— Ei, esse livro é pesado de mais para você, garotinha. — Meu pai tira o livro de minhas mãos o colocando bem alto na prateleira.
— NÃO PAPAI! EU TAVA QUASE NO FINAL! — Eu me estico dando pulinhos para o pegar novamente.
— Já para cama, está tarde e se sua mãe te pegar aqui essa hora você estará encrencada, canarinho — Ele dá um sorriso gentil e faz carinho em meus cabelos.
— Okay, papai... Mas eu quero terminar o livro... — Eu falo fazendo uma cara emburrada e dando um tapa na mão dele. — Eu não sou sua canarinho até você me deixar ler aquele livro! —
— Vai escovar os dentes e xô para a cama. — Ele me coloca em seus ombros e vai fazendo cavalinho em mim até o banheiro, onde ele me deixa na escadinha.
Meu pai volta para seu quarto e eu escovo os dentes voltando correndo para meu quarto, Mirella estava dormindo, então por isso eu entrei sorrateiramente.
Me sentei em baixo da cama e liguei uma mini lanterna puxando o livro de antes, eu leio o mesmo devorando cada palavra com grande animosidade.
Gotas de chuva começam a escorrer pela janela, eu saio de baixo da cama para ver as gotas escorrendo e desenhar na mesma.
Quando de repente, uma pedrinha bate no vidro, depois outra e outra... eu abro a janela e olho para baixo.
Era Guilherme e Alisson lá em baixo acenando na chuva, eles estavam encharcados de água, eu logo peguei a corda que eu deixava ao lado da cama e amarrei na aba de metal de segurança da janela, coloquei um par de luvas roxas e minhas galochas nos pés, eu desci pela corda escorregando até lá em baixo.
— É 10 horas! Vocês estão malucos? — Eu falei pegando um guarda-chuva e abrindo por cima deles.
— Guilherme me fez ir ver os nossos novos vizinhos desfazerem suas mudanças! Tem um garoto lá! Acho que ele tem a nossa idade! — Alisson falou secando seu cabelo, por mais que ela tente parecer madura, todos nós sabemos que ela é tão infantil quanto todos nós.
— Eu te fiz? Você concordou rapidinho senhorita Alisson princesinha perfeita! — Guilherme deu um puxão no cabelo da Alisson e ela mostrou a língua para ele.
— Bom, serei direta, está tarde e o garoto da nova casa é um gatinho, temos que pegar ele logo antes que ele vá para o grupo da rua ao lado. — Alisson prendeu seu cabelo em um rabo de cavalo alto e pegou um dos guarda-chuvas do clubinho no arbusto da minha casa.
— Minha irmã, como sempre, sendo a mais crescida de todos nós. — Ele fala isso vendo ela ir embora enquanto gruda em baixo de meu guarda-chuva.
— Você não é de ficar até essa hora na rua, aconteceu algo? — Eu falo olhando para o mesmo preocupada.
— Briguei com meu pai e estou com medo de voltar para a casa, não queria preocupar a Alisson e fazer ela e a mamãe fazerem tempestade em um copo d'água. Não sei onde vou ficar — Ele fala olhando de forma triste para sua casa e a casa da sua mãe.
— Não se preocupe, tem lugar o bastante na minha cama desde que o chuvisco sumiu. —
Ele puxa a ponta de uma escada dos arbustos e eu vou ajudar ele.
— Por Deus, por que vocês colocam tanta coisa no meu quintal? — Ele dá de ombros e solta uma risada, após muita dificuldade nós conseguimos colocar a escada ali e subimos ela.
Ao chegar no topo, eu entro pela janela e estico meus braços para pegar ele no colo para não pisar com suas roupas molhadas em minha cama.
— Você é muito fraca para isso, canarinho — Ele se atira em mim e nós caímos juntos em cima da cama.
Eu separo uma roupa minha no armário e dou para ele.
— Cachorrinhos? Acho que prefiro gatinhos. — Ele mostra a língua virando a cara e empurrando a roupa.
— Pijama de guaxinins é sua última opção, o resto é rosa. — Eu pego um pijama azul de guaxinins e dou nas mãos dele.
— Adorei o pijama de guaxinim, mas rosa também cai bem em mim — Ele puxa uma faixa rosa minha no armário e põe em seu pulso enquanto sorri indo para o banheiro.
— Gatinho, hein... — Empurro a escada da janela fazendo-a cair nos arbustos e fico olhando para a casa dos novos vizinhos para uma janela com a luz ligada.
— Ei, você vai acabar se molhando ou acordando a Mirella com o barulho alto. — Ele me puxa pelo braço e fecha a janela.
— Quer dormir com a luz ligada ou apagada? — Eu falo me deitando na cama e tirando as luvas e as galochas.
— Liga os pisca-pisca só — Ele falou se cobrindo com as cobertas deitando na beirada e eu me deito do lado da janela.
Antes que eu pudesse ligar os pisca-piscas, ele já estava dormindo, eu fiquei enrolando seus cabelos ondulados até cair no sono também.
Quando eu cai no sono, virei para ele e abracei suas costas encostando minha testa na parte detrás de seu pescoço. Dormimos abraçados assim a noite toda, pela manhã quando minha mãe foi me acordar, ela chamou meu pai por não entender o que o Guilherme estava fazendo ali.
— Parece uma praga, a gente pisca e aparece mais criança — Meu pai começa a rir baixinho após falar isso, minha mãe revira os olhos fechando a porta e deixando a gente dormir até mais tarde.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.