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História Almas Trigêmeas - O homem do futuro


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Oi, gente! Como vão? Só para constar, estou repostando esses capítulos agora em maio de 2023. Corrigindo alguns erros de ortografia e coerência e aprofundando um pouco mais. Pra quem estiver relendo, talvez perceba que neste aqui particularmente fiz várias mudanças, mas nada que mude ou comprometa a história. Os demais vão permanecer a mesma estrutura. Estou fazendo essa revisão porque estou postando em outros sites. Assim que acabar, retorno a história do ponto que a deixei (na outra fic que é continuação desta). Acredito que lá pra agosto retomo a segunda parte (dessa vez pra valer, caso alguém estiver relendo aqui)

Este capítulo contém spoilers do Episódio 4, da Quinta Temporada, O Fim.

Boa leitura!

Capítulo 3 - O homem do futuro


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - O homem do futuro

Anteriormente:

- Então... – começou John Winchester, com as mãos sobre o porta-malas do carro – ... vocês querem saber sobre a Colt?

Os rapazes pararam de recarregar as próprias armas e olharam surpresos por seu pai perguntar, já que nunca compartilhava ou se preocupava em saber a opinião deles. Foi Sam que respondeu por ambos:

- Sim, senhor

- Em 1835, quando o cometa Halley passou... dizem que Samuel Colt criou uma arma. Uma arma especial. Dizem... dizem que o revólver mata qualquer coisa.

(...)

- Com o que estamos lidando? – indagou Dean no posto médico – Você sabe?

- Sei. A doutora acha que é um vírus – respondeu Sam

- Tá legal. O que você acha?

- Que ela está certa.

- Sério?

- É. E eu acho que os infectados tentam infectar outros pelo contato direto com o sangue. Ah! E tem mais. O vírus deixa vestígios de enxofre no sangue.

- Um vírus demoníaco?

- É. Parece uma zona biológica demoníaca.

- É como uma praga bíblica.

- Eu andei olhando o diário do pai. O pai tinha uma teoria sobre Croatoan.

(...)

– Eu sou uma casca? – indagou Dean

- Você é a casca – respondeu Zacarias

- Precisa do meu consentimento. Miguel precisa que eu diga sim para sair por aí na minha pele.

- Infelizmente sim.

- A resposta é não.

(...)

— Sei que não confia em mim – declarou Sam sentado diante do irmão do outro lado da mesa de madeira num parque – E pra ser sincero, nem eu mesmo confio mais em mim.

- Então o que está dizendo? – perguntou Dean

- Sou perigoso. Talvez seja melhor a gente se separar.

(...)

- Você sabe quem sou eu. – afirmou o homem loiro e barbudo sentado na cama com expressão e voz tranquila.

- Lúcifer. – respondeu Sam apavorado ainda de pé e foi se afastando

- É o escolhido, Sam. – o arcanjo se levantou e aproximou-se do Winchester. Este recuou – Você é a minha casca.

- Não vai acontecer.

(...)

— Bom, tio, já que não consegui te convencer nem de sair daqui e nem de morar com você, posso pelo menos passar alguns dias pra matar saudades dos velhos tempos?

— Tá, claro que pode. Mas preste atenção: não tente me enganar – apontou o dedo para ela com expressão séria – Vai ficar aqui no máximo uma semana e depois pode tratar de cair na estrada.

(...)

Em North Platte, estado de Nebrasca, a quilômetros dali, num quarto de motel, os irmãos Winchesters dormiam em camas separadas. De repente, acordaram ao mesmo tempo com sobressalto. Haviam sonhado a mesma coisa. Haviam sonhado que estavam juntos num mesmo lugar.

Com a mesma mulher.

Capítulo 2

O homem do futuro

– Vou dar uma volta por aí. – anunciou Dean pegando as chaves do carro sobre a cômoda

– Mas... ah... não combinamos de sair cedo pra chegar logo na casa do Bobby? – indagou Sam sentado numa mesa com seu laptop enquanto pesquisava algum indício que os pudesse levar a Lúcifer.

– A gente vai, mas eu preciso... tenho mesmo que sair... – não conseguia olhar para Sam – Volto logo.

– OK.

Sam não protestou e desviou o olhar, também meio incomodado em encará-lo. Dean saiu sem mais palavras do quarto do motel.

– 0 –

Estava ao volante de seu Impala diante de um parque. Eram mais ou menos nove horas. O lugar não tinha muito movimento, apenas um transeunte ou um veículo passava por ali de vez em quando.

Precisava mesmo respirar ar puro para colocar as ideias no lugar. As últimas quarenta e oito horas haviam sido muito confusas. Sua cabeça estava tão embaralhada por tantas coisas que se não parasse para refletir, explodiria.

Concentrou-se na lembrança da noite de dois dias atrás.

Fazia uma semana que Sam e ele estavam separados devido às consequências dos atos do irmão: confiar num maldito demônio, a Ruby, trair sua confiança por causa dela e, com isso, ter libertado Lúcifer e provocado aquela confusão que o mundo começava a experimentar de eventos catastróficos como tempestades, maremotos e outros.

Numa de suas andanças como caçador solitário, Dean chegou na cidade de Kansas. Ao lado da portaria de um motel, um pregador fanático que anunciava o Apocalipse o abordou, porém, ele ignorou o homem com um comentário sarcástico e hospedou-se; pouco depois, recebeu uma ligação de Castiel informando sobre ao paradeiro da Colt. O anjo ainda tentava se acostumar em se comunicar por celular, mas era o único modo, já que por ter gravado cunhos enoquianos nas costelas dos Winchesters, as marcas impediam qualquer anjo, inclusive ele próprio, de localizar os irmãos.

Segundo Cass, a arma estava com demônios e, embora, fosse uma informação que o caçador considerasse estranha, pelas criaturas portarem algo que podia matá-las em vez de a destruir, não tentou dissuadir o anjo de sua busca, já que poderia ser uma forma de acabar com o Diabo, se realmente o revólver ainda estivesse ileso.

Dean informou o nome do local em que estava, mas pediu para Castiel encontrá-lo somente depois de quatro horas de sono que ele precisava recuperar, após horas no volante.

Pela madrugada, Sam ligou para Dean e este apesar da surpresa e do adiantado da hora atendeu. Escutou a revelação de seu irmão de que Lúcifer lhe havia aparecido em sonho e declarado que ele era sua casca. Embora surpreendido, Dean não ficou em pânico como Sam supunha e nem ele próprio há um tempo ficaria; era como se cada golpe que a vida lhe desse não pudesse mais machucá-lo. Foi o que disse mais ou menos para Sam:

- Acho que estou meio vacinado contra revelações bombásticas a essa altura.

Então Sam deixou claro que queria voltar a caçar com o irmão, porém, Dean rechaçou a proposta e afirmou com todas as letras que eles juntos eram um desastre e somente piorariam a situação.

- Dean, não tem que ser assim – protestou Sam – Podemos lutar.

- É, tem razão, podemos. Mas não juntos. Não somos fortes quando estamos juntos, Sam. Eu acho que ficamos mais fracos... porque o que há entre nós... amor, família, seja lá o que for, sempre... vai ser usado contra nós... e você sabe disso. – recostou-se numa poltrona que estava no quarto; mesmo lamentando magoar seu irmão e a separação entre eles doer, tinha que ser forte – É melhor ficarmos separados. Temos mais chances de evitar Lúcifer e Miguel... e tudo isso... se cada um seguir seu caminho.

- Dean, não faça isso.

- Tchau, Sam.

Desligou mesmo com aquela cortada no peito. Era melhor assim. A dor pela traição de Sam e a falta de confiança nele para combaterem juntos o Apocalipse eram maiores. Foi dormir, embora custasse dessa vez.

