odeio por fazer uma comida melhor que a minha.

Erick riu. Ela tinha ensinado ele a fazer algumas coisas, principalmente doces, mas a paixão de Erick pela cozinha veio antes de conhecê-la.

– Também te amo.

Enquanto comiam, o celular de Erick tocou. Ele olhou para o verificador de chamadas, constatando que era Danilo. Revirou os olhos e encerrou a chamada.

– Parece que alguém quer falar com você – comentou Amanda, olhando pro celular. – Ele me perguntou de você algum dia que eu não lembro. Perguntou se você estava bem. Devo perguntar?

– Por favor, vamos falar disso mais tarde.

Amanda assentiu e puxou outro assunto. Conversavam enquanto comiam, deixando o clima na cozinha agradável. Era quase impossível ter um silêncio entre aqueles dois. Quando terminaram, Erick esperou Amanda lavar a louça e depois foram para o quarto da garota.

Ela fechou a porta atrás de Erick e fechou as janelas, ligando o ar condicionado. Deveria estar fazendo uns 38 graus naquele dia. Fechou as cortinas também, deixando o quarto escuro. Amanda se jogou na cama e Erick jogou-se ao seu lado após tirar a blusa que vestia.

– Pode falar quando quiser – ela sussurrou.

Eram esses os momentos possíveis para ter um silêncio entre eles.

Erick precisou de um tempinho para começar a falar. Amanda era a única pessoa que sabia de tudo o que tinha acontecido com Erick, a única a saber seus verdadeiros sentimentos. Nem Nathália sabia tanto a respeito dele quanto Amanda.

– Foi horrível, Mandy... – ele murmurou após alguns segundos. – Nunca pensei que pudesse fuder com tanta coisa em tão pouco tempo.

Então começou a relatar o que tinha acontecido nos Jogos, nos mínimos detalhes. Mesmo que doesse relembrar aquilo tudo (e praticamente reviver, pois ainda estava tudo muito claro em sua mente) Erick continuou contando. Em algum momento do seu relato, Amanda sentou-se e o puxou para que ele deitasse em seu colo, acariciando os cabelos curtos dele, o reconfortando.

Ela não se surpreendeu quando Erick começou a contar algumas partes com lágrimas nos olhos. Ele odiava ser tão sensível, odiava que aquilo estivesse acontecendo e odiava ainda mais o fato de que não conseguia pensar em nada para mudar sua situação. Tinha como mudar aquilo?

Amanda não falava nada, apenas escutava Erick falando e falando, respeitando as vezes em que ele parava para soluçar por causa do choro. Ela limpava as lágrimas do rosto vermelho do amigo da maneira que podia, mas elas não indicavam que iriam parar.

Erick sentia-se pesado ao contar aquilo. Toda a carga emocional daquele semana estava em suas costas naquele momento e ele não sabia o que fazer. Ao mesmo tempo em que queria ligar para Henry desesperadamente, queria manter-se longe do garoto a todo custo. Não queria mais sentir aquela dor.

– Por que você sentiu raiva dele por ter ficado com outras pessoas? – perguntou Amanda quando Erick terminou – Ele não é nada seu, Erick.

– Eu sei... – ele murmurou – Porra, eu sei! Mas... Eu não entendo! Uma hora ele está beijando caras e depois garotas. Se ele tivesse simplesmente ficado com garotas na minha frente, nada disso teria acontecido!

– Não? Tem certeza? – perguntou Amanda. – Eu acho que independente do que você tenha visto, uma hora você ia se perguntar o que se perguntou ano passado e faria a mesma coisa. Henry só foi o gatilho para isso porque você gosta dele.

– Eu não gosto dele, Amanda! – exclamou Erick, mas não parecia muito convencido. – Eu não posso gostar dele.

– Eu sei que é difícil pra você, mas você não pode mandar no seu coração – ela disse, calma. – Você não pode tratá-lo assim, ele não fez nada. Você sabe que ele não tem culpa de nada, assim como Emerson.

– Ele me fez questionar muitas coisas, Amanda! – ele exclamou, um tom meio desolado. – Eu não teria ficado com Emerson se... Se... – ele desistiu de falar. Não queria colocar em palavras o que tinha acontecido. Amanda respeitou e não o incentivou a continuar.

– Uma hora você ia se questionar isso, Erick. Demorasse o que fosse, você ia se perguntar se era mesmo gay. – Amanda disse, firme.

