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História Always Somewhere (Aonung x Neteyam) - 10. A Dama Thanator


Escrita por: Srta_Michaelis

Notas do Autor


Oii meus amores! Sim, estou viva!

Essa semana foi super desgastante pra mim e quase não consegui tempo pra escrever. Espero que a próxima seja melhor.

Desculpe qualquer errinho, eu terminei esse cap 5h da manhã hoje, tava vendo estrela já kkkk

Boa leitura!

Capítulo 45 - 10. A Dama Thanator


You came thoughtfully (Você chegou atenciosamente)

Loved me faithfully (Me amou fielmente)

You taught me honor (Você me ensinou a honra)

You did it for me (Você fez isto por mim)

My Love - Sia

 

 

— Vocês... fizeram mesmo tudo isso? – A voz de Aneya soou estranhamente triste após ouvir um longo resumo do que tinha acontecido nos últimos dias.

Tai’Ren olhou para o lado, a fim de pousar os olhos no rapaz que olhava para o céu. Ambos já haviam saído da água e agora olhavam para o céu iluminado do ápice do dia. Os dedos carinhosamente entrelaçados.

— Sim. – Admitiu, tentando não demonstrar toda sua angústia. – Mas agora está tudo bem. Vamos continuar nossa viagem.

O Metkayina, contudo, não parecia menos preocupado depois das palavras.

— Não está tudo bem, Tai’Ren. – Disse Aneya, ansioso. – Vocês se arriscaram demais por mim e agora o Povo do Céu está te procurando também. Não podemos nem pedir conselhos do seu pai ou do seu tio sem o comunicador. Será que receberam sua mensagem em Awa’atlu?

— Isso eu não sei... – Os olhos cinzas baixaram. – Espero que sim. Fizemos tudo o que era possível. Eu sei que o plano foi uma loucura, mas eu precisava enviar essa mensagem. Me desculpe por arriscar tanta coisa, mas eu faria outra vez.

Com as palavras diretas, porém ainda inseguras, Aneya se compadeceu um pouco mais. Acariciou os nós dos dedos longos e finos de Tai’Ren com sua mão e os olhos escuros que se ergueram para encontrar os seus.

— Não íamos parar com essa coisa de “desculpa”? – Riu baixinho o Metkayina.

A provocação fez Tai’Ren sorrir, expulsando momentaneamente suas dezenas de preocupações. Ele usou a mão livre para tocar a pele clara do rosto alheio. Deixou a ponta dos dedos absorver a textura da pele das bochechas, da testa, queixo e lábios. Aneya tremeu e soltou os dedos que estavam entrelaçados aos de Tai’Ren para tocar o rosto dele, encostando o mais suavemente possível na região em torno da cicatriz profunda.

Ele não conseguia explicar o quanto doía saber que aquela marca jamais sairia do rosto tão gentil. Um misto de tristeza e raiva ameaçavam tomar seu coração, mas Aneya conteve a euforia. Tai’Ren desviou o olhar, constrangido por estar marcado daquela forma.

— Não precisa fazer isso. – Disse o menor, tentando afastar os dedos gentis do Metkayina.

— Não tem que se esconder de mim assim.

— Mas... – Tai’Ren sussurrou. – Não é bonito.

— Essa não é sua primeira marca...- Respondeu o maior, se referindo a perna repleta de cicatrizes. – E talvez não seja a última. O importante é que você continua sendo o mesmo Tai’Ren. Cicatrizes são só lembranças. Você sempre vai ser o mesmo pra mim. Nosso espírito reflete quem somos de verdade e não o que há por fora.

— Agora você está falando igual a vovó Ronal. – O Sully sorriu, tentando disfarçar o rubor em seu rosto.

Ver o sorriso divertido aliviou quase completamente as tensões entre eles. Estar deitado ao lado de Tai’Ren soou estranhamente nostálgico para Aneya. E, em um ímpeto de coragem, ele repetiu o ato que fez em seu quarto - que parecia ter sido há uma vida - e puxou a nuca de Tai’Ren para beijá-lo.

Seu coração ainda não estava acostumado com a ideia de ser retribuído, então quando os lábios do menor pressionaram afoitos os seus e a língua buscou passagem, Aneya quase desmanchou de alegria e nervosismo. Evitando tocar o rosto do rapaz para não piorar o ferimento, deixou a mão apertar levemente o ombro alheio, sentindo com os dedos o contorno dos ossos e dos músculos suaves, porém trabalhados.

