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História Always Somewhere (Aonung x Neteyam) - Tudo no seu tempo - pt. II


Escrita por: Srta_Michaelis

Notas do Autor


Esse capítulo ficou enorme, mas é uma coisa preciosa 🥺🤏❤ apreciem essa reta final

Capítulo 27 - Tudo no seu tempo - pt. II


O jeito que eu te quero é sincero

E sempre foi assim

Desde que te vi de longe

O teu nome era paz enfim

Rosa e Laranja – Mariana Fróes

 

 

— Pai! – Tai’Ren chacoalhava o corpo de Neteyam, com muita insistência. – Papai!!!

Contudo, apesar da sua dedicação, a missão de despertar o maior parecia um desastre completo. Ainda assim, ele não desistiu:

— Papai!!! – Chamou mais alto. Neteyam resmungou, virando para o outro lado. – Para de ser dorminhoco! Eu quero ir logo na casa do tio!

— Eu tô cansado, bebê. – Balbuciou, sem força para abrir os olhos. – Podemos ir depois.

— Mas você tá dormindo há um tempão! Já era pra gente ter ido! – Tai’Ren começou a choramingar.

— Ei, pescador, o que foi? – Ao’nung entrou no marui depois de levar as bagagens para a praia.

— O pai não quer levantar! – Respondia com a voz embargada. As lágrimas banhavam as bochechas. – Ele só fala que quer ir depois!

— Calma. – O herdeiro respondeu, tentando tranquilizá-lo. – Quer ficar na praia enquanto eu acordo ele? O Aneya está lá brincando.

— Quero...- Tai’Ren coçou os olhos.

— Vem cá. – Chamou, pegando a criança manhosa nos braços. Puxou as muletas e saiu do marui. – Já sabe né? Nada de ir pra água sozinho.

— Eu sei...- Resmungou o menino, cruzando os braços. – Não posso fazer nada sozinho!

— Não diga isso. Você está melhorando.

— Eu não queria usar isso, papai. – Ele apontou para as muletas. - Eu queria brincar de verdade e pular na água!

— Precisa ser paciente, Tai’Ren. – Respondeu, gentil. – Se continuar se cuidando, logo logo não vai precisar delas.

Tai’Ren até pensou em responder, mas ficou empolgado demais vendo seu amigo jogar pedrinhas no mar.

Ao’nung o colocou sentado na areia, ao lado de uma pequena pilha de pedrinhas e voltou para o marui, sorrindo ao ver Neteyam encolhido. Se abaixou para engatinhar até ele devagar, espalhando uma trilha de beijos suaves na pele escura.

— Meu Neteyam. – Sussurrou, também afagando as tranças soltas. – Precisamos ir.

A sequência de carinhos gentis fez Neteyam franzir o rosto, incomodado pelos chamados insistentes.

— Por que vocês não me deixam dormir? – Resmungou, com a voz sonolenta.

— Porque a viagem foi ideia sua, lembra?

Neteyam coçou os olhos, se sentando enquanto tentava se firmar na realidade. Não sabia se ficava irritado por ter sido acordado, ou se puxava Ao’nung para um beijo.

No final, ele optou pelo último e puxou o rosto de seu parceiro contra o seu, selando os lábios em um beijo lento, ainda com resquícios de sono. O Metkayina retribuiu o carinho, mas quando sentiu as mãos de Neteyam descendo perigosamente pelo seu abdômen se afastou, sem conter o riso:

— Não começa. Temos que ir.

Com um muxoxo, Neteyam comeu tudo o que Ao’nung havia preparado e, finalmente, se sentiu mais desperto.

— E pensar que ontem você brigou comigo porque acordou tarde e não “teria sono a noite”. – Ao’nung não pôde evitar soltar a provocação, ainda muito feliz de ver seu companheiro descansar tanto.

— Nem eu entendi. – Neteyam deu de ombros, ajeitando seu colar e o acessório na cabeça que costumava usar para voar. – Acho que estou dormindo tudo que não consegui nos últimos anos.

Sem conseguir resistir, Ao’nung o abraçou por trás, de forma carinhosa, colocando o queixo no ombro de Neteyam.

— Não está tendo mesmo nenhum pesadelo?

— Não que eu me lembre. – Neteyam sorriu. – Onde foi que você deixou nosso filho?

— Está na praia, brincando com o Aneya. Ele está mais solto agora com as crianças. Ontem estava falando bastante.

— É sério? – Os olhos dourados brilharam.

— Sim. Fizeram a maior bagunça. Você tinha que ver.

— Então vem, quero ver eles brincarem um pouco antes de irmos.

De mãos dadas, caminharam para fora de casa, passando por outros maruis e indo em direção à praia, mas pararam discretamente a uma distância onde Neteyam pudesse ver Tai’Ren.

