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História Amaldiçoado - Capítulo V - Dia de Visitas


Escrita por: _Janna

Notas do Autor


Obrigada a todos que estão acompanhando e comentando, fico muito feliz.
Mais um capítulo. Boa Leitura!

Capítulo 5 - Capítulo V - Dia de Visitas


Os pés impacientes se moviam de um lado para o outro da sala de espera do Hospital. A ponta do dedo polegar já se encontrava em carne viva de tanto que roía as unhas em agonia pela espera. Enquanto o outro braço servia de apoio, cruzado abaixo do busto. Sequer se importou em faltar as outras aulas, só queria saber como estava a nova amiga.

– Tenten, desse jeito vai desgastar seu tênis - a amiga da morena chamou, também havia saído mais cedo da faculdade

– Não importa! - exasperou-se - Não vou descansar até ter mais notícias da Hina - completou parando próxima a janela e observando o movimento de uma das avenidas mais movimentadas de Tókio. Temari via com clareza o corpo da Mitsashi tremer, as mãos próximas ao quadril deixava isso em evidência. Assim como as pernas que pareciam que a qualquer momento iam perder as forças. Isso não era resultado apenas da preocupação dela para com a Hyuuga, havia algo mais. E a Sabaku já até podia imaginar o que era.

– Tenten... - chamou, mas não obteve resposta. Suspirou balançando negativamente a cabeça, mas ainda não se daria por vencida - Você não tem culpa dela ter desmaiado amiga... Pare de se lastimar tanto - pediu com carinho. Não tinha intenções de tocar no outro assunto no momento.

– Claro que foi, não viu como ela saiu do refeitório ? E se ela tiver algum problema, alguma doença ? E se ela for alérgica a algum ingrediente e não souber ? - falou em sequencia, só depois parando para respirar. Todavia até isso ficava difícil devido ao seu nervosismo

– Tenho certeza de que não! - exclamou, parecia ter convicção nas suas palavras - Ela deve ter se distraído e sem querer escorregou, só isso... Agora pelo amor de Deus, pare de se praguejar - pediu, quase perdendo a pouca paciência que tinha

– Fala isso porque não sabe como é se preocupar com alguém assim... - segundos depois de proferir as palavras, a Mitsashi se deu conta do que havia dito. Instintivamente virou-se na direção da loira que estava sentada numa cadeira acolchoada e cabisbaixa, suas mãos cruzadas mexiam insistentemente num anel de prata que ela sempre usava. Tenten sentiu o mundo cair sob suas costas e se odiou por não ter cuidado com suas palavras, principalmente com a amiga que sempre esteve com ela quando precisou - Tema... - sua voz embargada pela dor aguda que sentiu no peito

– Tá tudo bem... - fez um gesto rápido com as mãos, ainda sem levantar a cabeça e deu um sorriso forçado

– Não, não está! - Tenten correu na direção da amiga e sentou-se na cadeira ao lado esquerdo da mesma, sem pensar duas vezes a abraçou. Temari repousou a cabeça na curva de seu pescoço tentando conter as lágrimas que insistiam em cair - Sei que você está enfrentando problemas com o Gaara, eu não tinha o menor direito de falar nada... - sussurrou apenas para ela escutar. Sentiu a loira menear com a cabeça e em seguida se afastar. Os olhos azuis lacrimejavam, mas ela respirava fundo para impedir o choro compulsivo. - Sei que o Kankuro foi embora e deixou vocês dois aqui... E sei que você é a pessoa responsável pelo seu irmão mais novo - falou se referindo ao ruivo

– Vai ficar tudo bem - disse ela pondo a mão na boca e contendo um soluço - O Gaara vai ficar bem, nós não precisamos do Kankuro pra isso - assim como a história de Tenten, Temari também não tinha um passado feliz. Os pais morreram num misterioso acidente de carro quando iam para uma festa busca-los. Desde então era só os três. Mas com o tempo Gaara começou a apresentar sinais de loucura e descontrole, para logo em seguida aparecer diariamente drogado em casa. Temari não sabia o que fazer, não conseguia uma forma de internar o irmão. Ino, a namorada, não permitia e ainda ficava julgando-a. Dizia que aquilo era uma fase e que ela estaria ali para ajudar. Mas as coisas só pioraram, Kankuro ganhou uma bolsa de estudos em uma das melhores faculdades de Dubai e simplesmente foi embora. Deixando Temari totalmente perdida no processo. A Yamanaka não cumpria sua parte da promessa, ao invés de tentar ajudar Gaara, ela parecia deixá-lo ainda mais louco. As brigas eram constantes, mas eles não terminaram.

