História Algo em você - Encruzilhada

@Visão Jong

- Quando precisar de mim, é só dizer. Um dinheiro extra é sempre bom. Principalmente na minha situação atual.

Eu falei, sincero, e a porta finalmente foi aberta. Nós voltamos o caminho todo em silêncio e, quando chegamos em casa, descobrimos que Yeol havia feito o jantar. Ele nos recebeu sorridente e contou:

- Tenho uma novidade para contar. Consegui um estágio como veterinário assistente naquela clínica que eu queria.

@Visão L

Senti meu rosto se iluminando com a boa notícia, correndo para seus braços e o beijando. Só conseguia ser assim espontâneo perto dele.

- Parabéns, Yeol! Estou tão orgulhoso de você, você merece muito esse estágio! Vai ser ótimo!

Praticamente tinha esquecido que Jong estava ali até ele parabenizar Yeol também, me retesando um pouco automaticamente nos braços de meu namorado. Eu ainda não sabia o que pensar do maknae do grupo de Yeol.

Jantamos juntos naquela noite e consegui disfarçar bem minha mudança de comportamento em relação ao Jong até que Byeol foi cheirá-lo no sofá quando ele e Yeol estudavam e eu organizava alguns documentos na mesa de jantar. Yeol sabia o quanto meu humor e o de Byeol eram ligados e olhou para mim na hora.

@Visão Yeol

- Vocês finalmente se entenderam?

Eu perguntei, notando que algo ocorria ali, e Jong apenas permaneceu em silêncio. Olhei para o Soo, à espera de alguma resposta, e logo ele me explicou o que ocorreu. Ri muito da situação e falei:

- É bom ver que as maus entendidos foram resolvidos.

@Visão L

Gemi em frustração e joguei uma almofada em Yeol.

- Não é engraçado! Como eu ia saber a diferença entre medo e admiração?!

Reclamei, fazendo Yeol rir mais alto e Jong deu uma engasgada que parecia suspeitamente com uma risada. Bufei e cruzei os braços, fazendo Byeol eriçar um pouco os pelos. Não adiantou nada, pois logo Yeol e Jong estavam no chão de tanto rir da situação e eu acabei deixando para lá. Ok, talvez fosse mesmo uma pergunta boba.

- Ok, eu entendi onde eu errei, chega.

Fui para o quarto, ainda um pouco envergonhado pelo mico que paguei.

@Visão Jong

Quando recuperei o fôlego, olhei para Yeol e acabei desabafando:

- Eu estou muito feliz em te ver rindo assim de novo.

@Visão Yeol

- E eu estou feliz de ver que você voltou a ser o Jong de antes.

Eu falei em resposta ao seu comentário. Ele me olhou em silêncio e continuei:

- Descansa, amanhã tens um dia cheio.

Ele concordou e eu fui para o quando, onde encontrei o Soo deitado e coberto. Fui até ele e o abracei após entrar embaixo da coberta, comentando:

- Você é fofo quando fica envergonhado.

@Visão L

Sorri para ele, me aninhando em seus braços.

- Você sempre me acha fofo. Até quando estou bravo.

Ficamos um pouco abraçados antes de eu perguntar algo que estivera me incomodando um pouco:

- Yeol, o que você viu em mim? Quanto mais eu conheço Jong, menos eu entendo como você se interessou por uma pessoa tão socialmente limitada como eu.

Era a primeira vez desde que começamos a namorar em que eu deliberadamente mostrava vulnerabilidade e odiei a sensação no momento em que as palavras tinham saído da minha boca, mas eu precisava entender. A meu ver, uma pessoa como Jong combinava muito mais com Yeol do que um preguiçoso como eu.

@Visão Yeol

Não entendi aquela insegurança toda do Soo e falei:

- Eu vi o homem maravilhoso que você é. Carinhoso, gentil, sexy, romântico, e por aí vai. Você é tudo que eu preciso, Soo. É o homem que eu amo.

Ele não parecia convencido e eu, percebendo isso, continuei:

- O que eu tive com o Jong acabou há muito tempo, ele não faz mais parte da minha vida. Você precisa entender que o único homem que eu amo e vejo na minha frente é você.