O menino, por sua vez, estava frustrado e com vontade de chorar.

No momento em que viu Aneya jogar cada vez mais longe as pedrinhas na água, decidiu que queria fazer o mesmo, porém, como precisava ficar sentado, nunca atingia o ponto que queria e sempre via seu amigo jogar mais longe.

— Não fica triste, Tai’Ren. – O outro garotinho se sentou do seu lado. – Olha, eu vou brincar sentado também.

Aneya jogou uma pedrinha e depois entregou outra para Tai’Ren, que estava com um bico de choro.

— Vai, brinca!

Diante do sorriso encorajador, Tai’Ren pegou a pedrinha e voltou a entrar no jogo, de repente muito feliz por ver que tinha jogado mais longe do que seu amigo. Com uma risada alta, ambos voltaram a se divertir.

— Por que as coisas de vocês estão ali? – Aneya apontou para a direita, onde Ao’nung tinha colocado as bagagens mais cedo.

— Eu e meus papais vamos passear! – Contou Tai’Ren orgulhoso, sentindo uma nova onda de energia. – Vamos voar! Você já voou?

— Não... Parece assustador. – O menino se encolheu.

— Mas não é! Você pode ver tudo de cima! E as coisas ficam bem pequenininhas, assim, ó. – Tai’Ren colocou as palmas das mãos quase juntas para tentar mostrar o que estava querendo.

Aneya arregalou os olhos, impressionado.

— Até o mar fica pequeno? – Questionou curioso.

— Não, o mar é infinito! – Explicou. – Mas eu não vi muito por que tava dodói.

— E pra onde vocês vão voar?

— Pra floresta onde o meu tio Lo’ak mora! – Tagarelou Tai’Ren. – Ele disse que lá tem outras crianças, então acho que eu vou poder brincar muito.

— Você vai ficar lá pra sempre? – Aneya pareceu preocupado.

— Não, eu quero voltar pra gente brincar junto com a Onali. Se meus papais não quiserem voltar, eu vou chorar muito até a gente vim.

— Bom saber dos seus planos.

Os meninos pularam quando Neteyam se aproximou, enquanto Ao’nung chamava seu ikran.

— Nós não vamos morar lá, bobinho. Você precisa conhecer os meus pais, suas tias, seu tio Spider e seus priminhos também. Depois voltamos pra casa.

— Viu, Aneya? – Respondeu Tai’Ren, se oferecendo para o colo do pai. – Eu volto logo! Tchau!

O pequeno Metkayina acenou em despedida também.

— Papai! – Tai’Ren se voltou a Neteyam. – Eu estou bravo com você.

— Por quê?

— Porque você é muito dorminhoco! Eu te chamei várias vezes, até chorei e você não acordou! – Fez um bico, deixando as bochechas infladas.

Neteyam não conteve o ímpeto e o apertou com força em um abraço, enchendo as bochechas do menino de beijos, até que ele risse, tentando escapar do abraço, mas falhando miseravelmente.

— Seu bravinho! – Riu Neteyam, ainda o prendendo nos beijinhos carinhosos. - Está muito mimado, vou dar um nó na sua cauda.

Tai’Ren estava ocupado demais gargalhando para responder.

Ao’nung terminava de colocar as bagagens em seu ikran, mas parou para ver a cena das risadas. Seu coração disparou automaticamente de tanto amor.

Neteyam aproveitou para chamar o seu ikran e, finalmente puderam se arrumar para viagem. Mais uma vez, optou por fazer Tai’Ren voar ao seu lado e quando partiram, o menino gritou, eufórico.

Os olhos dourados fitaram os azuis, apaixonados, antes de focarem no horizonte a frente, muito ansioso para rever sua família.

***

Três meses haviam se passado desde que conseguiram ir embora da ilha, mas para Neteyam parecia uma eternidade o período sem voar. Era ainda pior quando pensava em quanto tempo havia passado desde a última vez que esteve com seus pais.

 Seus olhos enchiam só de imaginar o momento em que estariam juntos outra vez.

— Neteyam? – Ao’nung chamou, se aproximando com o ikran. – Está tudo bem? Você está oscilando.

— O quê? – Perguntou, franzindo o cenho.

— Você tá indo de um laaaado para o ooooutro, papai. – Explicou Tai’Ren, balançando enquanto falava. – Pode continuar, eu gosto de voar assim!

Só naquele momento Neteyam percebeu que de fato não estava voando corretamente. Desculpou-se com seu ikran pelas instruções errôneas e balançou a cabeça, tentando manter a visão firme.

— Está tudo bem.

— Quer parar um pouco? – Sugeriu Ao’nung, ainda preocupado. - Estamos voando tem um tempo. Podemos descansar.

