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História Alucard - Darkness In The Light - Ansie-me


Escrita por: LadyFear

Notas do Autor


Olá lindezas! Tudo bem com vocês? ♥
♦ - Demorei um pouco mas já estou de volta com mais um capítulo que ficou mais ou menos bonitinho, mais ou menos tenso. Espero que gostem e não o achem tão chato. Venho me esforçando e buscando da melhor forma trazer capítulos bons conforme vou os escrevendo sem burlar o meu próprio tempo, mas também sempre pensando em vocês que me acompanham e sempre estão por aqui me dando forças para seguir em frente! ♥
♦ - Sugestões, teorias, vou adorar saber! ♥

Capítulo 7 - Ansie-me


Fanfic / Fanfiction Alucard - Darkness In The Light - Ansie-me

 

“Eu ouço o som
De milhares de vozes
Eu perdi minha inocência.
Eu estou no meu caminho
Através do deserto
Para resgatar o que eu enviei
Para longe do meu coração.”

Seus passos soavam mornos pelo solo ainda imperioso do hall de entrada, em um desejo quase invisível de não querer resignar-se aquela ida, mesmo que sua mente o respondesse com uma veemência quase réproba avisando-o de que aquilo não era bem como devia notar-se em tal circunstância. A semana havia advindo célere em um tempo de sobremaneira curto, quase tão fugaz que muito lhe semelhara esquisito que a jovem tão cedo chegasse já estivesse de volta para sua cidade deixando-o outra vez a mercê dos ecos e fantasmas daquele castelo a zumbirem em seus ouvidos. Poderia muito bem guardar-se em oculto para que seus anseios mais acesos não se despontassem aos olhos de generosidade altiva que o apreciavam como se desconfiassem de algo não muito agradável, todavia a dúvida que encerrara em palavras preocupadas o avisava que principiara a falhar nessa tarefa.

– Não quero lhe parecer desagradável ou indiscreta por demasia..., mas noto que algo está a lhe aborrecer desde o início do desjejum. Mal se permitira tocar na comida direito e o vinho por pouco não se perdeu ao seu lado... Estava ruim ou alguma coisa lhe ocorreu? – Indagara respeitosa, detendo-se abaixo da soleira das grandes portas a se abrirem sozinhas como se comunicadas da passagem dela. Ainda lhe era um mistério como tudo funcionava naquele castelo, quase que pela magia que era condenada o tempo todo pelo clero, contudo pretendia não dar atenção inicialmente apesar de achar assombroso.

– Não há nada de errado. – O loiro denegara com a cabeça omisso. – Acontece, para usar de sua palavra preferida. – Ataviou sem humor, parando austero ao seu lado.

– Entendo. – Sorrira de canto solidária mesmo não tendo conhecimento pelo quê. – Quer que eu lhe traga algo? Isto é... Se não for lhe tomar tempo útil à minha volta daqui uma semana...

– Uma semana? – Questionou em um murmúrio baixo e por pouco, frustrado.

– É pouco andamento para que volte? – A jovem indagara constrangida percebendo que talvez ele desejasse passar mais tempo sem que sua presença o abespinhasse como dava ares. Podia ver aquele sentimento ruim perpassar seus olhos dourados quase o tempo todo. – Posso demorar mais se for do seu querer, não aspiro lhe parecer mais do que um peso... Terei que cuidar um pouco da minha avó e testar o que me ensinara e voltarei assim que lhe parecer aceitável se assim o for.

– Uma semana... é... razoável. – Admitira a contragosto. – A aguardarei.

– Tens certeza?

– Sim.

– Como desejar. – Fez-lhe uma breve reverência típica, descendo alguns lances de escadaria em direção ao dia estritamente bonito e ensolarado para poder virar e se despedir de fato, acenando suavemente com a mão livre. – Até breve.

Alucard apenas fizera um menear de cabeça polido, verdadeiramente sem sugerir qualquer pontada de comoção profunda por sua ida tendo em alguma parte de seu âmago um alivio insofismável por não precisar estar em sua presença cheia de maneirismos humanos e tudo aquilo que almejava detestar depois daqueles acontecimentos imundos. Mas observando-a descer todos aqueles inúmeros degraus e partir a segurar as saias de um amarelejo suave com uma das mãos e com a outra a sua parca bagagem, identificara mesmo sem de fato desejar, reconhecer que no fundo a jovem de cabelos negros não parecia realmente tão apta a fazer-lhe mal, mesmo que a sua desconfiança se perpetuasse mais vívida do que nunca.

