História Alohomora! Uma História de Magia: Viajantes do Tempo - O último Vira-Tempo

            “A cicatriz não incomodara Harry nos últimos dezenove anos. Tudo estava bem”.

Esta é a frase que percorreu o mundo, dando um final a história de um bruxo que desde muito cedo estava predestinado a se tornar um grande herói. A lendária história de Harry Potter é conhecida por todos do mundo mágico.

No entanto, a vida teve que continuar e após Aquele-Que-Não-Deve-Se-Nomear ser derrotado vieram outros vilões. Vilões estes que foram derrotados por Aurores poderosos do Ministério da Magia liderados pelo grandioso Harry Potter, mesmo estando em sua vida adulta e sendo pai de família.

Mesmo após tantos anos, Harry ainda se perguntava como sua vida seria se não fosse ele o escolhido para derrotar o Lorde das Trevas. Como teria crescido se seus pais não tivessem sido assassinados? Se não tivesse sido obrigado a viver no armário sob a escada durante onze anos? Se não tivesse sido maltratado por seus tios e primo? Como as coisas teriam sido se ao invés disso, ele fosse uma criança bruxa comum? Um garoto que saberia desde cedo ser diferente, pertencer a um mundo de magia, poder ir para um colégio/castelo e vivenciar o que um bruxo de sua idade deveria vivenciar.

Com certeza, você que está lendo isso já se perguntou esse tipo de coisa ao menos algumas vezes, não é? Saiba que Harry, Rony, Hermione e seus amigos também pensavam nisso às vezes. Embora corajosos o bastante para mergulharem de cabeça em uma guerra com poucas chances de vencer, ainda assim possuíam medo. Eram humanos antes de qualquer coisa e desejar ser normal fez parte de suas vidas durante um bom tempo.

E se tais pensamentos fantasiosos deixassem de ficar apenas no imaginário e realmente acontecessem? E se existisse alguma maneira de mudar o que havia ocorrido?

Felizmente ou infelizmente, devo dizer que alguém descobriu uma maneira de burlar as regras da magia e é aí que a nossa história começa.

Sarah Kaeli despertou sobressaltada quando Camila entrou no quarto batendo palmas e chamando-a para o café da manhã.

-Precisa ser agora? –Resmungou Sarah, com a cara no travesseiro- Estamos de férias, sabia? Significa algo para você?

Camila fingiu refletir por alguns segundos e depois deu de ombros.

-Considerando o que já passamos durante férias, acho que não faz a menor diferença. Além disso, o que você prefere: Acordar as oito e meia para tomar café da manhã ou enfrentar uns malucos ao meio dia?

Sarah levantou a cabeça do travesseiro fofo e encarou a amiga como se a resposta fosse óbvia.

-O que você acha? –Indagou- Quem é o vilão dessa vez? Um estudante louco? Um elfo maligno?

Camila gargalhou.

-Não seja boba! –Exclamou, puxando o cobertor de cima de Sarah- A única vilã a enfrentarmos vai ser a Ana se você não levantar logo. Esqueceu que hoje é aniversário dos gêmeos?

Sarah arregalou os olhos como se tivesse acabado de tomar dois litros de café. Pulou da cama a procura da escova de cabelo.

Ana e Eduardo Galdino eram irmãos gêmeos e estiveram preparando sua festa de aniversário durante várias semanas. Por conta dos problemas que tiveram durante o ano anterior, seu aniversário passou despercebido até por eles mesmos, mas agora haviam decidido comemorá-lo.

Enquanto Sarah desembaraçava seus cabelos loiros, Camila despejava um pouco de suco de laranja em dois copos de vidro.

-Quando eles vão chegar? –Perguntou Camila, tranquilamente comendo um bolinho de chocolate à beira de sua cama- E o que acha que eles planejaram?

-Para ser bem sincera, eu não faço ideia- Respondeu Sarah de dentro do banheiro abrindo o chuveiro- Mas, Ana estava bem empolgada para uma festa, já o Eduardo acho que só concordou para evitar uma discussão.

O ano anterior havia sido bastante movimentado para os jovens. Com apenas treze anos, cursando seu terceiro ano na escola de magia existente na Amazônia, Brasil, o grupo precisou entrar numa investigação para descobrir a identidade de um estudante que almejava se tornar o Novo Lorde das Trevas. Após conseguirem resolver o mistério e salvar o castelo, tiveram um final de ano basicamente tranquilo na maior parte do tempo. Chegava a ser estranho, após tantas aventuras juntos, mergulharem de volta a rotina de seus dois primeiros anos, onde a maior diversão da qual participavam era ir até a biblioteca.

Quando os pais de Sarah souberam o que havia acontecido, pensaram bastante antes de deixá-la retornar para o quarto ano, mas após muita insistência da filha única, finalmente cederam.

