1. Spirit Fanfics >
  2. Amigo da onça >
  3. Não era bem isso - unique

História Amigo da onça - Não era bem isso - unique


Escrita por: bellsmm

Notas do Autor


Oi oi!
💖💖💖💖💖
Tudo bem com vocês? Eu estou bem e espero que estejam!

Eu declaro aberta a temporada de fics de natal vindas da minha pessoa! 🎅
Se tem uma coisa que me dá gás pra escrever é o natal, eu fico toda boba durante essa época do ano. Então, aqui está mais uma história.

Espero que gostem. Por favor, desculpem os erros.
E boa leitura~ 🥰🥰🥰🥰🥰

Capítulo 1 - Não era bem isso - unique


Fanfic / Fanfiction Amigo da onça - Não era bem isso - unique

— “Se não sabes o que presentear a teus seres mais queridos no Natal, presenteie-lhes teu amor”.

Desconhecido

 

 

 

 

 

Wonwoo honestamente invejava demais os avestruzes. Quando se sentiam ameaçados, receosos ou quando qualquer coisa fora do natural acontecia, eles podiam simplesmente usar os seus pescoços compridos e enfiar a cabeça em um buraco no chão. Se escondiam de quaisquer que fossem as ameaças, apenas fingiam que nada havia acontecido, para que logo em seguida tocassem a vida em diante. Seja lá o que eles fizessem da vida.

Mas não. Ele não podia só enfiar sua cabeça no buraco mais próximo diante de uma periculosidade, uma timidez momentânea ou uma vergonha por conta de um mico digno de prêmio. Tinha de levar em consideração ser um homem, humano, adulto e muito bem crescidinho, com muitas responsabilidades sociais perante ao grupo em que estava inserido. E grupo aquele que, apesar de serem todos seus amigos próximos de longa data, ainda assim era vergonhoso caso algo do tipo acontecesse.

Agora você deve estar se questionando. Algo do tipo o quê? O que aconteceu? Qual foi o desenrolar da fatídica história de natal até o momento em que Jeon Wonwoo considerou, de verdade, se esconder como uma criança medrosa atrás das pernas de Seungcheol — o amigo mais velho e também o mais afetuoso. Bem, aquilo era algo complexo demais para que começasse a contar dali.

Seria necessário que a fita cassete (e essa piada bem jovem) fosse rebobinada até o momento em que os destinos de Jeon e o destino daquele que havia conquistado seu coração exigente.

Era verão de 2005 na Coreia do Sul, quando o garoto tinha exatamente nove anos de idade. Seus pais haviam decidido se mudarem para uma nova vizinhança cuja seria mais próxima de escolas melhores, de seus trabalhos e também de parques e atrações públicas. Diziam que seria incrível ver o pequeno Wonwoo e seu irmão mais novo crescendo em um bairro tão bem localizado e seguro. Sentiam-se mais em paz de estarem ali com seus dois filhos.

E de fato, era mesmo um lugar saudável e propício para o crescimento de crianças felizes. Ali eles puderam fazer amigos em torno de suas faixas etárias: enquanto Bohyuk conseguira fazer amiguinhos em questão de dias, Wonwoo demorou mais um pouco. A sua natureza tímida lhe impedia de se aproximar com maior eficiência e desenvoltura das outras crianças, resultando em situações de vergonha por parte do mesmo.

Por sorte — ou destino, chame como quiser — um menininho de um grupo que brincava na praça se aproximou dele, e também o chamou para que brincassem juntos dos outros. O garoto era pequeno, menor que o próprio Jeon na época, com cabelos pretos bagunçados, suados e grudentos, cortados no clássico corte de tigela. Também portava um sorriso banguela e alegre, seus olhos brilhavam assim como os de um cachorrinho animado. Aquele era Kim Mingyu, quem se tornou a outra metade de Wonwoo, ao menos amigavelmente falando.

Se tornaram inseparáveis de acordo com o que cresciam. Não importava que Mingyu estivesse uma série abaixo do outro, ainda assim estavam radiantes por sempre estudarem nos mesmos colégios. Se complementavam exatamente como Yin e Yang, dois lados de uma mesma moeda. Enquanto Wonwoo era quieto e tímido, de poucas palavras, Mingyu era como uma borboleta social que falava pelos cotovelos. Caso Jeon precisasse dizer algo, mas estivesse com vergonha de tal, ele dizia bem baixinho para o amigo, que acaba repassando sua mensagem adiante.

