História Alphabet Boy - Reencontro

Acordei de ressaca devido à festa de ontem e acordando tarde para ir ao colégio, quando me levantei nem o Edwin nem a minha mãe estavam em casa. Não estava mesmo no clima de encarar o Matthew pelos corredores da escola tão cedo, então por hoje decidi faltar aula e dar uma volta pelos arredores da cidade.

Tomei banho, preparei o café da manhã e arrumei minha bolsa para sair. Não tinha nada mais além da minha câmera fotográfica e o meu caderno de poesia e composições.

Assim que abri a porta, a brisa fria daquela manhã nublada me recebeu, respirei fundo sugando aquele ar gélido e cheiro de planta molhada para então começar a andar pela calçada. Quando passei pela casa do Matthew meus olhos se estreitaram, como iria evita-lo se ele mora na casa ao lado? Se bem que, pensando pelo lado positivo, este é o seu último ano no colégio. Ele é inteligente, com certeza passará em muitas universidades e logo logo estará se mudando.

Só preciso aguentar o rosto daquele traidor pelo resto do semestre...

a-b-c

Caminhei pelas ruas do centro de Baldwin enquanto tirava fotos de pessoas e coisas interessantes que achava ao meu redor. De repente, passou por mim uma garota. Seu estilo me chamou bastante atenção: ela tinha longos cabelos azuis ondulados, usava uma bomber rosa holográfica e uma saia godê preta de cintura alta. Seus acessórios foram o que mais me encantaram! Ela usava a cabeça de uma boneca como um colar, sua bolsa era de sorvete e calçava um coturno metálico.

Seu estilo era completamente diferente das outras meninas de Baldwin, era comprovado isso pelo fato das pessoas a encararem quando a menina passava por elas. Baldwin é uma cidade pequena, as pessoas não estão acostumadas com pessoas que saem do ''padrão''. Porém eu não pensava que nem eles, o diferente sempre me agradou e ver que uma pessoa na minha cidade tomou coragem para vestir o que quer vestir. Nossa! Eu precisava conhecer aquela garota.

Segui a misteriosa menina do cabelo azul por alguns quarteirões, tirei uma foto ou duas do seu visual enquanto a seguia, estava procurando coragem para chama-la e conversar com ela. Porém quando ela cruzou a esquina, acabei a perdendo de vista no meio daquela multidão de pessoas do centro.

Fiquei chateada, é claro! Afinal a única pessoa interessante que havia encontrado nessa cidade pacata, eu tive o azar de perder de vista!

Ao menos havia tirado uma foto dela.

Já estava pensando em voltar pra casa quando avistei ao meu lado uma loja de discos de vinil. Estava ficando louca e nunca havia visto essa loja na cidade antes ou esta era uma loja nova.

Assim que abri a porta senti o cheirinho de loja nova, confirmando ser a minha segunda opção.

A loja era grande, dois andares com estantes cheias de discos. Tinha de todos os gêneros: punk, rock, indie, pop, clássicos dos anos 60 e 80. É o paraíso! Arrependi-me no mesmo instante por não ter trazido nenhuma grana, mas com certeza voltaria mais tarde depois para fazer à limpa.

Alguns natais atrás eu havia ganhado um tocador de disco do meu avô James, pai da Stella. Desde aquele dia eu venho feito louca procurando algum lugar que venda discos de vinil, mas nunca havia encontrado. O Matthew havia me prometido que no final do ano iria me levar para Nova Iorque para que eu comprasse alguns lá, parece que não precisarei mais de sua ajuda, não é mesmo? Sorri vitoriosa, mas pensar que não iria mais viajar com o Matthew doeu meu coração.

Por que estou pensando no filho da puta de novo, afinal?

Queria me dar um soco por isso, eu precisava me desapegar desse elo que havíamos formado desde crianças. Ele não era mais o meu Matthew de sete anos atrás, e nem eu era mais a mesma Melanie. Ele escondeu coisas de mim, não me contou da Elizabeth. Ele sabia de tudo e não me contou, e pior, resolveu a ajuda-la mesmo sabendo que isso iria me afetar. Eu não podia perdoar o Matthew Hitt depois de tudo o que ele fez, não mesmo.

