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História Almas Trigêmeas - A lenda do cavaleiro sem cabeça (2 parte)


Escrita por: jord73

Notas do Autor


Olá, pessoal! Como estão? Sei que disse não demoraria, mas contratempos acontecem.


E sem mais demora, divirtam-se!

Capítulo 7 - A lenda do cavaleiro sem cabeça (2 parte)


Fanfic / Fanfiction Almas Trigêmeas - A lenda do cavaleiro sem cabeça (2 parte)

Anteriormente:

O capataz apontou o dedo em direção a um morro da fazenda. No alto, estava um cavalo de cor negra de aspecto sombrio e, montado nele, um homem trajado à moda norte-americana do século XVIII. Segurava um machado de aço pontiagudo e afiado. E a estranha aparição não tinha cabeça!

Richard sentiu o sangue gelar assim como os demais homens que estavam com ele.

(...)

– Então Hollywood resolveu fazer uma nova versão de Sleepy Hollow? Uau! – exclamou o rapaz da recepção do necrotério que era novato no emprego.

Diante dele, estavam Victoria Collins e os irmãos Winchesters. Passavam-se por produtores de Hollywood.

(...)

William estreitou os olhos. Dirigiu suas últimas palavras a Brian:

– Numa próxima, Thompson, numa próxima você não vai se dar tão bem.

– Espero que você seja o próximo Schmidt a ser morto pelo cavaleiro sem cabeça – esbravejou Brian se soltando do abraço de Katharina

(...)

– Houve mais uma morte provocada pelo cavaleiro faz quase uma hora. É melhor a gente ir pra lá.

– Quê? - a moça se sentou no sofá sem se importar em descobrir o decote da camisola para Sam – Quem foi?

– Não sei direito. Dean e eu ouvimos uma movimentação pelo hotel e um dos agentes federais informou que parece que foi com o jovem William Schmidt numa discoteca da Vila.

Capítulo 6

A lenda do cavaleiro sem cabeça (2ª parte)

O estacionamento da discoteca estava cheio de agentes do FBI. Vários jovens que ainda estavam por lá tentavam se aproximar para ver o corpo degolado, contudo, eram impedidos. Havia uma faixa que circulava todo o local. Apenas os donos dos automóveis tinham permissão de entrar e pegarem seus veículos, desde que acompanhados por algum federal.

Russell Davis comandava a operação; havia acabado de tomar o depoimento dos três rapazes sobreviventes do ataque do cavaleiro sem cabeça. Foram unânimes em afirmar que sem dúvida era o fantasma, sobretudo, o que esteve próximo da vítima.

– Que cavaleiro que nada. Você só é um camarada louco, sádico e de muita sorte – disse baixinho para si mesmo enquanto lia mais uma vez o que anotou dos depoimentos.

Passava a mão pelos cabelos curtos e pretos. Aquele "fantasma" estava lhe roubando as noites de sono e o sossego.

– Agente Davis!

A voz suave e aveludada de Victoria era música para seus ouvidos, ainda que, a princípio, julgasse estar ouvindo demais devido ao cansaço.

– Agente Davis!

Dessa vez, não teve dúvidas e virou-se na direção do som. Atrás da faixa estava Vic com os irmãos Winchesters impedidos de passar por alguns federais.

Russell estranhava a presença “dos produtores” àquela hora tão tardia e naquelas circunstâncias. Mesmo assim, aproximou-se deles. Dirigiu-se primeiro à Collins com seus olhos castanhos penetrantes e um sorriso sedutor.

– Senhorita Ryan – depois voltou um olhar nada amistoso para os dois acompanhantes da mulher – Senhores Fox e Lee.

– Como vai agente? – Sam tentou ser simpático

– E aí, cara? Já caiu cedo da cama? – falou Dean com menos simpatia na voz

– E parece que não sou o único – retrucou Davis – O que fazem aqui tão cedo?

– Nós... ouvimos uma agitação do hotel causada por seus agentes – respondeu Victoria – Soubemos que houve mais uma vítima do... cavaleiro sem cabeça. E resolvemos vir aqui.

– Por causa do seu filme? Querem mais material para sua história de ficção? – tornou com desdém – Sabe, senhorita Ryan, sempre soube que Hollywood era podre por dentro e feroz, mas não imaginava o quanto ao se aproveitar da desgraça alheia.

– Não é bem isso. – tentou se explicar sem desmentir o que o agente achava – É que nós ouvimos que William Schmidt tinha sido morto e como o conhecemos na mansão dos Tassel, apenas queríamos...

– Senhorita Ryan, pra sua informação, não foi William Schmidt a vítima do tal fantasma.

– Não? – perguntou Sam

– Foi o primo dele, Harry Schmidt. Os dois estavam juntos e... parece que o fantasma queria matar o jovem William, mas pegou o primo dele.

– Como assim?

– Foi o que o rapaz disse. O cavaleiro quase o pegou, mas parece que o primo dele se jogou na frente para salvá-lo e foi morto. Veem? Isso prova que o fantasma é alguém de carne e osso e que não é infalível já que errou o alvo. E também parece escolher suas vítimas a dedo.

– Podemos falar com o William? – tornou Victoria

– Receio que não, senhorita. O rapaz parece bastante abalado e já sofreu muito ao testemunhar a morte do primo. Foi um custo conseguir um depoimento coerente dele. Não vou submetê-lo a uma mórbida curiosidade de Hollywood.

– Agente Davis, por favor, é importante, eu...