Aquela amizade acarretou outros fatores, ou no caso, outros componentes para o grupo. Xu Minghao foi um dos primeiros adicionados. Havia vindo da China já grande por meio de uma transferência no trabalho de seus pais, e desta forma, Junhui também foi agregado como namorado de Xu. Alguns anos depois veio Seungcheol acompanhado de Jeonghan, dois veteranos da faculdade que Wonwoo e Mingyu haviam conhecido. Em seguida Seokmin, Joshua, Chan e Seungkwan se juntaram ao grupo de amigos por meio de uma calourada, já que eram também estudantes do mesmo centro educacional.

Soonyoung, Jihoon e Hansol vieram bem depois. Haviam sido introduzidos por Seungcheol em um evento após a formatura do curso de Wonwoo. E assim, os três rapazes tinham sido adicionados à rodinha (enorme) de treze pessoas. Uma quantidade grande de membros para um sentimento de proximidade tão forte entre todos eles, mas era assim que se sentiam verdadeiramente. Confiavam um no outro, e assim nutriam tal amizade consolidada, que aos pouquinhos somente ia se fortalecendo mais ainda.

Mas não era só a amizade. Não mesmo. Wonwoo que o diga.

Claro, ele sentia sim uma ligação bem forte com todos os outros doze rapazes do grupo de amigos, mas com Mingyu era diferente. Muito diferente. A diferença era gritante.

Obviamente o via como um amigo próximo, mas também tinha outras coisas mais. Sempre que olhava Mingyu era como se o seu coração e cérebro caíssem em um tonel de chocolate quente docinho, com marshmallows decorando, confeitos coloridos e alguns M&M’s de sobra. Sentia-se rodeado de toda doçura, amor, paixão e seja lá o que fosse aquilo tudo. Também parecia estar irrevogavelmente inebriado de açúcar, dopado de glicose e perdido no mar de chocolate meio amargo que eram os olhos escuros de Kim quando o mesmo sorria animadamente. A textura pastosa e idêntica a cacau derretido brilhando e gotejando de suas írises.

Adorava quando o mais novo divagava por horas, falando animadamente sobre qualquer coisa que simplesmente o fizesse feliz. Coisas essas como o seu trabalho, os seus hobbies e as suas paixões temporárias. Era como estar diante do melhor dos melhores entretenimentos disponíveis, e ainda de extrema qualidade. Mingyu falava e ele ouvia. Eram como o par perfeito feito sob medida, só que com aquela coisa de friend zone no meio os interrompendo.

Bem, friend zone para Wonwoo, no caso. Já que era apenas ele quem nutria sentimentos platônicos por aquele homem que jurava ser somente seu amigo.

Com o tempo, até mesmo os outros rapazes começaram a desconfiar da relação tão próxima dos dois, pensando que talvez aquilo fosse algo além de simples amizade, e que ambos estivessem escondendo. Talvez ter aquele sentimento reciprocado fosse o sonho mais profundo e gritante de Jeon, mas não seria tão fácil.

Ele era tímido demais para falar qualquer coisa que carecesse muito de contato visual, muita fala ou qualquer coisa que envolvesse situações sociais ao extremo. E não se confessaria nem que um hipopótamo soprano bailarino de tutu caísse sobre a sua cabeça. Kim Mingyu que lutasse, mas ele não iria dar um piu.

Era uma atitude boba e até covarde? Sim. Mas tinha um tremendo medo de ser rejeitado e fazer a anterior amizade perfeita virar um esquisito aperto de mãos a cada rara vez em que se encontrassem. Aquilo provavelmente estragaria não só a relação entre eles dois, mas também com os outros onze rapazes... E Wonwoo não estava muito preparado ou afim de fazer isso. Seria como uma bola de construção destruindo tudo de perfeito em sua frente, só que sem Wrecking Ball tocando de fundo ou ele nu sentado sobre a esfera de concreto.