Sibilou irritado por estar a atenuar a ocasião.

O ranger das pesadas portas no chão fecharam-lhe as suas costas o mundo brilhante outra vez, prendendo-o dentro daquela cela gigantesca ao qual relegara para si em um ímpeto de se defender, e da qual seu pai também anteriormente fizera de abrigo contra tudo o que estava lá fora à espreita tanto antes da adorada e bela Lisa, quanto após a sua horrenda morte. Naquele instante poderia entender todos os sentimentos os quais seu progenitor guardara sobre os humanos, e finalmente, não o julgava por desejar distância de tal raça.

Viver em sua total e própria companhia não lhe parecia tão ruim, dado o fato de que se sentia demasiadamente inquieto e por vezes exasperado com a presença lúdica da jovem visitante, principalmente quando ela conseguia ganha-lo em seus colóquios de interessantes visões de mundo que não necessariamente se precisava citar pontos dos quais ele sempre tinha sobre o que apontar em negativas. Não por que ela usava de subterfúgios de discurso para convencê-lo assim como a sua “amiga” Sypha o faria, ou se apegar em argumentos pesados e sem muita utilidade como Trevor gostava, mas por que quando se calava em respeito a opinião contrária detinha muito mais sabedoria do que teria alguém que se coloca a discorrer como um louco desvairado. A compreensão sobre a forma como ela lhe parecia fazer voltar atrás o deixava quase revolto, pois não era bem o que ansiava.

Queria detestá-la.

Todavia existia tal razão que o impedia, como uma voz a recriminá-lo.

Deixou o saguão em um silêncio sepulcral que o acompanhou no percurso a levar-lhe outra vez para o laboratório, onde passara toda aquela semana convivendo e observando nas sombras os comportamentos inabituais da frágil e humana Loana, que pouco repousava durante o dia enquanto ajudava-o em todas as tarefas possíveis e até impossíveis dado o seu caráter prático e que não fazia corpo mole algum. Porém ela em sua ânsia de aprender persistia com sua labuta até horas altas e quase raiar de um novo alvorecer, coisa que findara a se tornar quase comum se aquela pausa não o avisasse que não haveria mais aquela rotina por uma semana inteira.

A garota de olhos ativos e conversa afetuosa, tinha ido embora.

E ali imóvel no meio do salão vazio indagava-se se aquilo o era bom em sua soma ou estava apenas tentando afastá-la de uma associação que sempre ansiara e descobrira ser uma fragilidade de sua criação tão solitária e desocupada de presenças.

.  .  .

2 dias depois, Galaţi.

A chuva torrencial caia em uma profusão gélida sobre o grande e belo vilarejo de pedra medieval a encenar suas muradas de pedra acinzentada em derredor. As pessoas naquele alvorecer escuro e úmido permaneciam no interior de suas moradias, privando-se de ter que sair em plena tempestade e acabar por ficarem doentes o que minaria de fato suas chances de cumprirem com seus trabalhos diurnos e de tão grande importância aos seus senhores em troca de tão irrequietas moedas e sacas de grãos. Muitas crianças ainda permaneciam adormecidas e alheias ao mundo obscurecido que lhes rodeava, pelo menos até que tudo cessasse e precisassem outra vez acordar para enfrentar aquela dura realidade que muitos romantizavam sem saber. Seus pequenos trabalhos também eram de suma estima, principalmente daqueles que os pagassem em moedas o suficiente para fazê-los andá-los em extensas distâncias como adultos em miniatura.

Contudo, afastado daquele cenário mais ordinário e que apesar de muitas evoluções ainda sim atrasado em suas moradias pequenas e tabernas quase sempre lotadas de beberrões que não se precaviam contra qualquer incorrência, a figura de leves e corajosas passadas se esgueirava pelas vielas de pedra molhadas. Tentando ser menos do que percebida em sua empreitada aventureira a subir o terreno íngreme em direção ao caminho certo para a imponente e opulenta residência, a delicada donzela aproveitava as gotas abençoadas da chuva que sempre parecia acolhê-la momentos antes de voltar para o inferno que chamava de lar. Nunca houve lugar digno de tanto desprezo quanto o próprio lugar em que crescera. Aquelas paredes ocultavam atrocidades que nem em sã consciência gostava de trazer a lembrança.

