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História Always Somewhere (Aonung x Neteyam) - Linhagem


Escrita por: Srta_Michaelis

Notas do Autor


Falei que ia tirar uma folga, mas voltei rápido kkk

Vocês não fazem ideia de como eu to focada na escrita dessa história. Nem tive tempo de responder os comentários e mensagens que me mandaram, mas prometo que assim que possível eu respondo 🥺🙏

Esse cap é tudo pra mim ❤ Aproveitem!

Capítulo 19 - Linhagem


And I found love where it wasn't supposed to be (E eu encontrei amor onde ele não deveria estar)

Right in front of me (...) (Bem na minha frente)

I found – Amber Run

 

 

Antes mesmo de abrir os olhos, Neteyam sabia que a ideia de dormir no local mais alto e possivelmente o que mais ventava da ilha tinha sido ridícula. Seu corpo estava dolorosamente frio esparramado na grama cheirosa. O som ameno da floresta e de alguns insetos cantarolando faziam seus olhos pesarem, preguiçosos.

Também não precisou abrir os olhos para saber que Tai’Ren dormia aninhado em seus braços, escondendo o rosto em seu peito. Podia sentir a respiração calma em sua pele e agradeceu a Eywa por não ter acordado mais uma vez com os gritos tagarelas dele igual vinha acontecendo nos últimos dias. 

Deixou os braços deslizarem suavemente e assim que notou que o menino também estava com o corpinho muito gelado, sentiu-se culpado.

Que bela ideia, Neteyam, pensou.

Evitou deixar os pensamentos vagarem muito para a noite anterior e se remexeu devagar, finalmente abrindo os olhos. A luz do dia agrediu um pouco a visão, mas Neteyam conseguiu se adaptar rápido, virando o rosto para observar o menino dormindo em seu colo. Do ângulo em que estava, era possível ver apenas uma parte do rosto com clareza e o coque feito por Ao’nung, que agora estava mais bagunçado.

Ver o penteado fez um brilho triste passar pelos orbes dourados. Mas, mesmo assim, Neteyam não se rendeu ao sentimento e, ergueu-se devagar, o que fez Tai’Ren choramingar, incomodado pela ausência do apoio que mantinha seu rosto.

Ignorando os protestos manhosos, o Omatikaya apenas o pegou no colo, caminhando de volta para o acampamento. Tai’Ren estava escolhido em seus braços, ainda entre os sonhos e a realidade, mas as vezes se remexia e falava em um tom choroso:

— Tá frio...

— Eu sei. Dorme. Estamos indo pro acampamento. – Sussurrou, colocando mais braços em torno da criança.

Ainda sentindo o corpo amolecido de sono, Neteyam caminhou cuidadosamente pelo declive até que finalmente adentrou a clareira. Colocou o menino na rede e verificou Ao’nung antes de acender a fogueira para se aquecerem.

Momentos depois, enquanto seguia sentado de frente para o fogo, escutou a movimentação de Tai’Ren, que se sentava na rede, esfregando os olhos e aparentemente sem entender o que estava acontecendo:

— Neteyam...?

— Vai dormir, garoto. – Neteyam quase riu do rosto perdido de Tai’Ren. - Teve uma noite cheia.

— Eu voei pra cá? – Ele desceu da rede, ainda coçando os olhos. – Não sei o que aconteceu.

— Não seja bobo, eu te trouxe.

Neteyam esperou o garoto se sentar perto da fogueira, mas ele não o fez. Pelo contrário, permaneceu do seu lado, com os orbes cinzas pidões, até que perguntasse:

— O que foi?

Tai’Ren estendeu os braços.

— Estou com frio. – Comentou, sonolento.

Um pouco surpreso pelo pedido, Neteyam o acolheu em seus braços de novo, deixando os pezinhos dele na grama enquanto passava os braços ao redor do busto do menino, que se ajeitou no colo, agradecido pelo contato e o calor da fogueira.

Ficaram algum tempo apenas com os olhos na fogueira, apreciando o crepitar, enquanto a luz do dia ficava mais forte. Dessa vez, não pode evitar pensar na noite anterior. De imediato seus olhos se voltaram para o menino em seu colo, que estendia as mãos na direção do fogo para se aquecer. 

Um sentimento amargo queria impedi-lo de falar, mas Neteyam foi mais forte:

— Me desculpe por ontem.

— Hm? – Tai’Ren ergueu a cabeça para encará-lo.