A Sabaku se viu num dilema, tinha que cuidar do irmão. Mas não podia abandonar a faculdade, caso contrário não concluiria seu curso e no futuro não encontraria um emprego decente. E então ficava a pergunta, " Eles viveriam de quê ? ". Não sabiam se algum dia o Kankuro voltaria, ele parecia nem se importar. Sem encontrar uma saída ela teve que internar Gaara, mas estava constantemente presente ao lado do irmão. Ino não gostou nada da decisão da loira, mas não pode ir contra. Já que Temari era a única família que Gaara ainda tinha, enquanto ela era apenas a namorada.

– Ele está internado aqui não é ? - perguntou depois de um tempo ao perceber o choro da loira cessar. Temari respirou fundo, as mãos ainda um pouco trêmulas, e assentiu com um menear - Quer fazer uma visita ? - os olhos azuis fitaram os castanhos da amiga e ela sorriu de forma gentil, assentindo novamente.

***

O quarto de paredes, lençóis e móveis brancos estava parcialmente escuro devido à falta de luz. Apenas um abajur acesso em um criado mudo. O paciente se encontrava sentado em sua cama, haviam retirado sua camisa de força à poucas horas. Seu estado era estável, não se sabia se os efeitos das drogas ainda estava em seu organismo. E mesmo com o resultados dos exames, não sabiam se era realmente seguro mandá-lo para um centro de reabilitação nas condições em que se encontrava.

O corpo do rapaz estava quase que imóvel, se não fosse por um leve balançar que o tronco balançava. Parecia estar embalado em uma música de ninar. Seus olhos verdes arregalados numa direção fixa do quarto, a boca entreaberta. O jovem Sabaku parecia estar hipnotizado com alguma coisa. Estava mais magro que o normal, resultado das vezes em que se recusou à comer. Na verdade, estava sobrevivendo praticamente de soro. As olheiras visíveis e o olhar cansado, mas ainda assim em alerta. Os cabelos outrora sedosos e espetados num seu tom carmesim, agora ganhavam uma tonalidade opaca, como a cor de um sangue coagulado. O mesmo caía sob seu rosto, dando ao rapaz uma expressão medonha e visivelmente problemática. Os braços alvos estavam caídos de forma desleixada sob seu colo, as palmas das mãos viradas para cima. Unhas que já se encontravam grandes e a pele marcada pelas agulhas de seringas de drogas e soros que o Sabaku usou.

– Gaara ? - chamou uma enfermeira abrindo a porta e observando o rapaz - Hora do remédio - falou acuada entrando no quarto do paciente, estava com seu caderno de horários de visitas aos enfermos.

Não obteve resposta do ruivo, ele continuava ali, olhando fixamente para o canto da sala e ainda balançava seu corpo. Já deveria estar acostumada com aquele tipo de situação, mas era triste ver um garoto tão jovem perder a vida para as drogas. Ignorou a falta de comunicação do rapaz e preparou o soro e as pílulas de seu calmante, julgava que eram eles que deixavam o rapaz tão aéreo.

Com os comprimidos em mãos ela separou a água num copo limpo e se aproximou do rapaz, chamou-lhe uma, duas, três vezes e nada. Suspirou fundo e deixou o copo de lado, tocando-lhe o ombro para ver se ele tinha alguma reação.

– Gaara ? - chamou. Embora o corpo do Sabaku estivesse parcialmente dormente, não pode deixar de sentir o peso que havia se concentrado no ombro direito. Lentamente ele girou a cabeça - ainda desorientado - e fixou seus olhos verdes na mulher. Mas a visão que teve o atormentou. Era assustadora.

– SAI! - gritou empurrando-a bruscamente. A enfermeira caiu sob o criado mudo e derramou a água e quebrou o abajur no processo. O ruivo tentou se levantar, mas sentiu-se aprisionado e ao olhar para o próprio pulso percebeu que estava algemado à uma das barras de ferro que compunha a cama. Assustado, ele apenas correu para o lado oposto, usando a pouca força que ainda tinha para tentar se desvencilhar. Olhou desesperado na direção da mulher vestida de branco. Seu pescoço caído, parecia morta. Ao se dar conta daquilo o ruivo sentiu as mãos tremerem, havia matado uma pessoa inocente... Seus olhos lacrimejaram e logo soluços ecoaram de sua garganta já seca. Alguns segundos depois ele viu o corpo feminino se mexer, limitou-se a parar de chorar e olhar surpreso para a cena. A mulher se apoiou no criado mudo e levantou-se até ficar totalmente ereta. Os olhos negros estavam opacos, a expressão inexistente em seu rosto era assustadora. Ao descer os olhos pelo corpo da mulher, ele viu que a parte de trás de suas roupas brancas estavam tingidas de vermelho. O sangue escarlate e quente descia da ferida na coluna até o chão, onde se formava uma pequena poça. Voltou a olhar para o rosto da enfermeira que agora baixava um pouco a cabeça e fechava os punhos, estalando todos os dedos da mão no processo. Um sorriso maligno se formou em seu rosto.

