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História Além dos Portais - 2T - A Arena da Terra


Escrita por: Especttra

Notas do Autor


Aqui vai a Arena do último Elemento, a Terra.

Querem ver mais treta?

Segurem esse Gnomo doido!

Beijos!

Capítulo 50 - 2T - A Arena da Terra


Fanfic / Fanfiction Além dos Portais - 2T - A Arena da Terra

 


 

Jow adormeceu tão profundamente, exausta do primeiro dia com Amikoh, que não leu e nem estudou mais nada para se preparar para a arena da Terra. Despertou bem cedo, cheia de dores no corpo e engoliu uma poção para dor. Achou que estaria bem pior do que estava. Kazai provavelmente a ajudou… Nem se lembrava de como chegou no quarto, na véspera. Lembrava de ter questionado Kazai, de estar na praia com seus amigos e depois… Mais nada.

 

Foi ao refeitório para lanchar e depois voltou para o quarto. Ainda tinha algum tempo para repassar o que tinha estudado do controle da Terra, então decidiu passar aquele tempo no quarto, e não foi à praia encontrar com seus guardiões, como gostaria de ter ido. Queria passar algum tempo com Amikoh falando das lembranças que recuperou… Mas só faltava essa arena… Como seria seu guardião? Ela estava muito curiosa e muito ansiosa. O que sabia de Terra? Sabia que podia fazer as plantas crescerem rápido, que conseguia fertilizar o solo e animar golens  de areia… Atrair alguns mascotes... Nada mais. Era muito pobre o seu conhecimento e a sua habilidade…

 

Provavelmente ia apanhar muito também. Porque tudo o que sabia de Terra, era fofinho e legal… Nada de ataques e defesas, ou nada letal.

Jow suspirou e largou os livros espalhados em cima da cama, ansiosa como se fosse fazer uma prova de cirurgia geral… E sentindo que estudou pouco para ela. O tempo de rever a matéria tinha chegado ao fim.

Foi direto para a sala de Gaia, que já a esperava.

-A última Arena, Jow. Ansiosa?

-Com certeza! Ontem eu estava tão cansada… Ai, mãe! Não sei se estudei o suficiente!

-Se Kazai não a tivesse levado para a cama, estaria dormindo na areia. Eu acho muito bom você manter sempre essas reuniões na praia com os seus guardiões, Jow. Isso aproxima vocês.

-Mas eu... Queria ter tido tempo de estudar mais!

-Vai ter tempo para isso, Jow. Não se cobre tanto no primeiro dia. O importante é invocar seu guardião da Terra e começar o treinamento… Vamos?

Jow assentiu e se dirigiram para a ala dedicada à Terra.

As paredes eram decoradas com flores e folhas, havia plantas vivas crescendo nos rodapés e trepadeiras grudadas nas pilastras. Era uma ala linda. Algumas vezes, pequenos mascotes e animais corriam pelos corredores, atraídos pela energia do local.

Pararam na frente da porta da arena e Gaia abraçou Jow.

-Boa sorte, Criança. Quando estiver pronta, vá. E quando tudo estiver certo, saia. Eu e a instrutora estaremos aqui esperando por você.  Não há mais mistérios para você em relação ao funcionamento das arenas. Já sabe o que virá. Apenas… Desça.

 

Jow sorriu e desceu as escadas. A porta se fechou às suas costas e ela correu escadaria abaixo. Queria ir logo, se oudesse, voaria! Parou à beira do campo, olhou para o altar do elemento… As paredes brancas e tudo o mais… Exatamente como as outras… E ela sabia que não iam ficar assim.

Fechou os olhos e pisou o solo sagrado… E veio a onda.

 

O verde oscilou em várias tonalidades e começou a colorir as paredes, o teto, a areia… e de novo ela caiu no chão…  Antes de começar a retrospectiva.

 

Jow estava muito cansada… Suas pernas não obedeciam… Seus sentidos falhavam, seus olhos se negavam a se abrir.

Ela forçou a abertura das pálpebras, e viu que estava na trilha… Na missão do Desastre, com o grupo de guardiões de Ezarel.