Seu rosto antes tão bem-aventurado e cheio de expectativas que excediam a de qualquer outra garota a lembrar de todos aqueles dias numa liberdade esplendorosa, ultrapassara os limiares da propriedade com visível amargura e desgosto, recobrindo-se com o véu espesso e agora pesado pela água a lhe banhar. Não seria de bom tom se aquela hora escura da alvorada fosse pega por seus pais a mostrar-se livre e sem recato algum ao mundo como era desejado por eles, tais comportamentos impudicos a uma mulher a fariam ter suas saídas privadas, coisa que não almejava, apesar de que fugas lacônicas não lhe fossem desconhecidas quando necessitava desopilar de toda aquela etiqueta envelhecida e cheia de presunção ao qual jogaram lhe moldar. Ou coisa pior, como a Igreja alienada de seus dias acusar-lhe de algum feito com o próprio satã.

Mesmo que para si o satã deles lhe parecesse bem mais do que um anjo.

Ela em sua cautela, acercou-se pelos vastos e floridos jardins da propriedade, em sua mescla arquitetônica do medieval e algo trazido do além mais ao sul da Europa, de que não havia ninguém ao derredor a espiar-lhe como um delator o faria para vê-la em apuros ou metida em algum deus-nos-acuda com os curiosos. Tendo certeza de que nada viu de grave além de um dos criados a sair na chuva para apaziguar os animais, esgueirou-se rapidamente pela lateral da grande mansão de pedra e batendo com os nós dos dedos na janela de vidro embaçada aos fundos das grandes paredes, esperou por alguns segundos. A resposta demorara, mas veio até mais rápida do que imaginaria vendo a passagem para dentro do lugar se abrir a sua frente.

A jovem empunhou suas saias e a parca bagagem de maneira quase que costumeira de alguém que muito fazia aquilo, adentrando o pequeno recinto com a ajuda sempre prestativa de sua fiel escudeira, mesmo que esta não se parecesse com uma de fato, e usasse aventais e túnicas desbotadas.

– Minha senhora! Que hora para voltares à casa! Não sabes que teu pai pode te apanhar em tal situação desastrosa?! – A senhora que beirava seus trinta anos¹, nomeada por Cécile cochichava com cumplicidade e afeto para a jovem que sorria marota incapaz de se ver abatida ou desanimada em tal presença sempre tão acolhedora da serva.  

– Cécile minha querida! – Loana escorregara sua bagagem para o chão abraçando-a com carinho sendo retribuída de maneira maternal mesmo que estivesse encharcada. – Quantas coisas tenho para contar-lhe! Não acreditas em tudo que vi até estar de regresso.

– Menina o que tu tens em tua cabeça? – Sorrira suave. – Não sabes o medo que tive por ti. Achei que nunca mais regressaria daquele antro de perdição! Não tens nenhuma marca de satã em teu corpo neste retorno, diga-me por Deus!

– Claro que não Cécile, que tamanha ilusão essa tua. – Balançara a cabeça em negativa soltando-a em meio ao riso abafado. – Não tenho marca nenhuma em meu corpo. Mas posso te dizer sem medo de cair em erro que homem ou diabo, aquele a quem encontrei ultrapassa qualquer imaginação delirante sobre beleza. – Piscara.

Oh! Que indecência menina! – Os olhos castanhos de Cécile arregalaram-se o que repuxava sua testa lisa em direção a raiz dos cabelos enquanto se persignava algumas vezes tentando esconder com religiosidade a curiosidade latente. – Peças perdão a Deus, estás a se enganar com o demônio!

– Ah minha querida, tal querubim nunca seria deste modo! – Rira um pouco mais alto, sendo silenciada com cuidado pela serva que de repente pareceu assustada pelo riso solto de sua senhora.

– Não rias assim, sabe o que pensam sobre nós, e entre a igreja e as paredes pouco se salva! – A alertara. – Sei que te ajudo em todas as tuas peraltices por que tenho por ti apreço tamanho e quase que entendo teu ânimo de espírito, mas se teu pai descobres que faço parte de tuas arteirices ele me põe para rua e tens conhecimento. – Confidenciara visivelmente perturbada. – Corre para teu quarto pequena, antes que ele te faça mal!

– Irei. – Loana confirmara com a cabeça pegando suas bagagens. – Agradeço de coração por tudo em que me auxilias, Cécile.

– Vá! Irei dentre em pouco para banhar e mudar-te a roupa antes que algum mal na respiração te acometa.

