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História Almas Trigêmeas - O Espelho tem duas faces (Parte 1)


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Mais uma aventura inédita. Divirtam-se!

Capítulo 26 - O Espelho tem duas faces (Parte 1)


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - O Espelho tem duas faces (Parte 1)

Anteriormente

– Então, quem é você? – perguntou Sam amarrado na cadeira

– Eis uma dica – o homem se sentou defronte ele – Eu estava na Alemanha, depois na Alemanha, depois no Oriente Médio... Estava em Darfur quando meu Pager apitou. E vou sair com os meus irmãos. Eu tenho três – enumerou nos dedos – Vamos nos divertir muito.

(...)

– E o que você viu que tem a ver com o caso?

– Eu vi vários Tormentos. Era uma espécie de demônios responsáveis por punições mais específicas pra cada tipo de pessoa que estava lá. Um desses Tormentos se chamava o Vingador dos Anjinhos.

(...)

– E o que vocês acham que está acontecendo? – tornou Collins

 

– Eu não tenho certeza, mas acho que... é outro Tormento – respondeu Dean


 

– Outro Tormento? – indagou Sam – Tem certeza?


 

– Era só um palpite, mas... não tinha certeza. Podia ser qualquer outra coisa que estivesse provocando essas alucinações nesse pessoal... só que pelo padrão... creio que seja um.


 

– Que tipo de Tormento?


 

– O Tormento dos Medos. Ele... chegou a me torturar algumas vezes quando eu estava no Inferno – sorriu amargo – Alguns o apelidaram de Freddy Krueger. Mas acho que o Freddy perto desse demônio seria só um garoto levado tentando assustar os outros – Dean sentiu um arrepio só de recordar mais uma vez esse período negro de sua “vida” – Essa coisa faz com que todos os seus piores medos sejam mostrados pra você de forma intensa. Tudo o que você nunca quis escutar, tudo o que você nunca quis enfrentar e outros medos que teve na vida. Multiplicados em um milhão. Você prefere qualquer sofrimento, até as piores dores físicas do que ver seus medos mais profundos expostos ali diante de você.

(...)

Um boletim urgente na TV captou a atenção de Sam e fê-lo desviar o olhar do irmão.

– Fomos informados de que a alta cúpula da Blackwell Blue Global se reuniu em uma reunião urgente ontem à noite para decidir os rumos da multinacional num dos seus principais setores: o imobiliário – anunciava um repórter – Segundo o presidente da empresa, Matt Spencer, chegou-se a uma solução favorável que impedirá a perda das filiais no ramo. Também não haverá demissão em massa dos milhares de funcionários. Como todos sabem, a BBG é uma das maiores empresas do mundo que tem sofrido sucessivos golpes da crise que abateu o país e o mundo todo. Mais notícias ainda hoje no Jornal CNN.


 

Sam não sabia dizer, mas algo naquela notícia o fez se lembrar de alguma coisa. Um detalhe importante. Mas o quê?

(...)

– É agora – disse ao olhá-la com carinho. Ela o olhava com tristeza. – A gente se vê do outro lado. Provavelmente mais cedo do que tarde.

– Que seja mais tarde.

O loiro colocou o dispositivo que acionava a bomba na mão esquerda de Jo e apertou-a forte. Ele queria encontrar as palavras certas para dizer a ela, mas não conseguiu. Ao invés disso, pegou em seu rosto, beijou o alto de sua cabeça e fechou os olhos para prolongar o momento. A moça estremeceu por aquele simples contato. Dean a beijou levemente nos lábios e encostou sua testa na dela.

Victoria observou aquele momento entre os dois, mas não se incomodou. Pelo contrário, comoveu-se por ver muita sensibilidade e gentileza em Dean naquela demonstração de carinho.

– Certo – disse o loiro e afastou-se com certa dor no coração

(...)

– Mesmo assim, não quero me arriscar. Infelizmente, será melhor pra mim e pro Sam que ele não saiba de nada.

– Você é quem sabe. Só que você se engana, minha filha, o Sam é um cara muito esperto e observador. Pode não ser explosivo como o Dean, mas ele também não é do tipo que deixa as coisas sem se resolverem. Ele vai começar a fazer perguntas e se você não as responder, de um jeito ou de outro ele vai descobrir. E não pense que isso não vai magoá-lo. Eu o conheço suficiente pra dizer que mentiras e segredos doem muito nele tanto quanto em Dean.

Victoria não soube responder, porém, ela sabia que Bobby tinha razão.

 

Capítulo 24

O Espelho tem duas faces (1ª parte)

 

Victoria estava preocupada com Dean. Bastante preocupada.




 

É verdade que o caçador estava agindo como o costumeiro arrogante e descarado que era. Porém, ele não a enganava; estava deprimido. E ela sabia bem o porquê.




 

Fazia menos de dez dias que Ellen e Jo estavam mortas e aquilo continuava afetando-os. Ela ainda estava chocada e Sam também. Mesmo assim, eles conversavam sobre aquilo e consolavam-se mutuamente. Isso tornava a perda algo mais suportável.




 

Todavia, Dean não comentava muito sobre o assunto. Ele soltava suas piadas picantes e de humor negro, mas tanto ela quanto Sam podiam notar a dor que ele queria ocultar. E a culpa. Culpa pelo sacrifício das Harvelles.




 

“Ele costuma agir dessa forma quando algo o abala”, comentou Sam quando a namorada externou sua preocupação. “Finge que está tudo bem. Foi assim também quando papai morreu e quando fez o pacto que o levou ao inferno.”

Todavia, Collins não podia mais ficar calada. Dean era alguém com quem se importava muito. Era doloroso vê-lo beber ou metido com as vadias que o cercavam. Não que isso fosse algo anormal para o “Grande Batman”. No entanto, era o sentimento que o impelia: afogar as mágoas. Victoria sabia que aquilo era só um entorpecente que não servia para preencher o vazio no buraco do Winchester.

O que ele precisava era de conforto, uma boa conversa. Ele tinha que desabafar com alguém, quer quisesse ou não.

 

A caçadora aproveitou que Sam ainda estava dormindo e, decidida, arrumou-se, saiu do quarto e foi bater no quarto do outro lado do corredor do motel em que estavam. Rezava para que quem abrisse a porta não fosse nenhuma vagabunda.

 

Lembrava-se bem do dia em que precisou chamá-lo bem cedo para partirem e foi uma loira oxigenada que atendeu. Ela sentiu vontade de esganar a talzinha, mas se conteve e apenas se limitou a perguntar pelo loiro.


 

Vic bateu várias vezes na porta. Nada. Já estava começando a achar que Dean havia pernoitado em outro lugar e preparava-se para ir embora quando, por fim, alguém abriu a porta. Era “seu Loirão” em pessoa. O rosto estava todo amassado com expressão de quem havia acabado de acordar. E estava da cintura para baixo enrolado num lençol e o peito exposto com aquela tatuagem de possessão do lado esquerdo. Igual a de Sam.