Chovia, e ela carregava muito peso na mochila. Exausta, parou para descansar… Encostou-se numa enorme árvore e sentiu-se escorregar até o chão… Ela agora sabia que não podia fazer aquilo, não podia encostar naquela árvore, naquela seiva venenosa. Mas mesmo assim, ela o fez.

 

A seiva viscosa e preta escorreu do tronco para as suas roupas, tingindo de preto sua túnica azul clara e encharcando sua pele. Ela sentiu as costas queimarem, e um torpor maravilhoso no corpo.

Estava drogada… Sentiu o coração parar e a mente se projetar para fora do corpo. Viu a vegetação da trilha, sentiu o cheiro de terra molhada… Suas mãos se enterraram na lama da trilha e ela sentiu uma paz tão profunda, que sabia que poderia morrer ali mesmo, de felicidade.

 

E comungou com a natureza, o veneno e a Morte. Poderia fazer parte da terra, voltar para a terra, ser a Terra… Ela amou a Terra… Deixou aquela sensação inundar todas as suas células, junto com aquele veneno. Viu o anjo da Morte se aproximar dela, e ele era lindo, cor e luz… Ela o desejou, e pediu que ele a beijasse e a levasse nos braços…  E viu o rosto de Ezarel a sacudindo, chamando de maldita… Alguém a obrigou a engolir algo ruim e amargo que ela quase vomitou. Hans tampou seu nariz e ela engoliu… Várias e várias vezes… Ela via a aura de Ezarel, totalmente colorida, com raios dourados, e achou que estava delirando…

 

Ali, na trilha, sob o efeito do veneno, junto ao Anjo da Morte, ela soube que ele a amava. Ela viu. Nos olhos dele. Na alma dele. Naquele colorido e na luz dourada ao redor dele.

Depois, cheios de lama, no meio da noite, Jow e Ezarel adormeceram abaixo de um telhado ainda inteiro nas ruínas da vila destruída… Sentiu o cheiro da terra e do óleo… A lembrança dos mortos e feridos… Depois, na cabana, Ezarel cuidando dos ferimentos dela… Em cada toque do curativo, sentia uma chicotada nas costas dos vergões negros do veneno do salgueiro destruindo sua pele… E no final daquilo tudo, a constatação de que ela também amava Ezarel. Sentiu a marca da Terra queimando nas suas costas… As lágrimas descendo pelo seu rosto por causa da dor das feridas… E a névoa da lembrança começou a se dissipar.

 

Ela ainda tinha o rosto molhado das lágrimas da cabana e da dor dos ferimentos. E levantou o rosto para o altar do guardião… Mas… Não havia ninguém lá.

Jow apertou os olhos, imaginando o porquê de não ter dado certo, não tinha um guardião da Terra? Fez alguma coisa errada? Tinha tido as lembranças… Mas…

E assustou-se com uma voz cavernosa e imponente que vinha de trás dela.

 

-Levante-se, pirralha! Vai ficar ajoelhada aí o dia inteiro? Temos muito trabalho a fazer!

Jow olhou para trás e ali estava Sion. Um Gnomo, mais baixo do que ela, e maior do que um anão.

Já tinha descido do altar e andava pela arena verde, balançando seu cajado com uma serpente negra enrolada nele.

Ela sorriu para ele.

-Oh, Olá! Sou Jow!

Ele estava impaciente.

-Eu sei muito bem quem é você, pirralha. Te conheço desde que nasceu! E à sua mãe, avó, bisavó, e todas as filhas da lua da sua linhagem!

Jow estava confusa.

-Me conhece? Mas… De onde?

-Da colméia! Você é uma abelha? De onde seria? Da sua casa, sua anta! Eu acompanho sua família desde a primeira descendente do Avatar da Deusa!

-Sério? Isso é muito legal! Como eu nunca o vi?

-Por que deveria me ver? Acha que eu sou como o demônio de fogo, o silfo imprudente ou o moleque azul depravado? Eu sou Sion! Antigo Gnomo Celta!

Jow estava maravilhada. Olhou para os cabelos de raízes de Sion, e as escamas nas orelhas.

Ele parecia mesmo um ser antigo saído de uma religião celta… Jow estava encantada com ele… E com a sua energia. A segurança que ele transmitia. Ela olhava para Sion e se sentia feliz.

-Então nunca ninguém o viu, Sion? Nenhuma das minhas ancestrais?