A jovem apenas assentira em concordância, saindo do pequeno quarto com atenção redobrada. Pôs-se a percorrer o corredor dos fundos com todo o silêncio que poderia produzir mesmo estando molhada pela chuva dando a volta até chegar ao imenso vestíbulo onde todos os inúmeros casacos, peças e capas de viagem descansavam em seus abundantes cabideiros bem acomodados e limpos pela quantidade alta de servos que a mansão necessitava. Deixou seu véu molhado em um dos ganchos vazios e seguiu a caminho das escadarias, quando sem esperar por qualquer obstáculo advindo da antessala sentira seu rosto ser atingido por algo que parecera quase como um metal a retinir sobre os ossos de sua delicada face. O impacto fazendo-a voltar para trás e cair torta ao chão que a acolhera duro e frio assim como suas coisas.

– Eu já lhe disse para não andar por aí como se fosse uma mulher de vida fácil! – O senhor empapuçado e visivelmente gordo como uma morsa em suas vestes de dormir alteara a sua voz grave ao aproximar-se pesado apenas para gerar uma espécie de empáfia que não era necessária se lhe fosse levado em conta o espécime engordurado e desagradável que era. Os olhos injetados a analisavam com uma suspeita extremada. – Ingrata! Quem não me afiança que aquela velha a quem tu adjudicas mais do que deveria não está a te aliciar?!

– Achas que estás correto a desrespeitar tua genitora assim como proíbe o mandamento? Te esquece que ela também é tua mãe? – A jovem indagara em um atrevimento de notável força mesmo que seu tom suave permanecesse inalterado tal como se esperaria, atinando que seus lábios sangravam ao terem sido feridos pelo tapa desfechado e que agora ardia encarnado em seu rosto pálido. O hematoma que não tardaria a lhe ser fiel em seus espancamentos já dava sinais que ali estaria, insinuando-se arroxeado em sua bochecha.

– Ora quer agir tal qual uma meretriz de...

– Espanque-me! – Levantou-se de súbito, recuperando um traço de sua personalidade que não a poderia deixar calada mediante agressão esperando que a mão erguida de seu progenitor a acertasse novamente como era propício a fazê-lo. – Terei o prazer de ir até o magistrado contar-lhe teus podres e assim verás o que tua influência pode fazer por ti, meu pai.

– Como se atreves a me ameaçar de tal modo?! Como se ele fosse ter fé em uma pirralha virgem. Tu és mulher em derradeira instância, não há nada que possas fazer nisso. – Apontara em um desdém ácido. – Tua palavra nada pode com a minha, filha desnaturada.

– Minha palavra não o pode de fato. – Sorrira desafiadora. – Mas o sinal que ficará em meu rosto deporá a meu favor. Talvez tenha que lhe relembrar o triste episódio em que o magistrado ficou profundamente magoado quando o senhor me negou a ele por na época não ter nada a lhe oferecer como benefício tal a se fazer com uma vaca premiada a leilão. Eu só preciso ir e já sabe o que acontecerás. Não se deslembre de que o bispo desta parte também tem a ele uma dívida sólida, e que basta que o rogue e logo estará sendo acusado em dois conselhos.

– Eu a acusarei por bruxaria se arriscar! – Ameaçou colérico.

– Se o fizer manchará o sagrado nome da família e mesmo que escape da fogueira ou da forca, nunca se reerguerá por completo tendo o pejo das artes sombrias sobre os ombros. E quem não me garante que irás também por ter em sua casa uma bruxa? – Argumentou sagaz, serenando, sentindo o gosto ferroso inundar sua boca.

– Que esta tua língua ferina seja amaldiçoada! Dádiva do demônio! – Disse entredentes. – Não criei filha para que me desonres e me faça de bobo cometendo tais pecados e sendo uma prevaricadora de deveres!

– Se enganas tu, senhor meu pai. O Senhor Deus me deu o dom da oratória ao qual tu abominas, me deu um cérebro e visão de coisas que julga serem imutáveis  para que possa muda-las e não é por que lhe sou grata por ter me acolhido e nutrido quando necessitava que deixarei que continue a fazer de mim uma boneca de trapos a ser espancada e chutada a seu bel-prazer. – Pontuou. – Quer que eu faça teus caprichos, tenha pelo menos uma postura. Nada vêm sem que nada seja dado. Não sou teu bicho de estimação ou peça de troca por mais que me vejas assim.

“Pagarás caro garota. Pagarás caro.”

.  .  .