– E é só, senhorita. Lamento, aprecio a sua companhia... mas não misturo as coisas. Se quiser falar comigo em caráter pessoal, ficaria encantado – deu uma piscada para a moça. Se olhar matasse, os Winchesters teriam assassinado Davis naquele momento – Caso contrário, nossa conversa acaba por aqui. Queiram se retirar, por favor.

– Escute aqui, seu energúmeno! – vociferou Dean – A gente tem mais direito de estar aqui do que toda a sua tropa! Você não sabe com o que está se metendo!

– Ah, e por acaso, vocês “mestres da ficção e efeitos especiais” sabem alguma coisa que eu desconheça? – Davis mexeu os braços numa tola imitação de fantasma; depois, voltou assumir postura séria – Vocês fazem suas porcarias e as enfiam goela abaixo nas nossas mentes. Este é o seu trabalho. O meu é lidar com a realidade.

O Winchester ia retrucar aquela insinuação, porém, Collins o deteve com o braço na mesma hora.

– Tudo bem, agente Davis. Não queremos confusão. – disse ela – Nós já vamos

– Sábia decisão – tornou o federal

Os três deram meia-volta. Dean ainda ficou algum tempo olhando para trás e encarando Russell com desafio; o outro sustentava o olhar.

Quando se afastaram a uma boa distância, o Winchester olhou para frente. Collins parou e os dois rapazes também. Ela se voltou para o mais velho:

– O que é que você tem na cabeça, hein, Winchester? Merda?

– O que disse?

– É isso mesmo que você ouviu. Que maneira foi aquela de falar com o Davis? Quer estragar nosso disfarce? Porque se for, você está no caminho certo.

E sem esperar resposta, foi até onde estava seu Impala branco. O moço abriu a boca várias vezes querendo achar palavras para retrucar, mas nada saía. Sam passou por ele, balançou levemente a cabeça para cima e para baixo e dirigiu-lhe uma expressão de como quem diz "Ela está certa".

Dean soltou um longo suspiro, olhou para baixo, contou até três e, em seguida, levantou a cabeça e andou a passos rápidos para alcançar Sam. Entraram no velho Impala preto.

Ao chegarem ao Hotel, encontraram Marta Thompson ainda acordada àquela hora da madrugada. Estava no saguão e parecia esperá-los. Trajava um roupão azul e por baixo vestia um pijama.

– E então? É verdade mesmo que o Bill Schmidt está morto?

– Não... não foi ele, mas o primo dele, Harry – Victoria notou que Marta estava com sua costumeira corrente que usava em volta do pescoço, só que, dessa vez, ostentava o pingente para fora. Era como um pequeno medalhão com um estranho símbolo que Collins não conseguiu distinguir direito.

Ao notar que a caçadora observava seu pingente, Thompson tratou de escondê-lo rápida debaixo de seu roupão.

– Coisa horrível, né? – tentou despistar com um sorriso, mas seu tom de voz não era muito convincente. Parecia desapontada por Bill não estar morto – Acho que vou voltar a dormir. Daqui a pouco tenho que levantar cedo. Boa noite.

E tratou de subir as escadarias deixando os caçadores intrigados.

– 0 –

Na manhã seguinte, os três estavam na biblioteca realizando algumas pesquisas, ou melhor, Sam e Vic que se debruçavam em vários livros e documentos antigos enquanto Dean se espreguiçava sobre o encosto da cadeira. Estava entediado; até leu algumas pesquisas, mas logo se cansou.

Tamborilava os dedos sobre a mesa até que Collins levantou a cabeça do livro que segurava e dirigiu-se a ele:

– Será que minha leitura silenciosa está te incomodando?

– Não. – ele arqueou uma sobrancelha tentando entender o que Collins dizia

– Então dá pra você parar de bater seus dedos na mesa? Estou tentando me concentrar.

– Claro – disse com os dentes cerrados enquanto parava o gesto – Foi mal. Não quis perturbar "sua concentração".

Collins lhe deu um olhar gélido e voltou à leitura. Enrolou seu dedo indicador e médio numa mecha do cabelo preto e começou a fazer um gesto repetitivo de descer e subir a mecha enquanto lia. A irritação de Dean se dissipou; sentiu uma leve comichão na virilha. Aquele gesto de Collins era natural e sem intenção alguma e, por isso mesmo, sensual.

Como uma mulher tão irritante conseguia ser tão irresistível ao mesmo tempo?

Quanto a Sam, olhou com o rabo do olho para Collins. O gesto dela também atraiu a atenção dele. Notou que Dean estava vidrado em Victoria que, concentrada na leitura, não percebia. Ou pelo menos não parecia. Sam se incomodou com aquele olhar do irmão sobre "sua Fada"; balançou a cabeça para os lados e voltou sua atenção para o volume que segurava. Era um livro velho de capa dura e páginas bastante amareladas pelo tempo. Tratava-se de uma biografia local e bem antiga de Washington Irving, criador da história e do personagem do cavaleiro sem cabeça.

Ao virar a próxima página, o Winchester viu a reprodução de um retrato de uma jovem de cabelos loiros e olhos azuis. Tinha uma aparência angelical num semblante melancólico. Não sorria. Abaixo da figura, havia uma legenda com seu nome: Catriena Ecker Van Tessel. Na página seguinte, um breve resumo sobre ela:

 

Catriena Ecker Van Tessel era uma habitante de Sleelpy Hollow. Irving poderia ter se baseado em sua pessoa para compor a personagem de Katrina Van Tassel, embora muitos autores acreditem que tenha sido Eleanor Van Tassel Brush, sobrinha de Catriena, por ser mais contemporânea do autor.