— Eu só estava um pouco distante, não se preocupe.

Com os olhos estreitos e não muito seguro, o Metkayina decidiu continuar voando bem próximo dos dois, somente para se certificar que realmente ficaria tudo bem.

Tai’Ren passou todo o início da viagem gritando de empolgação por estar voando sobre o oceano, mas depois de algumas horas a visão enjoou e agora ele passava todo o tempo tagarelando as coisas mais aleatórias possíveis.

— Pai, você já foi criança ou nasceu grande?

— Todo mundo já foi criança, Tai’Ren. – Respondeu Neteyam, ignorando a risada de Ao’nung diante da pergunta. – Ninguém nasce grande.

— Ah...o que você fazia quando era criança?

— Eu brincava com os meus pais, ajudava a cuidar dos meus irmãos...- Disse, de repente se sentindo muito nostálgico ao lembrar dos dias na floresta.

— Então, um dia eu vou ser grande igual você? - Perguntou o menino, reflexivo.

— Vai sim. Não está ansioso pra crescer?

— Não. – Admitiu Tai’Ren.

— Por que, filho? – Ao’nung entrou na conversa. – Crescer não é ruim.

— Ser adulto é chato, papai. Adultos não brincam o dia todo e tem um monte de coisas pra fazer. – Resmungou. – Eu prefiro ser criança. Minha única tarefa é brincar.

— Veja pelo lado bom. – Começou Ao’nung. – Quando você for mais velho, vai poder ter seu próprio ikran e voar bastante.

— Eu quero! – Tai’Ren se empolgou. – Parece legal ser adulto, né papai?

Ele ergueu o rosto para Neteyam, mas encontrou olhos um tanto distantes.

— Papai? – Tentou de novo, balançando os dedos na frente do rosto reflexivo. Neteyam voltou a si e abraçou a figura minúscula a sua frente. – O que foi papai? Você não gosta de ser adulto?

— Não é isso. – Respondeu o Omatikaya, pensativo. – Só estava pensando em como vai ser daqui alguns anos. Vou sentir falta de você sendo um bebê assim...

Tai’Ren sentiu o abraço ficar mais forte.

— Eu não sou bebê, sou criança. – Retrucou.

— É bebê.

— Não, eu sou criança!

Começaram então um longo diálogo teimoso, cada um defendendo sua própria opinião, até Tai’Ren se cansar e ficar emburrado, com os braços cruzados.

Seguiram mais algum tempo da viagem em silêncio até que, outra vez, Ao’nung viu Neteyam oscilar no ar e decidiu que parariam para descansar. O Sully se irritou dizendo não estar cansado, mas o outro não cedeu à sua teimosia e logo pararam em uma parcela de terra firme.

Por fim, Ao’nung suspirou ao ver que agora precisava lidar com dois mal-humorados.

***

Quando Tai’Ren viu as montanhas flutuantes pela primeira vez, deixou o queixo cair, enquanto os olhos cinzentos brilhavam.

— Olha, papai! – Gritou. – Tá voando a montanha!

Neteyam sorriu, tomado por um sentido indescritível ao ver seu filhote no lugar onde tinha crescido.

— Olha o tanto de ikran! – Tai’Ren parecia abismado, apontando para todos os lugares onde via o animal voador. – Uau!

Sem perder tempo, ambos direcionaram os ikrans para pousarem na entrada do acampamento alto, já notando a movimentação de Omatikayas curiosos. Neteyam inicialmente ficou tenso, colocando protetoramente o braço com mais firmeza em torno do menino, já que estava preparado para uma reação negativa de seu povo ao vê-lo, depois do sabor amargo deixado pela guerra.

Porém, quando viu Tuk se destacar na multidão, com um sorriso enorme ao vê-los, Neteyam imediatamente relaxou um pouco mais. Ao’nung desceu do ikran primeiro e recebeu Tai’Ren em seus braços com cuidado. O menino de repente ficou quieto diante de tantas pessoas novas e, escondeu o rosto em seu pescoço, em um misto de desconfiança e timidez.

Um a um, os Sully’s foram aparecendo e Neteyam correu de encontro a sua familia.

— Neteyam! – Tuk pulou em seus braços. – Senti tanto a sua falta!

— Eu também, maninha. – Respondeu, apertando-a mais no abraço.

Ainda não tinha se acostumado com o fato de Tuk ser uma adulta. Ela parecia tão radiante e linda. Aquilo aqueceu ainda mais seu coração.

Se afastaram para que pudesse cumprimentar Spider e Kiri. Sua irmã lhe abraçou também por um longo tempo e depois olhou bem fundos em seus olhos, mostrando todo o acolhimento e carinho que nutria por sua família.