Tai’Ren, por sua vez, estava eufórico com a sensação ainda tão nova de ter um beijo verdadeiramente apaixonado. Para ele, ainda era estranho estar com alguém daquela forma tão íntima, mas os sentimentos intensos de alegria e curiosidade se sobressaíram diante da novidade e ele deixou a mão passear pelo pescoço, ombro, braço e, por fim, descansar no quadril que estava lhe interessando bastante. 

Memorizou cada linha dos músculos e ossos, guardando também a temperatura amena e a textura da pele de um tom tão diferente da sua.

Corados e ofegantes, eles se afastaram momentaneamente para respirarem e Tai’Ren aproveitou a brecha para puxar Aneya contra ele, encostando levemente os bustos já secos depois do mergulho. O Metkayina soltou um leve suspiro de surpresa, mas não pôde dizer nada já que teve seus lábios reivindicados outra vez.

Era impossível não sentir o rosto esquentar diante do calor transmitido no beijo intenso. Tai’Ren parecia muito disposto a explorar seus lábios até enjoar. Contudo, quando os lábios finos do mais novo decidiram passear pela sua mandíbula, Aneya o afastou suavemente, constrangido por sentir o calor do beijo se espalhar para o resto de seu corpo.

— É melhor nós irmos. – Sussurrou, tentando normalizar a respiração.

Voltando a realidade, Tai’Ren se afastou, balançando a cabeça em afirmativa e ainda levemente envergonhado pela situação em que estavam há pouco.

— Tem razão. Não é bom nos separarmos agora.

— Quando chegarmos, eu tranço seu cabelo. – Disse Aneya, notando o vento ameno bagunçar os fios ondulados parcialmente molhados.

— C-certo. – Tai’Ren gaguejou, falhando em disfarçar a timidez. Mesmo que já tivessem compartilhado um momento como esse, deixar Aneya trançar seu cabelo agora parecia totalmente diferente.

Porém, a atmosfera romântica do ambiente imediatamente foi quebrada quando o menor tentou levantar e gemeu, se desequilibrando ao tentar apoiar a perna ferida.

— Tai’Ren! – Aneya correu para segurá-lo, ignorando a própria fraqueza pelos dias desacordados. Só então percebeu como o joelho do rapaz parecia inchado. – Feriu a perna? Como foi isso?

— Durante a luta contra os na’vis. – Explicou. – Tudo estava tão caótico, você não deve ter reparado.

— Não pode se esforçar. Vamos!

Tai’Ren aceitou a gentileza e passou um dos braços em torno dos ombros de Aneya, se apoiando nele para caminhar, mancando. O Metkayina segurava firmemente sua cintura, buscando mantê-lo sempre equilibrado.

Eles caminharam devagar na volta, ainda apoiando-se um no outro. Aneya tentou manter as orelhas atentas a qualquer movimentação nos arredores, mesmo sabendo que não estava completamente recuperado para lutar. Felizmente, o caminho foi tranquilo e eles puderam retornar para a clareira silenciosa, onde Eiji dormia quase em posição fetal, submerso em diversas camadas de pano.

— Ele não tem medo de dormir sozinho em uma floresta com inimigos? – Disse Aneya, ajudando Tai’Ren a se sentar não muito longe do garoto.

— Eiji tá doente... – Respondeu, preocupado. – Eu queria poder ajudar, igual ele ajudou você...

Sentindo o tom entristecido do rapaz, Aneya tocou seu ombro com delicadeza, observando o rosto avermelhado do garoto adormecido.

— Vamos todos ficar bem. – Sua voz soou amena.

Logo em seguida, ele caminhou para pegar o arco e as flechas de Tai’Ren.

— O que vai fazer?

— Caçar. Precisamos comer.

— Mas Aneya...- Tai’Ren ficou ligeiramente temeroso. – Você ainda está se recuperando! Precisa descansar!

— Eu estou bem melhor. – O Metkayina fitou a cicatriz em seu peito, que apesar de ainda estar dolorida, parecia bem fechada. – Não se preocupe, volto rápido. E nada de levantar pra fazer fogueira, eu resolvo isso quando chegar.

