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História Além de Schwarzwald - Segunda Parte - Cena 4


Escrita por: littlesenhorita

Notas do Autor


Chegamos ao penúltimo capítulo/cena!

Eu escrevi essa cena com muito carinho, tentando transmitir todos os sentimentos da Adele, a ação e a luta pela qual o bando teve que passar.

Espero que gostem!

Mais uma vez, não se esqueçam de ir checar a playlist dessa história, e o painel no Pinterest! ♥

Nota: apenas para esclarecimento, as partes que estão em itálico representam a conversa mental entre os lobisomens. Na forma de lobo eles não falam, mas se comunicam mentalmente. E também, alguns parágrafos em itálico representam as lembranças que Adele terá durante a batalha!

Boa leitura! ♥

Capítulo 4 - Cena 4


Era noite de lua nova, e a clareira estava escura.

Para lobisomens, isso não fazia muita diferença, mas para humanos, era a mesma coisa que caminhar cego na beira de um abismo. E isso era um grande problema para nós.

Eu, Shownu e Kihyun estávamos na frente, enquanto o resto do bando rosnava atrás de nós, ameaçando Viktor e seus quinze lobisomens que nos encaravam, mostrando os grandes caninos afiados, a metros de distância.

Eles eram grandes, quase o dobro dos lobisomens atrás de mim. Eram mais velhos e mais fortes, cobertos de cicatrizes de outros combates que ganharam. Porém, nada disso tirava a coragem do bando que me apoiava, e isso inflamou a minha determinação.

Ao meu lado, Shownu levantou a cabeça, cheirando o ar.

Eu também senti o odor, e fiquei alarmada. Sangue pairava entre as árvores e sobre a terra. Soube na mesma hora de quem aquele sangue era.

Olhei para os olhos azuis de Viktor, e um sorriso frio se formou neles, rasgando minha alma, arrancando o resto de esperança que eu desesperadamente havia guardado.

Viktor tinha matado o resto da minha família, e espalhou o sangue pela floresta, para me desequilibrar na batalha.

Levantei a cabeça na direção do céu e uivei para a lua apagada, lamentando a perda dos meus companheiros. Meu coração rachou quando lembrei do rosto machucado de Ian e dos outros adolescentes, das fêmeas que gritavam todas as noites. Deixei que meu lamento corresse pela floresta, em busca de seus corpos sem vida.

Shownu se juntou a mim, e logo o bando todo uivava, me confortando na minha agonia.

Eu gritei na mente deles os nomes de cada um dos lobisomens e fêmeas do meu extinto bando, chorando da mesma forma quando vi o corpo do meu pai cair de joelhos diante de Viktor.

Meu uivo terminou num som rasgado, um rosnado grave repleto de raiva. Eu não iria esperar mais nenhum minuto para ter o coração de Viktor em minhas mãos.

Disparei na direção do bando inimigo, sentindo a terra ceder sob minhas patas. Shownu logo me alcançou, e corria ao meu lado direito, enquanto Kihyun ficou ao meu lado esquerdo. Os outros nos alcançaram e formamos uma linha reta que corria de encontro ao bando adversário.

O som abafado de nossas patas encontrando a terra encheu meu coração de coragem, e meus sentidos afiaram como a lâmina de uma espada, segundos antes de meu corpo colidir com um dos lobisomens de Viktor.

Cravei meus dentes no pescoço dele, enquanto os outros lutavam ao meu lado. Senti a carne ceder à minha mordida e segundos depois sangue estourou na minha boca. Virei minha cabeça sem misericórdia, e senti o osso entre meus dentes quebrar.

Assim que larguei o corpo sem vida do lobisomem na terra, uma injeção de adrenalina percorreu meu corpo, e eu senti meus instintos pulsarem, os músculos do meu corpo enrijeceram em antecipação, e eu procurei outro combate, para satisfazer minha raiva.

Abandonei o corpo imóvel do lobisomem, e parti para a próxima luta. Eram quinze contra nove, e a diferença de número se mostrou uma vantagem para Viktor, logo no início. Os rapazes do bando de Shownu lutavam contra dois ou três lobisomens ao mesmo tempo.

Ao meu lado, Jooheon lidava com dois grandes lobisomens, e eu corri em sua direção para ajudar. Avancei em cima de um deles, cravando as garras nas costas do adversário. Com um grunhido eu enterrei meus dentes na parte de trás do pescoço do lobisomem, agitando ferozmente minha cabeça de um lato para o outro, perfurando a carne até o osso.

