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História Além dos Portais - Por que você é assim? Como faz isso comigo?


Escrita por: Especttra

Notas do Autor


Agora as coisas começam a esquentar.

Espero que gostem...

Cuidado com ele... no portal!

Capítulo 7 - Por que você é assim? Como faz isso comigo?


Jow fugiu para o seu quarto, ali ele não a pegaria. Hans foi treinar e ela se escondeu.

Ficou ali deitada algum tempo, pensando que apesar de tudo, gostava demais da companhia de Ezarel (talvez ela fosse a única pessoa do mundo que gostava) sempre irônico, sarcástico, infantil e brincalhão, mas muito inteligente. Mas não tinha certeza se ele gostava muito dela. Porque ela encostava nele, pegava nele, beliscava ele, cutucava as orelhas dele. Fazia sempre isso. Gostava de pegar nele.

Após algum tempo, achou seguro sair do quarto, e esgueirou-se pelo jardim. Mas deu de cara com Valkyon treinando os recrutas.

- Até que enfim. Vem aqui, sua molenga, vem ganhar um pouco de músculo!

Resignada, aproximou-se dele e recebeu de suas mãos uma espada de madeira, cujo peso já lhe dava dor de cabeça.

- Ahhhh! Pesada!

- Eu disse… molenga! Fica aí com o Hans que ele será seu parceiro.

Treinaram por algum tempo até as mãos dela se encherem de bolhas que já estouravam. O rosto estava vermelho e os cabelos em pé. Hans a apoiava e ajudava, elogiando sempre que possível. Ela sabia que os elogios eram falsos, era horrível na arte da luta, não servia pra isso…

Ela ria de alguma piada de Valkyon quando viu Ezarel se aproximando, já tinha voltado ao normal… Foi um silêncio no jardim. Vendo que ia dar treta, Valkyon se adiantou e dispensou os recrutas, que felizes saíram depressa.

Ezarel vinha sério e com passos lentos, mãos pra trás e um olhar penetrante. Hans se postou na frente dela. Valkyon na frente de Hans.

- O que é isso, uma parede masculina pra proteger a maldita? Acha que preciso chegar perto pra atingir essa maluca?

- Tá Ezarel, vaza – disse Valkyon.

Viu Jow esboçar um sorriso. E acrescentou, com maldade.

- E você, humana maldita, tá rindo de quê? Que motivos você tem pra ser assim, tão alegre?

Ela ficou séria. Sabia que não ia gostar do que ia ouvir. Mas Ezarel continuou.

- Pelo que sei, você é sozinha no mundo. Nem seu namorado te quis, ele te chutou. Você não passa de uma princesa sapo que sempre levou uma vida de escrava, trabalhando mais do que aguenta…

Jow estava muito séria. Olhava para ele em silêncio. A espada de madeira foi para o chão. As mãos cheias de bolhas se fecharam. As unhas entraram na pele ferida.

Mas ele estava com muita raiva dela…

- Você não tem nada de especial e também nenhum poder especial que seja importante para Eldarya. Não passa de uma humana maluca com uma história comum. Sai por aí abraçando e enlouquecendo todo mundo com essa alegria escandalosa. Não faço idéia de porque aquele orbe brilhou para você! E mesmo assim está sempre feliz! Feliz com o que? Queria saber!

Ela estava séria e respondeu na lata.

- É verdade, Ezarel. Minha vida nunca foi um mar de rosas. Não passo de uma humana maluca, uma princesa sapo. Ninguém acha que eu valho a pena. Meu príncipe encantado idiota me dispensou. Na história da Cinderela, nunca serei mais do que a abóbora. Mas meu coração é alegre, porque sei que tenho amigos, na terra e aqui. Pensei em talvez ser aceita pelo que sou, e não pelo que esperam de mim. Não sou nada. E nem tenho nada para oferecer, além da minha alegria, meu amor, minha amizade. Mas sou capaz de imaginar e desejar que coisas boas possam me acontecer um dia. Diferente de você, que é azedo, sozinho, e que faz questão de afastar as pessoas que gostam de você. Você é um Maldito Elfo Idiota! Não merece a minha amizade nem a minha consideração. Espero que nunca mais fale comigo!