Tai’Ren ia protestar, mas Aneya não deu espaço para discussões e voltou para a floresta, deixando-o sentado na grama.

— Quanta teimosia... – Sussurrou o Sully, meio contrariado.

Sozinho na floresta, Tai’Ren tentou não ficar tão nervoso pela falta de Aneya e se distraiu passando os dedos pelos cabelos soltos, eventualmente trabalhando em algum nó com cuidado. Corou quando os pensamentos rapidamente voaram até os momentos na lagoa.

Ter beijado Aneya foi um ato de coragem e estava muito orgulhoso disso, mas ao mesmo tempo, não fazia ideia do que aconteceria dali pra frente. Nunca esteve com outra pessoa dessa forma e, por isso, era meio estranho pensar que precisariam construir juntos tantos outros momentos.

O medo, porém, era acompanhado de bastante expectativa. Seu rosto esquentou um pouco mais ao imaginar tudo o que ainda poderiam descobrir um ao lado do outro. Sempre admirou a relação de seus pais e seus avós e era impossível não desejar viver um pouco de um amor como aquele. A cumplicidade de Neteyam e Ao’nung, a força de Jake e Neytiri, e por fim, o cuidado e proteção de Ronal e Tonowari. Todos estes aspectos foram admirados e idealizados por Tai’Ren, mas ele sabia que, no fim das contas, teria que encontrar junto com Aneya, a marca do amor deles.

Balançou a cabeça e voltou a focar nos cabelos, atento em seu entorno. Não poderia se descuidar depois de terem ido tão longe. Não sabia quanto tempo faltava para alcançar as planícies, mas não tinha dúvidas de que logo encontrariam os perigos que cercavam a região.

Voltando a seriedade que precisava, Tai’Ren suspirou e se deitou na grama, sabendo que se quisesse se manter vivo por muito mais tempo, precisava se curar o quanto antes.

***

Momentos depois de chegar e tranças com cuidado os cabelos do menor, Aneya preparava a carne que comeriam enquanto Tai’Ren continuava balançando Eiji. Estava há alguns minutos na árdua tarefa de fazer o menino se animar para se alimentar, mas ele parecia distante.

— Eiji, vamos...- Tai’Ren insistia. – Você precisa comer.

— Hm...

— Faz uma força. Comer vai te ajudar bastante.

— Não tô com fome. – Resmungou Eiji, se encolhendo mais.

— Está sim, não comeu nada faz tempo.

Sabendo que não podia ceder perante as teimosias, Tai’Ren ergueu o menino com cuidado, ignorando os protestos mimados. Eiji acabou desistindo de resistir e comeu devagar um pedaço generoso de carne, sob olhar atento dos outros dois.

Mesmo que estivesse otimista, Tai’Ren estava achando cada vez mais difícil não se abalar diante da visão do garoto enfraquecido e cada vez mais arredio.

— Nós vamos chegar logo. – Tai’Ren resolveu quebrar o silêncio, chamando a atenção dos outros dois. – Só precisamos fazer um pouco mais de esforço.

— Não imaginei que fosse tão longe. – Suspirou Aneya, ainda cansado pela energia gasta na caça.

— As coisas vão se complicar quando estivermos perto. – Comentou Eiji, olhando para a fogueira. – Mas já devem saber disso.

— Sim. – Admitiu Tai’Ren. – O Povo do Céu circula pela região, mas estamos preparados.

— Estamos? – O menino ergueu as sobrancelhas. – Olha pra nós, Tai’Ren. Estamos todos feridos. Nunca vamos conseguir.

— Eu estou pronto. – Aneya retrucou. – Nada vai acontecer.

— Eu sei que estou ferido, mas gosto de acreditar que Eywa continua cuidando de todos nós. – Disse Tai’Ren, inicialmente otimista, mas depois culpado. - ... mesmo depois de tudo o que fizemos.

— Eywa não tem motivos pra me proteger. – Respondeu Eiji, voltando a comer.

— Não diga isso. Você se arriscou pra me ajudar a salvar o Aneya. Tenho certeza de que a Grande Mãe vê seu coração também.