– Gaara... - seu tom aveludado fez um arrepio percorrer a espinha do rapaz - Eu gostava desse corpo - ergueu um pouco a cabeça, apenas para que ele tivesse visão do bico dramático que fizera. Os olhos verdes se arregalaram mais uma vez.

– VAI EMBORA! - gritou em plenos pulmões. Ao ver o desespero do rapaz a mulher desatou a rir. Mas não um riso comum, e sim um riso maligno. Tal como dos vilões em filmes de terror.

– Ir embora? Vou! Mas te levo comigo - pôs uma mão ensanguentada na cama e inclinou o corpo para a frente, forçando o ruivo a tentar recuar ainda mais.

– NÃO! - gritou se abaixando e com o braço livre abraçou o próprio corpo em posição fetal. A dor no pulso que forçava a peça de metal a ferir sua carne não chegava a incomodar. Sua cabeça estava escondida entre as pernas e o corpo tremia. Enquanto tentava dispersar a adrenalina balanço-se para a frente e para trás.

***

Tenten e Temari estavam nos corredores da Ala Psiquiátrica quando ouviram gritos vindo do quarto 307, o de Gaara, logo em seguida um barulho estridente de vidro se quebrando. As duas se entreolharam assustadas e correram na direção da algazarra.

Sem pensar duas vezes Temari praticamente arrombou a porta. A Mitsashi chegou logo atrás, a cena que encontraram foi de pura destruição. O quarto estava todo bagunçado, parecia que um furacão havia passado por ali. O criado mudo coberto de sangue, água e cacos de vidro - do que era um lindo abajur -. O chão não estava melhor. A cama toda desfeita e uma marca de mão ensaguentada repousava no tecido branco do lençol. A janela com cortinas brancas que esvoaçavam intensamente devido à força do vento, alguns cacos de vidro ainda se desprendiam e caíam pelo parapeito, logo em seguida caindo dentro e fora do local.

Mas o que fez a loira sentir o sangue gelar, a garganta secar e o coração falhar algumas batidas foi a ausência do irmão do local. Instintivamente os olhos azuis se voltaram para a janela. Ela correu desesperada ao encontro da mesma, como numa tentativa desesperada de encontrar o irmão pendurado. Quando na verdade algo dentro de si gritava que ele havia sido esmagado com impacto da queda.

– GAARA! - gritou no momento em que seu corpo teve reação. Assim que atravessou o quarto e chegou nas proximidades da janela, viu o irmão deitado abraçando o próprio corpo com o braço esquerdo, enquanto o direito estava preso à uma algema fixa na cama - Ah meu Deus! - sentiu todos os músculos se contraírem e relaxarem. O coração voltou a bater numa velocidade que imaginou que fosse sair pela boca. No momento não soube distinguir se sentiu alívio ou medo por vê-lo ali, daquela maneira - Irmão... - falou para o rapaz que estava visivelmente perturbado, mexia-se de forma insistente e repetia palavras abafadas pelo braço magro. Era inevitável não chorar vendo-o daquela forma, tão assustado, tão perdido, tão desconexo do mundo ao seu redor.

– Eu vou chamar por ajuda! - ouviu a voz da Mitsashi ao seu lado, apenas ergueu a cabeça e fitou os olhos castanhos da morena. Assentindo repetidas vezes. Tenten não esperou mais e correu em busca de algum médico.

– Gaara - ela chamou entre os soluços, sua voz rouca de quem não suportava mais ver o irmão naquela situação

– Vai embora! - foi a resposta do loiro - Demônios malditos, eu não tenho nada que vocês queiram. VÃO EMBORA! - gritou dando um tapa na mão de Temari quando esta tentou tocar-lhe

– GAARA! - irritou-se, estava nervosa e farta daquilo - Pare de delirar, sou eu...A Temari - ela falou num tom mais ameno

– Não... Não é... Não é - respondeu

– Olhe pra mim Gaara, meu irmãozinho - a entonação de carinho fez o ruivo franzir o cenho. Ainda estava assustado e desesperado, não sabia o que fazer, nem para onde correr. Mas aquele jeito de falar... Não tinha condições, eles não saberiam. Só a verdadeira Temari falava aquilo de maneira que não chegava a ser meloso, mas ainda assim com amor. Ainda relutante o rapaz aos poucos se permitiu erguer a cabeça, seus olhos estavam fechados, tinha medo do que veria. Tinha medo de não ser ela, sua irmãzinha. Que cuidava de si com tanto amor. Tinha medo de ser mais um deles.