Quando acordou na manhã seguinte, o quarto em que estava não parecia o mesmo: a disposição do cômodo estava igual, porém, tudo ali resplandecia a abandono, sujeira e um fedor de algo que não era limpo há anos. O colchão em que se deitou estava todo desencapado em molas e sem nenhum lençol ou roupa de cama. O Winchester se levantou confuso e aproximou-se da janela. Do lado de fora, a situação era mais desalentadora: o bairro e além do que se via pela cidade arrasados como se uma guerra houvesse sido a causa; via-se destroços de carros, construções destruídas e ausência de qualquer pessoa pelas ruas.

Dean saiu pelas redondezas e constatou o cenário desolador. Após um longo tempo, encontrou num beco uma menina. Aproximou-se tentando confortá-la, mas logo se arrependeu: a criança parecia uma fera que o atacou e o quase o acertou com uma faca. Ele conseguiu se desviar dos golpes e teve que derrubar a pequena. Ao olhar para uma parede sem acabamento, viu escrito CROATOAN. Aquilo o perturbou e mais ainda quando um grupo de infectados pelo vírus apareceu. Ele correu o mais que pôde, mas ao se deparar com uma cerca, viu que estava perdido rodeado por aquela multidão.

Eis que um grupo de soldados num tanque de guerra apareceu e atirou para todos os lados, sem nem indagar se ele era um dos infectados; mesmo assim, conseguiu sair ileso e correu para se esconder.

Dean voltou para o motel, tendo cuidado em não topar com nenhum infectado. Antes, havia procurado seu Impala por todos os lados, mas não o encontrou; maldisse o infeliz que deveria tê-lo roubado. Teria que roubar um carro para sair dali e averiguar o que estava acontecendo. Esperou anoitecer e saiu; arrombou a cerca de um estacionamento abandonado; felizmente, havia alguns veículos; restava saber se algum estava funcionando, pareciam todos velhos. Na cerca, estava uma placa de restrição e aviso daquela zona ser de contaminação; também se via escrita uma data: 1º de agosto de 2014. Cada vez tudo estava mais estranho; Dean não entendia como podia ter chegado ali naquele tempo. Seria uma brincadeira do Trickster? Era a cara do maldito; mas deveria continuar investigando e averiguar. Entrou num carro, ligou os fios da partida e conseguiu colocar o veículo em movimento.

No meio da estrada, sobressaltou-se com a aparição de Zacarias ao seu lado no banco de passageiro com um jornal em mãos; o anjo começou a ler as notícias.

- Achei mesmo que estava meio parecido com De Volta para o Futuro. – declarou o Winchester com expressão de desagrado.

O anjo o ignorou e continuou sua leitura em voz alta. À parte de estar aborrecido, algo intrigava a Dean: como Zacarias o havia encontrado? Ele o indagou e o tipo explicou que os anjos estavam dando a se conhecer a grupos cristãos fervorosos para recorrer a ajuda deles e que uma foto do Winchester foi entregue para que os informassem. Dean se lembrou do fanático na portaria do motel.

– OK. Já teve sua diversão! – Dean esbravejou – Agora me mande de volta, seu filho da mãe!

– Você voltará, no tempo certo. – respondeu Zacarias calmo – Queremos que você fique um pouco no banho Maria.

– Banho Maria?

– Três dias, Dean, para ver aonde esse curso de ação leva você.

- O que isso quer dizer?

- Que suas escolhas têm consequências. – mostrou-lhe o jornal futurista de notícias catastróficas que havia lido – É o que vai acontecer no mundo se continuar dizendo não ao Miguel. – em seguida, emulou um sorriso desdenhoso – E quem você vai perder no processo – Dean engoliu em seco. Zacarias balançou a cabeça como se risse de uma piada particular – Quem diria, o grande Dean Winchester... Como vocês falam aqui? Ah, Garanhão! Quem diria que com o garanhão pudesse acontecer algo assim?

- De que merda você está falando? – Dean pestanejou

- Dê só uma olhada.

Zacarias desapareceu sem lhe responder. Dean tentou entender aquela insinuação sobre ele ser um garanhão (e era mesmo, e daí?), mas desistiu. Besteiras daquele canalha, assim como tudo que estava lhe fazendo desde que se conheceram.

Dirigiu até a casa de Bobby para saber se o velho caçador estava vivo, mas tudo que encontrou foi sua cadeira de rodas caída e alvejada por balas; concluiu que Singer encontrou um triste fim. Lamentou-se, mas continuou a remexer nas coisas do caçador e, no esconderijo de sua chaminé, encontrou uma agenda velha, com papéis amarelados e velhos, e uma foto de Bobby, Castiel e mais outros homens armados, diante de um local com uma placa com os dizeres: “Bem-vindo ao Acampamento Chitaqua.” Imediatamente, foi para lá após seguir as coordenadas e o endereço na agenda.

Ainda era de noite quando chegou; o tal acampamento não era muito longe, mas bem vigiado. Mesmo assim, conseguiu entrar; localizou o que parecia ser seu Impala lá dentro. Era mesmo “sua baby”! Estava em péssimo estado de conservação, mas não havia dúvidas. Ficou tão desolado pela falta de cuidado com seu veículo, que se distraiu e recebeu um golpe na cabeça.

Quando acordou, estava com um dos braços acorrentado num dos degraus de uma escada de um galpão. Deparou-se com Ele mesmo lhe encarando, bom, uma versão futura de si pelo visto. Ainda assim, não pôde deixar de se surpreender. Havia algo no seu Eu futuro, uma indiferença e frieza como se não se surpreendesse com mais nada; isso ele pôde detectar no modo como o encarava e falava. O tipo não demonstrava perturbação pela semelhança entre eles, mesmo tendo afirmado que havia feito provas nele enquanto esteve desacordado de que não era demônio, metamorfo ou qualquer entidade.

Mas pretendia lhe atirar. Oh, sim! E lhe perguntou um motivo para não o fazer.

- Zacarias – respondeu Dean

- Como é? – pela primeira vez, seu Eu futuro desfez a expressão fria e indiferente que mantinha

- Eu sou você do fim de 2009. O Zaca me tirou da cama e me jogou cinco anos no futuro.

- Onde ele está? – o outro se aproximou bastante interessado... e até desesperado, pelo menos, Dean o notou em sua fisionomia, embora ele mantivesse uma postura firme – Quero falar com ele.

- Eu não sei.

- Ah, você não sabe.

- Não, eu não sei. Olhe, eu só quero voltar para a porcaria do meu ano. Está bem?

- OK – o outro se abaixou à sua altura, mas com o dedo em riste – Se você sou eu... então me conte uma coisa que só eu saberia.

Dean o encarou e pensou no que poderia contar a si próprio. Por um momento, pensou em falar... sobre ela. Não. Ridículo. Não falaria sobre seu maior segredo. Não que tivesse vergonha, mas... era tão íntimo; era como se só de admitir não pudesse ser real. Tsc, não era real mesmo, apenas... fantasias. Sonhos. Balançou a cabeça, o outro arqueou a sobrancelha.

- Rhonda Hurley – sim, aquilo era mais fácil de admitir. O outro Dean o encarou intrigado – A gente tinha... uns dezenove anos. Ela colocou a calcinha dela na gente. Era rosa e de seda, e quer saber? A gente até gostou.

- Touché.

O outro Dean pareceu satisfeito, embora a expressão se anuviasse. Dean estranhou, talvez o outro não achasse que fosse suficiente. E estranhou mais ainda quando ele disse:

- Sabe, por um momento eu pensei que você falaria... – interrompeu-se brusco e contorceu o rosto como se reprimisse uma emoção forte. Dean o fitou intrigado. Foi a vez do outro balançar a cabeça e emular um sorriso amargo como se dissipasse uma ideia. Depois, levantou-se – É, a gente gostou mesmo... Rhonda Hurley.

Ergueu-se com a mesma expressão indiferente e neutra; Dean o encarava cada vez mais intrigado. Por fim, o outro Dean lhe falou sobre a pandemia do Croatoan pelo mundo afora sem a menor emoção e os sobreviventes que viviam ali sob seu comando, porém, não conseguiu ocultar certa dor na fisionomia, quando lhe perguntou sobre Sam.