O lobisomem se remexia sob mim, na tentativa de se livrar dos meus dentes, mas eu cravei fundo minhas garras na lateral dele. Não demorou para que eu estalasse o osso dele, deixando seu corpo deitado na grama e sem vida.

Jooheon havia derrubado mais um lobisomem, e olhava para as árvores, ansioso. Me aproximei dele, o alertando.

Se concentre na batalha!

Jooheon me encarou, os olhos marrons arregalados. Ele rosnou para mim, e virou as costas, correndo na direção de Kihyun, para ajudá-lo em combate.

Enquanto Jooheon se afastava, eu olhei em volta na clareira, procurando Shownu e Viktor.

A clareira era uma confusão de grunhidos e rosnados, lobisomens se enfrentando na escuridão. Alguns já haviam caído, a maioria do bando de Viktor.

A poucos metros de mim, Elisa e Wonho lutavam contra três lobisomens. Corri na direção deles. Eu era rápida, então o terceiro lobisomem não conseguiu reagir a tempo, e eu logo torcia o pescoço de mais um lobo gigante.

Elisa aproveitou a deixa e passou por mim rapidamente, avançando contra outro lobisomem, colidindo de frente com ele. O pelo cinza dela estava manchado de sangue, mas isso não a impediu de lutar ferozmente contra o lobisomem que era quase o dobro dela. Virei de costas para Elisa e vi Wonho torcer o pescoço de mais um lobisomem.

Menos quatro! Gritei para ele.

Ele me olhou nos olhos, e eu escutei sua risada em minha mente.

Cinco! Elisa gritou para nós dois, segundos depois, enquanto se afastava do corpo de mais um lobisomem.

Restavam dez, agora. Precisávamos diminuir o número, para que o plano desse certo.

Dei as costas para o casal, e corri na direção dos outros combates.

Meus olhos miraram um lobisomem que avançava nas costas de Minhyuk. Pulei na direção dele, interceptando o ataque dele contra Minhyuk. Rolamos os dois no chão, e eu cravei meus dentes numa das orelhas dele, mas logo senti dentes afiados no meu pescoço.

Uivei de dor, quando senti a minha carne rasgar com a mordida. O choque que a dor causou no meu corpo me impediu de ter forças para revidar, e acabei presa debaixo do lobisomem, enquanto ele agitava a cabeça, na tentativa de quebrar meu pescoço.

Eu me debatia o máximo que podia sob o lobisomem, lutando contra seu peso esmagador, quando de repente a pressão dos dentes dele no meu pescoço sumiu.

Ao meu lado, Hyungwon atacava o lobisomem, torcendo o pescoço dele com força. Ele me olhou, enquanto levantava a cabeça, a mandíbula pingando de sangue.

De nada. Sua voz aveludada ecoou em minha mente.

Sem esperar por uma resposta, ele logo correu na direção de outro lobisomem, lutando com maestria. Hyungwon era tão rápido quanto forte, e eu observei surpresa ele finalmente diminuir o número de adversários para oito.

Porém, meu estado de surpresa durou meros segundos, até que meus olhos fixaram no combate que desenrolava atrás de Hyungwon.

Viktor enfrentava Shownu, numa luta desigual de forças.

Shownu estava ferido, sangue escorria de uma de suas patas traseiras. Não parecia um ferimento comum. Ele mancava enquanto se defendia das investidas de Viktor, que ficavam cada vez mais fortes e rápidas.

Em frente! Kihyun gritou na minha mente, e eu desviei minha atenção dos Alphas, para os lobisomens de Viktor.

Os oito restantes começavam a recuar, formando uma linha que nos separava de Viktor e Shownu, isolando os Alphas atrás dela.

Não! Shownu! Gritei enquanto corria na direção dele, meu coração e mente disparando. Precisávamos tirar ele dali, senão Viktor o mataria em segundos.

Fui impedida de chegar até ele por um dos lobisomens de Viktor, que me jogou para longe, assim que tentei quebrar a linha. Estávamos separados de Shownu, do outro lado da barreira de lobisomens que nos impedia de aproximar.

Os lobisomens de pelo negro lutavam ferozmente, dois grandes vultos rosnando na clareira escura. A única coisa que brilhava eram os olhos dos dois, Viktor com seu azul gélido e Shownu com o dourado repleto de coragem.

Kihyun rosnava ao meu lado, os olhos fixos no companheiro. Precisamos quebrar a barreira! Shownu está em perigo! Ele gritou para nós.