Pouco se sabe sobre sua vida, todavia, conta-se que tal como a personagem do livro era muito disputada por vários pretendentes da época devido à sua riqueza e beleza. Entre esses pretendentes, estaria Edward Thompson e Alan Schmidt, membros de duas das três famílias mais antigas de Sleepy Hollow.

– Victoria! Dean!– Sam os chamou e mostrou o que lia – Olhem aqui!

– E a história se repete! – Dean falou num tom solene e dramático, depois soltou um breve riso – Parece que a tal Katharina não é a primeira Tassel a ser disputada por um Thompson e um Schmidt.

– Aqui não confirma se de fato é verdade. É apenas uma...suposição

- Mesmo assim já é um começo – replicou Collins – E pela semelhança do nome com a personagem do conto, tudo é possível. Eu vi o nome dela aparecer também em uma ou outra página de pesquisa da internet. Mas não falava quase nada sobre ela, era mais sobre a Eleanor.

– É, e os nomes desses caras talvez reduzam a nossa busca pela identidade do cavaleiro sem cabeça. Mas acho que pela data em que viveram, não creio que tenham registros sobre eles aqui ou mesmo na delegacia da cidade, se houve um crime. Um registro tão antigo de óbito, se existir, deve estar no Arquivo Público da Vila.

– Então... imagino que nossa busca aqui na biblioteca tenha terminado – Dean se levantou – Vamos pra esse tal Arquivo?

– Sim – respondeu Collins – E depois vamos procurar William Schmidt. Precisamos ouvir o que ele tem a dizer sobre a morte do primo e essa história de que era ele o verdadeiro alvo do fantasma.

O Arquivo Público de North Tarrytown era apenas a algumas quadras distantes da biblioteca local. Victoria, Dean e Sam mais uma vez utilizaram suas identidades de produtores para terem acesso aos arquivos. A arquivista do local ficou entusiasmada pela possibilidade de contribuir na participação das pesquisas do "filme". Àquela altura, os supostos produtores já eram novidade por toda a localidade. Tanto que um ou outro repórter dos que estavam no local quis entrevistá-los para saber do projeto, porém, eles desconversavam.

Depois de virarem e revirarem registros de óbitos que datavam de poucos anos após o fim do conflito entre Estados Unidos e Inglaterra, finalmente acharam um arquivo bem antigo datado do ano de 1800, com o nome de um dos supostos pretendentes de Catriena Ecker Van Tessel, redigido à mão em letra bem rudimentar por alguma autoridade local da época e com a informação que mais interessava aos três:

 

Nome: Edward Thompson

Causa mortis: Decapitação

Ano: 1800

 

– Te pegamos, filho da mãe! – exclamou Dean para o arquivo que Victoria encontrou e mostrava – É, agora é só achar o túmulo e tacar fogo no negócio!

– Um momento, Winchester. Não vamos nos precipitar – retrucou Collins – Quero também ver o óbito do outro cara que é citado naquela biografia da Catriena.

– Mas pra quê? Já matamos a charada! Ou você acha que o outro também morreu do mesmo jeito?

– Quem sabe? É um palpite que tive.

– Victoria tem razão, Dean – concordou Sam – Só por garantia... vamos também procurar algo sobre Alan Schmidt. Pode haver alguma relação.

– Pô, qual é, Sammy? Tá a fim de mais trabalho?

– Não me chame de... Sammy. – o homem trincou os dentes e dirigiu um olhar assassino ao irmão. Não queria que Victoria soubesse daquele apelido que o fazia se sentir um otário.

– Sammy? É o seu apelido? – indagou Collins

– É! Não! – responderam Dean e Sam ao mesmo tempo.

– Na verdade é – Dean ignorou a expressão de desagrado do irmão – Só que ele não gosta de ser chamado assim.

– Ah, tá – Vic deu de ombros e fingiu não dar importância, mas achou o apelido meigo e doce como o próprio Sam. Voltou sua atenção para uma pasta grossa de documentos antigos na qual acharam o óbito de Edward, pegou alguns e repartiu os outros entre os dois companheiros – Vou examinar esses papéis. Verifiquem se nesses aí está o óbito do Alan.

Não demorou e logo encontraram o documento que atestava a morte de Alan Schmidit também por decapitação.

– Ih, e agora? – indagou Dean – Parece que temos dois prováveis candidatos a cavalheiros. Mas... eu continuo apostando no Thompson.

– Não seja tão precipitado. Repare bem... o Alan foi morto seis meses antes do Edward.

– E daí?

– Use a cabeça, Winchester. Pelo que lemos naquela biografia, Catriena tinha dois pretendentes, provavelmente que eram rivais entre si e coincidência ou não, membros de duas famílias que até hoje parecem ter uma rixa. E tudo pode ter se originado desta época. Talvez o Edward tenha matado o Alan Schmidt e depois, o fantasma dele voltou e se vingou matando o Thompson.

– Certo, "gênia", mas então porque o Alan se voltaria contra sua própria família, os Schmidts?

–Isso já é outra questão pra se resolver depois.

– De qualquer jeito, acho que só por precaução deveríamos queimar os corpos dos dois – tornou Sam – Vamos dar uma olhada no cemitério local e ver se achamos as lápides deles.

– Podemos fazer isso, mas sinceramente acho que não vai adiantar muito.

– Por quê?

– É só um palpite, mas acho que não vamos encontrar as cabeças de nenhum deles nos túmulos. E isso significa que se não queimarmos os corpos por inteiro, o fantasma seja de quem for não vai desaparecer.

– Você é cheia dos palpites, hein? – Dean emulou um sorriso charmoso

– Chame de intuição feminina – ela quase sorriu para ele – Mas quanto à identidade do fantasma, talvez a arquivista saiba de algo. Vamos perguntar pra ela.