-Claro que não! Isso é inaceitável, humanos vendo elementais!

-Mas… Não somos só humanas, somos? Eu adoraria tê-lo visto!

-E acha que eu iria fazer suas vontades de criança, perdendo meu tempo em te trazer nuvens ou conchas?

-Hahaha! Então conhece mesmo os meus amigos?

-Sim, conheço aqueles idiotas irresponsáveis! E sempre que possível, eu os acerto bem na cabeça! - E balançou o cajado perto da cabeça de Jow, que a protegeu com as mãos.

-Wow! Cuidado com esse treco aí!

-Vamos começar, vamos começar! Está perdendo um tempo precioso, pirralha!

-Calma, Sion! Me conte as coisas que você viu, me fale da história da minha família celta! Eu to doida pra saber!

-Depois, depois… Teremos tempo pra isso depois! Ande, levante-se, pirralha! E estendeu o cajado para ela.

Jow também estendeu a mão para ele, segurando o cajado, e a serpente deslizou, se enroscando na mão dela.

Ela se encolheu, deu um gritinho abafado e se arrepiou, mantendo seu cotovelo esticado e duro de nervoso.

 

-Oh… Muah gosta de você… - Ele disse, espantado. -Muah não gosta de ninguém, só de Sion!

-Ela… Morde? - Perguntou mordendo o lábio.

-Claro que morde! Ela é uma víbora negra do pântano! Uma das mais venenosas do mundo! Mas… Ela gosta de você, pirralha! Como pode? Ela não sai do cajado há séculos !

Jow estava petrificada com a serpente negra venenosa enrolada no seu punho, que deslizava gelada pelo seu antebraço, balançando a língua.

Mas ela percebeu que não ia ser atacada… Se fosse, nada poderia fazer… Já estaria morta. Então deixou pra lá e acariciou a cabeça da serpente, que fechou os olhos.

 

Sion estava impressionado com aquela cena. Jow deveria ter sido mordida, estar envenenada, espumando, morta, mas estava ali coçando a cabeça da víbora mais venenosa dos pântanos… Como se ela fosse um becola. E com um sorriso radiante no rosto.

 

-Gosto de Muah também… - Disse ela, com o coração cheio de alegria - E gosto de você, Sion! Vou adorar que seja meu guardião da Terra!

No momento em que ela o aceitou, a arena toda se iluminou com uma luz verde reluzente, e grandes árvores encheram o campo de batalha.

Cipós floridos, vinhas e trepadeiras cobriram as paredes e o teto.

No solo, gramíneas macias e flores de todas as espécies formaram um tapete colorido. Uma nuvem de borboletas coloridas invadiu a arena. Jow e a cobra olharam para cima e admiraram a cena.

Jow sorria radiante para Sion. Estendeu o braço e Muah retornou para o cajado de Sion.

-Se Muah a respeita, pirralha… Eu acredito em você. Agora chega de enrolação! Levante-se. Me mostre o que sabe fazer!

Jow então revirou os olhos, sabendo que ia levar um esculacho dele. Amontoou a areia e modelou uma tartaruguinha de areia, que saiu andando pelo chão.

-Hahahaha! - Sion gargalhava - É com isso que quer ganhar uma guerra? Tartaruguinhas de areia? Pirralha burra, hahaha!

Jow riu.

 

-Você me mandou mostrar o que eu sabia fazer… Eu só sei fazer isso. Sei plantar flores, e sei fazer florescer… Talvez tenha ajudado a melhorar o solo de Eldarya com a marca da Terra… Não sei fazer mais nada, Sion… Você é um gnomo há séculos… eu sou um Avatar Híbrido Há alguns poucos meses… Preciso que me ensine… Sou só uma noviça.

Sion balançou a cabeça, visivelmente em desagrado.

-Está decepcionado comigo? Não quer mais ser meu guardião?

-Claro que vou ser, pirralha! Agora mesmo é que vou ser! Imagina, não sabe nada! Preciso ensinar tudo! Não vai ser fácil!

-E o que devo fazer, Sion? Me diga o que fazer, e eu faço. Sou uma boa aluna!

Sion suspirou e revirou os olhos.

-Sabe química?

-Um pouco.