– Eu nem sei mais o que sou – ele sussurrou. – Por que tem que ser assim?

– Por que a vida gosta de ferrar com a gente, baby. Mas tudo fica mais fácil quando você admite pra si mesmo seus próprios sentimentos.

– Não sei o que eu sinto – declarou Erick – Nunca senti nada parecido por outra pessoa.

– Bom, pelo o que você disse... – começou Amanda – Eu entendo o lance da raiva e tudo o mais, mas sinto que você sentiu ciúmes de ter visto Henry com outras pessoas. E eu sei que você é bastante possessivo, então...

– O que eu senti foi apenas raiva, Amanda, não confunda as coisas – falou Erick, mas ele sabia que ela tinha razão. Sabia que sentiu ciúmes naqueles momentos, mas não era apenas isso. Tinha muito mais coisas e Erick não queria senti-las de novo.

Ficaram em silêncio, Amanda não querendo contrariar Erick, já que ele estava bastante emotivo. Ela continuou acariciando os cabelos de Erick, hora ou outra limpando alguma lágrima que ainda teimava em sair de seus olhos. A aparência dele era deplorável.

– E se eu gostar mesmo dele, Mandy? – perguntou Erick após vários minutos. A essa altura, ele já tinha parado de chorar.

– Você terá que superar seus medos e inseguranças antes de qualquer coisa – ela respondeu.

– Não vai ser fácil... – ele murmurou e soltou um suspiro. – Ele tem outra pessoa. Não precisa de mim.

– Nunca falei que seria – Amanda falou – E ele estar com outra pessoa não significa que ele não precisa de você. Eu não o conheço, mas pelo o que escutei dele vindo de você, Henry nunca te deixaria de lado.

– Depois de toda a merda impulsiva que eu fiz, duvido que ele me queira de volta. Mesmo como amigo.

– Você nunca vai saber se não falar com ele.

Erick às vezes odiava quando Amanda tinha razão.

– Liga pra ele – ela disse – Sei que você ainda tem o número dele.

Erick revirou os olhos. Depois que mudaram para o Rio, ele tinha trocado de número duas vezes. A primeira por conta da mudança, número o qual havia passado pra Henry e o segundo, que foi obrigado pelo pai a mudar por causa de Henry. O que Anderson não sabia era que Erick tinha anotado o celular do amigo em pelo menos três lugares diferentes.

E pelo WhatsApp sabia que Henry não tinha trocado de número.

– Eu não posso fazer isso – falou Erick – O que eu vou dizer?

– O que você sente, oras! – exclamou Amanda – Não é tão difícil dizer que está arrependido e que quer mudar as coisas.

– Amanda, eu fiz várias coisas horríveis com ele.

– Nunca é tarde para se arrepender e pedir desculpas.

Erick parou por uns segundos. Então tirou o celular do bolso e encarou o plano de tela, que era uma foto que Amanda tinha tirado dele jogando. Sentiu falta de Marge subitamente, já que a garota amava tirar fotos dele e de Henry jogando.

Abriu a lista de contatos e foi até o “H”, clicando no nome de Henry rapidamente. Colocou o aparelho na orelha e esperou. Seu coração estava acelerado e quando ouviu a voz de Henry do outro lado, simplesmente travou. Sua mente deletou tudo quando ouviu o “Alô?” do melhor amigo.

Ficou alguns segundos sem falar nada e então, por puro impulso, tirou o celular da orelha e finalizou a chamada.

– Por que desligou? – perguntou Amanda arregalando os olhos – Você poderia ter se desculpado!

– Eu não posso fazer isso, Mandy.

– Por que não?

– Não estamos mais perto – declarou Erick – Ele não vai mais sofrer comigo longe.

– E você? Vai continuar sofrendo?

– Se for pra ele ficar bem... Sim.

[…]

Os gemidos de dor e as palavras pronunciadas com ódio despertaram Erick de seu sono. Ele demorou alguns minutos para processar o que estava escutando, mas mesmo assim levantou-se da cama lentamente e foi até a sala, vendo o que nunca pensou ver em nenhum momento de sua vida.

Seu pai segurava sua mãe pelo braço com força e mesmo que a pele dela fosse morena, dava para ver os hematomas formados em vários pontos de seu corpo, principalmente braços e pernas. Ele tinha um cinto na mão e estava se preparando para acertar outro golpe em Adriana quando Erick correu até ele, segurando o braço que segurava o objeto.