Sentiu uma mão feminina e macia repousar em sua bochecha, as orbes esmeraldas se abriram rapidamente para contemplar a visão da loira. Ela estava com os olhos vermelhos e lacrimejantes, o peito subia e descia em certos momentos enquanto ela tentava conter os soluços repentinos. Um sorriso singelo brotou nos lábios da loira, que mesmo tendo a visão perturbadora do mais novo naquele estado, não desistiria de tentar reconforta-lo. Era ela.

Moveu seu corpo num impulso rápido de encontro ao dela, abraçou-a firmemente como se seu mundo dependesse daquilo. Foi prontamente retribuído. Sentiu a irmã afagar seus cabelos enquanto repousava a cabeça na curva do pescoço da mesma, inalando aquele cheiro único de frutas cítricas que ela exalava. Sua marca registrada.

– Irmã... - disse num sussurro

– Tudo bem, eu estou aqui... - e o abraçou mais firme

– Por favor, me tire daqui Tema... Eles virão atrás de mim de novo. Eu não sei que eles querem comigo eu... - não terminou a frase, começou a chorar impulsivamente nos braços da mais velha

Temari sentiu o coração se apertar, odiava-se por fazer Gaara passar por aquela situação. Preferia mil vezes que ele estivesse em casa e aos seus cuidados. Mas não importa onde ele ia, era sempre a mesma conversa de que estava sendo perseguidos por demônios. A jovem sentiu a aproximação de alguém e forçou os olhos na direção da porta. Viu um homem com uma seringa e mais dois logo atrás, certamente vieram dopar o ruivo. Tenten estava escorada na parede de braços cruzados, uma mão levada ao peito e um olhar solidário para a amiga.

Os médicos se aproximaram de Gaara, cada um segurando um braço do ruivo após o consentimento da irmã. O Sabaku se debatia na tentativa de livrar-se daquilo. Sabia o que vinha a seguir.

– Não, parem, não façam isso - pediu com os olhos fixos na enorme agulha da seringa que aos poucos se aproximava de seu braço direito, o que estava preso à cama - Tema... Por favor, não deixe - pediu sentindo os olhos lacrimejarem mais uma vez. A loira baixou a cabeça e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, em seguida tapando a boca com a mão para impedir mais um soluço do choro que se iniciava - Tema... - a voz ia perdendo a força a medida em que o efeito da injeção fazia seu mundo girar - Eles vão me pegar - sibilou caindo apagado nos braços da mais velha. Sem pensar duas vezes ela o abraçou.

– Está tudo bem irmãozinho, eu vou te proteger - falou baixinho afagando com carinho o rosto do ruivo

– Isso está uma bagunça - comentou o médico olhando para os lados - O paciente não pode ficar aqui nessas condições - olhou o mesmo desacordado nos braços da loira - Iremos leva-lo para outro quarto. A senhorita gostaria de nos acompanhar ? - indagou e ela apenas assentiu

Depois de um tempo abraçada ao irmão, Temari também recebeu uma dose de calmante, todavia mais fraca. Apenas para acalmar os nervos. Tenten ficou com ela durante todo o tempo. Acompanharam de perto a mudança de quarto do Sabaku e a irmã do mesmo não saiu do seu lado um segundo sequer.

– Desculpem interromper, senhoritas - o mesmo médico que encaminhou Gaara para outro dormitório chegara naquele instante. Temari estava sentada na cama, afagava com cuidado o rosto e os cabelos do mais novo. Sentia-se um monstro por fazer aquilo com seu irmãozinho. Tenten observava a movimentada cidade de Tókio através da janela aberta.

– Sim doutor ? - respondeu a Mitsashi no momento em que percebeu que a outra não o faria

– Mitsashi Tenten e Sabaku no Temari ? - indagou olhando para um papel

– Isso mesmo - falou rápido

– As duas marcaram uma visita para uma outra paciente, Hinata... Estou certo ? - ela assentiu - Bem, vim informar que a senhorita já está podendo receber visitas - completou

– Graças a Deus - pôs a mão no peito em sinal de alívio. Mas logo em seguida olhou na direção da amiga que não se deu ao trabalho de parar que o fazia antes da chegada do médico - Tema...