Como em resposta aos nossos medos, no momento em que Kihyun falou, Viktor arremessou Shownu para longe, na direção das árvores. O ganido de dor de Shownu ecoou em meus ouvidos e eu senti o mesmo desespero da noite em que meu pai morreu, crescer no meu coração.

De repente, numa das pontas, Jooheon rosnou e forçou a passagem contra um dos lobisomens. Ele passou para o outro lado, e num movimento rápido, subiu nas costas do inimigo, cravando as garras nele.

Wonho fez a mesma coisa com outro, quebrando a barreira. Notei a surpresa nos olhos dos lobisomens mais velhos e sorri comigo mesma.

Experiência não é tudo, imbecis!

A força daquele bando jovem era o laço que eles tinham uns com os outros. Se um deles sofria, os outros faziam o impossível para ajudar o companheiro. E era exatamente isso o que estava acontecendo.

Os jovens estavam conseguindo superar os lobisomens mais velhos pela coragem e insistência.

Aquela era a oportunidade de quebrar a barreira.

Kihyun avançou em outro lobisomem, desequilibrando ainda mais os lobisomens que estavam assustados com a aparente reviravolta.

Atravessei a barreira disparando na direção de Shownu. Desviei da investida de um dos lobisomens, que logo foi derrubado por Minhyuk.

Eu precisava distrair Viktor, para que o plano desse certo. Ele se preparava para avançar em Shownu mais uma vez quando eu o surpreendi, o empurrando para longe de Shownu.

Você morre hoje, Viktor. Eu gritei em sua mente, enquanto rosnava e mostrava os dentes, me colocando entre ele e Shownu.

Escutei isso várias vezes já, Adele, acho melhor trocar a frase. Ele disse, desdenhando da minha ameaça.

Eu comecei a rodear Viktor, meus olhos grudados nos dele. Shownu fez o mesmo, ao meu lado. Ele acompanhou nossos movimentos, concentrado demais em nós dois.

Precisávamos que Viktor virasse de costas para as árvores. Rodeamos ele até que ele estivesse na exata posição que queríamos.

Você matou minha família inteira. Eu disse, tentando distraí-lo para que ele não percebesse nossas intenções.

E todos eles imploraram por suas vidas, antes que eu arrancasse seus corações.

Rosnei para ele, tentando aguentar a provocação por tempo suficiente.

Seu pai criou um bando fraco, Adele. E você é a pior de todos. Viktor disse, sabendo que aquilo iria inflamar ainda mais a minha raiva. O que deu certo.

Avancei nele, enquanto rosnava. Minhas patas encontraram a lateral de Viktor, mas ele recuou o suficiente para conseguir espaço para morder um de meus ombros.

Aguentei a dor, e me contorci sob seus dentes, na tentativa de me livrar de sua mandíbula. Usei o peso de meu corpo para empurrá-lo, conseguindo me libertar.

Shownu rapidamente avançou em Viktor, sem dar tempo de reação para o Alpha. Eles trocavam mordidas, e arranhões, porém, o machucado na perda de Shownu era profundo demais, e ele não conseguia se movimentar com tanta rapidez.

Temendo pela segurança dele, avancei mais uma vez em Viktor.

Pulei nas costas dele, e cravei minhas garras na barriga de Viktor. Ele grunhiu de dor, e numa explosão de raiva, mordeu o focinho de Shownu e o arremessou para longe.

Com o movimento brusco, fui jogada para o lado. Rolei na grama, e antes mesmo de me levantar Viktor já estava em cima de mim.

Por uma fração de segundos, pude ver com o canto dos olhos Changkyun correr na direção das árvores. Havia chegado a hora.

Eu tentei ao máximo sair debaixo de Viktor, mas ele era maior e mais forte do que eu. Olhei para o lado, e vi Shownu de caído, de costas para mim. Uivei na tentativa de chamar sua atenção, mas ele não se mexeu.

Shownu! Shownu! Eu gritava, sem perceber que Viktor também me escutava.

Os outros rapazes do bando estavam ocupados lutando contra os oito lobisomens de Viktor, e eles não conseguiam socorrer Shownu.

Uma mordida no focinho era perigoso demais. Era o mesmo que levar uma marretada no rosto, na forma humana. Meu desespero me fez esquecer do plano por alguns segundos, quando de repente senti os dentes de Viktor em uma das minhas patas, e gani de dor.

Ele me obrigou a encarar seus olhos azuis, e então sua voz rouca ecoou em minha mente.