E tudo isso leva até o momento especialmente vergonhoso do mico gigantesco. Era a festa de véspera de natal daquele ano, uma noite em que todos os trezes homens se reuniam para se divertirem, comerem muito e botarem a conversa em dia após tantas ocupações cansativas. Alguns enchiam mais e mais os seus pratos com as comidas deliciosas dispostas sobre a mesa grande, outros bebiam vinho, cerveja ou espumante, e o restante conversava em meio a jogos, risadas músicas de natal ruins tocando no sistema de som de Seungcheol e Jeonghan.

Soonyoung e Chan estavam em uma discussão acirrada sobre dinossauros e cobras gigantescas (seja lá por qual motivo), enquanto Jihoon e Joshua falavam em torno de suas ideias de composição e melodia, considerando que ambos eram produtores musicais.

Minghao e Junhui — sentados no sofá — conversavam puramente em mandarim, de forma que ninguém sabia remotamente sobre o assunto que eles dividiam. Enquanto isso, Seungkwan, Jeonghan e Seokmin brigavam ferrenhamente por conta de alguma sobremesa, porque segundo Boo, não estava doce o suficiente.

Mingyu bebia uma taça cheia do vinho tinto espanhol que Xu havia trazido para a comemoração. Wonwoo e Hansol conversavam sobre um videogame que havia sido lançado recentemente no Japão. Seungcheol estava muito ocupado cortando o peru assado em vários pedaços pequenos, de modo que os outros não precisassem o fazer e não se machucassem com a faca perigosa.

O natal estava sendo exatamente como havia sido nos últimos dois anos: caótico e barulhento, mas ainda assim bastante divertido. Era uma tradição engraçada reunir todos os amigos em uma das casas, realizar a ceia de natal e trocarem presentes ao pé de um pinheiro grande de plástico, decorado com guirlandas vermelhas, douradas e prateadas. As bolas de adorno eram costumeiramente vermelhas e douradas, sempre cheias de purpurina, além de terem pequenos presentinhos colados. Havia uma variedade enorme de enfeites, desde fotos pequenininhas de um Seungcheol bebê, até pequenas meias de natal. O pisca-pisca era a imitação de um tom dourado que estava mais para amarelo, enquanto a estrela reluzia no topo rígido e artificial da árvore.

No chão estavam os vários presentes. Era incrível como tanta gente junta dava o resultado de quase que o dobro em embrulhos — sendo esses bem executados ou não. Alguns eram obviamente vindos de Jihoon, aquele cujo tinha zero paciência para tal, mas sempre buscava agradar bondosamente os seus amigos. O resultado era ok para dizer o mínimo, mas ele tentava. Soonyoung até mesmo havia revelado que o outro assistia a um montão de vídeos no YouTube sobre papéis de presente, laços e formas de embrulho.

Lentamente a noite foi passando, sendo regada à muita comida, bebida, sobremesa, péssimas músicas natalinas remixadas — escolha horrenda vinda de Seokmin — e a troca de presentes. O momento mais esperado era quando pudessem abrir os pacotes, rasgar os papéis de presente cheios de carinhas do bom velhinho, além das várias expressões de confusão pela falta de entendimento sobre os presentes recebidos.

— O meu amigo secreto é uma pessoa que adora me desafiar em todos os sentidos, literalmente — Seungkwan franziu o nariz, sorriu de canto e apertou os dedos em torno das cordinhas da sacola de loja — Gosto demais dele, mas, às vezes, tudo o que eu quero é mandá-lo ir à merda. Mas eu o amo muito, só para frisar. É um dos meus melhores amigos para todo o sempre.

— Lee Chan, favor se levantar e pegar o seu presente — Joshua falou em tom de diversão e o mais novo dos treze se prontificou a receber a sacolinha e um abraço apertado de Boo.

— Obrigado, hyung! Também te amo até a lua, mas eu ainda acho que a sobremesa de baunilha poderia ter ficado um pouco menos doce. Jeonghan está certo e você errado — deu língua e o dedo do meio de maneira infantil para o outro, que não hesitou de forma alguma ao retribuir o dedo do meio.

— Ei, ei! Isso aqui é Natal. O nascimento de Jesus Cristo, ou seja lá no que qualquer um aqui acredita ou comemora hoje — Seungcheol interveio antes que os ditos “xingamentos de amor” começassem, tudo isso enquanto segurava o riso — Supostamente é pra ser algo mais familiar e menos caótico. Por favor, sem xingamentos, dedos ou qualquer outra coisa do tipo.