— Bem-vindo de volta, Neteyam. Estou vendo que a visita é bem especial. - Ela deu uma piscadela.

Neteyam agradeceu-a com um beijo no rosto e logo estava nos braços de seus pais, percebendo finalmente o tamanho da saudade que estava sentindo.

Tsireya andou com passos rápidos até Ao’nung e ambos se abraçaram de forma desengonçada já que carregavam seus respectivos filhotes.

— Senti sua falta. – Ela sussurrou para o irmão mais velho.

— Eu também, Reya.

— Você deve ser o Tai’Ren. – Ela sorriu, tocando o rosto do menino. – Eu queria muito conhecer você!

— Essa é a Tsireya, sua tia. – Disse Ao’nung.

Ainda muito tímido e estranhamente interessado no embrulhinho nos braços de Tsireya, Tai’Ren fez o gesto de “Eu vejo você”.

— Oi, tia. – Sua voz saiu baixinha. E sem conter a curiosidade, ele apontou para os paninhos no braço dela. – Você tem um bebê aí?

Ela se aproximou, puxando devagar um pouco da coberta para mostrar o rosto do bebê de pele azul turquesa que dormia tranquilamente. Tai’Ren nunca tinha visto um na’vi tão pequeno antes.

— Esse é meu bebê, Nu’it. É seu priminho, Tai’Ren.

— Ele é tão pequeno... Quando ele acordar, a gente pode brincar?

Tsireya riu.

— Ele ainda é muito novo, daqui uns anos podem sim. Mas o Kaani e a Saeyla logo vão acordar do cochilo e vocês podem brincar muito.

Ao’nung sorriu, tocando o topo da cabeça do bebê com muito cuidado.

— Bem-vindo a familia, pequeno. – Sussurrou. Depois ergueu o rosto para encontrar os olhos da irmã. – Nossos pais mandaram muita coisa pro bebê.

— Eles são tão preocupados. – Disse Tsireya. Notando o olhar curioso de Tai’Ren para ela, sorriu mais. – O Lo’ak falou muito de você pra mim, sabia?

— O tio? – Tai’Ren se empolgou com a menção a única figura que conhecia. – Onde ele tá?

— Foi fazer um voo, mas já está voltando.

Foram distraídos do diálogo quando Neteyam se aproximou junto com os outros Sully’s. Estava aparentemente emocionado, mas muito feliz.

— Este é o Tai’Ren. – Anunciou. – Meu filho.

Neytiri foi a primeira a se aproximar, sendo cuidadosamente analisada pelos olhos cinzas muito curiosos.

— Tai’Ren...Filho de Neteyam e Ao’nung. – Estendeu a mão para tocar nas bochechas da criança. Um sorriso suave cresceu em seus lábios. – Sua avó vê você.

Diante do toque muito suave, Tai’Ren relaxou, internamente concluindo que gostava muito da ideia de ter mais uma avó. Jake colocou os braços em torno do ombro de Neteyam ao notar que ele limpava algumas lágrimas.

O momento aconchegante, no entanto, não durou muito. Logo o menino estava cercado. Kiri, Tuk e Spider tinham olhos grandes e brilhantes, sedentos de curiosidade. Tai’Ren não estava muito diferente. Absorvia os traços de todos com muito cuidado.

— Você é tão fofinho! – Disse Tuk, quase dando saltinhos de empolgação.

— Acabou de ganhar o posto de sobrinho mais velho. – Anunciou Kiri, com um sorriso.

— Você acha? – Spider perguntou, observando cuidadosamente a criança.

— Mas é óbvio! – Kiri revirou os olhos. – Kaani e Saeyla têm 3 anos! Esqueceu que eles nasceram quase 1 ano depois que o Neteyam foi morar nos recifes? O Tai’Ren tem no mínimo uns 5 ou 6.

— Ah, isso é tão lindo! Bem-vindo a familia, Ren. Eu sou sua tia Tuk! Essa é a tia Kiri e esse baixinho é o tio Spider.

— Ei! – Spider protestou.

— Somos uma família esquisita, eu sei. Mas você se acostuma. – Disse Kiri, ignorando a pequena discussão entre seus irmãos. – Eywa deve gostar muito de você, Tai’Ren. Eu a sinto tão perto.

— Não começa com esses papos. Ele não vai entender nada. – Reclamou o único irmão humano.

— Spider!

— Eu gosto de Eywa. – Disse Tai’Ren, sorrindo para sua tia.

— Viu só? – Kiri olhou para Spider. – Ele é muito esperto.

— Mas todo mundo sabe que eu vou ser a tia mais querida! – Tuk interveio. – Então, não insistam.

Ao’nung continuou segurando seu filho nos braços, revirando os olhos para as apresentações caóticas. Tsireya conteve o riso diante de tanta agitação.