Você gosta dele! Ele disse, rancoroso.

Percebi em seus olhos que tinha cutucado uma ferida. Respirei fundo e retruquei.

Sim! Muito mais do que de você, seu canalha!

Os olhos azuis de Viktor se inflamaram de raiva, e eu vi seus dentes afiados descerem rapidamente na minha direção.

Virei a cabeça para o lado, na direção das árvores, e senti seus caninos afundarem na minha garganta. Sangue estourou na minha boca, enquanto a dor insuportável inflamava meu corpo. Eu resistia com todas as forças que tinha, na tentativa inútil de evitar que ele quebrasse meu pescoço.

Em cima de mim, Viktor estava distraído demais concentrado em quebrar meu pescoço, e não percebeu Changkyun surgir da escuridão das árvores com Clara em suas costas.

Imediatamente eu senti o cheiro do medo dela, de sua ansiedade pulsante. A humana carregava uma grande adaga de prata nas mãos, que brilhava fraca sob a luz apagada da lua nova.

Changkyun era rápido, e em segundos ele se aproximou de mim e de Viktor. O jovem lobisomem empurrou Viktor para longe, para que ele pudesse sair de cima de mim.

Clara caiu ao meu lado, a adaga comprida a centímetros do meu rosto. Ela me olhou assustada, enquanto eu voltava à minha forma humana, fraca demais para sustentar a forma de lobo. Tossi sangue, enquanto o ferimento da mordida de Viktor pulsava, aberto na carne do meu pescoço.

Ela olhou para mim, para a cena que desenrolava em volta dela, e depois para a adaga nas mãos. Um brilho passou por seus olhos, e de repente Clara levantou, correndo na direção de Viktor, que enfrentava Changkyun.

Deitada no chão, vi Clara se aproximar correndo do grande lobisomem, que estava de pé sobre as patas traseiras, pronto para atacar Changkyun. Ela gritou para que o jovem lobisomem saísse da frente, e tomou impulso.

Assim que Viktor avistou a humana correndo em sua direção, vi a confusão em seus olhos azuis, e ele não soube como reagir. Porém, antes mesmo dele voltar a colocar as patas dianteiras na terra, Clara levantou a mão com a adaga, e arremessou ela no peito de Viktor.

Um som abafado ecoou, e Viktor ganiu de dor, aterrissando desajeitadamente no chão. Ele tentou atacar Clara, mas Changkyun o impediu.

Clara se afastou dos dois lobisomens, olhando em volta, seus ombros subindo e descendo rapidamente. Ao longe, um lobisomem de Viktor corria na direção dela, e ela ficou paralisada de medo.

Eu me remexi sobre a grama, tentando levantar rapidamente. Coloquei uma das mãos sobre meu ferimento no pescoço, tentando gritar para que ela corresse. Um som disforme ecoou da minha garganta, e eu tossi mais sangue.

Tentei gritar mais uma vez, e mais uma vez o som disforme ecoou, mas foi o suficiente para que um dos rapazes olhasse na minha direção. Eu apontei para Clara, e, segundos antes do lobisomem alcançar ela, Jooheon surgiu como um relâmpago, o impedindo de ferir a humana.

Clara caiu assustada na grama, respirando rapidamente.

Observei ao longe o bando render os três últimos lobisomens de Viktor, enquanto os corpos sem vida dos outros estavam estirados na clareira. Jooheon quebrou o pescoço do lobisomem que havia atacado Clara, e correu na direção dela.

Com muito esforço, eu levantei e comecei a caminhar lentamente até Viktor, que estava estirado na frente de Changkyun, respirando pesadamente. A cada passo que eu dava, sentia meu corpo agonizar de dor. Eu tinha ferimentos nas mãos e nas pernas também, além do pescoço.

Mas nenhum daqueles ferimentos iam me impedir de ter o que eu queria: o coração de Viktor nas minhas mãos.

Os três lobisomens rendidos começaram a uivar assim que eu me aproximei de Viktor. Changkyun me deu espaço para que eu passasse mancando até o Alpha. Alguns dos rapazes não estavam segurando os lobisomens de Viktor, então eles se aproximaram também.

Viktor também não conseguiu manter a forma de lobo, e aos poucos voltou à forma humana. Ele estava deitado de costas na grama, seus olhos azuis me fulminando. Havia uma grande poça de sangue embaixo dele.

― Se você for me matar... faça logo... – Ele disse, tossindo sangue.

