História All About You - Seis

POV Bruno

Domingo

13 de fevereiro de 2011

— Peter! Peter! – Escuto conhecidas vozes femininas praticamente derrubando a porta do meu quarto.

— Inferno, ainda está cedo porra! Me deixa! – Respondo, tendo minha visão embaçada pelos raios de sol que entravam pela janela entreaberta.

— Vamos Peter, hoje é o seu grande dia! – Tiara grita, já puxando o meu edredom.

— Trouxemos até um café da manhã especial para o nosso futuro ganhador do Grammy. – Presley se aproxima com uma bandeja linda. “Só pode ser milagre!”

 — Opa, aí sim, hein? – Sentei-me na cama, dando espaço para que elas, junto a Jaime, Tahiti e meu pai sentassem.

— Ansioso para hoje meu irmão? – Perguntou Jaime, a grande mãezona entre os irmãos.

— Muito! – Foi a única coisa que consegui dizer.

Hoje seria mais uma etapa concluída no sonho que muitos acreditavam ser grande demais para mim. Irei ao meu primeiro Grammy, concorrendo com o meu primeiro single e tendo a oportunidade de cantar ao lado do meu parceiro B.o.B e da incrível Janelle Monáe. Ou seja, estava em marte. Literalmente.

— Mamãe me contou sobre o seu “chororô” por telefone. – Tahiti e seus comentários cheios de humor.

— Só queria que ela estivesse aqui comigo! – Fui sincero. Gostaria que toda a minha família estivesse aqui neste momento. Incluindo a minha mãe e a vó Soledad, mas compreendi a necessidade dela em permanecer com a vovó. “Fica pra próxima!”.

— Ela está com você, da forma dela, mas está.

— Ela está muito orgulhosa de você meu filho. Você conseguiu! – Meu pai me encarava com a expressão que tanto sonhei em ver em seu rosto. Que busquei dia após dia desde que me mudei para Los Angeles: orgulho.

— Obrigado Pai! – sorri abertamente, encarando a parte da família presente naquele momento. — Vocês fazem parte disso!

— Ok! Ok! Vamos parar com esta “melação” porque hoje você tem que estar incrivelmente alegre, sorridente e bonito. – Presley com todo o seu jeito espontâneo parecia mais animada do que eu. — Por falar em bonito, mandei o vestido para sua acompanhante ontem. O Ryan quase estragou tudo, senão fosse eu e as meninas, você iria acompanhado com a mulher com a roupa mais vulgar que o Grammy já viu. Deus te livre! – Fez o sinal da cruz, arrancando gargalhadas de todos.

— Primeiro, bonito eu já sou. Segundo, obrigado minha irmã, eu te amo!

— Somente ela Peter? – Tahiti levantou a sobrancelha.

— Me desculpe, eu amo vocês. Obrigado por me ajudar com isso.

— Por falar nela, você e ela são o que um do outro meu irmão? – Jaime questiona.

— Apenas amigos. – Dei de ombros.

— Amigos com benefícios Jaime, você não conhece o Peter? – Tiara ironiza.

— Este é o meu garoto! – “Pai Pete me entende!”

— Somos apenas amigos e ponto. Podem sair para que eu possa ter um pouco de privacidade?

— Claro, vamos senhoritas. Deixa o seu irmão se preparar. – Meu pai me salva de mais questionamentos.

Bom, o sábado havia passado rapidamente. Havia ensaiado do B.o.B e Janelle, recebido a minha família e descansado um pouco. Na verdade, tentei descansar. Jennifer não parava de me ligar e até propôs dormir comigo. O que neguei pela milésima vez. “Droga! Estou me arrependendo de tê-la convidado.”

• • •

No domingo o meu apartamento, durante todo o dia, parecia um metrô de New York na hora do rush. Lotado. Estava presente uma boa parte da minha família, meu parceiro de infância e trabalho, Ryan, Philip Lawrence e sua namorada Urbana, alguns rapazes da banda e outras pessoas que iriam “me ajudar a ficar incrivelmente lindo”, segundo a equipe de cabelo e maquiagem. Enfim, era muita gente e claro, não poderia deixar passar a oportunidade de reunir esta grande família e ter um almoço regado de boas lembranças e música.

• • •

O relógio marcava 7pm, estava saindo de casa acompanhado do meu pai. Sabe quando a ficha de que você está a poucos minutos de realizar um sonho cai? Só poderia descrevê-la no meu caso com duas palavras. Melhor, dois sentimentos: ansiedade e felicidade. Neste momento, a ansiedade estava quase vencendo.

— Calma meu filho, está tudo bem! – Com batidas em meu ombro, meu pai tentava me acalmar. O que não estava dando muito certo.

— Pai, e se eu perder? E se eu não conseguir cantar? – Meu pai era uma das únicas pessoas que eu poderia me abrir totalmente. Falar sobre tudo o que vivia e sentia, pois eu sabia que não haveria julgamentos. Ele me compreendia e sempre tinha palavras que me confortavam ou me direcionavam a uma solução.