— Foi ele quem começou! — Seungkwan reclamou voltando a sentar-se em seu lugar ao lado de Hansol, que tratou de acariciar o braço alheio de modo que o tranquilizasse.

— Nós vimos, Kwan. Nós vimos — Chwe tentou apaziguar o seu “namorido”, expressão essa a qual Jeonghan havia dado aos dois, considerando que nunca, desde que começaram a sair, disseram o que realmente eram um do outro. Apenas haviam ido morar juntos com um ano de seja lá o que tivessem, e agora eram o que eram.

— Chan, por favor, fale logo quem é o seu amigo secreto antes que ocorra um homicídio em plena véspera de Natal — Jihoon pediu encarecidamente. O mais novo assentiu e catou uma caixa grande muito bem embrulhada, situada debaixo da árvore. O papel de presente era prateado e brilhante, com uma belíssima fita verde amarrada em laço.

— O meu amigo secreto é uma pessoa de personalidade bem específica. Ele gosta muito de livros — Lee sorriu, ganhando uma risadinha vinda dos outros. Aquela descrição abrangia grande parte dos outros ali — E também tem um detalhe: apesar de esse ser o cara mais quieto e calado do mundo, ele consegue me entender somente por um olhar. Bem, isso quando ele está de óculos, já que é cego como um morcego.

— Ainda não é muito específico, se quer saber — Jeonghan reclamou — Só no quesito de ter problemas de vista já entram aí o Junhui, você próprio e o Wonwoo.

— Tudo bem, tudo bem. Ele é um amante de gatos, costuma rir meio roboticamente... E também só pode ser um baita burguês safado, porque trocar de óculos quatro vezes num ano só é coisa de rico — Chan respondeu arqueando a sobrancelha.

— Vai que é tua, Jeon Wonwoo — Soonyoung riu e o deu uns tapinhas carinhosos nas costas, incentivando-o a se levantar do sofá. Ele sorriu e pegou o grande presente, mas não sem antes abraçar o mais novo e lhe fazer uma falsa ameaça com os olhos arregalados, dizendo-lhe para que o respeitasse mais ou senão se veria com ele.

Deixando seu presente fechado recém-ganho em seu lugar no sofá, Wonwoo agachou-se e pegou a caixa meio pequena e coberta por um belíssimo papel dourado e azul, salpicado de renas e trenós voando por sua extensão. A moça da loja havia feito um bom trabalho em embrulhar o presente. E a parte boa é que ele tinha comprado aquilo pela internet — evitando tanto contato social em época de festas de fim de ano —, mencionado nas especificações da loja que gostaria que o objeto fosse embrulhado para presente, depois retiraria na unidade mais próxima da rede de comércio, e voilá! Tinha feito sua compra de natal em um só clique.

Ele tinha ficado extremamente ansioso e indeciso em relação à o que comprar para seu amigo secreto. Primeiro que, o destino havia lhe dado uma grande cartada de sorte. Jeon havia sorteado Mingyu dentre os vários outros papeizinhos com nomes naquela atividade divertida, e talvez fosse o destino o alertando para que finalmente tomasse uma coragem extra (e até um pouco de vergonha na cara) para que confessasse seu amor latente por Kim.

Seu primeiro passo em direção à confissão de amor — ou ao constrangimento gigantesco — era comprar o presente perfeito. Sabia perfeitamente até dos gostos mais peculiares de Mingyu, então não seria muito difícil escolher algo que fosse o agradar. A primeira ideia de Jeon foi dar um pequeno cachorrinho de pelúcia que havia visto no site de uma loja de departamentos famosa, e tal cachorrinho parecia muito com Kim quando mudava seu semblante para um bico pidão. Parecia algo doce e sutil para que demonstrasse seu carinho, então foi a melhor opção.

Mas agora o embrulho parecia leve até demais em suas mãos. Não era como se houvesse um bicho de pelúcia inteiro ali dentro, mesmo que pequeno e majoritariamente feito de enchimento e pano. Não parecia verdade. Talvez houvessem colocado a pelúcia diferente ali dentro? Algo menor e mais leve? Jeon não fazia a menor ideia, mas era tarde demais para checar isso. Já estava com a faca e o queijo na mão, agora tinha somente que entregar presente e rezar para os céus que desse tudo certo em sua pseudo confissão.