Foram até a mulher que terminava de catalogar mais uma remessa de arquivos recebidos. Era baixa, corpulenta sem ser gorda e os cabelos grisalhos. Os olhos eram castanhos escuros por trás dos óculos. A ausência de aliança na mão esquerda indicava seu estado civil. Assim que os três caçadores se aproximaram da mesa onde ela estava, levantou-se toda solícita disposta a atendê-los.

– E então? Encontraram o que queriam?

– Sim. Temos bastante informação para reproduzir o panorama histórico da época. – afirmou Collins com sinceridade ao sorrir

– Ah, isso me deixa muito satisfeita! Espero que esta versão que vocês forem fazer do filme seja mil vezes melhor do que a última.

– Pode apostar que sim. A propósito, a senhora poderia esclarecer uma dúvida minha?

– Com certeza, pergunte.

– O que sabe sobre Alan Schmidt e Edward Thompson?

A mulher quase deixou a pasta que carregava cair no chão.

– Desculpe, eu... eu não sei nada sobre o assunto – tentou desconversar e desviou os olhos de Victoria.

– Eu pergunto porque é importante. Por favor, não teria como a senhora...

– Estou muito ocupada. Podem me dar licença?

Victoria pretendia insistir de alguma forma, entretanto, Sam se adiantou. Olhou de modo terno para a senhora e colocou a mão sobre um dos ombros dela enquanto lhe dizia com voz aveludada:

– A senhora está bem? Parece um pouco pálida.

– N... não, meu jovem. Impressão sua.

– Quer que eu pegue uma água?

– Não... não se incomode – ela pareceu relaxar.

– A senhora nos desculpe se fomos inconvenientes, mas é... que precisávamos mesmo saber. Não sabe o préstimo que nos faria se pudesse nos dar essa informação.

– Eu... não sei se deveria. São informações... muito confidenciais.

– Seria tudo em nome da arte, por um filme que tem tudo pra ser um sucesso, uma obra-prima sobre TarryTown.

– Bom, eu... – o moço estava quase a convencendo

– Claro que não queremos prejudicá-la. Se a senhora não puder nos ajudar, entendemos – disse com uma expressão de cachorro sem dono

Dean conteve o riso diante daquela expressão do irmão. Quanto a Collins, arrepiou-se ao contemplar o olhar daquele homem. Era tão fatal quanto um olhar quarenta e três, e tão doce e súplice que a arquivista não resistiu e desembuchou:

– Quer saber de uma coisa? Que se dane! Richard Schmidt está morto mesmo e não me mete mais medo! Vou contar tudo o que sei – falou num tom nada profissional e olhou para os lados a fim de verificar se algum dos estagiários que trabalhavam ali não estavam por perto. Falou baixinho, mais próxima a Sam – Mas, por favor, essa informação não pode sair daqui e nem devem dizer que fui eu quem contou.

– Pode deixar, senhora, nós somos os maiores guardadores de segredos do mundo – tornou o moço

Com confiança nas palavras dele, a arquivista iniciou seu relato:

– Como vocês sabem, existe toda essa lenda do cavaleiro sem cabeça. Muitos acreditam que era só isso: uma lenda ou um personagem de conto publicado. Pelo menos... até esses assassinatos começarem a ocorrer. Mas antes disso, eram poucos que acreditavam que o cavaleiro realmente tivesse existido. Entre essas poucas pessoas, estavam as famílias mais antigas: os Schmidts, os Van Tassel e os Thompsons. Eu mesma achava que o fantasma era só um mito. Mas quando comecei a trabalhar neste Arquivo, descobri coisas que me fizeram mudar de ideia.

Então a arquivista lhes contou a história de Sleepy Hollow e das três famílias principais e antigas. Os três caçadores procuraram ter paciência com a mulher porque se enrolava às vezes em histórias que nada tinham a ver com o assunto em questão, até que ela chegou no ponto que lhes interessava.

Havia uma moça chamada Catriena Ecker Van Tessel. Era a única herdeira de Henrique Van Tassel Brush e a moça mais linda da região. Vários rapazes disputavam sua atenção e entre eles, estavam Edward Thompson e Alan Schmidt.

Os Thompsons eram uma família bastante abastada, mas não tinham linhagem nobre, ao contrário dos Tassel e dos Schmidts. Mesmo assim, Catriena tinha preferência por Edward. Só que Alan não se conformava em ser preterido – apesar de não haver um compromisso oficial entre o Thompson e a Van Tassel – e desafiou o rival para um duelo diante de todos.

Edward não era sujeito de brigas; ao invés disso, propôs um desafio ao Schmidt: havia na Vila uma lenda sobre um cavaleiro sem cabeça – um soldado inglês –, que havia morrido numa batalha contra os revolucionários americanos e diziam que assombrava a Vila sempre à meia noite num determinado ponto. Se Alan fosse até um certo lugar onde diziam que o fantasma ficava e conseguisse passar toda a noite por lá sem fugir, o Thompson desistiria de cortejar Catriena.

Tal declaração foi dita e aceita por todos – até pela própria moça – numa festa de aniversário da jovem. Alan aceitou e Edward disse que um grupo de pessoas averiguaria se o Schmidt estava no local por volta de uma hora da madrugada.

– Espere aí. – interrompeu Sam – Está querendo dizer que o conto do Irving é um relato verdadeiro da história desses três?