— Quem é você e onde está o meu filho? – Rimos. Um segundo depois, mudou sua expressão e voz e de um jeito sereno continuou. — Peter, você lutou muito para estar aqui e este é o momento em que você irá colher os primeiros frutos do seu trabalho. Esta noite é sua. Não deixe que nada, incluindo você mesmo, tire isso daqui de dentro. – Apontou para o meu peito e antes que eu pudesse responder, o carro parou em frente à arena Staples Center. — Chegou a hora filho!

— Obrigado pai! – Sorri. As palavras do meu pai haviam me confortado. “Este era o meu momento!”

— Acabou de chegar uma das mais novas revelações do ano. Bruno, o que você está sentindo neste momento, em seu primeiro Grammy? – Uma repórter incrivelmente linda veio em minha direção.

— Primeiramente, boa noite Ashley! – Li seu crachá. Uma das minhas estratégias para conseguir um contato mais rápido e íntimo após a festa. — Respondendo a sua pergunta, estou num misto de sensações. Estava muito ansioso para este dia, mas acabei de receber palavras de conforto e apoio do meu pai e agora sinto apenas gratidão e felicidade por estar aqui esta noite.

— Uau, parabéns pelas indicações Bruno e aguardamos ansiosamente a sua performance com B.o.B e Janelle Monáe.

— Obrigada Ashley, espero vê-la na plateia! – Sorri e fui direto ao espaço para bater as fotos oficiais no tapete vermelho.

— Amor! Bruno me espere! – Olhei para o lado, procurando a voz que havia me chamado. E lá estava ela, linda e exuberante. Por um segundo, esqueci do que ela havia me chamado e prestei atenção somente em seu corpo, desfilando em minha direção. Jennifer estava num vestido vermelho, que contrastava perfeitamente com os seus cabelos ruivos e a boca, num batom vermelho chamativo. Realmente, as minhas irmãs são capazes de realizar qualquer coisa. Ela estava...

— Jennifer, você está linda!

— Obrigada amor! – Ela sorriu abertamente, enquanto os primeiros flashes brilhavam em nossa direção. Quando ia dizer algo, ela mudou totalmente sua expressão para algo que não conseguia nomear. Por um segundo, senti medo. — Quem é aquela mulher que estava falando com você?

— Como? – Sorri sem graça.

— Quem era aquela mulher falando com você? – Falou mais alto. Os flashes continuavam a ser disparados.

— Jennifer, minha querida. Podemos conversar lá dentro? Sorria para a câmera. – Voltei os meus olhos para frente e ela, percebendo que não a responderia, me obedeceu.

— Agora você vai me contar. O que você estava fazendo com aquela sonsa no tapete vermelho? – Cruzou os braços após sentamos em nossos lugares.

— Jennifer! – Sussurrei. — O que você está fazendo?

— Me explica, merda! – Gritou, chamando a atenção de alguns convidados em volta. “Que vergonha! Hoje não!”

— Jennifer, ela era apenas uma repórter. Você não notou a câmera ao seu lado e o microfone em suas mãos? – Sorri amistosamente, mas por dentro estava começando a ficar assustado com as atitudes dela.

— Ah bom, você sabe que eu não quero nenhuma vagabunda perto de você. Já não basta a Savanna! – Ela não diminuía o tom de voz e isso já estava começando a me irritar.

— Não coloque a Savanna nisso. – Respirei fundo, tentando resgatar a paciência que nunca tive. — Não banque a ciumenta, você é a minha convidada. E só.

— Ok! Ok! – Sorriu, mudando totalmente de expressão. — Você sabe o quanto gosto de você amor. – Me deu um selinho.

— Esse é o problema. – murmurei pra mim mesmo. “A noite ia ser longa.”

A noite seguiu com prêmios, performances e ótimos encontros. Cantei “Nothing On You” ao lado de B.o.B e Janelle Monáe, sendo assistido por alguns dos meus maiores ídolos. “Caramba!” Vi Sting balançando a cabeça e sorrindo em minha direção enquanto cantava. “Caramba!”. Além disso, ganhei o meu primeiro prêmio no Grammy como “Melhor Performance Vocal Pop Masculino” com “Just The Way You Are”. A noite estava sendo uma das melhores, senão a melhor da minha vida, até que chegamos à festa pós-premiação.

— Você me respeita! Eu vi você olhando para os seios daquela mulher! – Jennifer gritava. Estava conversando com a Rihanna e vocês imaginam o que aconteceu, não é?

— Calma minha jovem, estávamos falando sobre música. – Rihanna tentou descontrair em meio a mais uma situação constrangedora que Jennifer estava causando. E eu? Estático, assustado e principalmente, arrependido por ter convidado esta maluca para fazer parte da noite mais importante da minha carreira.

— Cala a boca sua vagabunda, não estou falando com você! – Gritou, partindo pra cima de Rihanna.

— Bruno, nós conversamos numa outra oportunidade. É melhor segurar a sua namorada. – Se aproximou e finalizou cochichando em meu ouvido. — Os “urubus” / fotógrafos estão de olho em vocês. Ansiosos para um escândalo musical na capa de suas revistas.