Era muito complicado para Eiji acreditar em tudo aquilo, mas Tai’Ren parecia tão gentil e confiante, que não viu necessidade de teimar com suas palavras, por isso, voltou a comer silenciosamente, tirando eventualmente a máscara para ir colocando os pedaços de carne na boca.

Nenhum deles disse mais nada até terminarem de comer. Quando se viram prontos para seguirem, Aneya aceitou o arco, enquanto Tai’Ren portava o fuzil de forma bem atrapalhada, já que estava mancando. Eiji tentava acompanhar o ritmo deles, levando sua mochila nas costas e a arma na cintura. Tomou o cuidado de tomar um banho antes de partir e colocar roupas limpas. Infelizmente, só tinha conseguido roupas de adultos, o que o obrigou a cortar a calça e arranjar uma forma de amarrá-la de uma maneira mais justa.

Em vários momentos, Tai’Ren precisava parar para aliviar as dores no joelho ferido e recusou categoricamente todas as vezes em que Aneya se ofereceu para carrega-lo, até que o Metkayina desistiu e arranjou um tronco de árvore mais ou menos na altura de uma lança para que Tai’Ren utilizasse para se apoiar enquanto andava. Não era bom como muletas, mas começou a ajudar o rapaz.

Eiji continuava tomando seus remédios, mas, apesar de estar livre do efeito da morfina, seguia com sintomas similares, por conta da infecção. Vez ou outra parava para vomitar ou simplesmente para fechar os olhos por alguns segundos, resquícios de exaustão trazida pela febre. Em um desses momentos de descanso, percebeu que suas memórias começavam a se confundir e ele soube que estava começando a delirar.

Portanto, devido ao cansaço extremo, o menino começava a ficar para trás, sentindo o corpo cada vez mais pesado e sem energia. Por fim, acabaram parando outra vez para Tai’Ren descansar.

Eiji sabia que sustentar tantas camadas de roupa só pioravam a febre, mas não tinha disposição para tirar as únicas coisas que lhe protegiam do frio avassalador. Em seus delírios, entre sonho e realidade, viu sua mãe com o rosto enrugado de estresse lhe dando bronca por não cuidar bem de si mesmo.

— Não sei mais ou que eu faço com você. – Resmungava ela, revirando os olhos. – Tão pequeno e tão cabeça dura!

— Desculpa...

— Pelo quê? – Tai’Ren, que estava com a cabeça de Aneya em seu ombro, virou para encarar o menino, mas Eiji parecia imerso nos próprios pensamentos e continuou deitado, com olhos entreabertos.

— Se tivesse me levado com você...- Sussurrou Eiji. - ... estaria cuidando de mim.

Os dois na’vis pararam e se entreolharam, confusos.

— Eiji? Com quem está falando? – Questionou Tai’Ren, tentando entender em qual direção os olhos pequenos estavam focados.

Mas não receberam qualquer resposta. Eiji permaneceu alheio aos questionamentos e por alguns minutos continuou balbuciando coisas completamente sem nexo. Isso até o Sully se aproximar, desvencilhando-se de Aneya e tocando os ombros minúsculos do menino deitado na grama, com as costas apoiadas em uma árvore.

— Eiji. Está me ouvindo? – Os olhos cinzentos analisaram o rosto inerte da criança e se assustaram a não ver muito brilho nas pupilas escuras. – Vamos, me responde.

Aneya se aproximou, apreensivo.

— Ele está piorando?

— Sim. – Tai’Ren insistia em balançar os ombros de Eiji. – Acorda, anda. Não sei o que ele tem, Aneya... Não sei como ajudar!

Com o desespero começando a aparecer na voz afobada, o Metkayina imediatamente tocou o rosto de pele escura.

— Ei, calma. Olha pra mim. – Quando os orbes escuros se fixaram nos seus, ele continuou. – Vamos dar um jeito, tudo bem?

— C-certo. – O menor sussurrou, inseguro.

— Tai’Ren...?

A voz frágil de Eiji despertou ambos do diálogo. No mesmo instante, se voltaram para o menino que parecia um pouco mais consciente, com as pupilas recuperando o brilho.

— Eiji! – O Sully sorriu, aliviado. – O que houve? Você está bem?

— S-sim...

Aneya não se convenceu com a resposta. mas não ofereceu resistência quando a criança se remexeu para levantar.