Minha mão direita estava sob meu pescoço, meu sangue escorrendo por entre os dedos. Eu tirei ela do ferimento, e caminhei até Viktor. Me agachei sobre ele, e o olhei dos olhos enquanto arrancava a adaga de prata do peito dele.

― Não... nós vamos fazer isso... sem armas. – Eu disse, tentando ignorar o sangue que subia à minha boca, toda vez que eu falava.

Viktor gemeu de dor assim que eu tirei a lâmina do peito dele. Pedi para que um dos rapazes levantasse ele, e Wonho o ajudou.

Enquanto Viktor tentava se manter em pé, eu endireitei minha postura, respirei fundo, e ignorei a dor que se espalhava por todo o meu corpo.

Ficamos em pé, um de frente para o outro.

― Tem... certeza? – Viktor perguntou, antes de tossir mais sangue.

― Sim. – Eu respondi.

Viktor endireitou a postura também, e sem esperar mais nenhum segundo, correu na minha direção em silêncio. Seus lobisomens rosnaram e grunhiram em apoio a ele, e eu repassei na mente a última lição que meu pai havia me ensinado, a exatos nove meses atrás.

“Você é pequena, filha, seu físico não é grande como o de um lobisomem adulto. Sua estrutura menor é uma grande desvantagem. Mas tem um jeito de você vencer um combate singular contra um lobisomem maior e mais forte...”

Viktor tentou me atacar onde eu estava ferida: na perna e no pescoço. Eu desviei das investidas dele, com certa dificuldade, mas sempre me mantendo em pé. Esperei que ele viesse ao meu encontro novamente e desviei mais algumas vezes.

“... primeiro, faça com que ele se canse...”

Eu desviei mais algumas vezes dele, até que ele não conseguiu mais manter a mesma rapidez que o primeiro golpe.

“... ele irá perder a velocidade, e quando isso acontecer, você usará sua desvantagem a seu próprio favor...”

Viktor parou por um instante e me observou, seus olhos tentando decifrar minha postura e meus pensamentos. Sangue escorria do meu pescoço até minha clavícula, para além dela. Ele sorriu ao ver o sangue, e cuspiu um pouco do próprio, na terra.

― Eu sei... o que você... está fazendo... seu papai te ensinou? – Notei o desdém na voz rouca dele, e me mantive em silêncio. Precisava manter a calma.

― Quando eu me aproximar de novo... você vai me empurrar... usando meu peso contra mim... – Ele sorriu satisfeito, – vamos ver... se você consegue...

Viktor me subestimava. Eu tinha falhado tantas vezes em mata-lo que ele não acreditava mais na minha capacidade. Eu encarei os olhos azuis dele, e rosnei baixo. Viktor sorriu, enxugou o sangue que escorria de sua boca, e veio novamente contra mim.

“... afie as garras, filha, e fiquei parada. Não desvie.”

Viktor correu na minha direção, tomou um impulso e pulou, se transformando mais uma vez, no ar.

Escutei os rapazes do bando de Shownu uivarem, e Clara gritou junto com eles, me dizendo para desviar do lobo gigante que caía sobre mim. Mas eu obedeci às instruções de meu pai, e fiquei parada.

No instante em que Viktor abriu as mandíbulas na minha direção, seus caninos manchados de sangue prontos para engolir meu rosto, eu firmei os pés na terra, agachei na altura certa, levantei minha mão direita com as garras afiadas e enfiei meu braço inteiro no peito dele, no lugar onde a adaga de prata o havia perfurado.

Viktor ganiu, e caiu em cima de mim.

Eu senti o macio da carne na palma da minha mão, os batimentos fracos provocando cócegas nos meus dedos, o calor do interior do corpo dele no meu braço direito.

Reuni todas as forças que tinha, agarrei o coração e empurrei o corpo de Viktor para o lado, sem abrir a mão direita, um instante sequer.

Deitada na grama, com o corpo inerte de Viktor ao meu lado, e seu coração na minha mão direita, eu encarei a lua nova, apagada no céu.

Eu respirava rapidamente, e sentia a adrenalina abandonando meu corpo, trazendo de volta as dores dos machucados. Coloquei a mão esquerda sobre a mordida que Viktor vez no meu pescoço, e senti que logo ela fecharia, deixando uma cicatriz grande que iria me lembrar daquela noite, para o resto da vida.

Olhei para o lado, encarando o lobo morto ao meu lado. Os olhos azuis de Viktor haviam perdido o brilho, e do buraco em seu peito, jorrava sangue, que ensopava a terra entre nós dois.



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