-Não serve. Tem que saber muita! Conhecer todos os elementos, suas combinações, a tabela periódica inteira!

-Tá bem.

-Aceitou assim, tão bem a minha ordem?

-Sim, não me disse que preciso saber? Vou saber então. Vou decorar a tabela hoje.

-E vai ter que chamar a Terra… Chame a terra, Jow!

Jow deu um berro.

-Terraaaaaaaaa!

-O que está fazendo, sua pirralha maluca?

-Chamando a Terra, hahaha!

 

Sion bateu com o cajado na cabeça dela.

-Ai, Sion!

-Sem gracinhas! Olhe para o solo, pirralha! Olhe… Com a alma… E chame a Terra com o coração… Ame a Terra, Jow! Chame a Terra com a alma!

 

Jow olhou para ele, olhou para o chão, sorriu e fez o que ele mandou. Amou a terra, sentiu o peito arder, e chamou com a alma. E a Terra veio… O solo se elevou ao redor dela como um pequeno vulcão… Jow continuou chamando, e se levantou, como se estivesse em transe… Andou lentamente pela arena, e tocou as árvores… Sentiu a energia de cada uma delas, acariciando os troncos… Amou as vinhas e elas vieram, amou os cipós e eles vieram, ela sentiu que fazia parte da arena, e ali estava ela, sorrindo, com vinhas e cipós enroscados nas suas pernas e braços, e flores crescendo nos cabelos curtos, abraçando as árvores e rindo.

 

Jow rodopiou, rodou, rodou, com os braços abertos, e começou a rir, rir sem parar, e saiu pulando e dançando pela arena, como se fosse uma criança, e com os movimentos das mãos fazia os espinheiros dançarem, as flores mudarem de cor… As borboletas a cercaram e ela ria e ria! Rodava como uma louca com os braços para o alto e as folhas caíram coloridas como uma chuva, enchendo o chão da arena de cores.

Sion observava calado a alegria verde da aura dela se fundir com o verde da terra, e viu o amor enorme que ela era capaz de doar… E viu que ela seria capaz.

 

Jow estava feliz, tão feliz que não cabia em si. Lágrimas desciam pela sua face e ela chorava de felicidade.

Não sabia de onde vinha tanta alegria, só vinha… E transbordava, espirrando ao redor, manchando tudo de verde, e onde o verde espirrava, as flores cresciam.

Ela correu até Sion, abaixou-se e o abraçou, enchendo de flores o seu cabelo de raiz.

O Gnomo ficou todo rígido, sem saber como reagir àquela manifestação de alegria transbordante e carinho, e deu uns tapinhas nas costas dela, sem graça.

 

-Está bem, pirralha. Já chega. Já vi até onde chega seu amor. Vamos com um pouco mais de disciplina, já sei o que pode fazer, já sei como começar com você. Agora vamos sair logo e chamar a instrutora… Teremos muito trabalho hoje… Espero que não tenha medo de se ferir com espinhos…

-Sion… Disse ela enxugando os olhos - O que pode ser pior que as bolhas de Kazai, os hematomas de North ou os cortes de Amikoh? - Disse estendendo os braços e mostrando as marcas dos treinamentos.

-Você vai descobrir, pirralha… Vai descobrir…

 

Sion a puxou pela mão escada acima e abriu a porta com o cajado.

A instrutora e Mãe Gaia estavam ali, aguardando, e quando viram Sion, fizeram uma reverência, que ele retribuiu.

As sacerdotisas da terra esperavam ansiosamente para conhecer o guardião da Terra, e quando viram Sion, ficaram inibidas. Ele não era alegre e descontraído como os outros, era sério, altivo e mal-humorado. E não deu atenção à elas. Apenas falou para a instrutora.

-Vamos começar, senhora. Temos muito trabalho a fazer… Essa pirralha está muito crua...

 

Jow olhou para as meninas e piscou, sendo puxada de volta por Sion para o interior da arena, cuja porta ele bateu.

Uma vez novamente no campo de batalha, Sion disse a Jow.