– Tudo bem Ten... Pode ir... Mas ainda vou ficar um pouco com ele, se não se importa - falou e a outra assentiu. Em seguida lançando um olhar curioso na direção do homem vestido de branco

– Ela se encontra no primeiro andar, quarto 107 - completou

– Obrigada - agradeceu seguindo para o lugar informado

***

Tenten caminhava pelos corredores do hospital, já no andar indicado pelo médico. Ainda estava preocupada com o estado de Gaara, mas também queria saber como estava Hinata. Sanar sua curiosidade à respeito do que havia causado o enjoou na jovem e claro, como ela estava após o acidente no banheiro.

Estava passando pelos quartos e olhando atentamente a numeração de cada um deles. Estava no 99 quando virou o corredor e deu de cara com um número 201.

– Que? - indagou-se, ela havia perdido alguma coisa ? Olhou para os lados para se certificar que não havia adentrado o corredor errado, mas era um caminho único.

Viu um enfermeiro passar e correu em sua direção, chamando-o. O rapaz de cabelos exóticos na cor lilás parou subitamente e virou-se para a Mitsashi.

– Sim senhorita ? - quis saber o motivo de ter sido interrompido em meio à um atendimento

– Poderia por favor me dizer onde eu posso encontrar o quarto 107 ? - arqueou a sobrancelha, sentindo-se ridícula com a pergunta.

– 107? - ele olhou para os lados - Senhorita, essa numeração se encontra do outro lado do Hospital - falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e ela arregalou os olhos castanhos

– Então porque... - apontou para um dos quartos e em seguida para o outro corredor

– Eu não sei - sorriu

– Certo... Obrigada então - agradeceu e saiu praticamente correndo sem esperar a resposta do rapaz. Já havia bancado a idiota por muito tempo.

Seguiu perguntando a direção à todos os funcionários do Hospital que encontrava. Quando enfim chegou ao corredor correto, surpreendeu-se ao ver de longe uma silhueta máscula e longos cabelos castanhos escuros e lisos. O rapaz estava de costas, mas depois de tanto observa-lo caminhar de um lado para o outro durante a aula, decorou cada pedaço daquele caminho para o pecado em sua mente. Pegou-se observando o professor de Histologia durante alguns segundos, os olhos castanhos miravam a imagem do homem de costas, parecia enfeitiçada.

Os longos cabelos lisos estavam soltos, ainda não se recordava de tê-lo visto assim antes. Sempre o prendia no meio das costas. A cabeça levemente inclinada para o lado enquanto se escorava em uma parede. O maxilar e uma região do pescoço alvo estavam visíveis. Os braços cruzados em frente ao corpo deixavam os músculos em evidencia, e aquela blusa de manga longa e justa não ajudavam a situação da Mitsashi em voltar à realidade. A calça jeans escura quase colavam em suas pernas grossas, parecia até resultado de anos de treinamento ou academia. Ele praticava algum esporte? E aquela bundinha... Que vontade que teve de aperta-la. Mordeu o lábio inferior e sentiu os músculos abaixo do ventre se contraírem. O Hyuuga se mexeu e ela voltou sua atenção para seu rosto. Havia inclinado ainda mais a cabeça, não soube diferenciar se era o formato perfeito de seu rosto ou um sorriso que brincava ali. Ele, sorrindo ? Descartou essa possibilidade.

Por outro lado Neji já sabia da presença da Mitsashi, estava se deliciando por vê-la ali, tão extasiada apenas com sua visão de costas. Fingia-se de desentendido, tentava manter seu disfarce. Seu alto nível de percepção e a visão, audição e tato aguçados o fizeram se tornar o melhor guerreiro de seu Clã. E agora abusava dessas qualidades para saber o quão desejosa a morena estava. Jurou pra si mesmo que quase a ouviu gemer, mas o som saiu abafado. Era como se ela estivesse colocado a mão na boca ou... Droga Mitsashi! Ela mordeu o lábio daquele jeito que testava a sanidade do moreno. Inalou e exalou lentamente o ar dos pulmões, tentava ao máximo manter o controle. Mas aquilo já era demais.

"Vamos, volte pra realidade... Ou eu vou te fazer se perder nos meus sonhos" falou mentalmente inclinando ainda mais a cabeça. Na intenção de fazer a Mitsashi acordar.

E pareceu funcionar. A morena piscou algumas vezes e balançou a cabeça de um lado para o outro. Sentia o corpo febril e a respiração descompassada. Ela abraçou ao próprio corpo na intenção do fugir dos pensamentos eróticos que acabara de ter com o Hyuuga.