— Por ter assustado você. – Explicou. – Eu não me lembro de acordar tão...diferente antes.

“Assustado” era a palavra que achou apropriada, mas no último instante, optou por não a usar.

— Agora tá tudo bem, Neteyam. Você acordou. – Respondeu o menino, com um sorriso.

Apesar disso, o Sully não se sentiu satisfeito. E ele sabia o porquê.

Então continuou:

— Na verdade, eu queria me desculpar por... você sabe... tudo. – Pigarreou, novamente sentindo um incomodo com as palavras. – Eu falei coisas ruins e tentei te machucar muitas vezes. Me desculpe.

Tai’Ren parecia mais concentrado em balançar as mãos perto do fogo do que na conversa e isso só fez o mais velho perceber o quanto o menino era pequeno, ao ponto de não conseguir entender completamente o tamanho do perigo que tinha passado e das coisas cruéis que escutou.

Crianças são inocentes demais, pensou.

E isso doeu.

— O Nung me disse uma vez que você não era mau. – Respondeu Tai’Ren, subitamente interessado em mexer nos dedos de Neteyam. – Mas eu não acreditei nele. Pra mim, você era sim.

— Entendo...- A voz do Sully saiu ligeiramente decepcionada, mas conformada.

Olhou para Ao’nung e mordeu o lábio, em angústia. Não sabia que, mesmo depois de tudo, ele tinha dito aquilo ao menino. Tinha o defendido e ficado ao seu lado, mesmo quando não merecia sua bondade.

— Mas agora eu acredito! – Gritou Tai’Ren pegando as duas mãos de Neteyam e batendo uma na outra, como se o fizesse bater palmas. Seus pés balançavam na grama, empolgados. — Você virou bonzinho!

Um tanto surpreso, mas boa parte emocionado, Neteyam escondeu o rosto no coque minúsculo do menino, que ainda estava entretido em suas mãos. Havia algo diferente em seu peito agora, que se mesclava a dor infinita, buscando desesperadamente um equilíbrio. Ele não sabia o que era, mas acolheu aquela sensação nova como seu corpo acolhia o calor da fogueira.

Deixou o rosto descansar nas tranças do menino, enquanto Tai’Ren parecia alheio ao seu dilema, brincando com suas mãos até que se entediou e iniciou uma nova distração, que consistia em passar a mão rapidamente o mais perto possível da fogueira, como se desafiasse as chamas.

Obviamente, aquilo não passou despercebido pelos olhos dourados.

— Ei, para com isso! Por que você inventa umas brincadeiras bobas assim? – O repreendeu. – Vai se queimar.

Emburrado, Tai’Ren saiu de seu colo e correu para a rede, cruzando os braços.

— Achei que tivesse virado bonzinho. – Reclamou, fazendo um bico.

— Agora pra eu ser bonzinho eu tenho que deixar você fazer o que quiser? – Neteyam perguntou, descrente.

— Sim!

A risada que escapou do Sully foi muito sincera e melodiosa.

— Voce é mimado demais, sabia?

— Eu nem sei o que é isso. – Tai’Ren retrucou, correndo até Ao’nung.

Quando se sentou ao lado do herdeiro, a birra foi sumindo rapidamente. Por alguns segundos, a criança pareceu pensar, até se virar para Neteyam:

— Você acha que ele vai dormir pra sempre?

Se aproximando do menino, tentou confortá-lo:

— Não. Ele vai acordar. – Tocou a mão de Ao’nung. – Não tenho dúvidas.

— Mas e se ele nunca mais acordar? – Perguntou Tai’Ren, genuinamente preocupado.

— Ele vai.

— Mas... e se isso não acontecer?

A pergunta insistente de repente o fez pensar. Já tinha perdido a conta de quantos dias estavam na ilha. A missão parecia um devaneio distante agora. Pensou no que Ao’nung havia dito a ele antes de apagar, sobre terminar a missão, mas até o momento ignorava o pedido de seu amado.

E se realmente Ao’nung não acordasse tão cedo? Os Metkayina seguiam sem comida, se arriscando pelo oceano e sem qualquer perspectiva esperançosa. Quanto tempo mais poderiam ficar na ilha até alguém adoecer e morrer pela fome nos recifes?

Notando que Tai’Ren ainda esperava uma resposta, pousou a mão em sua cabeça.

— Ele vai acordar sim. Talvez demore, mas precisamos continuar ao lado dele, tudo bem?