-Não quero que faça escudos. Você vai simplesmente repelir os ataques. O que não rebater, vai te acertar, e vai doer…

 

Jow concordou com  a cabeça, e entendeu que devia ser como usar os demais elementos… Deixar a marca da Terra assumir e simplesmente guiá-la. Ela percebeu que ficava muito feliz usando a Terra. Era uma alegria insana, incontrolável, amava a Terra somente por ela existir…

O placar mágico acendeu, e marcava 0 pontos. Jow tremia quando o placar acendia. Aquilo era sua vitória e sua derrota, ao mesmo tempo.

Sion disse para a instrutora:

-Quero espinhos! Muitos espinhos, grandes espinhos!

Ela assentiu. E num instante, conjurou uma enorme touceira de espinhos, que como se fosse um monstro de arame farpado, avançaram na direção de Jow. Ela num impulso, se apavorou e saiu correndo, fugindo daquilo.

Sion mandou outra, cercando a garota.

-Rebata, pirralha! Não corra! Rebata ou eles vão te acertar!

Jow foi obrigada a parar, cercada pelos dois lados, e uma das touceiras da instrutora se enrolou em seu tornozelo, e outra no seu punho, cravando todos os espinhos bem fundo na pele.

Ela gritou. Se puxasse, rasgaria a pele. Eles esperaram… Então ela apertou os olhos com força, e pensou em repelir os espinhos… Sua pele rejeitou-os e os empurrou para fora. Um filete de sangue escorreu de cada um dos furos.

 

Jow então, usou o mesmo pensamento e rebateu as outras touceiras de espinhos, que como chicotes, tentavam acertá-la. Sion mandou então pedras que voaram em sua direção. Ela não podia usar escudos e teve que pensar rápido, chamando a terra e esfarelando as pedras no ar.

A instrutora então levantou uma grande tempestade de areia e arremessou em cima de Jow, que parcialmente soterrada, tentou empurrar de volta para ela, mas mal sujou a sacerdotisa.

 

Sion disfarçou um sorriso. Ela estava começando a entender.

Mandou mais espinhos e Jow rebateu.

Quando ele mandou que ela atacasse, Jow olhou para o alto e viu as borboletas. Levantou as mãos como se estivesse chamando as borboletas, e a nuvem colorida desceu e envolveu Sion e a instrutora. Jow então projetou vinhas e cipós contra eles e os pendurou pelos pés.

 

Sion elogiou.

-Muito bem, Pirralha!

O chapéu e o cajado de Sion caíram, e Jow colocou o chapéu, que ficou enorme na sua cabeça, pegou o cajado e dançou com ele e com a serpente Muah.

Muah então tornou a sair e enrolar-se, dessa vez, no braço de Jow, como se fosse um bracelete. E ali ficou a manhã inteira.

 

Ao final da batalha da manhã, Jow tinha arranhões ensanguentados pelo corpo todo, e espinhos enfiados em todos os lugares, até nos lábios e nas orelhas. Seus tornozelos e joelhos sangravam. Ela estava suada e suja de Terra. Muah dormia preguiçosamente enrolada no braço dela, e teve que ser cuidadosamente removida por Sion de volta para o cajado.

Jow estava imunda, exausta e feliz, ao mesmo tempo. Sentada no chão, as borboletas a cercaram, voando ao redor dela numa nuvem colorida, pousando nos seus cabelos e nas suas mãos.

 

-Como consegue atrair as borboletas, pirralha? Onde aprendeu isso? - Perguntava ele, enquanto subiam para o almoço.

-Não sei, Sion… Nunca fiz isso… Eu apenas…  Amei as borboletas, e elas vieram…

-Isso não é desse nível, é do próximo… Animais, ácidos e venenos…

Jow sentiu um arrepio quando ouviu falar em venenos.


 

Jow foi para o quarto tomar um banho para poder almoçar. Estava mesmo imunda.

Depois teve que expulsar um a um os espinhos do corpo, e precisou enfaixar o tornozelo, onde havia rasgos mais profundos.

Ignorou os outros arranhões, pois muitos mais se juntariam a eles…

No refeitório, sentada com Juma, ela descrevia o treino.

-Ele é durão, não é? - Perguntava Juma.

- Bastante… Mas todos eles são. Mãe Gaia ameaçou substitui-los se eles fossem moles comigo…

 

-Por isso esse monte de ferimentos… Estou até preocupada, quando for a minha vez, porque meu elemento principal é a Terra… Ainda bem que você é médica, Jow, hahaha! Pode cuidar da gente...