 

O cair da noite dava seus ares com cerimonia acintosa na linha do horizonte decompondo o cenário com a extensa cadeia de montanhas, deixando com que os últimos raios do astro rei a ter iluminado aquele dia de beleza extremada tornassem-se melancólicos e soturnos a tingir os céus com esmaecimento, tais quais as comiserações daquele que os observava sem placidez alguma a que almejara, permanecendo em cortejo da consorte que nunca adormece só.

A solidão.

Os olhos dourados e profundos do meio-vampiro a encarar o pôr-do-sol atrás de seus vitrais coloridos nas alturas, tornavam-se cada vez mais deprimidos ao caminhar das horas, em um alquebramento quase que doentio. Assentando-se após uma hora completa em pé no batente arredondado ao calcante da grande janela alta e pontiaguda, deixara-se acolher no frio do ambiente e de seu interior que pela primeira vez se contornava notável com toda a sua clareza.

Não experimentava de modo algum do anseio de pertencimento que atinara poder ter de volta. Mesmo ficando em seu único e permanente lar ao qual conhecia com a palma da mão, desde seus principais lugares até mesmo as salas mais escondidas dos olhares, não havia nada mais ali que lhe comunicasse afeto. Em seu mais íntimo espaço, nas profundezas de seu coração, achara com uma convicção quase inquebrantável que conseguiria levar aqueles dias com a naturalidade anterior a todos aqueles episódios, sem a presença de ninguém, lembrando-se consecutivamente de que não poderia mais nutrir sentimentos de benevolência para com o resto do mundo ao topar com os vislumbres dolorosos e recentes. Excepcionalmente, nem três dias completos tinham se acertado desde que sua visitante indesejada tivesse partido de volta para sua cidade, e já denotava notas de sofrimento causados pelo isolamento a se repetir no que sabia que se tornaria um ciclo.

Sozinho e desolado, não se repreendeu tão gravemente por deixar-se levar pelas reminiscências ainda vívidas, viajando em várias das frases de peso que aquela voz suave e jovial lhe retrucara em troca de todas as suas acusações mais veementes e rudes em toda aquela semana. Sem estar sobre o olhar capcioso e cheio de uma afabilidade quase extraordinária dela, podia de fato ter o entendimento cruel de que aquela pequena e frágil humana tinha tanta razão quanto poderia ter ciência. Até mais do que seria destinado de quem em sua grande parte do tempo parecia-lhe apenas uma camponesa dedicada. Razão e verdades que não queria acolher.

Ao contrário do que todos pintavam lhe taxar sem o mínimo pudor, o loiro não era mais uma criança inocente que um dia fora sendo claramente guiado por seus pais em todos os seus passos mais importantes. Muito menos poderia ser logrado como alguém mimado e insensível a realidade, pois a sentia tanto em seus ossos que chegavam a enregelá-lo, causando-lhe um desconforto que beirava facilmente uma agonia existencial. Coisas que todos aqueles que lhe avaliavam não detinham nem partilhavam daquela sensibilidade exacerbada, exatamente por que cerravam os olhos apenas para o que criam ser adequado aos momentos e as ocasiões como se tudo fosse apenas um jogo de posicionamentos vazios. Ele ao avesso, sofria de modo intenso pela ambiguidade que levava dentro de sua essência híbrida e que não o admitia tomar somente um lado, apesar de se compelir a isso.

Aspirava e até quase em um desespero proibido crer nas belas e bem colocadas palavras de Loana a lhe serem sopradas ao coração vez ou outra ao se perder de seu próprio amargor. Lhe semelhavam de longe um bálsamo divinal para curar todas as feridas produzidas em si, originando alento e tranquilidade onde não mais havia.

Contudo não o podia.

Não depois de tudo.

Não quando se volvia obscuro e eclipsado em uma redoma.

Sorrira abatido, as emoções a se digladiarem sendo externadas naquelas gotas brilhantes e dolorosas a escorrerem por seu rosto de anjo marmóreo caindo-lhe nas mãos que seguravam o peito como se este pudesse em algum momento explodir.

Lola... – Repetira o apelido que escutara na primeira noite em que a jovem estivera no laboratório a labutar sozinha sem se aperceber que ele também o estava. O seu sorriso alvo como uma dose doce de um remédio e venenosa como a de uma poção vil a lhe ferir ainda mais. – ... Por quê me perturbas quando não desejaria sê-lo... Por que a tão esperada chance só me surge quando não a ambiciono mais?


Notas Finais


[1] Levando-se em conta a estimativa de vida naquela época com todas as suas problemáticas de saúde e falta de higiene, se era comum dar o título de senhora a mulheres que chegassem aos seus trinta anos.



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