Tai’Ren, por sua vez, ainda não sabia bem o que dizer, mas gostou muito de todos eles.

Depois da fala de Tuk iniciou-se uma nova discussão, agora envolvendo os três Sully’s ciumentos, para ver quem seria o tio favorito. No entanto, Neytiri se aproximou, afastando-os com uma bronca.

— Se comportem como os adultos que são. – Sua voz soou gélida, mas foi baixa o suficiente para somente os filhos escutarem.

Jake foi o último a se aproximar e ainda segurava os ombros de Neteyam, que parecia já ter parado de chorar. Seus olhos correram pela perna quebrada da criança e então encontrou os olhos cinzas muito inocentes. Assim como seu filho mais velho, ele tinha visto de perto todos os horrores da guerra contra o Povo das Cinzas, mas já tinha passado por tantas outras situações parecidas e por tantos conflitos, que não tinha ficado com sequelas como Neteyam.

Ele também soube no momento em que o viu, que Tai’Ren era tão vítima da guerra quanto eles.

— Filho, esse é meu pai, Jake. É seu avô. – Disse Neteyam.

— Oi Tai’Ren. Eu escutei muitas coisas sobre você. – Começou Jake, olhando de canto para o filho mais velho. – Mas o Neteyam me disse algo que eu preciso perguntar.

— O quê? – Tai’Ren ficou curioso.

— É verdade que você pescou um peixe com o arco?

O menino imediatamente se empolgou.

— Sim! Eu pesquei ele sozinho! E depois a gente fez pra comer.

Neteyam riu e Ao’nung encolheu os ombros ao imaginar o filho armado com um arco, mesmo tão pequeno.

— Então, parece que tá na família certa. – Jake aprovou, com um sorriso.

— Você também sabe pescar, vovô?

— É claro, foi eu quem ensinei o seu pai.

— Uau!

No final das contas, depois de tantas apresentações, Tai’Ren acabou no colo de Jake, enquanto Neteyam cumprimentava Tsireya e se emocionava ao conhecer seu novo sobrinho. Ao’nung começou a pegar a bagagem e depois todos seguiram para o acampamento.

Tai’Ren estava tão concentrado perguntando diversas coisas ao seu avô que não percebeu os olhares de estranhamento de outros Omatikayas que atravessavam seu caminho.

Neteyam carregava o pequeno sobrinho nos braços, com um olhar carinhoso, alheio as coisas a sua volta. Ao’nung aproveitou para contar para a irmã como estavam todos em Awa’altu e como tinham sido os meses de adaptação de Tai’Ren. Ela ouvia tudo com atenção e morrendo de saudades de ver sua antiga casa.

Momentos depois, quando se alojaram em uma das cabanas, Neteyam e Ao’nung levaram Tai’Ren para examinar novamente a perna e ver os avanços. O menino ficou abismado ao ver tantos na’vis com roupas estranhas, porém muito legais. 

Contudo, achou ainda mais estranho ver Norman, que parecia pequeno demais.

— Você tá diferente. – Disse ele, com olhos estreitos.

— É que você conheceu meu avatar. Esse é meu corpo de verdade.

Ellen interrompeu antes que Norman entrasse em alguma explicação complexa demais para o menino entender e refez os exames que precisava.

— Ele está indo bem. – Concluiu ela, para alívio dos pais que aguardavam ansiosamente. Ao’nung estava contando os segundos para sair de dentro do ambiente estranho que era o laboratório. – Mas como eu disse antes, joelho é algo que demora bastante. Por sorte os pinos estão ajudando, não vamos precisar tirar por enquanto. Provavelmente ainda vai precisar das muletas por meses, mas eu não tenho dúvidas de que ele vai conseguir ficar sem elas em algum momento.

O parecer da médica foi um verdadeiro alívio para ambos. Estavam tão felizes que quase esmagaram Tai’Ren em um abraço triplo e muito apertado.

No entanto, quando Lo’ak chegou no acampamento, logo Tai’Ren não queria mais saber da companhia dos pais e matou a saudade do tio com um longo abraço.

Neteyam sorriu, colocando a cabeça no ombro de Ao’nung, ao ver seus irmãos disputando a atenção do novo integrante da família. Mas quando Tuk chegou puxando os gêmeos Kaani e Saeyla, que tinham acordado com a maior energia, Tai’Ren não resistiu e, usando as muletas, foi junto com a tia brincar com os pequenos.

Lo’ak se sentou ao lado deles.

— É impressionante como os três se parecem com a Tsireya. – Neteyam sorriu.

— Graças a Eywa. - Disse Ao’nung, recebendo uma cotovelada do companheiro. – Ai! É brincadeira.