- Um duelo de gigantes em Detroit. – reassumiu a máscara de indiferença – Pelo que entendi, Sam não venceu.

- Você não estava com ele.

- Não. Eu e o Sam. A gente não se fala há... sei lá, cinco anos.

- A gente não foi atrás dele?

- A gente... tinha outras pessoas para cuidar.

Uma dor se formou no rosto do outro, mas tão rápida que logo foi substituída por uma contração nos lábios e uma breve fúria. Dean se espantou: qual era o problema daquele cara? Bom, dele próprio.

Seu Eu futuro o deixou lá ainda algemado, pois não queria assustar os demais com tantas confusões que já tinham do Apocalipse para lidarem e saiu para uma missão que havia programado.

- Qualé? Você não confia em si mesmo? – indagou Dean antes de ele sair

- Não mesmo – respondeu o outro.

Ainda assim, Dean conseguiu destravar a algema graças a um prego que com muito custo tirou de uma tábua velha caída perto dele, soltou-se e saiu. Contudo, as coisas que viu o fizeram questionar se não teria sido melhor permanecer onde estava.

Primeiro, encontrou o profeta Chuck lhe fazendo um monte de solicitações de pedidos que não tinha a menor ideia do que decidir.

Em seguida, tomou uns golpes de uma tal de Risa, uma morena clara bonita e furiosa por ele ter dormido na noite anterior na cabana de uma tal de Jane; bom, não ele, seu Eu futuro, mas estava recebendo a culpa.

Como se não bastasse, ao procurar Castiel para lhe pedir que o mandasse de volta a 2009, descobriu que o anjo não tinha mais nem uma grama de energia celestial no corpo; bom, um mínimo suficiente para perceber que ele não era o Dean daquele lugar e época. Porém, não era tudo: o certinho, vigilante e sério Castiel não existia mais; agora ele era um devasso que fumava todas e organizava orgias sexuais como se fosse um guru do amor. Era muito para sua cabeça!

A gota d´agua foi testemunhar seu Eu futuro atirar pelas costas num companheiro de caçadas sem nem pestanejar; ainda por cima, Dean foi conduzido e empurrado com brusquidão por si mesmo dentro do galpão para terem um particular. Se bem que não podia culpa-lo: desobedeceu a ordem dele e deixou que dois caçadores e mais outras pessoas que estavam no local os vissem juntos, fora Castiel. Mesmo assim, não pôde deixar de acusar a seu Eu:

- Você atirou em um cara a sangue-frio!

- Estávamos em uma zona de quarentena aberta. Fomos cercados por uns crotes na saída – Dean piscou sem entender o termo – Crotes. Croatoans. Um deles infectou o Yager.

- Como você sabe?

- Porque depois de alguns anos, eu sei. – respondeu o outro com sua habitual indiferença – Eu comecei a notar os sintomas há meia hora. Não ia demorar para ele surtar. Não vi por que perturbar um bom homem com uma notícia ruim.

- Perturbar um bom homem? Acabou com ele na frente de sua gente! Não acha que os assustou um pouco?

- É 2014. Topar com um crote virou lugar comum. – apontou para Dean e para ele mesmo – Ter uma conversa com meu clone, isso sim deve tê-los assustado.

Por fim, acabaram por se entender e até tomaram um drink juntos. Seu Eu futuro revelou que a missão para a qual haviam partido era achar a Colt e encontrou-a justamente com os demônios, confirmando que a informação de Castiel lá em 2009 sobre o paradeiro da arma era verdadeira.

- Eu demorei cinco anos... mas finalmente consegui. E hoje... – o Dean futuro abriu um raro e genuíno sorriso. Ergueu o copo que segurava – Hoje à noite eu vou matar o diabo.

Acabaram por fazer uma reunião com um pequeno grupo de caçadores para aquela nova e “definitiva” missão, nas palavras do seu Eu. Entre eles estavam Castiel e também Risa, ainda um pouco ressentida com a safadeza e cinismo do Dean futuro, mas disposta a colaborar. Se bem que não deixou o sarcasmo de lado ao questionar o paradeiro de Lúcifer, apesar do sucesso em garantirem a arma com que poderiam destruí-lo.

O próprio Dean futuro esclareceu a todos que obteve a informação através de um demônio torturado. Àquela altura, Dean não se surpreendia mais com que seu Eu era capaz de fazer.

Depois de combinados os detalhes da partida para meia-noite, os dois Deans ficaram a sós de novo. Seu Eu futuro queria leva-lo com eles naquela missão, pois não acreditava que Zacarias o deixaria ser morto ali se não quisesse que ele testemunhasse os eventos futuros. E acabou por lhe revelar que Sam não havia morrido em Detroit na luta contra Lúcifer, como deu a entender, mas dito “sim” e não era mais o mesmo.

– Por que ele faria isso? – perguntou Dean abismado

– Quisera eu saber – respondeu seu Eu – Mas agora não temos escolha. Está nele e não vai sair. E temos que matá-lo, Dean.

O loiro permaneceu calado. Seu olhar era de desolação.

– E você precisa ver – continuou o outro – Ver tudo, ver como é ruim... para poder fazer diferente.

– Como assim?

– Zacarias vai te levar de volta, né? Para 2009?

– Vai.

– Quando voltar para casa, diga "sim". Ouviu? –foi incisivo – Diga "sim" para Miguel.

– Isso é loucura! Se eu deixar, Miguel lutará com o diabo. A batalha matará meio planeta.

– Olhe ao seu redor! – gritou com aflição – É melhor do que planeta nenhum, que é o que temos! Eu diria "sim" na hora, se pudesse.

– Por que não disse? – perguntou com desconfiança

– Eu tentei! Gritei "sim" até eu ficar sem ar! Os anjos não estão ouvindo! Eles fugiram, desistiram! Eu não posso mais, mas você pode.

– Deve haver outro jeito – balançou a cabeça

– Assim eu pensava. Eu era arrogante. Nunca pensei que eu ia perder. Mas estava errado. Estava errado – lamentava – Eu te imploro. Diga "sim".

Dean estava reticente com aquele pedido do seu Eu futuro. Contudo, surpreendeu-se com as palavras seguintes do outro e com uma expressão de grande dor que se revelou naquele olhar frio:

– Eu te imploro, Dean! Volte e diga "sim"! Salve a todos! E... salve ela! Não a deixe morrer! Não a deixe morrer! – gritou e bateu as duas mãos na mesa entre eles em que estavam apoiados seus braços

– O quê? – piscou várias vezes tentando entender o que acabava de ouvir.

– Nada – o outro fechou os olhos e abaixou a cabeça como se estivesse arrependido de ter falado algo proibido – Esqueça.

– Não, peraí... do que você está falando? – insistiu Dean – Ou melhor, de quem está falando? Você disse "Salve ela. Não a deixe morrer." Quem é...

– Ninguém! – vociferou o outro e levantou o rosto. Havia uma fúria em seu olhar mesclada com dor – Já disse pra esquecer! Não importa – sua expressão voltou a assumir um ar de neutralidade – De qualquer jeito, você não vai dizer mesmo.

Dean permaneceu em silêncio ainda bastante intrigado enquanto o outro prosseguia:

– Você não vai dizer porque eu não disse. Porque a gente não é assim, não é verdade? – encerrou num tom frio

Dean estava confuso e espantado com a atitude e palavras do seu Eu. Embora, este desconversasse, o loiro havia percebido que ele havia baixado a guarda sem querer e revelado que havia algum tipo de sentimento ali sob aquela couraça dura e fria. Algo negativo que o havia destroçado por dentro para que se tornasse um homem frio. Algo não. Alguém. Uma mulher.