– Você está maluco? – ele exclamou – Larga ela!

– Cala a boca, viadinho – disse Anderson de volta e empurrou Erick com seu braço. – Ela merece isso tanto quanto você.

– Ela não fez nada! Para com isso!

– Parar com o que? – disse o pai em tom sarcástico – Com isso?

Então acertou a coxa de Adriana com toda sua força, a fivela do cinto batendo na parte interna e deixando um hematoma enorme ali. A mãe de Erick reprimiu o grito, soltando um gemido de dor.

– Não faça isso! – gritou Erick, avançando em cima do pai novamente.

Tentou de tudo para alcançar a mãe, mas seu pai era forte demais e o impediu com facilidade.

– Ela gerou uma aberração como você – cuspiu Anderson. Estava claramente bêbado. – O que você é, é tudo culpa dela.

O cinto desceu mais uma vez, acertando a face de Adriana com o couro.

– Não! Para, por favor! Bata em mim, mas solta ela, por favor.

– Não! Não toque nele, Anderson! – exclamou Adriana já sem forças. – Não o machuque.

– Mas ele mesmo quer apanhar, Adriana – disse Anderson largando a mulher com violência no chão e caminhando em direção ao filho. – Ele sabe muito bem que merece isso e muito mais.

Anderson agarrou os cachos de Erick e chutou a parte posterior de seus joelhos, fazendo o menino se ajoelhar de costas para ele. A dor que se seguiu foi insuportável. A fivela atingiu suas costas em cheio, provavelmente deixando uma marca na pele branca. Erick não viu, apenas sentiu quando a segunda cintada foi dada, acertando a parte de trás de seu braço. Seu pai puxava seus cabelos com força suficiente para ele sentir dor.

– Eu não aceito uma aberração igual a você como filho – falou Anderson enquanto batia em Erick com o cinto – Isso vai te ensinar a ser homem.

Erick fazia de tudo para não gritar. Não queria que os vizinhos ouvissem e chamassem a polícia ou algo assim. Ele via claramente sua mãe jogada do outro lado da sala, olhando para a cena de seu filho sendo espancado pelo próprio pai, mas ela não podia fazer nada. Não conseguia fazer nada.

– Nathália nunca me daria tal desgosto – dizia Anderson – Tanto que ela deve estar fodendo com o namorado agora mesmo. Foi assim que eu criei meus filhos, para foderem com pessoas do outro sexo.

Mesmo com a dor, Erick sentiu-se aliviado em saber que Nathy realmente estava na casa do namorado. Ela estaria segura, pelo menos.

– Você é uma desonra para mim e pra toda sua família. Não se sente culpado por ser um merdinha pra sua família? Eu tenho nojo de você.

A vontade de gritar só aumentava, assim como as manchas em sua pele e o sangue que escorria em alguns pontos de seu corpo. As palavras de seu pai pesavam cada vez mais em seu consciente, as lágrimas descendo tanto pela dor física quando pela dor emocional.

Nunca pensou em escutar aquilo do próprio pai.

– Mas eu vou arrumar uma cura pra você, Erick – o cinto lhe acertou no rosto pela segunda vez. – Não vou deixar que alguém do meu sangue, da minha família seja gay.

O grito ecoou por todo o cômodo. Sua respiração estava ofegante e por um segundo, Erick não sabia onde estava. Seu coração estava acelerado, os olhos arregalados olhavam para a escuridão de maneira alerta.

Ele se debateu quando sentiu mãos em cima de si.

– Me solta! – ele gritou, totalmente desesperado. – Me solta, por favor! Não faça isso! Não!

– Erick, Erick! – Amanda estava tentando manter a calma e desviava das pernas e braços de Erick, que se debatiam com fervor. – Erick, foi só um pesadelo! Se acalma! Erick.

– Não, por favor!

– Erick!

A luz foi acesa, a mãe de Amanda aparecendo na porta do quarto totalmente descabelada e ainda meio com sono.

– O que aconteceu? – perguntou a mãe de Amanda.

Quando os olhos de Erick focaram os de Amanda, ele começou a relaxar. Não estava sob ameaça, podia ficar tranquilo. Sua vida não estava mais em perigo.