Lo’ak se preparou para responder a provocação, mas Neteyam advertiu.

— Não comecem.

Tuk se sentou no chão, colocando as crianças ao seu redor e explicando que ia ensiná-los a fazer pulseiras ou colares. Muito paciente, ela impedia os mais novos de colocarem as contas e pingentes na boca e ensinava as tarefas diversas vezes.

Tai’Ren estava muito entretido na atividade e vez ou outra tirava alguma dúvida com a tia.

Saeyla, que parecia uma mini cópia de sua mãe, gostou mais da tarefa de pintar as pequenas contas, manchando suas mãozinhas com tinta avermelhada, sempre mostrando para a tia seus avanços.

Permaneceram na atividade por um tempo, assistidos pelos pais, até que Kaani cansou da brincadeira e correu pelo acampamento com as contas na mão, obrigando Lo’ak a ir atrás dele.

— Tava bom demais pra ser verdade. Ei Kaani, papai vai te pegar! – Lamentou o Sully mais novo, correndo para pegar o pequeno. Mas antes virando-se para o irmão: – Depois preciso falar com vocês dois.

Neteyam e Ao’nung se entreolharam, mas concordaram silenciosamente, voltando a atenção para o filho, que parecia muito feliz enquanto construía um colar.

***

— Começamos a entender o que acontecia na ilha. – Disse Lo’ak, sem rodeios.

Neteyam arregalou os olhos, surpreso.

— É sério? – Ao’nung perguntou, igualmente chocado. – Como descobriram?

Além dos três, Jake, Spider e Neytiri também estavam ali.

— Quando conseguimos tomar de volta o norte da floresta, logo que fomos embora dos recifes, conseguimos alguns acessos as informações da RDA. – Disse Jake. – Com a localização que vocês passaram, pedi para o Norman e o Max investigarem a base 136. E, ela foi abandonada, anos atrás. Na verdade, pela data de desligamento, foi uma das primeiras bases instaladas em Pandora. Talvez a primeira no oceano. E foi criada para monitorar as correntes oceânicas, mas depois as prioridades mudaram e a base foi abandonada.

— Como ela pode estar abandonada há tanto tempo? – Neteyam ficou ansioso, começando a andar de um lado para o outro. – Os pais do Tai’Ren nem eram nascidos então. Mas, na carta diz que foi o Povo do Céu que os prendeu lá.

Jake e Lo’ak trocaram um olhar e o patriarca deu a permissão para o filho continuar:

— Sabe a armadilha que você me deu? Nós analisamos aqui e, bom, ela não é antiga. Isso nos levou a investigar um pouco mais e, descobrimos que essas armadilhas são produzidas por um grupo clandestino do Povo do Céu, eles abandonaram a RDA, mas não para lutar por nós. Não temos muitas informações, mas eles trabalham vendendo artefatos, roupas e... até na’vis.

— Por que eles fazem isso? – Neteyam sussurrou. – Qual o objetivo?

— Algumas coisas feitas aqui são muito valiosas pra eles. – Disse Spider. – É a mesma coisa com os tulkuns. Eles matam porque vendem o que precisam.

Ao’nung não pôde evitar a repulsa.

— Não são só rebeldes. – Jake alertou. – Virou uma espécie de organização. Eles devem ter contato com alguém do mundo de onde eu vim. Assim conseguem lucrar enviando as mercadorias. Eu não quero imaginar o motivo de sequestrarem na’vis, mas as armadilhas com certeza eram usadas para os que tentavam fugir.

Neteyam trincou os dentes, tentando conter a raiva.

— Infelizmente, ainda não sabemos de qual clã é o símbolo do totem. – Disse Lo’ak. – Mas, descobrimos que a RDA tem alguns artefatos com o mesmo símbolo. Talvez, seja por isso que sequestraram os pais do Tai’Ren. Se a RDA e esse grupo clandestino estão atrás destes mesmos itens que pra eles são valiosos, talvez o pai dele devia ter algo assim.

— Ou ele sabia como produzi-los. – Acrescentou Spider.

— Provavelmente, esse grupo tomou conta da base abandonada, usou a estrutura afastada de tudo para levar os na’vis que interessavam e o resto, é difícil saber.

— Não é não. – Disse Neteyam, sombrio. – A mãe de Tai’Ren matou todos eles. Se isso não tivesse acontecido, ele não teria ficado vivo.

— Eu queria ter mais respostas, mano. – Lo’ak soou decepcionado. – Mas agora que sabemos que esse clã tem itens que são do interesse da RDA e dos grupos clandestinos, provavelmente eles estão passando por maus bocados, se é que não foram massacrados.

Neteyam sabia que aquilo era provável, mas não ia desistir antes de encontra-los.