O outro não lhe disse mais nenhuma palavra e ele tampouco o questionou sobre aquele momento de fraqueza; não tinha a menor vontade. Mais: de repente, sentiu um arrepio que o fez se calar ante qualquer desejo de informação ou mera curiosidade.

Foram se alimentar em silêncio e descansarem um pouco; em seguida, fizeram os últimos preparativos e partiram. Dean preferiu ir junto com Castiel numa picape; felizmente, seu Eu não objetou e foi com outro caçador.

Dean e o anjo viajavam em silêncio; Cass dirigia o veículo. Em dado momento e para a surpresa do Winchester, seu amigo tirou um frasco do bolso com uma mão, abriu-o e tomou algumas pílulas para ficar mais sóbrio do efeito das drogas que consumia.

– Deixe-me ver – inquiriu o loiro

– Quer um pouco? - perguntou Castiel enquanto passava o frasco para seu companheiro

– Anfetaminas?

– É o antídoto perfeito para aquele absinto.

– Não me entenda mal, Cass, eu... – começou meio sem jeito – Estou feliz por ter largado mão de ser careta... mas e essa coisa aí de drogas, orgias e guru do amor?

Castiel não pôde deixar de rir ante aquela observação.

– Qual é a graça? – tornou Dean

– Dean, não sou mais anjo.

– Como é?

– Eu virei mortal.

– Como?

– Acho que teve a ver com a saída dos outros, mas quando eles foram embora, o meu poder, tipo... se drenou – sibilou – E agora, sabe, sou praticamente humano. Eu sou um inútil. Ano passado, quebrei o pé e fiquei de cama por dois meses.

– Nossa! – o outro exclamou com espanto – Então você é humano.

O ex-anjo assentiu.

– Bom, bem-vindo ao clube – tornou o Winchester com sarcasmo

– Obrigado. Se bem que eu era de um clube bem melhor. E agora não tenho poder, nem felicidade, nem esperança... – fez uma pausa como se meditasse no que diria – Só culpa.

– Culpa? – estranhou o caçador

– É, culpa – olhou com firmeza para Dean como se estivesse decidido a lhe dizer algo de suma importância – Culpa por você ter se tornado o que vai ser daqui a cinco anos.

– Eu não entendo. – estava intrigado – Como assim?

– Foram várias coisas que fizeram o outro Dean se tornar...esse homem. O apocalipse, o vírus Croatoan... e é claro a dor de saber que Sam se transformou em marionete de Lúcifer.

Cass fez uma pausa para organizar os pensamentos. Dean permanecia calado e atento a cada palavra do amigo.

– Mas o que o matou por dentro realmente foi... a morte dela.

– Dela? – indagou o homem apertando os olhos enquanto tentava entender. Novamente era citada uma mulher.

– Ele não te contou? – tornou Cass – Não me surpreende. Ele nunca mais falou dela pra ninguém desde o que aconteceu. Eu mesmo nem devia te dizer isso. Se ele souber, me mata... – esboçou um sorriso triste – Como se já não quisesse ter feito isso antes.

– Escute, Cass, você sabe que adivinhações não são meu forte nem em 2009 e acho que nem aqui em 2014. Então...quer me dizer de que diabos está falando? Olha, sem querer ele falou de alguém, me implorou praticamente pra eu dizer "sim" ao Miguel e salvar essa pessoa. E depois não me disse mais nada. Mas ficou na cara que se trata de um rabo de saia. Que raio de mulher é essa?

– Sua esposa – replicou o ex-anjo num tom ríspido que demonstrava desagrado pelas últimas palavras do outro

– O... o quê? – Dean mal conseguia pronunciar as palavras – Minha o quê?

– Sua esposa – repetiu Cass – Victoria Collins.

Dean pensou ter escutado mal; não era possível.

– Minha esposa? – perguntou para se certificar. Castiel assentiu com um sorriso plácido – Victoria... Collins? A Indomável?

– A própria.

– Tá de brincadeira comigo, né, Cass? – alargou o sorriso balançando a cabeça. Virou parte do corpo no banco de passageiro em direção ao amigo e deu-lhe um tapinha no ombro – Ou você ainda está sob efeito da última tragada?

– Falo sério, Dean – Cass o olhou com expressão grave

O Winchester permaneceu calado por alguns segundos tentando absorver aquela informação. Castiel esperava uma reação explosiva de negação que não demorou a vir:

– Mas como é possível? Eu... me casar? E ainda por cima com.. com essa Maria homem quebradora de narizes!

– Não acredite em tudo o que você ouve sobre as pessoas, ainda mais de um bando de caçadores despeitados.

– Mas, Cass, essa mulher... essa mulher... Olhe, vou te contar uma coisa, mas... sem piadinhas, hein? – baixou o tom de voz como quem faz uma confidência – Essa mulher me dá arrepios só de ouvir o nome dela. Não tenho a menor vontade de conhecer a figura.

– Eu sei – Castiel sorriu – Mas não é medo dela que você tem propriamente. É medo do amor imenso que vai sentir por ela quando conhecê-la.

– Ah, por favor! Que isso? Você falando assim parece até narrador de romance barato. Eu não faço o tipo "príncipe encantado que busca encontrar seu verdadeiro amor". – falava com uma nota aguda de zombaria – Você me conhece, não sou assim, nunca fui assim com as mulheres. Não... continuo achando que você está de gozação pro meu lado.

– Quer se calar enquanto eu lhe conto toda a história? Depois pode tirar suas próprias conclusões. – Dean se aquietou apreensivo – Eu não estava por perto quando vocês se conheceram, mas pelo que soube, vocês sentiram uma conexão desde o primeiro momento em que se viram. É o que nos "romances baratos" chamam de amor à primeira vista. – o Winchester se mexeu no banco um tanto desconfortável – É claro que vocês dois tentaram negar tal sentimento – Cass deu uma risadinha – Cara, vocês no começo discutiam por qualquer coisinha feito cão e gato. Mas era palpável pra qualquer um que os visse juntos a ligação forte entre vocês. Eram muito parecidos. Tinham os mesmos gostos pra várias coisas, o gênio dela era igual ao seu em muitos aspectos.

– Espera aí! – interrompeu Dean - Como a gente se conhece?

– Não vem ao caso – desconversou – Basta saber que as circunstâncias do Apocalipse acabaram unindo vocês pra trabalharem juntos.

O Winchester não parecia satisfeito com aquela informação. Ia insistir quando o amigo lhe interrompeu:

– Como eu disse, vocês eram parecidos em muitas coisas. Por isso, brigavam muito no começo. Penso que era mais como uma forma de defesa... por medo de amar, de se envolverem – fez um pigarro – Só que como diz a frase, ninguém manda no coração. Em menos de dois meses de estrada vocês acabaram "se rendendo aos braços um do outro" – o ex-anjo dizia com sarcasmo em tom de narração de romance para ilustrar o que o loiro havia dito – Depois de uns meses, se casaram pouco antes do fim do mundo, da guerra não travada por Miguel e Lúcifer. A essa altura, Sam já estava possuído... bem, Lúcifer havia vencido e era só questão de tempo até ele destruir o mundo aos poucos – olhou com pesar para o companheiro – O casamento de vocês foi realizado numa pequena capela de Sioux Falls. Estavam presentes Bobby, o profeta Chuck, Rufus, Ellen, a Jo e eu.

– Eu me casei numa igreja? Com padrinhos e tudo?

– Foi mais por atenção a Victoria que era muito religiosa. A cerimônia foi rápida e simples, sua mulher nem usou vestido de noiva. Bobby e Ellen foram os padrinhos dela enquanto a Jo e o Rufus foram os seus. O Chuck tocou a marcha nupcial e eu...fui eu que celebrei seu casamento. Os votos de um anjo valem mais que os de um padre ou um pastor. – esclareceu pelo Winchester lhe olhar com estranheza – Até mesmo os votos de um ex anjo desde que... ele não tenha se corrompido. E na época, eu ainda era "careta".