"Meu Deus, ele é meu professor. Mas desse jeito vou acabar reprovando na cadeira dele" pensou. Após sentir-se mais calma, ela caminhou à passos longos em sua direção. Sentiu uma imensa vontade de perguntar o que ele estava fazendo ali. " Está me seguindo, Hyuuga? "

– Professor! - chamou num tom amigável até demais. O rapaz sentiu-se aliviado e virou-se na direção da garota. Olhando-a como se estivesse surpreso por vê-la ali

– Senhorita Mitsashi - sua voz aveludada enganaria qualquer um - O que faz aqui ? - arqueou minimamente a sobrancelha e ela arregalou os olhos. "Será que ele suspeita que eu estava admirando-o por trás e está só fingindo?" a duvida precipitou e ela respondeu rapidamente:

– Vim visitar a Hinata

– Hm... - ele parecia analisa-la. Como quando fez da primeira vez em que se viram nos corredores da Faculdade. Sentiu o rosto esquentar ao perceber que os olhos perolados desciam pelo seu corpo, tinha certeza que estava num tom escarlate

– E o senhor? - "Está me seguindo?" por pouco não completou a frase

– Também - respondeu indiferente olhando para o lado. Tenten pode jurar que viu um brilho de desconforto nos olhos enluarados do Hyuuga. E como assim "também"?– Aparentemente ela não lhe contou - a voz grave a despertou de seus devaneios, os olhos castanhos se voltaram para ele que ainda parecia tentar evitar fita-la - Hinata e eu somos primos - falou como se tivesse ouvido os pensamentos da Mitsashi, enfim repousando mais uma vez seus olhos incolores sobre ela. Ouvir seus pensamentos? Pra que ? Se aquelas orbes peroladas pareciam examinar sua alma - É meu dever saber como ela está, certo? - falou como se nem se importasse, mas Tenten assentiu - Veio sozinha? - perguntou num impulso. "Hyuuga, perdendo o controle de suas palavras?". A pergunta além de surpreende-la, a fez duvidar. Ele estava muito falante, o que estava acontecendo afinal? Haviam abduzido seu professor e colocado um clone meio legal em seu lugar?

– Ah... Não, eu vim com a Temari. Mas ela está com o irmão, ele também está internado aqui... - respondeu rapidamente. Sentiu uma grande necessidade de explica-lo toda a situação e não entendeu porque. Quis falar também do envolvimento do Gaara com as drogas e tudo mais, mas percebeu que aí já era ser invasiva demais. Sem contar que ele podeira acha-la uma idiota.

– Entendo... E o seu trabalho senhorita? Tem se esforçado ? Será daqui à uma semana - ele completou voltando a sua pose de indiferença. Tenten não conseguiu disfarçar muito bem o desanimo, uma parte em si queria acreditar que finalmente estava conseguindo se aproximar e quebrar um pouco essa barreira que ele impunha para com as pessoas... Ou realmente havia sido abduzido.

– Eu estou estudando bastante professor - falou convicta, era a verdade afinal

– Espero que sim... - disse num tom aveludado e ela sentiu o corpo tremer. Será que aquilo era algum tipo de duplo sentido ? Mais uma vez sentia o rosto esquentar e os músculos abaixo do ventre se contraírem, apertando as pernas uma na outra pra conter o ímpeto de avançar no moreno e beija-lo loucamente. Maldito desejo! Maldito e delicioso...– Afinal sua nota depende disso - aquilo foi como um balde de água fria na jovem. "Isso que dá viajar demais, bem feito Mitsashi" seu lado racional falou. Ela apenas meneou e baixou um pouco a cabeça, fitando o chão e sentindo imensa vergonha pelos próprios pensamentos e reações de seu corpo. O mundo caia sob seus pés. Odiou-se por ser tão ingênua a ponto de chegar a acreditar que em alguma hipótese poderia chamar a atenção daquele homem.

– Certamente... - foi tudo que conseguiu responder. Estranhamente sentia sensações que jamais havia sentido antes. Era um misto de decepção e arrependimento. Não se sentiu assim nem quando Deidara aparecera acompanhado de Karin no dia seguinte de sua recusa ao pedido de namoro do mesmo. E agora estava ali, sem chão e parecendo uma pré-adolescente iludida pelo garoto mais popular da escola.

– Tenha um bom dia. - foi o que ele falou antes de sair andando como se nada tivesse acontecido.

Na verdade, Neji tentava a todo custo manter a compostura e a sua pose de indiferença. Mas era estranho, sentia-se diferente perto daquela garota de olhos castanhos. Era como estar impotente num campo de batalha, não conseguiria fazer nada, apenas assistir e esperar pelo que estava por vir. E pensar que por um milésimo de segundo ele vacilou, quase deixando transparecer suas intenções com a Mitsashi. Se comunicando demais e perguntando coisas que não deviam lhe interessar, mas que por algum motivo sentia necessidade de saber.