— Eles estão resistindo, tenho certeza. – Respondeu, pegando na mão de Ao’nung. – Obrigado por nos ajudarem. Isso é importante.

Quando todos saíram e Neteyam se viu sozinho com Ao’nung, escondeu o rosto nos ombros do companheiro.

— Como vamos dizer isso pra ele um dia? – Sussurrou.

— Ele já vai ser mais velho, meu Neteyam. Os combates contra o Povo do Céu vão continuar acontecendo, infelizmente. O que nós precisamos realmente deixar claro, é que os pais dele lutaram até o fim e que sempre vai haver uma esperança de descobrir quem são.

— Você tem razão. – Neteyam deu um beijo em sua bochecha e em troca recebeu um na testa. – Sempre há uma esperança.

— Agora vamos voltar, estão nos esperando.

***

— Eu sou um ikran e voo muito alto!!! – Tai’Ren gritou.

Ao’nung, que estava com o corpo do menino estendido nos braços, na altura do abdômen, simulava o voo do ikran, balançando-o para cima e para baixo, enquanto andava em volta da cabana onde dormiriam.

Tai’Ren ria, se divertindo muito na brincadeira com seu pai e continuava mantendo os braços bem abertos, sentindo que estava realmente voando.

Neteyam estava na fogueira ao lado de Kiri e seus pais, mas estava tão embalado pelas gargalhadas de Tai’Ren, que decidiu entrar na brincadeira.

— Hmm, estou sentindo cheirinho de ikran filhote! – Fez uma cena. – Minha comida favorita!

— Ah não! – Tai’Ren se desesperou. – Tenho que voar mais rápido, vai papai!

Com os pedidos eufóricos, Ao’nung apressou o passo, balançando-o um pouco mais nos braços para dar uma emoção no voo, o que pareceu funcionar, pois Tai’Ren estava rindo e comemorando.

— Você nunca vai me pegar, monstro devorador de ikran!

Ao’nung riu quando viu Neteyam, dar a volta agilmente pela cabana, saindo bem na frente deles.

Tai’Ren gritou e mostrou suas presas.

— Eu não tenho medo de presinhas de filhote! – Neteyam se aproximou. – Agora você é meu, pequeno ikran.

— Papai, tira a gente daqui!

Com a criança agitada nos braços, Ao’nung deu meia volta, mas deu uma piscadela cúmplice para Neteyam e entrou dentro da cabana.

— Hora de aterrissar, pequeno pescador.

— Ah...Por quê?

— Porque você precisa dormir. Crianças dormem cedo.

Neteyam entrou na cabana também, se juntando a eles. Imediatamente, Tai’Ren tentou apelar para ele:

— Papai, vamos brincar mais um pouco.

— Não, o Ao’nung está certo. Crianças precisam dormir cedo. Você viu seus primos? Todos eles já foram dormir.

A contragosto, Tai’Ren acatou o pedido de seus pais, se encolhendo para descansar. No final, o dia tinha sido tão agitado, que rapidamente já estava em sono profundo.

Neteyam e Ao’nung voltaram para a fogueira. Com as crianças todas dormindo, agora os adultos podiam desfrutar de um momento de paz. Neteyam fechou os olhos, encostando a cabeça nos ombros do parceiro. Kiri mantinha um olhar ansioso para ambos.

— Você está bem? - Perguntou o herdeiro.

— Sim, só balancei demais indo atrás de vocês. Devo estar ficando velho.

Ao’nung riu.

— Não seja bobo.

Depois de alguns segundos em silêncio, Kiri se virou na direção deles:

— E então?

— O quê? – Perguntou Ao’nung.

— Quando pretendem nos contar?

Neteyam ergueu a cabeça e encarou Ao’nung, que parecia tão perdido quanto.

— Contar o quê? – Neteyam questionou, duvidoso.

— Sobre o outro filhote. – Ela disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Que outro filhote? – Neteyam riu.

Tuk colocou a mão na boca para conter o riso.

— Eu achei que estivessem esperando o momento mais propício, sabe? Sem as crianças...- Kiri resmungou, mas notando que o casal continuava sem entender suas palavras ela parou. – Vocês... ainda não perceberam?

Ao’nung olhou para Neteyam:

— Perceberam o quê?

— Francamente. – Kiri voltou a intervir, sem saber se ria ou se revirava os olhos. – Quando eu disse que era uma visita especial foi porque eu senti...

Ela se aproximou, tocando a barriga de Neteyam, que agora literalmente sentia o mundo girar.

— A energia aqui.

A fogueira ficou um verdadeiro silêncio. 

Ao’nung empalideceu e seus olhos buscaram os de Neteyam, mas ele parecia tão em choque quanto ele.

— Acho que eles morreram. - Concluiu Spider.