Mesmo assim, a respiração de Erick ainda estava ofegante e seu coração martelava contra seu peito tão rápido que era agoniante. A dor ainda era vívida. Podia sentir cada cintada que recebera do pai naquela noite. Podia ver a dor nos olhos da mãe, implorando para que Anderson não o machucasse. Tudo era tão real.

Sempre parecia real como no dia que ocorreu.

Ele não notou o que aconteceu, mas sentiu os braços finos de Amanda ao redor de seu corpo, apertando-o contra o próprio. Ele retribuiu o abraço automaticamente, ainda preso às sensações do pesadelo que teve há alguns segundos.

– Está tudo bem – Amanda disse. – Você não está em perigo. Eu estou aqui com você.

Ele não disse nada, apenas apertou Amanda contra seu corpo, aspirando o cheiro familiar da garota. Aquilo o tranquilizou um pouco. Logo, a mãe da garota voltou com um copo de água com açúcar para ele.

– Obrigado, tia – ele agradeceu, agora um pouco mais calmo.

– Qualquer coisa é só chamar – disse a mulher, olhando para Erick com tristeza.

Ele assentiu e ela saiu do quarto, provavelmente Amanda tinha dito o que aconteceu enquanto Erick ainda estava preso às sensações do sonho.

– Como está se sentindo? – perguntou Amanda após Erick tomar toda a água doce.

– A pior pessoa do mundo. – respondeu ele sem pensar muito.

A expressão de Amanda fez com que o coração de Erick se acelerasse mais, odiava deixar a amiga preocupada.

– Não fique preocupada, Mandy, tá tudo bem.

– Não tá tudo bem, Erick. – disse Amanda, a voz uma mistura de firmeza e pena. – Você precisa procurar ajuda, isso não está certo.

– Eu não posso fazer isso, você sabe disso.

– Eu sei, Erick, mas... Eu não consigo aguentar ver você sofrendo dessa forma!

– Eu vou ficar bem – ele disse, acariciando a mão dela que estava na sua. – Eu vou tentar ficar bem.

[…]

Os dias foram se passando e as coisas foram voltando ao normal na vida de Erick.

E o normal significava ele evitar o pai, evitar seus colegas de classe e colegas de treino.

Falava com poucas pessoas e somente o necessário, como assuntos da escola e do treino. Às vezes ficava sozinho, insistindo para que Amanda não abandonasse suas poucas amigas por causa dele. Ela, assim como ele, detestava grande parte das pessoas do CMRJ, mas ela havia feito algumas poucas amizades, então ele não podia prendê-la sempre.

Em alguns momentos como esse, em que ficava sozinho, Erick passava as fotos da galeria de seu celular, vendo algumas fotos antigas dele, Henry e Marge. Sorria minimamente para o celular todas as vezes e em algumas delas, tinha o impulso de ligar para Henry.

Porém, sempre que chegava no segundo toque, ele desligava.

Às vezes se impressionava com a própria covardia.

A primeira coisa que se lembrou naquela terça-feira de agosto foi o aniversário de Henry.

Tinha claro na memória todas as coisas que passaram juntos em seus aniversários, principalmente o primeiro de Henry em que passaram separados.

Passou a grande parte do dia pensando nisso, uma batalha interna para ligar para Henry e desejar feliz aniversário. Não prestou atenção nas aulas normais, muito menos nas aulas do Prevest, uma espécie de cursinho que o CMRJ oferecia depois das aulas pela manhã.

Como as salas do Prevest eram separadas por interesse de curso na faculdade, ele esperou Amanda sair das aulas de humanas que ela tinha para poderem se despedir, já que a garota queria fazer faculdade de filosofia. Já ele, fazia o curso de ciências biológicas, pois queria cursar Educação Física.

– Espero que você não tenha nada pra fazer agora – disse Amanda assim que viu Erick.

– Não tenho, por quê?

– Por que você está estranho, então vamos na Starbucks.

Erick olhou para Amanda, desconfiado. Estavam caminhando em direção ao portão do Colégio.

– Eu estou bem e não tenho dinheiro.

Amanda parou e virou-se para Erick com o cenho franzido.

– Não minta para mim, mocinho. Eu sei quando você não está bem e por causa disso você precisa de café. Além do mais, faz tempo que não vamos à Starbucks juntos, eu pago pra você, não se preocupe.