 

Collins teria rido da cara de sono do Dean, mas a quase nudez do homem fez a temperatura corporal de suas células se elevarem. E fê-la também perder a fala momentaneamente.

 

– Oi? – foi o cumprimento mal-humorado do homem.

 

– Er... bom dia, Dean – Vic procurou focar no rosto dele e não em sua anatomia. Sorriu. – Você... está sozinho?

 

O moço olhou para trás como quem procura algo e depois voltou a olhar a caçadora.

 

– Parece, né? – disse – A não ser se tiver algum fantasma por aqui.

 

Ótimo. Sarcasmo era sinal de que o Winchester estava normal.

 

– Será que... podíamos conversar?

 

– Ahm... Claro. Entre.

 

Victoria passou pela porta. Um perfume barato entrou por suas narinas. Que maravilha! Dean Winchester cheirando a vagabundas. Não que isso fosse de sua conta...

 

– Bem, se você não se importar, eu vou...colocar umas roupas. A não ser que você queira admirar minha beleza escultural ao vivo e a cores – retrucou com um sorriso sacana.

 

Collins já estava acostumada com aquele tipo de piada do Winchester. Contudo, naquela situação, ficou meio intimidada. Mesmo assim, não demonstraria seu desconforto.


 

– Acredite, Dean, não tenho a menor curiosidade em ver o que você esconde debaixo de suas roupas. Eu já vejo todo o dia com o Sam.

 

– Hum, pode até ser. Admito que Sam possa ter mais quantidade, mas... qualidade só comigo – piscou

 

Ela revirou os olhos.

 

– Anda logo, Dean.

 

Ele riu.

 

– OK, senta aí que já volto.

 

E entrou no banheiro após pegar as roupas espalhadas no quarto. O loiro parecia melhor àquela hora da manhã; provavelmente a noitada com “seja lá quem” foi bem proveitosa. Mesmo assim, Vic queria ter certeza.

 

Dean não demorou muito para se trocar e logo saiu do mictório. Collins o esperava sentada numa cadeira.

– Estou curioso. – confessou – O que fez minha cunhadinha acordar tão cedo pra vir conversar comigo?

 

E sentou-se diante dela na beira da cama com o corpo encurvado para frente e as mãos entrelaçadas. Os olhos do moço a fitaram profundamente. Vic se sentiu nua pela maneira com a qual ele a encarava. O silêncio entre eles era sufocante.


 

Por que ela tinha que se sentir tão intimidada por ele nas poucas vezes em que ficavam sozinhos? Ah, sim, era porque uma parte dela era louca para pular nos braços do Winchester.



 

Como se quisesse espantar os pensamentos lascivos, Victoria balançou a cabeça. Aquilo intrigou o caçador e fê-lo esboçar um sorriso malicioso como se entendesse o que se passava na cabeça da mulher.



 

– Algo a perturba, Vic? – ele a provocou




 

–N... não, quer dizer, na verdade... sim – ela aproveitou a deixa para iniciar o assunto que a trouxe ali. – Estou preocupada com você.




 

– Comigo? – ele franziu a testa – Por quê?




 

– Dean... sei que você ainda está abalado com o que aconteceu coma Ellen e com a Jo.




 

Ele nada disse. Apenas engoliu em seco. Vic continuou:




 

– Olha... por mais que você disfarce, eu... sinto que isso está te afetando por dentro. Eu também estou triste... e me sinto mal pelo o que aconteceu. Me sinto culpada, uma inútil... por não ter feito nada que evitasse a morte delas.




 

O loiro continuava calado.




 

– Mas eu converso isso com o Sam e... ele também me fala como se sente a respeito. Só que você Dean... você...




 

– Eu o quê? – ele se manifestou por fim




 

– Você não fala nada e... isso não é bom. Por favor, me diga como se sente – ela criou coragem e inclinou-se mais para ele – Pode confiar em mim. Não tenha vergonha de me dizer nada.




 

Por um breve momento, ela achou que o loiro fosse desabafar quando viu uma leve hesitação em seu olhar. No entanto, ele mostrou um sorriso zombeteiro e levantou-se.




 

– Qualé, Vic, eu estou bem, não se preocupe. – afirmou – É claro que eu não vou fazer nenhuma festa pelo que aconteceu, mas... a vida continua.




 

– Dean, olha... – Collins também se levantou




 

– Não estou me fazendo de forte se é isso o que você tá achando – ele a interrompeu – Eu apenas não tenho mesmo nada a dizer. Só estou meio sem ideias pra fazer piadas ultimamente.




 

O sorriso dele ainda estava no rosto, mas não a enganava. Ela suspirou. Sabia que do jeito dele, estava querendo encerrar o assunto. Pretendia forçá-lo a desabafar, mas percebeu que seria inútil.




 

– Está bem, Dean. Se você quer assim...




 

– Relaxe, Vic. Olha, é melhor você ir antes que o Sam dê por sua falta. E se ele pegar você aqui no meu quarto... vai ser difícil convencê-lo a não pensar no que ele certamente vai pensar.




 

– Cala a boca, Dean. – ela estreitou os olhos




 

E para a surpresa dele, Vic se aproximou e o abraçou. Ela queria confortá-lo de alguma forma. E já que ele se recusava a dizer algo, aquela era a melhor maneira para que soubesse que não estava sozinho.




 

Todavia, percebeu tarde demais que foi um erro. Não estava preparada para as sensações que percorreram seu corpo. O choque elétrico que sentiu naquele simples aperto com o Winchester. Tudo bem que já o havia abraçado umas duas ou três vezes e sempre tinha aquela sensação, entretanto, nunca havia sido longe das vistas de Sam e tampouco intenso como daquela forma.




 

E nem estava preparada para a reação dele. O que começou com um abraço solidário estava se tornando uma carícia sensual para ambos. As mãos do Winchester percorreram a extensão de suas costas de um modo nada inocente. O rosto dele se embrenhou pelo cabelo dela, sentindo sua maciez e o cheiro. Collins também deslizou as mãos pelo pescoço dele até suas costas. Pôde sentir a respiração dele se acelerar num arquejo em seu pescoço. E um volume se acentuou na calça dele encostado na virilha dela.





 

A mente de Vic mandava que ela se afastasse dali o quanto antes e voltasse para Sam, entretanto, seu corpo não lhe obedecia. Quando deu por si, Dean havia afastado um pouco seus corpos somente para pegar em seu rosto. Ele mirava alternadamente seus olhos e sua boca. Vic parecia hipnotizada. E tremia.





 

O Winchester estava prestes a beijá-la quando o celular de Collins vibrou no bolso da calça. Foi como se ela acordasse de um transe.





 

Afastou-se imediatamente de Dean, dando-lhe as costas e atendeu o aparelho.





 

– Sam? – ela respondeu – Eu... vim dar uma volta pelo motel. Estou... retornando.




 

Desligou o celular. Olhou para Dean sem coragem de o encarar por muito tempo.




 

– Era o Sam. Estava... preocupado por acordar e não me achar no quarto.