O menino assentiu, um pouco mais confiante e voltou para a rede, balançando. 

Neteyam permaneceu preso em seus dilemas, mas não pôde fugir da conclusão óbvia: Precisava terminar o que tinham começado. Pelo bem do povo Metkayina. Não podia deixar Ao’nung acordar sabendo que durante todo esse tempo sua família esteve em sofrimento.

Só precisava garantir que tudo daria certo.

***

No dia seguinte, ambos caminharam juntos até a lagoa.

Tai’Ren pulou empolgado na água, rindo enquanto se distraía brincando com os peixes. Neteyam revirou os olhos ao vê-lo arruinar todo o coque que tinha sofrido para arrumar outra vez, já que o garoto se negou a desfazer o penteado para que pudesse fazer as tranças que sabia, no estilo Omatikaya.

— Eu quero continuar igual o Ao’nung! – Protestou ele, com olhos umedecidos, momentos antes.

Desenvolvendo uma paciência que nem sabia que tinha, Neteyam baixou os ombros diante do olhar manhoso e se ateve apenas a ajeitar a posição do coque.

Expulsando as memórias recentes, pegou os materiais que tinha coletado no caminho e iniciou uma tarefa da qual não tinha tanta prática, em meio aos gritos animados da criança e suas constantes interrupções:

— Neteyam! Olha!

Tai’Ren, que estava na beira da lagoa, começou a mexer os pés em uma dança rápida porém, um tanto descoordenada. Quando terminou deu um sorriso brilhante.

— O que você achou?

Deu um aceno de aprovação.

— É uma dança divertida, mas parece difícil.

— Não é não, depois eu te ensino! – Gritou feliz antes de pular na água de novo.

Voltando a sua tarefa, Neteyam rezou internamente para que o garoto esquecesse essa ideia de ensiná-lo. Não conseguia imaginar ele reproduzindo nada daquilo.

Tai’Ren estava feliz enquanto colocava o rosto debaixo d’agua para ver os peixinhos minúsculos que nadavam rápido demais para conseguir pegá-los com as mãos. Porém, depois de um tempo, voltou para a beira da lagoa, deitando-se perto de onde Neteyam estava.

— O que houve? Cansou?

— Sim. – Suspirou Tai’Ren, voltando-se para o adulto. – Neteyam?

— O quê?

— Você acha que o Ao’nung tava falando a verdade quando disse que eu ia voltar com vocês?

Perdendo momentaneamente o foco da sua tarefa, Neteyam sustentou o olhar ansioso do menino, lembrando-se da discussão que tivera com Ao’nung. 

Parecia que tinha sido há tanto tempo...

— É claro que ele estava falando a verdade. – Admitiu, ainda se sentindo estranho sobre aquilo, mas finalmente entendendo o que Ao’nung quis dizer com “É sobre termos um pingo de bondade”.

Um sorriso amável iluminou o rosto de Tai’Ren. De repente, ele não parecia mais cansado.

— E como é lá onde vocês moram? O Nung disse que tem muitos peixes!

— Tem mesmo. – Neteyam voltou a se forcar em seu trabalho, mas não perdeu o raciocínio. – Awa’atlu é um bom lugar. Somos todos uma família lá. Cada um tem sua função.

— O que é isso?

— Função é o que fazemos pra ajudar o clã. Alguns pescam, outros são guerreiros. Mas há quem cozinhe, construa nossas casas e assim por diante.

— E lá tem criança também?

— É claro.

— Qual é a função da criança? – Perguntou, curioso.

Neteyam riu.

— Brincar e obedecer aos pais.

— Parece legal! – Tai’Ren exclamou, com um risinho. Mas um pensamento lhe ocorreu. – Se eu não estou com meus pais, quem eu obedeço?

O Sully hesitou por alguns segundos antes de responder, sentindo o sorriso morrer:

— Não se preocupe, sempre vai ter alguém por perto, pra te ajudar.

O menino balançou a cabeça, um pouco mais tranquilo e só naquele instante percebeu que Neteyam parecia bem ocupado.

— O que está fazendo?

— Um arco.

— Mais um? – Questionou, inclinando a cabeça para o lado.

Neteyam parou para olhá-lo nos olhos.

— Esse é pra você.

— Pra mim? Por quê?

— Vou te ensinar a pescar. – Respondeu, sabendo que uma hora teria que iniciar aquela conversa.

— Não. – Tai’Ren balançou a cabeça. – Não quero.