– Difícil de acreditar... – o loiro falou num sussurro mais para si imaginando a cena do suposto matrimônio.

– Vocês nem tiveram lua de mel. Como poderiam? O fim estava próximo. Depois disso, se passou dois anos e meio até...

– Um momento. Você tem alguma foto dela?

– De quem? Da Victoria?

– Não, da minha mãe. Claro, né, Cass? De quem mais a gente tá falando?

– Cara, sinto muito falta desse velho Dean sempre com suas tiradas.

– OK, OK... Deixe o momento saudades de lado e me mostre alguma foto dela.

– Infelizmente, não tenho nenhuma.

– Nada?

– Não. Ela não era do tipo que gostava de aparecer em fotos... mas adorava fotografar. Tirou muitos retratos do acampamento e das pessoas que viviam lá, mas não aparece em nenhum. Foi um custo até convencê-la a posar pra foto do próprio casamento.

– Então... quer dizer que ela é feia? – o medo se apossou dele – Mas o pessoal que conhece ela , costuma dizer... o contrário.

– Ora, Dean, uma das coisas que ninguém na sua época pode falar contra Victoria é sobre seus dotes físicos bem avantajados. E você não é o tipo de homem que dispensa isso nem em 2009 e nem agora.

– Ah, bom – ficou um pouco mais aliviado, embora ainda não estivesse satisfeito com aquelas revelações – E em que ano ocorreu... esse casamento?

– Em junho de 2010.

– Então quer dizer...

– Você a conheceu logo depois que se separou de Sam. Isso significa que está prestes a encontrá-la.

Dean se calou. Uma apreensão e, ao mesmo tempo, um sentimento indefinível que não sabia dizer se era ruim ou bom tomaram conta de seu ser. Alheio a isso, Castiel prosseguiu:

– Como ia dizendo, vocês ficaram casados por dois anos e meio até... que aconteceu aquilo.

– Aquilo de que você fala... a morte dela?

– Sim. Seis meses depois de se espalhar o vírus Croatoan e dizimar metade da humanidade.

– E por que você disse que foi por sua culpa?

– Porque é verdade – o anjo replicou num tom melancólico – Eu deveria tê-la protegido, mas a deixei morrer.

– Como assim?

– Victoria era uma caçadora tão forte e eficiente quanto você... quer dizer, Ele. Mas sabe, o Dean... ele tinha um senso de proteção muito grande por ela, assim como teve pelo Sam. Chame isso de transferência de sentimentos – deu um sorriso triste – Ele já tinha perdido pessoas queridas e ter perdido o irmão pro diabo foi uma dor sem tamanho. Victoria foi uma espécie de antídoto para ele.

Dean refletia sobre as palavras do anjo. Era difícil de acreditar que um dia pudesse chegar a amar uma mulher a ponto de ela compensar a ausência do irmão. Cass dizia:

– Quando o fim do mundo foi declarado, a gente... o Dean, Bobby, Victoria, eu e uma dezena de outros caçadores formamos o Acampamento Chitaqua, um verdadeiro quartel-general como você já viu. Tiveram muitos outros espalhados pelo mundo, mas depois do Croatoan... deve haver no mínimo uns dez por aí afora. Havia muita gente no acampamento. Eram pessoas comuns que tinham contato com os caçadores e que foram as primeiras a serem avisadas sobre o domínio do mal. Elas eram trazidas até lá por eles e ficavam. Chegamos a abrigar mais de mil pessoas.

– É? E cadê todo mundo?

– Houve alguns ataques de demônios no acampamento que mataram muita gente... e alguns infectados pelos crotes. Foi uma barra pesada tudo que tivemos que encarar. Mas ficamos firmes, com você no comando e ela sempre te apoiando e não deixando que a gente perdesse a calma. O engraçado é que você era considerado o general do acampamento, as pessoas te respeitavam e te obedeciam, só que era pra Victoria que as pessoas sempre se reportavam pra pedirem algo ou comunicar algum problema – seu olhar brilhou de emoção ao se lembrar da caçadora – Ela era como uma tocha de esperança, ela animava as pessoas a nunca desistirem mesmo que tudo parecesse perdido.

– Fala dela como se fosse uma santa – observou o Winchester com ironia

– Santa eu não diria. Claro, ela tinha seus defeitos. Às vezes era bastante teimosa e impulsiva igual a alguém que eu conheço – encarou o amigo. Depois, voltou a olhar pra a estrada perdido em recordações – Mas conheci poucas pessoas com um senso de justiça e generosidade tão desenvolvidos quanto os dela. Ela tinha o dom de despertar a fé e a esperança no coração das pessoas... inclusive de um anjo como eu, abandonado pelos companheiros – sorriu e olhou para cima como se os antigos colegas pudessem lhe ouvir – Ela também dava esperança pra ele, o fazia acreditar até que havia uma chance por mais pequena que fosse de salvar o irmão. Não que ela o incentivasse a pensar assim, mas sem querer inspirava essa crença dele. E como eu disse, o senso de proteção dele por ela era grande, até maior do que teve por Sam. Tanto é que, um dia, ele me disse sem rodeios que queria que eu fosse o guarda-costas especial da Victoria. Me dispensava de qualquer missão importante fora do acampamento, só queria que eu estivesse perto dela e a protegesse mesmo que ela ficasse só por ali.

– E você aceitou?

– Como eu podia me negar? Eu sabia o quanto ela era importante pra ele, aliás, era visível pra todo mundo. Depois... eu gostava muito dela, foi uma verdadeira amiga e faria qualquer coisa por ela. – não se envergonhava de confessar – É claro que Victoria não deveria desconfiar de nada. Ela odiava ser tratada como uma pessoa indefesa que precisasse de proteção. Muitas vezes brigou com Dean por deixá-la fora de algumas missões muito importantes. Ele alegava que ela era mais necessária ao acampamento do que fora, mas ela sabia que era uma desculpa pra ela não sair e correr risco de vida.

– Parece que não adiantou muito.

– Pois é. Assim como Dean era muito preocupado com ela, Victoria sentia o mesmo. Ela sabia o quanto ele ainda se importava com Sam mesmo sem vê-lo há muito tempo e que... talvez esse sentimento o levasse a hesitar em destruir Lúcifer no momento que o visse no corpo do irmão. Por isso, um dia ela chegou pra mim e me propôs que juntos procurássemos a Colt e depois matássemos o Diabo sem que Dean soubesse.

– Que danada! – o Winchester não pôde deixar de se admirar com a audácia da mulher em agir pelas suas costas no futuro

– No começo, eu me recusei. Era praticamente o suicídio dela que me propunha e ia de encontro com o que Ele me pediu. Mas... ela tinha um dom de persuasão muito grande. Me disse que como ela não conhecia e nem tinha nenhuma relação de afeto pelo cunhado, não teria dificuldade em matá-lo. E me disse que assumia as consequências de seu ato e que enfrentaria o Dean quando ele soubesse. Arriscava até o casamento se fosse preciso, mas não queria arriscar a vida dele. E afirmou que eu sabia que no fundo ela estava certa sobre o marido e me intimou que se eu realmente me importasse com a vida dele e com o resto da humanidade, deveria provar isso. Deveria mostrar meu verdadeiro valor.

– Ela te convenceu falando tudo isso?

– Pra minha infelicidade, sim. E é claro, jogou na minha cara que sabia que eu andava perto dela como uma babá mandada por ele – riu – A moça não era nada burra. Também eu tinha medo de que se me negasse a ajudá-la, ela era capaz de fazer o que pretendia de qualquer jeito. Mas... eu deveria ter sido mais firme. Deveria ter contado pra ele o que ela me propôs logo de cara - fez uma pausa. Estava com um bolo na garganta tomado por uma sensação de remorso – Daí, secretamente, começamos a investigar sobre a Colt. Reunimos uns sete caçadores de confiança que não fossem entregar a gente para o Dean. Os demônios mudavam sempre de lugar junto com a arma e despistavam o grupo oficial de busca da Colt. Só que o nosso grupo secreto buscava em outras direções. Até que, um dia, soubemos de uma fonte aparentemente segura onde estava a arma. É claro que não contamos pro Dean. E... então, aproveitando uma missão dele que duraria vários dias, saímos do acampamento numa tarde em busca dessa pista.