 

– É, eu... não te disse? Se ele te pega aqui comigo, ia pensar coisas – o loiro tentou fazer piada, mas sua expressão ficou séria de repente




 

– É, mas... ele nunca pensaria nada disso – Vic sorriu meio sem jeito – Ele sabe que a gente... a gente jamais faria qualquer coisa pra magoá-lo.




 

Ela o encarou séria também.




 

– É claro – concordou Dean com sorriso forçado.




 

– Bem, é... é melhor eu ir.




 

O moço assentiu. Abriu a porta para ela. Victoria saiu ainda sem o encarar. O coração batia a mil.




 

– Vic? – ele a chamou mal ela passou pelo umbral.




 

– Sim? – ela se voltou com o coração ainda acelerado




 

– Valeu. – foi tudo o que conseguiu dizer.




 

Ela sorriu e nada disse. Apenas se virou e caminhou em direção ao quarto que dividia com Sam.




 

Dean fechou a porta e esticou os dois braços nela com a cabeça para baixo. Fechou os olhos para absorver o que acabara de acontecer. O que foi aquilo?

– 0 –

Estavam sentados na mesa de uma cafeteira analisando vários jornais com notícias sobre acontecimentos bizarros. Victoria e Dean não conseguiam se olhar de frente devido ao sucedido de uma hora atrás. Mal trocavam palavras entre si. Sam, que não era bobo, não pôde deixar de notar.



 

– Vocês estão com algum problema? – indagou.




 

– Não. – os dois responderam rápido demais. E voltaram ao seu mutismo.




 

O moço deu de ombros e resolveu não se preocupar. Talvez fosse impressão sua.




 

– Muito bem. Então... nossa próxima parada vai ser em Chicago – anunciou Dean marcando uma notícia no jornal.




 

– Chicago? – Vic ficou um pouco apreensiva.




 

– É. Por quê? Algum problema? – o loiro notou o desconforto da caçadora




 

– Não, nenhum – desconversou – O que tem em Chicago que merece nossa atenção?




 

– Vejam aqui por si mesmos – apontou uma pequena notícia num canto de uma página do periódico.




 

Relatava uma série de suicídios em massa ocorridos num período desde mais ou menos seis meses.




 

– Isso não está me cheirando bem – comentou Sam.




 

– Pois então tome um banho, Sammy – retrucou Dean.




 

– Há-há. – Sam rolou os olhos e fingiu achar graça.




 

– O que acha que pode ser? – questionou Victoria – Acha que já é o Cavaleiro Morte atuando?




 

– Não, é pouco provável por causa do período de tempo. Talvez possa ser um Tormento. Não se esqueça que eles deixam uma trilha de morte atrás de si. O último que a gente encontrou provocava uma série de surtos nas pessoas.




 

– Está certo. Vamos pra lá. – resolveu Sam




 

– Concorda, Vic? – inquiriu Dean com os olhos perscrutadores. Ele percebeu que a caçadora não parecia muito feliz em ir até a cidade.




 

– Claro. Por que eu não concordaria? – ela manteve o olhar firme sem deixar transparecer sua perturbação.

– 0 –

– Olha, minha mãe não comentou nada sobre um plano de seguros, mas... entrem, por favor – disse uma moça que recepcionou os caçadores.



 

Ela esperou que eles entrassem e fechou a porta. Passou à frente deles que a seguiram até a sala. Dean trocou olhares com seus companheiros e fez um bico de aprovação às curvas da moça. Victoria revirou os olhos.




 

A mulher era alta, esguia, magra, cabelos longos e ruivos, pele clara, sardenta e olhos azuis.




 

Eles se apresentaram como agentes de seguro para ter acesso àquela residência, onde morou uma das incontáveis vítimas do caso que investigavam.




 

– Sentem-se, por favor – ela pediu – Aceitam um café, água ou suco?




 

– Não, obrigado. – recusou Sam – Não vamos tomar muito o seu tempo, senhorita...?




 

– Banks. Margareth Banks. – completou a moça ao se sentar num sofá diante deles. Cruzou as pernas. Dean sorriu satisfeito em poder apreciá-las. – Só não entendo o motivo de investigarem as circunstâncias da morte de minha mãe agora, já que ocorreu há dois meses e meio. E como ela se suicidou, não tem como eu receber algum seguro.




 

– É que temos que ter certeza se foi mesmo suicídio. E se não aparecemos antes foi... devido a algumas questões mais burocráticas.




 

– Certo. E o que exatamente vocês querem saber a respeito da minha mãe?




 

– A sua mãe... Linda Banks... ela tinha algum comportamento do tipo depressivo?




 

– Na verdade não... mas houve um fato que a fez ficar num estado de depressão profunda há algum tempo.




 

– O quê?




 

– O divórcio com meu pai. – retrucou num tom amargo – Ele a trocou por uma mulher com menos da metade da idade dela.




 

– E há quanto tempo foi isso?




 

– Isso foi há cerca de um ano e meio. Minha mãe se sentiu um lixo quando meu pai saiu de casa... Ela não tinha ânimo pra mais nada... até que a aconselhei a procurar ajuda.




 

– Ajuda de que tipo?




 

– Um psicólogo. Alguém que a pudesse ouvir e... ajudá-la a recuperar a autoestima.




 

– Ou seja... Um daqueles caras de caderninho que anotam tudo o que te aconteceu desde que você andava de fraldas – comentou Dean com sorriso sarcástico.




 

– É... Basicamente isso – ela voltou sua atenção para o loiro. Não pôde deixar de esboçar um sorriso para ele.




 

Vic e Sam se entreolharam e balançaram as cabeças.





 

– OK. E fora isso... Notou alguma coisa de anormal em sua mãe? – Sam retomou a palavra





 

– Anormal de que tipo?




 

– Bem...er...




 

– Do tipo bizarro mesmo – interpelou Dean – Algo como possessão de espírito, fantasmas, coisas do tipo.




 

– É séria essa pergunta? – ela questionou desconfiada.




 

– Acredite... é por isso que a nossa companhia é bastante procurada. Ela se detém até sobre esses... detalhes. Consideramos até se um gato preto cruzar seu caminho – o loiro tornou com uma piscada




 

– Ahm, certo. – ela estranhou, mas se convenceu – Olha, não diria que fosse algo estranho desse tipo, mas... ela começou a falar coisas sem nexo... a distorcer fatos.




 

– Como assim?




 

– Ela começou a jogar na minha cara coisas que aprontei quando eu era... uma adolescente. – sorriu sem humor - Disse que eu era um dos motivos da vida dela ter sido uma droga.




 

– Entendo. E logo depois ela se matou?




 

– Sim – a moça falou num sussurro. Queria se manter firme, mas não conseguiu disfarçar sua dor.




 

Como o silêncio prevalecesse, Sam tornou a perguntar.




 

– Algo mais relevante?




 

– Não.





 

– Muito bem, senhorita Banks, obrigado por sua atenção – os três se levantaram, mas Sam se adiantou em lhe entregar um cartão – Se a senhorita se lembrar de mais alguma coisa, pode nos chamar neste número.