Quando enfim ficaram prontas para a festa na casa dos gêmeos Galdino- que haviam se mudado para o Rio de Janeiro, morando mais perto da casa das amigas- perceberam que quando Ana disse “festa” ela se referia a uma festa mesmo.

Cerca de cem pessoas ocupavam a grande casa dos Galdino. Pelo o que Sarah notara logo de cara era que a regra era convidar apenas bruxos. Quem parecia não gostar muito da visão era a Sra. Galdino, pois a mulher observava os convidados do alto da escadaria espiral com bastante desdém.

-Que bom que vocês vieram! –Exclamou Ana, correndo do outro lado do enorme quintal para abraçar as amigas- Estou tão feliz!

-Acho que a sua mãe é que não está curtindo muito essa festa- Disse Sarah e após seu olhar encontrar os da Sra. Galdino e ela virar a cara, acrescentou- Ou então não gostou de me ver aqui.

-Tudo bem, Sarah- Interpôs Camila, com naturalidade- Deve ser porque ela me viu: Uma sangue ruim na casa dela.

-“Nascida-Trouxa” é o termo correto- Corrigiu Ana, de cara feia- E não deem atenção para minha mãe. Ela é que escolheu ficar aqui para que a festa não fuja do controle.

De repente, três pessoas passaram voando sobre suas cabeças.

-Ei, como eles estão usando magia sem ter problemas com o Ministério? –Perguntou Camila, surpresa- A não ser que...

Ana confirmou, sorridente.

Fora do barulho da festa e das conversas altas dos adolescentes, Ana, Sarah e Camila foram para o sótão da casa, onde Eduardo fazia algumas anotações.

Ao ver as convidadas, correu para abraçar Camila e ao soltá-la e dirigir-se a Sarah, ficou momentaneamente sem graça.

-Oi- Disse Sarah, igualmente vermelha de vergonha.

Fazia alguns meses desde que os dois passaram a se tratar de tal forma. Não havia realmente um motivo, mas devido as circunstâncias vivenciadas, achavam que alguma coisa havia mudado um no outro, passado por coisas demais.

Camila e Ana, por outro lado, davam outras razões e elas nada tinham a ver com “circunstâncias vivenciadas”, afinal era algo que todos ali haviam enfrentado juntos.

De repente um estalo seco quebrou o constrangimento e um elfo doméstico pequeno, usando uma toca azul e uma camisa longa do Scooby-Doo surgiu entre os jovens.

-Sonny! –Exclamou Sarah correndo para abraçá-lo- Eu estava com saudades. Não nos vemos há...

-Apenas dois meses, minha senhora- Disse Sonny rindo- E Sonny também estava com saudades de todos.

Com a magia do elfo protegendo o lugar da detecção do Ministério, o grupo pôde se divertir realizando feitiços, mesmo que fossem os mais simples.

Alguém bateu na porta e sem demora, ela se escancarou. Um garoto de cabelos negros e olhar sério entrou no cômodo.

-Eu sabia que vocês estariam aqui- Disse ele, com um meio sorriso.

-Leandro, achei que não tivesse convidado você- Disse Ana, cruzando os braços.

O garoto levou a mão ao peito, fingindo surpresa.

-Você não me convidou? –Disse ele fingindo indagação antes de abrir um largo sorriso- E quem disse que preciso de um convite seu? Além disso, não faço a menor questão de estar nessa festa estúpida.

-Então por que veio? –Perguntou Eduardo, se adiantando.

Leandro sorriu ao observar cada um dos integrantes do grupo, até seu olhar repousar em Sonny, que estremeceu.

-Eu vim pelo elfo.

-O que quer com o Sonny? –Perguntou Sarah parando diante da criatura- O que veio fazer aqui, afinal?

Leandro apenas sorria.

-Vai ser um interrogatório? –Perguntou, se divertindo.

-Então vou aproveitar para fazer mais uma pergunta- Disse Ana, se adiantando- O que você estava fazendo no ano passado na sala da diretora quando eu te encontrei? O que estava escondendo que precisou me atacar para encobrir?

Leandro olhou para a prima com interesse e depois para os outros, pensativo. Cada olhar estava direcionado a ele.

-Eu estava procurando uma coisa- Respondeu, finalmente- Uma coisa que eu precisava para salvar uma pessoa que eu gosto muito.

Alguns se entreolharam, confusos. Ana parecia cética diante das palavras do primo.

-Salvar quem? –Indagou Camila.

Leandro hesitou por um momento, antes de responder.

-A minha mãe.

Agora Ana estava intrigada.

-Mas, como é que você pretende salvá-la? Ela é uma Comensal da Morte e está presa em Azkaban há vários anos e...

-Ela é uma ex Comensal- Corrigiu Leandro, cerrando os pulsos- Além disso, eu não pretendo invadir Azkaban para resgatá-la.

Ele retirou de dentro da camisa um colar dourado com uma pequena ampulheta dentro. Todos ali sabiam o que aquilo era, embora jamais haviam visto pessoalmente.