@Visão Jong

Lembrei que havia esquecido de dar uma carta que havia chegado mais cedo ao Yeol e ia bater na porta do quarto de ambos quando ouvi a conversa, sem querer. Aquelas palavras doeram tanto em meu coração que eu não sabia como aguentá-las. Como olhar nos olhos deles de novo.

Afinal, eu posso saber que os sentimentos do Yeol por mim morreram há algum tempo, mas ouvir isso dos seus lábios dói muito mais. Me afastei, voltando para a sala, e impulsivamente escrevi um bilhete de agradecimento. Fui colocando minhas coisas o mais rápido que pude na mala e saí dali. Não esperava, porém, ser pego por aquele homem.

@Visão L

A confissão de Yeol me deixou bem mais tranquilo: eu acreditava em seu amor e retribuía cada parte dele. Só era difícil para mim me acostumar - lhe expliquei que ele era meu primeiro namorado/relacionamento e que era por isso que não sabia o que fazer.

Ele não conseguiu me responder, pois Byeol começou um chilique sem precedentes na sala e fui correndo ver qual era o problema do bichano, que pulava pela sala miando e tentando sair. Ele nunca fizera isso. Tentei acalmá-lo, mas Yeol chamou minha atenção para uma carta em cima da mesa. Era de Jong, agradecendo e se despedindo de nós.

- Yeol, eu não estou entendendo. O que está acontecendo?!

Meu pânico, infelizmente, só aumentou o de Byeol, que se esgueirou por uma mini fresta na janela para fora, miando sem parar. Abri a porta para correr atrás dele e quase tropecei em uma mala na calçada, jogada de qualquer jeito: a mala de Jong.

@Visão Yeol

Quando o Soo tropeçou naquela mala, nós entendemos o que havia ocorrido e, sem saída, chamamos a polícia. Estes inutilmente falaram que só podiam fazer algo em 24h e nós ficamos ali, com a mala do Jong, sem saber para onde o haviam levado.

Voltamos ao apartamento e ficamos andando em círculos até que eu, sem conseguir me acalmar, falei:

- Ele deve ter nos ouvido, por isso quis ir embora. O que faremos se algo acontecer com ele, Soo? O que faremos?

@Visão L

- Eu tinha pedido para ele esperar, Yeol! Falamos sobre isso hoje no trabalho! Se eu tivesse ficado quieto como sempre fico em vez de falar bobagens, nada disso teria acontecido...

Falei, me sentindo à beira das lágrimas. Sentia que aquela situação horrível era culpa minha e não podia acreditar que não pudemos impedir o pior. Cobri o rosto com as mãos, me sentindo o ser humano mais fracasso de todos os tempos e nem Byeol deitado em meu colo me acalmou.

@Visão Jong

Eu não sabia onde estava, mas sabia que era um lugar escuro e estava assustado. Meus olhos estavam tampados, minhas mãos amarradas atrás da cadeira e minhas pernas, presas nos pés da cadeira.

Eu estava apavorado e, quando achei que a situação não podia ficar pior, ela ficou. Aquele homem nojento começou a me tocar e a me agredir como desejava e eu, amordaçado, não conseguia gritar por ajuda.

@Visão Yeol

- Não é possível que a gente não possa fazer nada.

Eu falei, agora com todos os meninos na nossa casa, também andando em círculos.

- Nós sabemos que ele foi levado. A mala dele ficou largada em plena rua. Ele deve estar em perigo e a polícia só nos manda esperar. Se ficarmos aqui sem fazer nada, pode ser o fim.

@Visão L

Por incrível que pareça, quem estava fazendo cafuné em mim enquanto eu me acalmava era Gyu. Todos nós estávamos juntos na sala de estar, tentando achar uma forma de descobrir onde Jong poderia estar.

- L, tem câmeras na sua rua? Minha mãe tem um restaurante e sou eu quem cuida da parte de segurança. Posso tentar conseguir a prova do sequestro em vídeo.

Falou Dong, colocando o plano em ação no meu laptop assim que eu confirmei. Hoya ajudou Dong a pegar o sinal das câmeras de todo o bairro enquanto Woo chamava novamente a polícia. Yeol tentava ligar para o celular de Jong, para ver se alguém atendia e nos dava mais uma pista.