 

– Pode me chamar neste número também... pra qualquer outra coisa – disse o loiro e deu uma piscadela.





 

Sam virou o rosto de lado aturdido com a falta de profissionalismo de Dean. Bem, vindo do irmão ao se tratar de rabos-de-saia, não era de se estranhar e nem era a primeira vez. Quanto a Victoria, ela trincou os dentes. Teve vontade de esganar o safado.




 

– Tudo bem – respondeu Margareth para os três, mas seu olhar malicioso se detinha sobre Dean – Eu ligo se lembrar de algo. Ou... pra qualquer outra coisa.




 

Ela piscou de volta para o loiro que alargou o sorriso. Collins achou-a uma oferecida.




 

– Vamos embora de uma vez – disse entre dentes numa voz audível só para seu colega. Forçou um sorriso para a dona da casa – Com sua licença, senhorita Banks.




 

– Eu os acompanho. – disse ela e passou a frente deles para abrir a porta




 

Vic puxou Dean discretamente pela manga do paletó até a saída. O loiro não fez objeção e deixou-se conduzir, mas soltou um suspiro. Com certeza, ouviria. Quanto a Sam, limitou-se a segui-los.





 

Margareth se despediu com um sorriso bem grande, especialmente para Dean. Assim que se viram do lado de fora, num ponto afastado, Victoria se voltou possessa para o Winchester:





 

– Escute aqui, Dean, se quer arranjar alguns traseiros por aí a fim de se divertir, fique à vontade! Mas nos faça o favor, pare de atrapalhar nosso trabalho!




 

– Desculpe, gente, relaxem... Só estava querendo juntar o útil com o agradável.




 

– Ah, isso deu pra perceber direitinho! E numa dessas, Sam e eu nos ferramos igual da vez em que você encontrou aquela maldita trickster! Preste atenção no que faz, Winchester!




 

– Calma, Vic! – interveio Sam




 

– Calma? Como posso ter calma com as atitudes inconsequentes do seu irmão?




 

– Vem cá, você tá com algum problema comigo? – tornou Dean cruzando os braços numa expressão de pouco caso




 

– Não, nenhum problema – desdenhou Vic também ao cruzar os seus - Eu só acho que você devia pensar mais com a cabeça de cima. Se você se lembra, estamos investigando um caso no qual existe a possibilidade de estar um Tormento envolvido. E ele pode ser qualquer pessoa. Talvez possa ser até essa...essa mulher.




 

– Não seja por isso. Eu faço o teste. Volto lá, toco a campainha e digo algo do tipo “Cristo! Esqueci minha carteira”. Se ela se contorcer de raiva e blasfemar, taco água benta.




 

– Olha, Dean... – Victoria bufou – É sério. Não estou com a menor paciência pra suas piadinhas.




 

– É disso que estou falando. Você tá com algum problema comigo?




 

– Eu já disse que não.




 

– Sei... Não tem nada a ver com o lance de hoje?




 

Vic abriu a boca surpresa por ele mencionar aquilo na frente de Sam. Dean podia ser impulsivo às vezes, mas não era burro e muito menos era do tipo que falava de seus sentimentos. Ela não conseguiu dizer nada em resposta.




 

– Espera aí. Do que vocês estão falando? – Sam se aproximou - Que lance é esse?




 

– Nada. – os dois responderam rapidamente de novo ao mesmo tempo – É que notei que sua namorada ficou meio incomodada pelo fato da gente vir aqui pra Chicago. – Dean acrescentou ao ver a expressão nada convencida do irmão




 

Collins ficou paralisada. Ele havia percebido? A uma indagação muda de Sam, ela respondeu;




 

– Não dê ideia, Sam. Seu irmão está imaginado coisas!




 

– Se você diz... – o loiro deu de ombros – Quer saber? Em vez da gente ficar aqui discutindo por bobagem, que tal procurar as famílias das outras vítimas?




 

– Falou a primeira coisa inteligente hoje – retrucou Victoria. – Mas vamos nos separar. Sam e eu vamos investigar juntos algumas casas e você vai em outras.




 

Ela estava com raiva de Dean mencionar coisas que certamente Sam não deixaria passar. Queria distância do loiro.




 

– Tá, Victoria, vai ser do jeito que você quiser. Parece que ultimamente tem sido assim – concordou de má vontade.




 

Os dois o olharam estranhados. Dean parecia meio emburrado com alguma coisa. Victoria não sabia se era pelo acontecido daquela manhã.




 

– Vai. Me passem aí alguns endereços – pediu ele.

– 0 –

Afinal, por que ele disse tudo aquilo?


 

Era a pergunta que Dean se fazia enquanto repousava a cabeça num encosto de um banco de uma praça da cidade. Os olhos estavam fechados e os braços e as pernas largados de qualquer jeito.



 

Havia percorrido várias casas de algumas das vítimas que se suicidaram por aqueles dias e aparentemente não havia nenhuma ligação entre elas.




 

Ele estava exausto! E também com um aperto no peito, uma angústia, uma sensação de sufoco. Talvez fosse por isso que sem querer soltou de forma imprudente aquelas insinuações contra Victoria de modo que o irmão pudesse ouvir.




 

Sim, era verdade que a morte de Ellen e Jo estavam pesando em sua consciência, entretanto, jamais admitiria para ninguém. Nem mesmo para Sam. Ou para a Victoria. Ele era o mais velho do grupo, o mais forte; não podia admitir fraqueza. Não era de sua natureza.




 

Entretanto, às vezes invejava Sam por não ter medo de confessar suas aflições e angústias, principalmente agora que tinha alguém para desabafar, alguém mais acessível que ele, seu irmão mais velho.




 

Lembrava-se ainda do calor de Vic, da sensação eletrizante do abraço que tiveram no quarto. Ainda podia sentir a maciez da pele dela, o que já havia comprovado na ocasião em que amanheceu no corpo de Sam com ela em seus braços.




 

Maldita hora que foi se apaixonar por Victoria Collins!




 

– Senhor? – uma voz jovial o arrancou de seus pensamentos.




 

Ele abriu os olhos, endireitou o corpo e olhou à sua esquerda onde estava um rapaz. Era um panfleteiro que lhe estendia um anúncio.




 

– O que é isso? – indagou ao jovem - Não me diga que é alguma cartomante que diz poder ler o futuro?




 

– Não, ontem eu distribui os panfletos da Madame Diva – replicou o rapaz – Mas hoje estou trabalhando pra Doutora Brenda Donovan.




 

– Doutora Brenda Donovan? Doutora de quê?




 

– Ela é uma psicanalista que começou a clinicar há um bom tempo por aqui. Seus clientes dizem que é muito boa.




 

–Me deixe ver – ele pegou o papel apenas para satisfazer o garoto.



 

Leu a propaganda em letras garrafais:



 

Você está se sentindo infeliz? Acha que perdeu o rumo na vida? Sente necessidade de desabafar suas angústias, mas não tem coragem de falar com as pessoas ao seu redor?