Graças à sua mente brilhante ele conseguiu encontrar uma rápida desculpa para sua frase de duplo sentido. E ao julgar pela maneira que a garota reagiu, pareceu ter dado certo. Todavia, se era assim que ele queria, porque então a imagem daquele cenho franzido, a boca carnuda presa aos dentes e o olhar baixo tanto mexeram consigo? Balançou negativamente a cabeça e tentou manter o foco. Sabia que a Mitsashi sentia uma forte atração por ele, mas se ela realmente queria, teria que fazer por onde. Teria que implorar.

Com ele era assim!

Tenten ainda sentia aquela sensação estranha. Os olhos fixos ao chão buscavam resposta que sabia que não viriam. Só depois de algum tempo divagando que a jovem se lembrou do que havia ido fazer ali.

– Hina... - falou correndo em direção à porta do quarto da jovem e adentrando o mesmo.

***

Quando a jovem Mitsashi encontrou a Hyuuga, esta já estava acordada. Os olhos incolores observavam atentamente o pôr-do-sol através da janela. As duas conversaram por bastante tempo e a menina de cabelos negros-azulados explicou que não havia notado o chão molhado. Claro que, esperou para saber a versão da morena. Já que não sabia de nada que acontecera após seu desmaio. Só tinha certeza de que Neji não deixaria aquilo parecer resultado de uma pequena luta. Não quando ele tinha algum interesse em continuar no lugar que estava. E era exatamente isso que preocupava a pequena Hyuuga.

Não saber ao certo quais eram as intenções dele para com sua protegida.

– Olá, estou atrapalhando ? - uma voz conhecida chamou a atenção das duas que no mesmo instante olharam na direção da porta. Temari estava com uma parte do corpo para dentro e a outra para fora do quarto. Sua expressão era divertida, parecia aguardar algum convite para entrar.

– Claro que não Temari... Pode entrar - disse Hinata com seu típico sorriso meigo e a loira sorriu

– E o Gaara ? - Tenten perguntou, mas teve receio em realmente saber sobre o rapaz. Todavia imaginou que seria indelicado de sua parte não se preocupar. A Sabaku suspirou, parecia mais tranquila quanto ao assunto e a melhor amiga não pode se sentir mais feliz.

– Ele está bem. Eu fiquei com ele todo esse tempo. Aparentemente acordou mais calmo e dessa vez pediu para deixar as cortinas abertas, queria admirar o dia - respondeu

– Isso é bom...

– O que houve com ele ? - a pergunta de Hinata foi quase involuntária, só queria um modo de entrar na conversa e criar maiores laços com as garotas. Todavia, no mesmo instante sentiu-se mal por estar perguntando algo aparentemente muito íntimo. Mas Temari pareceu não se importar.

– Ele se envolveu com drogas... - respondeu dando de ombros e ela franziu o cenho - É uma coisa bem estranha. Uma droga alucinógena que acabou tornando ele dependente - comentou como se não tivesse importância

– É, ele quando não está nos seus melhores momentos fica falando que tem demônios atrás dele, acredita ? - Tenten tentou descontrair, sua fala saiu bem brincalhona e ela e Temari caíram na risada. Hinata arregalou os olhos, não entendia o motivo da piada ante a uma situação tão grave.

Os olhos perolados mais uma vez se voltaram na direção da janela, agora o sol já havia sumido e a lua brilhava resplandescente. O que faria qualquer romântico apaixonado suspirar diante da visão. Franziu o cenho, aquele nome não lhe era estranho. Pôs uma mão na têmpora, forçar o cérebro ainda lhe doía devido ao impacto do golpe que recebera de Neji. Mas sentia uma grande necessidade de lembrar-se onde já havia ouvido o nome do tal rapaz.

"Gaara... Ele é um garoto muito especial dos tempos atuais. Se os demônios soubessem sua localização..." lembrou-se da conversa que o pai teve com um mensageiro de Tsunade há alguns anos.

– É isso! - exclamou e as outras duas não entenderam o que acabara de acontecer. - Ah... Eu estava tentando lembrar uma música - sorriu sem jeito. Sentindo uma sensação ruim por mentir para as jovens que se entreolharam e deram de ombros.

– Hinata! - chamou Tenten subitamente e a Hyuuga arregalou os olhos, será que havia sido descoberta ? - Porque não me contou que Hyuuga Neji era seu primo ? - a pergunta saiu um pouco tímida e ao mesmo tempo curiosa

– O que ? - indagou Temari surpresa

– É... Quando estava vindo visitar a Hina eu o encontrei parado no corredor. E ele me contou... - não conseguiu falar mais nada, a vergonha tomou conta de si ao perceber o olhar maldoso da Sabaku, o rosto da Mitsashi esquentou no mesmo instante. - Mas enfim, porque não contou ? - desviou o olhar na direção da jovem que estava cabisbaixa e mexia as mãos em sinal de nervosismo. Como explicaria sem entregar os pontos ?