— Obrigado Rihanna! – Sorri totalmente sem graça.

— O que ela cochichou em seu ouvido? – Jennifer questionou e neste momento, já havia desistido de buscar a paciência que não existia em mim.

— Ryan! – Chamei.

— Oi cara! – Se aproximou, acompanhado do Phil. Este ultimo havia me avisado que não seria uma boa ideia trazê-la, mas o que o cabeça dura do Bruno fez? Não escutou.

— Peça ao Dre para levar o meu pai e a senhorita Jennifer para casa. E avise que se ele quiser seguir para casa, está liberado. Por favor!

— O que? – Jennifer gritou novamente. — Pensei que iríamos passar a noite juntos amor.

— Não passaremos Jennifer. – Estava falando o mais paciente possível, mas estava difícil. — Não planejava isso e depois desta noite, passar a noite comigo só ficará em seus planos mesmo.

— Você é um idiota! – Ela continuava gritando. Enquanto isso, os primeiros flashes chegavam mais perto do local onde estávamos.

— Ryan, por favor! – Ele me olha como se dissesse “Você só me mete em enrascada cara!”. — Depois, você pode voltar para a festa se quiser. – Pisquei.

— Ok! – Puxou gentilmente a mão da Jennifer, enquanto ela bufava para quem quisesse ouvir.

— O que foi Philip? – Até aquele momento, ele não havia falado uma palavra sobre. Mas a expressão dele dizia tudo. — Eu sei, eu sei. Você vai dizer...

— Eu te avisei, brother! – Ele completou. — Hoje, eu não vou te dar nenhum conselho e nem te dar um sermão. Você já é adulto e esta noite é para comemorar.

— Comemorar, esta é a palavra. – Rimos. — O que estamos esperando então? Vamos...

— Beber! – Gritamos juntos.

A partir deste momento, lembro-me apenas de beber ao lado dos caras e puxar algumas garotas para a área VIP da festa. O resto? Só Deus sabe o que aconteceu.

• • •

— Eu acho que é ele!

— Buno Mais? – Risos.

— É ele!

— Ei, ele está acordando!

— Opsi!

Abri meus olhos, totalmente confuso. Apenas ouvi timbres infantis, que mal conseguiam falar o meu nome.

Após me acostumar com a claridade em meu rosto, reconheci as paredes envelhecidas e aquele cheiro de mofo. Estava no Centro Comunitário de East Los Angeles. “O que eu estou fazendo aqui?”. Virei meu rosto para o outro lado e me deparei com três rostos curiosos. Foi inevitável não reconhecer um deles, havia conhecido através de uma foto mostrada pela Savanna. Infelizmente, não conseguia lembrar seu nome.

— Você é Buno Mais? – O rosto conhecido foi o primeiro a quebrar o silêncio. — Bom dia! – Sorriu abertamente. — Sou seu fã, cara!

— Bom dia! – Retribui seu sorriso. — Sim, eu sou o Bruno Mars. Prazer em conhecê-los! – Estendi minha mão, sendo gentilmente retribuído. — Qual é o nome de vocês?

— Milan!

— Alex!

— Josh, 5 anos. Prazer! – Ele estendeu a mão em minha direção novamente e foi inevitável não rir.

— Então, você é o famoso Josh?

— Não sou famoso Buno, mas sou o Josh! – Ri, acompanhado dos seus amigos. Ele era inibido, simpático e espontâneo. Nestes poucos minutos, compreendi um pouco do carinho que a Savanna tinha por ele.

— É famoso sim. Savanna falou muito bem de você! – Ele abriu um largo sorriso.

— Tia Nana me falou Buno! – Riu sem graça. — Ela disse que ia me mostrar pra você. Mas cheguei primeiro. – Rimos. — Eu gosto de música.

— É mesmo? Quais?

— Today I don't feel like doing anything... – Cantarolou um trecho de  “The Lazy Song” baixinho, enquanto os amigos acompanhavam com a cabeça. Por um momento, lembrei da minha infância e como, na idade dele, já cantava com a banda da minha família.

— Uau! Eu realmente tenho um fã. É um prazer conhecer você, vocês... – Me corrigi, acordando do meu devaneio. — Rapazes, vocês podem me dizer porquê ou como vim parar aqui? – Antes que eles respondessem, uma voz e feminina, grave e conhecida entrou pela porta.

— Sim, você veio para cá após a festa Peter! – Savanna entrou no dormitório com aquela expressão serena de sempre. Não esboçava raiva, nervosismo, nada do eu esperava. "Não me preocuparia com isso agora." — Meninos, o café já está na mesa e vocês estão atrasados para a aula de circo. O tio Iam está esperando vocês. – Piscou para eles, acompanhando-os com os olhos até estarmos sozinhos.

— Acho que pude chegar a esta conclusão sozinho, Savanna. – Sorri descontraidamente, enquanto ela me estendia um copo d’água e um remédio em minha direção.

— Primeiro, tome este analgésico, por favor! – Tomei, sendo observado com ela.

— Pronto! Agora me explique o que aconteceu.