 

SEUS PROBLEMAS ACABARAM!

Venha fazer uma consulta com a Doutora Brenda Donovan! Ela garante que pode resolver seus problemas. Não perca esta oportunidade! A primeira consulta é grátis!


 

– Tem certeza mesmo de que ela não é nenhuma vidente? – insistiu o loiro - Porque se você trocar algumas palavras aqui e lá, é o mesmo que você lê algo como:”Trago seu amor acorrentado em três dias.”




 

– Não, senhor, ela é mesmo uma doutora. Pode ir lá e ver!




 

– Humpf, tá bom... – fez cara de descrença – De qualquer jeito, valeu, guri.




 

O rapaz deu de ombros e afastou-se para entregar mais panfletos. Dean se levantou resolvido a checar mais casas. Pensou em jogar aquele papel em uma lixeira, entretanto, por um motivo que não soube explicar, não conseguiu. Mordeu os lábios com ansiedade.




 

Cara, aquilo era ridículo! Não era possível que sua mente estava considerando a menor possibilidade de ir numa total estranha e falar de seus problemas! Tá bom! Se começasse a falar que caçava coisas sobrenaturais, a mulher iria mandar chamar um psiquiatra para interná-lo.




 

Jogou o papel e virou-se. Todavia, uma inquietação tomou conta de si. Mas que droga! O que era aquilo? Não tinha tempo para besteiras! Estava investigando um possível caso de um Tormento e pessoas à sua volta precisavam ser salvas.




 

O loiro suspirou alto, deu meia-volta e pegou o papel amassado de volta.

– 0 –

Sam e Victoria estavam num apartamento de uma área nobre de Chicago. Um senhor, cuja esposa havia se matado há cinco dias, chorava igual uma criança e relatava a forma como a mulher morreu.



 

– Meu Deus! Nunca pensei que... que Marion fosse fazer... algo assim... Se enforcar. Ela e eu estávamos tão bem nos últimos dois anos... E daí ela começou a surtar.




 

– Calma, meu senhor, calma. – pediu Sam – Já estamos acabando o procedimento. Pode nos explicar que tipo de surto ela teve?




 

– Ela disse que... nunca ia me perdoar por tê-la traído há uns cinco anos atrás – o homem limpou uma lágrima no rosto com o dedo – E nem por ter esquecido do nosso aniversário de casamento há três anos.




 

– Mais alguma coisa?




 

– Sim, ela não queira mais ver a mãe dela. Disse... disse que não podia perdoar uma mulher que lhe surrou a vida toda quando ela era apenas uma criança.




 

Enquanto o dono da casa relatava outros pormenores, Vic andava pelo lugar de modo casual a fim de descobrir qualquer indício anormal. Não notou nada incomum; tudo estava bem organizado na casa. Deslizava a mão por uma estante quando, sem querer, derrubou um pequeno papel no chão. Abaixou-se para pegá-lo e viu que era um cartão com o nome de uma tal de Doutora Brenda Donovan e o endereço de sua clínica. Não viu nada demais e colocou o cartão no lugar em que estava.




 

Como o homem não lhes dissesse mais nada de relevante, eles agradeceram e foram embora.




 

– Bem... o que descobrimos até agora? – questionou Vic enquanto andavam por uma avenida. O carro dela estava num estacionamento a algumas quadras dali.




 

– Pelo que eu pude perceber, todas as vítimas antes de se matarem, parece que... jogaram na cara das pessoas com que moravam coisas do passado que as magoaram.




 

– Sim, é verdade. E se você se lembra, pelo o que o Dean disse e o que vimos desses Tormentos, é isso que eles fazem. Extraem tudo de ruim que possuímos no interior. – fez expressão de quem se recorda de algo desagradável – Aquele... Vingador dos Anjinhos com as mulheres que abortaram...




 

– O tal Freddy Gruguer dos Infernos...




 

– E esse... esse parece que faz com que as mágoas das pessoas vêm à tona.




 

– Vamos pegar o carro e esperar pelo Dean. Ele deve se lembrar de ter visto um Tormento assim lá no inferno.




 

Collins assentiu.




 

Estavam quase entrando no estacionamento quando alguém, vindo na direção contrária, esbarrou em Sam. Era um homem alto, cabelos castanho claro num corte bem raspado, de terno bege, óculos escuros, que falava no celular.




 

– Olhe por onde anda! – esbravejou o sujeito parando de falar no telefone




 

– Desculpe – disse Sam – Mas você que não estava olhando!




 

O indivíduo ia retrucar, contudo, calou-se ao ver quem estava com o Winchester. Victoria ficou apreensiva por reconhecer o moço.




 

– Senhorita Collins! Me desculpe, eu... não a tinha percebido. – voltou a falar no celular – Depois eu ligo pra você – desligou o aparelho, ignorou Sam e aproximou-se de Victoria apertando sua mão. – A senhorita chegou agora?




 

– Er, bem... É. Como vai, Taylor? – ela não teve remédio a não ser cumprimentar o moço. Sam observava a cena intrigado.




 

– Veio para conferir a contabilidade da empresa?




 

– Não, eu... estou apenas a passeio com meu... meu namorado... Sam Winchester – ela teve que apresentar os dois – Este é... Robert Taylor.




 

– Robert Taylor? – indagou Sam ao apertar a mão do outro.




 

– Sim, diretor-superintendente da filial da Blackwell Blue Global aqui em Chicago. – retrucou com ar altivo e sorriso orgulhoso. – Me desculpe pelo o de agora há pouco. É que nós grandes empresários estamos sempre estressados. – acrescentou num tom mais humilde ao se lembrar que o outro era namorado de Collins.




 

– Tudo bem. – Sam esboçou um sorriso forçado




 

– Er... se nos der licença, Taylor, estamos com pressa – Vic queria sair dali o mais rápido possível




 

– Mas, senhorita Collins, não vai dar nem uma passada na empresa? – ele parecia desapontado como se Victoria fosse uma grande celebridade – Não veio mesmo a trabalho?




 

– Não... e obrigada pelo convite. – ela sorriu sem graça. Sam observava muito intrigado a sua postura.




 

– Convite? – Taylor a encarou como se ela tivesse dito algo sem sentido.




 

– Sim. Mas temos que ir. Certo, Sam? – sem esperar resposta, puxou o namorado pelo braço.




 

–Ahm... Certo – ele se deixou conduzir, embora meio confuso olhando para ela e depois deu uma espiada para trás. O tal de Taylor ainda estava lá os observando com expressão também confusa.

– 0 –

Dean aguardava no saguão de um elegante edifício o elevador. Iria consultar a tal Dra. Brenda Donovan. Claro que não era para si! Aquilo só fazia parte da investigação do caso. Seria bom ter a opinião de uma profissional sobre os motivos que levavam alguém a se suicidar.




 

OK, ele sabia que o real motivo por trás de tudo poderia ser um Tormento, contudo, se eles traziam à tona os sentimentos ruins mais arraigados, ele deveria entender quais poderiam ser.