-Isso é um... Vira-Tempo? –Perguntou Sarah, quase aos cochichos.

-Isso é impossível- Disse Ana, mal acreditando em seus olhos.

-Foram todos destruídos- Concordou Eduardo, confuso- Como conseguiu isso? Será que funciona?

Leandro pareceu satisfeito com a reação de cada um ali. Abriu um sorriso e passou a caminhar pelo cômodo, com ar de inteligente.

-Todos os Vira-Tempos foram destruídos, sim- Disse calmamente- Bom, todos exceto um: este. Vocês não são os únicos que podem fazer suas investigações, sabia? Enquanto bancavam os detetives tentando salvar os sangue-ruins do colégio no ano passado, eu descobri que a diretora guardava a sete chaves o último Vira-Tempo e o roubei. Teria sido perfeito se a minha prima idiota não tivesse me seguido e quase estragado tudo. Contudo, agora eu o tenho nas minhas mãos.

Sarah e Camila trocaram olhares receosos.

-Mas, o Vira-Tempo só pode ser usado dentro de um prazo de até vinte e quatro horas- Lembrou Eduardo- Sua mãe foi presa há muito tempo. Como espera que isso te ajude?

O olhar de Leandro brilhou com a pergunta. Na certa, estivera esperando por aquele momento.

-Eu descobri um tipo de magia avançada e quase esquecida que pode fazer com que a magia de algo seja aumentada em grandes proporções. Bom, isso só daria certo se um ser poderoso enfeitiçasse o Vira-Tempo, é claro.

Seu olhar parou em Sonny, novamente.

-O quê? –Indagou Camila- Isso é impossível Não existe possibilidade desse negócio funcionar, não é?

Sonny estava sério encarando Leandro.

-Sonny poderia, sim, fazer esse Vira-Tempo quebrar o limite de tempo, mas Sonny jamais faria isso- Disse o elfo, decidido- Mexer com o tempo não é brincadeira.

-Ele tem razão, Leandro- Concordou Ana, exaltada- Não se esqueça de que “coisas terríveis aconteceram com bruxos que mexeram com o tempo”.

Com um acesso de fúria, Leandro jogou um jarro de ferro de cima da mesa próxima a ele, no chão.

-Eu não me importo com o que vocês pensam sobre isso- Gritou furioso- A única coisa que quero é impedir que a minha mãe seja presa. Será que é tão ruim assim?

Ana não estava mais desconfiada ou cética. Na verdade, mostrava compaixão quando falou baixinho.

-Eu entendo seus motivos nobres, mas acredite: Não é a solução. Sua mãe escolheu seguir aquele caminho e não tem nada que possamos fazer. Sinto muito.

Leandro não estava escutando. Se adiantou até Sonny e abaixou-se até poder ficar frente a frente com o elfo.

-Tudo o que precisa fazer é enfeitiçar o Vira-Tempo, Sonny- Pediu ele. Lágrimas nos olhos- Eu não vou levar mais ninguém comigo e tomarei cuidado. Com a magia do Vira-Tempo modificada, poderei voltar ao tempo presente como numa chave de portal.

-Desculpe, senhor. Mas, Sonny não pode fazer esse tipo de coisa. Não é a primeira vez que um elfo faz esse tipo de coisa e suponho que o senhor sabe, não é, senhor?

Leandro assentiu, sério.

Os outros jovens se entreolharam intrigados.

-Eu não entendi- Disse Camila- Essa magia já foi usada antes? Quer dizer que funciona?

Sonny apertou as próprias mãos, lutando contra o instinto de contar o que sabia, mas foi Leandro que se pronunciou.

-Todas as informações dessa magia foram retiradas dos livros existentes. Foi tudo deletado e pouquíssimas pessoas sabem dessa magia. No entanto, eu encontrei um antigo livro mágico que diz que um bruxo poderoso chegou a usar essa magia para modificar o tempo da mesma forma que pretendo fazer. O uso de tal magia foi proibido depois que Alvo Dumbledore descobriu tudo.

-Mas, quem foi que usou essa magia antes? –Perguntou Sarah, intrigada- E o que esse tal bruxo fez?

Embora Sonny se mostrasse incomodado, Leandro continuou.

-Dumbledore jamais contou, nem mesmo ao Ministério, quem foi esse bruxo. Apenas apresentou provas de que alguém havia usado essa magia do tempo para impedir Você-Sabe-Quem de assumir o poder sobre o mundo bruxo. Enquanto a Ordem da Fênix original lutava contra os Comensais da Morte, esse bruxo mexeu com o tempo e acabou mudando drasticamente o rumo da história.

-Mas, o que ele fez, afinal? –Indagou Ana, eufórica.

Leandro a encarou, sério, quando respondeu.

-Causou a morte de Lílian e Thiago Potter.