– É..Bem...Sabe como é...

– Ah é? Então a Tenten está caidinha pelo seu primo - Temari soltou, a vermelhidão que se apossou do rosto da amiga a fez soltar um gritinho escandaloso de puro deleite. Nem se lembrava de ver a mesma tão paralisada por um homem antes. - Conta Ten... - incentivou cutucando a outra. A morena arregalou os olhos na direção da Hyuuga que estava olhando-a com certo desespero.

"Jogo sujo, Neji" pensou Hinata procurando alguma forma de desfazer aquela ilusão que sua protegida estava criando à respeito de seu primo. Ele não era o típico romântico e jamais mandaria flores. Ao contrário disso era claro que só queria se divertir e destruir qualquer rastro de felicidade que um dia a Mitsashi já teve. Como já fez com tantas outras...

– É..E-Eu... - respirou fundo, o coração acelerado parecia querer sair pela sua boca. Como Temari teve coragem de jogar algo assim na cara da pessoa que justamente era prima do Hyuuga e a única que poderia lhe esclarecer algo sobre ele? Agora toda vez que perguntasse algo a respeito do mesmo, iria parecer interessada. E não que não estivesse... - Eu preciso beber água - falou andando até o criado mudo e pegando o copo limpo e a garrafa que ali havia.

– Sabe porque eu disse isso não é Hina ? - indagou a Sabaku e Tenten arregalou os olhos na direção da mesma como quem dizia " Fale mais uma palavra e a próxima internada será você " e a loira riu ainda mais, adorando a situação

– N-Não... - o Anjo tentava desesperadamente encontrar uma saída, mas aquilo parecia um labirinto

– É claro que é pra você ajudar né... - falou pondo as mãos na cintura e olhando para a garota como se aquilo fosse a coisa mais obvia do mundo - Nada impede que os pombinhos se aproximem. Tenten bem que precisa de alguém que levante o astral dela - disse dando uma piscadela para a morena que evitava olha-la enquanto bebia o líquido transparente rapidamente - A não ser é claro que o Hyuuga seja comprometido - concluiu no mesmo tom brincalhão. Todavia aquilo pareceu iluminar o caminho para a moça de olhos perolados

– É... - respondeu rapidamente e a loira a olhou com a sobrancelha arqueada - O Neji é casado! - completou sem cerimônias. A cena seguinte foi de uma Mitsashi colocando para fora todo conteúdo que se encontrava em sua boca num jato de água. Acabou se engasgando e precisando da ajuda da loira para não ter um ataque ali mesmo. Após a confirmação de que a amiga não corria mais risco de vida, a Sabaku a soltou e a mesma praticamente pulou na Hyuuga querendo mais respostas. Hinata se encolheu na cama, onde havia se metido ? Odiava ter que mentir para as pessoas, principalmente se aquilo as fizessem sofrer.

– Hina... Tá de brincadeira comigo, não é ? - indagou ela. Seus olhos castanhos brilhavam intensamente na esperança da jovem dizer que sim. Mas isso não aconteceu. Hinata apenas negou com a cabeça, não conseguia mentir tão descaradamente - M-Mas... - Tenten pareceu sem rumo. Pela primeira vez desde que sua mãe morrera ela sentiu um vazio tomar conta de si. Era como se o Hyuuga houvesse devolvido a ela o significado de uma palavra que ela esquecera no momento em que viu sua mãe ser enterrada: Amor! A chance de amar e ser feliz novamente. Mesmo que fosse algo distante.

Não havia outra explicação. Tinha que confessar para si mesma que as reações que ele causava em si não era normal.

– Mas ele nem usa aliança - completou por fim, ainda com o olhar desolado

– Me desculpe Tenten - falou Hinata de uma forma singela - É o Neji... - embora não tenha dito muito, a Hyuuga torcia para que a Mitsashi entendesse as entrelinhas daquela frase. Entendesse de uma vez por todas o perigo que era aquele homem. A outra só assentiu.

– Eu preciso ir... Já está ficando tarde - completou sem rodeios e seguindo para a saída.


Notas Finais


E então ? Não odeiem a Hina, ela só está tentando ser protetora haha.

O que acham que o Gaara é?

ps: Amanhã irei viajar e não sei quando conseguiria postar novamente. Desculpem.
Até mais!


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