– Acho que posso imaginar o que aconteceu. Foi uma armadilha, não é?

– Acertou. Um grupo grande de demônios nos esperava numa fábrica abandonada. Fomos para lá. Eles tentaram nos pegar, conseguiram massacrar os que estavam com a gente, mas subestimaram a mim e a Victoria e foram destruídos pela gente. Restamos somente nós dois. Só que... nunca imaginei que Ele também estaria lá.

– Ele?

– Lúcifer. Foi quem a matou. De alguma forma, ele devia saber que Victoria era muito importante para o Dean, seu ponto fraco e que a morte dela abalaria sua resistência. Mesmo assim, nunca entendi porque Satanás se deu ao trabalho de ir naquele lugar pra assassiná-la. Talvez adivinhasse que seus subalternos não dessem conta do serviço.

– Como foi que ele a matou? – a voz de Dean tinha uma nota de inquietação

– Nos dois tínhamos acabado de matar os demônios e revistamos os bolsos deles para ver se estavam com a Colt... só por garantia. Mas nada encontramos. Victoria não queria ir e deixar os nossos companheiros sem enterrar. Ela se sentia culpada por suas mortes e me convenceu a transportar os corpos para o nosso jipe. Como eram poucos, eu concordei e começamos a carregar um por um para o veículo. Quando estávamos levando o último e saíamos da fábrica, lá estava o diabo no corpo de Sam encostado na lateral do carro. Ele bateu palmas e nos felicitou pelo combate e por nossa "pequena boa ação" com nossos companheiros. Depois, olhou fixo pra Victoria. Por instinto, me coloquei na frente dela, mas não adiantou muito. Com um só gesto, ele me atirou pra longe junto com o cadáver que eu segurava... eu caí e fiquei no chão. Não conseguia me mexer. – a voz de Cass tremia ao relembrar a cena – E depois... ele a ergueu no ar segurando-a pelo pescoço com uma só mão e... com a outra...arrancou o coração dela.

O Winchester nada disse, entretanto, sentiu um bolo na garganta.

– Depois desapareceu. Eu... a peguei nos braços... enrolei seu coração na minha jaqueta e levei seu corpo para o acampamento. Todos que me viram chegar com o corpo sem vida dela, ficaram horrorizados e me fizeram perguntas que não respondi. Eu levei seu corpo até o galpão em que dormia com o Dean e... o pus na cama – sua respiração se acelerou como se estivesse revivendo tudo novamente - Uma hora depois, ele chegou e soube do ocorrido. Veio muito antes do que pretendia. Me disseram que interrompeu a missão do nada. Parece que sentiu que algo de ruim tinha acontecido com a esposa. Isso pra você ter uma ideia do quanto são... eram ligados. Cara, nunca vou esquecer a expressão dele quando entrou, a viu morta e estendida sobre a cama. Parecia que o mundo tinha acabado pra ele. Me pegou pela gola, me encostou na parede e me obrigou a contar o que tinha acontecido. Eu disse palavra por palavra. Ele me jogou no chão, me deu vários chutes e disse que a culpa era toda minha... quase me matou, mas...desistiu. Acho que foi pela minha cara, dava pra ver como eu estava abalado. Humpf... creio que resolveu me punir me deixando vivo. – suspirou – A gente pensou que ele fosse se matar porque ficou sozinho o resto do dia e virou a madrugada velando o corpo dela e se recusando a falar com qualquer pessoa ou sair. Depois... na manhã do outro dia, ele saiu e ordenou que ninguém fosse atrás dele e nem mexesse no corpo dela. Mas eu o segui sem que soubesse. Temia que fizesse alguma besteira. Se afastou bastante do acampamento e pensando que não havia ninguém por perto, gritou "sim" para Miguel várias vezes. Acho que ficou quase uma hora gritando e vendo para todos os lados se Ele aparecia, mas... não obteve resposta. Era tarde demais – falou com pesar - Ele parou de berrar e ficou um bom tempo calado olhando para o nada. Eu esperei por alguma reação violenta, mas aí ele voltou pro acampamento. Entrou de novo no galpão e logo saiu carregando Victoria, me chamou, me entregou o corpo e mandou que o cremasse junto com tudo o que foi dela. Mandou queimar até a cama de casal e proibiu qualquer um de mencionar o nome dela no acampamento. Se alguém o desobedecesse seria morto ou expulso de lá. Pensaram que ele tinha enlouquecido, mas eu entendi o que estava fazendo... ele decidiu acabar de vez com Satanás mesmo sem a ajuda de Miguel e precisava se focar nisso. Por isso, queria esquecer, anestesiar a dor e o único jeito era não pensar, nem ouvir e falar da esposa. Resolveu então continuar as buscas pela Colt.

– E... desde então... tem sido assim?

– É. Nada mais e nem ninguém o motiva. Acho que só o sentimento de vingança. Naquele dia da morte da Victoria, não era só ela que ele perdia, mas a certeza da salvação para Sam.

Aquele assunto estava deprimindo o loiro, por isso, procurou mudar o tópico da conversa:

– O que aconteceu com Bobby?

– Saiu do acampamento logo depois da cremação da Victoria e voltou para casa. Era... muito afeiçoado a ela e ficou bastante abalado com sua morte. Os caçadores tentaram impedi-lo, era uma loucura ele ficar sozinho com a ameaça do Croatoan espalhada, mas ele estava decidido.

– Nem o Dean, quer dizer, meu Eu conseguiu convencê-lo?

– Não. Ele não fez nada, entendia os motivos do Bobby e ordenou que o deixássemos partir. Não tivemos notícias durante uns sete meses. Até que com o alastramento do vírus, o resto da humanidade foi varrido do globo. Daí, convencemos o Dean que deveríamos tentar reunir quantos sobreviventes e caçadores pudéssemos pela região, inclusive trazer o Bobby de volta mesmo que fosse obrigado. Ele formou um esquadrão de busca que encontrou o Bobby em casa sob os efeitos do vírus. Eu estava com eles. Dean atirou nele sem dó em sua cadeira de rodas e mandou que queimassem o corpo no quintal.

– Ele teve coragem? – estava boquiaberto – Matou o Bobby?

– Não havia mais nada a se fazer por ele. E o Dean não acreditava que houvesse alguma chance de salvá-lo. Tudo o que importa pra ele é destruir o mal que encontrar pela frente até conseguir sua vingança contra o diabo.

– E os outros? Ellen, Rufus, Jo...

– Todos mortos pelos demônios ou pelo vírus. Somos poucos agora – deu uma risada amarga – Entende agora como me sinto? Não tenho mais nada em que acreditar e... vivo só com esse sentimento de culpa.

– Cass... – o Winchester pretendia negar aquela culpa do amigo

– Por que não me enterrar em mulheres e decadência? – cortou Castiel – É o fim, querido! É para isso que serve a decadência. Por que não bater uns gongos antes do fim? Mas... esse é o meu jeito.

Como o ex – anjo se calasse bruscamente, Dean achou que havia encerrado o relato e não fez mais nenhum comentário. Contudo, as palavras finais de Castiel lhe deixaram intrigado:

– Sabe, o que é mais estranho? Victoria não fez nada para se defender de Lúcifer. Ela simplesmente ficou paralisada. Eu escutei até ela dizer "Você?" como se tivesse encontrado algum conhecido. Mas ela nunca conheceu Sam, não sabia como ele era e nem mesmo viu uma foto dele. – sua expressão facial estava meditativa – E é estranho também que... o diabo pareceu hesitar em matá-la. Ficou olhando pra ela um longo tempo... como se algo dentro dele se recusasse a acabar com a vida dela.