 

Isso. Não tinha nada a ver com aquela angústia que o atormentava há dias por causa da morte das Harvelles e que parecia mais intenso desde que chegara ali em Chicago. Não. Nada a ver.




 

Ainda bem que estava sozinho; Vic e Sam não precisariam saber daquela sua... entrevista particular. Não. Eles não entenderiam e chegariam à conclusão errada.




 

Uma bela mulher de cabelos longos, pretos e lisos se postou ao lado do Winchester. Ele não perdeu tempo em avaliar “o material”. PerfeitaGostosa. Aguardava o telefonema de Margareth Banks, entretanto, não significava que ia dispensar a linda morena ao seu lado.




 

– Eles sempre demoram quando a gente mais precisa, não? – começou a puxar assunto com a mulher. Ela o encarou com os belos olhos azuis que tinha. Ele esboçou o sorriso mais cretino que possuía – Podiam até colocar um sofá aqui pra a gente dormir.





 

– Bem, tem ali – disse a mulher apontando um de frente para o balcão do porteiro. – O que o impede?






 

– Uh, essa doeu! – ele fez um bico tão engraçado que a mulher riu.






 

– Não, essa não foi a minha intenção – disse ela – Quis apenas lhe ser útil.





 

– Bom... se você quiser ser útil de outra forma – olhou-a malicioso de cima a baixo com o sorriso cretino. A mulher arqueou uma sobrancelha. – Conhece essa tal de Doutora Brenda Donovan?




 

– Hum... Conheço sim. Ela é muito boa.




 

– Mesmo? Então... – ele interrompeu a fala quando o elevador chegou e abriu as portas. O loiro segurou para que a moça entrasse e curvou o braço para dentro do num estilo convidativo. – Você primeiro.




 

A mulher balançou a cabeça e riu.




 

– Obrigada – disse ao entrar.




 

– Disponha – ele também entrou e ficou ao seu lado quase colado a ela. Continuava com o sorriso safado. As portas se fecharam. – Que andar?




 

– O doze. O mesmo que o seu.




 

– Oh, é mesmo? – ele ficou satisfeito – Que coincidência!




 

– É, não? – ela sorriu



 

– Ou talvez seja o destino. – insinuou. A mulher apenas se limitou a sorrir. O loiro apertou o botão e o elevador subiu. Ele retomou a conversa - Você me disse que essa doutora é muito boa.



 

– Aham.




 

– Eu imagino que deva ser uma dessas mulheres solteironas, de óculos e que parecem uma tia da gente. – ele fez graça e surtiu o efeito. A mulher riu.




 

– Bem, não sei se eu a definiria assim... mas acho que pode ser.





 

– Já consultou com ela?






 

– Não exatamente, mas... posso garantir que você não vai se arrepender se fizer uma sessão. Ela irá resolver seu problema.





 

– Ah... bom... na verdade, não estou aqui pra consultá-la por um problema particular – ele sorriu meio embaraçado.




 

– Não?




 

– É, eu... estou apenas investigando um caso e preciso da opinião profissional dela.




 

– É mesmo? – ela pareceu impressionada – Que interessante! Você é detetive?




 

– Algo assim. – ele fez sua costumeira postura de gostoso. – Escuta... se não tiver nenhum compromisso depois... gostaria de sair?




 

O elevador parou no décimo segundo andar e abriu as portas antes que ela desse a resposta.




 

– Damas primeiro – tornou ele novamente segurando as portas. Ela saiu e aguardou-o. Ele se aproximou dela a olhando bem de frente – E então? O que você acha?




 

– Ahm – ela coçou o queixo pensativa – Acho melhor não. Vou estar muito ocupada.




 

– Ah, entendo – ele ficou desapontado, mas não demonstrou – É uma pena.




 

– É, é uma pena. – ela também fez expressão de quem se lamentava – Bem, venha comigo. Vamos para o consultório.




 

– Eu adoraria curtir mais da sua companhia... mas não quero atrapalhar.




 

– Não, eu vou para o consultório. Eu trabalho lá.




 

– Ah, você é a recepcionista dela?




 

– Não. Sou a doutora Brenda Donovan – ela sorriu e estendeu a mão com ar zombeteiro. – Prazer.





 

Dean fez uma cara de quem se deu conta de ter cometido uma gafe muito grande. Havia chamado a mulher de “tia solteirona” na cara dela.





 

– Prazer – olhou-a com jeito de quem se desculpa enquanto a cumprimentava.




 

– Vamos? – ela soltou a mão ainda com ar de troça.




 

É, vamos lá – assumiu sua postura confiante e caminhou ao seu lado.




 

Entraram num grande consultório com paredes brancas e porta de vidro. Na recepção, havia uma moça loira de olhos verdes, muito bonita e encorpada.




 

– Boa tarde, Julia. – Brenda cumprimentou sua recepcionista




 

– Boa tarde, doutora! – respondeu a jovem com um sorriso que se alargou ao contemplar o homem lindo que seguia a psicanalista. – Boa tarde!




 

– Boa tarde! – cumprimentou Dean com satisfação por ver o efeito que causava




 

– Alguém me procurou enquanto eu ainda estava fora?




 

– Não, doutora. Cheguei há meia hora do almoço e não apareceu ninguém. Nem telefonaram.




 

– Ótimo. Eu vou atender a esse... cliente novo – mostrou o Winchester – Não quero nenhuma interrupção.




 

– Sim – a moça continuava a olhar sem pudor para o loiro




 

– Então... vamos? – ela indagou com sorriso divertido para o caçador




 

– Sou todo seu, doutora – respondeu com seu costumeiro sorriso torto.

– 0 -

– Pode me explicar o que foi aquilo? – indagou Sam quando ele e Vic se sentaram de frente um para o outro na mesa de uma lanchonete.



 

Haviam ligado para Dean, entretanto, o celular dele caía na caixa postal. Então resolveram lanchar.





 

– Aquilo o quê? – indagou Victoria se fazendo de desentendida.





 

– O de mais cedo quando nós encontramos aquele seu amigo Robert Taylor.




 

– Ele não é exatamente meu amigo – retrucou ela não gostando do tom dele – E não sei do que você está falando.




 

Sam pigarreou.




 

– Vic, não se faça de desentendida. Sabe bem do que estou falando. Eu notei que você ficou muito perturbada por termos encontrado com aquele cara.




 

– Sam, qual o seu problema?




 

– Não tenho nenhum problema. Já você...




 

– Você está confundindo tudo! Eu não fiquei perturbada por coisa nenhuma. Impressão sua.




 

Ele suspirou impaciente.




 

– Vic, eu não sou cego, vi muito bem como você ficou por causa dele. Você praticamente queria sair de lá correndo. Quando ele falou de irmos à tal empresa, você despistou e me puxou quase arrastando para o estacionamento. E depois ficou muda a maior parte do tempo em que dirigia. A sua reação foi no mínimo muito estanha.




 

– Sam, não tem nada. –ela suspirou impaciente - Já disse pra você que foi só impressão.