— O meu amigo secreto é uma pessoa a qual devo muitas coisas, e não, não estou falando de dinheiro, Jihoon — seu olhar divergiu para Lee, que tinha um sorrisinho sapeca nos lábios — Ele sempre esteve comigo, independente do que viesse a acontecer. Parece clichê demais, mas é como todos dizem... Ele é o meu melhor amigo para todo o sempre.

— Piegas — Jeonghan falou acompanhado de um risinho — Mas fofo, devo admitir. Pelo brilho no seu olhar eu tenho certeza de que se trata do nosso querido Mingyuzinho. Os seus olhinhos de jabuticaba só se iluminam assim quando fala da outra metade da sua laranja, Wonwoo.

Jeon revirou os olhos.

— Metade da laranja o cacete — reclamou.

— Exato, o caralho de metade da laranja. A gente está mais para almas gêmeas — corrigiu Kim ao se levantar com um sorrisinho sacana e linguagem corporal divertida. Aproximou-se do homem de óculos e pegou o presente das mãos do mesmo, acompanhado de um abraço forte e meio demorado — Obrigado, de verdade — Mingyu sussurrou em seu ouvido de modo que ninguém além do outro ouvisse suas palavras doces.

Wonwoo assentiu e afundou seu nariz no pescoço alheio, sentindo o cheiro característico de sua colônia viciante misturada com um pouco de suor. Era sempre assim, quase nunca se abraçavam, mas quando o faziam era demorado, terno e tão agradável. Adorava ser envolvido pelos braços fortes de Kim, e secretamente desejava tão mais do que somente aquilo para si.

Um pigarrear foi ouvido e eles dois se soltaram.

— Os pombinhos por acaso precisam de um tempo a sós? Um quarto privativo? Camisinhas? — o tom irônico veio de Minghao, que segurava uma risadinha e tentava tapar a boca.

— Bom, com isso acho que nós acabamos o amigo secreto desse natal — Seungcheol interveio e levantou-se de seu lugar com um sorriso animado — Abram os seus presentes, comam, dancem, bebam, conversem... A noite é uma criança. Sintam-se à vontade. Só vou ali buscar mais vinho na adega.

O sistema de som voltou a tocar músicas natalinas horrendas. O burburinho de conversas paralelas tornou a circular pela sala de estar, assim como as luzes da árvore piscavam em ritmo certo. Tudo voltou ao normal, mas Wonwoo não. Seu corpo estava tão quente e vermelho que a pele coçava e pinicava, sentia-se em estado completo de ebulição. Aquele, mesmo que talvez, era o efeito de Kim Mingyu em seu corpo e sua mente. Só o mínimo contato havia deixado Jeon desequilibrado. Em seu ponto alto, como uma chaleira apitando, como um sino badalando e uma sirene de bombeiros.

Ele queria sair dali correndo, refrescar-se no vento extremamente congelante de dezembro, observar a neve do chão e tentar se imaginar como um cubo de gelo. Foi assim que Jeon terminou na varanda externa da casa, rezando para que nenhum dos outros notasse sua ausência.

— Vai pegar um resfriado se ficar tempo demais aqui fora. Ainda mais sem seu casaco e usando somente esse suéter fino — a voz do outro o fez soltar uma lufada de ar seguida de um risinho sem graça — Por que está aqui enquanto todo mundo se diverte lá dentro? Se não quiser beber, também tem sucos e coquetéis sem álcool. Acredito que foi Seungkwan que trouxe, já que ele está tomando alguns remédios e não pode ingerir nada com teor alcoólico.

— Só estava com calor — apoiou os cotovelos na grade da varanda e balançou a mão sinalizando banalidade — E também me sentindo um pouquinho sufocado. Você sabe, eu amo vocês, mas às vezes pode ser socialização demais para mim.

Mingyu assentiu.

Ele entendia o desejo que Wonwoo tinha de se afastar das cacofonias de tempos em tempos. Jeon era tímido e introvertido demais, e por isso, normalmente tinha dificuldades com ambientes barulhentos ou caóticos demais. Apesar de estar sempre com seus amigos, geralmente não falava muito ou interagia com frequência. Então, de tempos em tempos, ele ia para longe e respirava um pouco para que pudesse retornar às comemorações. Era um ritual mais que conhecido por Mingyu.