— Por que não? – Foi a vez de Neteyam ficar confuso.

— O Nung disse que eu sou muito pequeno pra pescar e usar essas coisas. Então, não.

Neteyam baixou os ombros, olhando para o pequeno arco que construía. Não tinha o hábito de fazer arcos, principalmente um tão pequeno. Olhando para arma minúscula, não pôde deixar de pensar o quanto aquilo era errado mesmo.

Mas não tinha escolha, portanto, deixou o objeto de lado por um momento, para segurar os ombros de Tai’Ren, tentando se manter firme diante dos olhos dele, ainda que aquilo lhe cobrasse um preço alto durante a noite.

— O Ao’nung não estava errado. Você é pequeno demais pra isso. Não é natural que as coisas aconteçam dessa maneira. – Começou, com a voz séria. Tai’Ren se manteve concentrado em suas palavras. – Mas, você se lembra da missão que eu o Ao’nung fomos fazer?

O menino assentiu.

— Nós não conseguimos terminá-la. – Neteyam continuou. – Por isso, minha família ainda está com fome. Eu preciso fazer os peixes voltarem. Mas, infelizmente, pode acontecer de eu acabar morrendo lá ou me ferir igual o que aconteceu com o Ao’nung. Neste caso, eu preciso ter certeza de que você vai sobreviver até mandarem guerreiros para nos procurarem aqui. Eu preciso... que continue cuidando do Ao’nung, caso aconteça algo comigo.

Os olhos cinzas se arregalaram diante das palavras. Neteyam comprimiu os lábios ao vê-lo limpar as lágrimas que começavam a escorrer em seu rosto pequeno, tentando conter a própria vontade de chorar.

— Pode fazer isso por mim, Tai’Ren? – Sua voz soou rouca.

Sabia que pedir uma coisa daquela a uma criança era errado, mas não tinha mais ninguém. Estava angustiado.

No final, o menino o abraçou, choroso.

— Tá bom.

Algum tempo depois, quando Neteyam terminou de confeccionar o arco e cortou algumas de suas flechas para se adaptar ao tamanho da arma, levantou e caminho junto com Tai’Ren até uma parte rasa da lagoa. 

Mas antes de iniciarem, ele tinha algo a dizer:

— Certo, garoto. Eu tenho 3 regras que você nunca, jamais, pode esquecer. Primeira: - Neteyam pegou o pequeno arco. – Isso aqui, não é um brinquedo. Você vai manter o arco aqui na lagoa, não vai levar pro acampamento, porque só pode usá-lo pra pescar. Entendeu?

— Sim! – Tai’Ren lhe encarava com atenção.

— Segunda: Nunca aponte uma flecha pra ninguém além dos peixes. Nem para as árvores. Fui claro?

— Sim!

— Terceira e última: - Neteyam se ajoelhou na lagoa para observar o menino. – Nós sempre agradecemos a Eywa por nos conceder qualquer alimento. Só matamos para sobreviver. Nunca por qualquer outro motivo. Apenas sobrevivência.

— Isso eu já sei! - O menino se animou. -  O Nung me ensinou tudo sobre Eywa e energia.

— Ele falou sobre Eywa pra voce? – Perguntou Neteyam, surpreso.

Um pensamento rapidamente passou por sua mente: Tai’Ren devia ser o único integrante do clã das cinzas que de alguma maneira aprendeu sobre Eywa e respeitou seu elo com o mundo.

— Sim, é muito legal, menos a parte de morrer pra devolver a energia.

Quebrando completamente seu clima de seriedade, não pôde conter o riso com a fala do menino.

— Engraçadinho. Anda, vamos começar.

Neteyam ajeitou com muita calma a posição que as pernas e braços de Tai’Ren deveriam ficar. Percebeu um pouco mais tranquilo, que os braços dele já não estavam tão magros quanto antes, embora ainda precisasse crescer muito.

— O arco exige que tenhamos muita precisão. Pra isso, o mais importante é a calma e a posição do corpo. – Disse ele,  abaixando pelas costas do garotinho, para ajustar sua mira.

Tai’Ren não precisou de dica para se acalmar. Ele sabia que o segredo era manter o coração tranquilo e isso Ao’nung o ensinou. Quando iniciou o exercício que tinha aprendido, os olhos dourados que lhe vigiavam se surpreenderam.

— Está indo bem. – Aprovou Neteyam, surpreso. – O Ao’nung te ensinou isso também?