 

– Você já estava meio inquieta por virmos aqui em Chicago. Eu mesmo notei isso. Não foi só pelo o que Dean comentou.




 

Collins nada contestou. Bufou e desviou o rosto do olhar do namorado como se quisesse fugir do assunto.





 

– Victoria, olha pra mim – ele pegou nas mãos dela e esperou ser atendido – O que está acontecendo? O que esconde de mim? – ela fez expressão de que ia protestar, mas ele a interrompeu – E não me diga que não há nada porque sei que é mentira. Não pense que eu não sei, que não observo suas atitudes. Você recebe uns telefonemas misteriosos que a fazem se afastar de mim ou do Dean. E também... já te vi virando madrugadas mexendo no seu computador como se estivesse fazendo... algum tipo de trabalho secreto.






 

– Pelo amor de Deus, Sam, você agora deu pra me vigiar? – ela soltou as mãos das dele – Que paranoia é essa?





 

– Não é paranoia e você sabe muito bem disso – fez uma pausa – Seja o que for, pode me falar, eu vou entender.




 

– Não tem nada. – ela lhe dirigiu um olhar duro.




 

– Vic, não minta pra mim. Me explique o que é – ele insistia. Ela suspirou fundo para se manter calma – E que negócio é aquele dele perguntar se você veio verificar a contabilidade da empresa?





 

– Foi um caso que eu resolvi lá um tempo atrás. Está bem?– ela disse por fim – Me fiz... passar por agente fiscal pra ter acesso à empresa.





 

– É? – ele indagou com descrença e cruzou os braços – E como ele pôde guardar o seu rosto assim?




 

– Ora, Sam, meu rosto não é nada difícil de esquecer – ela sorriu tentando fazer piada numa postura convencida, contudo, o Winchester não engoliu.




 

– E por que você teve aquela reação de... querer sair correndo daquele cara?




 

– Não parece lógico? Eu me fiz passar por outra pessoa.




 

– Com seu próprio nome?




 

– É, é...Sam. Qual o problema? Bem, eu me fiz passar por uma agente fiscal e... fiquei com receio dele querer que eu fizesse alguma outra auditoria, sendo que eu não entendo nada disso.




 

– Mas parece que você conseguiu fazer bem seu papel. Até hoje ele acredita que você possa fazer isso.




 

– Bom.... er... Lembre-se que eu fiz um curso técnico em gestão de negócios lá em Stanford. Alguma coisa eu sabia que deu para enganá-lo.





 

– Aham – o moço continuava em sua postura descrente





 

– Sam, por favor, acredite em mim – dessa vez, ela que se aproximou e pegou nos braços ainda cruzados do namorado – Eu não estou escondendo nada. Jamais mentiria pra você. – fez uma pausa – Jamais te magoaria de propósito. E sabe por quê? – ela o olhava com ternura – Porque eu te amo, seu bobo. Acredite em mim.




 

A sinceridade no olhar dela o tocou. Mesmo assim, seu íntimo lhe dizia que ela não estava lhe dizendo toda a verdade. Todavia, sentiu que o melhor não seria pressioná-la. Talvez devesse esperar ela estar pronta para lhe contar seu segredo.




 

– Está certo – ele sorriu e descruzou os braços. Inclinou-se na mesa e pegou nas mãos dela. – Tudo bem. Não se fala mais nisso.




 

Eles se afastaram quando a garçonete trouxe os pedidos. Mas o pensamento do Winchester se focou no nome daquela empresa. Blackwell Blue Global.




 

Uma grande multinacional cujo nome aparecia constantemente na mídia. Todavia, era a segunda vez ao ouvir o nome da empresa que algo em seu íntimo lhe dizia que deveria se lembrar de alguma coisa. E com o comportamento estranho de Victoria, sentia que era algo relacionado a ela.




 

– Sam, não vai comer? – Vic o chamou. Ele estava distante.




 

Ele sorriu para ela e pegou a salada que havia pedido. Victoria o observava. Tinha certeza que não o havia enganado.

– 0 –

A sala de consultas de Brenda era bem ampla e decorada com carpete de primeira qualidade nas paredes e no chão e com móveis de luxo. No meio do recinto, ficava o tão famoso “divã”, o reconsto onde os pacientes costumavam se deitar para relatarem seus problemas. Próxima à janela, estava uma escrivaninha com duas cadeiras; uma atrás em que a doutora se sentava e a outra na frente, para os pacientes.




 

Ali, Dean e Brenda se sentaram de frente um para o outro; ela numa postura profissional; ele mais relaxado.




 

– E então, senhor detetive, para quê precisa da minha opinião profissional para seu caso?




 

– Ah... er... É que soubemos que um grande número de pessoas está se suicidando aqui e isso parece no mínimo...curioso.




 

– Ah, sim, tenho notado isso nos últimos meses. Para uma cidade grande como Chicago, é de se espantar. Mas... antes de responder a qualquer pergunta sua, pode me mostrar alguma identificação?




 

– Claro – ele sorriu e mostrou uma das identidades falsas de agente federal – E não sou um detetive comum. Sou do FBI – disse orgulhoso como se quisesse impressioná-la




 

– Ah, claro. Agente James Page – ela analisava a identificação. Depois devolveu a ele. – Bem, o que você gostaria de saber?




 

– Algum dos seus pacientes se enquadra entre as possíveis pessoas que tiveram esse surto suicida?




 

– Na verdade, alguns queriam se matar, mas nenhum que continuou tratando comigo praticou tal ato.




 

– Mesmo? Então se não é propaganda enganosa, você deve fazer milagres.




 

Ela riu do comentário.




 

– Eu não colocaria dessa forma. Eu apenas estimulo. Depende mais do próprio paciente do que de mim.




 

– Ah... Bom.




 

O loiro parecia decepcionado. Mas o que esperava ouvir? Que era só chegar ali e num passe de mágica suas angústias sumiriam? Nem ele mesmo acreditaria em algo assim. Não que quisesse algum tipo de ajuda profissional para se livrar dos fantasmas que lhe assolavam. Não. Com certeza não era isso. Aliás, ele nem sabia dizer por que foi naquele lugar. Apenas um impulso tolo. Todas aquelas mortes certamente estavam ligadas a algum Tormento e aquela psicanalista não tinha nenhuma resposta para lhe oferecer. Estava fora da alçada dela. No fim, foi perda de tempo. Ainda mais depois de fazer má figura diante daquela mulher. Mesmo assim, precisava manter seu papel.




 

– Bem, poderia me dar a ficha desses seus pacientes?




 

– Lamento. Sigilo é algo que faz parte da minha profissão.




 

– Até mesmo para uma investigação federal?




 

– Sim, mas como estou ciente, apenas uma ordem judicial me obrigaria a lhe fornecer as fichas.




 

– Certo. – ele sorriu meio sem graça.




 

– Alguma outra pergunta?




 

– Não. É... suficiente para mim. – levantou-se da cadeira e estendeu a mão para ela – Bom, eu agradeço a atenção, doutora.