E saiu correndo dali.

Valkyon e Hans olhavam para Ezarel, com raiva, mas calados.

Porém Ezarel não esperava essa reação dela. Esperava vê-la gargalhar, dançar e zombar dele. Não esperava vê-la mudar de cor… Não esperava que o verde reluzente da sua aura se tornasse azul. E correu atrás dela, com o coração apertado, arrependido.

Hans fez menção de ir atrás deles, mas Valkyon o segurou pelo braço.

- Não, Hans! Melhor não se meter nisso… pelo que vi, acabo de perceber que ela é a única de nós que sabe lidar com Ezarel. E vi que ele gosta muito dela. Ela vai dar o que ele merece.

***Pov’s Jow****

Corri dali, queria sumir, queria morrer. Corri para a praia. Queria pular no mar e nadar até ser dragada para o fundo, e esquecer. Esquecer de tudo, da vida, da Terra, de Eldarya… dos idiotas da minha vida!

Me atirei na areia e chorei. Chorei muito.

Esfreguei os olhos, tentando arrancá-los. Ali, sentada na areia, eu não conseguia parar de chorar. O mar era minha única testemunha… ou era o que eu achava.

Ouvi alguém me chamar.

Tampei os ouvidos, era Ezarel, Pela Deusa, eu queria sumir dali! A última pessoa que eu queria ver era ele! Depois de tudo o que eu ouvi… e era tudo verdade!

- Jow!

Levantei, corri mais, mas ele me perseguiu, me alcançou, me puxou pela túnica e me derrubou na areia, caindo junto comigo.

- Pára maldita!

- Some daqui, eu quero ficar sozinha!

Ele me segurava e eu comecei a socá-lo, e socava com toda vontade.

- Pode bater – disse ele - eu mereço apanhar.

Ouvindo aquilo, parei de socar, escondi o rosto nas mãos e chorei mais, convulsivamente.

Ele me abraçou, sem hesitar.

Escondi o rosto no peito dele e chorei. Chorei por Marcos. Chorei de saudades dos meus pais, dos meus amigos, do meu Hospital. Chorei pelo mendigo Zé, por todas as pessoas doentes que eu não tinha sido capaz de salvar. Chorei por mim. Chorei por ser uma inútil, por ser feia, por ser sapo, por ser estúpida. Por ninguém gostar de mim. Por ser uma abóbora. Por não ser capaz de ter um amor sem sofrer. Por não ter nada a oferecer. Por perceber que precisava tanto dele, meu amigo. Que sabia que eu não valia a pena! As lágrimas desciam pela minha face, molhavam a túnica de Ezarel e iam se juntar à areia salgada.

Chorei até secar.

- Desculpe – disse ele – Sou um idiota mesmo. Desculpe!

Eu não conseguia falar. Ele limpava do meu rosto as lágrimas que não paravam de rolar. Minhas bochechas estavam vermelhas e ardiam, e estavam cheias de areia. Quanto mais ele limpava, mais areia colava.

Perdi a conta do tempo que ficamos lá. Ele me abraçando e eu chorando. Até que as lágrimas foram secando. Eu estava secando.

Ezarel me embalava no abraço, como se eu fosse um bebê. Afagava meu cabelo descabelado e meu rosto quente e vermelho.

- Tudo bem, tudo bem, eu estou aqui.

Eu nada dizia. Apenas desfrutei do momento, estava deprimida e precisava daquilo.

- Desculpe, Jow – ele dizia sem parar. - Sou mesmo um idiota, você não merecia isso.

Eu olhei séria para ele com os olhos inchados e vermelhos. Estava deprimida sim… e a culpa era dele!

- O que mais me doeu – eu disse – foi que você não falou nenhuma mentira, Ezarel. Mas doeu ouvir de você. Eu sei todo o fracasso que eu sou. Me dói é perceber que você também sabe, e ver como você me enxerga...

- Desculpe, sou um idiota. Falei um monte de besteira porque estava com raiva e queria te machucar. Você não é nada daquilo! Você é linda, você é inteligente, é querida, é alegria pura. Você trouxe vida para Eel. É habilidosa, carinhosa, amiga. Não quero que fique magoada comigo. Eu fico mais idiota quando fico vulnerável, e você me deixa assim.