— Kiri, você tem certeza? – Perguntou Tsireya, já emocionada.

— Eu sinto claramente, mas vocês podem falar com a vovó também. Na verdade, acho que já tem um tempo que esse filhote está aí.

— Neteyam...- Ao’nung tentava recapitular as últimas semanas, unindo as pistas para validar o que Kiri tinha falado.

— Como vocês podem ser tão lerdos? – Resmungou Lo’ak, de braços cruzados. – Até uma criança pode ver que o mano tá mais frágil que uma folha!

— Isso é verdade. – Disse Tuk, transbordando de felicidade. – Mal acabamos de ganhar um sobrinho e vamos ter outro!? Isso é tão lindo...

De repente, para Ao’nung, aquilo fazia todo sentido. Toda aquela fragilidade, o sono excessivo, a fome. Não poderia ser coincidência. 

E bom, mesmo que fosse, ele já estava emocionado.

Os olhos azuis buscaram os dourados e Neteyam segurou nos braços dele quase como se precisasse de um apoio.

— Ao’nung... – A voz soou embargada. – Eu acho... que é verdade.

Sentindo uma vontade absurda de acolher seu amor em seus braços, o Metkayina puxou Neteyam com força, sentindo o coração muito acelerado.

— Depois de tantos anos...- Neteyam sussurrou, choroso. – Por que Eywa nos ouviu agora?

Ao’nung sentia-se em uma maré caótica, mas cujo destino não era nada além do que a felicidade. E então ele cedeu também, deixando as lágrimas saírem.

— Porque estamos prontos, meu Neteyam.

Tsireya já estava chorando nos braços de Lo’ak, que sorria feliz. Kiri e Tuk se uniram ao casal em um abraço compartilhado, assim como Jake e Neytiri.

Nem Neteyam e nem Ao’nung sabiam muito bem o que fazer ou o que sentir, tudo ainda parecia irreal. Mas decidiram primeiramente, se deixarem ser acolhidos por sua família.

Quem sabe depois, tudo aquilo se tornasse mais palpável. Por enquanto, ainda era como estar sonhando.

***

Mais tarde, quando as emoções de todos pareciam um pouco mais controladas e Neteyam foi tomado por um terrível cansaço. O casal voltou para a cabana, checando Tai’Ren uma última vez antes de se deitarem juntos.

Ao’nung discretamente levou a mão a barriga de Neteyam, tentando assimilar a ideia de vê-la crescer e gerar um filhote. Não pôde evitar sorrir.

O Sully deixou seus dedos encontrarem os do amado, compartilhando o mesmo pensamento que ele. No entanto, franziu a testa quando Ao’nung subitamente se ergueu, apoiando-se nos cotovelos.

— Espera.

— O que foi? – Neteyam se ergueu também.

— Isso significa que...- Ao’nung arregalou os olhos. – Quando nós fizemos aquilo na caverna... nosso filhote já está lá?

— Eu vou falar com a minha avó amanhã, mas se o que a Kiri disse for verdade, o bebê já está aqui a um tempo.

— Por Eywa...- Ao’nung parecia horrorizado. – Nós poderíamos ter machucado ele! Não podemos mais fazer isso!

De repente, Neteyam sentiu o sono passar.

— O quê?

— Não vamos fazer nada enquanto o filhote estiver aí. – Respondeu Ao’nung, convicto.

— Espera, Ao’nung. Você não pode decidir isso assim.

Mas o Metkayina foi irredutível e, depois de longos minutos de uma discussão sussurrada para não acordar Tai'Ren, Neteyam gemeu em frustração ao se deitar outra vez.

— Saiba que eu não vou desistir. – Retrucou.

Ao’nung riu e tentou pensar em uma boa resposta, mas quando virou, Neteyam já estava dormindo profundamente.

 


Notas Finais


Eu tô tão 🥺😭❤ Veio aí o que todos já sabiam menos o nosso casal: um baby azul <3

Vi que já tinha comentário rolando sobre isso, mas vou trazer a discussão pra cá kkkkk É Enzo ou Valentina? VALENDOOO

Programei mais 3 capítulos e o epílogo então, estão pertinho do fim <3 mas como puderam perceber estou trazendo capítulos ENORMES nesse finalzinho. Só esse foi mais de 5MIL palavras (2º maior cap)!

Desculpem a demora, era pra ter postado cedo, mas eu inventei de escrever de novo kkkk

Espero que tenha curtido seus lindos, não se assustem se daqui pra frente termos mais saltos no tempo 👀

Um beijo!

Playlist da Fic (tem de tudo, desde MPB até um rockzinho) -> https://open.spotify.com/playlist/1aRePxCbac7cDunYhqoeCg?si=220769a163b344a7


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