História Além do que se vê - SM - Os domingos (Mia, Charlotte e Sophie)

Saturday 10:30PM (Charlie)

- Você veio. - Charlie disse quase surpresa ao ver Justin se aproximar dela.

- Claro que vim. - ele disse sorrindo fraco.

- Uma bebida? - ele perguntou segurando um copo, ela negou.

- Eu não bebo. - ele assentiu e colocou o copo em cima da mesa mais próxima.

- Então eu vou te acompanhar no refrigerante hoje. - ela sorriu sem os dentes.

Sunday 12:00AM (Mia)

Mia abriu os olhos e encarou as cortinas cinzas de seu quarto, que estavam fechadas.

Era domingo, dia do almoço em família, todos estariam em casa. Ela respirou fundo e vestiu sua roupa, estava pronta para encarar o almoço.

Sophie

Sophie estava ajudando Alicia a arrumar a mesa, quase todos já estavam lá, exceto Mia e Florence.

- Está tudo pronto. - Alicia disse e todos foram se sentar na mesa do jardim. Mia e Florence chegaram e Mia se sentou ao lado de Thomas e Florence ao lado de Sophie.

- Fico feliz que todos estejam aqui. - Alicia disse olhando principalmente para Mia e Florence, que costumavam faltar ao almoço - Sei que vocês já estão crescidos e que às vezes só querem ficar longe. Mas esse almoço serve para nós juntarmos um pouco, para lembrar como era quando todos estavam juntos.

- Podem comer. - Stephen disse sorrindo fraco.

Stephen era um homem com seus 53 anos, mas chamava a atenção por onde passava, era bonito e sua barba com pelos grisalhos era um charme.

Sophie já havia acabado, assim como Talia e Emily. Talia olhava para Mia de um jeito diferente, parecia brava e intrigava Sophie.

- O que está acontecendo? - ela sussurrou perto de Florence.

- Não sei, não estou sabendo de nada. - Florence disse baixo.

- Mike. - ela o olhou, ainda falando baixo.

- Eu não sei e nem quero. - Sophie franziu o cenho.

- Posso ir ver tv? - Talia perguntou e Stephen franziu o cenho.

- Não é um reformatório Talia, pode se levantar quando quiser. - ele disse brincando e ela se levantou rápido e foi para a sala. Ainda parecia brava aos olhos de Sophie que se levantou e foi atrás da irmã.

- O que foi? - ela perguntou assim que Talia se sentou no sofá.

- Não é nada.

- Talia...

- Me deixa em paz. - ela disse grossa, Sophie cerrou os dentes e foi para a cozinha, pegou a tigela de sobremesa e voltou a mesa.

- Mia, é sua sobremesa preferida. - Alicia disse e Mia assentiu com um sorriso amarelo, Alicia suspirou - Podem se servir.

A tarde estava chegando, Emily e Florence estavam ajudando Alicia a desfazer a mesa, enquanto Sophie estava na varanda, na parte de trás da casa, Mia se aproximou e se sentou na cadeira de balanço.

Sophie tentou ao máximo não fazer perguntas, mas a fúria de Michael e Talia a deixavam intrigada.

- O que houve com a Talia? - ela perguntou e Mia mordeu o lábio.

- Ela está brava comigo.

- Eu notei, quero saber o motivo.

- Ela queria beber e eu não deixei, então ela disse que não tenho moral para falar disso com ela. - Sophie suspirou.

- Ela ainda não entendi, assim como você não entendia.

- Eu sei mas...

- Brigar com ela não vai adiantar, se conheço bem você, não a deu um motivo para não fazer isso, apenas impôs sua autoridade de irmã mais velha.

- Ela não me ouvi, nunca ouviu, é a mais rebelde. - Sophie riu.

- Mia, assim como você na idade dela, só quer crescer rápido.

- Ao menos eu sabia oque queria, ela só queria beber porque viu os amigos.

- É fácil influencia-la, eu sei.

- Ela quer... - Mia respirou fundo, não sabia oque dizer.

- Mia, ela quer ser como você. - Mia a encarou curiosa.

- Como eu? - ela riu fraco, como se tivesse acabado de ouvir uma piada sem graça.

- Você Mia, é um espírito livre, sempre teve um objetivo, sair de casa e fazer oque quisesse sem ninguém para contraria-la, é o que a Talia quer. - Mia abriu a boca para falar mas Sophie a interrompeu antes que ao menos começasse - A Talia tem você como referência.

- Não deveria, eu sou... como dizia a Alicia, uma "sujeitinha perdida". - o rosto de Mia se fechou.

- A Alicia...

- Não quero ouvir, não importa oque seja. - Sophie assentiu, o silêncio se instalou e o som dos pássaros tomou conta da varanda - Quer falar sobre seu namorado secreto? - Sophie riu e negou.