-É, pode ser… Mas acho que a gente se machuca porque perde o foco, sabe, se distrai... O objetivo é esse, não se distrair, rebater o ataque e fazer o contra-ataque.

Juma concordou.

-As instrutoras sempre falam isso… Mas também não vejo a hora de entrar na arena do Ar… E treinar com Amikoh… Ah, Jow, ele é tão lindo!

Jow riu.

-É mesmo, não é? Todos eles são maravilhosos, Juma. Vai curtir todos eles.

-Mas eu prefiro o Amikoh… Você prefere quem?

-Gosto de todos, Juma. Cada um de um jeito. Todos eles são muito especiais pra mim, e muito queridos. Eu amo todos eles. Não preciso escolher um.

-Hahaha, mentira! Ama mais o North, que era seu namorado quando era criança!

-Era mesmo… Mas na época, ele não existia, Juma… Era uma fantasia…

-Agora ele existe… Isso não é bom pra vocês?

-Como assim? Não entendi.

Juma revirou os olhos, Jow não podia ser tão inocente assim!

-Quero dizer que agora vocês podem viver o grande amor de vocês, agora ele está aqui e todo lindo pra você… E vocês podem recuperar o tempo perdido…

-Hahaha! Essa foi muito boa! Juma, ele é um elemental. Como poderíamos viver um grande amor? Não sonha tão alto, Juminha… Vai acabar se machucando muito como aconteceu com a gente. Não foi bom não, viu, eu garanto…

-Então… O amor de vocês acabou? Por causa disso?

-Claro que não! Nunca vai acabar, é amor, não é? É infinito, Juma… Não dá pra explicar. Não é físico… Apenas… É.

Juma fez um beicinho.

-Não quero então! Não tem graça nenhuma assim!

Jow teve que rir. Não dava pra explicar pra ninguém seu amor pelo North…

 

Ela foi para o quarto depois do almoço e pegou os livros de Keroshane…

Leu rapidamente alguns trechos sobre espinhos e manipulação da vegetação. Tudo se baseava em amar a Terra. Isso ela sabia fazer… Amar. Amar tudo e todos. Doar amor.

Quando retornou para a arena, Muah ainda dormia, e Sion deixou o cajado de lado para não incomodá-la.

Jow olhou para o placar e tinha mais pontos positivos do que perdas. Ela deu uns pulos, comemorando e rindo.

-Os únicos números com que deve se preocupar são os pesos atômicos dos elementos! Esqueça o placar! Está pronta, pirralha? Preparada para mais?

 

-Nasci pronta, Sion… - Disse chutando para longe as sapatilhas e ficando descalça na arena - Mande tudo o que você tem…  - E riscou o chão com o pé descalço, levantando uma serpente de areia que partiu para cima dele.

Sion riu e devolveu a cobra, que virou um lobo. Jow rebateu com outra cobra, e ficaram nisso um tempão. Lobos e cobras.

-Está ficando boa nisso, pirralha. Animar golens parece ser uma especialidade sua...

-Ahhh, Sion! Eu fiz a tartaruga e você riu de mim!

-Não se batalha com tartarugas fofas, sua coisa besta!

 

Jow revirou os olhos, e recebeu uma chicotada de espinhos nas costas. Ela deu um berro e caiu na areia. Os espinhos entraram na pele, e cortaram fundo até sangrar.

Era a instrutora, que retornava naquele momento.

-Nunca vire as costas para o oponente, Jow!  Se eu quisesse, tinha enrolado no seu pescoço! Nunca perca a atenção!

 

Ela tinha razão. Só se machucava por falta de atenção. As lágrimas escorreram por causa da dor, mas ela prosseguiu com o treino, por horas, até Gaia interrompê-lo para que ela se alimentasse.

Ela se atirou exausta na relva verde e fechou os olhos.

-Podem ir subindo que vou morrer aqui um pouco…

Sion pulou na barriga dela, que deu um grito.

 

-Wow, cacete! Que idéia foi essa, seu Gnomo doido?

Não baixe a guarda, pirralha! Vai subir essas escadas me carregando nas costas!

-Isso é sério?