— Eu abri o presente que você me deu — Kim falou com um sorriso divertido no rosto. Wonwoo adorava aquele sorriso, era como avistar a paisagem mais bela de todo o mundo, mas bem ali na sua frente, de forma privativa.

— Abriu, foi? E o que achou? — indagou no mesmo tom de diversão — Comprei pensando em você. Achei a sua cara.

Mingyu franziu o cenho de maneira estranha, mas ainda sorria. Ele não conseguiu segurar o riso e deu uma gargalhada alta e que ecoou varanda afora. Parecia se divertir tanto com a situação que seus olhos se tornaram meras fendas, suas bochechas esquentaram e estavam vermelhas de frio e esforço, além de dar leves tossidas por conta do clima.

— Comprou aquilo pensando em mim? — indagou seguido de outra risada. Wonwoo ficou confuso e assentiu, hesitante. Por que diabos o outro estava rindo de seu presente? Não era para ser tão engraçado assim! Era só um bichinho de pelúcia que lembrava Wonwoo da expressão de Mingyu. Não era como se fosse um show de stand up — Então quer dizer que achou a minha cara... Bom, bom. E você comprou isso para eu usá-la para você?

Eu comprei porque achei parecido com você e... — Wonwoo começou a falar, mas logo percebeu o que o mais novo tinha dito exatamente, e parou no meio da sentença — Espere, do que caralhos você está falando?

— Ué, disso aqui — ele tirou um pedaço de tecido médio do bolso traseiro da calça jeans e exibiu para Jeon com um sorriso brilhante. Wonwoo ficou boquiaberto, suas mãos contra a boca. Que porra era aquela na mão do seu crush secreto? Ele não havia o dado aquilo de forma nenhuma! Não era isso que havia escolhido como presente.

De alguma forma, Mingyu parecia extremamente entretido e até que bem feliz em balançar aquela peça para que qualquer um próximo o suficiente pudesse ver. Sua expressão era de provocação e brincadeira. E o objeto em mãos não era algo simples e ok, muito menos era o bichinho de pelúcia que Wonwoo tinha escolhido com todo o carinho. O tecido da cueca pequena e apertada com estampa de onça brilhava contra a luz artificial dos pisca-pisca que decoravam aquele pedaço externo da casa.

Era mais do que óbvio que era um artigo sexual, e de longe não era nenhum pouco o que Wonwoo imaginava dar para o cara que ele gostava há tanto tempo. Era praticamente como assinar um bilhete falando “eu gosto muito de você, na verdade te amo... podemos foder? ”. E justamente por isso, pela vergonha, pelo medo da reação do outro, ele queria enfiar sua cabeça em um buraco exatamente como um avestruz. Mas não podia cavar o chão de porcelanato da varanda, e muito menos sair correndo dali e encontrar asilo com Seungcheol, já que Mingyu estava em frente à porta de vidro.

Aquele acontecimento ficaria marcado como o mico dos micos em sua vida toda. Nunca mais se esqueceria disso, e talvez a vergonha fosse tamanha ao ponto de que precise parar de falar com Mingyu para sempre, ou até mesmo mudar-se de cidade. Kim não iria ficar calado, ele iria achar aquilo engraçado, divertido e uma piada boa para dividir com os colegas de trabalho. Iriam apontar-lhe o dedo na rua e falar “olhem lá, o homem que deu de natal uma tanguinha sexy de onça para o crush!”.

Sua vida estava acabada.

Era só o começo de um momento vergonhoso para toda a vida.

E talvez Wonwoo fosse mesmo um pouquinho dramático. Mas só um pouquinho.

— F-foi um eng-gano — ele conseguiu juntar coragem para murmurar, ou gaguejar. A sua voz mal passava o nível de decibéis da música abafada da festa natalina de seus amigos — Não era isso o que eu ia te dar. D-deve ter tido algum erro na loja, um eng-gano entre pacotes. Mas não era isso — ele respirou fundo e passou a mão por entre os cabelos pretos embebidos em pomada capilar, desgrenhando os fios antes perfeitamente arrumados em um penteado bonito. A garganta de Jeon ardia e ele respirava em lufadas ruidosas, começando a andar de um lado para o outro. Não podia deixar que Mingyu descobrisse sobre seus sentimentos desta forma — Deve ter sido um engano mesmo. Não tem como, eu ia te dar um cachorrinho de pelúcia — pegou o celular do bolso frontal do jeans de couro que vestia e começou a discar o número da loja de departamentos — Eu vou ligar lá para saber o que houve. Isso foi muito mais do que um simples erro... É constrangedor para nós dois... Eu vou, vou concertar isso.