- Eu não sei da onde vocês tiraram isso.

- Você fica de segredinhos no celular pelos cantos, o que quer a gente pense?

- É só uma amiga... quer dizer amigo. - ela se corrigiu rápido - É só um amigo.

- Amiga?

- Me confundi Mia, é só isso. - ela estava mais nervosa.

- Sophie você...

- Eu não quero falar sobre isso.

- Sophie. - Mia virou o rosto da irmã para ela com uma das mãos - Fala.

- Mia, é muito complicado.

- Talvez você esteja complicando.

- O pai e a mãe, acham que eu sou a filha perfeita.

- Gosta de mulheres não faz você imperfeita.

- Eu sei que não se importa com o que os outros pensam de você, mas eu me importo. - Mia apertou os lábios e sorriu fraco.

- O Thomas... estava certo.

- Thomas?

- Nossa frieza surgiu do nada, simplesmente apareceu, eu pensei que só eu estivesse assim, mas... estava enganada.

- Do que está falando?

- Que essa brincadeira de família feliz e perfeita está acabando comigo de novo. Estamos nós escondendo porque nossa confiança um nos outros está acabando. - ela se levantou e foi em direção ao jardim.

Sophie tinha segredos a esconder e se importava tanto com a opinião dos outros que por um momento se esqueceu de como aquilo estava se tornando maçante. A família perfeita. Os problemas jogados por debaixo do tapete. Tudo aquilo estava se tornando uma bola de neve e talvez Mia e Thomas tivessem sido os primeiros a notar isso, por isso saíram de casa antes que a frieza tomasse conta deles, mas era tarde demais.

- Sophie. - Talia se sentou ao seu lado.

- O que foi? - Sophie tinha o olhar pensativo.

- Desculpa, por ter sido grossa com você, eu sei que não tem culpa.

- A Mia também não tem.

- O que ela disse?

- Não importa, somos irmãos, todos nós, parece que de repente vocês se esqueceram disso.

- Só é difícil.

- Eu sei. - Talia apoiou a cabeça no ombro de Sophie enquanto ambas olhavam as árvores.

2005, saturday

- Mãe. - Michael mostrou a Alicia o seu vasinho de planta.

- Então vamos plantar. - todos os irmãos tinham seus vasos em mãos.

- Cada um escolheu uma semente, quando vocês crescerem, vão poder vir aqui e ver as belas árvores que vão cobrir todo esse gramado. - Stephen disse sorrindo.

- Vamos por ordem de idade. - Alicia disse com um belo sorriso no rosto - Thomas escolheu rosas, Sophie margaridas. - ela deu ambos os vasos a Stephen que plantava os mesmos - Mia escolheu uma macieira. - Mia sorriu - Michael e Florence sementes de girassol, e por último mas não menos importantes, as minhas pequenas, que escolheram...
- Dente de leão. - as três falaram juntas.

Agora...

- Os nossos domingos já foram mais animados. - Sophie disse e Talia assentiu.

- Sinto falta das flores. - Sophie assentiu.

4 anos atrás...

- Você quer uma família feliz Alicia?! - Mia gritou enquanto a chuva caia sobre seus cabelos castanhos, os clarões hora ou outra apareciam no céu.

- Mia. - Alicia gritou com os olhos marejados.

- Você está destruindo tudo. - ela gritou enquanto chutava os vasos e arrancava as flores.

- Mia, para, por favor. - Emily dizia agarrada a Alicia.

- Eu odeio você Alicia, odeio ter nascido nessa família.

- Não fala assim. - Talia chorava e tentava abraçar Mia.

- Eu nunca pedi pra nascer Alicia, se você não me queria...

- Eu nunca disse isso. - ambas gritavam, Alicia estava na varanda, na parte coberta, enquanto Mia estava na chuva.

- Mas pensou, você nunca quis ter uma filha que não fosse perfeita, que não fizesse de tudo para se encaixar no que você quer. - Mia gritava e chorava, Mia empurrou Talia, que caiu na terra molhada, ao lado das plantas destruídas - Odeio você Alicia. - ela disse parando de gritar, mas não de chorar.

Agora...

- Deveríamos plantar de novo. - Sophie disse e Talia assentiu.

- Elas... nós uniam, de um jeito estranho. - Talia sorriu fraco.

- Aquela noite... - Sophie respirou fundo - Foi como um tiro na inocência e na sanidade da Mia, de todos nós na verdade.

- Todos os dias, eu fico pensando naquela noite. - os olhos de Talia estavam levemente marejados - É difícil achar um culpado.

- Eu tenho o meu culpado, com certeza você tem o seu, mas pensar é mais fácil que falar.