- 0 –

Dean não perguntou mais nada a Castiel, embora não deixasse de pensar naquela revelação (perturbadora, por sinal). Não. Era absurdo! Victoria Collins e ele? Pois sim! Era como querer unir um anjo e um demônio! Se bem que não saberia dizer qual dos dois seria o demônio e qual o anjo.

Seu amigo estava delirando. Ou talvez não. Zacarias havia insinuado algo... e seu Eu futuro... aquela última conversa entre eles... Não! Definitivamente, não pensaria em tal possibilidade e acabou por afastá-la do pensamento para dormir enquanto Cass dirigia.

Despertou pela manhã, pouco antes de chegarem nos arredores do Condado Jackson; estacionaram algumas quadras do lugar exato em que Lúcifer estaria para não chamar a atenção com os ruídos dos motores. Caminharam pelas ruas com o máximo cuidado para não topar com nenhum crote ou demônio.

Por fim, chegaram a um sanatório abandonado; lá era o lugar. Todos se reuniram e ocultaram-se olhando a frente do prédio através de uma cerca. Deveriam esperar a ordem do Dean futuro para entrarem e invadirem o segundo andar onde estariam os demônios e os crotes. No entanto, havia dúvidas se a instrução dele era precisa. Este, no momento, conversava meio distante com sua versão de 2009.

– Diga-me o que está havendo – exigiu Dean

– O quê? – perguntou seu Eu

– Eu te conheço. Está mentindo pra eles e pra mim.

– É mesmo?

– Sim. Conheço suas expressões de mentira. Eu já as vi no espelho. Está escondendo algo.

– Não sei do que está falando.

– Jura? Não pareço ser o único com dúvidas. Então levarei minhas dúvidas pra eles.

– Espera aí.

– O que é?

– Olhe ao seu redor. Esse lugar deveria estar cheio de crotes. Cadê eles?

– Eles liberaram o caminho pra nós. Ou seja, isto é uma armadilha.

– Exato.

– Então não podemos ir pela frente.

– A gente não vai. Eles vão. Eles são iscas. Nós dois vamos pelos fundos.

– Vai colocar os seus amigos em um moedor de carne? Até o Cass? Quer usar suas mortes como distração? Ah, velho, algo está quebrado em você – estava pasmo consigo mesmo. – Isso tudo por causa de uma simples mulher? – tornou com desdém – Uma maluca que se entregou de bandeja pra morte?

Foi o suficiente para o outro puxá-lo pela gola e apontar uma arma em sua cabeça. O olhar dele era assassino.

– Nunca mais em tempo algum se atreva a falar qualquer coisa contra a Victoria. – falava baixo, mas continha uma fúria reprimida. Seu corpo até tremia.

– Vá em frente – desafiou Dean – Assim vai nos poupar de dores futuras.

O Dean futuro o soltou e guardou a arma. Ainda estava sob forte emoção, porém, não demonstrou em seu tom de voz:

– Vejo que Cass te distraiu falando sobre mim… e ela.

– Acredite, não foi um romance que eu tenha gostado de ouvir.

O outro soltou um riso curto.

– Pode desdenhar o quanto quiser, mas quando descobrir quem ela é... não vai ficar com essa pose toda. Você vai me entender.

– Espero que não. – devolveu com indiferença – Qualé, cara? Cass não já pagou suficiente pelo que aconteceu? Ele só estava querendo te proteger ao tentar ajudá-la.

– Ele desobedeceu a uma ordem minha e agiu pelas minhas costas! Era ela a quem deveria ter protegido!

– E se culpa o tempo todo por isso! Olha só no que ele se tornou. E mesmo assim, quer se vingar dele o mandando para a morte?

– Não se trata de vingança. Se trata de sacrifício por um Bem maior. No fim, estou fazendo um favor a ele.

– E os outros? Também está fazendo um favor a eles?

Como o outro não lhe respondesse, continuou:

– Eu nunca tomaria decisões assim. Não sacrificaria meus amigos.

– Tem razão. Você não sacrificaria. É uma das principais razões de estarmos nessa bagunça.

– Eles contam com você, confiam em você.

– Confiam em mim para matar o diabo e salvar o mundo, e é exatamente o que vou fazer.

– Não, não dessa forma. Não vou permitir.

– É mesmo?

– Sim.

Um soco bem forte de seu Eu futuro o desacordou.

Quando despertou, não havia mais ninguém por perto; nem seu Eu, tampouco os demais. A cabeça ricocheteou ao se erguer. Dean sabia que tinha uma grande força; seus golpes eram certeiros ao atingir os adversários, porém, nunca imaginou que o comprovaria recebendo um golpe de si próprio.

Assim que se recuperou, correu para o sanatório, mas já era tarde; viu o barulho das metralhadoras no segundo andar e faíscas; depois não escutou mais nada. Foi atrás do seu nos fundos do pátio do prédio.

Quando chegou, também era tarde para seu Eu; apenas se vislumbrou ao chão e seu pescoço sendo esmagado por Lúcifer... no corpo de Sam. Ele ficou aterrorizado ao contemplá-lo assim que o Arcanjo se virou; este demonstrou uma leve surpresa no rosto ao vê-lo ali parado observando, mas sem mostra alguma de temor ou zanga.

- Olá, Dean – disse num tom como se acabasse de rever um velho conhecido – Mas que surpresa – desapareceu das vistas do Winchester e reapareceu atrás dele. O caçador tomou um susto – Veio de longe para ver isso, não foi?

- Bom, vá em frente – o caçador se afastou, mas não demonstrou medo – Mate-me.

- Matar você? – olhou para o cadáver do Dean futuro – Não acha que seria um pouco redundante? – suspirou – Desculpe. Deve ser doloroso falar comigo nessa forma. – aproximava-se, mas Dean não recuou – Mas tinha que ser o seu irmão. Tinha que ser. – fez menção de tocá-lo, mas o Winchester tirou o ombro – Você não precisa ter medo de mim, Dean. O que você acha que vou fazer?

Lúcifer se afastou, mas continuaram “a conversa”. Bom, foi mais um monte de asneiras que escutou dele ao se justificar por ser a criatura perversa que era e, por sua vez, fazer ameaças e insultos ao Diabo. Não se importava se o arcanjo investisse contra ele ofendido por suas palavras, porém, Lúcifer nem deu mostras de aborrecimento; ao contrário, parecia se divertir como se escutasse uma criança birrenta e ainda teve o descaro de dizer que “gostava dele”. E depois de garantir que era inevitável o encontro deles e tudo terminar da mesma forma, não importava os detalhes que o Winchester pudesse mudar, desapareceu.

De repente, Zacarias surgiu e tocou-o na testa, levando-o de volta ao quarto 113, do Hotel Century, na cidade de Kansas. O anjo o encarava com sua expressão irônica e superior.

– Se não é o fantasma do Natal que me sacaneou – falou o Winchester com sarcasmo

– Já chega, Dean, já chega. Você viu, né? Viu o que acontece. É o único que pode provar o contrário ao diabo. Só diga "sim".

– Como vou saber que isso tudo não é um dos seus truques? Um abracadabra angelical?

– O tempo para truques acabou. Entregue-se a Miguel – falou com autoridade – Diga "sim" para podermos atacar! Antes de Lúcifer chegar até Sam. Antes que bilhões morram! – deu um sorriso irônico – Antes que você tenha chance de conhecer a Indomável e ter sua cabeça virada por ela.

O Winchester tremeu de raiva por aquela provocação. Ficou em silêncio por uns instantes até que replicou:

– Nem.

– Nem? Ainda não aprendeu a lição?

– Aprendi uma lição, sim. Mas não é a que queria ensinar.