Às vezes Erick odiava como Amanda conseguia lê-lo tão facilmente.

– Tudo bem então.

Foram até o ponto de ônibus e ficaram conversando enquanto esperavam. O Shopping Tijuca era bem perto dali, poderiam ir a pé, mas o sol de 16h não ajudava muito, sem contar o calor infernal que estava fazendo.

Chegaram ao shopping rapidamente e Amanda soltou um suspiro de alívio quando sentiu o ar condicionado do local. Erick soltou uma risadinha e foram até a Starbucks. Fizeram seus pedidos quando chegaram ao estabelecimento e, quando os pedidos ficaram prontos, foram sentar-se em uma mesa.

– É aniversário do Henry hoje – disse Erick depois de ficarem alguns segundos em silêncio.

– E você quer ligar pra ele pra desejar feliz aniversário – não era uma pergunta.

Erick fez uma careta.

– Ele tá fazendo 18 anos... Queria estar lá com ele – comentou, tomando um pouco do seu frappuccino de café.

– Não preciso listar as coisas que te impedem de ligar pra ele, seria perda de tempo.

– Engraçadinha.

– Medo.

– Não... – resmungou Erick.

– Ciúmes.

– Para, Amanda.

– Covardia...

– Tá bom! Eu vou ligar! – ele exclamou, tirando o celular do bolso por impulso e ligando para Henry.

Não deu nem dois toques para Erick desistir e desligar o celular.

– Eu não consigo.

– Tô vendo – disse Amanda, soltando um suspiro. – Bem, já que você é um covarde, vamos falar de outras coisas.

– Eu não sou um covarde, é só que...

– Só que... – incentivou ela.

– Não é fácil.

– Você tá complicando o não complicável, Erick.

– Eu não...

– Sim, está – ela disse. – Assim não dá pra te defender, baby.

– Num me estressa.

Amanda revirou os olhos e preferiu não falar mais nada. O silêncio caiu entre eles por alguns segundos, ambos concentrados em suas bebidas.

– O que você fez com a pulseira? – perguntou Amanda após algum tempo.

– Guardada.

Erick entrou em uma batalha interna quando Danilo lhe mostrou a pulseira. Queria a pulseira, isso era fato, mas não queria mostrar aquele tipo de fraqueza diante de Danilo. Mesmo não arrancando o objeto das mãos do outro e dizendo que não queria, por mais que fosse mentira, Danilo fez o lindo favor de colocá-la em sua mochila sem que ele percebesse.

A alívio que sentiu quando viu a pulseira foi enorme, mas logo foi tomado por uma apreensão enorme e por pensamentos ruins e conflituosos. O objeto ficou lhe assombrando por alguns dias antes de ele finalmente decidir guardá-la junto com todas as coisas que tinha de Henry e que tinha ganhado dele. Erick ficava se martirizando ao olhar para a pulseira. Toda vez que olhava para ela sentia culpa, raiva de si mesmo e remorso. Então guardá-la foi a melhor decisão que já tomou, mesmo não querendo fazer aquilo.

– E por que não colocou de volta? – Amanda perguntou.

– Por que não tem nenhum significado se eu colocar em mim mesmo.

– Pretende pedir a ele para colocar em você de novo? – Amanda fez uma pausa e soltou uma risada. – Meu Deus, isso soou horrível.

– Ridícula – Erick revirou os olhos.

– Mas foi uma pergunta séria.

Erick parou alguns segundos, finalizando seu frappuccino e olhando para Amanda logo em seguida.

– Se ele me aceitar de volta... – disse e fez uma pausa. – Se nos encontrarmos de novo...

Erick soltou um suspiro e olhou para baixo.

– Se ele ainda me quiser... Sim.


Notas Finais


O que acharam do capítulo contando um cadinho da vida do Erick? Já podemos colocá-lo num potinho e protegê-lo de todo o mal? Acho que sim, pq já quero :v
EU ESTOU URRANDO COM O FEEDBACK DESSA HISTÓRIA, ENTÃO SEJAM LEGAIS E CONTINUEM MANDANDO COMENTÁRIOS ♥
Amo vocês pelo o que estão fazendo por mim ♥ Só de lerem já me deixa muito feliz
Enfim
PREVISÃO PARA O PRÓXIMO CAPÍTULO: 17/02
Nos vemos nos comentários, seus lindos ♥
Ghost Kisses
~Marceline


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...