— Posso ajuda-la? — uma mão atrás de mim futucou meu ombro, e me tirou dos meus devaneios.

— Não obrigada, estou só dando uma olh... — parei de falar no mesmo instante em que me virei e meus olhos bateram com aquele par de olhos verdes esmeraldas.

Peraí, eu conheço esses olhos e esse sorriso. É tudo tão... Peter!

— Melanie? — ele parecia tão surpreso em me ver quanto eu em vê-lo. — Meu Deus é você! — abraçou-me sem hesitar e eu me afundei em seu peito, incrível como o cheiro do seu perfume ainda era o mesmo.

Pisquei os olhos repetida às vezes, desacreditada. O que ele estava fazendo aqui? E por que meu coração está batendo tão forte?

— O-Oi P-Peter. — gaguejei um pouco ao me afastar dele, ele me deixava nervosa.

MEU DEUS MELANIE CALMA! É apenas o menino que você deu o seu primeiro beijo aqui na sua frente, não tem porque ficar nervosa.

— Quase não a reconheci com a franja cortada. — disse ele e eu ri sem jeito. — Está bonita. — abriu novamente aquele sorriso encantador que só ele sabe fazer.

Ele havia mudado também, seu cabelo que antes era ondulado caído nos olhos agora estava menor e puxado pra cima, o Peter havia deixado a barba crescer também o que o fez parecer um pouco mais velho. Na verdade, se não fosse os olhos e os seus trejeitos quase eu não o reconheceria. Ele estava diferente, parecia mais maduro.

— Obrigada. — senti minhas bochechas esquentarem, então baixei a cabeça para ele não ver. Evitar o contato visual também me deixava mais calma. — O que está fazendo aqui em Baldwin? — essa pergunta estava martelando na minha cabeça desde que o vi, junto com as milhares de outras sobre o quanto ele me deixava nervosa e só agora, com ele ali na minha frente de novo pude perceber.

— Eu e o meu tio resolvemos nos mudar pra cá. Ele que é o dono dessa loja na verdade.

— É linda. — disse baixinho com a voz quase falha.

Ele me encarou por uns segundos sem dizer nada, em seguida sorriu novamente.

— Que loucura! — bagunçou seus cabelos. — Me encontrar com você depois desse tempo... Você nem tinha me dito que era aqui que morava.

Tomei coragem para levantar a cabeça e encara-lo nos olhos, vi no seu olhar que ele parecia um pouco chateado por nós termos perdido o contato.

— Desculpa. — foi tudo o que consegui dizer, mas estava cheia de perguntas para fazer pra ele: o que fez nesse tempo, o que os levou mudar-se pra cá, se ele sente falta de Coney Island e do surfe, se ele ainda pensava em mim... Mas claro que não iria perguntar nada disso, apesar do Peter ser bem gentil e comunicativo, acabamos de nos encontrar depois de meses, estávamos distantes.

— Tudo bem baixinha. — bagunçou meus cabelos carinhosamente.

Nessa hora entraram alguns clientes na loja e só tinha o Peter de atendente. Antes que ele partisse para atender eu o chamei pelo braço:

— Peter? — ele me olhou. — Podemos nos ver de novo?

De repente ele abriu um sorriso largo.

— Mas é claro, estava prestes a te perguntar isso. — riu, em seguida tirou uma caneta do bolso e escreveu o número do seu celular no meu braço, do mesmo jeito como havia feito no dia em que nos conhecemos. — Vê se não some de novo hein. — puxou meu nariz de leve e em seguida riu.

— Não irei. — sorri em resposta, estava prestes a sair da loja quando ele me puxou para mais um abraço.

— Senti sua falta Melanie. — sua voz saiu rouca, porém suave no canto do meu ouvido e instantaneamente o meu coração gelou.

Sem que ao menos percebesse, ele se afastou e foi atender os clientes. Quando eu já estava do lado de fora da loja dei uma última olhada para ele pela janela de vidro e sorri. Meu segundo amor estava de volta, e foi tão gentil comigo! Passei a volta de casa toda relembrado o que aconteceu com a gente, estava tão ocupada pensando no Peter que em momento algum tive tempo para pensar na separação dos meus pais, ou até mesmo no Matthew Hitt.