— Me dá a bolsa, eu posso levar pra você. – Tai’Ren se apoiou no tronco para conseguir se deslocar até o rapaz.

— Não precisa. – Eiji continuou caminhando meio cambaleante.

Respeitando o espaço do menino, ambos voltaram para a caminhada lenta. Aneya estava ligeiramente incomodado com a calmaria, mas não compartilhou suas inseguranças com Tai’Ren. O menor, por sua vez, teve que colocar a arma de fogo nas costas para se apoiar melhor no tronco.

O Metkayina tinha o arco já munido de uma flecha, pronta para acertar o que quer que aparecesse no caminho deles. Não se considerava um grande arqueiro como Tai’Ren ou Neteyam, mas em uma situação de perigo, estava disposto a não errar – e esperava conseguir fazer isso.

O clima terrivelmente mais frio era o primeiro sinal de que estavam novamente em áreas próximas do destino da viagem. Infelizmente, por conta do conflito com os misteriosos na’vis, Tai’Ren teve que deixar quase todos os seus pertences para trás, incluindo a lança e as bolsas, o que os deixavam mais suscetíveis às temperaturas hostis. Felizmente, a neblina não parecia ser tão comum no novo trajeto.

A mudança na vegetação também marcava o retorno para a região perigosa. As árvores magras e mais espaçadas passavam claramente a mensagem de que dali para a frente, a flora de Pandora ficaria cada vez mais escassa até revelar longos trechos de terra plana e de vegetação rasteira, as planícies do Santuário dos Ossos.

Um baque seco distraiu Aneya de seus pensamentos, ao mesmo tempo em que os olhos de Tai’Ren se arregalaram. Levando apenas um segundo para compreender a situação, o Metkayina viu o corpo de Eiji caído na grama.

— Eiji! – Gritou Tai’Ren, cambaleando como podia até o corpo pequeno deitado de bruços. Antes mesmo de o virar, sentiu o menino tremer em sua mão, mas quando fitou o rosto corado e os olhos outra vez distantes, soube que ele não duraria muito tempo.

Aneya se aproximou, abaixando-se para checar a aparência do menino. Tai’Ren ergueu os olhos afoitos.

— Procura água! Deve ajudar ele!

Prontamente, o mais velho obedeceu, correndo em busca de algum rio, enquanto Tai’Ren tirava a imensa pilha de agasalhos de Eiji para checar se não havia qualquer outro ferimento. O corpo do jovem humano continuava tremendo, mas não ao ponto de convulsionar. A pele ardia.

Tai’Ren franziu o rosto ao ver a cicatrização no ombro alheio. Imaginou que a ferida estivesse aberta e apodrecendo, mas não. Apesar dos claros hematomas coloridos, havia apenas a linha fina, resquício do procedimento feito no acampamento.

— Eiji! Consegue me ouvir!? – Tentou outra vez, angustiado com o olhar distante e sem ponto fixo do menino. – Aguenta firme, estamos quase chegando!

— Tai’Ren! – Aneya se aproximou, veloz. – Encontrei uma nascente!

— Vamos pra lá!

Tai’Ren tentou se levantar com Eiji nos braços, mas logo o maior interrompeu o movimento.

— Me dá ele. Não pode colocar força na perna.

— Tudo bem, vai na frente! – Respondeu Tai’Ren, urgente. – Eu estou muito lento.

Aneya hesitou, mas ao receber um olhar confiante do outro, acenou em concordância e disparou de volta por onde veio, com o arco e as flechas nas costas, enquanto as mãos seguravam Eiji, que seguia entre a realidade e suas alucinações.

O Sully, por sua vez, se concentrava em não perder os rastros de Aneya enquanto o seguia devagar. Praguejou internamente por sua perna estar tão ferida em um momento tão delicado da viagem, mas permaneceu firme até conseguir alcançar a nascente.

O Metkayina tinha deitado o menino ao lado de onde um rio começava a surgir.

— O que fazemos agora?

— Ele tá queimando, vamos colocá-lo na água um pouco.

Depois de tirar a calça e a camiseta larga do menino, Aneya ajudou Tai’Ren a deitar Eiji na poça formada pela nascente, onde a água fria começou a jorrar no corpo pálido.