- Como assim? Porque?

- Você me tira do sério Jow, e eu não sei lidar com isso. Nunca tive um amigo, quanto mais uma amiga. Não estou acostumado a ser tratado com carinho. E fico me defendendo com ironias e palhaçadas. Não quero perder você. Você é muito importante pra mim! Por favor, me desculpe.

Ouvindo aquilo, minhas lágrimas começaram a cair de novo. Ele protestou.

- Ahhh, não! Não chora mais, já encharcou minha roupa, ahhhhhh!

E eu comecei a rir, e de repente não conseguia parar de rir. Eu chorava e ria e ele me apertava. Estava borbulhando em emoções que nunca experimentara, e estar ali, nos braços dele, foi uma delas. Então eu o abracei, forte e muito forte. Apertei tanto que o deixei sem ar. Mas ele não resistiu... Ele permitiu.

- Ezarel – eu disse, sem soltá-lo - quando eu vim pra Eldarya, estava muito insegura e muito só. Estava triste também. Minha vida louca, uma confusão. Não sei porque aquele troço brilhou pra mim. Não tenho mesmo nada a oferecer pra vocês. Minha vida é como um barco num mar escuro. Mas ter você aqui como meu amigo, era como se fosse um porto… você é meu farol, Ezarel. Não apague a luz pra mim. Preciso de você.

Ele ainda me abraçando, me respondeu, com a voz triste.

- Parece que não estou sendo um bom farol pra você. Me desculpe. Vou me esforçar mais, prometo. Seu riso é que é uma luz, Jow. Não quero que pare de rir. Sua alegria escandalosa já mudou Eel.  Você parece um furacão, maldita - disse ele - Por onde você passa, nada fica igual.

E me deu um beijo no rosto quente e vermelho de tanto chorar.

Viver aquele momento com Ezarel me deu mais forças pra acreditar que eu poderia sim, ser feliz… um dia. Quem sabe, meu farol vai ficar brilhando como aquele Orbe? E me mostrar pra onde devo ir…logo eu, que prezo a amizade mais do que tudo na vida!

Ficamos algum tempo ali, em silêncio, apenas ouvindo o barulho das ondas calmas que quebravam na areia. De vez em quando ele falava alguma bobagem pra me fazer rir. A noite começava a cair e já podíamos ver voando pela praia alguns insetos que pareciam com vaga-lumes… Ele examinava as bolhas que a espada tinha deixado nas minhas mãos e falava alguma coisa sobre uma pomada pra curar…

Nos levantamos e começamos a voltar para o QG. Andamos abraçados por um tempo, mas ele me soltou ao chegarmos mais perto do quartel.

- Não quero que pensem besteira da gente.

Eu ri.

- O que poderiam pensar de nós?

Ele estava sério.

-  Vai saber… esse pessoal é fofoqueiro.

- Você gosta de arrumar treta com a galera mas não gosta que arrumem treta com você, né?

- Não é isso. Não quero que fique exposta a comentários bobos.

- Eu fique ou você fique?

- Você me entendeu, Maldita. Você me entendeu – riu ele.- Precisamos cuidar dessas bolhas. Não vou mais deixar o Valkyon te treinar assim.

- Você não é meu chefe, Maldito.

- Nem ele… ele não pode te dar ordens.

- Mas você pode?

- Eu posso. Sou seu tutor aqui, responsável por você, a Miiko falou no dia em que você chegou...

- Você quer que eu continue molenga pra quando eu te bater não doer? Não preciso te socar, posso te bater com a espada dura. Desde quando você obedece a Miiko?

Entramos no QG e claro, por onde passávamos, todos olhavam pra nós. Nós rimos e prosseguimos, com certeza pensaram que andamos nos pegando na praia. Eu e ele estávamos cheios de areia, meus olhos inchados de tanto chorar, minha cara vermelha de esfregar, ele com a roupa molhada… do meu choro. Silenciosamente, fizemos um pacto secreto de não falar nada pra ninguém, deixá-los pensando o que queriam e nunca iríamos contar. Mas não tinha nada pra contar… ou tinha?

