História Alohomora! Uma história de Magia: O estudante misterioso - Reviravolta

 -Vejam, o que temos aqui- Disse uma voz masculina que soava arrogante e conhecida por Ana. Era o monitor, Maurício- Parece que alguém tem uma paixão por quebrar regras, não é mesmo?

 A garota respirou fundo para manter a calma.

 -Escute aqui, garoto, nós estamos fazendo algo muito importante e não temos tempo para broncas bobas de um aluno idiota, então saia da nossa frente ou...

 -Dobre a língua, sua insolente- Rosnou o garoto- Você está falando com um monitor- Ele apontou para o broche prateado com três iniciais que cintilavam com as luzes das chamas das velas- Exijo respeito.

 Ana riu da cara dele e Eduardo teve que interferir.

 -Me desculpe pela atitude da minha irmã, mas não estamos fazendo nada de errado. Até onde sabemos, não é proibido o uso das passagens secretas do castelo.

 Maurício apertou os olhos, furioso. Ele sabia disso, é claro e, então não poderia causar grandes problemas.

 -Podemos continuar o nosso caminho para nossos dormitórios? –Perguntou Eduardo, gentilmente e Ana teve que se segurar para não rir novamente.

 -É claro que podem- Respondeu Maurício com um sorriso de orelha à orelha- Mas, eu faço questão de acompanha-los até lá.

 Por um momento, Eduardo e Ana hesitaram. Se o garoto fosse com eles até o dormitório, não teriam chance de sair de lá já que o próprio Maurício teria que entrar com eles e dar lugar a algum professor na vigília noturna.

 Ana se perguntava se teriam chance de atacá-lo antes de chegarem nas escadas, mas imaginou que dois alunos do terceiro ano contra um monitor do sétimo não seria uma boa ideia.

 -Sem problemas- Respondeu, por fim, Eduardo forçando um sorriso.

 Ana os acompanhou pedindo aos céus que seu irmão tivesse um plano em mente.

 Enquanto isso, Camila já os esperava do lado de fora do castelo, próxima às árvores que existiam ao lado do lago. De lá, podia ter uma boa visão da ponte iluminada pela lua cheia.

 De trás de uns arbustos, ela podia ver os professores se certificarem de que não havia nenhum estudante antes de entrarem e trancarem as portas do castelo.

 O silêncio tomou conta da noite e só podia-se ouvir os pios das corujas da torre do corujal, ao longe. Com um aperto no coração, sentiu uma saudade imensa de Ella e Sarah.

 -Cadê você, Max? –Murmurou ela, impaciente- Edu... Ana... Por que estão demorando tanto?

 No interior do castelo, os gêmeos estavam ficando sem tempo. Eles seguiam pelos corredores em direção ao dormitório com Maurício logo atrás, com um sorriso triunfante no rosto.

 Parecia não haver mais como escapar. Não havia como fugir para o pátio do castelo e se encontrar com Max, já que Maurício não saia de perto deles.

 Ana considerou um ataque surpresa, pois achou que mesmo o monitor sendo do sétimo ano, ainda seriam dois contra um, mas seria contar demais com a sorte. Provavelmente um estudante do sétimo ano sabia duelar com várias pessoas ao mesmo tempo.

 Antes que chegasse a uma conclusão, ouviu-se uma inquietação no fim do corredor, onde se localizava os dormitórios.

 -O que está acontecendo aqui? –Perguntou Maurício empunhando a varinha e tomando a frente.

 -O estudante misterioso atacou de novo- Gritou alguém da multidão.

 -O quê? –Indagou Maurício- Isso é impossível.

 -Não é nada- Retrucou uma menina do segundo ano, abraçada com outra menina aos choros- Ele sequestrou um garoto do terceiro ano.

 Eduardo e Ana se entreolharam, perplexos, imaginando se o estudante seria quem estavam pensando.

 -O que faremos? –Cochichou Eduardo quando Maurício se juntou a alguns professores- Você acha que é quem eu estou pensando?

 Ana concordou com a cabeça.

 -Max- Sussurrou ela em resposta- Justo quando ele nos contaria algo importante. Que conveniente.

 Fizeram menção de sair de fininho, mas pararam quando Max saiu da multidão aturdido e gritando desesperado.

 -Levaram ele! Levaram ele!

 -Mas, de quem estão falando? –Perguntou Maurício perdendo a paciência- Quem foi levado?

 -Renan Lima- Respondeu Tatiana, pálida, do canto da sala- Ele foi visto no saguão após o jantar e ia para o dormitório, mas não veio pra cá e ninguém soube dele até agora.

 Tudo pareceu ficar confuso novamente para Ana e Eduardo. Parecia que toda vez que chegavam perto de descobrir alguma cosia, algo acontecia.

 Com a vigília nos corredores aumentando, não havia mais como sair de fininho e falar com Max naquele estado não seria uma boa ideia, além de provavelmente não conseguirem nenhuma informação. Por isso, acharam melhor esperar o dia seguinte, quando as coisas talvez pudessem estar mais calmas.

 Já em sua cama, contemplando o teto, Ana pensava em Camila escondida no pátio naquela noite fria à espera de um Max que não apareceria mais.

 Virou para o lado, tentando dormir, mas olhar as camas vazias de Sarah e de Camila lhe deram uma sensação ruim no peito. Um medo e angústia que por mais que tentasse não sentir durante as últimas semanas, não conseguia mais evita-las.

 A luz do luar entrava pela janela, projetando sombras na parede do dormitório. Sombras que foram entrando na imaginação de Ana, fazendo refletir sobre tudo o que havia acontecido naquele ano. Lembrou-se amargamente de ter desejado, junto de Sarah e Camila, por um ano mais agitado e se perguntou como Harry Potter pôde aguentar tanta coisa por tantos anos, enquanto ela tinha sérias dúvidas se sobreviveria até o fim daquele.

 Lá fora, no frio e no silêncio, Camila continuava a esperar impaciente e preocupada. Em sua cabeça, era óbvio de que alguma coisa havia dado errado. Pensou em voltar para o castelo, mas desistiu ao perceber um movimento do outro lado do lago.

 Parecia que alguém estava se movendo sorrateiramente pela escuridão da noite indo em direção à ponte de madeira do lago.

 Camila já ia levantar de seu esconderijo e exclamar “que demora, hein, Max” quando de repente viu que não era Max Dawson que subia na ponte e nem mesmo era um garoto.

 Quando a luz prateada da lua iluminou a desconhecida, Camila teve que tapar a própria boca para não dar um grito. Apenas a silhueta era vista com nitidez, mas era o suficiente para despertar na garota uma sensação de que conhecia muito bem aquela pessoa, apesar do andar um pouco desengonçado.

 Saindo de trás dos arbustos, com os olhos marejados de lágrimas, Camila caminhou até a ponte, onde as duas garotas podiam ser iluminadas pela lua cheia e ficar de frente uma para outra.

 -Eu não acredito- Murmurou Camila. Os olhos esbugalhados de surpresa e confusão.