— Acha que ele vai sobreviver? – Perguntou o Metkayina, depois de um longo minuto de silêncio.

— Não sei...- Admitiu o outro, entristecido. – Espero que sim... chegamos tão longe.

Aneya estendeu o braço para tocar no rosto de Tai’Ren, contorcido em um semblante aflito. Deixou os dedos acariciarem suavemente a bochecha sem ferimentos. O menor agradeceu ao carinho fechando os olhos para desfrutar melhor do toque suave.

— Não podemos ficar muito tempo por aqui. – Disse o Metkayina, sem conseguir conter a sensação esquisita em seu peito. – Está tudo calmo demais.

— Eu sei, vamos esperar só mais um pouco.

No final das contas, ambos permaneceram segurando com cuidado o corpo do garoto desacordado, esperando que a água fria pudesse abaixar a temperatura super alta que tomava sua pele. Quando julgaram o tempo suficiente, vestiram Eiji outra vez e Aneya o carregou de volta, enquanto Tai’Ren caminhava ao seu lado.

Chegando no local onde estavam anteriormente, o Sully pegou a mochila de Eiji e os agasalhos, pendurando em seu braço de forma meio desengonçada. Se aproximou para pegar o corpo pequeno para carregar, mas Aneya se esquivou:

— Eu vou continuar carregando ele. Vai andando com cuidado.

Eles seguiram caminho, ligeiramente ansiosos depois de tudo. Tai’Ren parecia imerso em pensamentos enquanto Aneya mantinha os olhos estreitos e muito atentos, sentindo-se incomodado por estar com ambos os braços ocupados, o que o impossibilitava de se proteger rapidamente.

Tai’Ren, aos poucos, conforme o tempo passava, também começava a ficar apreensivo. A floresta parecia abandonada e silenciosa, exatamente como da última vez que estiveram naquelas terras. E sabia que isso tendia a ser uma mal presságio.

Ele não estava errado.

Quando alcançaram o topo de um pequeno morro com árvores espaçadas – uma raridade nas terras mais planas -, foi quando sentiram a terra vibrar sob seus pés.

— Sentiu isso? – Perguntou o Metkayina, franzindo o rosto, em confusão.

Os orbes cinzas se arregalaram com a sensação familiar. Infelizmente, não demorou para os primeiros robôs aparecerem, portando suas armas de fogo enormes.

— Aneya, cuidado! – Tai’Ren gritou, empurrando o outro para baixo, quando os disparos foram feitos na direção deles. – Temos que ir!

Tomado pelo sentimento poderoso de proteção e uma vontade de lutar, Aneya mostrou os presas, preparado. Sabia que Tai’Ren não conseguiria correr com a perna daquela e observando a aproximação rápida das máquinas controladas por humanos, que só crescia em quantidade, não pensou duas vezes:

— Pega ele e encontra um lugar seguro!

— O quê!? Não! – Tai’Ren aceitou Eiji nos braços, mas tentou puxar o mais alto em direção à floresta. – Vamos! Não vou sem você!

— Eles vão nos seguir! – Aneya puxou o arco e a flecha, mirando no robô mais próximo. Não era difícil assimilar que precisava atingir aquele que o pilotava. No entanto, quando disparou, o tiro não vou certeiro e ele praguejou.

Esperto, Tai’Ren colocou Eiji no chão e puxou o fuzil, atirando na direção do mesmo robô que tinha sido atingido antes. Felizmente, conseguiram derrubar o primeiro, mas percebendo a chegada de muitos outros, estavam completamente sem alternativas.

— Tai’Ren! Vai logo! – Aneya continuava atirando, melhorando cada vez mais a mira para os alvos que se moviam de forma muito mais inteligente do que uma presa.

— Não!

Tai’Ren gritou o chamado para o ikran e rezou para seu companheiro de viagem não estar muito longe e que pudesse ouvi-lo.

Enquanto esperavam, tentavam manter os tiros incessantes nos alvos, impedindo ao máximo sua aproximação. Contudo, um deles chegou perigosamente próximo e Aneya correu em sua direção, pulando sobre ele e sacando o punhal, que tinha sido guardado por Tai’Ren.