– Sim, mas as semelhanças param por aí – afirmou a mulher

O resto da história era que Alan foi ao tal lugar – um rio perto de uma ponte – conforme o combinado à meia-noite. Uma hora depois, o grupo que deveria verificar se o Schmidt ainda se encontrava no local, acharam-no morto e sem cabeça. Sobre ele inclinado e agachado, estava Edward Thompson e segurava um machado ensanguentado. O rapaz jurou que não fez aquilo; apenas queria dar um susto no Schmidt se fazendo passar pelo cavaleiro e assim ganhar a aposta, mas já o havia encontrado morto. Entretanto, ninguém acreditou e ele foi preso.

Apesar de ter sido pego no local do crime e com a arma em mãos, havia alguns indícios contraditórios de sua culpa – coisa que seu advogado conseguiu comprovar – e por causa disso, o rapaz foi libertado após um processo de cinco meses em que ficou encarcerado. Entretanto, os habitantes da Vila não se convenceram de sua inocência e ele foi proibido pelo pai de Catriena de voltar a frequentar a casa da família.

Um mês depois foi encontrado decapitado e, dessa forma, todos de Sleepy Hollow passaram a acreditar que foi a vingança do fantasma de Alan Schmidt e que, por isso, Edward realmente era o autor de sua morte. Sucessivamente, outros membros da família Thompson começaram a serem mortos da mesma forma.

Os habitantes passaram a acreditar que os Thompson estavam amaldiçoados e deixaram de fazer negócios com eles. Temiam que o fantasma de Alan se vingasse de todos aqueles que tivessem alguma relação com tal família. Com o passar dos anos, os Thompson acabaram arruinados financeiramente – já que sua reputação estava manchada. O único bem que conseguiram conservar foi a antiga mansão às custas de muito sacrifício, e que era o atual Sleepy Hollow Hotel. Por outro lado, de súbito, não foram mais encontrados mortos os membros da família, como se o cavaleiro sem cabeça houvesse desistido de continuar sua maldição.

Quanto à jovem Catriena, acabou sendo forçada pelo pai a se casar com o irmão caçula de Alan: Charlie Schmidt.

Depois de algum tempo, os próprios Schmidts e também os Tassel com sua influência proibiram os habitantes locais de comentarem sobre a maldição dos Thompson. E assim, caiu no esquecimento e a história de Alan se fundiu com a lenda local do soldado inglês - considerado o verdadeiro cavaleiro sem cabeça -, o que foi reforçado pelo conto de Washington Irving.

– É claro que Edward nunca matou o Alan! – afirmou a arquivista ao concluir seu relato – E esse negócio de maldição dos Thompsons foi um boato infeliz pra destruir aquela família. Um boato espalhado pelos próprios Schmidts. E com certeza foi feitiço de algum deles pra tirar o fantasma de sua tumba e acabar com os Thompsons.

– Em que a senhora se baseia pra afirmar tudo isso? – inquiriu Collins intrigada

– Ora, menina, eu li os arquivos, documentos, cartas e tudo que fazia menção desse caso. Sabe por que depois de um tempo os Schmidts e até os Tassel quiseram abafar essa história? Por que concluíram que o Edward não havia cometido crime algum. É claro que não fizeram uma declaração oficial. Os diários do próprio Alan foram achados alguns anos depois de sua morte e davam alguns indícios de que não poderia ter sido Edward o autor de sua morte.

– Os diários de Alan Schmidt? – interrompeu Sam – A senhora tem esses diários?

– Tenho... quer dizer, tinha – ela olhou mais uma vez para os lados

– Como assim? A senhora tem ou não tem? – indagou Dean impaciente

– É que...eles foram roubados.

– Roubados? Por quem?

– Meu jovem, se eu soubesse, os diários já estariam aqui de volta – respondeu com sarcasmo – Eu não sei... Só sei que foram roubados pouco antes dessa série de assassinatos começarem. Alguém forçou uma das janelas, entrou e saiu. Quase não dava pra perceber o arrombamento, parece que não queriam deixar rastros do roubo, mas eu sou muito observadora e noto quando algo não está do jeito que deveria estar, mesmo uma pequena coisa. Descobri que entraram aqui durante a noite, verifiquei todos os arquivos existentes e só não encontrei os diários.

– E por que alguém iria querer roubar os diários do Alan? – tornou Collins

– É que entre as confidências desse homem havia também descrições minuciosas de rituais de bruxaria – fez o sinal da cruz – O sujeito era estudioso do ocultismo e da arte das trevas. Eu não sei se ele chegou a experimentar alguma dessas práticas, mas acho que quem o matou de verdade, deve ter invocado sua alma usando um dos feitiços que estava escrito – fez uma pausa – Estão vendo? Com certeza Edward Thompson não matou o Alan. Ele não invocaria o morto a não ser que quisesse cometer suicídio e a destruição da própria família.

– E que feitiço é esse?

– Um que ensina a invocar a alma de um morto assassinado brutalmente e incitá-lo contra qualquer pessoa que se queira. Para isso, é só usar a cabeça do cadáver.

– Então quer dizer...

– Que o cavaleiro sem cabeça foi controlado na época depois de seu assassinato e está sendo controlado pela mesma pessoa que roubou os diários do Arquivo.

– A senhora chegou a dar parte na polícia?

– Falei com o xerife e pedi uma investigação particular. Eu não queria comunicar ao Schmidt e nem aos Tassel sobre o roubo. Nem quero imaginar o que Richard Van Tassel teria feito comigo se soubesse! Ele era o único que tinha acesso livre aos documentos daqui. Ele ou Rudolf Schmidt. Fora eles, os outros membros tinham que ter autorização por escrito para acessar os arquivos.

Os três caçadores se entreolharam. Estavam pensando a mesma coisa.