Os policiais não mudaram seu discurso ao telefone com Yeol por causa das tais 24 horas, então pegamos meu carro e fomos todos até o local em que a última câmera tinha visto o carro que pegara Jong. Respirei fundo e me acalmei, pronto para dar uma lição naquele nojento. Eu tinha falhado com Jong e Yeol, mas seria a última vez.

@Visão Jong

Eu já não sabia de mais nada. Só queria que aquilo parasse. Eu havia sido drogado, usado e machucado como nunca antes. Pensei que estaria morto em algumas horas quando ouvi passos e logo aquele ser desprezível falou:

- Ora, ora, quanta honra. Não esperava que tanto público viesse resgatar esse lixo. Estou realmente surpreso.

- É melhor você nos deixar sair com o Jong daqui em paz ou vai se arrepender.

Eu ouvi alguém gritar, mas não consegui reconhecer a voz. Aquele homem liberou minha boca, soltando a fita, e eu avisei, aflito:

- Saiam daqui, ele está armado!

Àquela altura, eu já não dava a mínima se estava nu e amordaçado na frente deles, não ligava para os hematomas, cortes e todo o resto. Só queria que eles saíssem dali rápido.

@Visão L

Ao ver Jong daquele jeito, algo quebrou dentro de mim. O homem mal teve tempo de se virar para nós de novo: me joguei em cima dele e lhe dei um soco no nariz, ouvindo um prazeroso crack. Ele estava em choque, mal conseguindo lutar para sair de meu embalo. Continuei a bater nele e socar seu rosto, vendo Gyu e Woo ajudarem Jong como podiam. Yeol estava congelado na porta, pálido e tão em choque tanto o homem.

Dong foi o primeiro a se aproximar de mim, com cordas nas mãos.

- L, chega. Ele já desmaiou faz tempo e você precisa deixar alguma coisa para a polícia prender. Hoya já os chamou e está esperando eles lá fora.

Dei um último soco no infeliz, me levantando. Eu tremia de raiva e estava com meu pijama de seda branco todo ensanguentado - aliás, sentia o líquido até em algumas partes do meu rosto. Assim que olhei para Yeol, soube que tinha ido longe demais.

@Visão Yeol

Eu estava assustado, muito assustado. Nunca vi o Soo tão violento antes e não sabia se conseguiria lidar com aquilo. O Jong foi levado para o hospital e nós, para a delegacia. Quando as coisas finalmente se acalmaram e nós ficamos a sós, eu o questionei.

- O que foi aquilo, Soo?

Eu não sabia como descrever meus sentimentos naquele momento e queria entender o Soo antes de irmos ver o Jong no hospital. Eu só não esperava ouvir uma história como aquela sair de seus lábios. Como alguém poderia abusar de uma criança?

@Visão L

Eu sabia que tinha acabado no momento em que vi o olhar de Yeol em mim quando levantei. Sabia que iria acontecer desde o começo, mas parei de ouvir meus instintos em algum momento das últimas três semanas e agora meu coração se partia como nunca antes.

Não adiantava mais mentir para Yeol e nem omitir nada, então fui direto ao assunto e lhe contei toda a minha fonte de problemas com seres humanos, que começara quando eu era criança e um dos mordomos da casa dos meus pais abusou de mim.

Depois de uma semana nesse inferno, minha mãe o pegara no flagra e o homem foi demitido e preso, mas o estrago já estava feito. Consegui superar o trauma depois de muita terapia e tratamentos psiquiátricos, mas todos os médicos alertaram meus pais de que eu estava quebrado e que eles não faziam milagres.

Na maior parte do tempo, eu conseguia lidar com esse problema em não gostar de interagir com pessoas, mas agora Yeol sabia.

- Me desculpe por ter te decepcionado. Eu só... Eu só queria acreditar que era possível que alguém me amasse. Mesmo que fosse por um dia. Você fez isso, Yeol, e sempre o guardarei em meu coração, mesmo que você escolha ir embora. Nunca te pediria para ficar comigo depois disso.

Falei, tão devastado que não tinha nem energias para chorar.