O fuzil parecia inofensivo diante das armas enormes do Povo do Céu, mas Tai’Ren se jogou na grama, arrastando-se para não ficar tão exposto. Seus olhos acompanharam, desesperados, Aneya segurar o braço de uma das máquinas, tentando desarmá-la. Porém, o Metkayina ainda estava enfraquecido por conta dos danos da luta anterior, o que o tornou suscetível aos golpes.

— M-me deixa aqui... – A voz de Eiji soou muito baixa e, no meio do caos, quase passou despercebida pelo Sully.

— Eiji! Você está bem? Não se mexe, estamos em perigo!

Os olhos estreitos seguiam entreabertos, mas mesmo diante dos efeitos da febre alta, o menino sabia que estava em meio a um tiroteio e, por força do hábito, sua mente tentou trabalhar em soluções de sobrevivência. Infelizmente, ele já não tinha boas perspectivas sobre o próprio quadro.

— Anda logo...- Tentou soar urgente. – Se me deixarem aqui isso vai distraí-los.

— Não fala besteira! – Tai’Ren se ergueu para atirar de novo. – Ninguém vai levar você pra base de novo!

Eiji não sabia se ficava terrivelmente agradecido ou frustrado pelo outro ser tão inconsequente.

Tai’Ren se mantinha frio e revezava os tiros entre os robôs, mirando sempre na proteção transparente, que mantinha os humanos dentro das peças. Apesar do tranco dolorido da arma, ele estava orgulhoso de seu desempenho nos tiros, reflexo de tanto treinamento que teve ao lado de Neteyam.

Rapidamente, no entanto, seu foco foi até o inimigo que subjugava Aneya, puxando sua trança e ele disparou balas com raiva e mostrando as presas, até que sua munição acabasse. No mesmo instante, o ikran cortou o céu, descendo até eles.

— Aneya, vamos! – Gritou, se levantando com muito custo e caminhando até o animal. – Obrigado, amigo! Vamos voar!

Ignorando a dor tremenda no joelho pela posição, Tai’Ren agradeceu quando Aneya lhe ajudou a colocar Eiji bem posicionado em seus braços, perto do pescoço do ikran, enquanto o mais velho subia na parte de trás, afoito pela aproximação de novos inimigos, que já erguiam as armas.

— Vamos!

O ikran gritou ao bater as asas e sair do chão, inicialmente se desequilibrando por conta do peso, o que fez Tai’Ren enviar uma corrente de agradecimento pela tsaheylu.

Os tiros varreram o céu de Pandora quando Tai’Ren começou a sobrevoar a região.

— Temos que voltar! – Aneya avisou, em alerta e esquecendo-se momentaneamente de seu mal estar pela altura.

— Não! – Tai’Ren soou determinado. – Estamos muito perto pra voltar! O Eiji vai morrer! Vamos voar até as planícies! Não devemos estar longe!

Sabendo que aquilo não seria discutido, Aneya suspirou e manteve o arco e as flechas nas mãos. O voo seguia em uma altura mediana, já que o Metkayina tinha muita dificuldade de se manter concentrado em altas altitudes e precisavam dele a postos.

Vista de cima, a floresta ficava cada vez menos densa. Porém, o que realmente chamava a atenção não era nada sobre Pandora, mas as marcas do Povo do Céu.

O solo que antes era verde e vivo, agora começava a se tornar arenoso e opaco, repleto de marcas do maquinário pesado que destruía qualquer coisa no caminho. Diversos robôs caminhavam em torno dos maquinários, mas ao notar a presença dos na’vis no céu imediatamente começavam a disparar para eliminá-los.

As máquinas barulhentas e monumentais se revelaram, focadas em avançar sobre a floresta, derrubando dezenas de árvores de uma vez com uma incrível facilidade, deixando Aneya em completo choque.

— O que é tudo isso!?

Tai’Ren não se preocupou em responder, ele também não sabia. Seja lá o que fosse, o Povo do Céu estava destruindo toda uma paisagem e isso ocorria de forma veloz e eficiente.

Mais tiros surgiram na direção deles e, por mais que Tai’Ren fosse muito habilidoso e tentasse voar em linhas tortas, não pôde evitar que seu ikran fosse atingido em uma das asas, o que imediatamente causou um colapso no animal já sobrecarregado pelo peso.