– Muito obrigada, senhora, a sua conversa foi de muita ajuda – encerrou Sam com um sorriso

– Que isso, meus jovens. Foi um prazer – ela devolveu o sorriso. Em seguida, seu semblante ficou sério – Sei que tudo isso pode parecer uma loucura, uma história fantasiosa, mas com o que tem acontecendo e pelo teor desses documentos, acredito que não seja só uma lenda. Mas não culpo vocês se me acharem uma louca, afinal, vocês de Hollywood estão tão acostumados a lidar com a ficção.

– Não se preocupe, acreditamos na senhora – continuou Sam em seu tom amigável – E pode ficar tranquila que seu segredo está bem guardado conosco.

– Obrigada. Apesar de que com o Tassel morto, acho que já não me importo se essa história do roubo vier à tona e nem se eu for mandada embora por causa disso. Estou querendo mesmo mudar de ares. Minha única preocupação é com essas pessoas que estão morrendo e que um louco esteja lidando com magia da pesada.

– Não se preocupe, senhora, que com certeza isso será resolvido – tornou Sam – Não vamos mais tomar o tempo da senhora. Precisamos ir.

– Mas já? A conversa estava tão boa.

– É, a gente tem que ir mesmo. Tem muito trabalho nos aguardando – encerrou Dean querendo sair dali antes que aquela senhora os quisesse prender com mais alguma história antiga da região.

Quando estavam do lado de fora do Arquivo, Dean não resistiu em provocar seu irmão:

– Quem diria, maninho? Você me saiu com uma boa lábia pra cima da titia.

– Há-há-há! Não fale besteira – replicou Sam com expressão aborrecida – Eu não estava querendo jogar charme pra aquela senhora. Ela tem idade pra ser nossa mãe. Eu só estava dando um pouco mais de atenção pra ela.

– E garantir que ela abrisse o bico – Dean riu – Danadinho... mas saiu sob encomenda, Sammy. Se você usasse esse mesmo jogo com as mulheres que a gente encontra, você seria um páreo duro, maninho. Um concorrente à altura. Teríamos que disputar...

– Ora, cale a boca! Você só fala asneiras – interrompeu Collins com irritação.

Não gostou nem um pouco do rumo daquela conversa. Na verdade, não queria pensar em quantas mulheres Dean pegava e tampouco imaginar Sam fazendo o mesmo.

Dessa vez, Dean ia retrucar a reprimenda de Victoria, porém, viu algo no olhar dela que fez com que permanecesse calado. Não era o habitual olhar de indiferença ou de desdém que ela usava quando o repreendia, mas sim uma faísca de raiva. Ele não era tão perceptivo quanto Sam, contudo, reconheceu aquele olhar, viu-o em um de seus sonhos com ela quando começava a ser um adolescente popular entre as garotas. Será que a Indomável sentira ciúmes do comentário dele? A esse pensamento, esboçou um sorriso malicioso que não deixou de ser notado pela caçadora.

Antes que ela o inquirisse sobre aquilo, Sam tomou a palavra:

– De qualquer jeito, a conversa foi proveitosa e deu pra descobrir uma parte desse mistério.

– Parece que por trás do fantasma, existe alguém o usando como se fosse uma marionete – concordou Dean - E aposto o meu Impala que devem ser os Thompsons. São os únicos que teriam interesse em acabar com os Tassel e os Schmidts.

– Talvez, mas não se esqueça de que pelo que a arquivista disse somente Richard e Rudolf tinham acesso aos arquivos. Como poderiam os Thompsons saberem da existência desses diários? E mais ainda: saber a exata localização deles.

– Talvez através de bruxaria também – sugeriu Collins – Se lembram que ontem à noite quando voltamos da discoteca encontramos a senhora Marta acordada? Reparei que ela usava um pequeno medalhão com um símbolo estranho, mas não deu pra ver o que era direito, mas acho que é algo a ver com bruxaria. Quando ela percebeu que eu estava olhando, ela escondeu o objeto debaixo do roupão e tentou disfarçar.

– Então você acha que...? – tornou Sam

– Tudo bate. Se lembram da primeira vez que ela falou dos Tassel e Schmidts? Com um ódio intenso. E depois teve aquela briga do filho dela com o William. Se é verdade o que o Bill disse sobre ser o alvo do fantasma, então faz sentido dizer que Marta é quem está controlando o cavaleiro.

– Isso do coitado do primo de ter pagado o pato é o que diz o tal Bill – replicou Dean – Um fantasma não comete erros assim, pelo menos não os que a gente conhece. Esse não deve ser tão diferente. Mesmo que tenha errado, por que não aproveitou e matou o tal William depois que acabou com o outro?

– Pode ser um padrão. Talvez ele só possa matar um.

– Essa história do Bill não engulo. Pode ser uma mentira do cara pra comover as pessoas... e a Tassel. Pra ela ficar com peninha dele e dar uma chance.

– Seja o que for, acho melhor esclarecermos com ele mesmo.

Seguiram cada qual para seus carros e foram até a mansão do moço. Era tão majestosa e imponente quanto a dos Tassel. Usaram como pretexto uma visita de condolências pela morte de Harry.

Lorna os recebeu com certo desagrado. Não estava nem um pouco impressionada por eles serem produtores de Hollywood. E também dirigiu um olhar de desprezo a Victoria, tal como havia feito antes Tessa Van Tassel.

Mesmo assim, por regras de etiqueta e polidez, mandou chamar seu filho. Entretanto, ele se recusou a descer e mandou dizer pela empregada que não tinha o menor interesse em falar com os hóspedes e "defensores dos Thompson".