— Wonwoo. Jeon Wonwoo, olhe para mim, estou te pedindo — Mingyu o chamou, sua mão pousando sobre o braço alheio que segurava o telefone contra o ouvido. O outro demorou a encará-lo, mas quando o fez, sentiu todo o conforto e doçura. Mingyu era sempre tão empático com todos, mas principalmente com Wonwoo, e aquilo era adorável. Kim sabia como o fazer ficar calmo somente com um olhar — Está tudo bem. Não precisa ligar agora, é véspera de natal. Ninguém vai estar lá para atender.

— Mas não era isso — a voz de Wonwoo saiu tão baixa quanto um sussurrar, e se o outro não estivesse tão perto, talvez não tivesse conseguido ouvi-lo. Ele abaixou o celular, ainda sem apertar o botão de chamada, e Mingyu o abraçou com força — Não era para ter sido assim. Não era para você ter sabido dessa forma.

— Não tem problema — disse o mais alto com um sorriso suave e carícias leves nas costas alheias — Eu já sabia que você gosta de mim. Só estava esperando que se sentisse bem o suficiente para me falar, considerando que eu também te amo, Wonwoo — soltou uma risadinha soprada — E quando eu vi essa cueca pensei “nossa, ele é mais ousado do que eu imaginava! ”.

Wonwoo escondeu seu rosto no pescoço alheio e sentiu o cheiro que tanto gostava e ao qual se sentia habituado.

— Idiota — xingou de brincadeira — Você me conhece há anos. Ninguém mais do que você saberia que eu jamais daria a porra de uma tanga de onça para alguém. Nem de brincadeira! Agora imagine para uma pessoa que eu gosto.

Mingyu gargalhou.

— Mas eu até que gostei do presente, acho que não precisa devolver ou trocar — sua voz era cheia de segundas intenções — Quer que eu a vista para você mais tarde?

— Ah, vai se foder — Wonwoo riu, afastou-se dele e lhe deu o dedo do meio, mas o seu rosto portava um belíssimo sorriso. Os olhinhos brilhavam por trás das lentes grossas dos óculos de armação redonda, fazendo-o parecer o homem mais bonito do mundo na visão de Mingyu.

Kim aproximou-se rapidamente do mais velho e pousou a mão cuidadosamente em sua mandíbula. Deixou algumas carícias pela bochecha macia enquanto sua outra mão pousava sobre a cintura do outro.

— É justamente isso que eu planejo para mais tarde — e tomou-lhe os lábios em um beijo quente e apaixonado. O primeiro de muitos que viriam em vários outros natais e outras ocasiões.

— Falou sério sobre a cueca? — Jeon questionou assim que separaram as bocas por alguns segundos. Mingyu sorriu no beijo e distribuiu alguns selares dos lábios até o pescoço alheio — Realmente gostou?

— É ruim que eu tenha gostado? — indagou ainda empenhado em beijar-lhe em cada centímetro do pescoço. Wonwoo fechou os olhos e soltou um som sibilado entredentes, sentindo a língua molhada do outro traçar sua pele quente.

— Quer que eu seja honesto? — seu tom desceu algumas oitavas e ficou ainda mais áspero — Não é ruim. Eu amei que você gostou. Apesar de não ser realmente o seu presente de natal.

— Você vai ter todo o tempo do mundo para me dar outros presentes que queira.

Mingyu tornou a beijá-lo na boca, dessa vez ainda mais voraz.

— Ai, meu Deus! — a voz assustada de Chan os tirou de seu paraíso particular — Opa. Há há. Hm, eu só vim aqui para chamá-los para o karaokê... — seu sorriso sacana abriu-se ainda mais — Mas acho que preferem se engajar em uma outra atividade mais divertida, certo? A oferta de Minghao ainda está de pé. Tem camisinha extra, quarto livre. Às suas ordens.

Mingyu deu o dedo do meio.