**** Pov’s Ezarel****

Não sei o que deu em mim pra tratá-la daquela forma! Quando a vi correr, depois de me responder daquele jeito, meu coração doeu. Ela não merecia aquilo. Eu não deveria ter dito isso! Pensei que ela ia me xingar e zombar e sair dançando, gargalhando e fazendo pouco da minha raiva e da minha autoridade, metendo a língua pra mim. Eu queria que ela me esculhambasse! Mas ela não o fez! Corri atrás dela, precisava me desculpar.

Correndo mais que podia, eu ainda não era mais rápido que ela. Ela corria em direção à praia como se fosse um cervo, mas eu sabia pra onde ela ia, então corri atrás.

Encontrei-a sentada na areia, e ela chorava! Pela Deusa, ela estava chorando! A aura verde se esvaía em azul e derretia pelo chão! Eu fiz aquilo, eu! Elfo idiota! Orgulhoso! Maldito!

Chamei seu nome, quando ela percebeu, levantou-se e voltou a correr.

“Ahhh, maldita, não vai fugir de mim assim “– pensei. Corri mais atrás dela, e a alcancei, agarrei pela túnica e ela caiu na areia, eu caí atrás. E ela começou a me socar e eu queria apanhar, queria que ela me machucasse, eu merecia! Mas quanto mais eu falava mais ela chorava.

Não consigo descrever o que eu senti ali, vendo-a chorar. E ela não parava, eu só queria me desculpar! Eu num impulso a abracei e mantive ela ali, num abraço, quebrando o silêncio só pra pedir desculpas de novo. Disse tudo o que eu queria dizer, talvez nem tudo o que eu sentia, mas já era demais pra mim falar tudo aquilo. Nunca me imaginei me desculpando com alguém. Não assim.

Mas aí ela me disse tudo aquilo, que eu não conseguia processar. Não sei se estava feliz ou desesperado ouvindo aquilo, não sabia que gostava tanto dela, nem sabia que ela gostava tanto de mim, não quis fazê-la sofrer daquela forma.

Eu não sabia o que sentir, se culpa, ou tristeza, ou alegria por estar me reconciliando. Nunca tive uma amiga. Nunca como ela. Não queria que ela confundisse as coisas, achando que eu a odiava, que eu estava com raiva dela, porque ela já tinha sofrido demais. E ainda mais por minha causa.

Percebi que sua aura ia mudando de cor, em explosões de verde e dourado, às vezes voltava a ficar azul, retornando ao verde. Verde era seguro. Verde eu conhecia, ela estava feliz quando estava verde...Dourada eu nunca vira, mas comecei a temer o azul… o azul que escorria pela areia enquanto ela estava ali, morrendo de chorar. Azul não, jamais, nunca deixaria ficar azul de novo. Azul não era seguro.

Retornamos ao QG porque estava anoitecendo, estávamos abraçados, andando juntos, mas perto do refúgio eu a soltei. Já tinha me exposto demais, não sabia como lidar com aquilo, eu precisava pensar. Ou precisava não pensar... E ter mais cuidado. Pra eu mesmo não confundir as coisas...

Parece que mentalmente, combinamos manter aquilo em segredo pra nos divertir e deixar todos pensarem que estávamos trocando beijos na praia. Afinal, tínhamos areia em todo canto, minhas orelhas enormes estavam cheias de areia… foi engraçado fingir que tinha rolado alguma coisa, quando não tinha rolado nada… ou tinha?

****

Por um portal invisível, por sessenta segundos que parecerem durar uma eternidade... o mascarado olhava, e sorria… estava tão cansado, seu corpo enfraquecendo pelo uso dos portais invisíveis… Mas quem sabe brotava uma esperança? Daquilo tudo ser evitado? Quem sabe ele tivesse se enganado, e talvez Ezarel, o Elfo idiota, egoísta, egocêntrico, estúpido e infantil pudesse salvá-la… a agonia que ele sentiu quando viu aquela aura azul… ele só quis poder sair do portal e mudar aquela cor. Mas não podia.

O Elfo maldito tinha feito um bom trabalho, afinal… restava saber se ele seria capaz de lidar com as consequências daquilo tudo… depois.

 


Notas Finais


Bem... aqui tudo começa.
Vamos a mais um depois!
Beijos!


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