Lorna se desculpou pela grosseria do filho – ainda que não fosse convincente o tom usado – e mandou que a empregada os conduzisse até a porta.

– É, o cara ainda está sentido pela gente ter interrompido a diversão dele lá no hotel – comentou Dean

– Vamos então pro cemitério verificar o túmulo de Alan Schmidt – sugeriu Sam

– Não. É melhor esperarmos anoitecer – objetou Victoria – E assim aproveitamos pra queimar o corpo dele, pelo menos uma parte.

Os dois concordaram e logo chegaram ao hotel. Ao passarem pelo jardim, testemunharam o final de uma discussão entre os irmãos Brian e Mark. A mãe deles tentava acalmar os ânimos.

– Você não é meu pai, Brian! – gritou Mark – Então pare de ficar me dando ordens como se fosse!

– Graças a Deus eu não sou! – retrucou Brian – Porque se fosse, eu teria desgosto em ter um filho como você! Deve ser por isso que papai morreu.

– Vocês dois parem com isso! – esbravejou Martha. Sorria sem graça para os hóspedes que saíam e outros que entravam e testemunhavam aquele conflito.

– Gostaria que você não fosse meu irmão! – continuou Mark sem dar atenção à Marta

– Eu é que gostaria de não ser seu irmão! – tornou Brian – Gostaria que você sumisse! Estaríamos melhor sem você.

– Brian! Mark! Agora chega! Vocês já passaram dos limites! – gritou Marta sem se importar em ser ouvida pelos outros – Pra dentro do hotel os dois! Temos trabalho a fazer.

– Eu não! Vá o seu filhinho querido, mamãe! Pra mim já chega! – encerrou Mark e deu as costas à sua família.

– Mark! Volte aqui! Mark! – chamava Marta, mas sem sucesso

O rapaz saiu murmurando coisas ininteligíveis com uma raiva mal contida. Não via nada à sua frente. Quase esbarrou em Victoria e nos irmãos Winchesters.

– Ei, meu, cuidado aí! – advertiu Dean

– Shh! Dean, deixe ele – interrompeu Sam

– Mark! Mark! – Marta continuava a chamar seu caçula

– Deixe, mãe. Talvez seja melhor que ele saia pra colocar aquela cabeça de bagre no lugar – disse Brian

– E você, hein? Por que tinha que falar daquele jeito com ele? Você é o mais velho! Tem que dar o exemplo!

– Ah, por favor, mãe, eu tô cansado de ter que aturar a falta de simancol do Mark. Ele tem que parar de agir como um moleque. Já é o vigésimo hóspede que a gente perde por causa das besteiras que ele faz ou diz. Nós não podemos nos dar o luxo de perder nenhum cliente. E a senhora tem que parar de passar a mão na cabeça dele.

Marta ia contestar, entretanto, com a aproximação de Vic, Dean e Sam, ela colocou um sorriso no rosto e dirigiu-lhes palavras apaziguadoras:

– Olá, meus hóspedes favoritos, como estão?

– Bem, obrigada – respondeu Vic por todos

– As acomodações estão boas? Precisam de alguma coisa? – falou sem dar pausa

Os três negaram com a cabeça.

– Então se me dão licença, tenho que... providenciar algumas coisas – falou entredentes para o filho – Vamos, Brian.

O moço não respondeu, fez um aceno para os hóspedes e acompanhou a mãe para o interior do hotel.

– Família interessante, não? – Dean trocou olhares com Vic e Sam. – A mãe pode ser uma bruxa e os irmãos "se adoram"

– 0 –

William estava na sala de sua mansão conversando com seus dois amigos Keith e Lance. Os dois estavam ainda bastante abalados com a morte de Harry, pois os quatro rapazes eram companheiros inseparáveis.

O telefone da casa tocou e uma empregada foi atender. A chamada era para William. O moço se levantou e pegou o auricular do aparelho. De onde estavam, nem Lance e nem Keith podiam ouvir a conversa, entretanto, tiveram a impressão de que o amigo estava bastante zangado com aquele telefonema. Alguns fragmentos ríspidos chegavam aos ouvidos deles:

"... não ligue pro telefone daqui."

"... só quando eu chamar. Entendeu?"

O moço pareceu se acalmar e depois desligou o telefone.

– Quem era, Bill? – indagou Lance

– Ah, ninguém em especial. – respondeu ele com expressão tranquila – Uma dessas garotas com que já fiquei uma noite dessas e ainda não se deu conta que eu não estou mais a fim

– Puxa, se a Kath souber... seu noivado com ela já era – brincou Keith

Um silêncio se instalou entre eles. Naquela manhã, William foi justamente à casa de Katharina, mas ela terminou o compromisso deles e ainda devolveu o anel; o moço não aceitou bem o gesto, mas Lorna estava presente, apoiou a decisão da filha e pediu gentilmente que ele se fosse.

– Desculpe, cara, foi mal.– tornou Keith sem graça – Eu me esqueci

– Tudo bem! Mas tem razão. A Kath logo vai voltar pra mim e não é bom que ela saiba dessas garotas – Bill falou com naturalidade

– É assim que se fala, amigo! – animou Lance

– 0 -

Era por volta de onze horas da noite. Dean e Sam estavam no cemitério local cavando o túmulo de Alan Schmidt; não foi muito difícil encontrá-lo.

Victoria não se juntou a eles; preferiu ficar no hotel e observar os movimentos de Marta Thompson e encontrar uma oportunidade de entrar no quarto dela para tentar achar os diários de Alan... ou a sua cabeça.