Ele bateu com o cajado na cabeça dela, pra mostrar como estava falando sério, e ela não falou mais nada. Jogou Sion nas costas e subiu correndo escadaria acima. Depois deixou Sion na sala de Gaia e foi para o quarto tomar outro banho e cuidar dos ferimentos, cobertos com sangue seco e terra.

 

Sion acompanhou Jow na refeição fazendo-a recitar todos os nutrientes que os alimentos tinham. Isso a divertiu e também às garotas. Quando Jow errava, ele batia na cabeça dela com o cajado.

Ela praguejava e ele a fazia repetir até acertar.

-Amanhã quero que estude a tabela periódica! - Dizia ele. - E vendo que as garotas riam… - Vocês também! Se vão treinar comigo, vão estudar!

 

Jow riu dele. Esse guardião com certeza iria matá-las todas…

Sion ficou no pé delas até acabarem de comer. Depois foi infernizá-las na cozinha… E no final da noite, quando ela disse que ia encontrar-se com os guardiões na praia, Sion a repreendeu.

 

-Deveria ir estudar mais um pouco e descansar, pirralha! Não ir passear a essa hora da noite!

-Preciso disso para relaxar, Sion… Encontrar meus amigos me faz bem… Venha comigo também.

-Claro que vou! Acha que vou deixar você ficar até tarde perambulando sozinha por aí?

E dizendo isso, a escoltou, segurando-a pelo braço.

Chegando na praia, os demais guardiões os aguardavam, reunidos. Kazai sorriu ao ver Sion tomando conta de Jow.

-Finalmente, cara de sapo! - Gritou North - Juntou-se a nós.

-Não é prazer nenhum, Depravado! Soube que mãe Gaia te enfiou num par de calças… Melhor seria ter recortado as sobras do seu corpo e deixado ele liso.

 

-Eu não tenho um corpo, Sion - Dizia ele, fazendo careta. - Sou um Espírito da Água.

Jow ria. Se não tinha um corpo, imagina se tivesse…

Amikoh levantou o punho de Jow e observou os arranhões profundos e as marcas dos espinhos na pele dela.

-Vejo que Vovô Sion também deixou as marcas dele em você…

-Não foi nada  - Disse ela, puxando a mão para trás e escondendo os ferimentos - O que são umas marquinhas de nada, quando temos uma guerra pela frente?

 

-Isso mesmo, pirralha. Eles vão sarar - Disse Sion - E outros virão, e também vão sarar… Ela não pode fraquejar, Silfo. Tem que ser forte, pirralha. E… Eu não sou seu avô!

-Eu sei… Eu… Vou ser forte…

-Não seja rude com ela, Gnomo malvado! - reclamou Kazai. - Ela precisa de apoio, e não de broncas!

-Isso mesmo, Sion! Não seja grosso, ela é a nossa garota! - Reclamava Amikoh.

E enquanto Sion, Amikoh e Kazai discutiam. Jow se afastou deles, pensativa, um pouco melancólica, sentando-se na areia para pegar os cristais e as conchas.

North se aproximou dela.

 

-Deixamos essas pedras verdes aí pra você, princesa. Eu e o Amikoh. Pra lembrar dos velhos tempos… Você gostou?

-Sim… Obrigada…

-Está triste? O que foi? Está sentindo dor? O cara de sapo te machucou bastante, não foi? -Disse observando as marcas dos arranhões de espinhos nas costas dela.

Ela riu.

-Não mais do que você, ou Amikoh ou Kazai. O treino dele é rigoroso, doloroso, mas é diferente… Manipular a Terra é… Tão bom!

-Eu entendo. - Disse ele se aproximando e sentando-se ao lado dela - Nossos elementos estão aí para você usar… Estamos te treinando pra guerra… Mas manipular a Terra… É doar amor. Pode ser assim com todos os elementos, Jow… Talvez seja esse seu segredo, talvez seja a sua forma de conseguir vencer… Seu destino pode ser diferente, amor ao invés de rancor… Sabia disso? Você pode ganhar essa guerra só usando o seu Amor, princesa… - E dizendo isso, abraçou-a, inundando Jow com seu amor imenso.

 

Jow sentiu o coração acelerar e sem sentir conjurou flores ao redor deles, na areia.