— Sim. – Respondeu Tai’Ren, baixinho, enquanto mantinha a postura que Neteyam ajustou.

— Ótimo. Agora, olha bem para os peixes. – Instruiu, com calma. – Pode parecer complicado agora, mas vou te ajudar. Conforme você vai olhando, o movimento deles fica mais fácil de entender.

Neteyam segurou com muito cuidado os bracinhos de Tai’Ren, mantendo-os na mira e sem tremores. Ambos com os olhos fixos em um pequeno grupo de peixes.

— Se lembre sempre de manter a força no braço que segura o arco, assim sua visão não treme tanto. – Com um meio sorriso ao notar que o menino estava tão focado que nem respondia, deu a última instrução. – Pode soltar a flecha.

Obediente, Tai’Ren soltou. A flecha disparou rapidamente em direção a um peixe, acertando-o em cheio. O menino deixou o queixo cair, sem acreditar que tinha conseguido. Neteyam sorriu.

— Vai lá, pega! É seu primeiro peixe!

— Consegui...- Tai’Ren sussurrou, encantado e com um sorriso que ia quase de orelha a orelha.

O peixe se debatia na flecha, então Neteyam o ajudou a puxá-lo da água, ensinando o garoto como deveria agradecer pela vida cedida. Depois que terminaram, seguiram de volta para o acampamento, onde Neteyam começou a preparar os peixes enquanto Tai’Ren colocava um pano sobre Ao’nung, por conta da temperatura que começava a cair.

— Não se preocupe, Nung. Agora voce tá quentinho. – Escutou a voz infantil sussurrando.

Neteyam sorriu levemente antes de voltar a focar nos peixes.

Quando, enfim, puderam comer, o Sully não se surpreendeu ao ver Tai’Ren repetir a tigela de peixe, elogiando seu gosto. O menino manteve aquele hábito que sabia que era apenas para lhe agradar. Até pensou em conversar com ele sobre isso, mas logo a criança estava tagarelando sobre como seria voar pelo mar até chegar na “terra cheia de peixes onde Ao’nung morava” e as milhares de coisas que ia fazer por lá.

— Eu vou brincar muito, e pescar, e ver as outras crianças...- Ele falava repetidamente enquanto contava nos dedinhos as coisas que tinha pensado. – E comer muito peixe... e... acho que é só isso!

Tai’Ren deu de ombros e Neteyam começou a ajeitar as tigelas.

— Certo, senhor empolgado. Hora de deitar.

— Ah...- Tai’Ren fez um muxoxo triste. – Por quê?

— Porque amanhã temos que continuar treinando a pesca. – Neteyam se levantou, caminhando até a rede. – Anda. Vem. Pega um pano pra você se cobrir.

Observou pacientemente, o garoto arrastar os pés até a bolsa onde mantinha os panos e depois seguir em direção a rede com cara de choro. Não se preocupou com aquilo, sabia que assim que deitasse ele ia esquecer essa frustração. E de certa forma era engraçado vê-lo perder a carranca de uma hora para outra.

— Vai, deita. Eu te cubro.

A contragosto, Tai’Ren pulou na rede, lançando outra vez um olhar manhoso e umedecido de lágrimas para o adulto, que apenas riu:

— Não vai funcionar.

Ainda sorrindo pela birra do menor, Neteyam ajeitou o pano, mas quando começou a cobri-lo, percebeu que o totem era grande demais e que, provavelmente, deveria ser desconfortável dormir por cima dele.

— Não é melhor tirar isso? – Perguntou, levando a mão a peça.

Contudo, quando virou o objeto e, pela primeira vez olhou com calma para ele, Neteyam sentiu o sorriso sumir conforme seu rosto se franzia.

Havia algo estranho ali. Seu coração martelou um pouco, conforme um pressentimento de urgência se alastrava por seu peito.

Isso porque Neteyam, infelizmente, conhecia muito bem o símbolo do Povo das Cinzas, e o que estava no totem de Tai’Ren não era a marca deles. 


Notas Finais


Capítulo mais curtinho que o último, mas com momentos importantíssimos pra história!

O que acharam do Neteyam tentando se redimir com o Ren? Encarar seus medos com tanta vivacidade mexeu bastante com ele, mas ainda há muito o que resolver, principalmente com um certo Metkayina...

E esse final? Será que vem aí alguma revelação?

É, meus anjos, aos poucos essa fic chega na sua reta final... Mas vamos aproveitar o agora!

Um beijo pra vocês <3


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