— A gente já vai pro karaokê, Chan. Obrigado — Wonwoo sorriu cheio de vergonha e ainda meio grogue de tantos beijos. O rapaz mais novo do grupo se retirou e os casal começou a dar gargalhadas — Acha que vamos ter que contar a eles?

— Provavelmente não. Lee Chan não vai ficar de bico calado por tanto tempo, provavelmente já está contando a eles — Kim deu de ombros — Ao menos isso poupa nossas energias para outras coisas. Eu preciso estar preparado para vestir o meu presente mais tarde.

Wonwoo revirou os olhos.

— Ande logo, amigo da onça. Vamos entrar antes que venham nos chamar de novo.

 

 

 

 

●●●

 

 

 

27 DE DEZEMBRO DE 2021

Mensagem de: Fleur De Lune Stores

Para: Jeon Wonwoo

 

Olá!

Caro Senhor Jeon Wonwoo, nós, da equipe Fleur De Lune, nos desculpamos pelo mal-entendido e erro envolvendo a retirada do seu presente de natal deste ano, que foi causado pela desatenção de um de nossos funcionários. Para minimizar seus danos, sendo prejuízo financeiro ou questões pessoais, estamos lhe oferecendo um voucher exclusivo, e com direito ao dobro do valor que pagou no presente, além de um voucher extra para o próximo natal!

Os vouchers estarão anexos à esta mensagem. A utilização poderá ocorrer em qualquer loja Fleur De Lune até a data de validade informada nos vouchers.

 

Nossa equipe agradece a preferência, e novamente nos desculpamos por quaisquer inconvenientes.

Fleur De Lune Stores

 

 

 

— Dá pra acreditar que eu recebi uma mensagem da loja em que comprei o seu presente? — Wonwoo virou-se para Mingyu, cujo corpo estava deitado desajeitadamente por entre o edredom branco e pesado.

— A cueca de onça? — a voz meio sonolenta veio abafada pelo travesseiro.

— Essa mesma, apesar de que eu já falei milhares de vezes que comprei o cachorrinho de pelúcia, e que ele foi trocado com a cueca na hora da retirada. Até mesmo já o mostrei o meu pedido feito pelo site! — exclamou serelepe — Mas a questão é, eu não sabia que essa loja de departamentos também possuía uma parte destinada ao prazer pessoal. E trocaram meu pedido com de outra pessoa, por conta do papel de presente parecido e tudo mais.

O outro homem levantou o rosto do travesseiro e abriu os olhos levemente.

— O que eles falaram na mensagem?

— Pediram desculpas e me deram dois vouchers para que eu compre o que quiser, com o dobro do valor do presente. Um deles é para esse natal e o outro para o próximo — respondeu — Acho que assim posso te comprar um presente de verdade dessa vez.

— Mas eu já disse, a cueca foi um presentão, cara — sua voz rouca fez Wonwoo se arrepiar.

— Considere como um presente extra — ele sorriu e acariciou as madeixas escuras do cabelo alheio. Em seguida, levantou-se da cama e puxou o edredom de cima de Mingyu, que reclamou fingindo um choro — Ande, levante-se. Nós vamos até a loja escolher o seu presente.

— O natal já passou — choramingou.

— O caralho. Natal é até o ano acabar. Ande logo.

Kim fez careta e finalmente foi para o chuveiro tomar um bom banho. Wonwoo estava todo alegrinho em finalmente poder comprar para o outro algo que realmente significasse seus sentimentos. Era maravilhoso simplesmente poder tocar, beijar e amar Kim Mingyu sem quaisquer reservas. Aos poucos, Jeon arrumava a sua cama enquanto cantarolava uma musiquinha qualquer. Tinha total certeza de que o seu inconsciente desejo de natal havia se realizado, mesmo que de uma forma inabitual, mas ainda assim estava valendo.


Notas Finais


E então, gostaram?
O que acharam? Podem me contar! Eu não mordo 🥺.

Também tenho Twitter, caso queiram conversar por lá. O user é @/bellsmmi.
E caso queiram perguntar algo, tenho Curious Cat: https://curiouscat.qa/bellsmmi

Gostei tanto de ter escrito essa história. Tive um apoio extremo da Débora, sempre lendo e me dando sugestões, algumas ideias e coisinhas a mais que complemetavam aqui e ali na oneshot.

E só tenho a agradecer.

Até depois!~ 🥰🥰🥰🥰


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...