Como ele podia ter razão? Como vencer uma guerra com Amor? Se ela sobrevivesse… Talvez pudesse descobrir. Mas antes precisava aprender a se defender, defender seu amor e seus amigos. E essa lembrança fez as lágrimas descerem e queimarem. Jow encostou a cabeça em North, que tentava consolá-la. Ela estava mesmo triste. E revoltada. Ninguém devia protegê-la... Era ela quem deveria protegê-los... Mas não sabia como fazer isso, e isso a desesperava.

 

North ficou ali abraçado com ela até levar na cabeça uma pancada do cajado de Sion.

-Vá vestir uma roupa, seu moleque depravado! E larga a pirralha agora! - Disse puxando North pelo cabelo.

North levantou-se num pulo… Então o velho cara de sapo já estava amolecendo e também já queria proteger Jow… Dele? Mas se North dissesse isso, ia apanhar de novo.

 

Fazendo uma careta para Sion, vestiu a calça de água que usava no templo.

-Satisfeito, cara de sapo? Tá bom pra você agora? Já posso continuar o que eu estava fazendo? Vem pra cá, Jow… - Disse abraçando Jow de novo.

- Não é muito melhor assim? Está quase apresentável! E não vai continuar com essa pouca vergonha de agarração aqui, não senhor! - Falou ele, empurrando North.

E Jow puxou Sion para si e o abraçou também.

-Sou médica, Sion… Estou acostumada a ver todo mundo sem roupas. Eu não me importo.

Sion sacudiu a cabeça.

-Quero foco, pirralha! Sem brincadeiras e gracinhas! Nada de ficar de tititi com o demônio de fogo, musiquinhas com o Silfo imprudente ou agarração com o depravadinho azul aí!

Uma risada geral deixou Sion irritado. Jow gargalhava alto. E enxugou o resto das lágrimas do rosto molhado.

-Eu amo vocês demais, meus guardiões. E agradeço por se preocuparem comigo. Mas eu sou um sapo e não preciso de proteção. Preciso é que me façam forte pra que eu possa proteger vocês e todos os que eu amo. Quero ser digna da minha linhagem, Sion. Quero ser capaz. E não quero que vocês briguem. Quero que vivam em paz, para eu viver também… E vou logo te avisando, que vou fofocar e conspirar com a Kazai, vou cantar e fazer perfumes com o Amikoh e vou agarrar e abraçar o North, sempre que eu tiver vontade… E com certeza vou rir e dançar com você e com Muah porque vocês me fazem feliz…

 

Sion, com olhar sério, concordou com a cabeça, e um sorriso disfarçado mostrou que ele estava satisfeito com a resposta dela.

-Mas agora tenho um pedido a você, Sion … Uma coisa muito importante pra mim… - Disse Jow - Você me prometeu me contar a história da minha família celta. E adoraria que contasse agora…

-Está bem - Disse ele orgulhoso. -Venham pra cá, vocês!

Os Guardiões se aproximaram e se sentaram junto a ela.

Kazai passou os braços ao redor dela e seus ferimentos pararam de doer.

 

Sion empertigou-se e começou a narrar com sua voz cavernosa, a história da linhagem de Jow. Ele fazia parecer um teatro, representando e gesticulando.

Ela deitou-se no colo de Kazai, e as chamas do vestido dela fizeram cócegas na sua orelha. Rodeada por North e Amikoh, Jow escutava feliz e de olhos vidrados. Sentiu-se ser insuflada pelo fogo de Kazai. Sentiu-se ser envolvida pela sabedoria de Amikoh. Sentiu-se ser inundada pelo amor de North. E sentiu-se ser abraçada pela alegria e segurança da Terra enquanto ouvia Sion.

 

Podia se dar esse presente… De se manter feliz e em paz pelo menos um pouquinho, antes de continuar sendo uma filha da Lua.

A Marca do Amor de Jow envolveu todos eles com a sua luz dourada.

E como se fosse o luar,  iluminou a Praia.

E Jow sentiu-se completa.

 


Notas Finais


Ahhh, eu gosto do Vovô Sion... Ele é rigoroso, orgulhoso, mas ele é muito amorzinho...

Jow precisa de disciplina. Ela é muito zoeira, hahaha!

Beijos!


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