 

– Interessante – disse Brenda sem pegar na mão dele e analisando-o – Para um federal você não foi tão taxativo. Me pergunto se você veio aqui para uma investigação ou se queria uma consulta particular.




 

O caçador se sentiu constrangido pela mulher ter tocado fundo na questão. Mas ele não queria admitir nem para si mesmo que se sentiu impelido a ir até lá justamente por causa disso.




 

– Ora, doutora, eu pareço estar com cara de quem quero me atirar de um precipício? – riu como se desdenhasse a insinuação.




 

– Não sei. Me diga você.




 

– Ei, ei, sei o que está querendo fazer. Sei bem como sua classe age – ele balançou o indicador para ela – Vocês gostam de confundir as pessoas para as fazerem dizerem coisas que querem que elas pensem. Mas isso não vai funcionar comigo.




 

– Ora, agente James, não entendo sua atitude defensiva. Por acaso tem medo de admitir até para você mesmo que algo o está incomodando por dentro?




 

– OK. Pode parar o jogo – o tom de voz ficou mais sério.




 

– E o senhor não gosta de jogar por acaso?




 

– É claro que sim. Gosto de roleta russa e de pôquer, mas não esse jogo de “Verdade ou consequência.”




 

– Ora, vamos, você só vai falar se quiser. E considere isso como um desafio. Eu lhe darei uma hora para desabafar comigo. Se você nesse meio tempo, não me disser nada, ganha. – ela colocou os dois braços sobre a escrivaninha e apoiou o rosto neles numa atitude convidativa - E eu aceitarei aquele encontro que você me sugeriu há pouco.




 

O loiro não podia resistir àquela proposta feita de uma forma tão sedutora. E, por outro lado, gostava de desafios.




 

– OK – sentou-se na cadeira novamente e aproximou o rosto quase do dela – E o que acontece seu eu perder? Terei que ser seu cliente?




 

– Nada – ela se afastou e encostou-se na cadeira – Apenas terei a satisfação de provar o quanto uma mulher consegue o que quer de um homem... se souber usar as armas certas.




 

O loiro a observou com seus olhos penetrantes. Brenda não desviou o olhar. Aquele jogo realmente o excitava.




 

– Legal. Façamos as nossas apostas – ele concordou confiante que ganharia

– 0 –

– Droga, cadê o Dean? – indagou Sam pela enésima vez olhando para o número do celular do irmão que não atendia – Já era para ele estar aqui umas três horas atrás.



 

Estavam na porta do motel em que se hospedaram. Haviam combinado de se encontrarem lá após as investigações individuais.




 

– Não me surpreenderia nem um pouco se estiver com aquela tal de Margareth – replicou Victoria com expressão azeda e os braços cruzados.




 

– Ou talvez tenha se metido em algum problema. - Sam a alertou




 

– É, pode ser – a expressão de Vic se suavizou. Talvez estivesse sendo dura demais, talvez por causa da discussão que ela e o loiro tiveram mais cedo – Que tal se ligarmos para o Cass? Ele pode nos ajudar com este caso e procurar pelo Dean.




 

– Não sei se ajudaria muito em achar o Dean. Lembre-se que tanto ele como eu temos cunho enoquiano e não podemos ser localizados pelos anjos.




 

– Bom, mas Chicago limita a busca, não? Para nós acharmos o Dean numa cidade como essa seria como buscar uma agulha num palheiro. Mas para um anjo, é mais rápido.




 

– Está bem – concordou Sam e discou o número do anjo – Espero que ele não esteja muito ocupado buscando Deus.




 

Felizmente, Castiel atendeu a chamada no primeiro toque.




 

– Oi, Sam? – disse ele do outro lado da linha




 

– Cass, tudo bem? Escute, estamos com dois problemas. Será que você pode vir aqui nos ajudar?




 

– Sim. Estou tranquilo agora. Me diga onde estão.




 

Sam deu as coordenadas.




 

– Quando você pode vir? – indagou o Winchester.




 

– Já estou aqui – disse o anjo aparecendo ao lado de Victoria.




 

A caçadora deu um pulo e colocou a mão no peito.




 

– Pelo amor de Deus, Cass! Já te falei pra não chegar assim perto de mim!




 

– Desculpe. Não pude evitar – ele a olhou. Dirigiu-se a Sam – Qual é a emergência?




 

– Bem, é que achamos que estamos lidando com algum tipo de demônio especial, um Tormento. Já ouviu falar?




 

– Sim, vi alguns também no inferno quando tirei Dean de lá.




 

– Certo, mas antes de explicarmos pra você o caso, primeiro precisamos de sua ajuda para encontrar Dean.




 

– Ele não está com vocês? – o anjo estranhou.




 

– Ele veio conosco – interveio Collins – Mas depois nos separamos para investigar mais rápido. E havíamos combinado de nos encontrar aqui. Só que até agora, Dean não apareceu. Ele costuma se atrasar às vezes, mas nem tanto.




 

– Sei que você não pode encontrá-lo com o cunho que marcou nele – continuou Sam – Mas como sabemos que ele está na cidade, deve ser mais fácil pra achá-lo.




 

– Certo, só que deve levar algum tempo.




 

– Não se preocupe. Nós esperamos.




 

– Pra facilitar, talvez você devesse começar por casas noturnas, bares e... outros motéis.- sugeriu Vic




 

– Sim. Já aprendi como funciona a cabeça do Dean. – Victoria não pôde deixar de rir com tal comentário. O anjo a olhou um pouco embaraçado – O que foi? Disse alguma coisa engraçada?


 

– Disse, mas foi mais a forma como você falou. Tão sério.





 

Castiel apenas arqueou uma sobrancelha.




 

– Então nós esperamos você aqui. – tornou Sam – Conforme for, talvez nós também daremos uma olhada por aí.




 

– Voltarei o mais rápido que puder.


 

E sumiu. Vic comentou com Sam:


 

– Ele sempre some quando eu pisco. Da próxima vez, vou segurar meus olhos.

– 0 –

Já anoitecia. A demora de Castiel em encontrar Dean não foi tão longa como ele imaginava.



 

Ele começou sua busca por vários bares da cidade até que parou num que ficava no centro de Chicago. O lugar era bem requintado, havia até uma banda de roqueiros tocando no ambiente.




 

Com os olhos bem atentos, ele localizou num canto do estabelecimento seu amigo caçador. Dean estava próximo a uma janela com várias garrafas de bebida e um copo à sua frente. O Winchester parecia estar “bem alto.” Tanto que uma linda mulher havia se acercado dele para conquistá-lo, mas desistiu ao ver que o moço mal conseguia erguer a cabeça da mesa.




 

Cass se aproximou dele.


 

– Dean?


 

O loiro custou a responder. Precisou de um tempo para levantar a cabeça. Piscou os olhos várias vezes, ergueu um copo para o anjo e só assim respondeu numa voz bastante arrastada:

 

– Oooooiii... Cass... Vaaai... uma bebida aí?


Notas Finais


Xi! Que será que aconteceu com Dean? No próximo capítulo, a conclusão do caso. Até lá!


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