Os Winchesters concordaram e ambos estavam na sepultura do cavaleiro: Dean cavava e Sam iluminava o local com uma lanterna, além de vigiar se vinha alguém.

Trabalhavam em silêncio e não trocavam nenhuma palavra, o que não era comum, pois sempre teciam algum comentário entre si para passar o tempo. Contudo, havia um motivo: Victoria Collins.

Sentiam a ausência da moça, era como se um pedaço deles estivesse faltando. Apesar das constantes reprimendas e frieza dela, queriam-na por perto. Fazia apenas uma hora que a haviam deixado no hotel, entretanto, aquela curta separação deixava um vazio no coração deles. Só a conheciam e estavam caçando com ela há menos de uma semana, entretanto, era como se ela sempre fizesse parte da vida deles – o que não deixava de ser verdade.

Dean parou de cavar e apoiou os dois braços cruzados sobre a pá. Pretendia recobrar o fôlego e também ordenar seus pensamentos que insistiam em desenhar a figura de "seu Anjo".

Collins não saía de seus pensamentos nem por um instante. Ela o estava deixando louco, pra não falar confuso. Nunca nenhuma mulher o deixou sem chão, sem saber o que falar exatamente ou fazer. Ele temia dizer qualquer coisa que ela pudesse retrucar de mau modo e, no entanto, não conseguia parar de tentar puxar assunto. De dez frases que ela lhe dirigia, nove eram cortadas e uma poderia ser considerada amistosa. E bastava apenas essa para dissipar qualquer raiva que pudesse ter acumulado.

Aquela mulher o intimidava e o atraía ao mesmo tempo. E por mais que tentasse negar, sabia que algo muito forte dentro dele estava crescendo à medida que passava as horas ao lado de Victoria. Por mais que ela o repreendesse, por mais que ela o irritasse e por mais que bancasse a mandona, não conseguia parar de desejá-la – e não era uma simples atração física.

Fechou os olhos e pensou no que ela estaria fazendo naquele momento, no modo como passava a mão pelo cabelo, na lingerie que deveria estar usando debaixo das roupas. Hum! Ela tinha uns seios e uma bunda! Como seria...

– Dean, acorda! É pra ontem – Sam o chamou para a realidade – Se está muito cansado, pode deixar que eu continuo.

– Até parece, irmãozinho. Eu sou o fortão aqui – despertou de seu devaneio e recomeçou a cavar.

Sam também estava com os pensamentos concentrados na mesma mulher. Ela o intrigava e fascinava cada vez mais. Mesmo com toda aquela aparente agressividade e frieza, no fundo era só fachada, uma forma de proteção aos seus reais sentimentos. Havia algo no olhar da moça, uma sombra que escondia uma profunda tristeza, uma grande dor. Sam imaginava que em parte a causa era a perda dos pais, contudo, sentia que havia muito mais na vida da caçadora.

Observava os gestos dela e a maneira como se comportava. À parte das grosserias e de bater em motoqueiros abusados, havia algo de "lady" nela, algo de aristocrático na forma como andava e como comia; conversava de uma maneira polida e adequada com as pessoas.

Ela não era aquela mulher que insistia em parecer ser. Era forte e confiante, contudo, elegante, doce, terna, amorosa... e tímida. Sorriu. Recordou-se do pequeno incidente que ocorreu naquela tarde:

 

Dean ligou o chuveiro enquanto ele acabava de se enxugar. Pôs somente a cueca e estava procurando uma calça para se vestir na gaveta da cômoda. Achava que tinha trancado o quarto, entretanto, Victoria abriu a porta e entrou. De imediato, ele levantou o olhar e encontrou com o dela. Ela estava paralisada e com os olhos arregalados. Sam também ficou estático e sem saber o que fazer; não estava totalmente nu, mas exposto suficiente para ela. Nenhum deles sabia o que dizer ou fazer: Sam não sabia se vestia a calça ou se cobria-se com a toalha; Collins não sabia se devia voltar ou ficar no quarto. Apenas se encaravam como se estivessem hipnotizados. E justo naquela hora, o Winchester sentiu o princípio de uma ereção por causa do calor daquela situação. O rosto corou e também notou uma perturbação no rosto de Vic. Ambos prenderam a respiração. Finalmente, a caçadora recobrou o raciocínio e cortou o silêncio entre eles:

Des...desculpe... eu... esqueci que... vocês ainda... e que deviam... – ela gaguejava. – Me desculpe...er...com licença – virou-se, abriu a porta com estardalhaço e saiu.

Sam continuou parado onde estava. Pareceu despertar de um sonho e expirou o ar com alívio. Em seguida, não pôde deixar de esboçar um sorriso.

Sim. Não havia dúvidas. Collins não era indiferente a ele como fazia questão de mostrar; também o desejava. Caso contrário, teria agido com mais naturalidade. O moço alargou mais ainda o sorriso.

 

– Oh, Sam! Caralho! – reclamou Dean – Ilumina aqui, né?

– Ahn? Ah, tá, desculpe - o moço voltou à realidade, ergueu a lanterna e incidiu luz sobre a sepultura.

Depois de algum tempo, a pá entrou em contato com o caixão. Dean destruiu a tampa que o cobria, colocou a pá do lado de fora do buraco e abriu o caixão por entre as frestas que fez. Dentro estava o esqueleto de Alan Schmidt. Sem a cabeça, conforme a dedução de Victoria.

Tacaram sal e gasolina nos ossos do morto, jogaram um fósforo aceso e esperaram que se queimasse por completo.

– Pronto – disse Dean – Metade do problema resolvido. Agora só falta a cabeça.



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