A agonia do jovem ikran fez Tai’Ren gritar como se tivesse sido baleado também. Aneya agiu rápido e, em um único movimento, se ergueu no ikran que balançava, apontando a flecha e disparando rapidamente no robô que agora os fazia cair.

Tomado pela adrenalina, Tai’Ren tentou acalmar o ikran que perdia altitude rapidamente. Sentiu Eiji se apertar em seu peito, assustado.

Foi quando viu.

A terra plana e de grama rasteira, com alguns esporádicos arbustos se estendia quase que infinitamente. Ele não precisou de mais de um segundo para saber que era ali, tão perto do perigo, que se encontrava o destino da viagem deles.

Infelizmente, estavam chegando até ele da pior maneira possível. 

O ikran tentou pousar, mas a força da descida fez o animal dar um tranco, jogando os três ocupantes longe. Tai’Ren abraçou instintivamente o que corpo de Eiji em seus braços enquanto tomavam o impacto e Aneya rolou um pouco pela grama, acabando por quebrar o arco.

A colisão os deixou longínquos por longos minutos, apenas escutando os rosnados incomodados da ave enorme. Aneya gemeu quando conseguiu se sentar, com a sensação de ter tido seu corpo completamente esmagado. No entanto, esse sentimento rapidamente passou quando viu o arco de Tai’Ren quebrado. Seu coração ficou culpado, mas não havia tempo para aquilo.

Virou o rosto rapidamente quando escutou o choramingar do outro na’vi, que tinha se machucado por cair com a arma nas costas.

— Tai’Ren! – Aneya correu até ele, colocando as mãos no rosto contorcido. – Deu certo! Você conseguiu pousar!

— Meu ikran...?

— Está vivo. – Sem conter a emoção, o Metkayina encostou sua testa na do outro. – Vai ficar tudo bem.

— Eiji...! – Tai’Ren virou rápido, mas se aliviou ao enxergar o menino, agora desacordado, porém, aparentemente sem ferimentos graves e com a máscara intacta.

— Nós vamos arranjar uma forma de curá-lo. – Aneya tentou tranquilizá-lo. – O importante agora é...

Eles sentiram outra vez as vibrações no solo, o que fez o maior puxar a arma de Tai’Ren, preparando-se para mais robôs. No entanto, não foi o que receberam.

Os olhos azuis se arregalaram, em pânico, mas sem maneirar a postura protetora na frente de seu amado. As vibrações agora eram acompanhadas de rosnados de uma fera que, infelizmente, Aneya conhecia muito bem. E a situação já seria desesperadora se fosse apenas uma.

Mas não. Em questão de instantes, se viram completamente encurralados por dezenas de rosnados das criaturas negras e de cristas majestosas.

— Thanator... – A voz de Tai’Ren soou baixinha em um sussurro apavorado.

Não havia como escapar de tantos assim. Mesmo um seria impossível por conta de sua perna. Os olhos estreitos e característicos das criaturas não pareciam nutrir qualquer empatia por eles e as cristas se balançavam, demonstrando como estavam afoitos para pularem sobre os alvos frágeis.

Contudo, um grito agudo e melodioso fez os animais recuarem, dando espaço para um outro thanator avançar. Mas esse, diferente dos outros, tinha alguém que o domava.

Uma mulher na’vi fazia o animal correr até eles sem hesitação e Aneya mostrou as presas, apontando a arma de fogo para ela. Isso porque a misteriosa na’vi, também estava em posição de batalha e enquanto o thanator se aproximava, ela balançava uma série de cordas cujas pontas seguravam sementes enormes e flamejantes.

Tai’Ren nunca tinha visto nada parecido. E no mesmo instante em que a viu, soube que Aneya morreria se tentasse enfrenta-la, por isso, repleto de coragem, ele se ergueu e caminhou sofregamente na direção da morte certa.


Notas Finais


Pelos meus planejamentos chegamos na metade da história (pois é, o spin off é relativamente mais curto do que Always Somewhere). Porééém, como meu histórico é bem hipócrita, não levem minhas palavras como uma certeza kkkk

Finalmente, chegamos no destino da viagem dos príncipes! Mas o que será que vem agora? Coisas boas?

Ainda tem muito o que acontecer e prometo me esforçar ao máximo para postar o próximo cap mais rápido!

Um beijo pra vocês, anjos! Aproveitem o fim de semana <3


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