Zacarias começou a ameaçá-lo, mas antes que fizesse qualquer movimento, Dean saiu de lá. O Winchester se viu no meio de uma rodovia e atrás dele estava Castiel. Felizmente, o anjo era pontual no horário que haviam combinado de se encontrar. O Winchester ficou feliz de vê-lo não somente por ter se livrado de Zacarias, mas também por Cass ser o mesmo e habitual anjo nerd e sério. Em seguida, ligou para Sam, encontraram-se e desde o dia anterior estavam juntos.

- 0 –

Do seu Impala, Dean voltou a contemplar o parque. Pessoas começavam a aglomerar, principalmente crianças; havia vida ali. Suspirou aliviado.

Não contou para Sam tampouco para Castiel sobre o futuro apocalíptico, embora o irmão ficasse intrigado por ele ter mudado de ideia. Aquilo ainda o perturbava; foi tão real quanto seu presente ou mesmo as viagens para o passado em que Cass o levou.

As imagens e sensações do que viveu e presenciou lhe voltaram à mente como se as revivesse num loop: desde o momento em que contemplou a cidade de Kansas num total abandono e caos até o momento em que confrontou Lúcifer no corpo de seu irmão.

Entretanto, o que mais o inquietava de toda aquela experiência surreal não foi a dizimação da humanidade pelo alastramento do vírus Croatoan, nem mesmo o fato de saber como Sam ficaria se fosse possuído por Satanás e tampouco o homem frio e insensível que ele, Dean, se tornaria. Ah, e é claro, o mero detalhe de Castiel se tornar um simples humano chapado e devasso. Não. Naquele momento aquelas descobertas não mais o perturbavam, mas sim outra inimaginável. Aquela mulher. Victoria Collins.

Sim. Victoria Collins, a Indomável. A mulher que nenhum homem conseguia conquistar e nem mesmo levar para cama.

Dean escutou histórias sobre ela, poucas coisas, mas o suficiente para se ter uma ideia. Sobre a vida pessoal da mulher, quase nada se sabia: apenas que era filha de uma lenda, o ex-caçador Jack Collins, que sem explicação abandonou aquela vida de perigos para se juntar a uma mulher de cuja procedência ninguém sabia. Durante muito tempo, não se soube do paradeiro do homem nem se estava vivo ou morto até o aparecimento de sua filha. Em poucas palavras, um dia, declarou para quem quisesse ouvir que o pai estava morto sem maiores detalhes.

Victoria nunca falava sobre si ou a família, aliás, não era de muita conversa pelo que diziam. Era famosa por ser uma caçadora tão eficiente quanto foi o pai e, diziam, por quebrar narizes dos outros caçadores simplesmente se algum deles lhe dirigisse alguma cantada ou um elogio. Alguns comentavam que devia ser lésbica e outros até sugeriam que era virgem, pois a mulher parecia ter antipatia e hostilidade de qualquer homem que tentasse se aproximar.

Contudo, todos eram unânimes em afirmar que era a caçadora mais linda e sensual que conheciam. Não havia quem não ficasse fascinado com sua beleza. E por causa disso, também se espalhavam histórias de que sua mãe devia ser uma bruxa que lhe ensinou como fascinar os homens e de que a própria havia encantado Jack Collins a ponto de ele ter abandonado a caça aos entes sobrenaturais.

Esses eram os relatos que chegavam aos ouvidos de Dean. Normalmente, ele ficaria muito interessado em conhecer tal lenda, tal mulher. Ela parecia um desafio à sua masculinidade. Preferia mulheres descomplicadas, todavia, também gostava de uma dificuldade, um mistério.

Entretanto, por uma razão inexplicável, o Winchester sentia um medo irracional desta mulher desde que ouvira comentários sobre sua pessoa. Era uma angústia, uma inquietação que tomava conta dele à simples menção do nome dela. Procurava até desconversar sempre que alguém começava a falar da moça.

Ele não entendia porque reagia assim. Se alguém soubesse desse seu medo, principalmente seu irmão, era capaz de vir zombarias do tipo "o grande terror das mulheres tinha terror da Indomável". Porém, agora sabia o motivo: eram seus instintos que o alertavam do perigo que a tal mulher representava para ele, ou melhor, representaria. Ela era a sua perdição, ou pelo menos a do seu Eu futuro. Isso ficou claro nas revelações que teve em sua viagem no tempo.

Ela quem causaria a destruição da sua integridade, a frieza em não se importar em colocar quem quer que fosse no tiroteio apenas para se vingar. Mas estava certo de uma coisa: não queria se tornar aquele homem frio e insensível capaz de sacrificar os amigos e mandá-los como isca numa emboscada.

Muito menos pretendia matar à queima roupa alguém tão importante como Bobby, quase um pai, só por não haver uma chance de salvá-lo de um vírus. Ele nunca desistiria de pelo menos tentar, de buscar alguma esperança.

Quem disse que uma mulher pode destruir um homem, com certeza foi um grande sábio. Maldita Collins! E pobre Castiel!

Havia ficado daquele jeito por culpa daquela mulher. Por sua irresponsabilidade em não obedecer ao comandante e marido e fazer com que o ex-anjo carregasse o fardo de sua morte na consciência.

Bem, se dependesse dele, aquele futuro nunca aconteceria. Não permitiria que a tal Collins bagunçasse sua vida e sua mente. E muito menos que transformasse seu amigo anjo num bagaço de homem.

Droga! Agora a maldita não saía de sua cabeça. Não sabia nem como era. Devia ter insistido com Cass e descoberto como, quando e onde a conheceria. Assim, evitaria aquele desastre tal como pretendia evitar se separar do caminho do irmão e impedir que este caísse nas lábias de Satã.

No final das contas, Zacarias lhe prestou até um favor ao mandá-lo para 2014. Havia o alertado desse perigo. Talvez devesse ter agradecido pelo menos isso ao bastardo, apesar da zombaria dele em vê-lo “se corromper” por causa de uma mulher, ainda mais aquela.

Só faltou Lúcifer a mencionar, já que foi ele quem a matou. Mas talvez o último houvesse mostrado um pouco de piedade e achado que era dor suficiente para ele contemplar o irmão possuído diante de si, além da própria morte. Riu por aquela ideia.

De qualquer forma, nada daquilo aconteceria. Nem vírus Croatoan, nem Castiel aos pedaços, nem Bobby morto, nem Sam possuído e, muito menos... Victoria Collins em sua vida.

Podia ser arrogância, mas ele estava decidido a comandar seu próprio destino e fazer tudo diferente do que lhe insistiam em afirmar.

O primeiro passo estava dado: retomaria as caçadas com o irmão e combateria o fim do mundo; não seria fácil, havia aquela mágoa ainda em seu peito pelas ações de Sam, contudo, o loiro passaria por cima daquilo.

Talvez fosse uma maneira também de evitar cruzar com a Indomável. Como Castiel lhe contou que seu Eu conhecia a dita cuja por estar sozinho, longe de Sam, então significava que aquele passo, aquela decisão de reencontrar seu irmão mudava os rumos que o teriam levado até a caçadora.

Todavia, procuraria estar atento a qualquer pista, a qualquer evidência que indicasse os caminhos que Collins percorria para justamente evitar encontrá-la. E já que estava indo até Bobby a pedido deste, aproveitaria e perguntaria ao velho caçador informações sobre a tal mulher.

Estaria preparado. Seu futuro lhe pertencia e estava decidido. Não conheceria Victoria Collins, nunca a amaria e jamais seria dominado por tal mulher. Nunca o foi por nenhuma, não o seria por aquela maluca.

Ou ele não se chamaria Dean Winchester.


Notas Finais


E será que Dean vai mesmo conseguir resistir a essa mulher? Confiram nos próximos capítulos. Ah! Lembrando que a temporada se passa no ano de 2009. Então essa história acontece entre este ano e o de 2012.

O título do capítulo faz referência ao filme brasileiro "O homem do Futuro", com Wagner Moura.

Até mais!


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